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REPÚBLICA DE ANGOLA

PROJECTO DE LEI SOBRE O ESTATUTO


DAS LÍNGUAS NACIONAIS

Órgão Proponente: Ministério da Cultura

Luanda, Agosto de 2011


REPÚBLICA DE ANGOLA
MINISTERIO DA CULTURA

PROJECTO DE LEI SOBRE O ESTATUTO DAS LÍNGUAS NACIONAIS

RELATÓRIO

1. INTRODUÇÃO.

O projecto de Lei que aprova o Estatuto das Línguas Nacionais é um instrumento


que tem como principal objectivo promover a inclusão social e fortalecer a
unidade na diversidade, o pluralismo cultural e linguístico.

Pretende evidenciar a importância das línguas nacionais como veículo de


cultura, instrumento de comunicação, meio de ensino, instrumento de relações
sociais, políticas e económicas, assim como conferir às mesmas, o lugar e a
dignidade que lhes cabe no país, na medida em que são resultado do esforço de
adaptação do nosso povo aos diferentes processos históricos do país.

O reconhecimento pela Organização das Nações Unidas da Declaração


Universal dos Direitos do Homem, e pela Organização de Unidade Africana da
Carta Cultural Africana, da igualdade de todas as línguas do mundo, exige que
todo angolano tenha a possibilidade de usar a sua língua materna na vida
quotidiana.

Não tendo sido abordada, no país, a questão da descolonização linguística,


como meio de efectivar, de forma consequente, o reencontro de um povo com
a sua cultura e os seus valores, a aprovação de uma proposta, que verse sobre a
matéria, torna-se imperiosa, com a introdução das línguas nacionais nos diversos
sectores da vida social.

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Constata-se que a falta de um instrumento jurídico anterior que regulasse e
promovesse a utilização das línguas nacionais em todo o território nacional e
todos os órgãos de soberania do país impõe ao legislador rigor na sua
abordagem quer na clarificação da igualdade entre todas as línguas e suas
variantes, quer na abordagem quer pelo seu valor como património cultural do
país, quer como uma das tarefas fundamentais do Estado.

A reforma e a reposição das línguas nacionais, irá retirá-las do esquecimento,


ostracismo e auto-exclusão a que estiveram votadas. O seu ensino facilitará,
igualmente a sua utilização como línguas de pensar, querer e agir, em suma,
línguas de trabalho e de cultura.

O projecto de Lei que ora se apresenta visa, entre outros:

a. Regular a situação linguística nacional, delimitando as línguas passíveis


de utilização pelo Estado e incentivando o estudo e investigação
científica das demais;
b. Valorizar e promover as línguas nacionais, através de instrumento
próprio, tal com prevê o artigo 2.º da Lei do Património Cultural (Lei n.º
14/05 de 7 de Outubro);
c. Regular a utilização das línguas nacionais nos órgãos de soberania do
Estado, definindo os seus vectores principais;
d. Definir a política de inserção das Línguas Nacionais no sistema de
ensino;
e. Definir as regras gerais para a utilização das Línguas Nacionais pelos
órgãos da Administração Central e Local do Executivo;
f. Definir as regras gerais para a valorização, fomento e divulgação das
línguas nacionais através dos meios de comunicação social.

A elaboração do presente projecto de diploma decorre da Constituição da


República de Angola, da Política Cultural Angolana e da Lei do Património
Nacional.

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2. ESPECIALIDADE

O presente projecto de Lei sobre o Estatuto das Línguas Nacionais foi estruturado
em quatro capítulos e vinte e três artigos, a saber.

CAPÍTULO I, com epígrafe Disposições Gerais prevê o objecto, definições,


objectivos, Garantias dos Cidadãos e Protecção Legal.

CAPÍTULO II, com epígrafe Qualificação e Difusão das Línguas Nacionais, dispõe
de quatro secções para cada matéria em especial e prevê o seguinte:
Secção I, Qualificação, Difusão, Protecção e evolução lexicológica.
Secção II, Função e Utilização.
Secção II, Formas de Utilização das Línguas Nacionais, do qual prevê os órgãos
de soberania, Administração da Justiça, Administração Pública, Poder Legislativo,
Poder Local e Tradicional.
Secção IV, Inserção das Línguas Nacionais no Ordenamento do Território,
Educação e Comunicação Social.

CAPITULO III, Descriminações e Regime Sancionatório

O CAPITULO IV, com disposições finais e transitórias prevê a aplicabilidade e


regulamentação, dúvidas e omissões e o início de vigência do diploma.

3. TRABALHOS PREPARATÓRIOS

O diploma que se apresenta, foi iniciativa legislativa do Ministério da Cultura,


tendo sido analisado em grupos técnicos, pelos funcionários do Gabinete Jurídico
do Ministério da Cultura e os técnicos do Instituto de Línguas Nacionais.

Ao longo dos últimos anos, além das apresentações e discussões públicas


ocorridas sobre o referido projecto de Lei, este foi objecto de particular atenção
nos III e IV Encontros sobre Línguas Nacionais realizados nas províncias do
Huambo e Uíge.

O projecto de Lei sobre o Estatuto de Línguas Nacionais foi igualmente objecto

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de auscultação pública, em Maio de 2005, de onde foram retirados vários
contributos que de imediato foram incorporados na versão inicialmente remetida
ao Conselho de Ministros.

Volvidos cinco anos, o referido diploma foi apreciado em reunião técnica, aos 26
de Agosto de 2010, no Ministério da Cultura, com a participação dos técnicos do
Gabinete Jurídico do Ministério proponente, do Instituto de Línguas Nacionais e
do Ministério da Educação, representado pelo INIDE. Do referido encontro
derivam importantes conclusões e recomendações que foram incorporadas no
diploma.

Agendado e discutido em Conselho de Direcção do Ministério da Cultura, a 13


de Setembro de 2010, o projecto de Lei foi aprovado com emendas. Assim,
considerando a transversalidade do projecto de diploma foi recomendado ao
grupo técnico (Gabinete Jurídico, Instituto das Línguas Nacionais e Instituto
Nacional das Indústrias Culturais) que introduzissem as pertinentes alterações
propostas e apresentasse no prazo de três dias a versão consolidada do
documento. A referida versão, apresentada a 16 de Setembro de 2010,
apresentou alterações ao diploma que foram aprovadas.

Realizou-se o IV Encontro sobre as Línguas Nacionais, no Uíge, de 18 à 21 de


Outubro do corrente ano, visando auscultar especialistas e agentes no domínio
linguístico, com objectivo de enquadrar constitucional, política e
linguisticamente, do Estatuto, cujas recomendações foram acolhidas e
incorporadas no diploma

Procedeu-se a inclusão das contribuições apresentadas do encontro do Grupo


Técnico da Assessoria da Vice-Presidência, que foram acolhidas prontamente,
com particular destaque para algumas observações de forma do Parecer do
Ministério da Juventude e Desportos.

Em síntese, antes da sua aprovação pela Comissão para a Política Social, o


referido diploma obedeceu ao seguinte processo:
a. Foi submetido a debate e auscultação pública decorrida em 2005, na
Universidade Católica pelo ILN;

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b. Foi submetido em duas consultas públicas (III e IV Encontro sobre
Línguas Nacionais);
c. Foi aprovado pelo Conselho de Direcção do Mincult (13 de Setembro
de 2010);
d. Foi aprovada com emendas pelo Grupo Técnico da Comissão para a
Política Social, tendo esta coordenado os trabalhos de revisão da
versão que ora é analisada;
e. Foi objecto de parecer favorável dos seguintes departamentos
governativos:
 Ministério do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia;
 Ministério da Administração Pública, Emprego e Segurança
Social;
 Ministério da Assistência e Reinserção Social;
 Ministério da Educação.

4. FORMA DE APROVAÇÃO

A aprovação do projecto de Lei sobre o Estatuto das Línguas Nacionais é


proposta sob a forma de Lei da Assembleia Nacional, nos termos conjugados da
alínea b) do artigo 161.º da Constituição da República de Angola.

5. PARECERES VINCULATIVOS

No cumprimento dos procedimentos para a preparação dos diplomas a serem


submetidos a apreciação e aprovação do Chefe do Executivo, nos termos do
artigo 15.º do Decreto Presidencial n.º 7/10, de 5 de Março, que aprova o
Regimento do Conselho de Ministros, o presente diploma foi submetido a parecer
dos seguintes órgãos:

a. Ministério das Finanças;


b. Ministério da Justiça;
c. Ministério do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia;
d. Ministério da Administração Pública, Emprego e Segurança Social;
e. Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação;
f. Ministério da Família e Promoção da Mulher;

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g. Ministério da Assistência e Reinserção Social;
h. Ministério da Educação.

6. SUMÁRIO

“ Lei n.º _____/10


Que estabelece o regime jurídico das Línguas Nacionais”.

7. NOTA DESTINADA A DIVULGAÇÃO NA COMUNICAÇÃO SOCIAL

“O Presidente da República aprovou na sessão de hoje em Conselho de Ministros,


a proposta de Lei sobre o Estatuto das Línguas Nacionais que visa promover a
inclusão social e fortalecer a diversidade cultural angolana através da criação de
condições jurídicas e administrativas para a utilização generalizada das línguas
faladas pelos Povos de Angola, em todo o território nacional”.

8. CONFORMIDADE

O presente Relatório harmoniza-se com o disposto no artigo 15.º do Decreto


Presidencial n.º 7/10, de 5 de Março, que aprova o Regimento do Conselho de
Ministros.

“ A CULTURA FORTALECE A NAÇÃO – MAIS CULTURA, MAIS ANGOLA ”

GABINETE DA MINISTRA DA CULTURA, em Luanda aos

A MINISTRA,

Rosa Cruz e Silva

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REPÚBLICA DE ANGOLA
ASSEMBLEIA NACIONAL

Projecto de Lei n.º ___/11

De de

Considerando que as Línguas Nacionais constituem um veículo


fundamental para a Identidade Cultural Angolana e jogam um relevante papel
no reconhecimento do Pluralismo Cultural e Linguístico;

Considerando o quadro de coexistência entre as Línguas Nacionais e a


Língua Portuguesa em que esta goza do estatuto de língua oficial da República
de Angola devido à sua utilização institucionalizada na vida pública e privada;

Considerando que a Constituição da República de Angola, prevê como


tarefas fundamentais do Estado, a protecção, valorização e dignificação das
línguas angolanas de origem africana promovendo o seu desenvolvimento,
como línguas de identidade nacional e de comunicação;

Convindo criar condições objectivas para o reconhecimento do valor e


importância das Línguas Nacionais e dos valores culturais e civilizacionais por elas
veiculados, nos termos da Lei do Património Cultural, Lei n.º 14/05 de 7 de
Outubro.

A Assembleia Nacional aprova, por mandato do povo, nos termos da


alínea b) do artigo 161.º da Constituição da República de Angola, a seguinte lei:

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PROJECTO DE LEI SOBRE O ESTATUTO DAS LÍNGUAS NACIONAIS

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 1.º
Objecto

O presente diploma estabelece os princípios orientadores para a valorização,


fomento, defesa e ensino das línguas nacionais e das suas variantes locais, a
serem observadas pelo Estado Angolano, em todo o território nacional.

Artigo 2.º
Definições

Para efeitos do presente diploma, as palavras e as expressões usadas têm o


seguinte significado:

a. Língua Nacional, a que pertence ao Património Cultural de uma


comunidade habitando um mesmo espaço geográfico, partilhada
ou não com outra comunidade transnacional, qualquer que seja a
sua influência geográfica ou sociológica;
b. Língua Oficial, a língua à qual é conferido o privilégio de utilização
no quadro das actividades oficiais, sendo utilizada necessária e
obrigatoriamente em todos os órgãos do Estado e pelas entidades
privadas;
c. Língua Materna, aquela (língua nacional ou portuguesa) que o
indivíduo aprende em primeira instância de vida.

Artigo 3.º
Objectivos

O Estatuto das Línguas Nacionais assenta entre outros, nos seguintes objectivos:

a. Contribuir para o desenvolvimento e consolidação das línguas


nacionais;
b. Preservar a identidade nacional, dando a todos os cidadãos, as
mesmas possibilidades reais de acesso ao ensino e de assimilação
de conhecimentos;
c. Consolidar a unidade nacional e facilitar a coexistência num
quadro democrático, através da diversidade cultural e linguística;
d. Fomentar e incentivar o estudo, o desenvolvimento das línguas
nacionais, bem como controlar os subsídios de cada uma delas no
contexto da cultura contemporânea;
e. Dignificar a identidade cultural através da difusão e ensino das

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línguas nacionais;
f. Reabilitar, restaurar, salvaguardar e promover o património
linguístico;
g. Potencializar a estabilidade de uma situação plurilingue;
h. Favorecer a cooperação inter linguística;
i. Combater todas as formas de exclusão linguística, contribuindo
para a democraticidade linguística a nível nacional;
j. Contribuir para a divulgação da cultura oral, fundada na oralidade
bem como da sua corporização em instrumentos tangíveis;
k. Fomentar a dignidade da pessoa humana, e a livre expressão na
língua de melhor domínio;

Artigo 4.º
Garantias dos Cidadãos

1. Todos os cidadãos podem solicitar que o conteúdo de qualquer acto


administrativo seja traduzido na língua nacional que melhor entenda,
quando não domine a utilizada.

2. A obstrução da celeridade dos actos administrativos por razões de


natureza linguística, quando saiba ler e escrever a língua em causa, é
passível de responsabilização, nos termos da legislação em vigor.

3. Todo o indivíduo tem o direito de utilizar e ser abordado na língua oficial ou


materna, no seu contacto com os órgãos e serviços da Administração
Pública.

4. É proibido qualquer acto discriminatório por desconhecimento da língua.

Artigo 5.º
Competências do Estado e do Executivo

1. Ao Estado compete, promover a efectivação do previsto no presente


diploma, cabendo à Assembleia Nacional fiscalizar o respeito pelos
direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.

2. Nos termos do presente diploma, o Poder Executivo deve:

a. Salvaguardar os interesses linguísticos do Estado cabendo-lhe


praticar todos os actos que possam contribuir para o incremento da
dignidade, unidade e preservação dos valores da cultura linguística
nacional, apoiando-se, no geral, nas instituições públicas e privadas
vocacionadas para a investigação e execução dos programas
definidos;

b. Criar, em cooperação com organismos públicos com competência


para definir a política de educação, as condições necessárias para a
formação e capacitação de técnicos e para a criação de estruturas
de apoio técnico-científico aos organismos públicos.

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CAPÍTULO II
QUALIFICAÇÃO E DIFUSÃO DAS LÍNGUAS NACIONAIS

SECÇÃO I
Qualificação, Difusão e Protecção

Artigo 6.º
Qualificação

1. Para os efeitos da presente lei, são consideradas como Línguas Nacionais,


as seguintes:

a. Cokwe;
b. Khoi;
c. Kikongo;
d. Kimbundu;
e. Ngangela;
f. Oxiwambo;
g. Olunyaneka;
h. Umbundu;
i. Vátwa.
j. Helelo;
k. Luvale;
l. Mbunda.

2. Sem Prejuízo do disposto no número anterior, são igualmente qualificáveis


como línguas nacionais, todas as línguas usadas histórica e secularmente
pelos povos habitando o território nacional, independentemente do
número de falantes, desde que se verifique que estas servem de veículo de
transmissão das suas mensagens e que integram o património linguístico
das comunidades locais em causa.

3. A qualificação de Língua Nacional não deve prejudicar:

a. O fomento, estudo e divulgação das variantes das línguas nacionais;


b. O estatuto de língua oficial.

4. A qualificação de quaisquer das Línguas Nacionais como Língua Oficial


deve obedecer a critérios científicos, aos interesses de natureza cultural ou
social ou económica, respeitando-se a Constituição da República de
Angola.

Artigo 7.º
Difusão

1. Incumbe ao Estado contribuir para a difusão das línguas nacionais, criando


todas as condições para a exequibilidade da presente lei, bem como
instituições especializados para a resolução ou interpretação de
mensagens nessas línguas.

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2. Nas relações sociais as línguas oficiais devem servir de elemento de
identidade cultural, tendo sempre em conta o respeito pelos outros, sendo
fomentado, por isso o intercâmbio, o respeito e a tolerância pela diferença
cultural como fundamento da dignidade, responsabilidade e lealdade
patriótica.

3. Todos os cidadãos que melhor dominarem as línguas nacionais devem


contribuir para a sua difusão, traduzindo o pensamento ou interpretando a
mensagem do interlocutor ou ouvinte na língua em que melhor possa ser
entendida.

Artigo 8.º
Protecção e evolução lexicológica

1. À Administração Pública e aos particulares incumbe a tarefa de contribuir


para a difusão e dignificação das línguas nacionais, criando todas as
condições para que os actos dos cidadãos, independentemente da sua
natureza, sejam traduzidos da língua portuguesa para as línguas nacionais,
assim como a catalogação de expressões pouco usuais.

2. Em qualquer acto do Estado, pode fazer-se referência a expressões em


língua nacional, seguindo-se da referida tradução, em língua portuguesa,
devendo ser fomentada, ainda, o surgimento de neologismos de origem
africana no português falado no território nacional, sem prejuízo da
manutenção etimológica de origem africana ou neolatina.

3. Devem ser criadas todas as condições para o conhecimento e


desenvolvimento do estudo sobre o surgimento de fenómenos linguísticos
contemporâneos que se caracterizem como derivados da matriz
afrocidental.

4. Incumbe aos estabelecimentos de ensino contribuir para a promoção da


cultura de catalogação de toda a variação linguística ou lexicológica,
prevista no presente artigo, sem prejuízo das competências específicas dos
órgãos e serviços afins da Administração Pública.

SECÇÃO II
FUNÇÃO E UTILIZAÇÃO

Artigo 9.º
Função

As Línguas Nacionais, na sua área de comunicação, constituem:

a. Meio de Ensino;
b. Veículo Cultural;
c. Língua de Comunicação Interna e Externa;
d. Instrumento de Relações Comerciais.

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Artigo 10.º
Utilização

1. As línguas nacionais devem ser utilizadas em todo território nacional, em


todas as esferas da vida pública e social.

2. Sem prejuízo do disposto no número anterior, a utilização da Língua


Nacional deve atender à cultura das populações e à qualificação que, na
língua em causa for considerada como correcta e usualmente utilizada
por várias gerações.

3. É obrigação do Estado garantir que a utilização das línguas nacionais não


deturpe ou ofenda a honra, a dignidade ou a identidade dos seus
falantes.

SECÇÃO III
FORMAS DE UTILIZAÇÃO DAS LÍNGUAS NACIONAIS

Artigo 11.º
Órgãos de soberania

1. Os órgãos de soberania podem, nos seus actos, utilizar as línguas nacionais,


sem que no desempenho das suas funções, sejam preteridos os princípios
da igualdade e pluralismo linguístico, como meios de dignificação e
unificação do povo angolano.

2. Todas as línguas nacionais podem ser utilizadas nos debates da Assembleia


Nacional, actos da Presidência da República ou audiências dos Tribunais,
sempre que existam condições técnicas e administrativas para que se
realizem traduções em simultâneo.

3. À Constituição da República, ao Hino Nacional e a todas as disposições de


grande referência jurídico-social devem ser criadas condições para a sua
tradução em todas as línguas nacionais.

4. As leis aprovadas e demais instrumentos jurídicos relevantes para as


comunidades devem ser divulgadas em todas as línguas nacionais.

Artigo 12.º
Administração da Justiça

1. Todo o indivíduo no seu relacionamento com os órgãos de Administração e


com as instituições de Justiça tem o direito de:

a. Ser informado através de uma língua que domine, sobre os motivos


da acusação ou litígio;

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b. Beneficiar, dos serviços de um intérprete, caso não entenda a língua
utilizada no processo.

2. O previsto no número anterior não isenta qualquer órgão competente, da


prática dos actos previstos por lei.

Artigo 13.º
Administração Pública

Os titulares de cargos políticos, funcionários públicos e agentes administrativos


podem utilizar, nos seus contactos com a população ou nos seus actos, uma
das línguas nacionais ou fazer-se acompanhar de tradutores ou intérpretes que
possam difundir a mensagem veiculada.

Artigo 14.º
Poder Legislativo

1. Os deputados da Assembleia Nacional, podem no exercício das suas


funções utilizar quaisquer das línguas nacionais, devendo traduzir a
mensagem na língua oficial e indicar a língua em uso.

2. Sempre que as circunstâncias o exijam, devem ser criadas condições e


meios para traduções de línguas nacionais para a língua oficial e vice-
versa.

Artigo 15.º
Poder Local e Tradicional

1. As autoridades locais, bem com as tradicionais devem criar todas as


condições para que, se possa efectivar o previsto no presente diploma,
cabendo-lhes promover a preservação dos usos, costumes e línguas da
sua circunscrição administrativa, nos termos da Constituição da República
de Angola.

2. Sempre que possível, deve ser fomentado o intercâmbio cultural entre


instituições tradicionais de regiões diferentes e respectivos titulares
transmitindo os seus valores, costumes e línguas, sem prejuízo da sua
divulgação na língua nacional mais falada na região.

3. Às instituições públicas e privadas incumbe a tarefa de promover o


respeito e a solidariedade para com as instituições tradicionais locais, bem
como o dever de informação, nas línguas nacionais mais faladas da
região.

SECÇÃO IV
Inserção das Línguas Nacionais no Ordenamento do Território, Educação e
Comunicação Social

Artigo 16.º
Toponímia

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1. Como meio de incutir na sociedade o respeito pela identidade e unidade
nacionais, deve ser incentivada a atribuição de nomes tradicionais, às
avenidas, ruas importantes, escolas, edifícios públicos ou privados, praças
públicas, estradas, tendo em conta os nomes de figuras históricas ou
lendárias angolanas bem como, a reconstituição ortográfica dos
topónimos em função da fonologia da língua de cada região.

2. As placas de limites territoriais, com mensagens de boas vindas ou outras


orientações, podem ser feitas em português e na língua nacional mais
falada na região.

3. Compete ao Poder Executivo criar as condições para o estudo e


alteração da toponímia do país.

Artigo 17.º
Educação e Ensino

1. Devem ser criadas condições, em todo o território nacional, para que a


língua materna do aluno seja o meio pedagógico durante as três primeiras
classes, quando os recursos humanos assim o possibilitarem, nos termos do
artigo 9.º, do presente diploma;

2. Para efeitos do presente diploma:

a. Fazem parte do ensino obrigatório nacional, as línguas nacionais


faladas pelas comunidades linguísticas do país e que desempenham,
em particular, um papel marcante e determinante na construção da
identidade nacional.

b. O presente critério pode sofrer alterações quando, por razões


socioculturais, existirem provas bastantes sobre a existência de outras
línguas que mereçam o estatuto de língua nacional;

c. Ao nível da Alfabetização e do Ensino de Adultos, é utilizada a língua


materna do alfabetizando, nos termos da legislação que regula o
sistema de Educação em Angola.

3. São introduzidas, nas escolas de formação de professores:

a. Ao nível do ensino médio, disciplinas de introdução à linguística geral e


africana, de línguas nacionais, de cultura africana e de sociolinguística,
bem como a "Especialidade em Língua Nacional", a par das já
existentes em línguas portuguesa, francesa e inglesa;

b. Ao nível do ensino universitário deve incentivar-se a aprendizagem de


uma língua oficial e a "Licenciatura em Língua Nacional".

5. A Estratégia de Implementação das Línguas Nacionais no Sistema de Ensino


é objecto de legislação própria.

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Artigo 18.º
Comunicação Social

1. O Poder Executivo deve estabelecer uma adequada política de


comunicação social voltada a divulgação das línguas nacionais na
rádio, televisão, jornais e demais meios multimédia.

2. Devem ser criadas condições para que a publicidade comercial seja


também feita nas línguas mais faladas da região.

3. Devem ser incentivadas as iniciativas empresariais e editoriais no


domínio da divulgação das línguas nacionais e, a nível das
comunidades locais, as mais faladas.

4. Compete às empresas de comunicação social propiciar as melhores


formas de informação bilingue.

CAPÍTULO III
DISCRIMINAÇÕES E REGIME SANCIONATÓRIO

Artigo 19.º
Discriminações

1. São consideradas discriminações as exclusões, por razões linguísticas, ao


acesso a qualquer bem público ou particular, quando o ofendido seja
vulnerável por não dominar correctamente uma língua nacional e, a sua
exclusão ou discriminação tenha, como finalidade, a denegação do bem
em questão, a humilhação, o desprezo, a ofensa da sua honra e/ou a sua
dignidade como cidadão.

2. Qualquer entidade que recuse a efectivação dos direitos de cidadania


previstos na presente lei, por falta de conhecimento de uma língua oficial
por parte do ofendido, deve:

a. Criar todas as condições para efectivá-los através do contacto de


entes públicos ou privados que possam contribuir para a
concretização das pretensões legítimas do interessado;

b. Notificar ao interessado, nos termos da legislação sobre as normas


do procedimento e da actividade administrativa, sobre as razões do
tratamento a ele conferido e da resposta à sua pretensão.

3. Quando se tratar de actos que exijam celeridade, pela sua natureza ou


gravidade, devem ser disponibilizados todos os meios para o efeito e
transmitir-se, ao interessado, o conteúdo ou a sua súmula, nos termos da
lei.

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Artigo 20.º
Sanções

Para efeitos da presente lei, a responsabilização dos actos previstos nos


artigos anteriores são aferidos nos termos das disposições da legislação
aplicável ao regime disciplinar da função pública, sem prejuízo das
matérias objecto de sanção criminal, responsabilização civil e demais
legislação complementar

CAPÍTULO IV
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Artigo 21.º
Aplicabilidade e Regulamentação

1. A presente lei deve ser aplicada por todas as entidades, sendo a


efectivação da sua aplicabilidade, directa em tudo o que seja urgente e
necessário para a satisfação dos legítimos interesses protegidos no âmbito
dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.

2. O âmbito da presente lei não prejudica a evolução científica que seja


considerada relevante para o estudo, ensino, difusão e reconhecimento
das línguas nacionais que não tenham sido alvo de estudo, devendo ter-se
em conta a evolução lexicológica e a matriz cultural da língua
considerada como nacional.

Artigo 22.º
Dúvidas e Omissões

As dúvidas e omissões que se suscitarem, da interpretação e aplicação da


presente lei, são resolvidas pela Assembleia Nacional.

Artigo 23.º
Entrada em vigor

A presente Lei entra em vigor à data da sua publicação.

Vista e aprovada pela Assembleia Nacional, em Luanda, aos

O Presidente da Assembleia Nacional,

António Paulo Kassoma

Promulgada, aos……………………………………..

Publique-se.

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O Presidente da República,

José Eduardo dos Santos

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