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de semitons e microtons que se embaralham, criando texturas harmônicos, e é sobreposto a uma textura mais densa, de
densas. O resultante sonoro dessa vasta confluência de tessitura grave, carregada de glissandos, apresentada nas
semitons é, portanto, em muitos momentos, uma única massa violas, nos violoncelos e contrabaixos. Se na apresentação dos
sonora de onde se sobressaem notas pólo apenas, sendo que dois primeiros temas o choque era entre tonalidades, neste
esta é uma peça onde até os momentos de “repouso” são terceiro tema o compositor explora o choque de duas texturas
dotados de tensão, pois nas notas longas surgem os clusters bem contrastantes, como demonstrado a seguir.
mais volumosos.
A. Materiais e Texturas
Sursum Corda: Uma Nênia é iniciada com uma citação
literal do tema do segundo movimento da Sinfonia No3
“Eroica” de Beethoven, que poucos compassos após
encontra-se sobreposto a um outro tema de uma outra citação,
desta vez de Mahler, mais especificamente da Sinfonia No5. A
resultante deste encontro entre Mahler e Beethoven é um
choque de tonalidades e métricas, que remete talvez a uma
composição de Charles Ives, mas que neste caso fica
incorporada à escrita de Willy Corrêa, que por sua vez se
coloca em choque com essas duas obras monumentais: A
Sinfonia “Eroica” e a Sinfonia No5.
se impor, retomando idéias harmônicas do início da peça, de composição, mas que mantiveram vivo o diálogo com a
como clusters diatônicos, acordes por quartas, entre outras. tradição, como Arnold Schoenberg e Pierre Boulez. Ao
Então, a peça se encerra quando, em meio às texturas mesmo tempo, Willy foi durante a década de setenta um
micropolifônicas, surge um uníssono em Sol, que aos poucos compositor que viveu sua época intensamente, trazendo para a
é filtrado do emaranhado de notas cromáticas, e que conduz a música contemporânea brasileira importantes conquistas da
uma cadência tonal suspensiva, inserida no ambiente vanguarda européia. Foi capaz de absorver influências
harmônico de Dó menor. diversas, desde Ligeti e Penderecki até Henri Pousseur, sendo
que sua escrita aproxima-se também de Giacinto Scelsi,
compositor ainda desconhecido à época da concepção de
Sursum Corda.
Por fim, é necessário destacar que o fator mais importante
de Sursum Corda não está nas técnicas contemporâneas
utilizadas, mas sim na mistura delas. Em outras palavras,
podemos dizer que é mais importante a forma como o material
composicional é trabalhado, através das combinações diversas
de linguagens, do que seu conteúdo. Entretanto, apesar de
todas as referências, Willy Corrêa de Oliveira foi capaz de
assimilar suas influências de uma maneira muito pessoal,
sendo sua escrita facilmente reconhecível devido a sua forte
personalidade musical.
REFERÊNCIAS
BONIS, Maurício Funcia De. Um Levantamento dos Estudos sobre a
Citação Musical no Século XX. Artigo. ECA - USP. São Paulo,
2006.
BOULEZ, Pierre. Apontamentos de Aprendiz. São Paulo:
Perspectiva; tradução, Stella Moutinho, Caio Pagano, Lídia
Balzarian, 1995.
GRIFFITHS, Paul. A Música Moderna: Uma história concisa e
ilustrada de Debussy a Boulez. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
1998.
OLIVEIRA, Willy Corrêa de. Sursum Corda: Uma Nênia. Cópia de
partitura manuscrita. São Paulo, 1977.
OLIVEIRA, Willy Corrêa de. Willy Corrêa de Oliveira: Canções
para Voz e Piano/ Willy Corrêa de Oliveira. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo: Petrobrás, 2006.
ULBANERE, Alexandre. Willy Corrêa de Oliveira: Por um Ouvir
Materialista Histórico. Dissertação (mestrado). IA - UNESP. São
Paulo, 2005.
ULBANERE, Alexandre. O Pensamento Musica de W. C. de
Oliveira. Artigo. IA - UNESP. São Paulo, 2006.
Cultura Brasil. Expressões Latinas. Disponível em <
http://www.culturabrasil.pro.br/expressoeslatinasc.htm > Acesso
Figura 7: últimos compassos de Sursum Corda. Este trecho em 27/10/2008.
mostra a nota sol sendo “filtrada” aos poucos, conduzindo a Wikipedia. Willy Corrêa de Oliveira. Disponível em <
música para uma cadência suspensiva em Dó menor. http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Willy_Corr%C3%AAa_
de_Oliveira&oldid=15078113 > Acessado em 07/06/2009.