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Universidade de Lisboa

Faculdade de Letras

A Guerra Civil Angolana

Francisco André Graça Mutumbua (148603)

Maio 2017
Antecedentes
O que é que leva a um país dilacerado pela guerra afundar-se ainda mais num abismo sem
fim? Quais foram os motivos para este país entrar numa luta pelo poder que o destruiu
por completo, quando no final de contas o que toda a gente deseja é a paz? Porque é que
não foi possível resolver os conflitos de forma politica?

Para todas estas questões temos que recuar até 1961, este ano marca o começo da guerra
colonial ou a guerra da Independência de Angola. Este conflito dá-se quando Portugal
ainda estava em regime ditatorial e foi travada entre as forças armadas portuguesas e
vários movimentos nacionalistas da época. Após de desejos de descolonização por parte
de intelectuais e países africanos vizinhos, frustração de abusos e maus tratos, varias
revoltas, descontentamentos, repressão e desejos de autodeterminação e nacionalismo
pelo o povo angolano, deu-se o ataque a uma esquadra da policia e uma prisão em Luanda
por parte do MPLA em 4 de Fevereiro de 1961, este acontecimento marca o início da
guerra colonial. Este movimento anticolonialista, o MPLA foi um dos três que combateu
contra as forças portuguesas e posteriormente contra os outros movimentos na guerra
civil. Estes partidos, intervenientes nesta primeira guerra e depois cabaça de cartaz da
guerra civil são: o Movimento de Libertação Popular de Angola (MPLA) liderada por
Agostinho Neto e depois por José Eduardo dos Santos, a União Nacional para a
Independência Total de Angola(UNITA) sendo Jonas Savimbi o líder e a Frente Nacional
de Libertação de Angola (FNLA) liderada por Roberto Holden, tendo sido fundados em
1956, 1966 e 1954 respetivamente. Ambos partilhavam um desejo, a liberdade, com
queda do regime salazarista em 1974 devido à famosa Revolução dos Cravos, esta ansia
parecia ser cada vez mais realista e com o acordo de cessar-fogo entre o MPLA e a FNLA
no mesmo ano as esperanças aumentam. Com a assinatura dos acordos de Alvor um
governo de transição foi instituído e a data da independência angolana foi marcada para
11 de novembro de 1975. Apesar da assinatura deste acordo a luta armada persistiu, desta
vez pelo o controlo da capital, Luanda e pelo controlo politico de Angola. Estes combates
após a assinatura dos acordos marcam o inicio da guerra civil.
A Guerra Civil

Apos o fim do período violento da guerra pela independência, houve um período de paz
e fé de que as coisas iriam tomar uma virada para o melhor. Essa virada de facto
aconteceu, mas foi para o lado negativo. Logo após o fim da guerra colonial havia uma
duvida, quem é que iria ficar com o poder? Apesar de varias negociações foi impossível
existir um consenso que envolvesse os três movimentos para a partilha conjunta do poder.
Com o falhanço dos acordos de Alvor e a incapacidade de Portugal fazer cumprir as regras
do mesmo e o consequentemente impedimento da guerra civil, toda a esperança e fé de
paz para Angola se tinha dissipado nos confrontos iminentes e intermitentes. Desta guerra
são considerados três grandes períodos: de 1975 a 1991, de 1992 a 1994 e de 1998 a 2002.

Este primeiro período é marcado pela inicio do conflito em março de 1975 com combates
entre o MPLA e a FNLA, mas também a proclamação da independência de Angola a 11
de novembro de 1975 pelos três movimentos, em que o governo de Luanda (MPLA) é o
único reconhecido, esta altura é também caracterizada pela internacionalização do
conflito com ajudas da antiga União Soviética, de Cuba ao MPLA, da China, do Estados
Unidos da América e da Africa do Sul a UNITA, do Zaire, da China e dos Estados Unidos
a FNLA. Ao analisar este grupo de países é possível ver a influência que a Guerra Fria
exerceu neste conflito, por exemplo o MPLA, partido que à partida se assume como
marxista-leninista é naturalmente apoiado pelas suas contrapartes comunistas. Os outros
dois movimentos assumiam-se como anticomunistas de forma a receberem o apoio bélico
de outros países. Com a forte intervenção internacional, as rivalidades políticas e as
diferenças tribais destes movimentos, podemos averiguar a dimensão destrutiva deste
conflito e a sua área de influência. O objetivo já não era só a obtenção do poder, e de
recursos, era também ver quem seria o vencedor da luta entre o comunismo e o
capitalismo.

Mas porque razão Portugal não teve capacidade para intervir? O que é que impossibilitou
tal ação? Será que a transição para o anticolonialismo seria mais suave se Portugal
estivesse envolvido? E quais as consequências desta abstenção portuguesa na guerra?
As repostas parecem ser simples, Portugal simplesmente perde o controlo da situação e
deixa de ter poder para agir.

Com a descolonização houve um grande desejo de regresso à pátria por grande parte do
exercito, isto quer dizer que os soldados alistados, o corpo de oficiais do exército e até as
forças armadas destacadas para ajudar a autoridade angolana dos acordos de Alvor,
queriam sair de Angola. Acompanhando este êxodo do exército estavam os colonos
portugueses, grande parte deles constituintes do setor terciário e também de
especializações na agricultura, nos serviços técnicos, industria e exploração mineira. Com
esta imigração dos colonos residentes, a economia angolana começa a deteriorar-se apesar
de tentativas de Cuba e da U.R.S.S. para compensar estes vazios. A autoridade portuguesa
restante é incapaz de manter a paz e posteriormente colapsa. Isto é claro quando os
portugueses no governo de transição, por decisão da metrópole, entregam a soberania,
não a um partido ou um governo, mas sim ao povo angolano, saindo pouco tempo depois
do país. Neste momento Portugal apercebe-se que já não há nada que possa fazer a não
ser afastar-se da situação da “melhor forma possível”.

Se Portugal foi incapaz de travar a guerra, então que outros motivos foram a génese deste
conflito? O surgimento de elevadas quantidades de armas após o 25 de Abril, o
armamento civil, a regionalização dos movimentos associado as tribos que pertenciam e
a respetiva defesa dessa região e a crescente polarização política. Estas razões por si
mesmas talvez não teriam sido o suficiente para desencadear este confronto bélico, mas
se tivermos em conta o agrupamento de todos estes fatores e o interesse internacional,
podemos ver que Angola era o cenário perfeito para o desenrolar da violenta guerra.

Em Março de 1976 o MPLA consegue derrotar e repelir os movimentos dos rivais e mais
uma vez vai-se afirmando e consolidando o seu sistema comunista, com esta vitória o
movimento ocupava pontos vitais no Norte, nos meses seguintes vai ocupando o centro e
o sul do país, fortalecendo o controlo do governo em pontos estratégicos vitais e também
a aceitação do governo a nível europeu que leva também, a aceitação do sistema
monopartidário implementado pelo MPLA. É igualmente neste ano que a FNLA é
derrotada e retira-se do conflito, deixando apenas dois protagonistas.

A guerra, após uma paragem mínima volta a estar ativa em 1978, consequências da
guerra, este período é caraterizado pela deterioração da agricultura, pesca, industria e
produção mineira.
Com o controlo da capital assegurado, o MPLA tenta impor um sistema de caráter
soviético ao nacionalizar toda a indústria, a indústria extrativa, as fábricas e uma porção
da agricultura. Esta tentativa de economia centralizada foi a oportunidade do governo
angolano estender toda o seu poderio a toda a economia não petrolífera, visto que não
havia ninguém que pegasse nas lacunas deixadas pelos colonos que fugiram da antiga
colónia. Esta ideologia marxista-leninista praticada pelo governo não esteve só presente
na economia, foi possível ver-se em prática no ensino, na constituição e nos sistemas
jurídicos.

No inicio dos anos 80 a UNITA rejuvenescida e com grandes apoios da Africa do Sul e
dos Estados Unidos, é beneficiada com os resultados da operação “Smokeshell” em que
os sul africanos aproveitam as bases no Norte da Namíbia, invadem o Cunene e ocupam
zonas do extremo meridional desde 1981 até 1985, com o pretexto de na região estarem
instaladas bases dos guerrilheiros da SWAPO, o movimento de libertação da Namíbia,
que na altura estava em guerra com os sul africanos.

À medida que o tempo passa é possível constatar que esta guerra tem uma grande
disponibilização de recursos por parte das potencias internacionais, estas sempre com as
suas próprias agendas e interesses em Angola.

Enquanto a UNITA fazia os seus avanços, o MPLA estava crescentemente mais


preocupado com a infelicidade e frustração dos habitantes rurais devido às politicas
severas aplicadas pelo governo. Visto que a UNITA era um movimento de teor e raio de
ação mais cultural e social, mais preferida pelos menos instruídos do que a sua contraparte
de teor mais ideológico, é compreensível o medo e a consequente decisão de mudar
algumas politicas económicas e adotar medidas do mercado livre, de forma a assegurar o
apoio da população rural. Estas medidas, apesar de não terem grande resultado, tiveram
efeito de 1985 a 1990.

Talvez o maior confronto militar desta guerra, o cerco de Cuíto Cuanavale que aconteceu
entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988 foi um dos pontos fulcrais desta
guerra. Este confronto começa com a primeira ação militar do governo angolano e a sua
derrota com a ocupação da antiga base portuguesa de Mavinga, onde estavam
estacionados 8.000 guerrilheiros da UNITA, porem até as forças angolanas chegarem a
base recebeu um reforço de 4.000 sul-africanos. Estima-se que as forças angolanas
tenham perdido 4000 homens. As três brigadas sobreviventes do governo barricaram-se
a leste do Rio Cuíto, do outro lado da povoação de Cuíto Cuanavale, resistindo os
inimigos durante três semanas, sem defesas nem artilharia e sem comida. Com a chegada
de 15.000 soldados enviados por Fidel Castro para a ajuda as hipóteses melhoram, ambos
os lados proclamaram a vitoria deste cerco.

Com o fim deste cerco ambos os movimentos, Cuba e Africa do Sul assinam em 1988 o
Acordo de Nova Iorque, concordando com a retirada das forças internacionais da guerra
civil, o que levou, à independência da Namíbia, e à democratização da África do Sul. Esta
retirada de forças foi supervisionada pela missão das nações unidas a UNAVEM.

A 11 de Maio de 1991, o governo angolano publica uma lei que autoriza a criação de
novos partidos, significando a abolição do monopartidarismo e da ilegalidade dos outros
partidos que anteriormente tinha sido imposta.

No fim deste primeiro período é assinado em 31 de maio em Portugal o acordo de Bicesse.


Este acordo tem como objetivo criar um exército angolano plenamente integrado
(integração dos guerrilheiros da UNITA), cessar fogo entre os dois partidos,
desmantelamento de tropas excedentárias e a organização de eleições parlamentares e
presidenciais que foram marcadas para setembro de 1992. Como já era costume naquela
guerra, nem todos os pontos do acordo foram cumpridos, ambos os movimentos
mantiveram os seus exércitos e só se unificaram dias antes das eleições decorridas de 29
a 30 de Setembro. Estas eleições foram das mais concorridas da historia do país, só com
10% de abstenção. Parecia tudo estar no caminho certo da construção da paz. Apesar de
algumas irregularidades as eleições foram consideradas justas e livres pelas nações
unidas, com a vitória do MPLA de José Eduardo dos Santos. Apesar de tais afirmações
por parte das nações unidas o líder da UNITA, Jonas Savimbi discorda e acusa o MPLA
de falsear os resultados e quebra o armistício anteriormente aprovado. Em 1992, inicio
do segundo período retoma-se o conflito, este espaço de tempo foi fase mais destrutiva
desta guerra, com estimativas da morte de mais de 300 mil pessoas, grande parte deste
número foi devido ao exponencial uso de minas terrestre nos combates armados. A
incapacidade de cumprimento da missão da UNAVEM II, a realização das eleições sem
o cumprimento da parte militar de Bicesse foram alguns dos fatores que levaram ao
recomeço da guerra e do sequente número elevado de mortos.

A medida que o tempo passa, a UNITA toma as cidades importantes de Caxito, Huambo,
Uíge, M’Banza-Congo e Ntalatando, efetuando um cerco nas cidades de Cuíto, Luena e
Malange. Com o apoio do Zaire e o lucro da venda de diamantes a UNITA é capaz de
segurar estas cidades. Até aqui a situação está bastante favorável para o movimento
liderado por Jonas Savimbi até que, em 1993 o Conselho de Segurança das Nações Unidas
emite um embargo às transferências de armas e petróleo para a UNITA. Com este ponto
de viragem da situação, o MPLA contra-ataca no fim do segundo período e expulsa o seu
inimigo da maior parte das cidades que tinha adquirido. Com o crescimento das receitas
do petróleo e um estatuto internacional mais favorável, o MPLA volta a afirmar-se como
o movimento preponderante.

A 20 de Novembro de 1994 é celebrado o protocolo de Lusaka, este protocolo traz à tona


os objetivos do tratado de Bicesse com principal foco na desmobilização das tropas e da
realização de eleições, apenas e somente apenas quando o ponto anterior fosse cumprido.
Mais uma vez este protocolo esteve sob supervisão das Nações Unidas com a missão
UNAVEM III. A UNITA usa o acordo de paz de Lusaka para impedir perdas territoriais
e para aprimorar as suas forças militares, adquirindo durante 1996 e 1997 grandes
quantidades de armamento e combustível, produtos previamente embargados pelo
Conselho de Segurança. Com estas ações da UNITA é obvio o entrave propositado ao
desenvolvimento da paz e resolução do conflito. Fartos da situação em 1998 o MPLA
decide declarar guerra ao seu opositor. Este ano marca o ultimo período desta guerra e o
prevalecimento do governo angolano. A UNITA é sucessivamente derrotada e está cada
vez mais fraca e a perder terreno, sem apoios estrangeiros, elevado numero de baixas e
declínio do lucro dos diamantes já se avista o fim desta guerra. Em oposição o MPLA
goza do apoio do Ocidente, que decide apoiar o movimento após a queda da U.R.S.S.
sendo também um dos fatores para o declínio da UNITA.

Este desequilíbrio de poderes culmina em 2002 quando o governo angolano cerca, no


Moxico, os mais altos dirigentes do MPLA. Savimbi é assassinado e a sua morte marca o
fim deste conflito que destruiu completamente o país.

A 4 de Abril de 2002, em Luanda foi assinado um acordo e tréguas e também planos para
a conclusão das tarefas de Lusaka.

As consequências desta guerra foram imensas e socialmente devastantes, com mais de


quatro milhões de pessoas deslocadas, uma estimativa de 800 mil mortos, milhares e
milhares de feridos devido a minas terrestres, destruição da economia e de infraestruturas
vitais e o uso de crianças-soldado. No final venceu aquele que tinha mais poder, aquele
que possuía mais apoio e mais fundos às custas de um povo inocente que apenas desejava
a paz.
Bibliografia

MANUEL, Jorge, Para compreender Angola: da politica à economia, Lisboa, Dom


Quixote, 1998

GUIMARAES, Andresssen, Fernando, The origins of the angolan civil war: foreign
intervention and domestic political conflict, London, Macmillan, 2001

WHEELER, Douglas, PELISSER, René, Historia de Angola, tradução de Pedro Gaspar


Serras Pereira e Paula Almeida, Lisboa, Tinta da china, 2009

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