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57-73, 2008 57
Dinah Callou
Resumo:
1. Levantando questões
N
a atividade de ensino da língua, seja ele descritivo ou prescritivo, vá-
rias questões estão envolvidas e, ao longo do tempo, têm sido objeto
de discussão por parte de filólogos, gramáticos e lingüistas. Concei-
tos como os de norma, correção, preconceito lingüístico vêm sempre à tona
e não podem ser desassociados, pois, visto de forma simplificada, obedecer à
norma padrão equivale a garantir a correção, e desrespeitar a norma conside-
rada correta leva à estigmatização do indivíduo. É fundamental enfatizar que o
termo norma é polissêmico e que a noção de correção pode ser considerada de
caráter intralingüístico, relacionada às normas intrínsecas a toda língua, ou de
caráter extralingüístico, uma espécie de sanção cultural ou social. Ao trabalhar
com língua, torna-se imprescindível, portanto, levar em conta, simultanea-
mente, fenômenos sociais e lingüísticos. Ressalte-se, a propósito, a afirmação
de Teyssier (1997)1 sobre a heterogeneidade do português brasileiro:
1
TEYSSIER, P. (1997). História da língua portuguesa. São Paulo, Martins Fontes.
58 Callou, Dinah. A propósito de norma, correção e preconceito lingüístico:
2
Castro, I. O lingüista e a fixação da norma. Actas do xviii Encontro Nacional da Associa-
ção Portuguesa de Lingüística (Porto, 2-4/10/2002). Lisboa: apl, 2003, pp. 11-24.
Cardernos de Letras da UFF – Dossiê: Preconceito lingüístico e cânone literário, no 36, p. 57-73, 2008 59
2. Língua e ensino
3
GagnÉ, G. Norme et enseignement de la langue maternelle. In: Bédard, É. ; Maurais,
J. La Norme linguistique. Collection L’ordre des mots. Paris, 1983. pp. 463-510
60 Callou, Dinah. A propósito de norma, correção e preconceito lingüístico:
Tabela 1. Uso de ter (vs haver) na fala carioca culta e popular em dois momentos
4
Retirada de CALLOU, D.; DUARTE, M. E. L. 2005 A fixação do verbo ter em contextos
existenciais Actas do 20º Encontro da APL, APL, Lisboa, APL: pp. 149-156.
Cardernos de Letras da UFF – Dossiê: Preconceito lingüístico e cânone literário, no 36, p. 57-73, 2008 61
5
Retirada de Callou & Duarte (2005).
6
MATTOS E SILVA, R. V. (2001). De fontes sócio-históricas para a história social lingüís-
tica do Brasil: em busca de indícios. In: MATTOS E SILVA, R.V. (org.). 2001. São Paulo,
Humanitas: 275-301
7
BARROS, João de. (1540).Gramática da língua portuguesa. In: BUESCU, Maria Leonor Car-
valhão. Gramática da Língua Portuguesa: Cartinha, Gramática, Diálogo em Louvor da Nossa
Linguagem e Diálogo da Viciosa Vergonha. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa, 1971. Edição digital do Projeto BIT-PROHPOR (Banco Informatizado de Textos do
Programa para a História da Língua Portuguesa), coordenado pela Profa. Dra. Rosa Virgínia
Mattos e Silva, Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia. Corpus Internacional da
Língua Portuguesa do Museu da Língua Portuguesa – SP – www.estacaodaluz.org.br .
8
SAID ALI, M. (1976). Investigações filológicas. 2ed. Rio de Janeiro, Grifo.
62 Callou, Dinah. A propósito de norma, correção e preconceito lingüístico:
9
RONA, J. P. (1967). Relación entre la investigación dialectológica y la enseñanza de la
lengua materna. El Simposio de Cartagena\. Informes y Comunicaciones. Bogotá, Caro y
Cuervo: 333-349.
Cardernos de Letras da UFF – Dossiê: Preconceito lingüístico e cânone literário, no 36, p. 57-73, 2008 63
10
RIBEIRO, J. (1933). A língua nacional. São Paulo, Companhia Editora Nacional.
64 Callou, Dinah. A propósito de norma, correção e preconceito lingüístico:
Durante 322 anos – de1500 a 1822 --, período em que o Brasil foi colônia de
Portugal, a educação feminina ficou restrita aos cuidados com o marido e os filhos
[...] Tanto as mulheres brancas, ricas ou empobrecidas, como as negras escravas e as
indígenas não tinham acesso à arte de ler e escrever.(Ribeiro, 2000: 79)12
A situação precária de ensino não era privativa das mulheres e perdurou
até o século XX. Na apresentação do texto Estatística da Instrução13, publicada
no Brasil pela Typographia de Estatística, em 1916, lê-se:
11
LABOV, W. (2001). Principles of linguistic change. Social factors. Vol 2. Cambridge, Blackwell.
12
RIBEIRO, A. I. M. (2000). Mulheres educadas na colônia. In: LOPES, E. et alii. 500 anos
de educação no Brasil.2ed. Belo Horizonte, Autêntica.
13
ESTATÍSTICA DA INSTRUÇÃO. Primeira parte. Estatística escolar. Vol 1. Brazil. Typo-
graphia de Estatística, 1916.
Cardernos de Letras da UFF – Dossiê: Preconceito lingüístico e cânone literário, no 36, p. 57-73, 2008 65
14
NIZZA DA SILVA,M. B. (2007). A Gazeta do Rio de Janeiro (1808-1822): Cultura e socie-
dade. Rio de Janeiro,ED/UERJ
15
SÍNTESE DE INDICADORES SOCIAIS. 2003. 2004. Rio de Janeiro, IBGE
66 Callou, Dinah. A propósito de norma, correção e preconceito lingüístico:
16
LEITE, Y. & CALLOU, D. (2002). Como falam os brasileiros. Rio de Janeiro, Zahar.
Cardernos de Letras da UFF – Dossiê: Preconceito lingüístico e cânone literário, no 36, p. 57-73, 2008 67
Gráfico 1
17
OLIVEIRA, L. L. (2000). Cultura urbana no Rio de Janeiro. In: FERREIRA, M. M. (org.) 2000.
Rio de janeiro: uma cidade na história. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas: 139-149.
18
Retirada de Callou & Serra (2007).
68 Callou, Dinah. A propósito de norma, correção e preconceito lingüístico:
Tabela 321
19
CALLOU, D. M. I. ; SERRA, C. (2007). Aspectos da história demográfica e social do Rio
de Janeiro. In: Jânia Ramos; Mônica Alkmim (Org.). Para a história do português brasileiro.
v. V Belo Horizonte, Fale: 497-516.
20
ENSINO PÚBLICO PRIMARIO E JARDINS DE INFÂNCIA. Prefeitura do Distrito Federal.
Directoria de Estatística e Archivo. Rio de Janeiro, Oficinas Gráficas do Jornal do Brasil, 1932.
21
Retirada de Callou & Serra (2007).
Cardernos de Letras da UFF – Dossiê: Preconceito lingüístico e cânone literário, no 36, p. 57-73, 2008 69
22
PAGOTTO, E. (1998). Norma e condescendência: ciência e pureza. Línguas e instrumen-
tos lingüísticos 2. São Paulo, Pontes.
70 Callou, Dinah. A propósito de norma, correção e preconceito lingüístico:
23
SOARES BARBOSA, Jerônimo. (1822). Grammatica philosophica da lingua portugue-
za, ou principios da gramamatica geral applicados á nossa linguagem. Lisboa: Na Typo-
graphia da Academia das Sciencias.
Cardernos de Letras da UFF – Dossiê: Preconceito lingüístico e cânone literário, no 36, p. 57-73, 2008 71
4. De volta ao presente
24
OLIVEIRA, F. (1536). Gramática da Língua Portuguesa. In: TORRES, A. & ASSUN-
ÇÃO, C. (Orgs.). (2000). Gramática da Língua Portuguesa (1536): edição crítica, semidi-
plomática e Anastática. Lisboa: Academia de Ciências de Lisboa.
72 Callou, Dinah. A propósito de norma, correção e preconceito lingüístico:
25
MATTOS E SILVA, R. V. (2004). O português são dois. São Paulo, Parábola.
26
CUNHA, C. O ensino do português. In: PEREIRA, C. C. (2004) Sob a pele das palavras.
Dispersos. Rio de Janeiro, Nova Fronteira.
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Recebido em 12/04/2008
Aprovado em 05/06/2008
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RONA, J. P. (1969). La lingüística en la ensenanza del castellano. Separata da Revista de la
Universidad Industrial de Santander. Bucamaranga, Colombia, 1969: 41-43.
28
No original: “en vez de imitar, en vez de adoptar o de adaptar, debemos crear (Rona, 1969).