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Roger Chartier.

“Cultura popular: revisitando um conceito historiográfico” In Revista Estudos


Históricos v.8 n.16. Rio de Janeiro: FGV, 1998.

Contextualização:

Esse texto foi originalmente apresentado no seminário Cultura Popular, uma Conferencia
Interdisciplinar realizado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts em outubro de 1992.

Neste texto, o autor identifica cultura popular como pertencente à cultura erudita. Pois suas
práticas estão diretamente subordinadas à uma cultura dominante.

Para Chartier, a definição de cultura popular é baseada em dois modelos:


um faz alusão a uma cultura dominante, e o outro que concebe como um sistema simbólico
autônomo do povo. Estas duas definições tem sido um modelo que se opõe a idade de ouro da
cultura popular, onde era vista como algo sem qualificação, que levavam à situações
constrangedoras.
Ele destaca que os artistas que realizam movimentos destinados às camadas populares, não
se identificam como artistas populares, justificando esse fato, através de que os valores são
produzidos pela sociedade. Para isso, o autor da ênfase nas divisões da sociedade e em suas
maneiras.
Ressalta também a mudança de atitudes por meio da população, diferenciando os anos de
1500, onde a cultura popular era vista como uma única cultura para todos e uma segunda
cultura para os instruídos, e os anos de 1800, onde o clero, os nobres e comerciantes
abandonam acultura popular, provocando uma grande segregação entre as camadas da
sociedade. Daí, uma época de “aculturação”. Onde foram proibidas as camadas menores, de
exercer aquilo que lhes foi deixado, suas culturas enraizadas, se tornando vítimas de sua
própria cultura.
Assim, destaca-se a cultura de massa como uma das grandes responsáveis para esta
designação da cultura popular. Onde eram oferecidos novos atrativos providos dos meios de
comunicação, que mascaravam a cultura antiga. Porém, a cultura de massa foi incapaz de
esconder as práticas que lhes foram deixadas.
Portanto, o autor deixa claro, que o que é popular não se é encontrado em coisas materiais e
sim nas suas práticas sociais.

Citações:

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No texto Chartier inicia sua critica com uma polemica afirmação de que a cultura popular é ela
mesma uma categoria erudita, e com isso relembrar que os debates travados em torno desse
termo buscam delimitar, nomear e caracterizar práticas que nunca são designadas pelos seus
próprios autores.

Primeiramente faz uma análise esquemática que reduz as diversas definições da cultura
popular em dois modelos de abordagem e interpretação.

Um que é visto como um sistema simbólico autônomo, e outro o que a entende como
dependente de referência a uma cultura dominante.

O primeiro, no intuito de abolir toda forma de etnocentrismo cultural, que concebe a


cultura popular como um sistema simbólico coerente e autônomo, que funciona
segundo uma lógica absolutamente alheia e irredutível à da cultura letrada.

O segundo, preocupado em lembrar a existência das relações de dominação que


organizam o mundo social, percebe a cultura popular em suas dependências e
carências em relação à cultura dos dominantes. (p. 179)
E com isso quer afirmar que de um lado há uma cultura popular que constitui um mundo à
parte, encerrado em si mesmo, independente, e, de outro, uma cultura popular inteiramente
definida pela sua distância da legitimidade cultural da qual ela é privada.

Cita que muito dessa dificuldade vem do entendimento do que é cultura popular pela influencia,
do que ele chama, de sábios eruditos (scholars) e, cita comparando tal dificuldade como mais
difícil de ser pensada que a dos mundos “exóticos”.
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E que esses dois modelos de entendimento permearam todas as disciplinas que pesquisam a
cultura popular nos quesitos históricos, antropológicos e sociológicos mesmo tendo suas
estratégias de pesquisa, estilos, e propostas teóricas completamente opostas.

E que segundo Jean-Claude Passeron apesar de serem metodologicamente opostos e


contraditórios, esses dois modos de interpretação e descrição da cultura popular não são
necessariamente conflitantes e verifica que ambas podem ser observadas numa mesma obra
ou num mesmo autor. Ou seja, esses dois modos de explicação não são necessariamente
conflitantes.

Numa sintetize – uma interpretação enfatiza a autonomia simbólica da cultura popular e outra,
insiste na sua dependência da cultura dominante.

E que os estudos desse contraste têm servido como base de oposição a uma suposta idade de
ouro da cultura popular, mas também em outras situações quando esta é censurada e
desqualificada.

Inicia essa análise na Europa do sec. XVII dizendo que a idade de ouro a cultura popular teria
sido livre, viva, profusa, mas que por outro foi reprimida e subjulgada sobre uma disciplina
rígida eclesial e estatal.

Segundo o autor esse esquema de análise pareceu pertinente para situar a trajetória cultural
da Europa Ocidental, a partir de 1600 ou 1650. (não foi preciso)

E fala que as ações repressivas conjugadas dos Estados Absolutistas com a Igreja Reformista
Protestante e Católica que foram decisivas para abafar uma cultura inventiva do povo, pois lhe
impunha uma disciplina submissiva de novos comportamentos destruindo suas raízes e o
equilíbrio tradicional de ver e viver o mundo dessa classe cultural.

Cita Robert Muchembled para demonstrar como esse período, sobre influência de Luiz XIV, foi
desastroso para cultura popular levando-a perder sua coerência numa análise sistêmica e
filosófica.

Cita Peter Burke, que também descreve os dois movimentos que desenraizaram a cultura
popular. Fala de um lado sobre forma sistemática que a elite e o clero se esforçaram para
mudar as atitudes e valores da população e que tinham intuito de suprimir ou pelo menos
“purificar” vários elementos da cultura popular tradicional. E de outro lado o abandono das
classes superiores de uma cultura que era comum a todos.

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Em 1500 a cultura popular era considerada uma segunda cultura de todas as classes, sendo a
segunda cultura para os instruídos, mas a única para as demais classes. (esse tema foi
abordado na última aula)

Já em 1800 essa mesma classe dominante havia se afastado e em alguns lugares abandonado
a cultura popular devido a profundas diferenças de visão do mundo.

Retorna a 1200 para dar exemplo dessas periodizações de idas e vindas, que chama de
“momentos-chave” na história para mostrar como a cultura erudita se isola e afasta da cultura
popular e de suas tradições folclóricas por influência e imposição de uma ordem teológica,
científica, filosófica e a classificando como supersticiosa e temível a cultura dos humildes.

Nesse sentido, cita Jacques Le Golf que reconhece um crescimento da cultura popular anterior
a 1200 que aproveita o espaço criado pela aristocracia leiga que se mantinha fora do sistema
clerical, mas impregnada de tradições folclóricas.

Segundo Jean-Claude Schmitt: há que se indagar a respeito das influencias das danças
folclóricas na educação religiosa.

Outra reviravolta ocorreu no período entre guerras de 1870 a 1914 onde as culturas populares
tradicionais e camponesas saíram do isolamento se enraizando novamente numa cultura
nacional e republicana.

Outra grande mudança, considerada radical, se situava antes e depois do surgimento de uma
“cultura de massa”, onde se supunha que os novos instrumentos da mídia foram capazes de
destruir uma cultura antiga criadora e folclórica.

E faz uma importante conclusão dessa parte analisada:

O destino historiográfico da cultura popular é sempre ser abafada e arrasada e ao mesmo


tempo renascer das cinzas.

E conclui que isso é um indicador que o verdadeiro problema da cultura popular não é datar
seu desaparecimento, sempre irremediável, mas considerar como se deu as relações
complexas entre as formas impostas: uma considerada constrangedora e imperativa e a outra
com identidade afirmada, mas reprimida e abafada em seu desenvolvimento.

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Cita Lawrence W. Levine para falar a respeito da “cultura bifurcada” que se caracteriza pelo
contraste de um momento onde a cultura é partilhada e misturada e outro, do tempo moderno
caracterizado pela separação do que é público como espaços, gêneros e estilos.

Isso influencia toda a sociedade a partir da metade do séc. XIX e paralelamente a cultura
americana estava fragmentada proporcionando o aparecimento de uma série de culturas
específicas que não estavam relacionadas entre si.

Como consequência o público que era misturado nos ambientes como teatros museus etc.
estava sendo filtrado por meio de programação diferenciado para evitar uma clientela que não
possuía o mesmo espectro social e econômico.
Seria a transição da “cultura pública compartilhada” para a “cultura bifurcada”.
A consequência disso é o que se chamou de “cultura erudita” e “cultura popular”.

Nessa mesma época essa separação cultural culminou com o isolamento da cultura popular
pela elite ocasionando uma destruição na sua base ancestral comum, como a cultura
Bakhtiniana, folclórica, festiva e carnavalesca.

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Cita 3 ideias da cultura popular na concepção das classes dominantes na Europa:

 A cultura popular podia ser definida por contraste com a cultura letrada e dominante;
 Que era possível caracterizar como popular o público de certas produções culturais;
 Que as expressões culturais podem ser tidas como socialmente puras e intrinsecamente
populares.

Foram esses três postulados que fundamentaram os trabalhos clássicos realizados na França,
entre outros lugares sobre a “literatura popular” mais a “littérature de colportage” (literatura de
cordel) e sobre a “religião popular” que seria um conjunto das crenças e gestuais próprios da
religiosidade de todos.

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E cita que ambas (“literatura popular” e “religião popular”) não são tão radicalmente diferentes
da literatura da elite ou da religião do clero e são compartilhadas por meios sociais diferentes,
alem dos populares. Elas são ao mesmo tempo aculturadas e aculturantes.

Chartier julga inútil querer identificar a cultura popular a partir da distribuição supostamente
específica de certos objetos ou modelos culturais, o importante estaria na sua apropriação
pelos grupos ou indivíduos.

O popular não está contido em conjuntos de elementos, ele é um tipo de relação um modo de
utilizar objetos e normas que circular na sociedade. Tal constatação importa em
necessariamente ver a cultura popular, não como conjuntos culturais tidos como “populares”,
mas sim como modalidades diferenciadas pelas quais esses conjuntos culturais são
apropriados.

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De acordo com Chartier, são nos modos de usar, como práticas sociais, que se deve encontrar
o “popular”.

Compreender a cultura popular significa transitar nas relações e tensões que unem os dois
conjuntos de dispositivos:

 De um lado, os mecanismos da dominação simbólica, cujo objetivo é tornar aceitáveis,


pelos próprios dominados, as representações e os modos de consumo que qualificam ou
desqualificam sua cultura como inferior e ilegítima.
 De outro lado, as lógicas específicas em funcionamento nos usos e nos modos de
apropriação do que é imposto.

Para pensar essa tensão o autor cita a distinção entre estratégias e táticas Michel Certeau para
evitar a oscilação entre as abordagens que insistem no caráter dependente da cultura popular
e aquelas que exaltam sua autonomia.

As estratégias supõem a existência de lugares e instituições e produzem objetos, normas e


modelos, acumular e capitalizam.

As táticas, são desprovidas de lugar próprio e de domínio do tempo, são “modos de fazer”.

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Chartier acha importante a apropriação da literatura dominante, como do repertório da
Bibliothèque Bleue de origem letrada e gêneros diversos, atingir novos clientes de classes não
dominantes por meio de edições baratas e ao modo de distribuição de venda ambulante.

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Para Chartier são precisos dois tipos complementares de procedimentos para analisar a
relação entre os textos da littérature de colportage e o mundo social das sociedades do antigo
regime:

Um deles sugere que se leia a literatura popular como um repertório de modelos de


comportamento, como um conjunto de representações.

Outra focaliza a pluralidade e a mobilidade das significações que públicos diferentes atribuem
ao mesmo texto.
É preciso reconhecer uma tensão importante entre as intenções explicitas ou implícitas que
levam a propor um texto a um grande numero de leitores e as formas de recepção desse texto.

Na Europa dos sec. XVI e XVII s impressos tinham uma ampla gama de intenções de diversas
origens como:

 Cristianizadora – com textos de devoção da Contra-Reforma que faziam parte da


Bibliothèque Bleue;
 Reformadora – com almanaques do Iluminismo Italiano;
 Didática – de uso escolar ou de prática;
 Parodística – com textos da tradição picaresca ou burlesca;
 Poética – com romances publicados nos Pliegos (folhas) castelhanos.

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Para Chartier na conjuntura intelectual atual dois obstáculos ameaçam a abordagem
supracitadas de cultura popular:

O primeiro seria o Linguistic Turn (virada linguística ou giro linguístico) com seus três
fundamentos:
(virada linguística foi um importante desenvolvimento da filosofia ocidental no sec. XX cujo foco
principal era estudar a relação humanística entre a filosofia e linguagem)

 Considerar a linguagem comum um sistema fechado de signos cujas relações produzem


sentido automaticamente;
 Considerar que esta construção da significação como isenta de qualquer intenção ou
controle subjetivos;
 Pensar a realidade como construída pela própria linguagem, independente de toda
referencia objetiva.

A segunda reside nas definições implícitas de uma categoria como a da “cultura popular” que é
tão autônoma quanto as culturas mais antigas e podendo ser equiparada a cultura dominante,
letrada e elitista com a qual forma um par.

Finaliza falando que de um lado as culturas populares estão sempre inscritas numa ordem de
legitimidade cultural que lhes impõe uma representação da sua própria dependência. E que de
outro lado, a dominação simbólica ou não nunca é simétrica, pois uma cultura dominante não
se define por aquilo a que renuncia, enquanto os dominados sempre se confrontam com aquilo
que lhes é recusado.

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