Sie sind auf Seite 1von 5

Endereço da página:

https://novaescola.org.br/conteudo/856/a-arte-explica-
a-vida

Publicado em NOVA ESCOLA 01 de Abril | 2001

Prática Pedagógica

A arte explica a vida


A coordenadora de educação da 25ª Bienal diz que o
ensino da disciplina deve acabar com o certo e o errado
Roberta Bencini

Até o começo de junho, pinturas,


esculturas e instalações de artistas
plásticos de todo o mundo estarão
expostas na 25a Bienal de São Paulo. É
uma excelente oportunidade para os
professores mostrarem a seus alunos as
tendências da Arte Contemporânea. Mas
também é uma chance de discutir o
ensino de Arte no país e de fazer uma
revisão nos métodos de trabalho. Para
ajudar nessa reflexão, a repórter Roberta
Bencini entrevistou a professora do
Instituto de Artes da Universidade
"Mesmo morando numa cidadezinha do
Estadual Paulista (Unesp) Mirian Celeste
interior, quem tem televisão já está
conectado a outras realidades". Martins. Doutora em Arte, ela trabalha
Foto: Marcelo Min com formação de educadores e coordena
o grupo Ação Educativa da Bienal, que
tem como objetivo tornar a exposição
produtiva para os professores e alunos interessados. Aquarelista nas (poucas)
horas vagas e pesquisadora em tempo integral, ela afirma: "Não sei falar sem
ter uma imagem para dar suporte às idéias".

NOVA ESCOLA: O que a Ação Educativa oferece aos professores durante a


Bienal de São Paulo?
Mirian Celeste Martins: Nosso trabalho é ajudar os professores a se preparar
para monitorar as visitas com os alunos. Marcamos encontros prévios para
explicar o tema central da exposição e traçar um itinerário básico, adequado
às intenções de cada educador. Como apoio, temos uma sala para pesquisa,
com monitores treinados e material sobre tudo o que está exposto.
Qual a diferença entre esta Bienal e as anteriores?
Mirian: Este ano, a mostra assumiu de vez que é o espaço da arte
contemporânea e aboliu o espaço museológico. Os visitantes ficavam muito
tempo olhando obras conhecidas e não davam a devida atenção às novas
tendências. E sempre foi objetivo da Bienal divulgar as vanguardas.

Por que existe resistência em relação à arte contemporânea?


Mirian: Porque ela é mais difícil de ser entendida, perturba, provoca e incita o
espectador.

Mas essa sempre foi a intenção dos precursores das novas ideias, não?
Mirian: Com certeza! Todos os movimentos de vanguarda são contrários às
normas estabelecidas. O impressionismo se opôs ao academicismo. Na
época, não era considerado arte, mas borrões jogados na tela. A sociedade
ria e desprezava quem aderia ao movimento. Acho que se dá algo
semelhante com os artistas contemporâneos. Hoje, temos rupturas mais
abruptas. Não podemos ficar parados no tempo e ter como referência a
produção de cem anos atrás. Para entender uma obra contemporânea é
preciso conhecer as pesquisas e as idéias que surgiram nas últimas décadas.

Que temas o professor pode explorar com seus alunos na Bienal?


Mirian: O tema da mostra é a metrópole. Temos cinco artistas para cada uma
das onze cidades representadas e apresentamos também o espaço urbano
utópico. O professor pode refletir sobre o sentido das cidades e o motivo de
elas serem tão diferentes. O tema interessa a Geografia, Língua Portuguesa e
Ciências Naturais, porque permite analisar os trabalhos relativos ao ser
humano em situações de exclusão, de violência. Outra possibilidade é induzir
os alunos não somente a encontrar respostas, mas a procurar novos jeitos de
perguntar.

Isso vale também para quem leciona fora dos grandes centros urbanos?
Mirian: Mesmo morando numa cidadezinha do interior, quem tem televisão já
está conectado a outras realidades. Esse professor, mesmo que não tenha
como visitar a mostra, pode obter informações sobre ela pela imprensa e
refletir com seus alunos sobre o lugar em que vive, a escola, a praça.

Qual é, na sua opinião, o papel da arte no mundo de hoje?


Mirian: Ela sempre teve um sentido transformador, desde a pré-história. O
homem busca algo a mais. Se vivemos num mundo complexo, a arte não
pode ser diferente, pois dá um sentido à vida. Ela captura os dramas
humanos e sociais, expressa-os numa obra e os devolve para essa mesma
sociedade, que muitas vezes não aceita essa interpretação.

Qual é a principal tendência da arte contemporânea?


Mirian: Existe hoje, na arte em geral, uma tendência intimista, de volta às
memórias. O dramaturgo alemão Bertolt Brecht dizia que para falar do
universal é preciso tratar da aldeia. Esse caráter autobiográfico aparece nas
artes plásticas de maneira forte, com visões políticas, sensuais e étnicas.

Diante disso, qual é a finalidade da disciplina de Arte?


Mirian: Mais do que falar de conteúdo, as aulas de Arte devem fazer com que
o aluno estabeleça relações entre o mundo e a maneira como o homem o
percebe ao longo do tempo. É interessante mostrar obras produzidas em
diferentes períodos, mas que tratem do mesmo assunto. Lidar com arte é
construir um olhar cada vez mais sensível e crítico para perceber como os
elementos estéticos trazem significados diversos. Minha pesquisa na
universidade procura justamente mostrar como é possível, numa exposição,
oferecer ao visitante uma percepção bem maior do que a que ele veio ver.
Desvincular o "eu não entendo" do "eu não gosto". Ele precisa, para isso,
encontrar significados.

Qual o perfil ideal do bom professor?


Mirian: Acima de tudo, ele precisa ser pesquisador de arte, de história, de
sociologia, de pedagogia. Foi-se o tempo em que a escola exigia dele ajuda
para fazer bandeirinhas na festa junina e produzir cartazes. Há outros
espaços de valor para esse professor. Ele deve conhecer seus alunos e buscar
elementos significativos para que eles encontrem novas formas de se
expressar, contar suas histórias, mágoas, alegrias e tristezas. Assim,
abriremos espaço para um ensino mais humano. Sei que é difícil ter essa
percepção com quarenta crianças em sala de aula. Mas acredito que,
enquanto não mudar essa estrutura, é preciso inventar outras regras que nos
permitam chegar aos mesmos objetivos.

Como o professor pode adquirir essas competências?


Mirian: Ele tem de ser cigarra e formiga ao mesmo tempo. Fazer o trabalho
pesado, mas também devanear, trazer à tona o imaginário, a ousadia, sair
pelo mundo atrás de coisas diferentes e respeitar o tempo do aluno.

Até que ponto o professor deve interferir na produção da turma?


Mirian: Até um tempo atrás, o ensino era pautado no laissez-faire, no deixar
fazer. O trabalho do aluno era exposto e isso era suficiente. Mas toda
experiência de criação deve ser objeto de reflexão, retomando as idéias ali
colocadas, buscando novos modos de expressar a mesma coisa. Só assim a
produção da criança se desenvolve. O fazer não é o centro de tudo. A leitura,
a apreciação, a percepção de contextos e conceitos são pontos prioritários no
ensino de Arte.

O professor deve intervir para apontar erros?


Mirian: Na produção artística, não existe bonito, feio, certo, errado, melhor ou
pior. O papel do professor é mostrar as diversas possibilidades em relação ao
desenho, às cores, à distribuição dos elementos no suporte e assim por
diante.

Quando o professor manda o aluno copiar uma obra de arte ele está reprimindo a
criação da criança?

Mirian: Não, mas essa atividade pode ser


perigosa. Uma cópia pode ser adequada
quando se quer conhecer alguma técnica
ou aprender coisas especificas. A arte
contemporânea usa e abusa da
apropriação de outras imagens, mas de
uma forma diferente. Fazer uma releitura
é extremamente útil, desde que seja
exigida uma percepção diferente. Levar
uma obra de arte para a sala de aula
significa ampliar as informações sobre o
conteúdo estudado. Não é a biografia do
"A arte é o campo da percepção, da
artista que interessa, mas a pesquisa que
imaginação, do além do real. ele fazia, o processo de criação, o que ele
Descobrir o que está por trás de
estava procurando discutir. A
uma obra é instigante".
Foto: Marcelo Min comparação com outros artistas, de
tendências diversas, não deve ser feita
para fazer apologia de uma corrente,
mas para o aluno compreender diferentes fragmentos de um contexto. A arte
não é o espelho da realidade. É o campo da percepção, da imaginação, de
tudo o que é além do real. Descobrir o que está por trás de uma obra é
enigmático e instigante.

O que o professor deve fazer para não "engessar" o aluno?


Mirian: O educador deve expor o objetivo da apreciação e deixar o aluno dar
sua opinião sobre a obra, na perspectiva que ela será estudada. A obra de
arte só pode ser usada para a criança ampliar suas referências sobre os
métodos de produção artística.

As novas linguagens da comunicação visual, como a fotografia e as artes


gráficas, já estão sendo bem trabalhadas em sala de aula?
Mirian: Ainda não. Nem a mídia eletrônica, que é mais familiar às crianças, é
bem explorada. Muita pesquisa ainda há por fazer sobre esses meios. Na
Bienal, temos muitas obras que lidam com novas linguagens. Seria uma boa
oportunidade de o professor ampliar sua visão e procurar fugir um pouco do
trabalho com papel e cores.

Em geral, o material é caro. Existem alternativas?


Mirian: Com certeza. Se a intenção é trabalhar com tridimensionalidade, é
possível pegar uma folha de papel e transformá-la em algo que pare em pé.
Pronto. A ausência de bons materiais não pode destruir a possibilidade de
um trabalho. Se não tenho giz, uso cola branca e pigmentos de tinta.

O que uma criança perde quando não tem a chance de aprender o que é
comunicação visual?
Mirian: Os professores perdem excelentes oportunidades de explorar esse
assunto. Se a criança está interessada em gibis, cabe a ele discutir a
linguagem dos quadrinhos. As imagens são idiomas universais. Por isso,
ensinar a lê-las é uma maneira de alfabetizar. Ignorar a comunicação visual é
uma forma de deixar a criança excluída das manifestações artísticas da
humanidade.

Quer saber mais?

A Educação do Olhar, Analice Dutra Pillar, 208 págs., Ed. Mediação, disponível apenas para consulta

A Língua do Mundo Profetizar, Fluir e Conhecer Arte, Mirian Celeste Martins, 190 págs., Ed. FTD, tel. (0_ _11)
3611-3055, 34,40 reaisInternet: www.bienalsaopaulo.org.br

Das könnte Ihnen auch gefallen