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XXV SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Inovação E Sustentabilidade Na Gestão De Processos De Negócios
Bauru, SP, Brasil, 7 a 9 de novembro de 2018
1. Introdução
Um dos desafios mais importantes das empresas nas duas primeiras décadas do Século
XXI tem sido encontrar um modo de alinhamento possível entre, por um lado, a necessidade
de ser eficiente naquilo que se faz, aperfeiçoando seu modus operandi e seus produtos em
sintonia com o desejo do cliente, executando com eficiência e eficácia aquilo que
Govindarajan e Trimble (2010) denominaram de motor de desempenho e, por outro lado, a
capacidade de enxergar os desafios disruptivos postos no seu horizonte de planejamento, cuja
percepção e resposta pode significar a sobrevivência da empresa em um ambiente onde, cada
vez mais, a única certeza é a incerteza (NONAKA, 2008).
Já não é mais suficiente apenas concentrar esforços na cadeia produtiva que tem
interação com o cliente, criando rotinas e processos estruturados que suportem o core
business da empresa. Segundo Nonaka (2008), a vantagem competitiva duradoura, cada vez
mais, é o conhecimento, capaz de orientar a estratégia da empresa para além dos seus
negócios atuais. Mas quando se fala em conhecimento, está se falando em ao menos duas
orientações gerais que desde March (1991) têm sido chamadas de orientação explorer e
orientação exploiter.
Cada abordagem possui suas particularidades e orientação estratégica específica mas
ambas são necessárias para a sobrevivência equilibrada da organização em um mundo de
competição exacerbada. A orientação explorer, preparando a organização para a inovação
disruptiva, que pode ser, dependendo da circunstância, a diferença entre sobreviver durante
uma crise de paradigma ou desaparecer e a orientação exploiter, responsável, no final das
contas, por fazer rodar com eficiência o motor de desempenho da organização, produzindo o
lucro capaz de sustentar a vida da empresa, inclusive de manter investimentos para a própria
inovação (MARCH, 1991; GOVINDARAJAN e TRIMBLE, 2010; O´REILLY e
TUSHMAN, 2017).
Sem perder de vista a necessidade de se construir o alinhamento entre as duas
abordagens, o que constitui a chamada empresa ambidestra, o presente trabalho centrará o seu
foco sobre a dimensão exploiter, colocando em destaque a entrega de resultados através do
motor de desempenho de uma empresa do setor de vestuário masculino do Brasil, avaliando a
contribuição das características da orientação exploiter para o desenvolvimento dos produtos
por ela comercializados, desde a concepção das peças no início da cadeia de produção até que
as mesmas estejam disponíveis nos canais de venda da companhia. Esta análise é elaborada à
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empresa tenha sua estratégia baseada em tomadas de decisão orientadas de forma explorer, a
dimensão exploiter se faz necessária para que as novas habilidades sejam mantidas e,
principalmente, aprimoradas futuramente.
Alcançar o equilíbrio entre as duas orientações ou, em outros termos, conseguir um
alinhamento exploiter – explorer, tem sido objeto de atenção e esforços, tanto no mundo
acadêmico quanto no mundo da gestão da produção. Nesse sentido, tem sido exaltado o papel
da liderança como agente fundamental para o alinhamento, aliada à perspectiva educadora da
organização. A perspectiva acadêmica tem insistido em que as organizações devem capturar
continuamente novas informações e conhecimentos, fora ou dentro dela própria e,
simultaneamente, catalisa-los internamente com base no know-how de todos os seus
trabalhadores (SANTOS e MIRANDA, 2013; O´REILLY e TUSHMAN, 2017).
O’Reilly III e Tushman (2017) sugerem um framework a que denominam “fluxos de
inovação” para compreender a dinâmica da inovação a partir da mobilização, ora das
competências organizacionais, ora das oportunidades de mercado, conforme a Figura 1.
Novos
Quadrante 4 Quadrante 2
Mercados
Quadrante 1 Quadrante 3
Existentes
Existentes Novas
Competências Organizacionais
Segundo os autores, haveria, portanto, quatro categorias (quadrantes) nas quais uma
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empresa poderia competir. No primeiro quadrante, estão casos em que a organização utiliza
competências já dominadas por seu capital intelectual para oferecer novos produtos e serviços
a mercados já existentes. No segundo quadrante, observa-se um padrão de disrupção bem
definido em função de este ser a interseção da busca por novos conhecimentos com objetivos
de descoberta de novos mercados. Já no terceiro quadrante, menos disruptivo dentre todos,
estão incluídas situações em que a empresa faz uso de novas competências para, de forma
incremental, entregar produtos e serviços diferentes para o mesmo mercado ao qual já atende.
E, por fim, a quarta dimensão trata de um cenário em que a empresa faz uso do conhecimento
já existente para atingir mercados diferentes.
Um modelo de organização dos critérios de classificação das situações de inovação
das firmas tal qual se apresenta o fluxo de inovação é uma ferramenta importante para definir
manobras estratégicas e táticas do cotidiano das companhias e, dependendo das situações
analisadas, uma mesma empresa pode transitar entre os quadrantes em diferentes momentos
de seu ciclo de vida (O’REILLY III e TUSHMAN, 2017).
3. Metodologia
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Por outro lado, foram levantadas informações do processo, por meio de observação em
campo, realizada nos setores de Estilo, Compras, Planejamento, Centro de Distribuição,
Produção de Fotos e E-commerce. Em paralelo, foram também coletados dados provenientes
de pesquisa documental empírica em mídias sociais do próprio grupo estudado e de materiais
publicados em livros. Essa orientação seguiu a sugestão de Yin (2001), no sentido de que o
estudo de caso deve ter múltiplas fontes de evidências, a fim de ampliar a sua validade interna
e externa (YIN, 2001; GRAY, 2012).
Por último, o material gerado em todas as abordagens serviu de base para produzir
uma narrativa unificada do processo em que, simultaneamente, analisasse a presença e o grau
de importância da orientação exploiter na rotina da empresa e a classificasse em um dos
quadrantes do diagrama de fluxo da inovação.
4. Resultados e discussão
A maioria dos produtos que sobem para a plataforma de comércio eletrônico de Alfa
tem sua origem a partir do desenvolvimento de uma coleção de itens que ocorre duas vezes
por ano para as marcas de moda masculina dentro e fora do Brasil. Para tal, existe um
conjunto de profissionais que busca referências nacionais e internacionais de materiais com
base em um propósito sobre o qual se deseja abordar na coleção vigente. O propósito pode ser
um assunto em voga para o público-alvo da marca ou para clientes de novos mercados, um
tema que surge a partir da comunicação de players que são influentes no segmento, um
assunto que se dá por meio de experiências anteriores presenciadas pelos estilistas da
companhia ou um combinado desses fatores. Nesta etapa, é possível notar fortes indícios de
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capacidade absortiva em função das inovações às quais a marca precisa se propor a fazer, o
que caracteriza essas ações como sendo de orientação explorer.
A partir da definição do grupo de produtos que será sugerido para fazer parte da
coleção vigente, a etapa seguinte consiste no registro das especificidades de cada item em
fichas técnicas nas quais constam informações como, por exemplo, matérias-primas, cor do
produto e composição da vestimenta. Este momento é insumo para que ocorra a negociação
com fornecedores e estes produzam peças piloto para posterior aprovação. Os mostruários que
chegam são cadastrados pela equipe de compras na plataforma de visualização unificada de
produtos de toda a companhia. Aqui, nota-se, portanto, que o processo passa a adquirir traços
de orientação exploiter uma vez que há a necessidade de documentar informações singulares
de cada produto, explicitar o conhecimento em questão e é preciso que exista um padrão de
excelência nas atividades.
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ter, portanto, a informação de qual quantidade de cada produto da coleção fará parte de seus
respectivos portfólios. Posteriormente, o fluxo retorna à equipe de compras para que as
confecções sejam demandadas aos fornecedores. Neste recorte, nota-se necessidade de
utilização de capacidades transformadora e relativa e, novamente, a importância de haver
meios de comunicação internos para organizar o conhecimento existente, indício de perfil
exploiter do setor. Planilhas automatizadas e o sistema de visualização unificado de produtos
garantem que a comunicação não seja prejudicada.
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peso médio para cálculo do frete pelas transportadoras e categoria e subcategoria do item.
Estes dois últimos são referentes, respectivamente, ao número da coleção da qual a
mercadoria faz parte e à parte do corpo que aquela peça veste – a saber: camiseta, casaco,
bermuda, calça e outros. Esta etapa necessita de padronização de preenchimento e
alinhamento com o cadastro desses mesmos atributos para produtos de coleções anteriores
para que não haja divergência de informações. Um script que atua no banco de dados de
produtos gera esses atributos para cada peça. Aqui, é possível identificar que essas rotinas
pré-determinadas conferem orientação exploiter ao recorte analisado.
Em paralelo, por ser uma empresa que, como exposto anteriormente, comunica-se com
seu público alvo por meio de coleções de produtos, existe uma estratégia de campanha sendo
desenvolvida e os itens que estarão no site para serem comercializados precisam estar no
padrão de fotos que esta variável inerente ao segmento de moda masculina determina. Para
tal, dois formatos de fotografia são solicitados à equipe de fotos, sendo eles um formato de
campanha, para compor os principais banners de comunicação, e um de exposição produto,
com foco no layout das vitrines do site. Toda a subjetividade da qual dispõe a equipe
responsável por pensar a campanha e o conhecimento tácito inerente a esse tipo de expertise
são determinantes para caracterizar esta etapa como sendo parcialmente explorer. Além disso,
para orientar a equipe de produção de fotos na etapa subsequente, a equipe de criação de arte
do e-commerce busca referências externas para ilustrar a mensagem que se deseja passar com
a campanha da coleção a ser vendida, o que faz com que seja trabalhada a capacidade
absortiva deste braço da organização.
Por fim, após cadastrados todos os atributos e tendo como única pendência apenas
gerar as imagens a serem utilizadas, a equipe de fotos da empresa Alfa solicita o recolhimento
de um item em estoque no centro de distribuição de cada produto e leva, em lotes, todos para
um estúdio de fotografia. Lá, os profissionais responsáveis adotam direcionamentos diferentes
para fotos com formatos de campanha e de produto. As fotos de campanha - realizadas com
base no briefing de referências proposto pela equipe de criação de arte do e-commerce -
podem apresentar diferentes interpretações por parte da quem produzirá as fotografias. Já no
que diz respeito às fotos de produto – que irão para as vitrines do site – há um padrão de
número de imagens e de posicionamento do modelo a ser fotografado que precisam ser
seguidos para todos os produtos. Nota-se, aqui, a utilização da capacidade transformadora
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Novos
Alfa
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Mercados
Quadrante 1 Quadrante 3
Existentes
Existentes Novas
Competências Organizacionais
5. Conclusão
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mesmo setor de Alfa e o segundo trataria de inverter esse foco, porém ainda sob a perspectiva
da realidade da empresa, investindo esforços em avaliar a demanda por inovação e
exploration do conhecimento que existe no ambiente externo à organização que se dá por
meio do elevado grau de exigência de seus clientes.
Referências
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YIN, R. K. Estudo de caso: Planejamento e Métodos. 2ª edição, Porto Alegre: Bookman, 2001.
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