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O CASO EMMY VON N.

Por Ale Esclapes¹

A análise deste caso vai ser pouco mais extensa pois ele tem muitas complexidades. Mas
primeiro vamos falar um pouco sobre o caso. Essa é mais uma das pacientes que apresentam
no mínimo um quadro misto que, na minha opinião estaria mais próximo da paranoia que da
histeria.

Manifestava diversos tipos de medos, desde a presença de médicos que ela não conhecia,
notícias de jornais, bem como de ser atacada por animais. Apresentava também um tique
vocal, como um estalido, e dores no corpo.

Foi a primeira paciente que Freud tratou pelo método catártico, utilizando também a sugestão
e a hipnose. Pelo relato, Freud também lançou mão de massagem e hidroterapia como formas
de tratamento. Essa paciente ficou famosa por pedir que Freud a deixasse falar livremente e
não a interrompesse, o que se convencionou chamar um início para a livre associação. Nesse
caso também teve o início do uso da pressão na testa da paciente para que ela se lembrasse
de eventos passados, aqui seguindo o modelo catártico de Breuer.

Desse ponto em diante existem uma série de considerações técnicas sobre o caso que só serão
feitas em função de hoje, muitos cometerem os mesmos equívocos técnicos desse caso.

O primeiro deles é em relação à do analista com a memória do paciente, ou seja, de inferência.


O modelo catártico sempre parte do princípio de um trauma do passado que geraria o
sintoma. Para resolver o sintoma, basta buscar o trauma. Tudo seria muito simples se não
fosse a memória do paciente - mas aí o hipnotismo resolveria o problema. Se o paciente não se
lembrava, bastava hipnotizá-lo e isso estaria resolvido. Mas como confiar na suposta
lembrança? Aí entram duas questões - a primeira que na teoria do hipnotismo, o que fosse
trazido sempre seria a verdade. Essa crença estranhamente permanece na psicanálise - ela
sobrevive inclusive a mudança do método.

Dois exemplos:

“Primeiro, quando eu tinha cinco anos e meus irmãos e irmãs costumavam atirar animais
mortos em mim. Foi aí que tive meu primeiro desmaio e espasmos. Mas minha tia disse que
aquilo era uma vergonha e que eu não devia ter daqueles ataques, de modo que eles pararam.
Depois me assustei de novo quando tinha sete anos, e inesperadamente, vi minha irmã no
caixão; e outra vez quando contava oito anos e meu irmão me aterrorizou uma porção de
vezes, enrolando-se em lençóis como um fantasma; e também quando tinha nove anos e vi
minha tia no caixão e de repente o queixo dela caiu.” Emmy von N.

Pergunta básica: não seria coerente duvidar que os irmãos de Emmy lhe jogassem animais
mortos? Isso não parece ser um comportamento muito normal. Mas não é isso que Freud fez
nesse caso:
“Algumas das fobias da paciente, é verdade, correspondiam às fobias primárias dos seres
humanos, e especialmente dos neuropatas – em particular, por exemplo, seu medo de animais
(cobras e sapos, bem como todos os vermes de que Mefistófeles se gabava de ser o senhor), de
tempestades e assim por diante. Mas também essas fobias se firmaram mais graças a
acontecimentos traumáticos. Assim, seu medo dos sapos foi fortalecido pela experiência, nos
primeiros anos de infância, de um de seus irmãos lhe ter atirado um sapo morto, o que levou a
seu primeiro acesso de espasmos histéricos ..." S. Freud

O segundo deles se refere ao uso extensivo da sugestão. Obviamente eu sei que Freud parou
de usar esse método, meu ponto aqui, insisto, é que ainda tem gente hoje em dia usando esse
método. E aqui um comentário: dizem que Freud não era um bom hipnotizador, mas será que
o ponto era esse? Um exemplo para que vocês entendam o que eu quero dizer:

“Sua menstruação re-começou hoje, após um intervalo que mal chegou a uma quinzena.
Prometi-lhe regulá-la por sugestão hipnótica e, sob hipnose, fixei o intervalo em 28 dias.
(Nota de rodapé: Sugestão essa que foi levada a efeito.)” S. Freud

Desculpe, mas o problema não era se Freud era ou não um bom hipnotizador, o problema era
o método. E isso não tem nada a ver com Freud. É como se dissesse que se ele fosse um bom
hipnotizador, não teríamos a psicanálise, pois o hipnotismo ou a sugestão teriam resolvido as
neuroses, e isso ao meu ver não tem nenhuma lógica.

Agora um ponto mais abstrato no caso clínico. Como vocês puderam ver no vídeo sobre “A
comunicação preliminar”, um dos pontos do modelo de Freud e Breuer era a origem sexual da
histeria.

Vamos analisar o seguinte trecho:

“Encontrei-a muito animada. Contou-me, sorridente, que se assustara com um cãozinho que
havia latido para ela no jardim. Seu rosto, porém, estava um pouco contraído, e havia certa
agitação interna, que só desapareceu quando ela me perguntou se eu estava aborrecido com
alguma coisa que ela dissera durante a massagem nessa manhã e respondi “não”.” S. Freud

Freud praticamente não deu muito importância a ele nas suas considerações do caso clínico.
Mas observem como a paciente estava preocupada com algo que ela supostamente havia feito
de mal à Freud e queria saber se ele estava bem. São duas formas de ligação entre a paciente e
Freud - um cuja fantasia é mais destrutiva, e outro que é de “saber sobre”. Como Freud estava
buscando um vínculo traumático ou sexual, praticamente não deu continuidade a investigação
aos vínculos de destruição de conhecimento que estavam estabelecidos com ele. Isso tem um
impacto em outras explicações. Para Freud a paranoia da paciente era fruto de traumas (os
irmãos havia lhe jogado animais mortos) que reforçaram um medo comum - medo de animais.
Isso se chama inferência.
SRA. EMMY VON N., pseudônimo de FANNY MOSER, paciente de Freud apresentada nos
“Estudos sobre a Histeria” de 1985 - a paciente na qual Freud disse ter utilizado pela primeira
vez o método “catártico”.

Nascida Fanny von Sulzer Wart, a 29 de julho de 1848 na antiga Livônia, em uma nobre e
antiga família de Winterthur, com a idade de 23 anos casou-se com Heinrich Moser, um
riquíssimo homem de negócios, quarenta anos mais velho e já pai de dois filhos.

Com a morte do marido, Fanny herdou toda a sua fortuna, sendo inclusive acusada de
envenená-Io. A suspeita de assassinato pesaria tão forte sobre o seu destino, que ela nunca
conseguiria realizar o seu desejo mais caro: ser recebida nos salões da aristocracia européia.

Levou uma vida errante, teve amantes entre os seus médicos, e acabou apaixonando-se por
um jovem que se apoderou de boa parte da fortuna. Fixou-se enfim em Au, perto de Zurique,
em um “castelo”, onde faleceu a 02 de abril de 1925.

Suas duas filhas foram marcadas, cada uma à sua maneira, pela neurose materna: a mais velha
faria uma brilhante carreira de zoóloga, antes de publicar em 1935 uma obra sobre a
parapsicologia, prefaciada por Jung. A mais nova, revoltada contra os valores da classe
dominante, da qual ela era um puro produto, se tornaria militante comunista, fundaria em
1928 uma creche em Ivanova (URSS) e publicaria em 1941 um livro de histórias de animais
para crianças.

Os animais tinham desempenhado um grande papel na patologia materna. Com efeito, em


1889, Freud decidira tratar Fanny Moser, que manifestava uma grave fobia por certos animais.
O tratamento durou seis semanas. Freud lhe fez massagens, prescreveu-lhe banhos e
procurou, através do sono artificial, da hipnose e do diálogo, “libertá-Ia” das suas emoções
dolorosas. Afirmou que a tinha curado. A 1º de maio de 1889, em uma crise de pânico, ela lhe
deu ordem de afastar-se: “Não se mexa! Não diga nada! Não me toque!”. A paciente também
fez uma observação cujas consequências práticas Freud não deixou de observar: ela pediu para
ele parar de interrompê-la com perguntas e para permitir que ela falasse livremente.

Na história oficial das origens da Psicanálise, atribuiu-se a Emmy von N. a invenção da cena
psicanalítica, como se atribuía a Anna O. a invenção do tratamento psicanalítico (por “limpeza
de chaminé”). Emmy “fabricou”, dizia-se, as interdições necessárias a uma nova técnica de
tratamento, fundada sobre o afastamento do olhar. Depois dela, o médico iria tornar-se
psicanalista e instalar-se fora da vista do doente, renunciando a tocá-Io e obrigando-se a
escutá-lo. Apesar do mito, Emmy nunca foi curada de sua neurose, nem por Freud, nem por
seus outros médicos.

Trabalhos recentes tendem a questionar os diferentes diagnósticos de Histeria, de Melancolia,


e até de Esquizofrenia, feitos por Freud e seus sucessores, e consideram que Fanny Moser
sofria da Doença de Gilles de Ia Tourette - debate onde reencontramos a antiga querela que
opôs Freud aos partidários do organicismo.

O tratamento desenvolvido por Freud com a Sra. Emmy von N., possui para a história da
psicanálise um valor especial, pois através dele podemos perceber as dificuldades encontradas
por Freud em utilizar a hipnose e a sugestão como instrumentos terapêuticos, assim como
encontramos a primeira menção à utilização da regra da livre associação, no momento em que
a própria paciente pede ao médico que não a interrompa com tantas perguntas e que a deixe
falar livremente sobre suas queixas. O atendimento se desenrolou por aproximadamente seis
semanas, durante as quais Freud visitou a paciente todos os dias, duas vezes ao dia. Segundo o
seu relato, a Sra. von N., indicada por Breuer, era uma mulher de aproximadamente 40 anos,
histérica, que sofria de problemas nervosos. Freud indicou um tratamento hipnótico,
acompanhado por banhos quentes e massagens corporais, permanecendo a paciente
internada e, portanto, afastada da família e da realidade social. O trabalho terapêutico visava à
eliminação dos sintomas de forma a permitir que a paciente retomasse suas atividades junto à
família e à empresa que gerenciava. E, embora tenha encontrado um êxito apenas parcial, pois
apesar de enfraquecidos em sua intensidade, os sintomas histéricos se tornaram recorrentes,
Freud considerou o tratamento bastante satisfatório tecendo inúmeras considerações acerca
dos mecanismos psíquicos dos fenômenos histéricos em geral. No curso da exposição do caso,
Freud faz inúmeras referências à moralidade repressora vigente à época, na qual imputa a
responsabilidade pelos problemas neuróticos desenvolvidos pela paciente. Freud é categórico
em ressaltar as qualidades intelectuais e morais da paciente, afirmando que ela possui um
caráter impecável e desfruta de um modo de vida bem orientado segundo as regras sociais:
preocupa-se sobremaneira com a educação das filhas, consegue gerir a empresa da família
com sabedoria, apresenta maneiras requintadas e uma profunda humildade de espírito.

Podemos perceber nessas indicações o referencial paradigmático da moralidade de uma época


na qual se reservava um lugar e uma expectativa específicos para as mulheres: moralidade
estrita, sexualidade reprimida, cordialidade, maternidade e humildade de espírito como
atributos naturais da feminilidade e cuidado com a educação familiar. Ou seja, encontramos
nesses referenciais, os pilares estruturais da sociedade burguesa: regras morais rígidas,
sexualidade reprimida, valorização do núcleo familiar e individualidade.

Em 01 de maio de 1889, durante sua primeira visita, Freud descreveu seu encontro com
Emmy: “Esta senhora, quando vi pela primeira vez, estava deitada em um sofá, com a cabeça
apoiada em uma almofada de couro. Ela ainda parecia jovem e tinha características finas, cheia
de personalidade. Seu rosto tinha uma expressão tensa e dolorosa, suas pálpebras estavam
reunidas e os seus olhos baixos. Falou em voz baixa como se com dificuldade, e seu discurso
era, de tempo em tempo, sujeito a interrupções espásticas, no valor de um gaguejo”. Ele
também observou o som de “clique” que ela fazia com a língua, quando chateada.

O tratamento era consistente com a prática habitual, que consistia em estadia em uma clínica,
separada de suas duas filhas (com quem ela não se dava bem). Freud prescrevia banhos
mornos e massagens duas vezes por dia. A paciente foi completamente acessível à hipnose e,
neste estado, contou a origem dos medos delirantes e alucinações visuais (ratos, sapos) de que
ela sofria, refazendo-os a sua infância.

Em janeiro 1890 Emmy teve uma recaída. Ela foi ver Breuer, queixando-se de distúrbios do
sistema nervoso. Ela estava tão agitada que teve de ser internada em um sanatório, fugindo
com a ajuda de uma amiga. Sem dúvida, Emmy passou a representar um dos casos referidos
por Freud para explicar o abandono da hipnose.
Em maio de 1890, o aniversário de sua primeira terapia, ela voltou para ver Freud - uma
terapia adicional que durou oito semanas, até julho. Ela se sentiu melhor, mas sofria de
confusão mental, “tempestades na cabeça”, insônia, e os “cliques” e gagueira tinha
reaparecido. Freud analisou a origem do retorno destes sintomas e novamente conseguiu
eliminá-los.

Na primavera de 1891, Freud viu Emmy von N. em sua casa, onde permaneceu por vários dias
para ajudar a resolver os problemas que estava tendo com sua filha mais velha. Ela estava se
sentindo melhor, mas Freud retomou o tratamento para eliminar uma fobia de viajar de trem.

Em um adendo que data de 1924, Freud relata que, vários anos após esta última visita, ele
conheceu um médico com quem ela havia se comportado de forma idêntica: fácil de hipnotizar
no início, em seguida, irritável e sujeita a recaídas. Freud acrescenta que, por volta de 1920,
sua filha mais velha tinha escrito para ele, solicitando um relatório – Fanny Moser queria
iniciar um processo contra este “tirano cruel” que tinha afugentado suas duas filhas.

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