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ARTIGO ORIGINAL

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Carolina Alves Lima1


Denise Leite Maia Monteiro2
Walney Ramos de Sousa3
Hiperplasia congênita de suprarrenal por
deficiência de 21-hidroxilase: relato de
caso
Congenital adrenal hyperplasia by deficiency of 21-hidroxylase: case report

Resumo
Este artigo relata um caso raro de hiperplasia congênita de suprarrenal (HCSR) de manifestação tardia. Paciente com 14 anos, branca,
que apresentava amenorreia primária e hirsutismo na primeira consulta do ambulatório de ginecologia do Hospital das Clínicas de
Teresópolis. Solicitados exames que evidenciaram elevação acentuada dos níveis de 17-hidroxiprogesterona (17-OHP) e aumento do
volume da suprarrenal direita com perda de sua morfologia na tomografia computadorizada (TC), confirmando o diagnóstico de
HCSR parcial. A paciente desenvolveu síndrome de Cushing iatrogênica com uso de prednisona, sendo substituída por dexametasona
com excelente resposta. O objetivo desse estudo foi demonstrar diferentes formas de abordagem da patologia e a importância do
diagnóstico precoce, a fim de reduzir a morbidade e melhorar a qualidade de vida em pacientes afetados pela doença.

Unitermos
Hiperplasia suprarrenal congênita; adolescência

Abstract
This report describes a rare case of a patient with CAH on a late manifestation. The patient was a 14-years-old, white, presented primary
amenorrhea and hirsutism on her first consultation at HCT gynecology clinic. It was observed a huge elevation on the 17-0H progesterone
and an elevation on right adrenal volume with loss of its regular morphology on CT confirming parcial CAH diagnose. After starting
prednisone she developed iatrogenical Cushing Syndrome and so it was replaced by dexametasone with excellent results. The objective of
this study was to show different ways to manage this disorder and the importance of the early diagnosis in order to reduce morbidity and
improve welfare to the patients.

Key words
Adrenal hyperplasia congenital; adolescence

1
Médica residente em Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Jacarepaguá/MS e do
Hospital Maternidade Carmela Dutra (HMCD); pós-graduada em Videoendoscopia
Ginecológica no Instituto Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz
(IFF/FIOCRUZ).
2
Mestra e doutora em Ciências, na Área de Saúde da Criança e da Mulher, da FIOCRUZ;
professora titular do Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO); coordenadora
do setor de Ginecologia para Adolescentes do Hospital de Jacarepaguá/MS.
3
Professora do UNIFESO.

Adolescência & Saúde volume 6 ■ nº 4 ■ outubro 2009


54 Hiperplasia congênita de suprarrenal por deficiência Lima et al.
de 21-hidroxilase – relato de caso

Introdução Deficiência da 21-hidroxilase

Hiperplasia congênita das suprarrenais (HCSR) É a forma mais comum, responsável por
é um erro inato do metabolismo dos esteroides, 90% a 95% dos casos de HCSR(28). A deficiência
transmitido geneticamente e de caráter autossô- da 21-hidroxilase (21-OH) resulta na conversão
mico recessivo. As baixas concentrações de cortisol diminuída de 17-hidroxiprogesterona (17-OHP)
plasmático levam ao aumento da secreção de hor- e 11-deoxi-cortisol (composto S) e da progeste-
mônio adrenocorticotrófico (ACTH), estimulando rona e 11-deoxi-corticosterona. A deficiência leve
cronicamente as suprarrenais, provocando hiperpla- ou parcial dessa enzima afeta a hidroxilação na
sia funcional com consequente desvio da produção camada fasciculada, com produção moderada de
hormonal. A maioria dos pacientes com HCSR apre- cortisol, normal de aldosterona e aumentada de
senta defeito na 21-hidroxilação. andrógenos (deidroepiandrosterona [DHEA] e seu
Há duas formas principais de HCSR: a) forma sulfato [DHEA-S] e testosterona) e de substâncias
clássica, que envolve bloqueio da atividade enzi- intermediárias 17-OHP(8, 16).
mática total ou parcial e está presente ao nascer; Sua frequência está aumentada num certo
b) forma não-clássica, ou forma tardia, que aparece tipo de população, os judeus Askenasi, nos quais
em qualquer idade, manifestando-se como puber- um em cada 27 expressa a doença(13).
dade precoce, clitoromegalia, hirsutismo, acne e A HCSR perdedora de sal, que é a forma mais
perturbações menstruais; é uma forma mais suave grave, afeta 75% das pacientes com manifestações
de deficiência e envolve somente o bloqueio par- congênitas durante as primeiras duas semanas de
cial da atividade enzimática(19, 20). vida e resulta em crise hipovolêmica com perda de

aldosterona
1

colesterol 11-desoxicorticosterona corticosterona


1 9

pregnenolona progesterona 11-desidrocorticosterona


3
7
17OHprogesterona
8
4
2 11-desoxicortisol cortisol
DHEA androstenediona
colesterol
5 cortisona
androsterodiol testosterona
1. desmolase oxidante
6 2. 3β-desidrogenaseΔ5 isomerase
estradiol 3. 17α-hidroxilase
4. 17-20 CC liase
5. 17β-desidrogenase
estrona 6. aromatases
7. 21-hidroxilase
8. 11-hidroxilase
9. 11-desidrogenase
10. 11-aldolase

Figura 1 – Esteroidogênese
DHEA: deidrolpiandrosterona.

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de 21-hidroxilase – relato de caso

sal e risco de vida, acompanhada por hiponatre- 17‑OHP, DHEA, DHEA-S, testosterona e progesterona
mia, hipercalcemia e acidose(2). estão elevados. Contudo, nas formas não-clássicas,
a 17-OHP se apresenta em níveis limítrofes e, para
esclarecimento, deve-se realizar teste de estímulo
Hiperplasia suprarrenal com hormônio adrenocorticotrófico (ACTH)(23).
congênita não-clássica de Na infância, apresentam desenvolvimento so-
aparecimento no adulto (HSRA) mático avançado com relação à idade cronológica,
com hipertrofia muscular, maior estatura e viriliza-
A deficiência de 21-OH do tipo não-clássico ção progressiva, podendo já aparecer pelos sexuais
representa a deficiência parcial da 21-hidroxilação, aos 2 ou 3 anos de idade. Entretanto, por volta dos
que produz uma hiperandrogenemia mais leve e 10 a 12 anos, cessa o crescimento (ação dos andró-
de início tardio. Sua ocorrência depende parcial- genos nas cartilagens de crescimento), ficando a
mente do déficit funcional resultante de mutações estatura final muito abaixo da média, e o fenótipo,
que afetam os dois alelos para enzima 21-OH. Os em decorrência da atuação androgênica, mostra-se
portadores heterozigotos de mutações na enzima francamente masculino.
21-OH demonstram níveis de 17-OHP normais em A função do eixo hipotálamo-hipófise-gona-
condições basais e pouco elevados após estímulo, dal pode estar comprometida. Elevados níveis de
mas não há anormalidades nos androgênios cir- andrógenos podem interferir na ação do estradiol,
culantes. Algumas mulheres com defeito genético no pico de hormônio luteinizante (LH), resultando
leve nos dois alelos apresentam pequena elevação em amenorreia ou perturbações menstruais(11). Por
das concentrações circulantes de 17-OHP, mas não outro lado, se a doença não for controlada adequa-
há sinais ou sintomas clínicos(2). damente ou tiver o diagnóstico tardio, há excessiva
Os sintomas hiperandrogênicos da HSRA são secreção de andrógenos suprarrenais. O avanço so-
leves e costumam surgir na puberdade ou mais tar- mático e a maturação esquelética estão associados
de. Apresentam-se em três variedades fenotípicas: à atividade prematura dos neurônios hipotalâmicos
com anormalidades ovulatórias e características reguladores da puberdade, levando a puberdade
compatíveis com síndrome dos ovários policísticos precoce para idade cronológica, porém apropriada
(SOP), com hirsutismo isolado sem oligomenorreia, para idade óssea.
ou com elevação dos níveis circulantes de androgê- A idade óssea, avaliada pelo estudo radiológi-
nios, mas assintomáticas(1). co de mãos e punhos, evidencia avanço com rela-
ção à idade cronológica.
O risco de mulheres com forma não-clássica
Aspectos clínicos e laboratoriais terem filhos com HCSR forma clássica é de 2,5% e,
com forma não-clássica, de 14,8%(17).
Na HCSR, o hiperandrogenismo é intenso,
evolui e acentua-se depois do nascimento, existin-
do variações determinadas pelo tipo de deficiência Diagnóstico
enzimática.
A deficiência da 21-OH acarreta, nos casos É fundamentado em níveis basais do substra-
leves, apenas virilização e, nos severos, também to para 21-OH, a 17-OHP. Em formas mais leves do
distúrbios hidroeletrolíticos (desidratação, hipona- distúrbio com manifestações posteriores (HSRA), o
tremia, hipercalcemia e acidose), que se manifestam diagnóstico depende de níveis de 17-OHP basais,
nos primeiros dias de vida, podendo levar a óbito após estimulação com ACTH.
quando não são diagnosticados e tratados. Nesses O nível de 17-OHP abaixo de 200 ng/dl na
indivíduos, o cortisol mostra níveis baixos, a aldos- fase folicular basal praticamente exclui o distúrbio,
terona, níveis normais ou diminuídos e os níveis de enquanto níveis acima de 500 ng/dl estabelecem

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o diagnóstico. Caso esses níveis estejam entre 200 Em adultos com HCSR, foi demonstrado que a
e 500 ng/dl, é necessário teste de estímulo com dexametasona suprime melhor o eixo hipotalâmico-
ACTH(1). hipofisário do que o acetato de cortisona ou a
No teste de estímulo com ACTH, os níveis hidrocortisona em doses equivalentes(21). Também
plasmáticos de 17-OHP são avaliados uma hora pode induzir menor retenção hídrica do que outros
após a administração intravenosa de um bolo de corticosteroides. A administração noturna, com uma
0,25 mg de ACTH 1-24 (Cortrosyn). Os níveis de 17- dose de 0,25 a 0,5 mg, é mais eficaz. Em algumas
OHP após estimulação com ACTH na HSRA costu- pacientes, o tratamento em dias alternados com a
mam ser maiores que 1.000 ng/dl(1). mesma dose é suficiente. Recomenda-se avaliação
Os testes de estímulo com ACTH, bem como periódica do cortisol sérico. Se forem mantidas
depressão com dexametasona, são indicados quando concentrações séricas matinais de cortisol acima de
as dosagens hormonais não permitirem o diagnósti- 2 μg/dl, a supressão excessiva, com consequente
co diferencial, situação relativamente frequente nas diminuição da responsividade hipotalâmica-hipofisá-
formas não-clássicas das deficiências enzimáticas, e ria-suprarrenal ao estresse agudo, será improvável(3).
quando houver suspeita de neoplasia suprarrenal(24). A monitorização do tratamento é feita por níveis
O volume das glândulas suprarrenais pode ser de andrógenos, quadro clínico, velocidade de cresci-
avaliado por ultrassonografia (US), tomografia com- mento e avanço na idade óssea. Doses insuficientes
putadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM), levam a baixa estatura final, e doses excessivas, a
podendo estar bilateralmente aumentadas na hi- quadro de hipercorticismo, com comprometimento
perplasia congênita, enquanto o aumento unilate- do potencial de crescimento(5). O melhor controle
ral pode ser sugestivo de neoplasia(25). parece ser o da monitorização do crescimento nos
A possibilidade do diagnóstico pré-natal da períodos de estirão na infância e na puberdade, com
síndrome nos dias atuais é realidade, permitin- ajustes medicamentosos adequados(24).
do prevenção da virilização dos fetos femininos Em recém-nascidos com perda de sal, há ne-
comprometidos, graças à descoberta da relação cessidade de hidratação parenteral e succinato sódi-
entre doença e sistema antígeno leucocitário co de hidrocortisona administrado em bolo por via
humano (HLA). Esse exame é realizado, hoje, pelos endovenosa (EV) (50 mg/m²/superfície corpórea) e
estudos do gene C4-CPY 21B, pelo southern blot- 100 mg/m² adicionado no líquido de infusão em 24
ting, e das mudanças desse gene pela reação em horas. Dexametasona é de difícil controle nas crian-
cadeia de polimerase (PCR) em células de vilosidade ças, porém é útil depois da puberdade, pois deter-
coriônica ou do líquido amniótico, comparando-se mina menores flutuações na supressão da função
o genótipo do feto com o de seus pais. É recomen- suprarrenal. Na deficiência de mineralocorticoides,
dado para casais que já tiveram filhos afetados ou usa-se 9 alfa-fluoridrocortisona, 0,05 a 0,2 mg/dia, e
com história familiar(6). o controle é feito pela determinação da atividade da
renina plasmática(24).
Nas formas não-clássicas, dá-se preferência à
Tratamento dexametasona 0,23 mg/m², à noite, a menor dose
possível capaz de manter o quadro controlado. A
É excelente a resposta ao tratamento desde dose usual em adultas é de 0,25 a 0,5 mg/m² de
que iniciado precocemente, pois determina dife- dexametasona em dias alternados, esquema ideal
renciação fenotípica feminina e função normal no para que se consiga o bloqueio das glândulas sem
eixo hipotálamo-hipófise-ovariano. O sucesso tera- causar hipercortisolismo. O tratamento é associado a
pêutico em alguns casos é completo, pois, além de antiandrogênios e contraceptivos orais até a melhora
promover a diferenciação sexual e de ciclos mens- do quadro de hirsutismo(24).
truais, possibilita a gravidez, apesar de o índice de A prednisona é outra excelente opção de
abortamento ser elevado. tratamento, principalmente a partir da puber-

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dade, pois tem menores índices de hipercor- lútea – 1,3 a 3,6 ng/ml) e TC de abdome em
tisolismo, a dose usual para o adulto é de 5 a 03/11/05, que evidenciou aumento do volume da
10 mg/dia, e o controle é feito à semelhança das adrenal direita com perda de sua morfologia habi-
demais drogas(24). tual. Níveis de hormônio folículo-estimulante (FSH),
O uso precoce de corticoides nas primeiras estradiol e hormônio tireoestimulante (TSH) eram
semanas de vida intrauterina impede a virilização normais (Figuras 2 e 3).
em cerca de um terço dos fetos femininos. A dexa- A paciente foi acompanhada em conjunto com
metasona nessa época é preferida pela sua resistên- a endocrinologia. Novos exames em 04/01/06 reve-
cia à degradação placentária(24). laram 17 cetoesteroides (9,8 mg/24 h), cortisol uriná-
Sem dúvida, muitas pacientes com HSRA rio (15,7 mcg/24 h), androstenediona (18 ng/ml) e
são tratadas, sem diagnóstico, com terapias para 17-OHP (412 ng/ml), sendo então iniciada prednisona
hiperandrogenismo ovariano ou SOP, com proges- na dose de 5 mg/dia.
togênios para regulação do endométrio, citrato No acompanhamento a paciente evoluiu
de clomifeno ou gonadotropinas para indução da com melhora dos níveis de 17-OHP, porém com
ovulação, ou progestogênios e antiandrogênios desenvolvimento da síndrome de Cushing iatro-
para controle do hirsutismo. Essas terapias podem gênica (fácies cushingoide, aumento de peso e es-
ser apropriadas como alternativas ao tratamento trias em coxas, nádegas e abdome – Figuras 4 e
com glicocorticoides, mesmo quando a HSRA é re- 5). Optou-se pela troca da medicação para dexa-
conhecida como a causa dos sintomas(24). metasona (2 cp. 0,5 mg/manhã), tendo evoluído
com melhora satisfatória nos níveis hormonais e
menarca em 07/07/06 (aos 15 anos). Foi reduzi-
Relato de caso da a dose de dexametasona para 0,5 mg/dia com
melhora dos sinais da síndrome de Cushing iatro-
BRL, 14 anos, branca, procurou o ambulatório gênica. Em 03/05/07 obteve normalização dos ní-
do Hospital de Clínicas de Teresópolis Costantino veis de androstenediona (3,4 ng/ml) e de 17-OHP
Ottaviano (HCTCO) em 2005, por amenorreia pri- (1,2 ng/ml). A última consulta foi em 15/05/09,
mária e hirsutismo. aos 18 anos, quando referia ciclos menstruais re-
Na investigação em 29/08/05, foi solicitada gulares, peso normalizado (43,5 kg), estatura final
dosagem de 17-OHP com valor de 144 ng/ml de 1,58 m e desejava iniciar método contracepti-
(normal = fase folicular – 0,35 a 1 ng/ml, fase vo (Figura 6).

Figura 2 – Primeira consulta Figura 3 – Aumento de volume de suprarrenal direita com perda de sua morfologia

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Figura 4 – Fácies cushingoide Figura 5 – Acantose nigricans Figura 6 – Última consulta em maio de 2009

Discussão Dependendo do laboratório, indivíduos afe-


tados apresentam nível sérico de 17-OHP maior do
A HCSR devido à deficiência da 21-OH é que 1.000 a 1.500 ng/dl, 60 minutos após cortico-
uma desordem comum, caracterizada por defei- tropina (ACTH) intravenosa (IV) em bolo. Devido à
to na biossíntese do cortisol, acompanhando ou variabilidade circadiana dos hormônios da córtex
não defeito na síntese da aldosterona e excesso adrenal, o diagnóstico pode ser perdido se somen-
de androgênio. A forma clássica, também conhe- te for dosado o nível basal da 17-OHP ao final do
cida como forma grave, ocorre em 1:15.000 nas- dia. A gravidade de sinais e sintomas do excesso de
cimentos em todo o mundo, enquanto a forma androgênios varia muito, existindo, inclusive, qua-
não-clássica ou leve ocorre aproximadamente dros assintomáticos. Os sintomas mais comuns são
em 1:1.000 nascimentos em todo o mundo e é pubarca precoce em crianças, acne grave, hirsutis-
muito mais comum (até 1:20) em certos grupos mo e oligomenorreia em mulheres jovens(22).
étnicos(14). O tratamento da HCSR pode ser complicado
A deficiência da 21-OH leva ao aumento da tanto por síndrome de Cushing iatrogênica como
produção de precursores do cortisol e androgênios por hiperandrogenismo inadequadamente tratado,
pela glândula. Mesmo as formas leves de hiper- ou por ambos(4, 14).
plasia podem resultar em infecções pulmonares e Apesar do tratamento adequado de substitui-
sinusites graves, síncope ortostática, baixa estatura ção com glico e/ou mineralocorticoides, o resultado
e acne grave. Mulheres com a forma leve de HCSR final ainda deixa a desejar. A estatura final na maior
apresentam geralmente hirsutismo, oligomenor- parte das casuísticas está entre - 1 e - 2 desvio padrão
reia e infertilidade. (DP) com relação à estatura alvo(9, 10). Verificou-se que
A HCSR é diagnosticada pela demonstração a altura final da paciente com HCSR por deficiência
de excesso de precursores séricos do cortisol du- de 21-OH é beneficiada caso ocorra associação da
rante o teste de estímulo com ACTH. glicoterapia com uso do hormônio do crescimen-
Os precursores adrenais esteroides da 21-OH to (GH) e do análogo de agonista de liberação do
podem ficar levemente elevados na forma não- hormônio luteinizante (LHRH)(12). Há referências a
clássica, sendo intermediários entre os portadores ciclos anovulatórios, acne, hirsutismo, infertilidade,
heterozigotos da deficiência enzimática e os da obesidade, sinais de Cushing e disfunções sexuais
forma grave(18). decorrentes de estenose do introito vaginal(29).

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A fim de otimizar os resultados do tratamen- hiperandrogenismo, redução da dose de hidro-


to, tem sido proposta como terapêutica alternati- cortisona para duas vezes ao dia e redução do
va associação de hidrocortisona, fludrocortisona, número de avaliações hormonais(27).
flutamida (inibidor da 5a-redutase tipo 2) e tes- Outra possibilidade futura é a injeção intra-
tolactona (inibidor da aromatase). Os resultados adrenal de adenovírus não-replicante contendo
preliminares após dois anos de tratamento foram a sequência genômica do CYP21 humano cor-
promissores e indicam raros efeitos colaterais(15). rigida. Já foi realizada inoculação do vírus em
Porém, é necessário aguardar resultados em maior ratos sem atividade da 21-OH e houve manuten-
prazo para confirmar a eficácia desse tratamento. ção dos níveis normais de corticosterona por 40
Outra alternativa para tratamento da dias(26).
HCSR-21-OH é a suprarrenalectomia bilateral, As novas terapêuticas da HCSR-21-OH pare-
que pode ser cirúrgica, por via aberta ou lapa- cem promissoras, porém ainda estão em fase expe-
roscópica, ou medicamentosa, com uso de doses rimental, sendo necessário aguardar evolução em
baixas de mitotane (4,5 g/dia)(7, 27). A vantagem maior prazo para avaliar seu real benefício.
da segunda é a possibilidade de ser reversível, Os diagnóstico e tratamento precoces da
pois os efeitos da deficiência de DHEA-S e DHEA, HCSR visam ao controle do hiperandrogenismo
a longo prazo, ainda não foram determinados. sem afetar a velocidade de crescimento e à pre-
A indicação dessa conduta deve ser reservada às servação de função gonadal, fertilidade e estatura
meninas com a forma clássica da HCSR-21-OH, final. No caso relatado com uso da prednisona na
causada por mutações que abolem a atividade dose de 5 mg/dia, obteve-se melhora nos níveis de
enzimática e que apresentam controle hormonal 17-OHP, porém, com o desenvolvimento da sín-
difícil. Esse procedimento pode ser realizado du- drome de Cushing iatrogênica, foi iniciada, então,
rante a correção cirúrgica da genitália externa, dexametasona, com melhora dos níveis de 17-OHP
tendo como dados positivos controle total do e posterior menarca.

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volume 6 ■ nº 4 ■ outubro 2009 Adolescência & Saúde

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