Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Resumo
Introdução
2
Dados retirados sem alterações da Agenda Umbandista. ABTUCMM, 1999. Outras entidades da Tenda -
Linhas* de Povo d’água - Cabocla Marola do Mar; de Caboclos – Caboclo Lírio Branco (Caboclo de Xangô);
Cabocla Juremi (Cabocla de Oxoce); de Ogum – Ogum Sete Espadas; de Xangô - Xangô de Alafim; de Oxalá
(Almas) - Preto Velho Pai Tomás; Rita Benedita; de Erê - Mariazinha; do Oriente - Princesa Iara; Ciganos –
Carmem; Exús: Pomba Gira Maria Padilha; Exú Sete Capas.
Coordenador dos Trabalhos de Estudo do Evangelho: Irmão Lázaro.
* “Linha = faixa de vibração, dentro da grande corrente vibratória espiritual universal correspondente a um
elemento da Natureza, representada e dominada por uma potência espiritual cósmica, um orixá também
chamado Protetor e que é chefe dos seres que vibram e atuam nesta faixa afim...É subdividida em Falanges,
dirigidas por representantes do orixá...” Cacciatore, 1988
3
“Guia de frente = o mesmo que ‘orixá de frente’. Guia principal da pessoa, seu Protetor, seu anjo-da-guarda.
Também ‘guia de cabeça”. Cacciatore, 1988
4
Na parede do centro há um lembrete: “A tenda de Umbanda que freqüentas é coordenada pela entidade
Cabocla Marola de Mar: é ela que zela por ti e tuas entidades. Nada é feito sem sua aprovação. O Caboclo
Lírio Branco, caboclo de Xangô é a entidade encarregada pela nossa guia espiritual de dirigir todos os
trabalhos de desenvolvimento, desobsessão* limpeza magnética** organização das sessões, etc. Devemos a
estas entidades nosso respeito, carinho, gratidão, amor, confiança e sobretudo nosso esforço para contribuir
com o bom andamento dos trabalhos”.
* Refere-se à ação de desmanchar o ato de “obsedar”. “Obsedar = perseguir. É o trabalho de correntes
atrasadas que leva os perseguidos às mais tremendas situações, inclusive loucura... O obsessor, consciente
ou inconsciente estende sua maléfica atuação não somente sobre uma pessoa, mas diversas...Para se livrar,
devem os perseguidos procurar um centro kardecista ou de Umbanda, respeitando o que for indicado pelos
protetores”. Pinto, s/d.
**“Limpar a casa = praticar atos rituais de purificação para tirar do terreiro influências espirituais
negativas” Cacciatore, 1988
4
“A Cecília começou como cambona, e depois veio o Omolu. A Milena tem o Povo
do Oriente. Ela veio e ensinou a todos como era. Se chegar outras entidades
(marinheiro, baiano), a gente vai incluindo”.
“O que observo nos terreiros é que pegam a pessoa e dizem: ‘Tu bota uma roupa
branca, compra uma guia de anjo-de-guarda’ e enfia o médium no terreiro, roda
ele como se fosse um pião. O que acontece? O médium vai indo, indo, ouvindo
daqui, dali. Ele não tem uma noção do porquê e do prá quê. Então, tem que
educar esse médium. Ele tem que estudar, pesquisar, perguntar, muito, muito e
sobretudo estar atento porque cada entidade que vem nos mostra tanta coisa, é
só observar. Um médium ignorante não pode fazer muita coisa por ele e nem
pelas pessoas que vem procurá-lo. Tem um ditado que diz: ‘Se o pote está sujo, a
água não vai sair limpa. Ele tem que estudar” (idem)
6
A título de ilustração: “No dia anterior ao trabalho, o médium não deve ter relações sexuais; ficar o mais
calmo possível, mentalizando coisas boas, chamando pelos guias mentalmente; evitar bebidas alcoólicas e
fumar; tomar banho de descarga antes da sessão; chegar 10 minutos antes do início, acender sua vela de
anjo de guarda e fazer suas orações; procurar decorar os Pontos Cantados na Banda; estar atento aos
trabalho e guias para aprender; auxiliar quando necessário; manter sua pasta de médium atualizada;
estudar seu conteúdo e perguntar quando tiver dúvidas; providenciar o material necessário para seus guias:
cigarros, bebidas, etc.; ser pontual e não faltar, manter a mensalidade em dia; manter bom relacionamento
com irmãos de fé; evitar fofocas e conversas improdutivas” Agenda Umbandista, ABTUCMM, 1999
6
outros médiuns, como forma de “práxis” de seu futuro religioso. Não há, de
sua parte, qualquer limitação física ou espiritual que impeça a mãe-de-santo
Eldeni de abrir e conduzir trabalhos; há apenas a vontade declarada de
democratizar alguns papéis consolidados como exclusivos do chefe-de-
terreiro, permitindo assim a autonomia do médium. O educador Paulo Freire
já alertou para a importância da práxis no processo educativo, que promove a
reflexão sobre a ação prática do indivíduo como alimentadora do processo de
aquisição de saber. Parece ser esta a opção educativa da T.U. Cabocla Marola
do Mar.
“Outra coisa que diferencia meu ritual dos outros, é que normalmente o pai-de-
santo sempre abre os trabalhos. Eu não abro quase nunca. Os médiuns têm uma
escala: quem abre os trabalhos, quem faz a limpeza...Quem abre os trabalhos,
segue esse ritual [mostra um livro sobre o altar] que eu deixo. Está prontinho e...
abre os trabalhos....Se estou preparando um médium para ser pai-de-santo ele só
vai aprender fazendo! Não posso esconder isso, tenho que abrir” (idem)
“O básico eu fiz: fui lá e fiz a firmeza 8 do terreiro dele, expliquei como tinha que
ser e outras coisas que a gente só diz para um médium quando ele vai ser pai-de-
santo, conscientizá-lo da responsabilidade. Isto não se fala para um médium que
está iniciando porque ele acaba confundindo e fazendo tudo errado. É como na
escola: ao jardim o que é do jardim; ao primeiro grau o que é primeiro grau. Assim
é na religião, tem que ser aos poucos, porque chega na metade do caminho
muitos desistem e esses conhecimentos não podem ficar com uma pessoa que
não adquiriu a noção de responsabilidade e de como fazer uso deles. Senão a
gente estaria fazendo um monte de aprendiz de feiticeiro por aí, não é? [risos]”
(idem)
“Para mim, não tem esse negócio de segredo. Às vezes é desculpa porque a
pessoa não sabe responder o que foi perguntado. O segredo mesmo é quando o
médium se deita pro santo e recebe as mensagens do orixá. O chefe de terreiro
fica só orientando. Por exemplo, nenhum dos meus médiuns sabe o que está
enterrado aqui, mas não interessa, porque quando eles forem ter o terreiro deles,
vão ser outras coisas enterradas, porque os santos são outros, as características
de cada um varia. No mais, segredo não existe. Os ditos segredos são trabalhos
que se faz para os mais variados fins.” (idem)
8
“Firmeza = o mesmo que segurança. Conjunto de objetos com força mística (axé) que, enterrados no chão
protegem um terreiro e constituem sua base espiritual” . idem
9
qual são cadastradas as famílias mais necessitadas. Este contato ocorreu por
iniciativa dos médiuns da Tenda, como um prolongamento do trabalho
mediúnico, dentro da concepção de que a caridade não pode restringir-se ao
plano espiritual, mas estender-se ao social. Note-se, pela descrição que o
babalorixá Geovani faz das motivações iniciais, que não há uma visão
unilateral de apenas “auxiliar a comunidade”, mas também a busca de um
aprendizado dos próprios religiosos no sentido de realização plena de sua
espiritualidade:
“Quando a gente construiu esse espaço, há onze anos, sofríamos preconceito dos
vizinhos, eles criticavam. As casas são muito próximas, o barulho atrapalhava e,
por não conhecerem, tinham uma visão negativa da Umbanda, imaginam coisas
que não é realidade. Com esse trabalho assistencial, conseguimos mobilizar e
mostrar para a comunidade que o que a gente faz é positivo, tanto no sentido
espiritual quanto no sentido de atendimento às comunidades...Passaram a nos ver
com outros olhos. E começaram a se aproximar.” (Babalorixá Geovani)
“A gente não está mais fazendo a festa na Tenda, porque se tornou pequeno.
Agora a Festa dos Carentes é no Ginásio de Esportes da Bela Vista. O pessoal do
ginásio sabe que é do pessoal da Umbanda e apoia, mas porque é o nosso centro
e já conhecem nosso trabalho”. (Babalorixá Geovani)
“Não adianta só dar o peixe, tem que ensinar a pescar. Isso foi orientado pelos
mentores do terreiro”. (Babalorixá Geovani)
Pelo exposto, pode-se afirmar que a T.E. Caboclo Cobra Verde está
atuando como um verdadeiro centro de formação e educação, com uma
concepção que alia espiritualidade e solidariedade na prática. Sua ação
transforma não somente o grupo de médiuns, mas irradia-se à toda a
comunidade circundante. Em seu trajeto, vai transformando preconceitos em
espírito participativo e desejo de colaboração.
Além deste trabalho mais sistemático desenvolvido pela Tenda, os
centros realizam esporadicamente algumas ações comunitárias. Por exemplo,
nas ocasiões festivas de homenagens aos orixás, geralmente há um momento
de confraternização ao final do ritual, quando alimentos são servidos ou
distribuídos a todos que desejem participar, quer sejam freqüentadores do
terreiro ou não, uma prática generalizada entre o povo-de-santo.
A Tenda de Umbanda Cabocla Marola do Mar, de Mãe Eldeni está
projetando, através da Associação Beneficente e Cultural Marola do Mar, uma
sede ampliada na qual instalará um centro assistencial. Neste, além das
sessões de Umbanda e estudo do Evangelho, haverá um depósito de donativos
12
Bibliografia
BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil. SP: Liv. Pioneira Editora, 1985.
GEERTZ, Clifford. Cap.IV: A Religião como Sistema Cultural. In: GEERTZ, Clifford. A
Interpretação das Culturas. Pg.101– 142.
Fleuri, Reinaldo Matias. Educação Intercultural e complexidade: implicações
epistemológicas e perspectivas pedagógicas da educação intercultural no Brasil.
Relatório do Projeto. Mover: UFSC, 1999
GIACALONE, Fiorella. La festa, il Cibo, L’Incontro. Strumenti di lettura della Festa
per un’educazione interculturale.Arnaud: Firenze; CIDIS:Perugia, 1998
MORIN, Edgar.Complexidade e ética da solidariedade”. in Ensaios de Complexidade.
Porto Alegre: Sulina, 1997.
ORTIZ, Renato. A morte branca do feiticeiro negro. Petrópolis: Vozes, 1978.
SODRÉ, Nelson Werneck. Síntese da História da Cultura Brasileira. São Paulo: Difel,
1985.
TRAMONTE, Cristiana. Com a bandeira de Oxalá! Trajetória, práticas e concepções
das religiões afro-brasileiras na Grande Florianópolis. Lunardelli, Editora da UNIVALI,
Florianópolis, 2001
TRATADO contra o Racismo. In: Tratados das ONGs. Aprovados no Fórum
Internacional de Organizações Não-Governamentais e Movimentos Sociais no âmbito
do Fórum Global Eco-92. Rio de Janeiro: RJ, Instituto de Ecologia e Desenvolvimento,
[s/d}. 264p.
10
Agenda Umbandista, 1999 - ABTUCMM