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01/05/2019 Versão para impressão - A Origem da Filosofia e Introdução à Filosofia Pré-Socrática

A Origem da Filosofia e
Introdução à Filosofia
Pré-Socrática

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Apresentação 
Como nasceu e foi concebida a Filosofia?
Esta questão será nosso ponto de partida nesta disciplina. Você verá que tudo se inicia com
uma abordagem cosmológica sobre o princípio das coisas, para daí seguir para uma análise
das essências das coisas. Da análise das essências surgirão uma série de desdobramentos
éticos e morais decorrentes de preocupações antropológicas acerca do Ser do homem.

Das perguntas simples e bastante tranquilas vários questionamentos surgirão e, ainda,


várias soluções geniais que até hoje não foram superadas. É importante compreender essas
discussões até mesmo para que possa entender como se deu, a partir de então, o
desenvolvimento de todo o processo argumentativo discursivo do saber ocidental.

Veja o que Aniceto Molinaro, importante comentador da filosofia, fala sobre a questão do
Ser que vai surgindo:

Nada significa tanto o não-ser quanto o não-ente. A origem teorética da


metafísica, com Parmênides, como abertura da totalidade do ser, coincide com o
aparecimento do nada como negação absoluta do ser em sua totalidade, portanto,
como absolutamente outro em relação ao ser e oposto a ele de maneira tal que não
só não é, mas também não pode ser sequer pensado e expresso. Essa oposição,
absolutizada tão rigidamente, não permite tratar a multiplicidade e o devir, nos
quais se mostra certa negatividade, certo não ser (MOLINARO, 2004, p. 87).

Ou, ainda, o que fala Álvaro Penedos acerca da relação entre o desvelamento do Ser e a
verdade:

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A palavra grega que usualmente se traduz por verdade é alétheia. Tal tradução
não é efetivamente correta. O grego, sobretudo o filósofo, tinha de pensar a
verdade dentro de determinados quadrantes conceituais. No seu sentido rigoroso,
a palavra alétheia descreve o ato de desvelar, ou seja, o gesto pelo qual
descobrimos determinada coisa. Ora, se é uma descoberta, é porque aquilo que se
descobre já existia independentemente do homem. Assim, se a verdade não está na
independência do homem (no sentido em que este a constrói) é também difícil de
alcançar, daí a tarefa de desvelar pertencer essencialmente ao filósofo.
(PENEDOS, 1984, p. 88)

Assim, da questão inicial, chega-se a três grandes questões:

1. Por que falar do Ser? Como esta questão entra e se fixa na investigação
filosófica?
2. Qual a sua abrangência, origem e possíveis desdobramentos?
3. Como estas questões vão culminar no desenvolvimento até mesmo do saber
das coisas físicas, materiais, não nos esquecendo de que o estudo da Física é o
estudo da Natureza?

Durante a leitura do conteúdo das Unidades de Aprendizagem, procure respondê-las.

O alvorecer da filosofia na Grécia antiga representa um deslocamento no


modo de explicar a realidade e o início da passagem do pensamento mítico
para o racional. No entanto, ao longo do desenvolvimento da filosofia há uma
constante interação ente o mito e o lógos , que impõe muitos problemas a
respeito das suas distinções e da natureza das suas relações.
Cronologicamente, esse primeiro período da filosofia grega é chamado de
pré-socrático, uma vez que seus pensadores precederam a Sócrates e aos
sofistas.

O surgimento da filosofia, bem como a relação entre mito e lógos e os


primeiros pensadores pré-socráticos – os da Escola de Mileto – são os temas
desta unidade.

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Desafio 
Leia o texto a seguir e faça o que se pede:

“A MAIOR PARTE DOS primeiros filósofos considerava como os únicos


princípios de todas as coisas os que são da natureza da matéria. Aquilo de que
todos os seres são constituídos, e de que primeiro são gerados e em que por fim se
dissolvem, enquanto a substância subsiste mudando-se apenas as afecções, tal é,
para eles, o elemento (stokheion), tal é o princípio dos seres; e por isso julgam que
nada se gera nem se destrói, como se tal natureza subsistisse sempre... Pois deve
haver uma natureza qualquer, ou mais do que uma, donde as outras coisas se
engendram, mas continuando ela a mesma. Quanto ao número e à natureza destes
princípios, nem todos dizem o mesmo. Tales, o fundador de tal filosofia, diz ser
água [o princípio] (é por este motivo também que ele declarou que a terra está
sobre água), levado sem dúvida a esta concepção por ver que o alimento de todas
as coisas é úmido, e que o próprio quente dele procede e dele vive (ora, aquilo de
que as coisas vêm é, para todos, o seu princípio). Por tal observar adotou esta
concepção, e pelo fato de as sementes de todas as coisas terem a natureza úmida;
e a água é o princípio da natureza para as coisas úmidas. Alguns há que pensam
que também os mais antigos, bem anteriores à nossa geração, e os primeiros a
tratar dos deuses,4 teriam a respeito da natureza formado a mesma concepção.
Pois consideram Oceano e Tétis os pais da geração e o juramento dos deuses a
água, chamada pelos poetas de Estige; pois o mais venerável é o mais antigo; ora,
o juramento é o mais venerável. (ARISTÓTELES, Metafísica, I, 3. 983 b 6 (DK 11
A 12)”.

a. Qual é a tese desse parágrafo, ou seja, qual a sua ideia principal? 


b. Faça uma paráfrase do texto, ou seja, reescreva frase por frase, com suas
próprias palavras, o trecho em questão.

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Conteúdo 
A Questão da Relação entre o Mito e o Lógos
De acordo com grande parte dos historiadores, quando a filosofia surgiu na Grécia, no
século VI a.C., aconteceu uma modificação na forma de explicar a realidade, embora os
seus criadores não tivessem consciência da revolução que iniciaram e que levaria a uma
nova maneira de compreender o mundo. Apareceu uma forma lógica de explicar os eventos,
uma forma racional que, segundo a tradição historiográfica, representou a passagem do
mito para o lógos. Essa passagem implicou no deslocamento das cosmogonias míticas
(que apresentavam o surgimento do universo relacionado com o surgimento dos deuses)
para a cosmologia, que passou a apresentar uma compreensão do mundo baseada nas
tentativas de justificação racional, na observação e na crítica.

Para os gregos, havia dois tipos de história: uma história profana e uma história
sagrada ou o tempo profano e o tempo sagrado.

O tempo profano é o nosso tempo humano com as suas atividades cotidianas,


corriqueiras e sem qualquer caráter de sacralidade.
O tempo sagrado é o tempo da origem, quando tudo começou.

No sentido etimológico, a palavra “mito” significa narrativa. Há várias teorias sobre o mito e,
segundo Mircea Eliade  (1994, p. 7-23), os mitos narram a história do surgimento do
mundo, dos deuses e do homem, em um tempo originário. O mito conta como uma
determinada realidade que veio à existência, seja o universo, o homem, uma sociedade, a
cidade, ou ainda, uma instituição social ou religiosa. Há mitos a respeito da criação do
cosmos, do nascimento de um deus, das ações de um herói e da fundação da cidade. O
mito de forma alguma é uma fantasia, mas uma forma de explicar o mundo e de conferir
sentido à vida. O mito fornecia aos antigos uma inteligibilidade para tudo o que o cercava.

Os principais representantes da tradição mitológica grega são Homero e Hesíodo. Homero


foi uma das personalidades mais importantes da cultura grega e o seu grande formador. A
suas obras, Ilíada e Odisseia, narram a guerra de Tróia; na qual participam grandes heróis
gregos, como Aquiles, Ulisses e Ajax, entre outros. Os épicos de Homero tornaram-se uma
referência fundamental para o homem grego, principalmente, na elaboração de suas
crenças religiosas, de seus valores e de seu modo de conduta.

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Hesíodo é também autor de dois livros: A Teogonia e Os Trabalhos e os Dias. O primeiro


narra o surgimento dos deuses e suas diversas gerações; o segundo, mostra a vida
camponesa e os seus valores fundamentais. Hesíodo foi uma referência fundamental para
os gregos e para a religião. A sua obra representou uma das mais importantes elaborações
cosmogônicas que antecederam a reflexão cosmológica. 

Conforme Reale  (1993, p. 41-43), a explicação filosófica e a mitológica possuem algumas


características comuns e uma profunda diferença. A filosofia possui três características
fundamentais, das quais duas são compartilhadas pelo mito:

1. Ambas buscam uma compreensão totalizadora


2. Ambas têm um puro interesse teórico

A diferença fundamental entre elas reside no método utilizado para explicar a origem de
todas as coisas:

A mitologia, apesar de se preocupar com a origem, não soube perguntar pelo princípio
( arché ) primeiro, ingênito, de todos os seres.
Na filosofia há a presença de um “método de explicação racional” e da universalidade
do conceito, permanecendo assim, com as representações concretas da realidade
mediante o uso da imaginação.

Além disso, o mito não procede por meio de tentativas de demonstração e não faz parte da
tradição mítica a utilização da crítica, já presente com os primeiros filósofos. Por isso, as
mitologias tendem a persistir intocadas, já a filosofia é dinâmica. 

A comparação entre filosofia e mitologia pode revelar-se um grande problema, pois são
duas maneiras distintas de ler o que se apresenta ao homem e cujas relações, no momento
do surgimento da filosofia na Grécia e durante o seu desenvolvimento, são extremamente
complexas. O mito permaneceu presente nas teorias de muitos pré-socráticos e também na
obra de Platão. Muitos filósofos tardios, como Plotino, Porfírio e Proclo, realizaram uma
exegese dos mitos gregos e, em alguma medida, os consideraram como uma sabedoria
originária que deveria ser elucidada pela razão.

Como o mito é um elemento da religião, e essa também desempenhou um papel importante


no desenvolvimento da filosofia, é essencial tecermos algumas considerações sobre a
relação entre filosofia e religião na Grécia. O homem grego, como todos os povos da
Antiguidade, era profundamente religioso e acreditava piamente nos seus deuses e nos
seus ritos. A religião grega pode ser dividida em religião pública e religião de mistério. A
primeira caracterizava-se por ser facilmente acessível e de baixa exigência em termos de
cultivo de uma vida espiritual; a segunda, representada principalmente pelo  orfismo , era
de difícil acesso, exigia segredo dos seus membros, possuía doutrinas mais ou menos
complexas e preconizava certas práticas de purificação.

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Segundo Reale (1993, p. 19-27), as duas formas de religião contribuíram para o


desenvolvimento da filosofia. A primeira, pela ausência de dogmas, de livros revelados e de
um conteúdo doutrinal elaborado, o que permitiu certa independência da atividade filosófica
em relação a certas posturas religiosas. A segunda, representada pelo orfismo, contribuiu
para a filosofia justamente porque forneceu certos conteúdos e ideias, tais como a crença
na imortalidade da alma, na distinção entre alma e corpo e na prática de uma a moral
ascética (vide  ascese ) purificadora, que se tornou material de investigação filosófica e
acabou por ajudar a impulsionar a reflexão. Muitos filósofos do período pré-socrático
pertenceram ao orfismo e apresentam em suas obras uma clara adoção de certas doutrinas
órficas; entre os quais cabe citar, Anaximandro, Heráclito, Pitágoras, Empédocles e o próprio
Platão.

O tipo de relação que foi estabelecida entre a religião e a filosofia acabou por tornar propício
o desenvolvimento de uma atividade filosófica extremamente variada.  Outras condições
também favoreceram o nascimento da filosofia na Grécia. Reale (1993, p. 25-27) cita o
avanço da democracia e a consequente liberdade de exercício da atividade política como
um fator importante e original que contrapôs a Grécia a todas as culturas do mediterrâneo e
do Oriente. Outro fator apontado foi a riqueza das colônias gregas situadas na Ásia Menor,
cuja pujança comercial e econômica permitiu o desenvolvimento da cultura.

A Filosofia Pré-Socrática e os Pensadores da Escola de


Mileto
Neste item você estudará os principais representantes da tradição dos
chamados filósofos da natureza, pertencentes à escola de Mileto.
O primeiro momento da história da filosofia grega é chamado de pré-socrático. Esse período
foi marcado pelo interesse pelas questões cosmológicas e a busca de uma explicação para
a origem de todos os seres tornou-se o principal objetivo da filosofia e o seu grande desafio.
Os filósofos produziram uma imensa e variada gama de explicações para os fenômenos da
natureza e acabaram por criar um dos períodos mais ricos da história do pensamento.
Embora tenham tratado também de questões antropológicas e éticas, não chegaram a
elevar a reflexão sobre o homem e a conduta humana ao nível de fundamentação que
depois seria conquistado, primeiro com Sócrates, considerado tradicionalmente como o
fundador da ética, e depois com Platão e Aristóteles.

Da produção desse período só restaram alguns fragmentos e a doxografia. Os fragmentos


que possuímos foram recolhidos das obras dos autores posteriores, alguns tendo vivido
centenas de anos após os pré-socráticos. A doxografia, ou opinião escrita, é constituída
pelos testemunhos e relatos de filósofos e leitores das obras dos pré-socráticos, que
deixaram a sua versão sobre o pensamento desses. Essas duas fontes são fundamentais

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para a reconstituição do pensamento dos chamados filósofos originários. É importante


destacar, no entanto, que a falta de textos completos dos pré-socráticos suscita graves
problemas de interpretação e dificulta a reconstrução das suas doutrinas. 

No início do século XX, Hermann Diels e depois Walther Kranz realizaram o


exaustivo trabalho de recolhimento dos fragmentos e da doxografia, o que
resultou em uma monumental edição crítica que ainda é fundamental para
qualquer estudo mais aprofundado sobre os pré-socráticos. Esta obra de
referência é citada mediante as iniciais dos sobrenomes dos pesquisadores -
D. K. -, seguida de determinada numeração e de letras. Para maiores
detalhes sobre a citada obra e o modo de indicar as referências, consulte
Reale (1993, p. 47).

O Pensamento de Tales de Mileto (625/558 a.C.): A Água


é a Origem de Tudo

Resumo Bibliográfico 

Segundo a tradição filosófica e historiográfica, Tales de Mileto deve


ser considerado o primeiro filósofo da história. Nasceu numa uma
rica colônia grega, chamada Mileto, situada na Jônia (Ásia Menor).
De acordo com Fraile (1997, p. 143), Tales era de origem fenícia e
filho de Exâmias e Cleobulina. Realizou algumas viagens, tendo
chegado até o Egito. Cultivou principalmente a matemática e a
astronomia. Conforme consta na tradição, como matemático Tales
descobriu o teorema, que leva o seu nome, e mediu a altura das pirâmides a partir de
suas sombras. Como astrônomo, previu o eclipse de 28 de maio de 585 a.C., inventou
um método para medir a distância dos navios no mar; descobriu a constelação da
Ursa Menor e ficou rico ao prever uma boa safra de azeitonas, tendo comprado todas
as prensas de Mileto. É considerado um dos sete sábios da Grécia. Não deixou nada
escrito. 

De acordo com a historiografia, a pergunta feita por Tales de Mileto, que inaugurou a
investigação filosófica, foi a seguinte: qual é a origem de todos os seres? A resposta dada
por ele, que deve ser considerada igualmente como filosófica, teria sido: a água é a origem
de tudo. 

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Conforme Reale (1993, p. 47-48), duas outras afirmações de Tales podem ser consideradas
como filosóficas:

O mundo flutua sobre a água.


Tudo está cheio de deuses.

O que haveria de tão especial nessas perguntas e respostas a ponto de tornar Tales o
primeiro filósofo? Devemos considerar a resposta de Aristóteles, que é uma das fontes mais
importantes para a reconstrução do pensamento dos pré-socráticos.

Segundo Aristóteles  (Metafísica, A 3, 983 b 6), Tales teria sido o primeiro a perguntar pelo
princípio (arché) originário de todas as coisas ou ainda pela  physis  originária que teria
possibilitado o surgimento de todos os seres. Partindo da percepção de que todas as coisas
surgem e perecem, o filósofo procurou encontrar algum elemento ingênito e imperecível que
seria anterior a tudo e que originaria, a partir de si, todos os outros seres. Ao ter observado
que a umidade está presente em todos os seres vivos e que sem ela não haveria vida, Tales
concluiu que a água era o princípio primeiro de todas as coisas. Para Aristóteles, o primeiro
filósofo procedeu por  indução , ou seja, observou uma série de casos particulares e
generalizou as suas conclusões ao adotar a água como princípio.

É importante que se tenha em mente que quando Tales afirma que a água é o princípio, ele
não está se referindo apenas ao surgimento dos seres vivos, mas ao surgimento de todos
os seres, conforme o testemunho de Aristóteles:

Tales, iniciador desse tipo de filosofia, diz que o princípio é a água (por isso,
afirma também que a terra flutua sobre a água), certamente tirando essa
convicção da constatação de que o alimento de todas as coisas é úmido e da
constatação de que até o calor se gera do úmido e vive no úmido. Ora, aquilo de
que todas as coisas se geram é o princípio de tudo. Ele tirou, pois, esta convicção
desse fato e também do fato de que as sementes de todas as coisas têm uma
natureza úmida, sendo a água o princípio da natureza das coisas úmidas.
(Metafísica, A 3, 983 b 20-27).

As outras afirmações de Tales mostram uma tentativa de explicar determinados fenômenos


naturais, por exemplo, o movimento e a sustentação dos astros. Ao afirmar que o mundo
flutua sobre as águas, Tales pretende justificar a sustentação da terra e do seu movimento.
Ao ter observado que o imã atrai certos metais, concluiu que tudo está em movimento e que
esse se deve à presença do divino em tudo. Não se pode esquecer que, para Tales e os pré-
socráticos em geral, o que existe de mais elevado é divino. Segundo Reale (1993, p. 50), a
afirmação de que tudo está em movimento em função da presença dos deuses significa que
o princípio divino, a água, está presente em tudo. Essa concepção sobre o caráter animado
dos seres aparentemente inanimados é chamada de  hilozoísta .

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O Pensamento de Anaximandro de Mileto (610/547


a.C.): O Princípio de Tudo é o Apeíron

Resumo Bibliográfico 

Considerado o segundo filósofo da Grécia, Anaximandro foi discípulo de


Tales e compôs um tratado - Sobre a Natureza - do qual restou apenas
um fragmento. Segundo Fraile (1997, p. 144), Anaximandro dedicou-se
às atividades políticas e ao cultivo da astronomia, da geografia e da
matemática. Ajudou os cidadãos de Mileto na fundação da colônia de
Apolônia. É importante destacar que com Anaximandro o pensamento filosófico
começou a exercer uma de suas características mais fundamentais: a crítica.

Anaximandro, assim como Tales, estava interessado na pergunta mais radical que o
pensamento filosófico elaborou em todas as épocas: qual é o princípio primeiro de todos os
seres? Contudo rejeitou a água como sendo o elemento primordial de todas as coisas, em
virtude de ela ser algo determinado e por ter observado que tudo o que é determinado está
sujeito ao nascimento e ao perecimento e que, portanto, não pode ser um princípio primeiro.
Para Anaximandro, a physis originária é o ápeiron, termo que pode ser traduzido como o
indeterminado ou ilimitado. A natureza primeira é eterna, imperecível por isso, está em
constante movimento - e não originada, justamente por não possuir nenhuma característica
determinada.

O ápeiron é uma substância abstrata, indefinida, que não está fixada em nenhum elemento
palpável da natureza. É uma espécie de massa ou elemento informe, anterior às distinções
entre os contrários, como o frio e o quente, e os elementos determinados, como a terra e a
água. Sendo ilimitado, o princípio é inesgotável e gera infinitos mundos que existem
concomitantemente e que um dia perecerão e serão substituídos por outros, em um
processo cíclico que não terá fim. Em função do movimento que está presente nele, uma
espécie de turbilhão, o ápeiron gera todas as coisas por um processo de separação dos
contrários. Primeiro surgem os pares de contrários primordiais e determinados - o frio, o
quente, o úmido e o seco - esses não são apenas qualidades, mas substâncias que,
combinando-se, dão origem aos quatro elementos de que são formadas todas as coisas: o
fogo, o ar, a água e a terra.

A partir deste processo de separação, Anaximandro pôde elaborar uma complexa


cosmologia. O cosmo começou a se formar a partir do movimento dos elementos mais
pesados em direção ao centro e dos mais leves em direção à periferia.  Segundo Reale, este
processo de formação aconteceu da seguinte maneira:

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O quente formou-se como uma esfera de fogo periférico, que em seguida se


fragmentou em três esferas, originando assim o sol, a lua e os astros. O frio, ao
invés, devia ter originalmente forma líquida; mas por causa do fogo ele se
transformou em ar, que, talvez por expansão provocada pelo aquecimento, fez
romper, como dissemos, a esfera de fogo em três esferas, circundou-a e como que
enfaixou e depois lançou seca num movimento circular. No ar restaram, porém,
como que aberturas de forma tubular, que são como buracos, dos quais o fogo
saia: os corpos celestes que vemos são exatamente a luz que passa por esses
buracos (assim como os eclipses ocorrem pelo momentâneo fechamento desses
buracos). Por sua vez, do elemento líquido formaram-se a terra e o mar. (REALE,
1993; p. 56-57).

Uma das contribuições mais importantes de Anaximandro foi a justificação teórica da


sustentação da terra, explicada de maneira insatisfatória por Tales. Essa teria a forma de
um cilindro e, pela sua equidistância em relação a todos os outros corpos do universo, se
mantinha suspensa em função de um equilíbrio de atração, da mesma forma que acontece
com duas pessoas quando ao puxarem algo em direções opostas e com a mesma
intensidade permanecem no mesmo lugar. 

O elemento água, no entanto, também desempenhou uma função importante no


pensamento de Anaximandro, pois dela teriam surgido todos os seres vivos (ao contrário de
Tales, para quem todos os seres vivos originam-se da água), por um processo de
transformação que lembra de maneira longínqua certas teorias evolutivas.

O Pensamento de Anaxímenes de Mileto (585/525


a.C.): A Substância Única de Todas as Coisas é o Ar

Resumo Bibliográfico 

Anaxímenes de Mileto foi, provavelmente, discípulo de Anaximandro e o


último filósofo da escola de Mileto. Pouca coisa se sabe sobre a sua vida
e as atividades às quais se dedicou. Escreveu um livro intitulado Sobre a
Natureza, do qual restaram três fragmentos (REALE, 1993, p. 59). Em 494
a.C., pouco depois da morte de Anaxímenes, a cidade de Mileto, em
função de uma aliança com os lídios, foi arrasada pelos persas, o que
pôs fim à continuidade da tradição filosófica da cidade (FRAILE, 1997, p. 149). 

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Anaxímenes, de acordo com a doxografia e os fragmentos que restaram, discordou de Tales


e Anaximandro, com relação ao princípio que deu origem a todos os seres, muito embora
tenha preservado alguns aspectos da filosofia dos seus predecessores. Ele voltou a
identificar o princípio com um elemento determinado: o ar (pneuma), invisível e infinito.

Anaxímenes escolheu o ar como princípio, provavelmente, por dois motivos: em função da


sua importância para a manutenção da vida e, também, pela maior facilidade em explicar a
passagem do uno para o múltiplo ou o surgimento dos outros elementos a partir de uma
transformação do ar.

Segundo Anaxímenes, o ar originário está sujeito a dois processos de transformação: a


rarefação e a condensação. É importante destacar que, novamente, o surgimento do
múltiplo é explicado mediante a presença e combinação de contrários. Por meio da
rarefação, o ar origina o elemento fogo, e mediante a condensação surgem os elementos
água e terra. Estas alterações são causadas por um movimento inerente ao próprio ar. As
qualidades como o quente e o frio são causadas por densidades diferentes de ar.

A cosmologia de Anaxímenes afirmava que a terra e os demais planetas eram planos,


possuíam a forma de um disco, e eram sustentados pelo ar que, sendo infinito, permeia e
envolve todas as coisas (KIRK; RAVEN; SCHOFIELD , 1994; p. 155-157). O princípio que
anima o homem e o dirige - a sua alma - também é ar, da mesma natureza do princípio
primeiro de tudo.

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Dica do Professor 

O Portal da Grécia Antiga  é um site bastante interessante caso você queira


conhecer mais sobre os vários aspectos da cultura grega, história, arte,
religião e literatura.

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Na Prática 

"Prezado(a) estudante,

Esta seção é composta por atividades que objetivam


consolidar a sua aprendizagem quanto aos conteúdos
estudados e discutidos. Caso alguma dessas atividades seja
avaliativa, seu (sua) professor (a) indicará no Plano de Ensino
e lhe orientará quanto aos critérios e formas de apresentação
e de envio."

Bom Trabalho!

Atividade 

Elabore uma pequena dissertação, de cerca de quatro parágrafos, delimitando as


características fundamentais do mito e do lógos que justificam as diferenças entre
uma explicação mitológica e uma explicação filosófica da realidade. A partir disso,
tente justificar a sua escolha por estudar filosofia.

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Saiba Mais 

Para ampliar seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo a(s)
sugestão(ões) do professor:

Relação entre mito e razão e:


Mito e Filosofia: Continuidade ou ruptura?  
Mitologia Grega 

Para saber mais sobre o orfismo, consulte os autores elencados a seguir, que
fazem importantes abordagens do tema:
Reale (1993,  pp. 23-25 e pp. 371-386)
Fraile (1997, pp. 120-126)
Mondolfo, (1971, pp. 18-3)

Escola Jônica Antiga .

Tales de Mileto , filósofo e matemático proclamado o primeiro dos sete sábios


da Antiguidade pelo Oráculo de Delfos.

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Referências 

ARISTÓTELES. Da alma. Lisboa: edições 70, 2001. 135 p.

É ( “
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______. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1973. 191 p. (Coleção “Os
pensadores”)

______. Física. Madrid: Gredos, 2002. 506 p.

______. Metafísica. São Paulo: Loyola, 2002. vol. 2. 695 p.

______. Poética. São Paulo: Abril Cultural, 1973. 104 p. (Coleção “Os


pensadores").

______. Política. 3. ed. Brasília: EdUnB, 1997. 317 p.

BARNES, J. Aristóteles. Madrid: Catedra, 1987. 159 p.

DUMONT, J. P. Elementos de história da filosofia antiga. Brasília: EdUnB,


2005. 813 p.

ELIADE, M. Mito e Realidade. 4. ed. São Paulo. Ed. Perspectiva, 1994.

EPICURO. Carta sobre a felicidade (a Meneceu). São Paulo: UNESP, 2002. 51


p.

FRAILE, G. História de la filosofia: Grécia y Roma. 7. ed. reimp. Madrid: BAC,


1997. 852 p.

GRUBE, G. M. A. El pensamiento de Platón. 3. ed. 2. reimp. Madrid: Gredos,


1987. 493 p.

HADOT, P. O que é a Filosofia antiga? São Paulo: Lisboa, 1999. 423 p.

KIRK G. S; RAVEN, J. E.; SCHOFIELD, M. Os Filósofos pré-socráticos. 4. ed.


Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1994. 544 p.

LAÊRTIOS, D. Vida e doutrinas dos filósofos ilustres. Brasília: Ed UnB, 1997.


357 p.

MONDOLFO, R. O pensamento antigo. 3. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1971. v.
1.  314 p.  
________. 3. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1973. v. 2. 373 p.

PLATÓN (PLATÃO). Obras completas. Trad.: Maria Araújo et all. 2. ed. 13.


reimp. Madrid: Aguilar, 1993. 1715 p. Original grego.

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________. A República. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1987. 515 p.

PLOTINO: Las Enéadas. Trad.:  Jesus Igal. Madrid, Gredos, 1982-1997. 3 vols.


1653 p. Original grego.

REALE, G. História da filosofia antiga. São Paulo: Loyola, 1993. vol. 1: Das
origens a Sócrates. 419 p.

________. 1994a. v. 2: Platão e Aristóteles. 503 p.

________. 1994b. v. 3: Os sistemas da era helenística. 475 p.

________. 1994c. v. 4: As escolas da era imperial. 608 p.

________. 1995. v. 5: Léxico, índices, bibliografia. 594 p.

ROSS, D. Aristóteles. Lisboa: Dom Quixote, 1987. 306 p.

SANTOS, J. T. Antes de Sócrates. Lisboa: Gradiva, 1992. 308 p.

XENOFONTE. Ditos e feitos memoráveis de Sócrates. São Paulo: Abril


Cultural, 1972.

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