Observa-se na atual produção literária do México e do Brasil a ocorrência de certa
poesia realizada a partir de contextos culturais plurais e excêntricos, ao qual Cecília Vicuña faz referência na antologia The Oxford Book of Latin American Poetry (2009) como “poesia mestiça”. No México, atualmente, a ideia de “confluência cultural” faz pensar, por exemplo na poesia zapoteca de Natalia Toledo ou nos poemas huicholes de Angélica Ortiz. No Brasil, o ícone atual da “poesia mestiça” é a obra da poeta e tradutora Joselly Vianna Baptista, que traduziu ao português, além de numerosos autores da tradição barroquizante hispano-americana — como Alejo Carpentier e José Lezama Lima, entre outros —, a coletânea de poemas Huellas de luz, da poeta mexicana Coral Bracho. Pensando na potência da linguagem de tais poéticas, baseadas na confluência cultural, e cujos procedimentos envolvem a tradução como crítica, analisaremos as noções de “poesia mestiça” e de “neobarroco” – tradição central na América hispânica e, no entanto, periférica no Brasil. Tal análise será empreendida a partir do estudo das possíveis ressonâncias do pensamento de Bolívar Echeverría (em especial os conceitos de ethos barroco e codigofagia) na produção de poesia e de crítica no Brasil; tendo em vista as relações entre estes conceitos e os de antropofagia, de Oswald de Andrade, e transcriação, de Haroldo de Campos. Assim, será exposta uma rede de reflexões constituintes do topos de uma teoria crítica que coloca em diálogo hispano-américa e Brasil e nos incita a pensar nossa “geocultura” latino-americana.