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Resumo
Este artigo consiste de uma investigação sobre o conceito de intimidade no âmbito da rede social digital
Facebook. As perguntas iniciais foram constituídas para saber qual a visão que os usuários da rede social têm
acerca dessa esfera da vida cotidiana, e quais são os critérios para a publicação de conteúdos íntimos na era do
Facebook. A metodologia utilizada inclui revisão de literatura específica, abordando temas como intimidade,
tecnologia, sociedade em rede, redes sociais na internet, entre outros; e aplicação de uma pesquisa on-line junto
aos usuários da rede social digital por intermédio de um questionário. Os resultados obtidos evidenciam que o
conceito de intimidade mudou com o surgimento de redes sociais digitais.
Palavras-chave
Intimidade; Público; Privado; Rede Social Digital; Facebook.
Abstract
This article consists of an investigation into the concept of intimacy within the Facebook online social network.
The initial questions were set up to find out what the vision that social network users have about that sphere of
everyday life; and what are the criteria for publishing intimate content in the age of Facebook. The methodology
includes reviewing literature concerning topics such as intimacy, technology, network society, social networking
sites, among others; and implementation of an online survey of users of digital social network through a
questionnaire. The results showed that the concept of privacy has changed with the emergence of online social
networks.
Keywords
Intimacy; public; private; Digital Social network; Facebook.
Introdução
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também se alterou, migrando para a internet e atualizando os meios de interação humana por
meio das tecnologias digitais.
Investigar essa nova forma de sociabilidade é algo impositivo, tendo em vista que suas
reverberações no conjunto do modo de existir atual são evidentes. Com a pesquisa que
redundou neste artigo, buscamos analisar um tema específico no conteúdo publicado no site
da rede social Facebook, a intimidade. Assim, nossa pergunta central é: qual a visão que os
usuários da rede social têm acerca dessa determinante da vida cotidiana?
Fundado em 2004, o Facebook atualmente é a maior rede social na internet. Além
disso, o próprio slogan da empresa direciona uma relação pessoal entre os usuários e a
plataforma na web: “No Facebook você pode se conectar e compartilhar o que quiser com
quem é importante em sua vida”.
Para desenvolvermos este estudo, além de pesquisa empírica on-line, executada por
meio de um questionário dirigido aos usuários do Facebook, realizamos uma revisão de
literatura ligada ao tema e à nossa problemática. Assim, vamos discutir, a partir da
diferenciação entre os ambientes público e privado, o aparecimento e as transformações do
conceito da intimidade.
Em seguida, estão os estudos teóricos referentes ao pano de fundo em que se enquadra
o objeto de estudo, a midiatização, em especial a era das redes sociais na internet, além de
conceitos como Comunicação Mediada por Computador (CMC), ciberespaço, redes e Web
2.0. Apresentaremos uma breve análise psicológica do sujeito em rede, problematizando a
questão da subjetividade e da intimidade na sociedade midiatizada.
Numa terceira seção, apresentaremos os dados sobre o Facebook e os principais
resultados da pesquisa acerca das concepções de intimidade que regem as publicações na
maior rede social digital do mundo.
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Para Recuero (2009), o desenvolvimento da internet proporcionou mudanças na
sociedade, entre elas a possibilidade de expressão e sociabilização através das ferramentas de
Comunicação Mediada pelo Computador (CMC). As práticas conversacionais delimitadas por
trocas entre atores sociais é o que compreende a CMC (RECUERO, 2014, p. 27). Essas trocas
são possíveis através de uma rede de conexão.
Uma rede é um conjunto de interconectados (CASTELLS, 2003, p. 7). Como
ferramenta, umas das vantagens da rede é a flexibilidade e adaptabilidade, características
importantes em tempos de rápidas e intermitentes mudanças. Essas duas competências se
destacam ainda mais com as tecnologias de comunicação baseadas por computador e pela
internet. Diante disso, as redes estão se desenvolvendo em todos os domínios da existência.
Uma rede social digital é definida como um conjunto de dois elementos: atores
(pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais)
(RECUERO, 2009, p. 24). A atuação dos atores nesses espaços digitais constitui em "moldar
as estruturas sociais, através da interação e da constituição de laços sociais" (RECUERO,
2009, p. 25). Por laços sociais compreende-se as "conexões entre os indivíduos, criadas e
mantidas através da interação e conversação." (Idem, p. 16).
Já as conexões são os elementos que interligam os atores uns aos outros. "Nas redes
sociais, essas conexões são constituídas principalmente de relações sociais, ou seja, de
relações criadas através de eventos de fala e de troca de informações entre atores, que
terminam por construir laços sociais" (RECUERO, 2014, p. 129).
Outro fato importante para esta pesquisa, em decorrência desse ponto da discussão
sobre as redes sociais na internet, mais especificamente com o foco para a intimidade, são as
interações a partir dos laços sociais fortes. Sob a análise de Recuero (2014, p. 129), "os
[laços] fortes são aqueles que compreendem mais intimidade, relacionados a uma maior
quantidade de valores construídos entre os interagentes".
Nessa observação, a autora fala da construção de uma relação íntima direta entre as
pessoas (os atores) em uma rede social. No entanto, é preciso observar, a intimidade entre os
atores por laços fortes pode estar aberta ao público, sob a possibilidade de observação de
todos, como aqui se discute.
Conforme apontado, com o advento da internet, houve a atualização das redes socais
para os meios digitais. Assim, vários sites de redes sociais são utilizados atualmente, como
exemplo, o Twitter, o Instagram, o Flicker, e, o nosso objeto de análise, o Facebook.
Esses sites são o grande diferencial da Web 2.0, caracterizada pela possibilidade da
interação e intervenção dos utilizadores. Segundo Recuero (2014, p. 131), tais sites são
peculiares em razão da publicização das redes sociais dos atores e pela possibilidade de se
construir um perfil individualizado.
Além disso, a estrutura dessas plataformas, para a autora, é caracterizada pela
"exposição pública da rede dos atores, que permite mais facilmente divisar a diferença entre
esse tipo de site e outras formas de comunicação mediada por computador" (Idem).
Recuro, reportando-se a Sibilia (2008), destaca como fator determinante para o
exibicionismo no ambiente da web o "imperativo da visibilidade". "É preciso ser 'visto' para
existir no ciberespaço" (RECUERO, 2009, p. 27). Essa exibição tem terreno fértil nas redes
socais na internet, pois permitem aos usuários estarem mais conectados e interativos. Como
ressalta Recuero (p. 108), "isso significa que há um aumento da visibilidade social desses nós.
A visibilidade é constituída enquanto um valor porque proporciona que os nós sejam mais
visíveis na rede". Já Santaella (2013) pontua que:
As redes [sociais na Internet] operam a partir da criação de perfis que
representam os usuários. Assim, elas oferecem serviços de mensagem
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instantânea, murais de mensagens, postagem de fotos e vídeos, entre outros.
A popularização desses serviços faz com que, cada um desses perfis, criem-
se pontos de referência para a identidade digital de alguém. Esses pontos de
referência podem se multiplicar em bolhas identitárias sem limites
predefinidos (p. 42).
Toda esse novo modo de se viver e se relacionar está produzindo mudanças na forma
de subjetivação contemporânea. Türcke (2010, p. 39) explica que, para existir na sociedade
excitada, em meio às sensações, é preciso ser visto, ou melhor, "ser é ser percebido" – Esse
est percipi –, o que implica uma outra determinante: “ser é perceber” – Esse est percepire.
Nessa direção, Melman defende que estamos vivendo sob uma “nova economia
psíquica”. Diante de tal perspectiva, "estamos lidando com uma mutação que nos faz passar
de uma economia organizada pelo recalque a uma economia organizada pela exibição do
gozo" (2008, p. 16).
O psicanalista utiliza como exemplo dessa nova economia uma exposição
contemporânea de arte anatômica que exibe cadáveres humanos conservados da putrefação a
partir de processos químicos, como se fossem corpos plastificados. O autor demonstra
surpresa e estranhamento com o grande número de pessoas que vão a essa exposição, que já
circulou os quatro cantos do mundo, para ver corpos abertos com as vísceras à mostra.
Essa nova economia, defendida por Melman, implica um ser disposto a tudo em busca
de seus prazeres, da exibição do seu mais íntimo ou do espreitar o outro: "não há limites"
(MELMAN, 2004).
Contextualizando a visão de Melman (2008; 2004) e de Türcke (2010), podemos nos
direcionar para o ciberespaço. Pois, as redes estariam propiciando profundas transformações
nos dispositivos de produção das subjetividades devido aos novos formatos de relações
intersubjetivas que nelas se consubstanciam, aponta Santaella (2013, p. 39), afirmando que:
Portanto, podemos chegar a constatação, sob uma ótica geral, de que os indivíduos são
afetados diretamente pelas construções sociais tecnológicas, midiáticas e comunicacionais. As
pessoas estão constantemente buscando uma significância para sua timeline pontilhada,
fragmentada e midiatizada.
O eu deve estar sempre se comunicando e se exibindo para ser lembrado e fazer-se
existir. Como observado por Melman, "não há limites!" nessa nova economia psíquica, sendo
as redes sociais digitais um locus privilegiado desse novo existir, notadamente o Facebook, a
maior delas.
O Facebook, no Brasil muito conhecido como Face, foi um sistema desenvolvido pelo
estadunidense Mark Zuckerberg, em 2004. Em suas origens, houve a colaboração de colegas
de Zuckerberg - Chris Hughes, Dustin Moskovitz e Eduardo Saverin. Antes de se tornar uma
rede social na internet conhecida mundialmente, o sistema foi chamado de Facemash, o qual
era utilizado para classificar, entre duas fotos dispostas lado a lado, quem seria a pessoa mais
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quente1.
O sistema funcionava na universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e era
alimentado com imagens de identificação dos estudantes da instituição. Porém, o Facemash
foi fechado poucos dias após estar no ar, em outubro de 2003, pois foi considerado quebra de
segurança e violação de privacidade aos parâmetros da universidade2.
Mesmo com poucos dias de funcionamento, a criação de Zuckerberg ganhou
notoriedade no campus de Harvard. Devido ao sucesso, no ano seguinte, em 4 de fevereiro de
2004, Mark Zuckerberg relançou sua ideia. Agora, com o nome do site chamado
"thefacebook.com". Mas esse sistema ainda estava restringido ao âmbito acadêmico, servindo
como uma rede para conectar estudantes de diversas universidades.
Naquele mesmo ano, Sean Parker, fundador do Napster, assumiu o papel de investidor
anjo, e tornou-se presidente da empresa. Uma das primeiras mudanças após a parceria com
Parker foi no nome, que passara a chamar-se Facebook, logo após ter comprado o domínio de
internet Facebook.com em 2005 por US$ 200 mil.
Somente no ano de 2006, o site foi aberto ao público para cadastro (MARTINUZZO;
REZENDE, 2014). A partir deste ano, o número de usuários disparou. Sob uma ótica geral,
observamos que de fevereiro de 2005 a agosto de 2006, o uso de sites de redes sociais entre os
jovens internautas, com idades entre 18 e 29 anos, saltou de 9% para 49%3.
Nos primeiros anos de existência, o sucesso do Facebook pode ser explicado por
vários motivos, entre os quais se enquadram a possibilidade de modificação da plataforma
pelos usuários e pelo fato de o sistema ser percebido como mais privado que outros sites de
redes sociais, pois apenas usuários que fazem parte da mesma rede podiam ver o perfil uns
dos outros (RECUERO, 2009).
O Facebook proporciona ao usuário a possibilidade de publicar/postar textos, fotos e
vídeos. Além de possibilitar também a interação com outros usuários a partir de mensagens
inbox4, comentários ou curtidas em postagens, seja em perfis, páginas ou grupos.
Números recentes mostram que o Facebook é o maior site de rede social no mundo5.
Até março de 2015, cerca de 1, 44 bilhão de pessoas acessaram o site. Já em dezembro do ano
anterior, o público era de 1, 39 bilhão. Isso mostra que em cerca de 3 meses, 50 milhões de
novos usuários entraram nessa rede.
No Brasil, por exemplo, o número de usuários do Facebook chegou a 89 milhões, no
segundo trimestre de 2014. A estimativa é de que 8 a cada 10 internautas brasileiros estão no
Facebook, frente ao total de pessoas que navegam na internet no país – mais de 107 milhões.
1
Cf. GLOBO, O. A origem do Facebook. 2012. Disponível em
http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/aorigem-do-facebook-4934191>. Acesso em 19 maio 2015.
2
Cf. BUSINESS INSIDER, 2010. The full story of how Facebook was founded. Disponível em:<
http://www.businessinsider.com/how-facebook-was-founded-2010-3#we-can-talk-about-that-after-i-get-all-the-
basic-functionality-up-tomorrow-night-1>. Acesso em 19 maio 2015.
3
Cf. PEWINTERNET. Social Networking Fact Sheet. 2014. Disponível em: <http://www.pewinternet.org/fact-
sheets/social-networking-fact-sheet/>. Acesso em 19 maio 2015.
4
As mensagens inbox são privadas. Elas podem ser enviadas à caixa de mensagens de um outro
usuário do Facebook ou à caixa de mensagens de um grupo de usuários.
5
Cf. PEWINTERNET. Social Media Update 2014. 2015. Disponível em:
<http://www.pewinternet.org/2015/01/09/social-media-update-2014/>. Acesso em 19 maio 2015.
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Diante disso, o Facebook é o site de rede social mais popular no Brasil6.
É no âmbito dessa gigantesca e tentacular rede de sociabilidade digital, fundada na
exposição midiatizada, que vamos buscar entender o conceito de intimidade, a partir da visão
dos próprios usuários.
Conforme salientamos, os resultados foram obtidos com o levantamento proveniente
de um questionário on-line, direcionado aos utilizadores do Facebook. Foram 20 perguntas
sobre o tema, numa enquete que ficou disponível durante 15 dias, de 23 de maio a 06 de junho
de 2015, alcançando dias úteis e dois finais de semana. Nesse período, obtivemos 742
respostas.
A divulgação dessa pesquisa quantitativa foi realizada por meio do perfil do segundo
autor, com um total de três compartilhamentos em sua rede de amigos no Facebook. Nessa
mesma plataforma, o questionário foi divulgado em alguns grupos.
Identificamos, com a pesquisa, o alcance geográfico nacional de respondentes
residentes em 15 Estados (Acre, Alagoas, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo,
Goiás, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São
Paulo e Tocantins). Já do exterior, houve respondentes na Espanha, nos Estados Unidos, no
México e em Portugal. Esse tipo de identificação não era obrigatório na pesquisa.
A maior parte dos respondentes da pesquisa foi do gênero feminino (65,90%) e da
faixa-etária entre 21 a 30 anos (60,65%), como podemos observar nas Tabelas 1 e 2, abaixo.
Tabela 1 - Gênero dos respondentes
Outro 4 0,54%
De 31 a 40 anos 46 6,20%
De 41 a 50 anos 10 1,35%
6
Cf. GLOBO.COM. Oito a cada dez internautas do Brasil estão no Facebook. Disponível em:<
http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2014/08/oito-cada-dez-internautas-do-brasil-estao-no-facebook-diz-rede-
social.html> Acesso em 19 maio 2015.
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De 51 a 60 anos 7 0,94%
Além das características apresentadas nas Tabelas acima, a maioria dos entrevistados
possui ensino superior (72,37%), como podemos ver na Tabela 3.
Tabela 3 - Escolaridade dos respondentes
Pós-graduação 68 9,16%
Privado 81 10,92%
Tabela 6 - Sobre as redes sociais digitais serem ou não uma instância distante da vida real
Até aqui a pesquisa mostrou que o entendimento dos usuários do Facebook quanto à
plataforma é, em caráter de maioria, o de que a rede social digital é considerada um ambiente
público, em que não há a sensação de segurança durante a realização de publicações e que se
coloca como distante da vida tecida nas relações presenciais.
Além dos fatores expostos acima, também buscou-se saber como era a relação entre o
usuário com as ferramentas de postagem, a frequência de emissão de conteúdos e a que grupo
seria destinada tais informações. A importância dessa observação diz respeito ao fato de que
as publicações de cunho íntimo passam, antes de tudo, pela filtragem de mecanismos de
seleção disponibilizados aos usuários.
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Então, procurou-se entender a média de publicação realizada pelos internautas (Tabela
7), sendo que mais da metade dos respondentes (50,27%) disseram que geralmente não fazem
postagens. Já entre os que publicam no Facebook (49,73%), 19,41% o fazem 1 ou 2 vezes por
semana; seguidos de 17,39%, que realizam publicações 1 ou 2 vezes por dia; os que postam
no Facebook 3 ou 4 vezes por semana representam 7%; já 5,93% dos respondentes disseram
que fazem postagens 3 ou 4 vezes por dia.
Tabela 7 - Frequência de postagem dos usuários
3 ou 4 por semana 52 7%
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Um total de 52,96% afirmou selecionar os grupos a quem as mensagens devem ser
direcionadas, por meio da escolha de chaves. Já 35,98% dos respondentes disseram que não
fazem esse tipo de seleção. Em contrapartida aos que detêm conhecimento sobre este tipo de
procedimento, 11,05% afirmaram desconhecer as possibilidades de seleção de grupos por
meio das ferramentas no Facebook (Tabela 9).
Tabela 9 - Utilização de chaves de seleção de postagem no Facebook
Somente eu 19 2,56%
Personalizado 81 10,92%
Sobre um panorama geral das respostas que mais foram escolhidas pelos usuários,
quanto às perguntas que estavam relacionadas à utilização do Facebook e suas ferramentas de
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seleção, a maior parte dos entrevistados disse não fazer postagens regularmente na rede social
digital; mas, entre os mais ativos, são realizadas de 3 a 4 publicações por semana, no mínimo.
Além disso, seguindo essa ótica, podemos destacar que a maioria das mensagens são
direcionadas aos amigos da rede, e, durante a realização de postagens, são utilizadas chaves
de seleção de grupos. A grande maioria disse também que, no momento da pesquisa, as
configurações para futuras publicações estavam configuradas em "amigos". No entanto, ao
responderem sobre quais tipos de conteúdo deveriam estar configurados como "público", os
internautas disseram que os não pessoais deveriam ser destinados a esta categoria.
Já entrando no cerne de nossa pesquisa, relacionado à intimidade, procuramos saber
dos internautas quais tipos de conteúdo devem ser classificados como "públicos" ao serem
postados. Essa indagação é relevante frente à variedade de definições da ferramenta e,
também, levando-se em consideração que a mensagem tem um direcionamento.
Diante disso, a maioria dos respondentes (86,52%) disse que os conteúdos
classificados como "públicos" ao serem postados devem ser os não pessoais, ou seja,
publicações que não tenham relação com características individuais, exclusivas das pessoas,
relacionadas à sua personalidade. Em contrapartida, 6,87% das repostas apontaram que as
postagens definidas como públicas podem seguir qualquer forma de conteúdo (Tabela 11).
Tabela 11 - Classificação de conteúdos públicos
Todos 39 5,26%
Pessoais 10 1,35%
Mas qual seria a visão dos usuários em relação a conteúdos íntimos publicados no
Facebook? Visando a esclarecer isso, à ótica de cada usuário, perguntamos sobre a incidência
de características de intimidade na rede de amigos. Além disso, vamos expor as alternativas
mais votadas, sem quantificar o percentual, de questões com múltipla escolha de mais de uma
resposta, direcionadas a saber de que forma e como a intimidade se configura; e, também,
qual a opinião relacionada ao motivo de publicação de tais conteúdos.
Para configuração geral do assunto frente às redes sociais digitais, 86,66% dos
usuários afirmaram que a intimidade deve ficar no âmbito privado (Tabela 12). O que
podemos confrontar, como visto anteriormente, com a classificação do Facebook como um
ambiente público. Logo, em uma visão ampla, a intimidade não deveria ser exposta na
plataforma, pelo menos da forma como é exibida. No entanto, na visão de 11,86% dos
entrevistados, a intimidade pode ficar no âmbito privado ou no âmbito público.
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Tabela 12 - Classificação da intimidade na era das redes sociais digitais
Você já viu algo de cunho íntimo postado por algum Respondentes Percentual
amigo no Facebook?
Não 49 6,60%
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Nunca 35 4,72%
Não 83 11,19%
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Considerações finais
A intimidade, sob análise geral dos resultados da pesquisa realizada com usuários do
Facebook, é um conceito que está mudando em razão do uso sistemático das redes sociais da
internet. Também podemos chegar à conclusão que há grande incidência de conteúdos íntimos
sendo publicados, mesmo que eles estejam restringidos à rede de contatos do internauta
emissor da mensagem.
Ademais, observamos um descompasso entre a percepção ou ideia do que seja o
espaço do Facebook e a realidade, a apropriação da rede social. A contradição é a seguinte: se
a intimidade deveria ficar somente no âmbito privado, como apontou a opinião dos
respondentes, como há tantas publicações, inclusive percebidas como íntimas, num espaço
considerado público pelos mesmos internautas?
Uma simples verificação mais atenta leva qualquer observador a encontrar grande
quantidade de postagens públicas, inclusive referenciadas ao conceito moderno de intimidade.
Até porque há ferramentas disponíveis aos usuários do Facebook – como as que adicionam
fatores de subjetivação à mensagem – que proporcionam uma nova forma de exposição do
que é íntimo. Isso amplifica as possibilidades de exposição da intimidade, permitindo que esta
esteja à vista de todos ou de um determinado grupo.
Pelo viés do exibicionismo, podemos retomar a ideia de Türcke (2010), para quem
existir, nesta sociedade excitada em meio às sensações audiovisuais e aos fluxos
informacionais, é ser visto e percebido. Já sob outro viés, o do receptor, não fechamos os
olhos aos conteúdos íntimos de terceiros, pois, em contrapartida ao exibicionismo de outrem,
também é necessário perceber para existir.
Essas observações nos fazem lembrar, também como já exposto, a argumentação de
Sibilia (2008), que observou que, nos dias atuais, com o advento das novas tecnologias de
comunicação, a intimidade tomou novas proporções, deixando de ser algo do interior do
individuo para o seu exterior, o que a autora denominou ser extimidade.
Devemos remarcar, também, as observações de Sennett (2014), que vincula o
aparecimento do conceito de intimidade às mudanças capitalísticas que ocorreram durante os
séculos XVIII e XIX. Nesse período, observamos uma transformação estrutural no
capitalismo, que redundou num distanciamento dos lares (então, o ícone máximo do privado)
em relação aos ambientes públicos, firmando uma nova configuração comportamental e
psicológica, e, por consequência, constituindo a delimitação da intimidade.
Mais uma vez, no decorrer da história, percebemos hoje que as transformações
estruturais capitalísticas acabam interferindo de modo incisivo no universo da intimidade. Na
base dessas mudanças, tanto do capital quanto da visão do que é íntimo, estão as tecnologias
digitais de comunicação e informação, notadamente as redes sociais digitais. Ainda mais
quando o assunto é a peculiar subjetividade atual, especialmente quanto a sua percepção da
intimidade – cada vez mais midiatizada ou menos privada.
Referências
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