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10 ANOS DA LEI 9433: AVANÇOS E DIFICULDADES

José Machado¹

O desenvolvimento da Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída em 1997 pela Lei


9433, vem propiciando ao nosso país uma condição muito favorável para a gestão das suas águas e,
por essa razão, não devemos nos afastar do seu direcionamento.

Com efeito, decorridos os últimos dez anos, na verdade um período muito curto, quase uma
quimera, inúmeras decisões e ações se sucederam e se multiplicaram, viabilizando a criação e
funcionamento de instituições que conformam a arquitetura federativa e descentralizada do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), cujo papel é o de exatamente
coordenar, de modo integrado e compartilhado, a implementação da Política de Recursos Hídricos
no país.

Olhando de uma perspectiva panorâmica, e considerando a juventude da nossa legislação de


águas, o déficit de gestão pré-existente a ela, o passivo ambiental herdado das gerações passadas e a
complexa engenharia política necessária para a construção de um Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos num país federativo e de dimensões continentais, é lícito, sim,
comemorar, alto e bom som, os avanços alcançados até aqui na Política Nacional de Recursos
Hídricos.

Sem embargo, apesar dos inegáveis avanços, ainda estamos longe de uma condição adequada
em termos de gestão dos recursos hídricos no Brasil. Parcela significativa dos comitês de bacia
ainda funciona precariamente, mantendo-se de pé, via-de-regra, graças a algum apoio
governamental e, sobretudo, à consciência cidadã de abnegados. Apesar da reconhecida
competência técnica e institucional, a Agência Nacional de Águas, entidade federal de
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação do Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), ainda necessita de melhores condições para
bem cumprir a sua relevante missão no timing adequado às necessidades do país, limitada que está
pelos estreitos limites orçamentários e pelo seu insuficiente quadro técnico. Na maioria dos estados

1. Diretor Presidente da Agência Nacional de Águas – ANA - Setor Policial - Área 5 - Quadra 3 - Bloco “M” – Brasília-DF, CEP 70610-
200 – telefone (61) 2109-5441 – imprensa@ana.gov.br
da federação, por outro lado, essas condições são ainda mais desfavoráveis e, apesar de todos eles
terem concretizado a aprovação de suas leis de recursos hídricos, o que revela, sem dúvida, um
esforço louvável, muitas dessas leis ainda estão numa fase incipiente de implementação e faltam
recursos até para a estruturação mínima dos órgãos gestores de recursos hídricos.

Essa situação nos estados é explicável e, até certo ponto, compreensível, dadas as condições
econômicas adversas e de desequilíbrio fiscal em que muitos deles se encontram e o fato de estarem
confrontados com outras urgências sociais no seu quotidiano. Porém, é certo que vacilações e
retrocessos na implementação da política de recursos hídricos decorrem também, não raro, da falta
de vontade política dos governantes, a qual parece ser explicada, na maioria dos casos, pela falta de
percepção sobre a relevância estratégica de uma política de recursos hídricos.

A matriz produtiva brasileira se apóia largamente no uso intensivo dos recursos hídricos e essa
condição está na base do nosso processo de desenvolvimento, agora e no futuro, tornando-se
necessário, pois, que a gestão integrada desses recursos esteja inserida entre as prioridades
nacionais. Porém, como temos sido governados pelas urgências, essa questão acaba ficando
relativamente secundarizada na agenda, pelo menos em algumas esferas governamentais, e só não
está na berlinda em razão do espírito público, da garra e da militância de milhares de pessoas, entre
técnicos, ambientalistas e gestores dessa área, seja na esfera pública seja na esfera privada, na
esteira das preocupações ambientais planetárias dos dias de hoje.

Seguramente, colocar o tema da gestão integrada de recursos hídricos no topo da agenda


nacional é, sem dúvida, o maior nó crítico a ser enfrentado no âmbito da Política Nacional de
Recursos Hídricos, pois se assim não for, torna-se problemática a sua evolução no ritmo adequado
às necessidades estratégicas do país. Essa consideração ganha maior significado quando refletimos
sobre as grandes possibilidades de o Brasil vir a conhecer um ciclo acelerado de crescimento
econômico nos próximos anos. A ausência de uma gestão robusta de recursos hídricos acarretará
não só a insustentabilidade ambiental hídrica desse crescimento econômico, piorando a qualidade
de vida dos brasileiros, mas seguramente comprometerá também a própria longevidade do ciclo
econômico, face ao agravamento previsível dos conflitos pelo uso da água em algumas atividades e
regiões do país.

Não basta, contudo, mirarmos apenas no Conselho Nacional de Recursos Hídricos ou na


Secretaria de Recursos Hídricos e do Meio Urbano ou na Agência Nacional de Águas, para
clamarmos por essa priorização e, inclusive, por mais verbas para o financiamento do SINGREH.
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Embora seja necessário continuar fortalecendo a esfera federal, com aperfeiçoamento operacional,
ampliação e capacitação dos seus quadros técnicos e com maior provisionamento orçamentário,
nosso olhar deve ser mais amplo e se fixar no fortalecimento do SINGREH como um todo, na
perspectiva da gestão integrada, descentralizada e compartilhada dos recursos hídricos. Com efeito,
de nada adianta, por exemplo, uma ANA forte e, porém, órgãos gestores estaduais fracos e comitês
esvaziados, pois a gestão integrada e compartilhada de recursos hídricos não avançará ou
simplesmente não acontecerá. Temos vivido situações em que uma simples cooperação técnica não
se viabiliza porque o órgão gestor estadual está tão fragilizado que, sequer, possui quadro técnico
mínimo e estável. Sem falar dos convênios que não se viabilizam porque o estado está inadimplente
com a União.

Uma diretriz importante que emana da Lei 9433 e que foi incorporada como diretriz do Plano
Nacional de Recursos Hídricos refere-se à imprescindível integração do planejamento da área de
recursos hídricos com o planejamento das outras áreas afins de governo e dos setores usuários de
água. Mas não é fácil viabilizá-la, na ausência de uma compreensão mais ampla, no nível
governamental, do significado estratégico da política de recursos hídricos, e também na ausência de
uma instância governamental que centralize e coordene a integração das políticas setoriais. Como
conseqüência dessa lacuna, as iniciativas integradoras têm sido, infelizmente, pontuais e não
sistemáticas.

Não obstante esses comentários, esforços têm sido empreendidos, seja pela ANA seja por
outros órgãos gestores de recursos hídricos, para construir a política integrada de recursos hídricos.
Apesar dos pesares, tem avançado a integração da política federal com as políticas dos estados da
federação, sobretudo na esteira do PROÁGUA, desde quando este programa era voltado somente
para a região semi-árida. Setorialmente, já há uma tradição de integração do planejamento de
recursos hídricos com o do setor elétrico, mas que pode avançar muito mais. A integração com o
setor aquaviário é incipiente, mas muito promissora, face aos entendimentos recentes entre a ANA e
a ANTAQ. Estamos trabalhando para equacionar, na perspectiva do uso múltiplo das águas, e do
desenvolvimento do país, o impasse atualmente existente, envolvendo esses dois setores, relativo à
responsabilidade da construção de eclusas nos barramentos. Outra perspectiva de maior integração
que temos para construir é relativamente ao setor agrícola, sobretudo pelo significado que tem este
setor do ponto de vista da sua demanda pelo uso da água. Nesse sentido, a ANA celebrou
recentemente acordo de cooperação técnica com o Ministério da Agricultura e do Abastecimento e
com o Instituto Riograndense do Arroz e iniciou tratativas, para a mesma finalidade, com a
Embrapa, o mesmo devendo ocorrer com a Codevasf.
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Uma iniciativa emblemática nessa direção integradora foi a celebração muito recente de um
acordo de cooperação técnica e institucional, envolvendo a ANA, a ÚNICA e a FIESP, através do
qual se espera avançar na adoção de boas práticas em recursos hídricos no setor canavieiro,
sabidamente um setor intensivo no uso da água, e na prospecção de áreas mais propícias, do ponto
de vista da disponibilidade de água, para a sua expansão, que ora se verifica em razão da política
governamental para os biocombustíveis. Outra iniciativa da ANA neste tema foi a recente oficina
realizada para discutir com os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins, São
Paulo, Minas Gerais, Paraná e Bahia o crescimento do setor sucroalcooleiro e definir ações
integradas de gestão e regulação.

Incomoda especialmente à ANA, por outro lado, a constatação de que, apesar de alguns
avanços, ainda é débil a articulação da área de recursos hídricos com a área de saneamento.
Sabemos sobejamente que a despoluição de bacias hidrográficas, por exemplo, depende
fundamentalmente dos investimentos que vierem a ser feitos em sistemas de tratamento de efluentes
pelas companhias estaduais ou autarquias municipais de saneamento básico e seria muito útil que
houvesse entre as duas áreas uma melhor afinação a respeito das estratégias mais apropriadas para
vencer esse desafio. Nas bacias hidrográficas onde já há cobrança pelo uso da água – como é o caso,
por exemplo, das bacias Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) e Paraíba do Sul – e/ou existem
dotações de fundos estaduais de recursos hídricos – como é o caso dos comitês paulistas – já está
consolidada a compreensão de que essa vertente de financiamento jamais será capaz de equacionar
sozinha a despoluição dessas bacias. Ademais, a cobrança pelo uso dos recursos hídricos constitui-
se num instrumento aplicável a poucas bacias hidrográficas em nosso país e, mesmo assim,
estimamos que na maioria dessas bacias a receita da cobrança será insuficiente para cobrir os gastos
com a gestão.

Sem embargo, há uma expectativa muito favorável de que esse distanciamento entre recursos
hídricos e saneamento básico seja diminuído e possamos avançar mais, sobretudo após o advento da
Lei 11.445 de janeiro de 2007, que introduziu o novo marco regulatório para o setor de saneamento
básico.

A integração entre o SISNAMA e o SINGREH é outra prioridade e o assunto foi intensamente


debatido recentemente durante o I Encontro Nacional dos Colegiados Ambientais, evento
promovido pelo Ministério do Meio Ambiente. A constatação é que, apesar dos esforços até aqui
imprimidos, a integração entre esses dois sistemas ainda é incipiente e precisa avançar.
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Em que pese o fato de o domínio das águas subterrâneas pertencer aos estados, é óbvia a
pertinência de uma abordagem de gestão integrada, em um nível nacional, envolvendo águas
superficiais, subterrâneas e meteóricas, tal como preconiza a lei 9433, e é por essa razão que a ANA
vem desenvolvendo, desde o final de 2006, uma agenda de ações em águas subterrâneas.
Especificamente, essa agenda visa apoiar a gestão das águas subterrâneas nos estados e fortalecer a
articulação com os órgãos gestores de recursos hídricos; ampliar, com parcerias técnico-científicas,
o conhecimento hidrogeológico nacional; promover a aplicação dos instrumentos de gestão da lei
9433 às águas subterrâneas e, finalmente, apoiar a gestão compartilhada de aqüíferos interestaduais
e transfronteiriços.

Evidentemente que numa perspectiva nacional e do pacto federativo, essas iniciativas


integradoras precisam ser levadas a cabo também no nível das políticas estaduais de recursos
hídricos e no âmbito dos comitês de bacias, a fim de que se cumpra fielmente o desiderato da Lei
9433.

Tendo em vista todas essas perspectivas de ação, não restam dúvidas quanto à
contemporaneidade e muito menos quanto à viabilidade da Lei 9433, em que pese a constatação
corrente de que alguns dos seus dispositivos não são aplicáveis, homogeneamente, em todo o país.
Está claro, por exemplo, que muito dificilmente se viabilizará a instituição de comitês ou a
aplicação de instrumentos de gestão como a cobrança pelo uso da água em bacias hidrográficas de
poucos conflitos e/ou de baixa densidade econômica. Por outro lado, há sugestões para que essa lei
seja aperfeiçoada aqui e ali, como, por exemplo, a ampliação dos instrumentos econômicos em
apoio à gestão, sugestão, aliás, muito pertinente. No geral, porém, ela vem dando conta do recado e
seguramente terá vida longa, descortinando-se um cenário 9433 + 20 muito promissor para o
planejamento e a gestão dos recursos hídricos em nosso país.

Como consideração final, é da maior relevância que as metas de longo prazo propostas pelo
Plano Nacional de Recursos Hídricos sejam pactuadas no âmbito federativo, preferencialmente por
meio de lei - uma espécie de Lei de Responsabilidade em Recursos Hídricos, porque preveria
penalidades no seu incumprimento - a ser votada no Congresso Nacional, a exemplo do que fez o
Parlamento Europeu ao aprovar a Diretiva Quadro da Água para a União Européia.

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