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Direito Penal III Marcelo Soldi

DIREITO PENAL III


CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO E A FÉ PÚBLICA
I
Conceitos básicos da Teoria Geral

- conduta (dolo/culpa)
Fato típico - resultado
-nexo causal
- tipicidade

Fato antijurídico – excludentes de ilicitude


(permissivos legais)
CRIMES
Fato culpável – se há a culpabilidade – quando
ausentes os excludentes de culpabilidade.
 inimputabilidade
 quando não há potencial
conhecimento da ilicitude
 quando não for exigida conduta
diferente.

O tipo penal é preceito legal objetivo e abstrato que delimita de forma primária a conduta proibida e
circunstâncias, ligando-o a um preceito secundário, com pena a vetor de dosimetria. Ele é formado da seguinte
forma:

 Preceito primário: TIPO PENAL CONDUTA ELEMENTARES CIRCUNSTÂNCIAS


 Preceito secundário: TIPO PENAL PENA VETOR DE DOSIMETRIA

Exemplo:

 Art. 121, caput: MATAR ALGUÉM Tipos penais distintos, apesar do Art.
(conduta) (elementares) 121 tutelar o mesmo objeto. O primeiro
 Art. 121, § 2º: MATAR ALGUÉM COM FOGO é um homicídio simples, enquanto que o
(conduta) (elementares) (circunstâncias)
segundo é um homicídio qualificado.

A circunstância é a particularidade da conduta que constitui ou modifica o tipo penal ou que pela
relevância sócio-jurídica na norma e no motivo de seu cometimento. Há circunstâncias agravantes1 quando
não constituem nova natureza e nem qualificam.

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As agravantes são as circunstâncias que, quando não constituírem ou qualificarem o crime, determinam a majoração da pena
base, dentro dos limites previstos pelo tipo penal, conforme o juiz entenda como necessário e suficiente para a reprovação e
prevenção do crime. As qualificadoras são as circunstâncias que, presentes no fato criminoso, cominam outra pena mais severa
do que aquela prevista no tipo simples.
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Qualificadora é a circunstância legal específica, acrescida ao preceito primário do tipo penal


originário, e que, portanto, cria novo tipo penal, gerando preceito secundário, com modificação da pena ou do
vetor de dosimetria da pena2, face maior carga ofensiva no cometimento da conduta proibida. Tem que estar
na lei e no tipo penal.

Elementar é uma circunstância legal específica que constitui nova natureza para a conduta proibida e,
portanto, integra o tipo penal, sem a qual desclassifica ou torna a conduta atípica. Exemplo: Art. 157 – roubo:
subtrair coisa alheia móvel com violência. A violência é a elementar; sem ela, o crime constitui nova natureza,
tornando-se furto (Art. 155 – subtrair coisa alheia móvel).

Tipos de pena (Art. 32)


- Multa
- Pena - Privativas de direito - Detenção
- Privativas de liberdade - Prisão simples
Sanção penal
- Medida de segurança - Reclusão
- Medida sócio educativa

Prisão preventiva Fiança DP Escuta telefônica Regime


Reclusão SIM NÃO SIM Aberto, semiaberto ou fechado
Detenção NÃO SIM NÃO Semiaberto ou fechado

Pode haver prisão em flagrante nas contravenções penais – mesmo a pena sendo uma multa, os ilícios
penais são geralmente graves por si só e pode-se cercear a liberdade de ir e vir da pessoa.

Tentativa
 Crime unissubsistente: conduta = resultado (crime formal). É ato único – não cabe tentativa.
 Crime plurissubsistente: conduta ≠ resultado (crime material). É ato fracionado – cabe tentativa.

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Vetor de dosimetria é o parâmetro que o juiz tem para determinar uma pena, estipulado pelo próprio Código Penal. Ex: reclusão
de 2 a 4 anos. Esse intervalo 2-4 anos é o vetor de dosimetria. Na hora de definir a pena aplicável ao caso concreto, o juiz estará
fazendo a dosimetria da pena, em que fará a análise pelo sistema trifásico.
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II
Crimes contra o patrimônio
Patrimônio é toda coisa material aferível em quantidade e valor pecuniário. O patrimônio é o objeto
tutelado de uma série de crimes. O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa (é, portanto, um crime
comum), exceto nos casos em que o agente deve ser, necessariamente, funcionário público (crime próprio,
nesse caso – exemplo: funcionário público manda terceiro não-funcionário chantagear a pessoa. É crime de
corrupção para ambos, pois houve a comunicação da elementar).

Furto (Art. 155)


Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de
reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
Furto qualificado
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 5º - A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a subtração for de veículo automotor que venha
a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.

Crime: Furto O núcleo do tipo do furto é o verbo “subtrair”, que


Objeto tutelado: Patrimônio abrange duas hipóteses.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
(crime comum)
 A primeira ocorre quando o agente, sem
Sujeito passivo: Qualquer pessoa
(crime comum) autorização, apodera-se de bem alheio e o leva embora,
Tipo objetivo: Subtrair – a consu-
retirando-o da esfera de vigilância da vítima.
mação leva à posse
mansa e pacífica.  A segunda hipótese se dá quando a vítima entrega o
Tipo subjetivo: Dolo direto
Elementar: Coisa alheia móvel bem ao agente mas não o autoriza a deixar o local com o
Tentativa: Plurissubsistente objeto, mas ele consegue sair dali mesmo assim levando a
Ação Penal: Pública condiciona-
da, disponível (para coisa alheia (ex: biblioteca).
suspensão penal)
Pena: Reclusão + multa Pouco importa para a caracterização do furto que a
Vetor de dosimetria:1-4 anos (comum) vítima presencie ou não a subtração. O furto somente dará
1-4 anos + 1/3
(noturno) lugar ao roubo quando existir emprego de violência, grave
2-8 anos (qualificado)
ameaça ou qualquer outro recurso que reduza a vítima à
3-8 anos (veículo p/
fora do Estado ou incapacidade de resistência.
exterior)

Os bens móveis são os objetos materiais do crime,

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pois apenas eles podem ser subtraídos3. Os animais e semoventes (gado), quando tiverem dono, também
podem ser objeto de furto. É também possível a subtração de terra ou areia, e de árvores. O Código Penal
equipara à coisa móvel a energia elétrica, bem como qualquer outra forma de energia que tenha valor
econômico.

Para que uma coisa seja considerada alheia, é necessário que tenha dono, possuidor ou detentor, ou
seja, que não pertença àquele que está apoderando-se do objeto. Se por erro plenamente justificado pelas
circunstâncias o agente supõe que o objeto lhe pertence, não responderá pelo furto em face do erro de tipo.

Coisas que pertencem a todos, chamadas de “coisas de uso comum”, como ar e água dos rios, somente
podem ser objeto de furto quando destacadas do local de origem e desde que estejam sendo exploradas por
alguém, como no caso da água encanada, do gás liquefeito, etc. Além disso, o desvio ou represamento, em
proveito próprio ou alheio, de águas correntes alheias constitui crime de usurpação.

As coisas que nunca tiveram dono, ou as coisas abandonadas, não podem ser objeto de furto. As coisas
perdidas tem dono, mas quem as encontrar não comete furto, mas sim crime de apropriação de coisa achada.

A subtração de cadáver humano apenas será crime de furto, e não de subtração de cadáver ou parte
dele, se o corpo tem dono, ex: múmias de um museu, ou cadáver de uma faculdade de medicina. Em relação
aos objetos enterrados com o cadáver, como roubas, sapatos, anéis, etc, existem duas correntes, uma defende
que trata-se de crime de furto porque esses bens pertencem aos herdeiros, e a outra entende que é apenas
crime de violação de supultura.

Furto de uso

O agente subtrai o objeto apenas para usá-lo momentaneamente e depois o devolve. Para a sua
configuração, requer que tal intenção esteja clara desde o início. O uso deve ser momentâneo, isto é, por curto
espaço de tempo (algumas horas ou poucos dias), se não é crime. Não é admitido se a intenção é uso para fim
ilícito.

Furto noturno

§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.

Trata-se de uma causa de aumento de pena que somente se aplica ao furto simples. Repouso noturno é
o período em que as pessoas de uma certa localidade descansam, dormem, não bastando que o fato ocorra a
noite – tal análise é, portanto, feita de acordo com as características da região.

3
Os bens imóveis não podem ser furtados, pois eles não podem ser levados de um lugar para o outro. Mas alguns bens que o Código
Civil considera como imóveis, como navios e aeronaves, no âmbito do Direito Penal, são considerados móveis, e, portanto, podem
ser objetos de furto.
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É majoritário o entendimento de que o aumento não incide quando o crime ocorre em locais que não
são próprios para o repouso noturno, como em estabelecimentos comerciais, bares, restaurantes, na rua, em
ônibus, etc. Na prática, o aumento só incide quando o furto ocorre em casa ou em algum de seus
compartimentos externos, ou em estabelecimento comercial que esteja fechado durante a madrugada.

Furto privilegiado

§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de
reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

Para o furto privilegiado, o agente deve ser primário4 (não é reincidente, portanto). Além disso, a coisa
subtraída deve ser de pequeno valor. É considerada como tal aquela que não excede a um salário mínimo.

Com o reconhecimento do privilégio, o magistrado substitui a pena de reclusão por detenção, diminua
a pena privativa de liberdade de um a dois terços, ou aplique somente a pena de multa.

Furto qualificado

§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:


I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

§ 5º - A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a subtração for de veículo automotor que
venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.

É qualificado o furto quando há o arrombamento de trincos, portas, fechaduras ou cofres, a destruição


de janelas, etc., ou seja, o obstáculo deve ser danificado. É também quando a vítima deposite uma especial
confiança no agente (amizade, parentesco, relações profissionais, etc – a mera relação empregatícia, por si só,
não configura essa especial situação de confiança) e que dela se aproveite para executar a subtração), ou
quando há fraude – qualquer artimanha, qualquer meio enganoso usado pelo agente para viabilizar uma
situação.

É também quando o furto se dá por escalada (utilização de via anormal para ingressar no local onde o
furto será praticado, como cordas ou escadas, ou escavação de túnel), ou por destreza (habilidade física ou
manual que permite ao agente executar uma subtração sem que a vítima perceba que está sendo despoijada de
seus bens.

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Após o transcurso de prazo de cinco anos, o agente que havia cometido um crime volta a ser primário (Art. 64, I).
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Considera-se chave falsa5 a imitação da verdadeira, obtida de forma clandestina, ou qualquer outro
instrumento, com ou sem formato de chave, capaz de abrir a fechadura sem arromba-la. Nesses casos, há
qualificação do furto.

O furto é também qualificado se há concurso de duas ou mais pessoas, ainda que um dos envolvidos
seja menor ou apenas um deles tenha sido identificado em razão da fuga dos demais.

Por fim, se um veículo é furtado e transportado para outro Estado ou para exterior, é furto qualificado.

Furto de coisa comum (Art. 156)

Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a
detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem
direito o agente.

Crime: Furto de coisa Trata-se de infração penal que possui basicamente


comum as mesmas características do furto. É um crime próprio,
Objeto tutelado: Patrimônio
Sujeito ativo: Próprio (condômino, pois somente pode ser cometido pelo condômino, o
coerdeiro ou sócio) coerdeiro ou o sócio.
Sujeito passivo: Proprietário
Tipo objetivo: Subtrair – a consu- O sujeito passivo será o outro condômino, coerdeiro
mação leva à posse
mansa e pacífica. ou sócio, ou ainda qualquer terceira pessoa que
Tipo subjetivo: Dolo direto legitimamente detenha a coisa.
Elementar: Coisa comum
Tentativa: Plurissubsistente
Ação Penal: Pública condiciona- Não será punível se houve subtração de coisa
da, disponível (para fungível6 cujo valor não seja superior à quota que o agente
suspensão penal)
Pena: Detenção ou multa tem direito.
Vetor de dosimetria: 6 m. – 2 anos

Roubo (Art. 157)

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a
pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa
ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para
terceiro.
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;

5
A utilização de chave verdadeira, obtida mediante fraude, não caracteriza a qualificadora do emprego de chave falsa e sim a
qualificadora referente à fraude.
6
Coisa fungível é aquela que pode ser substituída por outra da mesma espécie, quantidade e qualidade.
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II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;


III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o
exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da
multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.

O roubo possui os mesmos requisitos do furto, mas


Crime: Roubo
Objeto tutelado: Patrimônio, liberdade constitui infração penal bem mais grave, uma vez que, para
individual, integrida-
a efetivação da subtração, deve ter havido:
de corporal
Sujeito ativo: Comum
Sujeito passivo: Comum  Violência: emprego de qualquer desforço físico
Tipo objetivo: Subtrair sobre a vítima a fim de possibilitar a subtração (socos,
Tipo subjetivo: Dolo direto
Elementar: Coisa alheia móvel, pontapés, facada, disparo de arma de fogo, etc). Deve ser
violência ou grave aplicada contra o proprietário da coisa.
ameaça
Tentativa: Plurissubsistente  Grave ameaça: é a promessa de um mal grave e
Ação Penal: Pública incondicio- iminente. A simulação de arma e a utilização de arma de
nada, indisponível
Pena: Reclusão + multa brinquedo constituem grave ameaça porque tem poder
Vetor de dosimetria: 4-10 anos (comum) intimidatório.
7-15 anos (com lesão
grave)  Qualquer outro meio que reduza a vitima à
20-30 anos (latrocínio)
impossibilidade de resistência: é necessário que o agente
empregue um recurso qualquer sobre a vítima que retire desta a capacidade de resistência.

Roubo impróprio

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa
ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para
terceiro.

Ocorre quando a violência ou grave ameaça se dá após a subtração do bem. O agente quer apenas
praticar um furto, e já se tendo apoderado do bem, emprega violência ou grave ameaça para garantir a sua
impunidade.

Causas de aumento de pena

§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:


I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o
exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.

A questão do uso da arma de brinquedo trouxe duas correntes: a primeira entende que a arma qualifica
o roubo, desde que a vítima se sinta intimidada por ela. Por outro lado, há uma corrente que diz que não há
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aumento de pena pelo fato de se tratar de um brinquedo e não de uma arma. A jurisprudência passou a
entender que o uso de arma de brinquedo não autoriza o aumento da pena. Se o roubo for praticado por duas
pessoas e só uma utilizar a arma, o aumento valerá para ambas.

Roubo qualificado (latrocínio)

§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da
multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.

As causas de aumento de pena não incidem sobre as formas qualificadas, que possuem pena em
abstrato já bastante majorada. O latrocínio (roubo que resulta morte), consumado ou tentado, é considerado
crime hediondo, enquanto que o roubo qualificado pelas lesões corporais não. Independe de dolo ou culpa (se
doloso, porém, o dolo será levado em conta na dosimetria da pena).

O agente que efetua disparos querendo matar a vítima, mas ela não morre, vindo, porém, a sofrer
sequelas consideradas graves, responderá por tentativa de latrocínio.

Extorsão (Art. 158)

Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou
para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena
de um terço até metade.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária
para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da
multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o,
respectivamente
A conduta típica é constranger, ou seja, obrigar,
Crime: Extorsão
Objeto tutelado: Patrimônio coagir alguém a fazer algo ou deixar de fazer alguma coisa.
Sujeito ativo: Comum
Um exemplo é o agente que telefona para a vítima,
Sujeito passivo: Comum
Tipo objetivo: Constranger simulando estar em poder do filho dela, e exige a entrega de
Tipo subjetivo: Dolo indireto
dinheiro. Deve-se haver o emprego de violência ou grave
Elementar: Obter indevida
vantagem econômica ameaça, e o crime só existe se o agente almejar obter
Tentativa: Plurissubsistente
indevida vantagem econômica.
Ação Penal: Pública incondicio-
nada, indisponível
Pena: Reclusão + multa O crime de extorsão consuma-se independentemente
Vetor de dosimetria: 4-10 anos (comum) do recebimento da vantagem indevida.
6-12 anos (sequestro
relâmpago)

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Causas de aumento da pena

§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena
de um terço até metade.

A pena é aumentada de um terço até a metade se houve o emprego da arma ou concurso de pessoas.

Extorsão qualificada

§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.

As qualificadoras somente se aplicam nas hipóteses em que a extorsão é cometida com emprego de
violência, seguindo as mesmas regras já mencionadas nos casos de roubo qualificado pelas lesões corporais ou
latrocínio.

Sequestro relâmpago

§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária


para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da
multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o,
respectivamente

Sequestro relâmpago é uma denominação utilizada para os casos em que a conduta consiste em
capturar a vítima, apossar-se de seu cartão bancário e, em seguida, exigir, mediante grave ameaça, o
fornecimento da senha, com a qual os bandidos fazem saques da conta da vítima.

O delito diferencia-se da extorsão mediante sequestro, porque, nesta, o resgate é exigido de outras
pessoas (familiares em geral), enquanto no sequestro relâmpago não há essa exigência a terceiros.

Se o agente, além de sacar dinheiro no caixa eletrônico ou de fazer compras com o cartão bancário da
vítima, subtrair o dinheiro de sua carteira ou outros pertences (veículo, telefone, relógio), responderá também
por crime de roubo em concurso material.

Extorsão mediante sequestro (Art. 159)

Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como
condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
§ 1o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 (dezoito) ou
maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a
libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

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Crime: Extorsão mediante Todas as formas de extorsão mediante sequestro


sequestro tem caráter hediondo. Sequestrar alguém significa privá-
Objeto tutelado: Patrimônio, liberdade
individual lo de sua liberdade, impedir a sua comunicação, e a vítima
Sujeito ativo: Comum deve ser um ser humano.
Sujeito passivo: Comum
Tipo objetivo: Sequestrar
Para que ocorra a consumação, é necessário que a
Tipo subjetivo: Dolo indireto
Elementar: Obter indevida vítima permaneça em poder dos agentes por tempo
vantagem econômica
juridicamente relevante.
Tentativa: Plurissubsistente
Ação Penal: Pública incondicio-
nada, indisponível Formas qualificadas
Pena: Reclusão
Vetor de dosimetria:8-15 anos (comum) § 1o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o
seqüestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos,
12-20 anos (§1º)
ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
16-24 anos (lesão § 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
grave) § 3º - Se resulta a morte:
24-30 anos (morte)
O período de 24 horas é contado desde o momento do
sequestro até a libertação da vítima (ainda que o resgate tenha sido pago antes). Se o crime for cometido por
quadrilha ou bando (que pressupõe uma união permanente de pelo menos 4 pessoas com o fim de cometer
crimes), será qualificado.

O crime também é qualificado se o resultado for lesão corporal grave ou, ainda, a morte da vítima
sequestrada. Se a morte ou lesão forem causadas por caso fortuito ou culpa de terceiros, não se aplicam as
qualificadoras. O reconhecimento de uma qualificadora mais grave automaticamente afasta a aplicação das
penas menos graves.

Extorsão indireta (Art. 160)

Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que
pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

O agente impõe a entrada de documento que possa dar causa a processo penal como condição da
entrega de dinheiro pela vítima. Deve haver a intenção do agente de garantir ameaçadoramente o pagamento
da dívida.

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Dano (Art. 163)

Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:


Crime: Dano Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Objeto tutelado: Patrimônio Dano qualificado
Sujeito ativo: Comum Parágrafo único - Se o crime é cometido:
Sujeito passivo: Comum I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
Tipo objetivo: Destruir, inutilizar, II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato
não constitui crime mais grave
deteriorar III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa
Tipo subjetivo: Dolo direto concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia
Elementar: Coisa alheia mista;
Tentativa: Plurissubsistente IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a
Ação Penal: Pública incondicio- vítima:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena
nada, disponível correspondente à violência.
Pena: Detenção ou multa
Vetor de dosimetria: 1-6 meses Para a sua configuração, não é necessário que o
3 m. – 3 anos (mais
agente vise a obtenção do lucro.
multa e pena
correspondente à
violência) (qualificado)  Destruir: o objeto atingido deixa de existir em
sua individualidade, é eliminado, extinto.
 Inutilizar: o objeto continua existindo, mas sem poder ser utilizado para a finalidade a que se
destinava.
 Deteriorar: fórmula genérica que abrange qualquer outra forma de dano que não esteja englobada
pelas hipóteses acima.
Dano qualificado

Parágrafo único - Se o crime é cometido:


I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave
III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou
sociedade de economia mista;
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

O dano é qualificado se for aplicado com violência ou grave ameaça, se houver emprego de substância
inflamável ou explosiva, se contra bens públicos, por motivo egoístico ou se houver prejuízo patrimonial
considerável à vítima.

Apropriação indébita (Art. 168)

Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Aumento de pena
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário;
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário
judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.

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A apropriação indébita é um crime que se


Crime: Apropriação indébita
Objeto tutelado: Patrimônio caracteriza por uma situação de quebra de confiança, uma
Sujeito ativo: Comum vez que a vítima espontaneamente entrega um objeto ao
Sujeito passivo: Comum
Tipo objetivo: Apropriar agente, e este passa a comportar-se como dono. O agente
Tipo subjetivo: Dolo indireto que recebe o bem deve estar de boa-fé – se já receber com
Elementar: Coisa alheia móvel
Tentativa: Plurissubsistente intenção de apoderar-se dele, comete crime de estelionato.
Ação Penal: Pública incondicio-
nada, disponível Causas de aumento da pena
Pena: Reclusão + multa
Vetor de dosimetria: 1-4 anos § 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a
3 m. – 3 anos (mais coisa:
multa e pena I - em depósito necessário;
correspondente à II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante,
testamenteiro ou depositário judicial;
violência) (qualificado) III - em razão de ofício, emprego ou profissão.

O depósito necessário pode ser:

 Legal: é aquele que decorre de expressa disposição legal


 Miserável: é o que se efetua por ocasião de alguma calamidade, como incêndio, inundação, saque, etc.
 Por equiparação: é o referente às bagagens dos viajantes, hóspedes, nas hospedarias, hotéis ou
pensões onde eles estiverem. A bagagem deve estar sob responsabilidade do hotel.

No caso de depósito legal, como o agente está exercendo função pública, comete o crime de
peculato, que é mais grave. Assim, o disposto no inciso I somente terá aplicação nas hipóteses de depósito
necessário miserável ou por equiparação.

Emprego é a prestação do serviço com subordinação e dependência, que podem não existir no ofício ou profissão.
Ofício é a ocupação manual ou mecânica que supõe certo grau de habilidade e que é útil ou necessária à sociedade. A
profissão caracteriza-se pela inexistência de qualquer vinculação hierárquica e pelo exército predominantemente técnico
e intelectual no desempenho das atividades.

Estelionato (Art. 171)


Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o
disposto no art. 155, § 2º.

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Direito Penal III Marcelo Soldi

Crime: Estelionato O estelionato é um crime que se caracteriza pelo


Objeto tutelado: Patrimônio
Sujeito ativo: Comum emprego de fraude, uma vez que o agente, valendo-se de
Sujeito passivo: Comum alguma artimanha, consegue enganar a vítima e convencê-la
Tipo objetivo: Obter
Tipo subjetivo: Dolo específico a entregar-lhe algum pertence, e, na sequência, locupleta-se
Elementar: Vantagem ilícita ou ilicitamente com tal objeto.
prejuízo alheio
Tentativa: Plurissubsistente
Ao iniciar a execução do estelionado, o agente deve,
Ação Penal: Pública incondicio-
nada, disponível em um primeiro momento, empregar artifício, ardil ou
Pena: Reclusão + multa
qualquer outra fraude.
Vetor de dosimetria: 1-5 anos

 Artifício: é a utilização de algum aparato ou objeto para enganar a vítima (disfarce, efeitos especiais,
documentos falsos, etc).
 Ardil: é a conversa enganosa.

O estelionato é um crime material, que somente se consuma no instante em que o agente efetivamente
consegue obter a vantagem ilícita por ele visada.

Se o agente se aproveita da inexperiência de pessoa menor de 18 anos ou alienada mental para induzi-
la a praticar ato suscetível de provocar-lhe prejuízo, pratica o crime de abuso de incapazes.

A falsificação de documento público absorve o estelionato, uma vez que possui pena maior. Já a
falsificação de documento simples fica absorvida pelo estelionato, por tratar-se de crime-meio.

Forma privilegiada

§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o
disposto no art. 155, § 2º.

As consequências do privilégio são as mesmas do furto privilegiado. O agente deve ser primário e o
prejuízo da vítima deve ser de pequeno valor (inferior a um salário mínimo). Para se analisar a existência do
pequeno valor, deve-se levar em conta o momento consumativo do crime

Outras modalidades de estelionato

§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:

Disposição de coisa alheia como própria


I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria;

Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria

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Direito Penal III Marcelo Soldi

II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou


litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando
sobre qualquer dessas circunstâncias;

Defraudação de penhor
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia
pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;

Fraude na entrega de coisa


IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém;

Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro


V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava
as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;

Fraude no pagamento por meio de cheque


VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.

Causas de aumento da pena


§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito
público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.

III
Crimes contra a fé pública

Documento é a base física em que foi assentada informação juridicamente relevante, protegendo-a
para o futuro, para efeito de prova – é a exposição de fatos ou declaração de vontade. O documento pode ser
público ou particular (por liberalidade entre as partes).

 Documento público: é aquele elaborado por funcionário público, de acordo com as formalidades
legais, no desempenho de suas funções. Ex: RG, CPF, etc.
 Documento particular: é aquele que não é público em si mesmo ou por equiparação. Ele não é
elaborado por funcionário público no desempenho de suas funções. Ou seja, é elaborado por
liberalidade entre as partes.

A fé pública é a crença na veracidade (fé) dos documentos, símbolos e sinais que são empregados pelo
homem em suas relações em sociedade e que se prestam à prova de fatos juridicamente relevantes. A violação
da fé pública constitui o crime de falso.

Teoria do falso

 Falso material: há corrupção da base física, alterando uma informação em documento verdadeiro,
tornando-a falsa. A falsificação pode ser total (quando o documento é integralmente forjado) ou parcial
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Direito Penal III Marcelo Soldi

(quando o agente acrescenta dizeres, letras ou números em um documento). A alteração se dá quando


o documento chegou a existir materialmente como verdadeiro e depois foi modificado.
 Falso ideal/formal: não há corrupção da base física – a informação a que se deu fé, ou seja, que consta
no documento verdadeiro é falsa.

Só há dano potencial quando o documento falsificado é capaz de iludir ou enganar um número


indeterminado de pessoas. A falsificação grosseira não caracteriza, portanto, o crime de falso – trata-se de
crime impossível.

Todos os crimes contra a fé pública são dolosos – não existe qualquer modalidade culposa.

Moeda falsa (Art. 289)

Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no
país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire,
vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.
§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à
circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou diretor,
gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão:
I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;
II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava
ainda autorizada.

É o crime de falsificar, ou seja, apresentar como


Crime: Moeda falsa verdadeira moeda que não é original. A falsificação pode se
Objeto tutelado: Fé pública
Sujeito ativo: Comum dar pela fabricação (criação da moeda falsa) ou alteração
Sujeito passivo: Estado (modificação de seu valor para maior). A conduta pode recair
Tipo objetivo: Falsificar
Tipo subjetivo: Dolo genérico1 sobre a moeda nacional ou qualquer moeda estrangeira. Se a
Tentativa: Plurissubsistente falsificação for grosseira, não estará configurado o crime,
Ação Penal: Pública incondicio-
nada mas pode constituir estelionato.
Pena: Reclusão + multa
Vetor de dosimetria: 3-12 anos STJ. Súmula 73. A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado
configura, em tese, o crime de estelionato, de competência da justiça
estadual.

A falsificação de papel-moeda que já deixou de circular não se amolda no tipo, podendo caracterizar
estelionato.

A ação penal é pública incondicionada, de competência da Justiça Federal.

1
Dolo genérico é era aquele em que no tipo penal não havia indicativo algum do elemento subjetivo do agente ou, melhor
dizendo, não havia indicação alguma da finalidade da conduta do agente.

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Direito Penal III Marcelo Soldi

Falsificação de papéis públicos (Art. 293)

Art. 293 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:


Crime: Falsificação de I – selo destinado a controle tributário, papel selado ou qualquer
papéis públicos papel de emissão legal destinado à arrecadação de tributo;
Objeto tutelado: Fé pública II - papel de crédito público que não seja moeda de curso legal;
Sujeito ativo: Comum III - vale postal;
Sujeito passivo: Estado IV - cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa econômica
ou de outro estabelecimento mantido por entidade de direito público;
Tipo objetivo: Falsificar V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento
Tipo subjetivo: Dolo genérico relativo a arrecadação de rendas públicas ou a depósito ou caução por
Tentativa: Plurissubsistente que o poder público seja responsável;
Ação Penal: Pública incondicio- VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte
nada administrada pela União, por Estado ou por Município:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
Pena: Reclusão + multa § 1o Incorre na mesma pena quem:
Vetor de dosimetria: 2-8 anos I – usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis falsificados a
que se refere este artigo;
II – importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta,
guarda, fornece ou restitui à circulação selo falsificado destinado a controle tributário;
III – importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda, mantém em depósito, guarda, troca, cede,
empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria:
a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a controle tributário, falsificado; (
b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação tributária determina a obrigatoriedade de sua
aplicação.
§ 2º - Suprimir, em qualquer desses papéis, quando legítimos, com o fim de torná-los novamente
utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 3º - Incorre na mesma pena quem usa, depois de alterado, qualquer dos papéis a que se refere o
parágrafo anterior.
§ 4º - Quem usa ou restitui à circulação, embora recibo de boa-fé, qualquer dos papéis falsificados
ou alterados, a que se referem este artigo e o seu § 2º, depois de conhecer a falsidade ou alteração,
incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 5o Equipara-se a atividade comercial, para os fins do inciso III do § 1o, qualquer forma de
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em vias, praças ou outros logradouros públicos e
em residências

O dispositivo legal possui uma série de condutas típicas, sendo de notar que, de forma geral, pune
quem falsifica ou altera documentos. No presente caso, modifica-se apenas o objeto material do crime, que
pode ser qualquer dos papeis públicos descritos nos incisos.

Falsificação de documento público (Art. 297)

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público
verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a
pena de sexta parte.
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal,
o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e
o testamento particular.
§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:
I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova
perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;
II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva
produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;

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Direito Penal III Marcelo Soldi

III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da


empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado. (
§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o, nome do
segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de
serviços.

A falsidade de documento é a própria falsidade


Crime: Falsificação de
documento público material. Um particular pode cometer crime de falsidade de
Objeto tutelado: Fé pública documento público, desde que falsifique documento que
Sujeito ativo: Comum
Sujeito passivo: Estado e pessoa deveria ter sido feito por funcionário público ou altere
lesada pelo falso documento efetivamente elaborado por este.
Tipo objetivo: Falsificar
Tipo subjetivo: Dolo genérico
Tentativa: Plurissubsistente A cópia autenticada de documento particular continua
Ação Penal: Pública incondicio- sendo documento particular, mas se a falsidade recai
nada
Pena: Reclusão + multa especificamente sobre a autenticação, caracteriza o crime de
Vetor de dosimetria: 2-6 anos falsificação de documento público.

Se o documento foi ou devia ter sido emitido por autoridade federal, a competência é da Justiça
Federal. Se foi ou devia ter sido emitido por funcionário público estadual ou municipal, a competência é da
Justiça Estadual.

Admite-se tentativa, no caso em que o agente é surpreendido no momento em que está iniciando a
falsificação.

Falsificação de documento particular (Art. 298)


Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar
Crime: Falsificação de documento particular verdadeiro:
documento particular Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Objeto tutelado: Fé pública Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a
documento particular o cartão de crédito ou débito.
Sujeito ativo: Comum
Sujeito passivo: Estado O documento particular registrado em cartório
Tipo objetivo: Falsificar
Tipo subjetivo: Dolo genérico continua sendo documento particular. O registro é apenas
Tentativa: Plurissubsistente para dar publicidade ao documento, mas não altera a sua
Ação Penal: Pública incondicio-
nada natureza.
Pena: Reclusão + multa
Vetor de dosimetria: 1-5 anos A competência é da Justiça Estadual, salvo se a
falsificação tiver a finalidade de prejudicar interesse da
União, suas autarquias ou empresas públicas.

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Direito Penal III Marcelo Soldi

Falsidade ideológica (Art. 299)

Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que


Crime: Falsidade ideológica dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou
Objeto tutelado: Fé pública diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar
Sujeito ativo: Comum obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público,
Sujeito passivo: Estado e pessoa que e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.
sofre o prejuízo Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime
Tipo objetivo: Omitir, inserir ou prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de
fazer inserir assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.
Tipo subjetivo: Dolo específico
Elementar: Prejudicar direito, Na falsidade ideológica, o documento é autêntico em
criar obrigação ou seus requisitos extrínsecos e emana realmente da pessoa que
alterar a verdade
sobre fato jurídica- nele figura como seu autor, mas o seu conteúdo é falso. É o
mente relevante. falso ideal/formal.
Tentativa: Unissubsistente ou
Plurissubsistente Pode se dar por conduta omissiva (o agente deixa de
Ação Penal: Pública incondicio-
nada inserir uma informação que nele deveria constar) ou
Pena: Reclusão + multa comissiva (insere informação inverídica ou insere
Vetor de dosimetria: 1-5 anos (público)
1-3 anos (particular) declaração verdadeira no lugar de outra que deveria
efetivamente constar do documento). É a falsidade
imediata, pois é a pessoa que confecciona o documento quem comete o falso ideológico.

Outra hipótese se dá, ainda, quando o agente fornecer informação falsa a terceira pessoa, responsável
pela elaboração do documento, e esta, sem ter ciência da falsidade, o confecciona. Trata-se de uma falsidade
mediata, pois a lei não pune quem confecciona o documento, mas sim quem lhe passa a informação falsa.

Essas condutas podem recair sobre documento público ou particular. O particular pode cometer
falsidade ideológica em documento público se levar o funcionário a iserir declaração falsa.

A tentativa só é admitida na modalidade comissiva.

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Direito Penal III Marcelo Soldi

Uso de documento falso (Art. 304)

Crime: Uso de documento


falso
Objeto tutelado: Fé pública
Sujeito ativo: Comum
Sujeito passivo: Estado e a pessoa
enganada
Tipo objetivo: Fazer uso
Tipo subjetivo: Dolo específico
Tentativa: Unissubsistente
Ação Penal: Pública incondicio-
nada
Pena: a cominada à
falsificação ou à
alteração

Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a
302: Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.

Trata-se de um “crime remetido”, uma vez que a descrição típica se integra pela menção a outros
dispositivos legais. A pena será a mesma prevista para o falsário.

Situações

 1 agente: praticou 297, 298 ou 299 + 304 – considerado 1 crime.


 2 agentes: praticaram 297, 298 ou 299 + 304 + 171 (estelionato) – considerado 2 crimes. Há concurso:
A primeira pessoa responde pelo 299 (falsificar) e a segunda pelo 304 em concurso material 7 com o
171 (fazer uso do documento falso, para obter vantagem ilícita).

Adulteração de sinal identificador de veículo automotor (Art. 311)

Art. 311 - Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificador de veículo automotor,
de seu componente ou equipamento:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente comete o crime no exercício da função pública ou em razão dela, a pena é
aumentada de um terço.
§ 2º - Incorre nas mesmas penas o funcionário público que contribui para o licenciamento ou
registro do veículo remarcado ou adulterado, fornecendo indevidamente material ou informação oficial.

É comum que pessoas alterem o último número da placa de seu veículo com uso de fita isolante para
não ser multado por causa do sistema de rodízios. Entende-se que a conduta é atípica, e não se aplica o
disposto nesse dispositivo pelo fato de que a adulteração não se deu de forma permanente. No entanto, há uma
divergência sobre o assunto na jurisprudência do STJ.

7
Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se
cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de
detenção, executa-se primeiro aquela
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Direito Penal III Marcelo Soldi

Falsa identidade (Art. 307 e 308)

Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter


Artigo: 307 vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem:
Crime: Falsa identidade Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não
Objeto tutelado: Fé pública constitui elemento de crime mais grave.
Sujeito ativo: Comum
Sujeito passivo: Estado e pessoa que Nesse caso, não há uso de documento falso ou
sofrer dano verdadeiro. O agente simplesmente se atribui ou atribui a
Tipo objetivo: Atribuir-se ou
atribuir terceiro uma falsa identidade, mentindo a idade, dando nome
Tipo subjetivo: Dolo específico inverídico, etc.
Elementar: Obter vantagem ou
causar dano Art. 308 - Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta de
Tentativa: Plurissubsistente reservista ou qualquer documento de identidade alheia ou ceder a
(exceto na forma verbal) outrem, para que dele se utilize, documento dessa natureza, próprio ou
Ação Penal: Pública incondicio- de terceiro:
nada Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se o fato não
constitui elemento de crime mais grave.
Pena: Detenção ou multa
Vetor de dosimetria: 3 m. – 1 ano Nessa hipótese, o agente tem em suas mãos um
passaporte ou qualquer outro documento de identidade
Artigo: 308
pertencente a terceiro, e dele se utiliza para fazer-se passar
Crime: Falsa identidade
Objeto tutelado: Fé pública por outra pessoa. O documento deve ser verdadeiro – se
Sujeito ativo: Comum
falso, configura o do art. 304.
Sujeito passivo: Estado e pessoa que
sofrer dano
Tipo objetivo: Usar ou ceder
Tipo subjetivo: Dolo específico
Tentativa: Unisubsistente
Ação Penal: Pública incondicio-
nada
Pena: Detenção + multa
Vetor de dosimetria: 4 m. – 2 ano

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