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EXECUÇÃO

PENAL

MINISTÉRIO PÚBLICO
DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL


DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS

Procuradoria-Geral de Justiça

Centro de Apoio Operacional Criminal

Manual Prático de Execução Penal do Ministério Pú-


blico do Estado de Goiás
Coordenação do Manual: Luciano Miranda Meireles
Goiânia: Ministério Público, 2017. 108 p.

I. Execução Penal
II. Compilação Jurisprudencial
III. Organizado por: Luciano Miranda Meireles

CDU 343.8:347.963

GOIÂNIA
2017
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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS

Dr. Benedito Torres Neto


Procurador-Geral de Justiça

Dr. Luciano Miranda Meireles


Coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal

Criação do Texto: Sarah Aparecida de Sousa Alves e


Paulo Eduardo Penna Prado

Desenvolvido pela Assessoria de Comunicação


Social do Ministério Público de Goiás

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FICHA TÉCNICA

Procuradoria-Geral de Justiça
Benedito Torres Neto – Procurador-Geral de Justiça

Centro de Apoio Operacional Criminal


Luciano Miranda Meireles – Coordenador
Paulo Eduardo Penna Prado – Coordenador Adjunto

Equipe:
Davi Tavares dos Passos – Assessor Jurídico
Juliana de Andrade Pinheiro – Secretária Assistente
Leandro Godoi Pires – Assessor Jurídico
Ludmila Policena Braga Fragelli – Assessora Jurídica
Michelinne Azevedo de Souza – Chefe de Secretaria
Sarah Aparecida de Sousa Alves – Assessora Jurídica
Wesley Carlos da Rocha Ribeiro – Secretário Auxiliar

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SUMÁRIO

Apresentação............................................................................. 07
Trabalho do preso...................................................................... 08
Trabalho Extramuros................................................................. 12
Disciplina do preso..................................................................... 21
Regime Disciplinar Diferenciado................................................ 29
Estabelecimentos prisionais....................................................... 40
Autorizações de saída................................................................ 46
Remição..................................................................................... 52
Livramento condicional.............................................................. 5 9
Monitoramento Eletrônico........................................................... 69
Pena de multa............................................................................ 77
Anistia e indulto.......................................................................... 90
Execução Provisória.................................................................. 92
Exame Criminológico................................................................ 102
Progressão de regime.............................................................. 118
Regressão de regime............................................................... 126
Transferência de presos........................................................... 131
Visitas periódicas ao lar............................................................ 135
Exame Biológico para traçar perfil genético do preso.............. 141
Abreviaturas............................................................................. 142

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APRESENTAÇÃO

A presente cartilha tem como objetivo apresentar aos membros do


Ministério Público que militam na área de execução penal os enten-
dimentos dos tribunais pátrios mais recorrentes ou já consolidados,
com especial enfoque no Supremo Tribunal Federal, Superior Tribu-
nal de Justiça e Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.

Os temas selecionados tomaram por base as questões mais cor-


riqueiras enfrentadas nas Promotorias de Justiça, especialmente
nas do interior do Estado, considerando a pulverização e preca-
riedade do sistema penitenciário de Goiás. Por tal razão, optou-se
por uma abordagem mais direta e sintética, de maneira a facilitar a
consulta não apenas pelo membro do Ministério Público, mas tam-
bém por todos os integrantes de sua equipe. Ressalve-se eventuais
transcrições de excertos de votos paradigmáticos, notadamente os
oriundos do Supremo Tribunal Federal, cuja fundamentação possa
ser aproveitada tanto no tema abordado quanto em outros pontos
relacionados à execução penal.

Por fim, calha destacar que alguns precedentes citados claramente


vão de encontro aos ditames da legislação vigente e não significam
nenhum tipo de recomendação para que sejam acolhidos nas ma-
nifestações do Ministério Público. Neste sentido, o Centro de Apoio
Operacional Criminal se coloca à disposição para auxiliar os cole-
gas a buscarem subsídios para enfrentar entendimentos que des-
considerem o caráter retributivo e preventivo das sanções penais.

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TRABALHO DO PRESO
– Cômputo do Trabalho do Preso

Supremo Tribunal Federal

Recurso ordinário constitucional. Habeas corpus. Execução Penal.


Remição (arts. 33 e 126 da Lei de Execução Penal). Trabalho do
preso. Jornada diária de 4 (quatro) horas. Cômputo para fins de
remição de pena. Admissibilidade. Jornada atribuída pela própria
administração penitenciária. Inexistência de ato de insubmissão ou
de indisciplina do preso. Impossibilidade de se desprezarem as ho-
ras trabalhadas pelo só fato de serem inferiores ao mínimo legal de
6 (seis) horas. Princípio da proteção da confiança. Recurso provido.
Ordem de habeas corpus concedida para que seja considerado,
para fins de remição de pena, o total de horas trabalhadas pelo
recorrente em jornada diária inferior a 6 (seis) horas. 1. O direito
à remição pressupõe o efetivo exercício de atividades laborais ou
estudantis por parte do preso, o qual deve comprovar, de modo
inequívoco, seu real envolvimento no processo ressocializador. 2.
É obrigatório o cômputo de tempo de trabalho nas hipóteses em
que o sentenciado, por determinação da administração penitenciá-
ria, cumpra jornada inferior ao mínimo legal de 6 (seis) horas, vale
dizer, em que essa jornada não derive de ato insubmissão ou de
indisciplina do preso. 3. Os princípios da segurança jurídica e da
proteção da confiança tornam indeclinável o dever estatal de honrar
o compromisso de remir a pena do sentenciado, legítima contra-
prestação ao trabalho prestado por ele na forma estipulada pela ad-
ministração penitenciária, sob pena de desestímulo ao trabalho e à
ressocialização. 4. Recurso provido. Ordem de habeas corpus con-
cedida para que seja considerado, para fins de remição de pena, o

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total de horas trabalhadas pelo recorrente em jornada diária inferior


a 6 (seis) horas. (RHC 136509, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Se-
gunda Turma, julgado em 04/04/2017, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-087 DIVULG 26-04-2017 PUBLIC 27-04-2017)

Superior Tribunal de Justiça

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RE-


CURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. CRIMES CONTRA O PA-
TRIMÔNIO. REMIÇÃO PELO TRABALHO. AUSÊNCIA DE COM-
PROVAÇÃO DA CARGA HORÁRIA DE TRABALHO REGULAR.
ALEGADA CULPA DO ESTADO NA FISCALIZAÇÃO DA ATIVIDA-
DE LABORAL QUE NÃO AFASTA A NECESSIDADE DE ATEN-
DIMENTO DOS REQUISITOS DO ART. 126 DA LEP. HABEAS
CORPUS NÃO CONHECIDO. I - Não mais se admite, perfilhando
o entendimento do col. Pretório Excelso e da eg. Terceira Seção
deste Superior Tribunal de Justiça, a utilização de habeas corpus
substitutivo quando cabível o recurso próprio, situação que implica
o não conhecimento da impetração. Contudo, no caso de se verifi-
car configurada flagrante ilegalidade, recomenda a jurisprudência a
concessão da ordem de ofício. II - A Lei de Execução Penal exige,
para fins de remição da pena pelo trabalho, a prova da atividade
laboral e da carga horária efetivamente desenvolvidas pelo preso.
III - As instâncias ordinárias, soberanas em matéria de fatos e
provas, concluíram que não houve comprovação idônea da carga
horária cumprida pelo reeducando e do produto do seu trabalho.
IV - Eventual culpa do Estado na fiscalização do trabalho do preso,
que pode configurar desvio na execução, não dá direito à remi-
ção da pena, que exige comprovação idônea do cumprimento dos
requisitos do art. 126 da LEP. Habeas corpus não conhecido. (HC
375.948/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julga-

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do em 27/06/2017, DJe 01/08/2017)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO


PENAL. REMIÇÃO. TRABALHO ARTESANAL. AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DA CARGA HORÁRIA DE TRABALHO EFETI-
VAMENTE CUMPRIDA PELO RECORRENTE. IMPOSSIBILIDA-
DE. NECESSIDADE DE REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ.
I - A Lei de Execução Penal, no seu artigo 33, dispõe que a jornada
de trabalho normal do preso poderá variar entre um mínimo de seis
horas e um máximo de oito horas diárias. O art. 129 do mesmo
diploma exige que a autoridade administrativa encaminhe mensal-
mente ao Juízo das Execuções cópia do registro de todos os sen-
tenciados que estejam trabalhando, com informação especificada
dos dias de trabalho. II - Na hipótese, o eg. Tribunal a quo concluiu
que não houve a comprovação da carga horária de trabalho efeti-
vamente cumprida pelo recorrente, até mesmo porque não havia
controle direto e fiscalização do trabalho realizado. Dessa forma,
inviável, nos termos da Jurisprudência desta Corte, a homologação
dos dias remidos. III - Entender de modo contrário ao estabeleci-
do pelo Tribunal de origem, no caso, exigiria o reexame do quadro
fático-probatório, medida inviável no âmbito do apelo extremo, nos
termos da Súmula n. 7/STJ. Agravo regimental desprovido. (AgRg
no REsp 1649744/RO, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA
TURMA, julgado em 21/03/2017, DJe 31/03/2017)

Tribunal de Justiça de Goiás

AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. REMIÇÃO. CÔMPUTO DE


TEMPO DE PRISÃO PROVISÓRIA. CONDENAÇÃO. DETRA-
ÇÃO. EXTINÇÃO DA PENA. SUPERVENIÊNCIA DE NOVA CON-
DENAÇÃO. UTILIZAÇÃO DE DIAS TRABALHADOS EM PRISÃO

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PROVISÓRIA ANTERIOR PARA FINS DE REMIÇÃO EM SANÇÃO


RELATIVA A CONDENAÇÃO POSTERIOR. IMPOSSIBILIDADE.
Descabida a remição de período em que o apenado trabalhou en-
quanto preso em processo diverso - anterior e extinto - àquele em
que houve imposição de pena privativa de liberdade ora em cum-
primento. AGRAVO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJGO, AGRA-
VO EM EXECUÇÃO PENAL 24189-83.2017.8.09.0175, Rel. DES.
AVELIRDES ALMEIDA PINHEIRO DE LEMOS, 1A CÂMARA CRI-
MINAL, julgado em 06/06/2017, DJe 2295 de 27/06/2017)

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TRABALHO EXTRAMUROS
– Possibilidade de Trabalho Externo

Supremo Tribunal Federal

EXECUÇÃO PENAL. REGIME INICIAL SEMIABERTO. TRABA-


LHO EXTERNO. 1. A exigência objetiva de prévio cumprimento do
mínimo de um sexto da pena, segundo a reiterada jurisprudência
do Superior Tribunal de Justiça, não se aplica aos presos que se
encontrem em regime inicial semiaberto. Diversos fundamentos se
conjugam para a manutenção desse entendimento. 2. A aplicação
do requisito temporal teria o efeito de esvaziar a possibilidade de
trabalho externo por parte dos apenados em regime inicial semia-
berto. Isso porque, após o cumprimento de 1/6 da pena, esses con-
denados estarão habilitados à progressão para o regime aberto,
que tem no trabalho externo uma de suas características intrínse-
cas. 3. A interpretação jurídica não pode tratar a realidade fática
com indiferença, menos ainda quando se trate de definir o regime
de cumprimento das penas privativas de liberdade. No caso, são
graves e notórias as deficiências do sistema prisional. Neste cená-
rio, sem descurar dos deveres de proteção que o Estado tem para
com a sociedade, as instituições devem prestigiar os entendimentos
razoáveis que não sobrecarreguem ainda mais o sistema, nem tam-
pouco imponham aos apenados situações mais gravosas do que
as que decorrem da lei e das condenações que sofreram. 4. A ina-
plicabilidade do requisito temporal para o deferimento de trabalho
externo não significa, naturalmente, que a sua concessão deva ser
automática. Embora a Lei de Execução Penal seja lacônica quanto
aos requisitos pertinentes, é intuitivo que a medida é condicionada:
(i) pela condição pessoal do apenado, que deve ser compatível com

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as exigências de responsabilidade inerentes à autorização para saí-


da do estabelecimento prisional; e (ii) pela adequação do candidato
a empregador. 5. Inexiste vedação legal ao trabalho externo em em-
presa privada, que deve ser admitido segundo critérios uniformes,
aplicáveis a todos os condenados. O art. 34, § 2º, da Lei de Execu-
ção Penal – que prevê a celebração de convênio com a iniciativa
privada – refere-se expressamente ao trabalho interno. O objetivo
da exigência é impedir a exploração econômica do trabalho daquele
que, com sua liberdade integralmente cerceada, está obrigado a
cumprir as determinações da autoridade penitenciária, sob pena de
incidir na falta grave prevista no art. 50, VI, c/c o art. 39 da Lei nº
7.210/1984. 6. No caso, a Vara de Execuções Penais do Distrito Fe-
deral submeteu o pedido de deferimento de trabalho externo ao pro-
cedimento uniforme aplicado aos condenados em geral, que inclui
entrevista com o candidato a empregador e inspeções no potencial
local de trabalho. Inexiste fundamento para que o STF desqualifi-
que a avaliação assim efetuada. 7. Agravo regimental a que se dá
provimento para, acolhendo as manifestações do setor psicossocial
da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal o Ministério Públi-
co do Distrito Federal e do Procurador-Geral da República, deferir o
trabalho externo ao recorrente.
(EP 2 TrabExt-AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tri-
bunal Pleno, julgado em 25/06/2014, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-2014)

Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL. PROCESSAMENTO SOB O RITO DO ART.


543-C DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. RECURSO REPRE-
SENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. EXECUÇÃO PENAL. APENA-
DO EM REGIME SEMIABERTO. REALIZAÇÃO DE TRABALHO

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FORA DO ESTABELECIMENTO PRISIONAL. REMIÇÃO DE PAR-


TE DA PENA. POSSIBILIDADE. RECURSO NÃO PROVIDO. 1.
Recurso Especial processado sob o regime previsto no art. 543-C,
§ 2º, do CPC, c/c o art. 3º do CPP, e na Resolução n. 8/2008 do
STJ. TESE: É possível a remição de parte do tempo de execução
da pena quando o condenado, em regime fechado ou semiaberto,
desempenha atividade laborativa extramuros. 2. O art. 126 da Lei
de Execução Penal não fez nenhuma distinção ou referência, para
fins de remição de parte do tempo de execução da pena, quanto
ao local em que deve ser desempenhada a atividade laborativa, de
modo que se mostra indiferente o fato de o trabalho ser exercido
dentro ou fora do ambiente carcerário. Na verdade, a lei exige ape-
nas que o condenado esteja cumprindo a pena em regime fechado
ou semiaberto. 3. Se o condenado que cumpre pena em regime
aberto ou semiaberto pode remir parte da reprimenda pela frequên-
cia a curso de ensino regular ou de educação profissional, não há
razões para não considerar o trabalho extramuros de quem cum-
pre pena em regime semiaberto, como fator de contagem do tempo
para fins de remição. 4. Em homenagem, sobretudo, ao princípio
da legalidade, não cabe restringir a futura concessão de remição
da pena somente àqueles que prestam serviço nas dependências
do estabelecimento prisional, tampouco deixar de recompensar o
apenado que, cumprindo a pena no regime semiaberto, exerça ati-
vidade laborativa, ainda que extramuros. 5. A inteligência da Lei de
Execução Penal direciona-se a premiar o apenado que demonstra
esforço em se ressocializar e que busca, na atividade laboral, um
incentivo maior à reintegração social (“a execução penal tem por
objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e
proporcionar condições para a harmônica integração social do con-
denado e do internado” - art. 1º). 6. A ausência de distinção pela lei,
para fins de remição, quanto à espécie ou ao local em que o traba-

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lho é realizado, espelha a própria função ressocializadora da pena,


inserindo o condenado no mercado de trabalho e no próprio meio
social, minimizando suas chances de recidiva delitiva. 7. Ausentes,
por deficiência estrutural ou funcional do Sistema Penitenciário, as
condições que permitam a oferta de trabalho digno para todos os
apenados aptos à atividade laborativa, não se há de impor ao con-
denado que exerce trabalho extramuros os ônus decorrentes dessa
ineficiência. 8. A supervisão direta do próprio trabalho deve ficar a
cargo do patrão do apenado, cumprindo à administração carcerária
a supervisão sobre a regularidade do trabalho. 9. Uma vez que o
Juízo das Execuções Criminais concedeu ao recorrido a possibili-
dade de realização de trabalho extramuros, mostra-se, no mínimo,
contraditório o Estado-Juiz permitir a realização dessa atividade
fora do estabelecimento prisional, com vistas à ressocialização do
apenado, e, ao mesmo tempo, ilidir o benefício da remição. 10. Re-
curso especial representativo da controvérsia não provido. (REsp
1381315/RJ, Rel. Ministro ROGÉRIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 13/05/2015, DJe 19/05/2015)

Excerto do Voto

Ademais, se o condenado que cumpre pena em regime aber-


to ou semiaberto pode remir parte da reprimenda pela frequ-
ência a curso de ensino regular ou de educação profissional,
não vejo razões para não considerar o trabalho extramuros
de quem cumpre pena em regime semiaberto como fator de
contagem do tempo para fins de remição.

Ainda, destaco que o art. 36 da Lei de Execução Penal so-


mente prescreve a exigência de que o trabalho externo seja
exercido por meio de “serviço ou obras públicas realizadas

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por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades


privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em
favor da disciplina”.

Dessa forma, considero que, em homenagem, sobretudo, ao


princípio da legalidade, não se pode restringir a futura conces-
são de remição da pena somente àqueles que prestam servi-
ço nas dependências do estabelecimento prisional, tampou-
co deixar de recompensar o apenado que esteja cumprindo
a pena no regime semiaberto e exerça atividade laborativa,
ainda que extramuros. Aliás, ressalto que a realização de tra-
balho externo, uma vez comprovada, poderá servir, também,
como pressuposto para a própria concessão futura da remição
da pena.

Na verdade, a inteligência da Lei de Execução Penal dire-


ciona-se a premiar o apenado que demonstra esforço em se
ressocializar e que busca, na atividade laboral, um incentivo
maior à reintegração social (“a execução penal tem por obje-
tivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e
proporcionar condições para a harmônica integração social do
condenado e do internado” - art. 1º).

A ausência de distinção pela lei, para fins de remição, quanto


à espécie ou ao local em que o trabalho é realizado, espelha a
própria função ressocializadora da pena, inserindo o condena-
do no mercado de trabalho e no próprio meio social e reduzin-
do suas chances de retorno às atividades ilícitas. Ainda, con-
soante já decidiu este Superior Tribunal, permite “a verificação
da disciplina e do senso de responsabilidade do apenado no
cumprimento da pena” (HC n. 184.501/RJ, Rel. Ministro Marco

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Aurélio Bellizze. 5ª T., DJe 25/5/2012).

RECURSO EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. TRA-


BALHO EXTERNO. PRETENSÃO INDEFERIDA PELO JUÍZO DA
VARA DE EXECUÇÕES PENAIS. HABEAS CORPUS DENEGA-
DO. NÃO PREENCHIMENTO DO REQUISITO DE ORDEM SUB-
JETIVA. ART. 123, III, DA LEI N. 7.210/84. 1. A análise da conces-
são do benefício da saída temporária para realização de trabalho
extramuros atrai a normatividade do art. 123 da Lei n. 7.210/1984.
2. A decisão proferida nas instâncias ordinárias encontra-se dotada
de suficiente fundamentação quanto ao indeferimento do benefício.
Observância estrita ao comando constitucional previsto no art. 93,
IX, da Magna Carta. 3. Na apreciação do pleito de trabalho extra-
muros aviado pelo apenado houve a análise acerca do atendimento
ao requisito erigido pelo inciso III do art. 123 da Lei de Execuções
Penais, que preceitua a necessidade de análise acerca da com-
patibilidade do benefício com os objetivos da pena, o que não foi
vislumbrado. 4. Esta Corte Superior de Justiça tem firme entendi-
mento de que o fato de o condenado encontrar-se no regime se-
miaberto não é suficiente para garantir-lhe o benefício do trabalho
externo, quando ausentes outras condições especificadas em lei.
5. A benesse solicitada pelo recorrente representa medida que visa
a sua ressocialização. Contudo, para fazer jus a esse benefício, o
apenado deve necessariamente cumprir todos os requisitos objeti-
vos e subjetivos, consoante se depreende do disposto no caput do
art. 123 da LEP, o que não ocorreu no presente caso. 6. Recurso
ordinário em habeas corpus improvido. (RHC 62.993/RJ, Rel. Minis-
tro ANTÔNIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
27/09/2016, DJe 13/10/2016)

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PE-


NAL. TRABALHO EXTRAMUROS. CUMPRIMENTO DE PENA EM

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REGIME SEMIABERTO. DESCONSTITUIÇÃO DA CONCLUSÃO


DAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. IMPOSSIBILIDADE. 1. É firme o
posicionamento desta Corte Superior no sentido de ser inviável, em
sede de habeas corpus, desconstituir a conclusão a que chegaram
as instâncias ordinárias sobre o não preenchimento do requisito
subjetivo para a concessão de trabalho externo ao preso, uma vez
que tal providência implica o reexame do conjunto fático/probatório
dos autos, procedimento incompatível com os estreitos limites da
via eleita. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg
no HC 286.503/RJ, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FON-
SECA, QUINTA TURMA, julgado em 04/08/2016, DJe 12/08/2016)

Tribunal de Justiça de Goiás

AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. PRETENSÃO DE BENEFÍCIO


DE REMIÇÃO DOS DIAS TRABALHADOS DURANTE CUMPRI-
MENTO DE PENA EM REGIME ABERTO. AUSÊNCIA DE PREVI-
SÃO LEGAL. Acerca da remição da pena, o artigo 126, caput, da
Lei de Execução Penal (LEP), não deixa espaço para dúvida, ao
dispor que o condenado que cumpre a pena em regime fechado ou
semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tem-
po de execução da pena. Para o condenado que cumpre pena em
regime aberto a possibilidade de remição da reprimenda exige a fre-
quência a curso de ensino regular ou de educação profissional, não
havendo razões para considerar o trabalho extramuros de quem
cumpre pena em regime aberto como fator de contagem do tempo
para fins de remição. AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL CONHE-
CIDO E DESPROVIDO. (TJGO, AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL
314247-28.2016.8.09.0097, Rel. DR(A). FÁBIO CRISTÓVÃO DE
CAMPOS FARIA, 2A CÂMARA CRIMINAL, julgado em 04/07/2017,
DJe 2316 de 27/07/2017)

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AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. CRIME HEDIONDO. PRO-


GRESSÃO DE REGIME PRISIONAL. NÃO IMPLEMENTAÇÃO
DE REQUISITO OBJETIVO. IMPOSSIBILIDADE. 1) Para progres-
são de regime dos crimes hediondos ou equiparados necessário
cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se primário, e 3/5 (três
quintos), se reincidente, caso o crime tenha sido perpetrado após a
edição da Lei 11.464/07, que alterou a referida fração. TRABALHO
EXTRAMUROS EM EMPRESA PRIVADA. NÃO CABIMENTO. 2) O
trabalho externo, no regime fechado ou semiaberto, é admitido ape-
nas em obras públicas ou particulares, desde que regido por regras
de direito público (art. 35, do CP), de sorte que sua realização em
empresa privada afasta o regime público do benefício, impossibili-
tando um mínimo de vigilância, inerente ao regime prisional fechado
e semiaberto, uma vez que se desenvolverá em local onde o Poder
Público não poderá exercer o seu dever de fiscalização disciplinar.
AGRAVO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJGO, AGRAVO EM
EXECUÇÃO PENAL 339306-86.2016.8.09.0139, Rel. DR(A). LILIA
MÔNICA DE CASTRO BORGES ESCHER, 1A CÂMARA CRIMI-
NAL, julgado em 19/01/2017, DJe 2243 de 04/04/2017)

AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. TRÁFICO. EFEITO SUSPEN-


SIVO. IMPOSSIBILIDADE. PEDIDO DE PROGRESSÃO DE RE-
GIME E MANUTENÇÃO DO TRABALHO EXTRAMUROS. REMI-
ÇÃO. FALTA GRAVE. PERDA DOS DIAS REMIDOS. I. Na fase
da execução da pena cabe recurso de agravo, porém, sem efeito
suspensivo. II. Quando o sentenciado praticou o crime de tráfico
ilícito de entorpecentes, já estava em vigor a Lei nº 11.464, de 28
de março de 2007, que deu nova redação ao artigo 2º, § 2º, da
Lei nº 8.072/90, sendo que a progressão de regime, nesses casos,
tratando-se de pessoa reincidente, dar-se-á após o cumprimento de
3/5 (três quintos) da pena, não possuindo o reeducando, in casu,

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tal requisito objetivo. III. Considerando-se que o reeducando vinha


descumprindo as condições que lhes foram impostas, cometeu falta
grave, não merecendo censura a decisão que revogou o cumpri-
mento de trabalho externo. IV. Nos termos do artigo 127 da LEP, e
da Súmula Vinculante nº 9, do STF, o cometimento de falta grave
por parte do sentenciado impõe a perda dos dias remidos. V. Re-
curso conhecido e não provido. (TJGO, AGRAVO EM EXECUÇÃO
PENAL 75389-05.2010.8.09.0134, Rel. DES. PRADO, 2A CÂMARA
CRIMINAL, julgado em 24/08/2010, DJe 654 de 02/09/2010)

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DISCIPLINA DO PRESO
Supremo Tribunal Federal

HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. FALTA DISCIPLINAR DE


NATUREZA GRAVE. POSSE DE DOIS CHIPS DE APARELHO DE
TELEFONE CELULAR. CARACTERIZAÇÃO. TELEOLOGIA DA
NORMA. PROIBIÇÃO DA POSSE DO TELEFONE E SEUS COM-
PONENTES. ORDEM DENEGADA. 1. A Lei de Execução Penal
(Lei 7.210/1984) institui um amplo sistema de deveres, direitos e
disciplina carcerários. O tema que subjaz a este habeas corpus diz
com tal sistema, especialmente com as disposições normativas ati-
nentes à disciplina penitenciária. Disciplina que o legislador enten-
de ofendida sempre que o condenado “tiver em sua posse, utilizar
ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a
comunicação com outros presos ou com o ambiente externo” (in-
ciso VII do art. 50 da LEP). 2. Em rigor de interpretação jurídica, o
que se extrai da Lei de Execução Penal é a compreensão de que
o controle estatal tem de incidir sobre o aparelho telefônico, mas
na perspectiva dos seus componentes. É dizer: a Lei 11.466/2007
encampou a lógica finalística de proibir a comunicação a distância
intra e extramuros. Pelo que a posse de qualquer artefato viabiliza-
dor de tal comunicação faz a norma incidir de pleno direito. 3. Tal
maneira de orientar a discussão não implica um indevido alarga-
mento da norma proibitiva. Norma que faz menção expressa à pos-
se, ao uso e ao fornecimento de “aparelho telefônico, de rádio ou
similar”. E o fato é que o chip faz parte da compostura operacional
do telefone celular. Não tem outra serventia senão a de se acoplar
ao aparelho físico em si para com ele compor uma unidade funcio-
nal. Donde se concluir que o referido artefato nem sequer é de ser
tratado como mero acessório do aparelho telefônico, sabido que

21
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

acessório é aquilo “que se junta ao principal, sem lhe ser essencial;


detalhe, complemento, achega”. Ele se constitui em componente
do aparelho e com ele forma um todo operacional pró-indiviso. 4.
Ordem denegada, cassada a liminar. (HC 105973, Relator(a): Min.
AYRES BRITTO, Segunda Turma, julgado em 30/11/2010, PRO-
CESSO ELETRÔNICO DJe-099 DIVULG 25-05-2011 PUBLIC 26-
05-2011 RTJ VOL-00222-01 PP-00386)

Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO.


INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. EXECUÇÃO PENAL. PRÁTICA
DE NOVO CRIME DOLOSO NO INTERIOR DO PRESÍDIO (HOMI-
CÍDIO). SUBVERSÃO DA ORDEM E DISCIPLINA CARCERÁRIA.
FALTA GRAVE. PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. REGIME DIS-
CIPLINAR DIFERENCIADO. ALEGAÇÃO DE DESPROPORCIO-
NALIDADE DA MEDIDA. INEXISTÊNCIA. REQUISITOS LEGAIS
PREENCHIDOS. WRIT NÃO CONHECIDO. 1. O Supremo Tribunal
Federal, por sua Primeira Turma, e a Terceira Seção deste Superior
Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do
habeas corpus, passaram a restringir a sua admissibilidade quando
o ato ilegal for passível de impugnação pela via recursal própria,
sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de ofício, nos
casos de flagrante ilegalidade. Esse entendimento objetivou pre-
servar a utilidade e a eficácia do mandamus, que é o instrumento
constitucional mais importante de proteção à liberdade individual do
cidadão ameaçada por ato ilegal ou abuso de poder, garantindo a
celeridade que o seu julgamento requer. 2. As Turmas que com-
põem a Terceira Seção desta Corte firmaram o entendimento de
que, em razão da ausência de legislação específica, a prescrição
da pretensão de se apurar falta disciplinar, cometida no curso da

22
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

execução penal, deve ser regulada, por analogia, pelo prazo do art.
109 do Código Penal, com a incidência do menor lapso previsto,
atualmente de três anos, conforme dispõe o inciso VI do aludido
artigo. 3. In casu, conforme consta do voto condutor do acórdão im-
pugnado, o crime no interior do presídio foi cometido em 10/1/2016.
A conduta foi praticada após a edição da Lei n. 12.234/2010, cujo
menor lapso prescricional é de 3 anos, prazo para apuração da fal-
te grave ainda não implementado. 4. Por outro lado, consolidou-
-se nesta Superior Corte de Justiça entendimento no sentido da
aplicação do Regime Disciplinar Diferenciado nos casos de
subversão da ordem e da disciplina no interior do estabelecimento
prisional. Precedentes. 5. O prazo de um ano foi bem estabelecido
e mostra-se proporcional à gravidade da ação do ora paciente: ma-
tou sua companheira na presença de sua própria filha com a vítima,
dentro do banheiro da cela que divide com outros presos, causando
comoção e colocando em risco a segurança da unidade e dos de-
mais visitantes, presos, bem como agentes de segurança. 6. Inexis-
tência, portanto, de constrangimento ilegal, a justificar a concessão
da ordem de ofício. 7. Habeas corpus não conhecido. (HC 375.526/
SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 16/03/2017, DJe 27/03/2017)

Excerto do Voto

Quanto à aplicação do RDD nos casos de subversão da or-


dem e da disciplina no interior do estabelecimento prisional
em face de falta grave praticada pelo apenado, confiram-se, a
título exemplificativo, os seguintes julgados:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


ESPECIAL. NÃO-CABIMENTO. RESSALVA DO EN-

23
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

TENDIMENTO PESSOAL DA RELATORA. EXECUÇÃO


PENAL. REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO. ALE-
GAÇÃO DE DESPROPORCIONALIDADE DA MEDIDA.
INEXISTÊNCIA. REQUISITOS LEGAIS PREENCHI-
DOS. PACIENTE QUE POSSUI POSIÇÃO PRIVILEGIA-
DA NA HIERARQUIA DA ORGANIZAÇÃO CRIMINO-
SA CONHECIDA COMO “PCC”. ORDEM DE HABEAS
CORPUS NÃO CONHECIDA. 1. A Primeira Turma do
Supremo Tribunal Federal e ambas as Turmas desta
Corte, após evolução jurisprudencial, passaram a não
mais admitir a impetração de habeas corpus em substi-
tuição ao recurso ordinário, nas hipóteses em que esse
último é cabível, em razão da competência do Pretório
Excelso e deste Superior Tribunal tratar-se de matéria de
direito estrito, prevista taxativamente na Constituição da
República. 2. Esse entendimento tem sido adotado pela
Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, com a res-
salva da posição pessoal desta Relatora, também nos
casos de utilização do habeas corpus em substituição ao
recurso especial, sem prejuízo de, eventualmente, se for
o caso, deferir-se a ordem de ofício, em caso de flagrante
ilegalidade. 3. O art. 52 da Lei de Execuções Penais pre-
vê o cabimento do Regime Disciplinar Diferenciado em
três situações distintas. Ao contrário do caráter repressi-
vo da primeira hipótese (caput), o “alto risco” e as “fun-
dadas suspeitas” a que fazem referência os parágrafos
1.º e 2.º do art. 52 ilustram a preocupação do legislador
em prevenir condutas que, porventura, possam acarretar
em subversão da ordem ou disciplina internas. 4. A inde-
terminação da linguagem utilizada nesses casos, agre-
gada ao considerável grau de intervenção na liberdade

24
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

individual ínsito à aplicação do instituto, são fatores que,


à luz do postulado da proporcionalidade e do dever cons-
titucional de fundamentação, obrigam maior prudência e
cautela por parte dos magistrados, para que decisões
flagrantemente ilegais, baseadas mais em seus anseios
pessoais de justiça do que na intencionalidade normativa
do direito, não sejam proferidas. Por outro lado, não é
qualquer suspeita de participação em grupos criminosos
que conduz à conclusão inarredável, como se automáti-
ca fosse, de que há ameaça à subversão da ordem ou
à disciplina interna, devendo o magistrado fundamentar
a decisão com base em dados concretos presentes nos
autos. Mas o fato é que a lei, em nenhum momento, es-
tabelece como requisito, nessas duas últimas hipóteses,
qualquer demonstração de atos previamente praticados
pelo apenado no estabelecimento criminal. Por conse-
guinte, qualquer interpretação que porventura condicio-
ne, também nas hipóteses em apreço, a aplicação da
medida a atos pretéritos de indisciplina recairá em notória
argumentação contra legem. 5. No particular, a inserção
do Paciente em Regime Disciplinar Diferenciado restou
devidamente fundamentada, já que o próprio se declarou
membro da organização criminosa conhecida como Pri-
meiro Comando da Capital (PCC), tendo sido encontrada
em seu poder, ainda, uma cartilha contendo instruções
do grupo. Mais do que isso, a Corte de origem salientou
que o Paciente é o encarregado de exercer a função de
“disciplina” no pavilhão, posição hierárquica importante
que lhe concede a tarefa de impor e cobrar dos demais
integrantes as incumbências criminosas atribuídas, e que
lhe possibilita ter informações privilegiadas sobre todas

25
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

as ações praticadas na região, presídio, pavilhão ou raio


subordinado, tudo isso a desvendar o preenchimento do
requisito previsto no art. 52, §2.º da Lei n.º 7.210/1984,
não havendo se falar em desproporcionalidade da me-
dida. 6. Ordem de habeas corpus não conhecida. (HC
265.937/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TUR-
MA, julgado em 11/02/2014, DJe 28/02/2014)

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE RE-


CURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. DIREITO DE VISITAÇÃO
DIRETA À PARENTE PRESO. MANDAMUS NÃO SE PRESTA A
DISCUTIR TAL TEMÁTICA. IMPOSSIBILIDADE DE SUBMISSÃO
À REVISTA MECÂNICA. VISITAÇÃO QUE OCORRE SEM CON-
TATO FÍSICO. VIOLAÇÃO À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.
INOCORRÊNCIA. SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO. NE-
CESSIDADE DE MANUTENÇÃO DA ORDEM E DA DISCIPLINA
NO ESTABELECIMENTO PRISIONAL. HABEAS CORPUS NÃO
CONHECIDO. I - A Primeira Turma do col. Pretório Excelso firmou
orientação no sentido de não admitir a impetração de habeas corpus
substitutivo ante a previsão legal de cabimento de recurso ordinário
(v.g.: HC n. 109.956/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe de 11/9/2012;
RHC n. 121.399/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 1º/8/2014 e RHC
n. 117.268/SP, Rel. Min. Rosa Weber, DJe de 13/5/2014). As Tur-
mas que integram a Terceira Seção desta Corte alinharam-se a esta
dicção, e, desse modo, também passaram a repudiar a utilização
desmedida do writ substitutivo em detrimento do recurso adequado
(v.g.: HC n. 284.176/RJ, Quinta Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe de
2/9/2014; HC n. 297.931/MG, Quinta Turma, Rel. Min. Marco Auré-
lio Bellizze, DJe de 28/8/2014; HC n. 293.528/SP, Sexta Turma, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, DJe de 4/9/2014 e HC n. 253.802/MG, Sexta
Turma, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe de 4/6/2014).

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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

II - Portanto, não se admite mais, perfilhando esse entendimento, a


utilização de habeas corpus substitutivo quando cabível o recurso
próprio, situação que implica o não-conhecimento da impetração.
Contudo, no caso de se verificar configurada flagrante ilegalidade
apta a gerar constrangimento ilegal, recomenda a jurisprudência a
concessão da ordem de ofício. III - “O habeas corpus não constitui
meio idôneo para se discutir a legalidade da proibição de a compa-
nheira visitar o paciente preso, por inexistência de efetiva restrição
ao seu status libertatis. Precedentes. 2. Habeas corpus do qual não
se conhece” (HC n. 127.685, Relator(a): Min. Dias Toffoli, Segunda
Turma, julgado em 30/6/2015, DJe de 21/8/2015, grifei). IV - Em-
bora assegurado expressamente pela Lei de Execução Penal (art.
41, inciso X, da Lei n. 7.210/84), o direito de visitação não possui
caráter absoluto, sendo indevida sua sobreposição à disciplina in-
terna garantidora da ordem nos presídios, devendo o interesse pri-
vado ceder espaço à primazia do interesse público. V - Ressalte-se
que as visitas prosseguem, estando restrito apenas o contato físico
entre os pacientes, o que assegura, de modo proporcional, o direi-
to à visitação do preso e a segurança interna do estabelecimento
prisional. Habeas corpus não conhecido. (HC 317.535/SP, Rel. Mi-
nistro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 18/02/2016,
DJe 26/02/2016)

Tribunal de Justiça de Goiás

HABEAS CORPUS. ROUBO. HOMICÍDIO. FALTA GRAVE. FUGA


DO REGIME SEMIABERTO. REGRESSÃO PARA O REGIME FE-
CHADO. OFENSA AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA
AMPLA DEFESA. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCIPLI-
NAR NÃO INSTAURADO. DECISÃO REFORMADA. 1) Nos termos
do enunciado da Súmula 533 do Superior Tribunal de Justiça, é

27
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

indispensável a prévia instauração de Procedimento Administrativo


Disciplinar (PAD) para apurar falta grave praticada pelo reeducando
no curso da execução penal, não bastando, para tanto, a oitiva do
condenado, em audiência de justificação, e manifestação de seu
defensor, devendo a decisão que regrediu o regime de cumprimen-
to da pena ser cassada por ofensa ao princípio do devido processo
legal. 2) ORDEM CONCEDIDA. (TJGO, HABEAS CORPUS 90853-
39.2017.8.09.0000, Rel. DES. NICOMEDES DOMINGOS BOR-
GES, 1A CÂMARA CRIMINAL, julgado em 11/05/2017, DJe 2276
de 29/05/2017).

EXECUÇÃO PENAL. Posse de chip de aparelho celular. AGRAVO


em execução penal interposto pela acusação impugnando decisão
que deixou de reconhecer o ato praticado como falta grave. 1 - Nos
termos da jurisprudência superior, a posse pelo reeducando, no
ambiente carcerário, de qualquer artefato destinado à comunicação
com outros presos ou com o ambiente externo, ainda que o equipa-
mento isoladamente considerado não possua tal aptidão, configura
falta disciplinar grave, nos termos do inciso VII do art. 50 da Lei
7.210/1984. 2 - Agravo em execução penal provido para reconhe-
cer a falta grave e modificar o marco inicial para a progressão de
regime, com contagem a partir do cometimento da infração discipli-
nar. Parecer acolhido. (TJGO, AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL
308399-26.2016.8.09.0076, Rel. DES. EDISON MIGUEL DA SILVA
JR, 2A CÂMARA CRIMINAL, julgado em 23/03/2017, DJe 2266 de
12/05/2017)

28
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REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO


Supremo Tribunal Federal

Recurso ordinário constitucional. Habeas corpus. Execução Penal.


Remição. Inexistência de meios, no estabelecimento prisional, para
o desempenho de atividades laborais ou pedagógicas. Pretendido
cômputo fictício de potenciais dias de trabalho ou estudo. Inadmis-
sibilidade. Necessidade do efetivo exercício dessas atividades. Pre-
so, ademais, sob regime disciplinar diferenciado (RDD). Inexistên-
cia de previsão legal para que deixe a cela para executar trabalho
interno. Recurso não provido. 1. O direito à remição pressupõe o
efetivo exercício de atividades laborais ou estudantis por parte do
preso, o qual deve comprovar, de modo inequívoco, seu real envol-
vimento no processo ressocializador, razão por que não existe a
denominada remição ficta ou virtual. 2. Por falta de previsão legal,
não há direito subjetivo ao crédito de potenciais dias de trabalho ou
estudo em razão da inexistência de meios para o desempenho de
atividades laborativas ou pedagógicas no estabelecimento prisio-
nal. 3. O Regime Disciplinar Diferenciado impõe ao preso tratamen-
to penitenciário peculiar, mais severo e distinto daquele reservado
aos demais detentos, estabelecendo que o preso somente poderá
sair da cela individual, diariamente, por duas horas, para banho de
sol. 4. Não há previsão, na Lei de Execução Penal, para que o pre-
so, no regime disciplinar diferenciado, deixe a cela para executar
trabalho interno, o que também se erige em óbice ao pretendido
reconhecimento do direito à remição ficta. 5. Recurso não provido.
(RHC 124775, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, jul-
gado em 11/11/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-250 DIVULG
18-12-2014 PUBLIC 19-12-2014)

29
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

Excerto do voto

Ocorre que o Regime Disciplinar Diferenciado impõe ao


preso, como sua própria denominação indica, tratamen-
to penitenciário peculiar, mais severo e distinto daquele
reservado aos demais detentos.

As características desse regime estão previstas no art. 52


da Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84), que, além de
determinar o recolhimento em cela individual, estabelece
que o preso dela somente poderá sair: i) semanalmente,
por duas horas, para receber as visitas cadastradas; e ii)
diariamente, por duas horas, para banho de sol.

Não há previsão, portanto, na lei de regência, para que


o preso, no regime disciplinar diferenciado, deixe a cela
para executar trabalho interno (nesse sentido, Guilherme
de Souza Nucci. Leis processuais penais e processuais
penais comentadas. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tri-
bunais. v. 2 p. 231), o que também se erige em óbice ao
pretendido reconhecimento do direito à remição ficta.

Mesmo o Decreto nº 6.049/07, que instituiu o Regula-


mento Penitenciário Federal, não criou, para o preso
submetido ao regime disciplinar diferenciado, direito
subjetivo ao trabalho, uma vez que prevê a obrigatorie-
dade de implantação de rotinas de trabalho aos presos
em regime disciplinar diferenciado, desde que essa não
comprometa a ordem e a disciplina do estabelecimento
penal federal (art. 98, § 1º).

30
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. REGIME DISCIPLINAR


DIFERENCIADO. ALEGAÇÃO DE INOBSERVÂNCIA DO DEVIDO
PROCESSO LEGAL. DESPROPORCIONALIDADE DA MEDIDA.
INEXISTÊNCIA. REQUISITOS LEGAIS PREENCHIDOS. PACIEN-
TE QUE POSSUI POSIÇÃO PRIVILEGIADA NA HIERARQUIA DA
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. GARANTIA DA SEGURANÇA PÚ-
BLICA. ORDEM DENEGADA. 1. Para a inclusão de sentenciado
em regime disciplinar diferenciado devem ser observadas as re-
gras do devido processo legal, garantindo-se, para tanto, a ma-
nifestação prévia do Ministério Público e da Defesa. 2. Excepcio-
nalmente, permite-se a transferência emergencial do custodiado,
em hipóteses específicas, em que evidenciada a periculosidade
concreta decorrente de participação em organização criminosa, po-
der de mando, graduada hierarquia, o que possibilita a atuação em
atos criminosos externos; assim como para fins de prevenção de
eventos que venham a colocar em risco a segurança pública, a
integridade física e a vida de autoridades, de internos e da popula-
ção em geral, exigindo-se que, ato contínuo, seja garantida a inti-
mação da defesa do custodiado para manifestação, suprindo-se a
exigência legal para a manutenção da medida. Precedente. 3. Não
há falar em desproporcionalidade da determinação quando fundada
em indícios de planejamento arquitetado, cujas ordens originem-se
de dentro dos presídios, para a prática de graves eventos, que co-
loquem em risco a vida de autoridades públicas e que sejam causa
de ameaça à população em geral, a exemplo de ataques explosivos
a prédios públicos e de rebeliões organizadas no interior de unida-
des prisionais. 4. Ordem denegada. (HC 389.493/PR, Rel. Ministro
NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 18/04/2017, DJe
26/04/2017)

31
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

Excerto do Voto

Não se desconhece que para a inclusão de sentenciado em


regime disciplinar diferenciado devem ser observadas as re-
gras do devido processo legal, garantindo-se, para tanto, a
manifestação prévia do Ministério Público e da Defesa.

No entanto, na hipótese vertente, da leitura das decisões su-


pratranscritas, denota-se que a transferência emergencial e,
até então, provisória do sentenciado para referido regime res-
tou justificada em razão das investigações realizadas, que su-
gerem a periculosidade concreta do apenado.

Desse modo, não vislumbro constrangimento ilegal decorrente


da transferência, porquanto respaldada a decisão, de caráter
urgente, em justificativas idôneas.

Em hipótese análoga à presente, já se manifestou a Quinta


Turma quanto à possibilidade de transferência de preso para
presídio federal de segurança máxima e sua inclusão em re-
gime disciplinar diferenciado, nos termos da Lei 11.671⁄2008,
sem a prévia oitiva do condenado, quando constatada sua pe-
riculosidade e as circunstâncias concretas exigem o caráter
emergencial da medida.

Destacou-se, na ocasião, que essa autorização decorre do


fato de se tratar de contraditório diferido, sem que se verifi-
que o cerceamento das garantias constitucionais inerentes
à execução penal, concluindo-se, ao final, pela ausência de
ilegalidade sanável pela via de recurso ordinário em habeas

32
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

corpus, nos casos em que a determinação de transferência


observa os limites da lei, sendo devidamente justificada como
meio eficaz de resguardar a segurança pública (AgRg no RHC
46.314⁄MS, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, QUINTA TURMA,
julgado em 05⁄08⁄2014, DJe 12⁄08⁄2014).

O acórdão supramencionado foi assim ementado:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO


EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO DA PENA. REGIME
DISCIPLINAR DIFERENCIADO. INCLUSÃO EM PRESÍ-
DIO FEDERAL. ALEGAÇÃO DE CONSTRANGIMEN-
TO ILEGAL. OBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO
LEGAL. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. GARANTIA DA
SEGURANÇA PÚBLICA. 1. Muito embora a Lei de Exe-
cução Penal assegure ao preso o direito de cumprir sua
reprimenda em local que lhe permita contato com seus
familiares e amigos, tal garantia não é absoluta, podendo
o Juízo das Execuções, de maneira fundamentada, in-
deferir o pleito se constatar ausência de condições para
o acolhimento no estabelecimento prisional pretendido
ou a necessidade de submeter o condenado a regime
disciplinar diferenciado. 2. Na hipótese dos autos, a in-
clusão do condenado em regime disciplinar diferenciado
foi justificada por sua alta periculosidade e participação
de liderança em movimento destinado a desestabilizar o
sistema prisional, colocando em risco a vida de agentes
penitenciários, motivos suficientes para justificar a medi-
da excepcional e descaracterizar o constrangimento ile-
gal aduzido. 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no
RHC 46.314⁄MS, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, QUIN-
TA TURMA, julgado em 05⁄08⁄2014, DJe 12⁄08⁄2014).

33
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

No caso em apreço, assim como na hipótese examinada no


precedente, a inclusão do sentenciado no regime diferenciado
fundou-se em sua alta periculosidade, participação em orga-
nização criminosa (Família do Norte), com poder de mando e
graduada hierarquia, mantendo atuação em atos criminosos
externos, bem como na prevenção de novos eventos que pu-
dessem colocar em risco inclusive a integridade física e a vida
de autoridades, internos e da população em geral.

Resta justificado, portanto, o caráter cautelar da medida, sem


a prévia oitiva da Defesa.

Ademais, consta dos autos que, na mesma decisão, de caráter


urgente e provisório, foi expressamente determinada a intima-
ção da defesa do custodiado para manifestação, suprindo-se
a exigência legal para a manutenção da medida.

Quanto à proporcionalidade da determinação, o seguinte pre-


cedente, em caso similar ao presente:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


ESPECIAL. NÃO-CABIMENTO. RESSALVA DO EN-
TENDIMENTO PESSOAL DA RELATORA. EXECU-
ÇÃO PENAL. REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIA-
DO. ALEGAÇÃO DE DESPROPORCIONALIDADE
DA MEDIDA. INEXISTÊNCIA. REQUISITOS LEGAIS
PREENCHIDOS. PACIENTE QUE POSSUI POSIÇÃO
PRIVILEGIADA NA HIERARQUIA DA ORGANIZAÇÃO
CRIMINOSA CONHECIDA COMO “PCC”. ORDEM DE
HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDA. […] 3. O art. 52

34
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

da Lei de Execuções Penais prevê o cabimento do Regi-


me Disciplinar Diferenciado em três situações distintas.
Ao contrário do caráter repressivo da primeira hipótese
(caput), o “alto risco” e as “fundadas suspeitas” a que fa-
zem referência os parágrafos 1.º e 2.º do art. 52 ilustram
a preocupação do legislador em prevenir condutas que,
porventura, possam acarretar em subversão da ordem
ou disciplina internas. 4. A indeterminação da linguagem
utilizada nesses casos, agregada ao considerável grau
de intervenção na liberdade individual ínsito à aplicação
do instituto, são fatores que, à luz do postulado da pro-
porcionalidade e do dever constitucional de fundamen-
tação, obrigam maior prudência e cautela por parte dos
magistrados, para que decisões flagrantemente ilegais,
baseadas mais em seus anseios pessoais de justiça do
que na intencionalidade normativa do direito, não sejam
proferidas. Por outro lado, não é qualquer suspeita de
participação em grupos criminosos que conduz à con-
clusão inarredável, como se automática fosse, de que há
ameaça à subversão da ordem ou à disciplina interna,
devendo o magistrado fundamentar a decisão com base
em dados concretos presentes nos autos. Mas o fato é
que a lei, em nenhum momento, estabelece como requi-
sito, nessas duas últimas hipóteses, qualquer demons-
tração de atos previamente praticados pelo apenado
no estabelecimento criminal. Por conseguinte, qualquer
interpretação que porventura condicione, também nas
hipóteses em apreço, a aplicação da medida a atos pre-
téritos de indisciplina recairá em notória argumentação
contra legem. 5. No particular, a inserção do Paciente em
Regime Disciplinar Diferenciado restou devidamente fun-

35
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

damentada, já que o próprio se declarou membro da or-


ganização criminosa conhecida como Primeiro Comando
da Capital (PCC), tendo sido encontrada em seu poder,
ainda, uma cartilha contendo instruções do grupo. Mais
do que isso, a Corte de origem salientou que o Paciente
é o encarregado de exercer a função de “disciplina” no
pavilhão, posição hierárquica importante que lhe conce-
de a tarefa de impor e cobrar dos demais integrantes as
incumbências criminosas atribuídas, e que lhe possibilita
ter informações privilegiadas sobre todas as ações prati-
cadas na região, presídio, pavilhão ou raio subordinado,
tudo isso a desvendar o preenchimento do requisito pre-
visto no art. 52, §2.º da Lei n.º 7.210⁄1984, não havendo
se falar em desproporcionalidade da medida. 6. Ordem
de habeas corpus não conhecida. (HC 265.937⁄SP, Rel.
Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em
11⁄02⁄2014, DJe 28⁄02⁄2014) (grifo no original)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO


PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME PRISIONAL INDEFERIDO.
REQUISITO SUBJETIVO NÃO PREENCHIDO. DECISÃO DE-
VIDAMENTE FUNDAMENTADA. ELEMENTOS CONCRETOS.
PRÁTICA DE FALTA DISCIPLINAR NO CURSO DA EXECUÇÃO,
OCORRIDA EM 2016. (DESOBEDIÊNCIA À ORDEM DE SERVI-
DOR PÚBLICO). RECORRENTE INSERIDO EM PENITENCIÁRIA
FEDERAL EM REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO (RDD). 1.
É firme a jurisprudência desta Corte de que, ainda que haja ates-
tado de boa conduta carcerária, a análise desfavorável do méri-
to do condenado feita pelo Juízo das Execuções, com base nas
peculiaridades do caso concreto e levando em consideração fatos
ocorridos durante a execução penal, justifica o indeferimento do

36
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

pleito de progressão de regime prisional pelo inadimplemento do


requisito subjetivo. 2. No caso, contra o paciente, de nacionalidade
chilena, pesa decreto de extradição expedido pelo Supremo Tribu-
nal Federal, em razão da condenação de duas prisões perpétuas,
por envolvimento com crimes de terrorismo praticados com extrema
crueldade e táticas de guerrilha, a que foi submetido na República
do Chile e que ainda não foi cumprida por aquele país e, também,
que o Ministro da justiça já determinou sua expulsão do país, após o
integral cumprimento da pena. De outro ponto, infere-se do acórdão
impugnado, que o paciente praticou falta grave no dia 16/11/2016,
consistente em desobediência à ordem de servidor público. Demais
disso, foi inserido em Penitenciária Federal, em Regime Disciplinar
Diferenciado (RDD), o qual foi inúmeras vezes fundamentadamente
renovado pela concreta possibilidade de fuga e envolvimento dire-
to com o chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC), porque
“durante praticamente todo o período em que esteve recolhido na
Penitenciária do Estado de São Paulo (de 1-02-2002 a 02-02-2007)
representou risco à ordem e à segurança do estabelecimento, pe-
nal ou da sociedade, em razão de seu envolvimento com organiza-
ção criminosa”, não demonstrando, assim, que reúne condições
pessoais de reinserção social e, portanto, não preenche o requisi-
to subjetivo à progressão de regime. 3. Ressalte-se, ainda, que o
afastamento dos fundamentos utilizados pelas instâncias ordinárias
quanto ao mérito subjetivo do paciente demandaria o reexame de
matéria fático-probatória, providência inadmissível na via estreita
do habeas corpus. 4. Recurso ordinário não provido. (RHC 75.366/
RO, Rel. Ministro ANTÔNIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TUR-
MA, julgado em 04/04/2017, DJe 26/04/2017)

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO.

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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. EXECUÇÃO PENAL. PRÁTICA


DE NOVO CRIME DOLOSO NO INTERIOR DO PRESÍDIO (HOMI-
CÍDIO). SUBVERSÃO DA ORDEM E DISCIPLINA CARCERÁRIA.
FALTA GRAVE. PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. REGIME
DISCIPLINAR DIFERENCIADO. ALEGAÇÃO DE DESPROPOR-
CIONALIDADE DA MEDIDA. INEXISTÊNCIA. REQUISITOS LE-
GAIS PREENCHIDOS. WRIT NÃO CONHECIDO. 1. O Supremo
Tribunal Federal, por sua Primeira Turma, e a Terceira Seção des-
te Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e
sucessiva do habeas corpus, passaram a restringir a sua admissi-
bilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela via re-
cursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem,
de ofício, nos casos de flagrante ilegalidade. Esse entendimento
objetivou preservar a utilidade e a eficácia do mandamus, que é o
instrumento constitucional mais importante de proteção à liberdade
individual do cidadão ameaçada por ato ilegal ou abuso de poder,
garantindo a celeridade que o seu julgamento requer. 2. As Turmas
que compõem a Terceira Seção desta Corte firmaram o entendimen-
to de que, em razão da ausência de legislação específica, a prescri-
ção da pretensão de se apurar falta disciplinar, cometida no curso
da execução penal, deve ser regulada, por analogia, pelo prazo do
art. 109 do Código Penal, com a incidência do menor lapso previs-
to, atualmente de três anos, conforme dispõe o inciso VI do aludido
artigo. 3. In casu, conforme consta do voto condutor do acórdão im-
pugnado, o crime no interior do presídio foi cometido em 10/1/2016.
A conduta foi praticada após a edição da Lei n. 12.234/2010, cujo
menor lapso prescricional é de 3 anos, prazo para apuração da falte
grave ainda não implementado. 4. Por outro lado, consolidou-se
nesta Superior Corte de Justiça entendimento no sentido da apli-
cação do Regime Disciplinar Diferenciado nos casos de subversão
da ordem e da disciplina no interior do estabelecimento prisional.

38
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

Precedentes. 5. O prazo de um ano foi bem estabelecido e mostra-


-se proporcional à gravidade da ação do ora paciente: matou sua
companheira na presença de sua própria filha com a vítima, dentro
do banheiro da cela que divide com outros presos, causando como-
ção e colocando em risco a segurança da unidade e dos demais
visitantes, presos, bem como agentes de segurança. 6. Inexistên-
cia, portanto, de constrangimento ilegal, a justificar a concessão da
ordem de ofício. 7. Habeas corpus não conhecido. (HC 375.526/SP,
Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TUR-
MA, julgado em 16/03/2017, DJe 27/03/2017)

Tribunal de Justiça de Goiás

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO AO


TRÁFICO. PRESO PROVISÓRIO. REGIME DISCIPLINAR DIFE-
RENCIADO. 1. A inclusão do preso provisório no regime disciplinar
diferenciado - RDD, é medida disciplinar carcerária especial que,
pode ser aplicada pelo juiz da instrução criminal, à inteligência do
artigo 52 da LEP. 2. Tratando-se de medida cautelar urgente, funda-
mentada no risco à segurança pública e na manutenção da ordem
no meio penitenciário, a ausência de manifestação prévia da defesa
não gera nulidade do ato. 3. Ordem conhecida e denegada. (TJGO,
HABEAS CORPUS 286823-11.2016.8.09.0000, Rel. DR(A). LILIA
MÔNICA DE CASTRO BORGES ESCHER, 1A CÂMARA CRIMI-
NAL, julgado em 27/09/2016, DJe 2132 de 17/10/2016)

39
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS
– Supremacia da dignidade humana dentro dos Estabele-
cimentos Prisionais

Supremo Tribunal Federal

REPERCUSSÃO GERAL

RECURSO DO MPE CONTRA ACÓRDÃO DO TJRS. REFOR-


MA DE SENTENÇA QUE DETERMINAVA A EXECUÇÃO DE
OBRAS NA CASA DO ALBERGADO DE URUGUAIANA. ALEGA-
DA OFENSA AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES
E DESBORDAMENTO DOS LIMITES DA RESERVA DO POSSÍ-
VEL. INOCORRÊNCIA. DECISÃO QUE CONSIDEROU DIREITOS
CONSTITUCIONAIS DE PRESOS MERAS NORMAS PROGRAMÁ-
TICAS. INADMISSIBILIDADE. PRECEITOS QUE TÊM EFICÁCIA
PLENA E APLICABILIDADE IMEDIATA. INTERVENÇÃO JUDICIAL
QUE SE MOSTRA NECESSÁRIA E ADEQUADA PARA PRESER-
VAR O VALOR FUNDAMENTAL DA PESSOA HUMANA. OBSER-
VÂNCIA, ADEMAIS, DO POSTULADO DA INAFASTABILIDADE
DA JURISDIÇÃO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO PARA
MANTER A SENTENÇA CASSADA PELO TRIBUNAL. I - É lícito ao
Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer, consis-
tente na promoção de medidas ou na execução de obras emergen-
ciais em estabelecimentos prisionais. II - Supremacia da dignidade
da pessoa humana que legitima a intervenção judicial. III - Senten-
ça reformada que, de forma correta, buscava assegurar o respeito
à integridade física e moral dos detentos, em observância ao art.
5º, XLIX, da Constituição Federal. IV - Impossibilidade de opor-se

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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

à sentença de primeiro grau o argumento da reserva do possível


ou princípio da separação dos poderes. V - Recurso conhecido e
provido. (RE 592581, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI,
Tribunal Pleno, julgado em 13/08/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL – MÉRITO DJe-018 DIVULG. 29-01-2016
PUBLIC. 01-02-2016)

Tese

É lícito ao Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fa-


zer, consistente na promoção de medidas ou na execução de obras
emergenciais em estabelecimentos prisionais para dar efetividade
ao postulado da dignidade da pessoa humana e assegurar aos de-
tentos o respeito à sua integridade física e moral, nos termos do que
preceitua o art. 5º, XLIX, da Constituição Federal, não sendo opo-
nível à decisão o argumento da reserva do possível nem o princípio
da separação dos poderes.

Observação: Redação da tese aprovada nos termos do item 2 da


Ata da 12ª Sessão Administrativa do STF, realizada em 09/12/2015.

Excerto do voto
16. Sujeição da matéria ao Judiciário

Forçoso é concluir, que, diante do panorama até aqui ex-


posto, o arcabouço normativo interno (Constituição Fe-
deral, Lei de Execução Penal e demais atos normativos
legais e regulamentares) e internacional (tratados e pac-
tos assinados e internalizados pelo Brasil), na prática,
configuram letra morta, ao menos com relação àqueles

41
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

infelizes trancafiados nos cárceres de todo o País.

Assim, mostra-se no mínimo paradoxal a assertiva que


consta do acórdão proferido pelo TJRS abaixo reprodu-
zida:

“(…) fundado no princípio da discricionariedade, o Esta-


do tem liberdade de dispor das verbas orçamentárias, de
escolher onde devem ser aplicadas e quais obras deve
realizar.
E o Poder Judiciário, pergunto, cabe intrometer-se nas
questões de governo, de programa de governo, de ges-
tão, e impor ao Poder Executivo obrigação de fazer que
importe gastos sem previsão orçamentária? Respondo
pela negativa”.

Ora, salta aos olhos que, ao contrário do que conclui o


mencionado aresto, existe todo um complexo normativo
de índole interna e internacional, que exige a pronta ação
do Judiciário para recompor a ordem jurídica violada, em
especial para fazer valer os direitos fundamentais - de
eficácia plena e aplicabilidade imediata - daqueles que
se encontram, temporariamente, repita-se, sob a custó-
dia do Estado.

A hipótese aqui examinada não cuida, insisto, de imple-


mentação direta, pelo Judiciário, de políticas públicas,
amparadas em normas programáticas, supostamente
abrigadas na Carta Magna, em alegada ofensa ao prin-
cípio da reserva do possível. Ao revés, trata-se do cum-
primento da obrigação mais elementar deste Poder que
é justamente a de dar concreção aos direitos fundamen-

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

tais, abrigados em normas constitucionais, ordinárias,


regulamentares e internacionais.

A reiterada omissão do Estado brasileiro em oferecer


condições de vida minimamente digna aos detentos exi-
ge uma intervenção enérgica do Judiciário para que, pelo
menos, o núcleo essencial da dignidade da pessoa hu-
mana lhes seja assegurada, não havendo margem para
qualquer discricionariedade por parte das autoridades
prisionais no tocante a esse tema.

Sim, porque, como já assentou o Ministro Celso de Mello,


não pode o Judiciário omitir-se “se e quando os órgãos
estatais competentes, por descumprirem os encargos
político-jurídicos que sobre eles incidem, vierem a com-
prometer, com tal comportamento, a eficácia e a integri-
dade direitos individuais e/ou coletivos impregnados de
estatura constitucional”.

Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO.


NÃO CABIMENTO. EXECUÇÃO PENAL. ART. 217-A, CAPUT, E
ART. 344 DO CÓDIGO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME. SU-
POSTA AUSÊNCIA DE VAGA EM ESTABELECIMENTO COMPATÍ-
VEL COM O REGIME SEMIABERTO. INOCORRÊNCIA. INAPLI-
CABILIDADE DA SÚMULA VINCULANTE 56/STF. ANÁLISE DAS
CONDIÇÕES ESTRUTURAIS E DE SALUBRIDADE DO ESTABE-
LECIMENTO PRISIONAL. NECESSIDADE DE AMPLO REVOLVI-
MENTO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. INVIABILIDADE NA
ESTREITA VIA DO WRIT. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. I

43
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

- A Terceira Seção desta Corte, seguindo entendimento firmado pela


Primeira Turma do col. Pretório Excelso, firmou orientação no sen-
tido de não admitir a impetração de habeas corpus em substituição
ao recurso adequado, situação que implica o não conhecimento da
impetração, ressalvados casos excepcionais em que, configurada
flagrante ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal, seja pos-
sível a concessão da ordem de ofício. II - Segundo a jurisprudência
desta Corte Superior, se o caótico sistema prisional estatal não pos-
sui meios para manter os detentos em estabelecimento apropria-
do, é de se autorizar, excepcionalmente, que a pena seja cumprida
em regime mais benéfico - estabelecimento adequado ao regime
aberto ou prisão domiciliar. III - Nessa mesma orientação, o excel-
so Supremo Tribunal Federal, em sessão realizada em 29/06/2016,
aprovou a Súmula Vinculante n. 56 com a seguinte redação: “A falta
de vagas em estabelecimento prisional não autoriza a manutenção
do preso em regime mais gravoso, devendo-se observar, nessa hi-
pótese, os parâmetros do Recurso Extraordinário 641.320.” IV - No
presente caso, contudo, não se verifica a presença de referida hipó-
tese excepcional - ausência de vaga em estabelecimento prisional
compatível com o regime semiaberto -, pois não há notícias de que
ele esteja sujeito a regime mais gravoso do que o que lhe foi im-
posto, limitando-se a sua irresignação à precariedade dos estabe-
lecimentos prisionais de regime semiaberto. V - A discussão acerca
das condições de recolhimento dos apenados no sistema prisional
local, tidas por inadequadas ao regime de cumprimento de pena em
comento, demanda amplo revolvimento de matéria fático probató-
ria, procedimento a toda evidência incompatível com a estreita via
do writ. Habeas corpus não conhecido. (HC 395.999/SP, Rel. Minis-
tro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 03/08/2017, DJe
15/08/2017)

CONSTITUCIONAL E EXECUÇÃO PENAL. RECURSO ORDI-

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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

NÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. SUPERLOTAÇÃO DE


ESTABELECIMENTO PRISIONAL. LIMITAÇÃO DO NÚMERO DE
DETENTOS POR DECISÃO JUDICIAL. RESERVA DO POSSÍVEL.
NÃO OPONIBILIDADE. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA SEPARA-
ÇÃO DOS PODERES. NÃO OCORRÊNCIA. PREVALÊNCIA DA
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DO MÍNIMO EXISTENCIAL.
RECURSO NÃO PROVIDO. 1. No julgamento do RE 592.581/RS,
com repercussão geral, o Supremo Tribunal Federal entendeu que
a supremacia dos postulados da dignidade da pessoa humana e
do mínimo existencial legitima a imposição, ao Poder Executivo,
de medidas em estabelecimentos prisionais destinadas a assegurar
aos detentos o respeito à sua integridade física e moral, não sen-
do oponível à decisão o argumento da reserva do possível. 2. Não
afronta o princípio da separação dos poderes a interdição, total ou
parcial, de unidade penitenciária que estiver funcionando em condi-
ções inadequadas, uma vez que se trata de função atípica conferida
ao Poder Judiciário pelo art. 66, VIII, da Lei de Execução Penal.
Precedentes desta Corte Superior. 3. O Juízo de primeiro grau ob-
servou, no Departamento de Polícia Judiciária - DPJ de Vila Velha/
ES, a existência de precárias condições de trabalho dos agentes de
polícia civil que ali servem de carcereiros, a ocorrência de fugas de
presos, o risco de rebelião, bem como a superlotação do local, que,
embora tenha capacidade para alojar 36 (trinta e seis) detentos,
abrigava 260 (duzentos e sessenta) internos à época da inspeção
judicial. 4. Constituído esse quadro, a intervenção judicial era medi-
da que se impunha, para, de algum modo, fazer cessar ou, ao me-
nos, amenizar, a situação de grave violação da dignidade humana
dos presos, encontrada no DPJ de Vila Velha. 5. Recurso ordinário
em mandado de segurança a que se nega provimento. (RMS
31.392/ES, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, jul-
gado em 05/04/2016, DJe 15/04/2016)

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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

AUTORIZAÇÕES DE SAÍDA
Supremo Tribunal Federal

HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. LEI DE EXECUÇÃO PE-


NAL. SAÍDAS TEMPORÁRIAS. VIABILIDADE. CONCESSÃO DA
ORDEM DE OFÍCIO. 1. Compete ao Juízo das Execuções Penais
conceder, ouvidos o Ministério Público e a administração penitenci-
ária, o benefício da saída temporária do estabelecimento prisional
para visitar a família, frequentar curso supletivo profissionalizante
(ou instrução do segundo grau ou superior), ou participar de ati-
vidades que concorram para o retorno do preso ao convívio so-
cial (arts. 122 e 123 da LEP). 2. A renovação automática de saí-
das temporárias, além de proporcionar a reinserção gradativa do
apenado ao convívio familiar e social, não compromete o objetivo
da pena, nem onera a coletividade, porquanto, em caso de come-
timento de falta grave no período de gozo do benefício, a decisão
concessória será reavaliada. Precedentes. 3. Ordem de habeas
corpus concedida para restabelecer os efeitos da decisão autoriza-
dora das saídas temporárias, nos moldes exarados pelo magistrado
de primeiro grau, se não alterada a situação fática da paciente. (HC
129713, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado
em 09/08/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-181 DIVULG 25-
08-2016 PUBLIC 26-08-2016)
Habeas corpus. Penal. Execução de pena. Saída temporária (art.
122 da Lei nº 7.210/84). Prazo não superior a sete dias (art. 124 da
Lei nº 7.210/84). Natureza penal. Contagem. Artigo 10 do Código
Penal. Inclusão do dia do começo no cômputo do prazo. Autoriza-
ção para que o preso se ausente do presídio ou a ele retorne a
zero hora. Descabimento. Impossibilidade de se computar o prazo
em horas (art. 11, CP). Necessidade de preservação da segurança

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penitenciária. Ordem denegada. 1. A saída temporária (art. 122 da


Lei nº 7.210/84) é um instrumento de execução da pena privativa de
liberdade destinado a fortalecer vínculos familiares, reduzir tensões
carcerárias e possibilitar a reintegração social do preso. 2. O prazo
máximo de sete dias previsto no art. 124 da Lei nº 7.210/84 tem na-
tureza penal, haja vista que se imbrica com a própria execução da
pena. 3. O dia do começo, portanto, inclui-se no cômputo do prazo
da saída temporária (art. 10, CP). 4. Não há como se autorizar o pa-
ciente a se ausentar do presídio ou a ele retornar a zero hora, não
apenas por importar em indevida contagem do prazo em horas (art.
11, CP), como também por questões de evidente segurança peni-
tenciária. 5. Ordem denegada. (HC 130883, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 31/05/2016, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-125 DIVULG 16-06-2016 PUBLIC 17-06-2016)

Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. EXECUÇÃO PENAL. AUTO-


RIZAÇÃO DE SAÍDAS TEMPORÁRIAS. ATO JUDICIAL ÚNICO.
EXCEPCIONALIDADE. DELEGAÇÃO DE ESCOLHA DAS DATAS
À AUTORIDADE PRISIONAL. IMPOSSIBILIDADE. LIMITE ÂNUO
DE 35 DIAS. HIPÓTESE DO ART. 122, I E III, DA LEP. PRAZO
MÍNIMO DE 45 DIAS DE INTERVALO ENTRE OS BENEFÍCIOS.
RECURSO PROVIDO. REVISÃO DO TEMA N. 445 DO STJ. 1. Re-
curso especial processado sob o regime previsto no art. 1.036 do
CPC, c/c o art. 3º do CPP. 2. A autorização das saídas temporárias
é benefício previsto nos arts. 122 e seguintes da LEP, com o obje-
tivo de permitir ao preso que cumpre pena em regime semiaberto
visitar a família, estudar na comarca do juízo da execução e parti-
cipar de atividades que concorram para o retorno ao convívio so-
cial. 3. Cuida-se de benefício que depende de ato motivado do juiz

47
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da execução penal, ouvido o Ministério Público e a administração


penitenciária, desde que o preso tenha comportamento adequado,
tenha cumprido o mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se primário, e
1/4 (um quarto), se reincidente, e haja compatibilidade do benefício
com os objetivos da pena. 4. É de se permitir a flexibilização do
benefício, nos limites legais, de modo a não impedir que seu gozo
seja inviabilizado por dificuldades burocráticas e estruturais dos ór-
gãos da execução penal. Assim, exercendo seu papel de intérprete
último da lei federal e atento aos objetivos e princípios que orientam
o processo de individualização da pena e de reinserção progressiva
do condenado à sociedade, o Superior Tribunal de Justiça, por sua
Terceira Seção, estabelece, dado o propósito do julgamento desta
impugnação especial como recurso repetitivo, as seguintes teses:
Primeira tese: É recomendável que cada autorização de saída tem-
porária do preso seja precedida de decisão judicial motivada. En-
tretanto, se a apreciação individual do pedido estiver, por deficiên-
cia exclusiva do aparato estatal, a interferir no direito subjetivo do
apenado e no escopo ressocializador da pena, deve ser reconhe-
cida, excepcionalmente, a possibilidade de fixação de calendário
anual de saídas temporárias por ato judicial único, observadas as
hipóteses de revogação automática do art. 125 da LEP. Segunda
tese: O calendário prévio das saídas temporárias deverá ser fixado,
obrigatoriamente, pelo juízo das Execuções, não se lhe permitindo
delegar à autoridade prisional a escolha das datas específicas nas
quais o apenado irá usufruir os benefícios. Inteligência da Súmula
n. 520 do STJ. Terceira tese: Respeitado o limite anual de 35 dias,
estabelecido pelo art. 124 da LEP, é cabível a concessão de maior
número de autorizações de curta duração. Quarta tese: As autoriza-
ções de saída temporária para visita à família e para participação
em atividades que concorram para o retorno ao convívio social, se
limitadas a cinco vezes durante o ano, deverão observar o prazo

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mínimo de 45 dias de intervalo entre uma e outra. Na hipótese de


maior número de saídas temporárias de curta duração, já interca-
ladas durante os doze meses do ano e muitas vezes sem pernoite,
não se exige o intervalo previsto no art. 124, § 3°, da LEP. 5. No
caso concreto, deve ser reconhecida a violação do art. 123 da LEP,
por indevida delegação de escolha das datas da fruição do benefí-
cio à autoridade prisional. 6. Recurso especial conhecido e provido
para reconhecer a violação tão somente do art. 123 da LEP, man-
tido, no mais, o acórdão impugnado. Modificação do Tema n. 445
do STJ, nos termos das teses ora fixadas. (REsp 1544036/RJ, Rel.
Ministro ROGÉRIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado
em 14/09/2016, DJe 19/09/2016)

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS. NEGATIVA DE SAÍDAS


TEMPORÁRIAS. MARCO INICIAL DE CONTAGEM DO REQUI-
SITO TEMPORAL. FALTA GRAVE NO CURSO DA EXECUÇÃO.
INTERRUPÇÃO DO PRAZO PARA A CONCESSÃO DE BENEFÍ-
CIOS, EXCETO O LIVRAMENTO CONDICIONAL, O INDULTO E A
COMUTAÇÃO DE PENA. WRIT NÃO CONHECIDO. 1. Esta Corte
e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido
de que não cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente
previsto para a hipótese, impondo-se o não conhecimento da im-
petração, salvo quando constatada a existência de flagrante ilega-
lidade no ato judicial impugnado. 2. O cometimento de falta grave
pelo apenado implica reinício da contagem do prazo para obter os
benefícios relativos à execução da pena, entre eles saídas tem-
porárias e trabalho externo, somente sendo excepcionado o livra-
mento condicional, o indulto e a comutação de pena. Precedentes.
3. Habeas corpus não conhecido. (HC 374.086/DF, Rel. Ministro
RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 20/06/2017, DJe
28/06/2017)

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PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITU-


TIVO DE RECURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. EXECUÇÃO
PENAL. SAÍDA TEMPORÁRIA. REQUISITO SUBJETIVO NÃO
IMPLEMENTADO. AUSÊNCIA DE COMPORTAMENTO ADEQUA-
DO. DESCUMPRIMENTO DE CONDIÇÃO DO REGIME ABERTO
E PRÁTICA DE NOVO CRIME DURANTE O CUMPRIMENTO DA
PENA. FALTA GRAVE HOMOLOGADA. AUSÊNCIA DE CONS-
TRANGIMENTO ILEGAL. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.
I - No presente caso, as instâncias ordinárias negaram a saída tem-
porária por ausência de preenchimento do requisito subjetivo, uma
vez que o paciente, menos de 5 (cinco) meses antes de pleitear o
benefício, descumpriu uma das condições do regime aberto (ausên-
cia de apresentação na casa de albergado desde o dia 27/05/2016),
tendo sido preso em flagrante por novo delito, em 31/05/2016, o
que foi considerado como falta grave, devidamente homologada,
acarretando a regressão de regime prisional. II - Desta forma, em-
bora o diretor do estabelecimento prisional tenha atestado o bom
comportamento carcerário, os fatos descritos maculam o histórico
prisional do paciente, não restando demonstrado o comportamento
adequado para a concessão da benesse, requisito subjetivo previs-
to no art. 123, I, da Lei de Execução Penal. Habeas corpus não co-
nhecido. (HC 389.302/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA
TURMA, julgado em 27/04/2017, DJe 25/05/2017)
PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RE-
CURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DA PENA. FALTA GRAVE. IN-
TERRUPÇÃO DO LAPSO TEMPORAL PARA PROGRESSÃO DE
REGIME. INAPLICABILIDADE À SAÍDA TEMPORÁRIA E TRABA-
LHO EXTERNO. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO. 1. A prática de falta grave no curso da execução não in-
terrompe o prazo para a concessão da saída temporária e trabalho
externo, cujos requisitos estão expressamente previstos nos artigos

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36, 37 e 123 da Lei de Execuções Penais, que não faz qualquer re-
ferência à necessidade de nova contagem de prazo para a conces-
são do benefício. 2. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp
1660437/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
SEXTA TURMA, julgado em 20/04/2017, DJe 28/04/2017)

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REMIÇÃO
– Remição por Estudo e Leitura

Superior Tribunal de Justiça

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RE-


CURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. REMIÇÃO
DA PENA PELA LEITURA. POSSIBILIDADE. WRIT NÃO CONHE-
CIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. O Supremo Tribunal
Federal, por sua Primeira Turma, e a Terceira Seção deste Superior
Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do
habeas corpus, passaram a restringir a sua admissibilidade quando
o ato ilegal for passível de impugnação pela via recursal própria,
sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de ofício, nos
casos de flagrante ilegalidade. Esse entendimento objetivou pre-
servar a utilidade e a eficácia do mandamus, que é o instrumento
constitucional mais importante de proteção à liberdade individual do
cidadão ameaçada por ato ilegal ou abuso de poder, garantindo a
celeridade que o seu julgamento requer. 2. Firmou-se nesta Corte
Superior de Justiça entendimento no sentido de ser viável a conces-
são da remição por atividades não expressas na lei, dentre as quais
a leitura, diante de uma interpretação extensiva in bonam partem
do artigo 126 da Lei de Execução Penal. 3. Habeas corpus não
conhecido. Contudo, ordem concedida de ofício para reconhecer a
legalidade da remição pela leitura, com determinação, em consequ-
ência, no sentido de que o Juízo das Execuções Criminais conceda
ao paciente a referida benesse, promovendo o cálculo do número
de dias a que faz jus o reeducando de acordo com os documen-
tos comprobatórios de tal atividade. (HC 400.999/SP, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
27/06/2017, DJe 01/08/2017)

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HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. REMIÇÃO POR LEITU-


RA. ART. 126 DA LEI DE EXECUÇÕES PENAIS. CONSTATAÇÃO
DE IRREGULARIDADES ADMINISTRATIVAS NO ÂMBITO DO
PROJETO. RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO PENI-
TENCIÁRIA E DE SEUS SERVIDORES. IMPOSSIBILIDADE DE
PREJUÍZO AO APENADO DE BOA - FÉ. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM CONCEDIDA PARA RESTABE-
LECER A DECISÃO DO MAGISTRADO DAS EXECUÇÕES. A pos-
sibilidade de remição de dias de pena por meio da leitura foi con-
firmada no âmbito deste Superior Tribunal de Justiça, adotando a
Corte o entendimento de que se trata de analogia in bonam partem
da remição por estudo, expressamente prevista no art. 126 da Lei
de Execuções Penais. O simples fato de o estabelecimento prisio-
nal contar com oferta de trabalho e estudo não impede que a leitura
seja fonte de remição de dias de pena. Com efeito, a Recomen-
dação n. 44/13 do Conselho Nacional de Justiça, em seu art. 1º,
inciso V, limita-se a propor que os Tribunais estimulem a remição
por leitura notadamente aos presos sem acesso a trabalho e estu-
do, não erigindo óbice a que tal prática também seja implementada
em unidades penitenciárias que já oferecem as demais espécies de
atividades ensejadoras de remição.
Os vícios administrativos identificados pelo Tribunal de origem não
têm o condão de obstar o direito do apenado à remição. Uma vez
implementado o projeto de remição por leitura na unidade prisional
em que cumpre pena o paciente, não comprovada má-fé do apena-
do e ausente dúvida fundada a respeito da efetiva leitura e absor-
ção da obra literária pelo sentenciado, impõe-se a concessão do
direito ao apenado. Eventuais irregularidades formais identificadas,
atinentes ao número e à qualificação dos avaliadores, bem como a
notícia de que não foi produzida uma escala de compatibilização de

53
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

horários de leitura com os de trabalho e estudo formais, reputam-se


insuficientes para anular ou descaracterizar a remição pretendida.
Cumpre salientar que, à luz do art. 130 da Lei de Execuções Penais,
“constitui o crime do artigo 299 do Código Penal declarar ou atestar
falsamente prestação de serviço para fim de instruir pedido de re-
mição”, de modo que a constatação de irregularidades no procedi-
mento de apuração de trabalho, estudo ou leitura do apenado gera
responsabilidade no âmbito da administração e de seus servidores,
não repercutindo no direito legalmente assegurado ao sentenciado
de boa fé. Ordem concedida, em consonância com o parecer minis-
terial, para restabelecer a decisão de primeiro grau que deferira a
remição de 4 (quatro) dias de pena ao paciente. (HC 349.239/SP,
Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
04/10/2016, DJe 14/10/2016)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


EXECUÇÃO PENAL. REMIÇÃO PELO ESTUDO. COMPROVA-
ÇÃO DOS REQUISITOS. CERTIFICAÇÃO PELA AUTORIDADE.
NECESSIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS. SÚMULA
7/STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. I - As instâncias
ordinárias afirmaram que o apenado preencheu os requisitos para
remição pelo estudo e que a exigência de certificação pela autori-
dade educacional foi devidamente suprida, pois “é perceptível, em
todos os documentos acostados aos autos, que a autoridade edu-
cadora não deixa de ser indicada, havendo a assinatura de agente
penitenciário apenas para fins de organização” (fl. 74). II - A alega-
ção da parte agravante, no sentido de que o requisito exigido pelo
art. 126, § 2º, da Lei de Execução Penal não foi devidamente preen-
chido, reclama incursão no acervo fático probatório delineado nos
autos, procedimento vedado pela Súmula n. 7 desta Corte. Agravo
regimental não provido. (AgRg no AREsp 882.538/RN, Rel. Minis-

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tro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 03/08/2017, DJe


10/08/2017)

Tribunal de Justiça de Goiás

AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. REMIÇÃO DA PENA. LEITU-


RA. AUSÊNCIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO NA CADEIA
PÚBLICA DA COMARCA. INVIABILIDADE. O desempenho de
atividade de leitura já é considerado válido para fins de remição
da pena, no entanto, o benefício depende de implementação de
projeto específico para remição por estudo na instituição prisional.
A ausência do projeto impossibilita o controle da leitura praticada
pelo reeducando e, de consequência, a remição da pena, conforme
orientação do Superior Tribunal de Justiça. AGRAVO CONHECI-
DO E DESPROVIDO. (TJGO, AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL
52695-12.2017.8.09.0000, Rel. DES. ITANEY FRANCISCO CAM-
POS, 1A CÂMARA CRIMINAL, julgado em 01/08/2017, DJe 2331
de 18/08/2017)

– Remição por Trabalho Artesanal

Superior Tribunal de Justiça

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO


PENAL. REMIÇÃO. TRABALHO ARTESANAL. AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DA CARGA HORÁRIA DE TRABALHO EFETIVA-
MENTE CUMPRIDA PELO RECORRENTE. IMPOSSIBILIDADE.
NECESSIDADE DE REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ. I - A
Lei de Execução Penal, no seu artigo 33, dispõe que a jornada de
trabalho normal do preso poderá variar entre um mínimo de seis ho-
ras e um máximo de oito horas diárias. O art. 129 do mesmo diplo-

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ma exige que a autoridade administrativa encaminhe mensalmente


ao Juízo das Execuções cópia do registro de todos os sentenciados
que estejam trabalhando, com informação especificada dos dias de
trabalho. II - Na hipótese, o eg. Tribunal a quo concluiu que não
houve a comprovação da carga horária de trabalho efetivamente
cumprida pelo recorrente, até mesmo porque não havia controle
direto e fiscalização do trabalho realizado. Dessa forma, inviável,
nos termos da Jurisprudência desta Corte, a homologação dos
dias remidos. III - Entender de modo contrário ao estabelecido pelo
Tribunal de origem, no caso, exigiria o reexame do quadro fático
probatório, medida inviável no âmbito do apelo extremo, nos ter-
mos da Súmula n. 7/STJ. Agravo regimental desprovido. (AgRg no
REsp 1649744/RO, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TUR-
MA, julgado em 21/03/2017, DJe 31/03/2017)

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ES-


PECIAL. EXECUÇÃO. REMIÇÃO. ART. 126 DA LEP. ATIVIDADES
DE ARTESANATO. HORAS TRABALHADAS. FISCALIZAÇÃO
E REGISTRO DE RETRIBUIÇÃO ECONÔMICA. REEXAME DE
PROVAS. SÚMULA N. 7 DO STJ. DIVERGÊNCIA JURISPRUDEN-

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CIAL. ACÓRDÃO PROFERIDO EM HABEAS CORPUS. IMPOS-


SIBILIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. O Tribunal de Justiça
manteve a remição em virtude de trabalho artesanal desenvolvido
pelo apenado nos meses de agosto a novembro de 2012, porquan-
to a atividade foi devidamente atestada pelo Coordenador da res-
pectiva Unidade Prisional. 2. Para afastar a idoneidade da certidão
ou reconhecer eventual falha na fiscalização exercida pelos agen-
tes públicos seria necessário o reexame de fatos não delineados no
acórdão recorrido, o que atrai o óbice da Súmula n. 7 do STJ. 3. A
jurisprudência deste Superior Tribunal é pacífica quanto à impossi-
bilidade de acórdão proferido em habeas corpus servir de paradig-
ma para fins de comprovação de alegado dissídio jurisprudencial.
Ressalva deste relator. 4. Agravo regimental não provido. (AgRg
no AREsp 509.311/GO, Rel. Ministro ROGÉRIO SCHIETTI CRUZ,
SEXTA TURMA, julgado em 07/02/2017, DJe 16/02/2017)

Tribunal de Justiça de Goiás

AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. REMIÇÃO DA PENA. TRABA-


LHO ARTESANAL. VALIDADE. FOLHA DE FREQUÊNCIA REGU-
LARMENTE ASSINADA. É válido o desempenho de atividade ar-
tesanal para fins de remição da pena, consoante a Súmula nº 10
deste e. Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. Os atestados de
frequência ao serviço, devidamente assinados pelo interno e subs-
critos pelo coordenador da unidade prisional, são idôneos para a
comprovação dos dias efetivamente trabalhados pelo agravado.
AGRAVO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJGO, AGRAVO EM
EXECUÇÃO PENAL 137428-42.2016.8.09.0000, Rel. DES. CAR-
MECY ROSA MARIA A. DE OLIVEIRA, 2A CÂMARA CRIMINAL,
julgado em 03/11/2016, DJe 2156 de 25/11/2016)

AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. TRABALHO ARTESANAL.

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REMIÇÃO DA PENA. POSSIBILIDADE. A remição é um direito do


condenado que cumpre pena em regime fechado ou semiaberto,
cujo objetivo é proporcionar o resgate da pena em menor tempo,
por meio do trabalho. II - Se a execução diária de trabalho artesa-
nal, na própria cela, é atestada pela direção do presídio, o período
dessa atividade laboral não pode ser desprezado para os fins de
remição da pena. Inteligência da Súmula nº 10 deste Egrégio Tribu-
nal de Justiça. AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL CONHECIDO E
DESPROVIDO. (TJGO, AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL 302807-
69.2015.8.09.0000, Rel. DR(A). ROBERTO HORÁCIO DE REZEN-
DE, 2A CÂMARA CRIMINAL, julgado em 26/11/2015, DJe 1962 de
03/02/2016)

58
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LIVRAMENTO CONDICIONAL
– Requisito Objetivo

Supremo Tribunal Federal

Execução Penal. Agravo regimental no recurso ordinário em habe-


as corpus. Tráfico e associação para o tráfico. Prazo para o livra-
mento condicional. 1. O requisito objetivo do livramento condicio-
nal (2/3) para o caso de condenação por associação para o tráfico
decorre de previsão expressa do art. 44, parágrafo único, da Lei
nº 11.343/2006. Orientação que também foi adotada pelo Supremo
Tribunal Federal no julgamento do HC 118.213, Rel. Min. Gilmar
Mendes. 2. Ausência de ilegalidade flagrante ou abuso de poder
que justifique o provimento do recurso. 3. Agravo regimental não
provido. (RHC 133938 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARRO-
SO, Primeira Turma, julgado em 30/06/2017, PROCESSO ELE-
TRÔNICO DJe-177 DIVULG 10-08-2017 PUBLIC 14-08-2017)

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. PACIENTE CONDE-


NADO PELA PRÁTICA DO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS
PREVISTO NO ART. 33, § 4°, DA LEI 11.343/2006. LAPSOS PARA
A PROGRESSÃO DE REGIME E LIVRAMENTO CONDICIONAL.
IMPETRAÇÃO NÃO CONHECIDA NO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. MANIFESTO CONS-
TRANGIMENTO ILEGAL. SUPERAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA,
DE OFÍCIO. I - A não interposição de agravo regimental no Superior
Tribunal de Justiça e, portanto, a ausência da análise da decisão
monocrática pelo colegiado, impede o conhecimento do habeas
corpus por esta Suprema Corte. A superação desse entendimento
constitui medida excepcional, que somente se legitima quando a
decisão atacada se mostra teratológica, flagrantemente ilegal ou
59
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abusiva. II - A situação, no caso concreto, é excepcional, apta a su-


perar o entendimento sumular, diante do evidente constrangimento
ilegal ao qual está submetido o paciente. III - Consta dos autos que
o paciente foi condenado pela prática do crime de tráfico de drogas,
previsto no art. 33, § 4°, da Lei 11.343/2006, à pena de 2 anos e 6
meses de reclusão, em regime fechado, e 250 dias-multa. IV - Ao
indeferir o pleito da defesa para alterar os lapsos para a progressão
de regime e livramento condicional para 1/6 e 1/3, respectivamente,
sob o fundamento de que o crime de tráfico de drogas é hediondo, o
Juízo da execução submete o paciente a patente constrangimento
ilegal. V - Este Tribunal, ao julgar o HC 118.553/MS, de relatoria da
Ministra Cármen Lúcia, firmou orientação no sentido de afastar a
natureza hedionda do tráfico privilegiado de drogas. VI – Impetração
não conhecida, mas ordem concedida de ofício, para determinar ao
Juízo de Direito da Unidade Regional de Departamento Estadual de
Execução Criminal-DEECRIM 10ª RAJ/Sorocaba, que promova a
alteração do cálculo da pena do paciente, permitindo, se for o caso,
que o condenado seja promovido ao regime mais benéfico e possa
ser beneficiado pelo livramento condicional após o cumprimento,
respectivamente, de 1/6 e 1/3 da pena. (HC 136886, Relator(a):
Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em
18/04/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-171 DIVULG 03-08-
2017 PUBLIC 04-08-2017)

Superior Tribunal de Justiça

AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. LIVRAMENTO CON-


DICIONAL. CÁLCULO DO TEMPO NECESSÁRIO AO BENEFÍCIO.
INCIDENTE SOBRE O MONTANTE OBTIDO PELA REUNIÃO DAS
EXECUÇÕES. ART. 84 DO CP. REINCIDÊNCIA EM CRIME DO-
LOSO. LAPSO DE 1/2 (UM MEIO). AUSÊNCIA DE CONSTRAN-

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GIMENTO ILEGAL. DECISÃO MANTIDA PELOS PRÓPRIOS


FUNDAMENTOS. RECURSO DESPROVIDO. 1. É assente neste
Tribunal o entendimento de que havendo várias condenações deve
se proceder a soma das penas, realizando-se o cálculo do requisito
objetivo exigido ao livramento condicional sobre o montante obtido
(art. 84 do Código Penal). 2. In casu, sendo o paciente reincidente
em crime doloso, deve ser adotado o lapso preconizado no art. 83,
II, do Código Penal, impondo-se o transcurso do patamar de 1/2
(um meio) da sanção para a obtenção da liberdade clausulada, não
havendo de se cogitar na aplicação concomitante do patamar de
1/3 (um terço) para a execução de pena aplicada ao tempo em que
o réu ostentava a primariedade e de 1/2 (um meio) para as demais
execuções. 3. Tendo sido proferida em consonância com o entendi-
mento firmado neste Sodalício sobre o tema impugnado, deve ser
mantida a decisão agravada pelos seus próprios fundamentos. 4.
Agravo regimental que se nega provimento. (AgRg no HC 383.231/
MS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
27/06/2017, DJe 01/08/2017)

PENAL. PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIME DE ASSOCIAÇÃO
PARA O TRÁFICO. CONCESSÃO DE LIVRAMENTO CONDICIO-
NAL. FRAÇÃO DE CUMPRIMENTO DA PENA. ART. 44, PARÁ-
GRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 11.343/06. AGRAVO IMPROVIDO. 1. O
crime de associação para o tráfico não é considerado hediondo ou
equiparado, contudo o art. 44, parágrafo único, da Lei 11.343/2006
estabelece prazo mais rigoroso para a concessão de livramento
condicional, qual seja, 2/3 do cumprimento da pena, vedando a sua
concessão ao reincidente específico. 2. Agravo regimental improvi-
do. (AgInt no AREsp 532.666/MS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO,
SEXTA TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe 01/08/2017)

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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. ASSOCIAÇÃO PARA O


TRÁFICO. CRIME NÃO CONSIDERADO HEDIONDO OU EQUI-
PARADO. BENEFÍCIOS. REQUISITO OBJETIVO. PROGRESSÃO
DE REGIME E LIVRAMENTO CONDICIONAL. LAPSOS TEM-
PORAIS DISTINTOS. CUMPRIMENTO DE 1/6 (UM SEXTO) NO
CASO DE PROGRESSÃO E DE 2/3 (DOIS TERÇOS) PARA O
LIVRAMENTO, VEDADA A SUA CONCESSÃO AO REINCIDENTE
ESPECÍFICO. ARTS. 112 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL E 44 DA
LEI N. 11.343/2006. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIA-
DO. 1. A jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça
reconhece que o crime de associação para o tráfico de entorpe-
centes (art. 35 da Lei n. 11.343/2006) não figura no rol taxativo de
delitos hediondos ou a eles equiparados, tendo em vista que não
se encontra expressamente previsto no rol taxativo do art. 2º da Lei
n. 8.072/1990. 2. Não se tratando de crime hediondo, não se exige,
para fins de concessão de benefício da progressão de regime, o
cumprimento de 2/5 da pena, se o apenado for primário, e de 3/5,
se reincidente para a progressão do regime prisional, sujeitando-se
ele, apenas ao lapso de 1/6 para preenchimento do requisito obje-
tivo. 3. No entanto, a despeito de não ser considerado hediondo, o
crime de associação para o tráfico, no que se refere à concessão do
livramento condicional, deve, em razão do princípio da especialida-
de, observar a regra estabelecida pelo art. 44, parágrafo único, da
Lei n. 11.343/2006, ou seja, exigir que o cumprimento de 2/3 (dois
terços) da pena, vedada a sua concessão ao reincidente específico.
4. Ordem concedida para afastar a natureza hedionda do crime de
associação para o tráfico e determinar que o Juízo da Vara das Exe-
cuções Criminais da Comarca de São José do Rio Preto/SP proce-
da a novo cálculo da pena, considerando, para fins de progressão
de regime e de livramento condicional, respectivamente, as frações
de 1/6 (um sexto) e 2/3 (dois terços). (HC 394.327/SP, Rel. Minis-
tro ANTÔNIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em

62
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13/06/2017, DJe 23/06/2017)

Tribunal de Justiça de Goiás

AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. TRÁFICO PRIVILEGIADO.


(ARTIGO 33, § 4º, DA LEI 11.343/06). RETIFICAÇÃO DO ATES-
TADO DE PENA. NATUREZA HEDIONDA AFASTADA PELO STF.
Tendo em vista que o Supremo Tribunal Federal afastou a natureza
hedionda do delito de tráfico privilegiado de entorpecentes, viável a
retificação do atestado, para que sejam utilizados os percentuais de
1/6 e 1/3, respectivamente, para fins de cálculo para obtenção da
progressão do regime de cumprimento da pena e livramento condi-
cional do sentenciado. AGRAVO CONHECIDO E PROVIDO. (TJGO,
AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL 83933-09.2017.8.09.0175, Rel.
DR(A). FÁBIO CRISTÓVÃO DE CAMPOS FARIA, 2A CÂMARA
CRIMINAL, julgado em 01/08/2017, DJe 2327 de 14/08/2017)

– Falta Grave

Supremo Tribunal Federal

HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. LIVRAMENTO CON-


DICIONAL. COMETIMENTO DE FALTA GRAVE. INTERRUPÇÃO
DA CONTAGEM DO LAPSO TEMPORAL PARA CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO. AUSÊNCIA DE COMPORTAMENTO SATISFATÓRIO
DURANTE A EXECUÇÃO DA PENA. NÃO PREENCHIMENTO
DOS REQUISITOS. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA PARA A REVO-
GAÇÃO DO LIVRAMENTO CONDICIONAL. ORDEM DENEGADA.
I – A jurisprudência pacífica deste Supremo Tribunal Federal tam-
bém opera no sentido de que a prática de falta grave no decorrer da
execução penal interrompe o prazo para concessão de progressão
de regime, reiniciando-se, a partir do cometimento da infração dis-

63
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ciplinar grave, a contagem do prazo para que o condenado possa


pleitear novamente o referido benefício executório. Precedentes. II
- Admite-se a aplicação retroativa da alteração do art. 127 da Lei de
Execuções Penais, pela Lei 12.433/2011, para limitar a revogação
dos dias remidos à fração de um terço, mantendo a previsão de
reinício da contagem do prazo para a obtenção de benefícios. III - A
modificação legislativa não afastou a necessidade de comprovação
do comportamento satisfatório durante a execução da pena previs-
ta no art. 83, III, do Código Penal, inocorrente no caso em exame,
pela falta grave cometida pelo paciente. IV – Ordem denegada. (HC
136376, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda
Turma, julgado em 18/04/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
089 DIVULG 28-04-2017 PUBLIC 02-05-2017)

Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA


(ART. 543-C DO CPC).
PENAL. EXECUÇÃO. FALTA GRAVE. PROGRESSÃO DE REGI-
ME. INTERRUPÇÃO. PRAZO. LIVRAMENTO CONDICIONAL. AU-
SÊNCIA DE EFEITO INTERRUPTIVO. COMUTAÇÃO E INDULTO.
REQUISITOS. OBSERVÂNCIA. DECRETO PRESIDENCIAL. 1. A
prática de falta grave interrompe o prazo para a progressão de re-
gime, acarretando a modificação da data-base e o início de nova
contagem do lapso necessário para o preenchimento do requisito
objetivo. 2. Em se tratando de livramento condicional, não ocorre a
interrupção do prazo pela prática de falta grave. Aplicação da Sú-
mula 441/STJ. 3. Também não é interrompido automaticamente o
prazo pela falta grave no que diz respeito à comutação de pena
ou indulto, mas a sua concessão deverá observar o cumprimen-
to dos requisitos previstos no decreto presidencial pelo qual foram
instituídos. 4. Recurso especial parcialmente provido para, em ra-
zão da prática de falta grave, considerar interrompido o prazo tão
64
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somente para a progressão de regime. (REsp 1364192/RS, Rel.


Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado
em 12/02/2014, DJe 17/09/2014)

Tribunal de Justiça de Goiás

AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. 1º RECURSO. LIVRAMENTO


CONDICIONAL. 1. A falta grave não deve servir de óbice à conces-
são do livramento condicional, ainda mais quando não apurado em
processo administrativo referente a condenação em outra comarca,
cuja pena já foi extinta pelo cumprimento. 2. Assim, preenchidos os
requisitos objetivos e subjetivos dispostos no artigo 83 do Código
Penal, faz jus o agravante a concessão do livramento condicional.
2º AGRAVO MINISTERIAL. PROGRESSÃO DE REGIME. Preen-
chidos os requisitos para a progressão de regime, mantém-se o de-
cisum primário objurgado. AGRAVOS CONHECIDOS E PROVIDO
O PRIMEIRO RECURSO E DESPROVIDO O SEGUNDO. (TJGO,
AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL 391694-92.2016.8.09.0000, Rel.
DES. ITANEY FRANCISCO CAMPOS, 1A CÂMARA CRIMINAL, jul-
gado em 06/07/2017, DJe 2318 de 31/07/2017)

– Revogação

Supremo Tribunal Federal

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO EXTRAORDI-


NÁRIO. NÃO CONHECIMENTO. EXECUÇÃO CRIMINAL. TRÁFI-
CO DE DROGAS, ASSOCIAÇÃO AO TRÁFICO E POSSE DE ARMA
DE FOGO. CONCESSÃO DE BENEFÍCIO. LIVRAMENTO CON-

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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

DICIONAL. PRÁTICA DE NOVO DELITO. PORTE DE DROGAS


PARA CONSUMO PESSOAL. ART. 28 DA LEI 11.343/06. CONDE-
NAÇÃO. PENA DE ADVERTÊNCIA. REVOGAÇÃO FACULTATIVA
DO BENEFÍCIO. ART. 87 DO CP. DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO
IDÔNEA E CONCRETA. ART. 93, IX, DA CF. NECESSIDADE DE
PERQUIRIR ACERCA DO ART. 140, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI
7.210/84 (LEI DE EXECUÇÃO PENAL). CONCESSÃO DA ORDEM
DE OFÍCIO. 1. Não se admite habeas corpus substitutivo de recur-
so, sob pena de ofensa ao regramento do sistema recursal previsto
na Constituição Federal. 2. Durante a execução da pena, concedido
o benefício do livramento condicional, a sua eventual revogação
somente pode ocorrer nas hipóteses previstas nos arts. 86 e 87 do
Código Penal. 3. Ao apenado beneficiado com o livramento condi-
cional que vem a ser condenado pela prática de novo delito com
pena que não seja privativa de liberdade, a revogação do benefício
é facultativa, nos termos do art. 87, do CP. 4. Antes de decidir pela
revogação do livramento condicional respaldada no art. 87 do CP,
é dever do juiz da execução, em observância ao art. 93, IX, da CF,
combinado com o art. 140, parágrafo único, da LEP, a apresentação
de fundamentação calcada em elementos concretos que justifiquem
não ser o caso de apenas advertir ou então agravar as condições
anteriormente fixadas. 5. Writ não conhecido, mas com concessão
da ordem, de ofício, confirmando-se a liminar anteriormente deferi-
da, para determinar o restabelecimento do livramento condicional,
assegurando ao Juiz da Execução a faculdade de advertir o ape-

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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

nado ou agravar as condições de seu benefício, conforme dispos-


to no art. 140, parágrafo único, da Lei de Execuções Penais. (HC
127709, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão:
Min. EDSON FACHIN, Primeira Turma, julgado em 29/03/2016,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-125 DIVULG 16-06-2016 PUBLIC
17-06-2016)

Superior Tribunal de Justiça

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO


PENAL. LIVRAMENTO CONDICIONAL. DESCUMPRIMENTO
DAS OBRIGAÇÕES. REVOGAÇÃO FACULTATIVA DO BENEFÍ-
CIO. ART. 87 DO CÓDIGO PENAL. LAPSO TEMPORAL NO PERÍ-
ODO DE PROVA NÃO CONSIDERADO COMO TEMPO DE PENA
CUMPRIDA. ARTS. 141 E 142 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL.
AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. O art. 87 do Código Penal dispõe que
o juiz poderá, também, revogar o livramento, se o liberado deixar
de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença, ou for
irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena
que não seja privativa de liberdade – revogação facultativa. 2. O
art. 141 da Lei de Execução Penal estabelece que se a revogação
for motivada por infração penal anterior à vigência do livramento,
computar-se-á como tempo de cumprimento da pena o período de
prova, sendo permitida, para a concessão de novo livramento, a
soma do tempo das 2 (duas) penas. Por seu turno, o art. 142 do
mesmo diploma legal reza que, no caso de revogação por outro
motivo, não se computará na pena o tempo em que esteve solto o li-
berado, e tampouco se concederá, em relação à mesma pena, novo
livramento. 3. Esta Corte Superior de Justiça possui entendimento
de que na hipótese de revogação do livramento condicional em ra-
zão do descumprimento das obrigações constantes da senten-

67
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ça, não se computará como pena cumprida o prazo em que


o apenado esteve em solto, a teor do art. 142 da Lei de Execução
Penal. 4. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1244333/
RS, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
18/05/2017, DJe 26/05/2017)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


INDULTO. DECRETO PRESIDENCIAL N. 8.172/2013. PRÁTICA
DE FATO DEFINIDO COMO CRIME DOLOSO DURANTE O PERÍ-
ODO DE PROVA. FALTA GRAVE COM CONSECTÁRIOS LEGAIS
PRÓPRIOS. HOMOLOGAÇÃO POSTERIOR. POSSIBILIDADE.
RECURSO NÃO PROVIDO. 1. A liberdade condicional é o último
estágio de execução da pena privativa de liberdade, razão pela qual
aplica-se ao condenado, durante o período de prova, o art. 44, pará-
grafo único, da LEP: “estão sujeitos à disciplina o condenado à pena
privativa de liberdade ou restritiva de direitos e o preso provisório”.
2. A prática de novo fato definido como crime doloso durante o perí-
odo de prova pode ensejar o reconhecimento de falta disciplinar de
natureza grave, com consequências mais gravosas, previstas ex-
pressamente no art. 86, c/c o art. 88, ambos do CP, e 131 a 146 da
LEP. 3. O ato de indisciplina é apto a ensejar, mesmo sem a existên-
cia de novel condenação, a revogação cautelar do livramento con-
dicional, nos termos do art. 145 da LEP. 4. O prazo de doze meses
a que se refere o Decreto Presidencial n. 8.172/2013 relaciona-se
apenas ao cometimento da falta grave, e não à sua homologação
judicial. 5. Não há prejuízo de declaração do indulto, com lastro no
Decreto n. 8.172/2013, se evidenciado que a falta grave não foi
reconhecida judicialmente no prazo prescricional de três anos. 6.
Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 1028286/RJ, Rel.
Ministro ROGÉRIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
27/04/2017, DJe 11/05/2017)

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MONITORAMENTO ELETRÔNICO
Supremo Tribunal Federal

Habeas corpus. 2. Tráfico de drogas. Prisão preventiva. 3. Alegação


de ausência dos requisitos autorizadores da custódia cautelar (art.
312 do CPP). Rejeição. 4. Paciente com filhos menores. Pleito de
concessão da prisão domiciliar. Possibilidade. 5. Garantia do prin-
cípio da proteção à maternidade e à infância e do melhor interes-
se do menor. 6. Preenchimento dos requisitos do art. 318, inciso
V, do CPP. 7. Decisão monocrática do STJ. Não interposição de
agravo regimental. Manifesto constrangimento ilegal. Superação. 8.
Ordem concedida de ofício, em parte, para determinar que a pa-
ciente seja colocada em prisão domiciliar. (HC 142279, Relator(a):
Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 20/06/2017,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-182 DIVULG 17-08-2017 PUBLIC
18-08-2017)

PRISÃO DOMICILIAR – FALTA GRAVE. Uma vez constatada falta


grave, no que o custodiado haja retirado monitoramento eletrônico,
surge legal a regressão no regime de cumprimento da pena. (HC
132843, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julga-
do em 06/06/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-168 DIVULG
31-07-2017 PUBLIC 01-08-2017)

PRISÃO PREVENTIVA PARA EXTRADIÇÃO. PRESSUPOSTO


NECESSÁRIO AO REGULAR PROCESSAMENTO DO PEDIDO
DE EXTRADIÇÃO. ATENUAÇÃO DA EXIGÊNCIA DE ENCARCE-
RAMENTO DO EXTRADITANDO EM SITUAÇÃO DE EXCEPCIO-
NALIDADE. RELEVÂNCIA DA ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DOS
DIREITOS HUMANOS PARA O EXAME DE MÉRITO DO PEDIDO

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DE EXTRADIÇÃO. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL QUE AUTORIZA A


CONSTRIÇÃO DA LIBERDADE DO EXTRADITANDO EM REGI-
ME DOMICILIAR MEDIANTE MONITORAMENTO ELETRÔNICO.
1. Pode o Supremo Tribunal Federal rejeitar pedido de extradição
passiva quando a submissão do estrangeiro à Jurisdição do Estado
requerente implicar em violação a direitos humanos internacional-
mente reconhecidos, dentre eles, a garantia de ser julgado por juiz
isento, imparcial, e sob a égide do devido processo legal, o que con-
figura exceção ao princípio da contenciosidade limitada. 2. É rele-
vante a alegação de violação a direitos humanos a futura submissão
do extraditando ao julgamento por magistrada demissível ad nutum,
que teria sido punida em razão de ter proferido decisão favorável
a corréu em situação similar à do extraditando. A isso, soma-se o
fato de o Estado requerente estar sendo intensamente questionado
pela comunidade internacional por atitudes de menoscabo à demo-
cracia, consistentes na perseguição de opositores, cooptação de
magistrados para decisão em favor dos interesses do Poder Exe-
cutivo e punição aos integrantes do Poder Judiciário e membros
do Ministério Público com atuação independente, além do que a
anterior adesão à Convenção Americana sobre Direitos Humanos
(Pacto de São José da Costa Rica) foi notoriamente denunciada.
3. Matéria concernente ao mérito de futuro pedido de extradição a
ser apresentado a este Supremo Tribunal Federal quando, à luz do
contraditório, poderão o extraditando e o Estado requerente produ-
zir provas, na acepção jurídica do termo, a respeito de suas alega-
ções. 4. No processo de extradição passiva, a prisão preventiva é
a regra. Excepcionalmente, a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal admite a concessão de medidas cautelares alternativas à
prisão, particularmente em hipóteses cuja permanência no cárcere
seja singularmente penosa ao extraditando. 5. Não se antecipa juí-

70
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zo de mérito sobre a procedência de eventual pedido de extradição


passiva para concessão de liberdade, salvo quando a improcedên-
cia puder ser antecipadamente declarada, estreme de dúvidas. 6. A
manutenção da prisão preventiva para a extradição decorre da re-
gular aplicação da lei (art. 84, parágrafo único, da Lei 6.815/80 e art.
208 do RISTF), e não implica, por si só, em risco de submissão do
extraditando a um julgamento que desborde da cláusula do devido
processo legal, o qual só se concretizará quando (e se) for aprecia-
do o mérito do pedido de extradição a fim de deliberar sobre sua en-
trega ao Estado requerente. 7. Prisão preventiva convertida, excep-
cionalmente, em prisão domiciliar com monitoramento eletrônico, o
que se revela suficiente no caso concreto para assegurar eventual
êxito de pedido de extradição. (PPE 760 AgR, Relator(a): Min. ED-
SON FACHIN, Primeira Turma, julgado em 10/11/2015, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-130 DIVULG 22-06-2016 PUBLIC 23-06-2016)

Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CONDENAÇÃO


POR CRIME DE RECEPTAÇÃO. CONCEDIDO O DIREITO DE
RECORRER EM LIBERDADE. APLICAÇÃO DE MEDIDAS CAU-
TELARES. MONITORAMENTO ELETRÔNICO. RÉU REINCIDEN-
TE. NECESSIDADE E ADEQUAÇÃO. RECURSO IMPROVIDO. 1.
Nos termos do art. 321 do Código de Processo Penal, ausentes os
requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz
deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as
medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e observa-
dos os critérios constantes do art. 282 deste Código. 2. Na espécie,
a Magistrada considerou que a manutenção de algumas medidas
cautelares diversas da prisão, entre elas o monitoramento eletrô-
nico, aplicadas por ocasião da audiência de custódia, seriam sufi-

71
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cientes e adequadas para o caso, em atendimento aos princípios


da razoabilidade e da proporcionalidade, notadamente por se tra-
tar de réu reincidente. Precedentes. 3. Recurso ordinário em habe-
as corpus a que nega provimento. (RHC 81.707/MG, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
03/08/2017, DJe 16/08/2017)

HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE VAGAS


EM ESTABELECIMENTO COMPATÍVEL COM O REGIME SE-
MIABERTO. PRISÃO DOMICILIAR. CONCESSÃO EM CARÁTER
EXCEPCIONAL. SÚMULA VINCULANTE N. 56 DO STF. ORDEM
CONCEDIDA. 1. A Suprema Corte já editou a Súmula Vinculante n.
56, a qual determina que “A falta de estabelecimento penal adequa-
do não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional
mais gravoso, devendo-se observar nessa hipótese os parâmetros
fixados no RE 641.320” 2. Assim, nos casos em que o apenado, por
inexistência de vaga em estabelecimento prisional compatível com
o regime que lhe foi imposto, estiver cumprindo pena em regime
mais gravoso, é permitida, excepcionalmente, a sua permanência
em regime mais benéfico, in casu, o aberto ou a prisão domiciliar,
até o surgimento de vaga em local adequado. 3. Ordem concedida
para, confirmada a liminar anteriormente deferida, determinar que o
paciente seja imediatamente transferido para estabelecimento com-
patível com o regime semiaberto; na ausência de vaga, que aguar-
de em regime aberto e, a persistir o constrangimento ilegal, que lhe
seja assegurada a prisão domiciliar em regime de monitoramen-
to eletrônico, até o surgimento de vaga no regime intermediário,
mediante as condições estabelecidas na decisão de primeiro grau.
(HC 358.978/RS, Rel. Ministro ROGÉRIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA
TURMA, julgado em 27/04/2017, DJe 11/05/2017)

72
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PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ES-


PECIAL. NÃO CONHECIMENTO. EXECUÇÃO PENAL. CRIME DE
TRÁFICO DE DROGAS. PACIENTE QUE OBTEVE A PROGRES-
SÃO PARA O REGIME SEMIABERTO. PLEITO DE CUMPRIMEN-
TO DA PENA EM PRISÃO DOMICILIAR, COM MONITORAMENTO
ELETRÔNICO, ANTE A INEXISTÊNCIA DE ESTABELECIMENTO
COMPATÍVEL COM O REGIME IMPOSTO. APLICAÇÃO DO NOVO
ENTENDIMENTO DO STF ADOTADO EM SEDE DE REPERCUS-
SÃO GERAL (RE 641320/RS). ADOÇÃO DE OUTRAS MEDIDAS
ANTES DA CONCESSÃO DE PRISÃO DOMICILIAR. WRIT NÃO
CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA, DE OFÍCIO. 1. Esta Corte
e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido
de que não cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente
previsto para a hipótese, impondo-se o não conhecimento da im-
petração, salvo quando constatada a existência de flagrante ilega-
lidade no ato judicial impugnado. 2. A jurisprudência desta Corte
Superior é assente no sentido de que, em caso de falta de vaga
em estabelecimento prisional adequado ao cumprimento da pena,
ou, ainda, de sua precariedade ou superlotação, deve-se conceder
ao apenado, em caráter excepcional, o cumprimento da pena em
regime aberto, ou, na falta de vaga em casa de albergado, em re-
gime domiciliar, até o surgimento de vagas. 3. O Supremo Tribunal
Federal, nos termos da Súmula Vinculante n. 56, entende que “a
falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manuten-
ção do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se
observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/
RS”. 4. Os parâmetros mencionados na citada súmula são: a) a
falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manuten-
ção do condenado em regime prisional mais gravoso; b) os Juízes
da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos destinados
aos regimes semiaberto e aberto, para verificar se são adequados

73
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a tais regimes, sendo aceitáveis estabelecimentos que não se qua-


lifiquem como colônia agrícola, industrial (regime semiaberto), casa
de albergado ou estabelecimento adequado - regime aberto - (art.
33, § 1º, alíneas “b” e “c”); c) no caso de haver deficit de vagas, de-
verão determinar: (i) a saída antecipada de sentenciado no regime
com falta de vagas; (ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao
preso que sai antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por
falta de vagas; (iii) o cumprimento de penas restritivas de direito e/
ou estudo ao sentenciado que progride ao regime aberto; e d) até
que sejam estruturadas as medidas alternativas propostas, poderá
ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado. 5. Dessa forma,
consoante entendimento do STF, a prisão domiciliar não pode ser a
primeira opção, devendo-se antes adotar as outras medidas acima
propostas, a fim de se evitar prejuízo aos executados que já esta-
riam, há mais tempo, cumprindo pena em determinado regime e que
devem ser beneficiados, prioritariamente, com a saída antecipada.
6. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para
determinar ao Juízo da Execução que promova as medidas perti-
nentes com as adaptações determinadas pela Súmula Vinculante
n. 56 do Supremo Tribunal Federal. (HC 364.042/RS, Rel. Ministro
RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 18/04/2017, DJe
25/04/2017)

74
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Tribunal de Justiça de Goiás

AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. REGRESSÃO CAUTELAR DE


REGIME. VIOLAÇÃO DA TORNOZELEIRA ELETRÔNICA. FALTA
GRAVE. 1- A violação ao monitoramento eletrônico configura des-
cumprimento dos deveres impostos, sendo perfeitamente válida a
regressão para regime prisional mais gravoso, bem como a modi-
ficação da data base para aquisição de novo benefício. 2- Agravo
conhecido e desprovido. (TJGO, AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL
227700-15.2016.8.09.0087, Rel. DR(A). JAIRO FERREIRA JÚ-
NIOR, 1A CÂMARA CRIMINAL, julgado em 18/05/2017, DJe 2283
de 07/06/2017)

AGRAVO EM EXECUÇÃO. ROUBO QUALIFICADO. LIVRAMEN-


TO CONDICIONAL. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DO PREEN-
CHIMENTO DO REQUISITO SUBJETIVO. DESCUMPRIMENTO
DE CONDIÇÕES IMPOSTAS NO MONITORAMENTO ELETRÔNI-
CO. ROMPIMENTO DO LACRE. FUGA DO SISTEMA PRISIONAL.
1) A conduta do reeducando a ser analisada é aquela havida du-
rante todo o período de expiação, dando maior ênfase a apurada
nos últimos tempos, onde será possível verificar a efetiva mudança
de comportamento do sentenciado. 2) Ocorrendo faltas graves pe-
las várias ocorrências de descumprimento das condições impostas
para a concessão da prisão domiciliar, com fuga do sistema prisio-
nal, encontrando-se foragido após o rompimento do lacre da torno-
zeleira eletrônica, demonstra a ausência de empenho e comprome-
timento em obedecer as restrições legais, considera-se ausente o
requisito subjetivo previsto no artigo 83, inciso III do Código Penal.
3) AGRAVO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJGO, AGRAVO EM
EXECUÇÃO PENAL 83375-37.2017.8.09.0175, Rel. DES. NICO-
MEDES DOMINGOS BORGES, 1A CÂMARA CRIMINAL, julgado

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em 23/05/2017, DJe 2285 de 09/06/2017)

APELAÇÃO CRIMINAL. ARTIGO 157, § 2°, INCISO II, DO CÓDIGO


PENAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. DESCLASSIFICAÇÃO
PARA O ARTIGO 146, C/C 129, DO REFERIDO DIPLOMA. APLI-
CAÇÃO, POR ANALOGIA, DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO DO CRI-
ME DE FURTO. REDUÇÃO DA PENA. DE OFÍCIO, DIMINUIÇÃO
DA PENA DE MULTA. CUMPRIMENTO DO REGIME SEMIABER-
TO ATRAVÉS DE MONITORAMENTO ELETRÔNICO. DIREITO DE
RECORRER EM LIBERDADE. 1- Inaplicável ao crime de roubo o
princípio da insignificância, já que se trata de delito complexo, no
qual se verifica ofensa a bens jurídicos diversos, tais como patrimô-
nio, integridade corporal e saúde, sendo inconcebível eventual de-
sinteresse estatal à sua repressão. 2- Comprovada a autoria e ma-
terialidade do crime de roubo majorado pelo concurso de pessoas,
não há que se falar em desclassificação para o delito de constran-
gimento ilegal cumulado a lesão corporal simples. 3- Não se aplica,
por analogia, causa de diminuição prevista em delito praticado sem
violência ou grave ameaça. 4- Incomportável o pedido de redução
da pena, se analisadas de forma escorreita as diretrizes do sistema
trifásico, atingindo patamar mínimo cominado ao delito. 5- Visando
guardar proporcionalidade com a sanção corpórea aplicada, impe-
riosa a redução da pena de multa, de ofício. 6- O cumprimento da
pena do regime semiaberto por meio de monitoramento eletrônico
deve ser solicitado ao juízo da execução, sob pena de supressão de
instância. 7- Apelante solto resta prejudicado o pleito de recorrer em
liberdade por falta de interesse recursal. 8- Apelo conhecido e des-
provido. De ofício, reduzida a pena de multa. (TJGO, APELAÇÃO
CRIMINAL 405212-12.2016.8.09.0175, Rel. DES. J. PAGANUCCI
JR., 1A CÂMARA CRIMINAL, julgado em 25/04/2017, DJe 2268 de
16/05/2017)

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PENA DE MULTA
Supremo Tribunal Federal

Ementa: Direito Internacional Público. Extradição Executória. Gover-


no da Espanha. Sonegação fiscal – art. 1º, inc. I, da Lei n. 8.137/90.
Regularidade formal do pedido. Dupla tipicidade. Competência da
Justiça espanhola: Princípio da territorialidade. Ausência de pres-
crição em ambos os ordenamentos legais. Conversão da pena de
multa em prisão. Impossibilidade: Questão afeta à soberania esta-
tal. Extradição Deferida. (...). 11. A impossibilidade da conversão da
pena de multa em prisão em decorrência de seu descumprimento é
questão não afeta à jurisdição brasileira, sob pena de afronta à so-
berania do Estado na regulação de seus institutos penais, conforme
sustentado no parecer ministerial à luz do precedente firmado na
EXT 542, Rel. Min. Celso de Mello, Pleno, DJ de 20/03/1992, o qual
se aplica, mutatis mutandis, ao presente caso, valendo destacar
da ementa do julgado, in verbis: “A questão do reconhecimento, ou
não, da ficção jurídica do crime continuado, traduz – enquanto ex-
pressão da benignidade estatal no tratamento jurídico-penal das in-
frações múltiplas cometidas pelo mesmo agente – opção legislativa
peculiar ao ordenamento jurídico de cada Estado. Nesse contexto,
não se pode impor, no plano das relações extradicionais entre Es-
tados soberanos, a compulsória submissão da parte requerente ao
modelo jurídico de aplicação das penas vigente no âmbito do siste-
ma normativo do Estado a quem a extradição é solicitada. O Brasil,
consequentemente, não pode, a pretexto de deferir o pedido extra-
dicional, impor, à observância necessária dos demais países o seu
modelo legal que, consagrando o instituto da unidade fictícia do cri-
me continuado, estipula regras concernentes à aplicação da pena.

77
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

A impossibilidade de o Estado brasileiro impor, mediante ressalva,


ao Estado requerente, a aceitação de institutos peculiares ao direito
penal positivo do Brasil – tal como se dá em relação ao fenômeno
jurídico da continuidade delitiva – deriva da circunstância de que,
em assim agindo, estaria a afetar a própria integridade da sobera-
nia estatal da parte requerente. A força da importação de critérios
ou de institutos penais não se legitima em face do Direito da Gen-
tes e nem à luz de nosso próprio sistema jurídico. Cabe, assim, à
Justiça do Estado requerente, reconhecer soberanamente – desde
que o permita a sua própria legislação penal – a ocorrência, ou não,
da continuidade delitiva, não competindo ao Brasil, em obséquio
ao princípio fundamental da soberania dos Estados, que rege as
relações internacionais, constranger o Governo requerente a acei-
tar um instituto que até mesmo o seu próprio ordenamento jurídico
positivo possa rejeitar.” (...) (Ext 1211/REPÚBLICA PORTUGUESA,
rel. Min. Ellen Gracie, Pleno, DJ de 24/3/2011; Ext 1214/EUA, rel.
Min. Ellen Gracie, Pleno, DJ 6/5/2011; Ext 1226/Reino da Espanha,
rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJ de 1/9/2011). 13. Pedi-
do de extradição deferido. (Ext 1375, Relator(a): Min. LUIZ FUX,
Primeira Turma, julgado em 25/08/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-206 DIVULG 14-10-2015 PUBLIC 15-10-2015)

Execução Penal. Agravo Regimental. Inadimplemento deliberado


da pena de multa. Progressão de regime. Impossibilidade. 1. O
Plenário do Supremo Tribunal Federal firmou orientação no sentido
de que o inadimplemento deliberado da pena de multa cumulati-
vamente aplicada ao sentenciado impede a progressão no regime
prisional. Precedente: EP 12-AgR, Rel. Min. Luís Roberto Barroso.
2. Tal regra somente é excepcionada pela comprovação da absolu-
ta impossibilidade econômica do apenado em pagar a multa, ainda
que parceladamente. 3. Agravo regimental desprovido. (EP 16 Pro-

78
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
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gReg-AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno,


julgado em 15/04/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-093 DI-
VULG 19-05-2015 PUBLIC 20-05-2015)

Excerto do voto

(…) 5. Como tenho sustentado em diversas manifesta-


ções, o sistema punitivo no Brasil encontra-se desarru-
mado. E cabe ao Supremo Tribunal Federal, nos limites
de sua competência, contribuir para sua rearrumação.
Nas circunstâncias brasileiras, o direito penal deve ser
moderado, mas sério. Moderado significa evitar a expan-
são desmedida do seu alcance, seja pelo excesso de
tipificações, seja pela exacerbação desproporcional de
penas. Sério significa que sua aplicação deve ser efetiva,
de modo a desempenhar o papel dissuasório da crimina-
lidade, que é da sua essência.

6. Em matéria de criminalidade econômica, a pena de


multa há de desempenhar papel proeminente. Mais até
do que a pena de prisão – que, nas condições atuais, é
relativamente breve e não é capaz de promover a resso-
cialização –, cabe à multa o papel retributivo e preventivo
geral da pena, desestimulando, no próprio infrator ou em
infratores potenciais, a conduta estigmatizada pela legis-
lação penal. Por essa razão, sustentei no julgamento da
Ação Penal 470 que a multa deveria ser fixada com se-
riedade, em parâmetros razoáveis, e que seu pagamento
fosse efetivamente exigido.

7. À vista das premissas acima estabelecidas, chego às

79
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

seguintes conclusões parciais: (i) a pena de multa não


perdeu o seu caráter de sanção penal; (ii) em matéria de
criminalidade econômica, a pena de multa desempenha
um papel proeminente de prevenção específica, preven-
ção geral e retribuição; e (iii) como consequência, a mul-
ta deve ser fixada com seriedade, proporcionalidade e,
sobretudo, deve ser efetivamente paga.

(…)

15. Circunstâncias brasileiras – como as limitações or-


çamentárias, a superlotação dos presídios e a existência
de centenas de milhares de mandados de prisão à espe-
ra de cumprimento – fazem com que o sistema de cum-
primento de penas e de progressão de regime entre nós
seja menos severo do que o de outros países. Menos do
que uma opção filosófica ou uma postura de leniência,
trata-se de uma escolha política acerca da alocação de
recursos, feita pelas instâncias representativas da socie-
dade e materializada na lei.

16. Todavia, especialmente em matéria de crimes con-


tra a Administração Pública – como também nos crimes
de colarinho branco em geral –, a parte verdadeiramente
severa da pena, a ser executada com rigor, há de ser a
de natureza pecuniária. Esta, sim, tem o poder de fun-
cionar como real fator de prevenção, capaz de inibir a
prática de crimes que envolvam apropriação de recursos
públicos. A decisão que se tomar aqui solucionará não
apenas o caso presente, mas servirá de sinalização para
todo o país acerca da severidade com que devem ser

80
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

tratados os crimes contra o erário.

17. Nessas condições, não é possível a progressão de


regime sem o pagamento da multa fixada na condena-
ção. Assinale-se que o condenado tem o dever jurídico
– e não a faculdade – de pagar integralmente o valor
da multa. Pensar de modo diferente seria o mesmo que
ignorar modalidade autônoma de resposta penal expres-
samente concebida pela Constituição, nos termos do art.
5º, inciso XLVI, alínea “c”. De modo que essa espécie de
sanção penal exige cumprimento espontâneo por parte
do apenado, independentemente da instauração de exe-
cução judicial. É o que também decorre do art. 50 do Có-
digo Penal, ao estabelecer que “a multa deve ser paga
dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em julgado
a sentença”.

18. Com efeito, o não recolhimento da multa por con-


denado que tenha condições econômicas de pagá-la,
sem sacrifício dos recursos indispensáveis ao sustento
próprio e de sua família, constitui deliberado descumpri-
mento de decisão judicial e deve impedir a progressão
de regime. Além disso, admitir-se o não pagamento da
multa configuraria tratamento privilegiado em relação ao
sentenciado que espontaneamente paga a sanção pecu-
niária.

19. Não bastasse essa incongruência lógica, note-se,


também, que a passagem para o regime aberto exige
do sentenciado “autodisciplina e senso de responsabi-
lidade” (art. 114, II, da LEP), o que pressupõe o cum-

81
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

primento das decisões judiciais que se lhe aplicam. Tal


interpretação é reforçada pelo que dispõe o art. 36, § 2º,
do Código Penal e o art. 118, § 1º, da Lei de Execução
Penal, que estabelecem a regressão de regime para o
condenado que “não pagar, podendo, a multa cumulati-
vamente imposta”. De modo que o deliberado inadimple-
mento da pena de multa sequer poderia ser comparável
à vedada prisão por dívida, nos moldes do art. 5º, LXVII,
da CF/88, configurando apenas óbice à progressão no
regime prisional. (…).

Superior Tribunal de Justiça

PROCESSUAL PENAL E EXECUÇÃO PENAL. MULTA SUBSTI-


TUTIVA. ART. 44, § 2°, DO CÓDIGO PENAL. MULTA CUMULATI-
VAMENTE APLICADA COM PENA RESTRITIVA DE DIREITO EM
RAZÃO DA CONVERSÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE.
INADIMPLEMENTO DA MULTA SUBSTITUTIVA. CONVERSÃO
EM PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE. INVIABILIDADE. DÍVIDA
DE VALOR. MULTA SUBSTITUTIVA QUE NÃO PODE SER CONSI-
DERADA COMO PENA RESTRITIVA DE DIREITO. AUSÊNCIA DE
PREVISÃO NO ROL TAXATIVO DO ART. 43 DO CÓDIGO PENAL.
EQUIPARAÇÃO À PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA. IMPOSSIBILIDA-
DE. NATUREZA JURÍDICA DISTINTA. HABEAS CORPUS NÃO
CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. I - No presente
caso, a d. Juíza da Execução e o eg. Tribunal de origem conside-
raram, equivocadamente, que a multa substitutiva prevista no art.
44, § 2°, do Código Penal, seria uma espécie de pena restritiva de
direito, cujo descumprimento autorizaria a reconversão em privativa
de liberdade. II - Contudo, a multa substitutiva prevista no art. 44, §
2°, do Código Penal, não está elencada no rol taxativo das penas

82
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

restritivas de direitos fixado no art. 43 do Código Penal. Ademais,


a multa substitutiva também não pode ser considerada como uma
espécie de prestação pecuniária, pois tem natureza jurídica e fi-
nalidade diversa. Enquanto a prestação pecuniária destina-se ao
pagamento de indenização à vitima do delito, ou de seus dependen-
tes, sendo fixada em salários mínimos, a pena de multa substitutiva
destina-se ao fundo penitenciário, sendo fixada em dias-multa. III -
A multa substitutiva (alternativa) prevista no art. 44, § 2°, do Código
Penal, aplicada isolada ou cumulativamente com pena restritiva de
direitos, trata-se de uma espécie de pena de multa, razão pela qual
se submete ao mesmo regramento conferido à pena de multa ori-
ginária prevista no preceito secundário do tipo penal. Logo, a multa
substitutiva constitui dívida de valor, sendo inviável a sua conversão
em pena privativa de liberdade em caso de inadimplemento, nos
termos do art. 51 do Código Penal. Precedentes. Habeas Corpus
não conhecido. Ordem concedida de ofício para cassar a r. decisão
da d. Juíza da Execução que converteu a pena de multa substitutiva
em pena privativa de liberdade, determinando-se ainda a revoga-
ção do mandado de prisão expedido em desfavor do paciente. (HC
387.259/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julga-
do em 08/08/2017, DJe 21/08/2017)

PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓ-


PRIO. INADEQUAÇÃO. TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA DA
PENA. AGRAVANTE DE REINCIDÊNCIA. CONDENAÇÃO ANTE-
RIOR À PENA DE MULTA. INCIDÊNCIA. CAUSA DE DIMINUIÇÃO
DE PENA DO ART. 33, § 4º, DA LEI N. 11.343/06. RÉU REIN-
CIDENTE. INAPLICABILIDADE. ÚNICA CONDENAÇÃO PARA
AGRAVAR A PENA E NEGAR A APLICAÇÃO DA MINORANTE.

83
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

BIS IN IDEM. NÃO OCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE MANIFESTA


ILEGALIDADE. WRIT NÃO CONHECIDO. 1. Esta Corte e o Supre-
mo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de que não
cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto
para a hipótese, impondo-se o não conhecimento da impetração,
salvo quando constatada a existência de flagrante ilegalidade no
ato judicial impugnado a justificar a concessão da ordem, de ofí-
cio. 2. O art. 63 do Código Penal não faz distinção em relação ao
tipo de crime praticado ou à natureza da pena aplicada, de forma
que o cometimento de novo delito ocasionará o reconhecimento da
agravante de reincidência em razão da condenação irrecorrível pelo
crime anteriormente perpetrado, independente de a sanção imposta
ser privativa de liberdade, restritiva de direitos ou de multa, já que
a norma visa apenar de forma mais gravosa aqueles tendentes à
prática delitiva. 3. Hipótese em que a pena do paciente foi motiva-
damente agravada pela reincidência em 1/6, diante da condenação
anterior transitada em julgado pela prática do delito de furto privi-
legiado, na qual foi imposta exclusivamente pena de multa, o que
não afasta a incidência da agravante do art. 61, I, do CP. 4. Os con-
denados pelo crime de tráfico de drogas terão a pena reduzida, de
um sexto a dois terços, quando forem reconhecidamente primários,
possuírem bons antecedentes e não se dedicarem a atividades
criminosas ou integrarem organizações criminosas (art. 33, § 4º, da
Lei n. 11.343/2006). 5. Reconhecida pela Corte de origem a reinci-
dência do paciente, é incabível a aplicação da mencionada benes-
se, porquanto não preenchidos os requisitos legais. Precedentes. 6.
Conforme entendimento reiterado do Superior Tribunal de Justiça,
a reincidência, ainda que decorrente de apenas uma condenação
transitada em julgado, pode ser utilizada para agravar a pena e,
concomitantemente, para afastar a aplicação do redutor do art. 33,
§ 4º, da Lei n. 11.343/2006, sem se falar em bis in idem. Prece-
dentes. 7. Mantido o quantum da reprimenda imposta em patamar

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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

superior a 4 anos de reclusão e tendo em vista a reincidência do


paciente, é incabível a alteração do regime prisional para o aberto
ou semiaberto, a teor do art. 33, § 2º, “b”, do CP. 8. Habeas corpus
não conhecido. (HC 393.709/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS,
QUINTA TURMA, julgado em 20/06/2017, DJe 28/06/2017)

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO REGIMENTAL EM RECUR-


SO ESPECIAL. PENAL. CUMPRIMENTO INTEGRAL DA PENA
PRIVATIVA DE LIBERDADE. INADIMPLEMENTO DA PENA DE
MULTA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. POSSIBILIDADE. ENTEN-
DIMENTO FIRMADO NO JULGAMENTO DO RESP N. 1.519.777/
SP (REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA). ANÁLISE. MATÉ-
RIA CONSTITUCIONAL. VIA INADEQUADA. 1. É devida a extinção
da punibilidade nos casos em que haja o cumprimento da pena pri-
vativa de liberdade, porém pendente o pagamento da multa penal,
pois este foi o entendimento firmado pela Terceira Seção desta Cor-
te Superior no julgamento do REsp n. 1.519.777/SP, decidido sob o
rito dos recursos repetitivos. 2. Em recurso especial, via destinada
ao debate do direito federal, é inviável a análise da alegação de
ofensa à matéria constitucional, ainda que para fins de prequestio-
namento. 3. Agravo regimental improvido. (AgRg no AgRg no REsp
1644988/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA
TURMA, julgado em 13/06/2017, DJe 21/06/2017)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. ART. 1º, I, DA LEI
8.137/1990. DOSIMETRIA. PENA-BASE. EXASPERAÇÃO. CON-
SEQUÊNCIAS DO CRIME. VALOR SONEGADO. FUNDAMENTO
IDÔNEO. FIXAÇÃO DA PENA DE MULTA. FRAÇÃO DEFINIDA
COM BASE NA SITUAÇÃO ECONÔMICA DO RÉU. REVISÃO. NE-
CESSIDADE DE REVOLVIMENTO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBA-

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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

TÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS 7 E 568/STJ. 1. Na linha


da jurisprudência iterativa desta Corte Superior, é admissível a va-
loração negativa das consequências do crime de sonegação fiscal
quando expressivo o valor do crédito tributário suprimido ou redu-
zido na forma do art. 1º da Lei 8.137/1990. Incidência da Súmula
568/STJ. 2. No tocante à pena de multa, observa-se que a instância
ordinária, entre outros aspectos, levou em consideração a situação
econômica do réu para estabelecer o valor de cada dia-multa, con-
forme autoriza o art. 60 do CP. Assim, rever o acórdão neste ponto
demandaria o reexame de matéria fático-probatória, o que, em sede
de recurso especial, constitui medida vedada pelo óbice da Súmula
7/STJ. 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp 1062447/
AP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 23/05/2017, DJe 31/05/2017)

Tribunal de Justiça de Goiás

APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE DROGAS. ABSOLVIÇÃO.


MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. INVIABILIDA-
DE. PENA. MULTA. REGIME INICIAL FECHADO. MANUTENÇÃO.
REINCIDÊNCIA. ADEQUAÇÃO DA PENA DE MULTA DO CORRÉU
DE OFÍCIO. 1) Não merece prosperar o pleito absolutório do crime
de tráfico de drogas quando demonstrada, de forma satisfatória,
pelos elementos informativos do processo, posteriormente judicia-
lizados, a prática pela apelante do delito capitulado no artigo 33,
caput da Lei 11.343/2006. 2) Não merece reparos a aplicação pelo
juiz singular do quantum da pena-base, porque no mínimo legal,
mesmo com a adequação da análise das elementares judiciais so-
pesadas desfavoravelmente de forma equivocada. 3) Confirma-se
a agravante da reincidência, quando comprovada a existência de
duas condenações com trânsito em julgado atestado nos autos, o
que inviabiliza o reconhecimento da causa de diminuição de pena

86
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

prevista no § 4º do artigo 33 da Lei 11.343/06, mantida a fixação


do regime de cumprimento da pena no inicial fechado. 4) Existente
equívoco no quantum da pena de multa do corréu não recorrente,
esta deve ser reduzida de ofício, para se aplicar os mesmos critérios
adotados na pena corpórea. 7) APELO CONHECIDO E DESPRO-
VIDO. DE OFÍCIO, REDUZIDA A PENA DE MULTA EM FAVOR DO
CORRÉU NÃO RECORRENTE. (TJGO, APELAÇÃO CRIMINAL
169318-10.2015.8.09.0137, Rel. DES. NICOMEDES DOMINGOS
BORGES, 1A CÂMARA CRIMINAL, julgado em 01/08/2017, DJe
2329 de 16/08/2017)

APELAÇÕES CRIMINAIS. 1º APELO. ROUBO CIRCUNSTANCIA-


DO E ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO
AUTOMOTOR. OFENSA AO PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO. INO-
CORRÊNCIA. ABSOLVIÇÃO DO DELITO CAPITULADO NO ART.
311, CP. AUSÊNCIA DE EXAME PERICIAL. NECESSIDADE. RE-
DUÇÃO DA PENA-BASE DO DELITO DE ROUBO. IMPOSSIBILI-
DADE. EXCLUSÃO DA PENA DE MULTA. AUSÊNCIA DE PRE-
VISÃO LEGAL. REDIMENSIONAMENTO DA PENA DE MULTA.
VIABILIDADE. ALTERAÇÃO DE REGIME PRISIONAL. IMPERATI-
VIDADE. 1. É permitida a ‘emendatio libelli’, prevista no artigo 383,
do Código de Processo Penal, sem aditamento da peça exordial ou
intimação do processado, uma vez que este se defende dos fatos
narrados na denúncia e não da capitulação realizada ao final da
peça acusatória. 2. Para a configuração do delito previsto no artigo
311, do Código Penal, imprescindível laudo de exame pericial, de
modo que, inexistindo tal prova material nos autos, a absolvição
é medida impositiva. 3. Uma vez constatado que o julgador sen-
tenciante atuou com acerto na fixação da pena-base, analisando e
fundamentando de maneira escorreita a desvaloração de um dos
vetores de dosimetria da pena, a manutenção da reprimenda corpo-
ral imposta ao apelante é medida que se impõe. 4. Não há previsão

87
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

legal para isenção da pena de multa, a qual, comprovada a incapa-


cidade financeira do sentenciado, poderá ter o pagamento parcela-
do pelo juízo da execução competente (artigo 50, do Código Penal
e artigo 169, § 1º, da Lei nº 7.210/84). 5. Merece redução a pena
de multa quando verificada a sua desproporcionalidade com a pena
corpórea aplicada. 6. Diante da absolvição do 1º apelante do delito
insculpido no artigo 311 do Código Penal e preenchidos os requi-
sitos delineados no artigo 33, §2º, ‘b’, também do aludido diploma
legal, imperiosa a modificação do regime prisional para o semia-
berto. 2º APELO. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. EXCLUSÃO OU
REDUÇÃO DA SANÇÃO IMPOSTA PELO DELITO PREVISTO NO
ARTIGO 311 DO CÓDIGO PENAL. PREJUDICADO. MITIGAÇÃO
DA PENA-BASE. NECESSIDADE. AUMENTO DA REDUÇÃO DE-
CORRENTE DAS ATENUANTES DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA
E DA MENORIDADE RELATIVA. INVIABILIDADE. AGRAVANTE
DO ARTIGO 61, INCISO II, ALÍNEA ‘B’, DO CÓDIGO PENAL. EX-
CLUSÃO. REDUÇÃO DA PENA PECUNIÁRIA. IMPERATIVIDADE.
SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RES-
TRITIVA DE DIREITOS. IMPOSSIBILIDADE. 7. Resta prejudicado
o exame dos pleitos de exclusão e, subsidiariamente, de redução
da sanção imposta pelo crime descrito no artigo 311 do Código Pe-
nal, porquanto o próprio juízo de piso absolveu o 2º apelante da
conduta de adulterar sinal identificador de veículo automotor, além
de não ter havido cominação de pena a ele por tal conduta. 8. Cons-
tatado que o juiz sentenciante atuou com excessivo rigor na fixação
da pena-base dos delitos de roubo, agindo com desproporção na

88
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

análise de um dos vetores de dosimetria da pena, a redução da


reprimenda corporal é medida que se impõe. 9. Imerece prosperar
a postulação recursal de aumento do decote decorrente das atenu-
antes da confissão espontânea e da menoridade relativa, na medi-
da em que ambas as circunstâncias foram sopesadas na sentença
objurgada em patamar que atende aos ideais da proporcionalidade.
10. Impõe-se a exclusão, de ofício, da agravante consignada no
artigo 61, inciso II, ‘b’, do Código Penal, uma vez que o corréu foi
absolvido do crime previsto no art. 311 do CP, por não restar con-
figurada a materialidade delitiva. 11. Merece ser reduzida, de ofí-
cio, a pena de multa quando verificada a sua desproporcionalidade
com a pena corpórea fixada. 12. Sendo a pena aplicada superior a
quatro anos e tendo sido o crime cometido com emprego de grave
ameaça à pessoa, consubstanciada pelo uso de arma de fogo, não
merece acolhimento a postulação de substituição da pena privativa
de liberdade por restritiva de direitos. APELAÇÕES CONHECIDAS
E PARCIALMENTE PROVIDAS. (TJGO, APELAÇÃO CRIMINAL
179532-11.2016.8.09.0142, Rel. DES. ITANEY FRANCISCO CAM-
POS, 1A CÂMARA CRIMINAL, julgado em 13/06/2017, DJe 2302
de 06/07/2017)

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ANISTIA E INDULTO
Supremo Tribunal Federal

Habeas corpus. 2. Tráfico e associação para o tráfico ilícito de en-


torpecentes (arts. 33 e 35 da Lei 11.343/2006). Condenação. Exe-
cução penal. 3. Sentenciada com deficiência visual. Pedido de con-
cessão de indulto humanitário, com fundamento no art. 1º, inciso
VII, alínea a, do Decreto Presidencial n. 6.706/2008. 4. O Supremo
Tribunal Federal já declarou a inconstitucionalidade da concessão
de indulto a condenado por tráfico de drogas, independentemente
da quantidade da pena imposta [ADI n. 2.795 (MC), Rel. Min. Maurí-
cio Corrêa, Pleno, DJ 20.6.2003]. 5. Vedação constitucional (art. 5º,
inciso XLIII, da CF) e legal (art. 8º, inciso I, do Decreto n. 6.706/2008)
à concessão do benefício. 6. Ausência de constrangimento ilegal.
Ordem denegada. (HC 118213, Relator(a): Min. GILMAR MENDES,
Segunda Turma, julgado em 06/05/2014, PROCESSO ELETRÔNI-
CO DJe-149 DIVULG 01-08-2014 PUBLIC 04-08-2014)

Superior Tribunal de Justiça

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DECRETO-


-PRESIDENCIAL N. 7.420/10. INDULTO DE PENA DE MULTA.
CONDENADO PELA PRÁTICA DE TRÁFICO DE DROGAS. POS-
SIBILIDADE. I. Nos termos do art. 8º, inc. I, e §1º c/c art. 1º, inc. VIII,
do Decreto Presidencial n. 7.420/2010 é possível conceder indulto
da multa ao condenado pela prática de tráfico de drogas, desde
que cumprida integralmente as penas corporais cumulativamente
aplicadas até o dia de natal do ano em que editado o decreto. II.
O benefício, limitado apenas à multa, não alcança a privativa de

90
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liberdade, em total respeito à legislação ordinária e à Constituição


Federal. III. Nos termos da jurisprudência desta Corte, a multa é
dívida de valor cuja cobrança compete à Fazenda Pública e se o
Presidente da República realiza anistia, não pode o julgador restrin-
gir o alcance do benefício, cujo deferimento compete discricionária
e exclusivamente ao Chefe do Poder Executivo, conforme deter-
mina o art. 84, XII, da Constituição Federal. IV. Agravo regimental
improvido. (AgRg no REsp 1354783/MS, Rel. Ministro REYNALDO
SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 18/02/2016,
DJe 23/02/2016)

Tribunal de Justiça de Goiás

AGRAVO EM EXECUÇÃO. INDULTO OU COMPUTAÇÃO. TRAFI-


CO DE SUBSTANCIA ENTORPECENTE. 1 - OS TRIBUNAIS SU-
PERIORES JÁ SE FIRMARAM NO SENTIDO DE QUE E CONS-
TITUCIONAL O PODER DISCRICIONÁRIO DO PRESIDENTE DA
REPUBLICA AO CONCEDER GRAÇA, INDULTO E ANISTIA, RES-
PEITANDO AS DISPOSIÇÕES DO ART. 5, LXIII DA CONSTITUI-
ÇÃO FEDERAL. NÃO FERINDO, A REFERIDA CARTA MAGNA,
O DISPOSTO NO ARTIGO 8 DO DECRETO PRESIDENCIAL N.
6.706/08 E O ARTIGO 2, I, DA LEI 8072/90, QUE VEDA O INDUL-
TO AOS PRATICANTES DE CRIMES NA REFERIDA LEI ELEN-
CADOS. 2 - AGRAVO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJGO,
AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL 493-1/352, Rel. DES. PRA-
DO, 2A CÂMARA CRIMINAL, julgado em 11/02/2010, DJe 528 de
01/03/2010)

91
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EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA


PRIVATIVA DE LIBERDADE
Supremo Tribunal Federal

CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PRINCÍPIO


CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (CF, ART.
5º, LVII). ACÓRDÃO PENAL CONDENATÓRIO. EXECUÇÃO PRO-
VISÓRIA. POSSIBILIDADE. REPERCUSSÃO GERAL RECONHE-
CIDA. JURISPRUDÊNCIA REAFIRMADA. 1. Em regime de reper-
cussão geral, fica reafirmada a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal no sentido de que a execução provisória de acórdão penal
condenatório proferido em grau recursal, ainda que sujeito a recurso
especial ou extraordinário, não compromete o princípio constitucio-
nal da presunção de inocência afirmado pelo artigo 5º, inciso LVII,
da Constituição Federal. 2. Recurso extraordinário a que se nega
provimento, com o reconhecimento da repercussão geral do tema e
a reafirmação da jurisprudência sobre a matéria. (ARE 964246 RG,
Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, julgado em 10/11/2016, PRO-
CESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL – MÉRITO DJe-
251 DIVULG 24-11-2016 PUBLIC 25-11-2016)

Excerto do voto

Ministro Teori Zavascki: (…) 7. Não é diferente no cená-


rio internacional. Como observou a Ministra Ellen Gracie
quando do julgamento do HC 85.886 (DJ 28/10/2005),
em país nenhum do mundo, depois de observado o du-
plo grau de jurisdição, a execução de uma condenação
fica suspensa, aguardando referendo da Corte Suprema.
(…)

92
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

(…)
8. Não custa insistir que os recursos de natureza extra-
ordinária não têm por finalidade específica examinar a
justiça ou injustiça de sentenças em casos concretos.
Destinam-se, precipuamente, à preservação da higidez
do sistema normativo. Isso ficou mais uma vez eviden-
ciado, no que se refere ao recurso extraordinário, com a
edição da EC 45/2004, ao inserir como requisito de ad-
missibilidade desse recurso a existência de repercussão
geral da matéria a ser julgada, impondo ao recorrente,
assim, o ônus de demonstrar a relevância jurídica, polí-
tica, social ou econômica da questão controvertida. Vale
dizer, o Supremo Tribunal Federal somente está autori-
zado a conhecer daqueles recursos que tratem de ques-
tões constitucionais que transcendam o interesse sub-
jetivo da parte, sendo irrelevante, para esse efeito, as
circunstâncias do caso concreto. E, mesmo diante das
restritas hipóteses de admissibilidade dos recursos ex-
traordinários, tem se mostrado infrequentes as hipóteses
de êxito do recorrente. Afinal, os julgamentos realizados
pelos Tribunais Superiores não se vocacionam a per-
mear a discussão acerca da culpa, e, por isso, apenas
excepcionalmente teriam, sob o aspecto fático, aptidão
para modificar a situação do sentenciado.

(…)

(…) E não se pode desconhecer que a jurisprudência que


assegura, em grau absoluto, o princípio da presunção
da inocência a ponto de negar executividade a qualquer
condenação enquanto não esgotado definitivamente o

93
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

julgamento de todos os recursos, ordinários e extraor-


dinários tem permitido e incentivado, em boa medida, a
indevida e sucessiva interposição de recursos das mais
variadas espécies, com indisfarçados propósitos protela-
tórios visando, não raro, à configuração da prescrição da
pretensão punitiva ou executória.
(…)
Aliás, a ideia de efetividade no cumprimento da sanção
imposta em juízo condenatório, diretamente relaciona-
da ao alcance do princípio da presunção de inocência,
tenderia a reparar, ou ao menos amenizar, a cultura da
imposição deliberada e inconsequente de prisões pre-
ventivas como método de concretização da punição do
acusado.

(…)

(…) havendo plausibilidade jurídica do recurso, poderá o


tribunal superior atribuir-lhe efeito suspensivo, inibindo o
cumprimento de pena. Mais ainda: a ação constitucional
do habeas corpus igualmente compõe o conjunto de vias
processuais com inegável aptidão para controlar eventu-
ais atentados aos direitos fundamentais decorrentes da
condenação do acusado. Portanto, mesmo que exequí-
vel provisoriamente a sentença penal contra si proferida,
o acusado não flagrante violação de direitos.

Ministro Luís Roberto Barroso: (…) 4. Em meu voto, de-


fendi a ocorrência de uma mutação constitucional, que
se operou sob o impacto traumático da própria realida-
de que se criou após a primeira mudança de orientação

94
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

em 2009. Com efeito, a impossibilidade de execução da


pena após o julgamento final pelas instâncias ordinárias
produziu três consequências muito negativas para o sis-
tema de justiça criminal. Em primeiro lugar, funcionou
como um poderoso incentivo à infindável interposição de
recursos protelatórios. Tais impugnações movimentam a
máquina do Poder Judiciário, com considerável gasto de
tempo e de recursos escassos, sem real proveito para a
efetivação da justiça ou para o respeito às garantias pro-
cessuais penais dos réus. No mundo real, o percentual
de recursos extraordinários providos em favor do réu é
irrisório, inferior a 1,5%. Em segundo lugar, reforçou a
seletividade do sistema penal. A ampla (e quase irrestri-
ta) possibilidade de recorrer em liberdade beneficia so-
bretudo os réus abastados, com condições de contratar
os melhores advogados para defendê-los em sucessi-
vos recursos. Em regra, os réus mais pobres não têm
dinheiro (nem a Defensoria Pública tem estrutura) para
bancar a procrastinação. Em terceiro lugar, o novo en-
tendimento contribuiu para agravar o descrédito do siste-
ma de justiça penal junto à sociedade. A necessidade de
aguardar o trânsito em julgado para iniciar a execução da
pena conduz massivamente à prescrição da pretensão
punitiva ou ao enorme distanciamento temporal entre
a prática do delito e a punição definitiva. Em ambos os
casos, produz-se deletéria sensação de impunidade, o
que compromete os objetivos da pena, de prevenção es-
pecial e geral. Um sistema de justiça desmoralizado não
serve ao Judiciário, à sociedade, aos réus e tampouco
aos advogados. (…).

95
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

7. Em primeiro lugar, a Constituição brasileira não con-


diciona a prisão – mas, sim, a certeza jurídica acerca da
culpabilidade – ao trânsito em julgado da sentença penal
condenatória. O pressuposto para a privação de liber-
dade é a ordem escrita e fundamentada da autoridade
judiciária competente, e não sua irrecorribilidade. Para
chegar a essa conclusão, basta uma leitura sistemática
dos incisos LVII e LXI do art. 5º da Carta de 1988, à luz
do princípio da unidade da Constituição. Enquanto o in-
ciso LVII define que “ninguém será considerado culpado
até o trânsito em julgado da sentença penal condenató-
ria”, logo abaixo, o inciso LXI prevê que “ninguém será
preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente”. As-
sim, é evidente que a Constituição diferencia o regime da
culpabilidade e o da prisão.

8. Em segundo lugar, a presunção de inocência é prin-


cípio (e não regra) e, como tal, pode ser aplicada com
maior ou menor intensidade, quando ponderada com ou-
tros princípios ou bens jurídicos constitucionais coliden-
tes. Na discussão sobre a execução da pena depois de
proferido o acórdão condenatório pelo Tribunal compe-
tente, o princípio da presunção de inocência está em ten-
são com o interesse constitucional na efetividade da lei
penal, em prol dos objetivos (prevenção geral e específi-
ca) e bens jurídicos (vida, dignidade humana, integrida-
de física e moral, etc.) tutelados pelo direito penal, com
amplo lastro na Constituição (arts. 5º, caput e LXXVIII
e 144). Nessa ponderação, com a decisão condenatória

96
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

em segundo grau de jurisdição, há sensível redução do


peso do princípio da presunção de inocência e equivalen-
te aumento do peso atribuído à exigência de efetividade
do sistema penal. É que, de um lado, já há demonstra-
ção segura da autoria e materialidade e necessariamen-
te se tem por finalizada a apreciação de fatos e provas.
E, de outro, permitir o enorme distanciamento no tempo
entre fato, condenação e efetivo cumprimento da pena
(que em muitos casos conduz à prescrição) impede que
o direito penal seja sério, eficaz e capaz de prevenir os
crimes e dar satisfação à sociedade. Nessa situação, o
sacrifício que se impõe ao princípio da não culpabilidade
– prisão do acusado condenado em segundo grau antes
do trânsito em julgado – é superado pelo que se ganha
em proteção da efetividade e da credibilidade da Justiça.
E mais: interditar a prisão quando já há condenação em
segundo grau confere proteção deficiente a bens jurídi-
cos constitucionais tutelados pelo direito penal muito ca-
ros à ordem constitucional de 1988. Dessa ponderação
decorre que, uma vez proferida a decisão condenatória
de segundo grau, deve se iniciar o cumprimento da pena.
A prisão na hipótese decorre, assim, de fundamento di-
retamente constitucional, limitando a esfera de liberdade
do legislador.

9. Em terceiro lugar, com o acórdão penal condenatório


proferido em grau de apelação esgotam-se as instâncias
ordinárias e a execução da pena passa a constituir, em
regra, exigência de ordem pública, entendida como a efi-
cácia do direito penal necessária para a proteção da vida,
da segurança e da integridade das pessoas e de todos

97
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

os demais fins que justificam o próprio sistema criminal.


É intuitivo que, quando um crime é cometido e seu autor
é condenado em segundo grau de jurisdição, mas não é
punido ou é punido décadas depois, tanto o condenado
quanto a sociedade perdem a necessária confiança na
jurisdição penal. Assim, ainda que não houvesse funda-
mento constitucional direto para legitimar a prisão após
a condenação em segundo grau, ela se justificaria nos
termos da legislação ordinária. Isso, é claro, não exclui
a possibilidade de que o réu recorra ao STF ou ao STJ
para corrigir eventual abuso ou erro das decisões de pri-
meiro e segundo graus, o que continua a poder ser feito
pela via do HC, além de poder requerer, em situações
extremas, a concessão de efeito suspensivo no RE ou
no REsp. (…).

Observação: Embora haja decisões recentes preferidas no âm-


bito do controle concentrado e em recurso com repercussão ge-
ral reconhecendo a possibilidade da execução provisória da pena
privativa de liberdade após acórdão penal condenatório proferido
em grau recursal, tais deliberações ocorreram por apertada dife-
rença. Deste modo, a mudança de entendimento de um ministro
pode alterar completamente a atual jurisprudência, sendo de notar
que já há sinalizações nesse sentido, mais por casuísmo do que
por fundamentos jurídicos, em claro desvirtuamento de uma das
funções precípuas de uma Corte Constitucional, qual seja, garantir
a segurança jurídica. Neste sentido, foi a decisão monocrática pro-
ferida no HC 146815 MC / MG (relatoria do Min. Gilmar Mendes,
que, anteriormente, admitia a execução provisória nos termos aci-
ma mencionados), a qual estabeleceu a suspensão da execução da

98
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

pena enquanto pendente o julgamento de recurso especial no STJ.


Deste modo, por tal entendimento, a execução provisória da pena
ficaria condicionada ao exaurimento da 3ª instância de julgamento,
a despeito de o recurso especial igualmente só versar sobre maté-
ria de direito.

– Execução provisória da pena privativa de liberdade em


decisões proferidas pelo Tribunal do Júri

Direito Constitucional e Penal. Habeas Corpus. Duplo Homicídio,


ambos qualificados. Condenação pelo Tribunal do Júri. Soberania
dos veredictos. Início do cumprimento da pena. Possibilidade. 1.
A Constituição Federal prevê a competência do Tribunal do Júri
para o julgamento de crimes dolosos contra a vida (art. 5º, inciso
XXXVIII, d). Prevê, ademais, a soberania dos veredictos (art. 5º,
inciso XXXVIII, c), a significar que os tribunais não podem substi-
tuir a decisão proferida pelo júri popular. 2. Diante disso, não viola
o princípio da presunção de inocência ou da não culpabilidade a
execução da condenação pelo Tribunal do Júri, independentemente
do julgamento da apelação ou de qualquer outro recurso. Essa de-
cisão está em consonância com a lógica do precedente firmado em
repercussão geral no ARE 964.246-RG, Rel. Min. Teori Zavascki,
já que, também no caso de decisão do Júri, o Tribunal não poderá
reapreciar os fatos e provas, na medida em que a responsabilidade
penal do réu já foi assentada soberanamente pelo Júri. 3. Caso
haja fortes indícios de nulidade ou de condenação manifestamente
contrária à prova dos autos, hipóteses incomuns, o Tribunal poderá
suspender a execução da decisão até o julgamento do recurso. 4.
Habeas corpus não conhecido, ante a inadequação da via eleita.
Não concessão da ordem de ofício. Tese de julgamento: “A prisão

99
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de réu condenado por decisão do Tribunal do Júri, ainda que sujeita


a recurso, não viola o princípio constitucional da presunção de ino-
cência ou não-culpabilidade.” (HC 118770, Relator(a): Min. MARCO
AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Pri-
meira Turma, julgado em 07/03/2017, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-082 DIVULG 20-04-2017 PUBLIC 24-04-2017).

Superior Tribunal de Justiça

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 33, CAPUT, DA


LEI N. 11.343/2006. CONDENAÇÃO. EXECUÇÃO PROVISÓRIA
DA PENA. POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA CONTUDO, NA HI-
PÓTESE, DE EXAURIMENTO DA JURISDIÇÃO DO EG. TRIBU-
NAL DE ORIGEM. PENDÊNCIA DE JULGAMENTO DOS EMBAR-
GOS DE DECLARAÇÃO. HABEAS CORPUS CONCEDIDO. I - O
Supremo Tribunal Federal, recentemente consignou, por ocasião
do julgamento do ARE n. 964.246/SP, que “fica reafirmada a ju-
risprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que a
execução provisória de acórdão penal condenatório preferido em
grau recursal, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordi-
nário, não compromete o princípio constitucional da presunção de
inocência afirmado no art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal”
(ARE n. 964.246/SP, Tribunal Pleno, Rel. Min. Teori Zavascki, DJe
de 24/11/2016). II - Dessarte, em outras palavras, está autorizada
a execução provisória da pena após o julgamento em segunda ins-
tância, ressalvadas hipóteses em que seja possível a superação
de tal entendimento pela existência de flagrante ilegalidade. III - No
caso, contudo, não se verifica o encerramento da jurisdição do eg.
Tribunal de origem, porquanto pendente de julgamento embargos
de declaração opostos pela defesa, razão pela qual, na hipótese e
por ora, não se pode permitir o início da execução da pena, ainda

100
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

que provisoriamente. Habeas corpus concedido, tão somente para


permitir que o paciente aguarde em liberdade o exaurimento da ju-
risdição perante o eg. Tribunal de origem. (HC 379.749/SP, Rel. Mi-
nistro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 14/02/2017,
DJe 21/02/2017)

101
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

EXAME CRIMINOLÓGICO
Supremo Tribunal Federal

PENA – CUMPRIMENTO – PROGRESSÃO – EXAME CRIMINO-


LÓGICO. Sendo o resultado do exame criminológico negativo, fica
afastado o direito à progressão no regime de cumprimento da pena.
(HC 126943, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma,
julgado em 18/04/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-093 DI-
VULG 04-05-2017 PUBLIC 05-05-2017)

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. INSTRUÇÃO DEFI-


CIENTE. INOBSERVÂNCIA DE PRESSUPOSTO INDISPENSÁVEL
AO CONHECIMENTO DO WRIT. PRECEDENTES. PROGRES-
SÃO DE REGIME. EXAME CRIMINOLÓGICO. POSSIBILIDADE.
SÚMULA VINCULANTE 26. DECISÃO DEVIDAMENTE FUNDA-
MENTADA. REQUISITO SUBJETIVO. REEXAME DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO. VEDAÇÃO. JURISPRUDÊNCIA DO STF.
WRIT PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO, DE-
NEGADA A ORDEM. I – Constitui ônus processual do impetrante
do habeas corpus produzir elementos documentais consistentes e
pré-constituídos, destinados a comprovar as alegações veiculadas
no writ, o qual possui rito sumaríssimo e não comporta, portanto,
maior dilação probatória. II – No habeas corpus, assim como no
mandado de segurança, hão de ser apresentadas provas pré-cons-
tituídas do constrangimento ilegal imposto ao paciente. Não cabe
ao magistrado proceder a regular instrução do processo, a não ser
que, da leitura da documentação juntada com a impetração, resulte
dúvida fundada, a justificar a realização de diligência. Precedentes.
III – Prevalece nesta Corte o entendimento no sentido de que a alte-
ração do artigo 112 da LEP pela Lei 10.792/2003 não vedou a reali-

102
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

zação do exame criminológico, quando necessário para a avaliação


do sentenciado, tampouco proibiu a sua utilização para a formação
do convencimento do magistrado sobre o direito de promoção para
regime mais brando. IV – O entendimento deste Supremo Tribu-
nal Federal, consubstanciado na Súmula Vinculante 26, é de que,
“para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por
crime hediondo ou equiparado, o juízo da execução observará a
inconstitucionalidade do art. 2.º da Lei n.º 8.072, de 25 de julho de
1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os
requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar,
para tal fim, de modo fundamentado, a realização do exame crimi-
nológico”. V – No caso dos autos, o acórdão proferido pelo Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo está em consonância com a ju-
risprudência desta Corte, pois ao concluir pela necessidade de rea-
lização do exame criminológico apresentou fundamentação idônea.
VI – A análise quanto ao preenchimento ou não do requisito subje-
tivo previsto no art. 112 da LEP demandaria o reexame do conjunto
fático-probatório, o que é vedado em habeas corpus. VII – Habe-
as corpus parcialmente conhecido e, nessa extensão, denegada a
ordem. (HC 137315, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI,
Segunda Turma, julgado em 13/12/2016, PROCESSO ELETRÔNI-
CO DJe-028 DIVULG 10-02-2017 PUBLIC 13-02-2017)

PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS COR-


PUS. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME. REALIZA-
ÇÃO DE EXAME CRIMINOLÓGICO. ART. 112 DA LEI 7.210/1984.
DECISÃO FUNDAMENTADA. 1. Com as alterações determinadas
pela Lei 10.792/2003 no art. 112 da Lei de Execução Penal, a rea-
lização de exame criminológico, embora prescindível, pode ser jus-
tificadamente determinada para instruir pedido de progressão de
regime. 2. No caso, a medida complementar foi devidamente moti-

103
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

vada com fulcro na periculosidade do agravante, consectário do seu


histórico criminal desfavorável, que registra a prática de três roubos
majorados, além da indicação da falta disciplinar de natureza gra-
ve. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (HC 135484
AgR, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado
em 16/09/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-210 DIVULG 30-
09-2016 PUBLIC 03-10-2016)

RECLAMAÇÃO. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE REGI-


ME PRISIONAL. SÚMULA VINCULANTE Nº 26. EXAME CRIMINO-
LÓGICO. DECISÃO FUNDAMENTADA. RECLAMAÇÃO IMPRO-
CEDENTE. 1. A jurisprudência desta Suprema Corte, consolidada
no enunciado da Súmula Vinculante nº 26, reputa viável a realiza-
ção do exame criminológico nas situações em que o Juiz da Execu-
ção, forte no exercício do poder geral de cautela, considerar neces-
sário para a formação do seu convencimento. 2. O magistrado de
primeiro grau, ao considerar a situação concreta do apenado, de-
terminou, mediante decisão fundamentada, a realização de exame
criminológico. 3. Inexistente, na hipótese, qualquer ato praticado
pela autoridade reclamada capaz de afrontar o enunciado da Sú-
mula Vinculante nº. 26. Precedentes. 4. Reclamação improcedente.
(Rcl 22685, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acór-
dão: Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 07/06/2016,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-198 DIVULG 15-09-2016 PUBLIC
16-09-2016)

Excerto do Voto

Senhor Presidente, a redação anterior da Lei de Exe-


cução Penal elegia, de forma expressa, a realização de
exame criminológico como possível elemento de convic-

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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

ção associado à progressão de regime de pena:

“Art. 112. A pena privativa de liberdade será exe-


cutada em forma progressiva, com a transferência
para regime menos rigoroso, a ser determinada
pelo Juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos
1/6 (um sexto) da pena no regime anterior e seu
mérito indicar a progressão.
Parágrafo único. A decisão será motivada e prece-
dida de parecer da Comissão Técnica de Classifica-
ção e do exame criminológico, quando necessário.”

A atual redação do aludido dispositivo, contudo, não con-


sagra, de forma explícita, o exame criminológico como
medida possível à aferição do mérito da implementação
da execução progressiva:

“Art. 112. A pena privativa de liberdade será exe-


cutada em forma progressiva com a transferência
para regime menos rigoroso, a ser determinada
pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos
um sexto da pena no regime anterior e ostentar
bom comportamento carcerário, comprovado pelo
diretor do estabelecimento, respeitadas as normas
que vedam a progressão.
§ 1o A decisão será sempre motivada e precedida
de manifestação do Ministério Público e do defen-
sor.“

A partir desse cenário, e diante do silêncio normativo,


emergiu a controvérsia acerca da efetiva permanência

105
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

de admissão de exigência do exame criminológico. A


esse respeito, o Supremo Tribunal Federal editou a Sú-
mula Vinculante 26, que enuncia:

“Para efeito de progressão de regime no cumpri-


mento de pena por crime hediondo, ou equiparado,
o juízo da execução observará a inconstitucionali-
dade do art. 2º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de
1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado pre-
enche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos
do benefício, podendo determinar, para tal fim, de
modo fundamentado, a realização de exame crimi-
nológico.”

O verbete sumular autoriza duas conclusões relevantes.


Primeiro, que o exame criminológico permanece compa-
tível com a atual sistemática da Execução Penal. Segun-
do, que referida exigência transplantou-se do plano da
automaticidade para submeter-se à condição de meio de
prova derivado de critérios de persuasão racional.

Assim, a exigência de exame criminológico desafia fun-


damentação idônea a denotar a necessidade e adequa-
ção da colheita probatória. Com efeito, considerando que
a produção da prova dilata o tempo consumido para en-
frentamento da progressão de regime, contribuindo para
mitigação da progressividade executiva, natural a opção
legislativa direcionada à racionalização de emprego do
mecanismo.

Necessário, todavia, estabelecer limites mínimos à ido-

106
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

neidade da fundamentação enunciada por meio do ver-


bete sumular.
De início, ao contrário do asseverado pelo reclamante,
cumpre assentar que essa fundamentação não se limita
aos “fatos concretos atinentes ao período de execução
de pena.” À obviedade, a Execução Penal não se des-
vencilha, completamente, das particularidades que per-
mearam e motivaram o édito condenatório.
Enfatizo que “o indivíduo é sempre uma realidade única
ou insimilar, irrepetível mesmo na sua condição de micro-
cosmo ou de um universo à parte. Logo, todo instituto de
direito penal que se lhe aplique pena, prisão, progressão
de regime penitenciário, liberdade provisória, conversão
da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos
há de exibir o timbre da personalização.” (HC 110844,
Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Segunda Turma, julga-
do em 10/04/2012, grifei).

Ora, se a carga normativa do Princípio da Individua-


lização da Pena alcança a fase executória (art. 5°, Lei
7.210/84) e se a Execução Penal “tem por objetivo efeti-
var as disposições de sentença ou decisão criminal” (art.
1°, Lei 7.210/84), não há como aceitar que a condena-
ção simplesmente converta-se em pena aritmética, igno-
rando-se o prévio e específico juízo de censurabilidade.
Destarte, as peculiaridades da ação criminosa podem,
validamente, repercutir em decisões proferidas no curso
executivo, inclusive como fundamento para exigência de
exame criminológico como elemento a contribuir para a
formação da convicção do Juízo da Execução.

107
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

É certo que a individualização da pena também é mate-


rializada por meio da atividade legislativa, que fixa pa-
râmetros mínimos e máximos de retribuição penal e es-
tabelece critérios para cumprimento da pena. Impende
assinalar que, quando o legislador pretendeu que cau-
sas genéricas interferissem na Execução Penal, o fez
expressamente. Assim, delitos hediondos e equiparados,
por exemplo, são caracterizados por requisitos objetivos
próprios de progressão de regime, bem como constituem
critério de separação de presos provisórios e condena-
dos (art. 84 da Lei de Execução Penal).

Nesse contexto, ou a individualização da execução de-


riva de causas genéricas, aí dependentes de juízo le-
gislativo sujeito a controle de constitucionalidade, ou é
fruto de particularidades que circundam o caso concreto,
demonstráveis casuisticamente na atmosfera jurisdicio-
nal. Vale dizer, não é possível que características gerais
de delitos sejam ponderadas pelo Estado-Juiz a título de
fundamento individual.

A restrição da individualização penal ex lege tem sido a


tônica dos precedentes do Tribunal. Verificou-se tal con-
clusão ao reconhecer-se a inconstitucionalidade:
a) da vedação à progressão de regime (HC 82.959/SP,
Rel. Min. MARCO AURÉLIO, DJ 01.09.2006) em crimes
hediondos e equiparados;
b) da vedação de substituição da pena privativa de li-
berdade (HC 97.256, Rel. Min. AYRES BRITTO, DJe
16.12.2010) no crime de tráfico ilícito de entorpecentes;
c) da vedação de concessão de liberdade provisória (HC
104339, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal

108
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

Pleno, julgado em 10.05.2012) no crime de tráfico ilícito


de entorpecentes;
d) da fixação obrigatória de regime inicial fechado(HC
111840, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno,
julgado em 27.06.2012) em crimes hediondos e equipa-
rados.

Nessa linha, a condenação lastreada em crime praticado


com violência ou grave ameaça não legitima, por si só, a
exigência de exame criminológico. De fato, o legislador
poderia considerar que em delitos de tal jaez a realização
do exame criminológico constituiria condição necessária
da progressão de regime. Mas não o fez, descabendo
ao intérprete criar requisito abstrato não estabelecido em
lei.

Por outro lado, a gravidade abstrata do crime, ou, pior,


elementos de tipicidade, não se prestam a autorizar a
exigência, que pressupõe fundamentação à luz das cir-
cunstâncias particulares do caso. Exigir exame crimino-
lógico sob tal fundamento, ao meu sentir, configuraria
atribuir ao Juiz a prerrogativa de editar normas gerais
atinentes ao processo executivo penal, providência, ob-
viamente, inaceitável.

Ademais, o livre convencimento motivado, na hipóte-


se, carrega consigo a necessidade de fundamentação
da admissão da prova, na medida em que tal proceder
acarreta, comumente, gravame ao condenado, cujo im-
plemento dos benefícios executórios fica subordinado à
realização nem sempre ágil da prova.

109
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

Ressalte-se que a existência de eventual gravidade con-


creta ou circunstâncias especiais do fato ensejador da
condenação podem, validamente, autorizar a realização
do exame, desde que não se trate de exigência derivada
pura e simplesmente do tipo penal da condenação. Re-
gistro que não cabe ao Supremo Tribunal Federal deferir,
originariamente e na estreita via reclamatória, a progres-
são de regime.

Diante do exposto, julgo parcialmente procedente a re-


clamação para o fim de determinar que o Juízo reclama-
do se abstenha de exigir o exame criminológico median-
te mera alusão à prática de crime cometido com violência
ou grave ameaça (grifo no original).

Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO. DESCA-


BIMENTO. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME.
EXAME CRIMINOLÓGICO. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. NE-
CESSIDADE DE JUSTIFICAÇÃO CONCRETA DA DECISÃO QUE
DETERMINA SUA REALIZAÇÃO COMO CONDIÇÃO À PROGRES-
SÃO. SÚMULA N. 439 DO STJ. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA. 1. Em consonância com a orientação jurisprudencial
da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal - STF, esta Corte
não admite habeas corpus substitutivo de recurso próprio, sem pre-
juízo da concessão da ordem, de ofício, se existir flagrante ilegali-
dade na liberdade de locomoção do paciente. 2. Para fins de pro-
gressão de regime, a determinação de prévio exame criminológico,
para avaliação do requisito subjetivo do apenado, não foi abolida

110
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

pelo art. 112 da Lei de Execução Penal - LEP, alterado pela Lei n.
10.792/2003, sendo permitida sua realização, desde que haja fun-
damentação concreta a demonstrar a efetiva necessidade da perí-
cia. Entendimento da Súmula n. 439 do Superior Tribunal de Justiça
– STJ. 3. A gravidade abstrata do delito praticado e a longevidade da
pena a cumprir não se prestam, por si sós, como fundamentos para
determinar a realização do exame criminológico, tendo em vista que
a exigência da perícia técnica deve se fundamentar em elementos
concretos, constante da execução da pena, que atestem o demérito
do sentenciado. Habeas Corpus não conhecido. Ordem concedida,
de ofício, para restabelecer a decisão monocrática que concedeu
ao paciente a progressão ao regime semiaberto. (HC 402.059/SP,
Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
15/08/2017, DJe 24/08/2017)

Excerto do voto

Em sua redação original, o art. 112 da Lei de Execuções


Penais previa, em seu parágrafo único, que a decisão
que autorizasse a progressão de regime do apenado se-
ria motivada e precedida de parecer da Comissão Téc-
nica de Classificação e do exame criminológico, quando
necessário.

A Lei n. 10.792⁄2003 alterou a redação do dispositivo,


suprimindo a referência expressa ao exame criminoló-
gico como requisito à progressão. Eis o teor corrente do
imperativo legal:

Art. 112. A pena privativa de liberdade será exe-


cutada em forma progressiva com a transferência

111
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

para regime menos rigoroso, a ser determinada


pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos
um sexto da pena no regime anterior e ostentar
bom comportamento carcerário, comprovado pelo
diretor do estabelecimento, respeitadas as normas
que vedam a progressão.
§ 1o A decisão será sempre motivada e precedida
de manifestação do Ministério Público e do defen-
sor.
§ 2o Idêntico procedimento será adotado na con-
cessão de livramento condicional, indulto e comuta-
ção de penas, respeitados os prazos previstos nas
normas vigentes.

A alteração legislativa levou a debates no âmbito desta Corte Supe-


rior, sobressaindo o entendimento de que, embora não tenha resta-
do proibida a realização do exame criminológico para a verificação
do preenchimento do requisito subjetivo à progressão de regime,
impôs-se ao Magistrado a necessidade de motivar concretamente
a imprescindibilidade de submissão do apenado ao exame. Nessa
esteira, editou-se a Súmula n. 439 do STJ, in verbis:

Admite-se o exame criminológico pelas peculiarida-


des do caso, desde que em decisão motivada.

Aplicando a legislação pertinente em cotejo com o entendimento


sumular acima transcrito, esta Corte Superior tem entendido que a
gravidade abstrata dos delitos praticados e a longevidade da pena
a cumprir não podem servir, por si sós, como fundamento para a de-
terminação de prévia submissão do apenado a exame criminológi-
co. Impõe-se que tal exigência decorra de algum elemento concreto

112
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

atinente ao período de execução da pena e à conduta carcerária do


custodiado, como, por exemplo, a prática de novos delitos no curso
da execução.

Nesse sentido:

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS IMPETRA-


DO EM SUBSTITUIÇÃO A RECURSO PRÓPRIO.
ACÓRDÃO QUE CASSA A DECISÃO CONCESSIVA
DA PROGRESSÃO DE REGIME E A CONDICIONA À
REALIZAÇÃO DE EXAME CRIMINOLÓGICO. AUSÊN-
CIA DE FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. GRAVIDADE
DO PRÓPRIO TIPO PENAL. QUANTIDADE DA PENA.
SÚMULA 439⁄STJ. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CA-
RACTERIZADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECI-
DO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. [...] 2. De acordo
com a Súmula 439⁄STJ: “admite-se o exame criminológi-
co pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão
motivada”. No caso dos autos, verifica-se que foram de-
vidamente preenchidos os requisitos legais para deferir
ao paciente a progressão para o regime aberto, tanto
objetivos como subjetivos, e que o acórdão impugnado
utilizou-se de argumento inidôneo para determinar a re-
gressão de regime e a realização de exame criminológi-
co, baseando-se tão somente na gravidade abstrata dos
crimes cometidos e na quantidade de pena a cumprir. 3.
Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofí-
cio, para cassar o acórdão impugnado e restabelecer a
decisão que deferiu ao paciente a progressão ao regime
aberto (HC 279.335⁄SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS,
QUINTA TURMA, DJe 08⁄03⁄2016). (grifo no original)

113
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITU-


TIVO DE RECURSO PRÓPRIO. PROGRESSÃO DE
REGIME. EXIGÊNCIA DE EXAME CRIMINOLÓGICO.
FUNDAMENTAÇÃO ABSTRATA. CONSTRANGIMEN-
TO ILEGAL. [...] 2. A Lei n. 10.792⁄2003, ao alterar a re-
dação do art. 112 da Lei de Execução Penal, afastou a
exigência do exame criminológico para fins de progres-
são de regime. Contudo, o Superior Tribunal de Justiça
firmou a compreensão de que o magistrado de primeiro
grau, ou mesmo a Corte estadual, diante das circuns-
tâncias do caso concreto e adequada motivação, pode
determinar a realização da referida prova técnica para a
formação de seu convencimento. Entendimento conso-
lidado na Súmula 439 desta Corte: “Admite-se o exame
criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que
em decisão motivada.” 3. No caso, o acórdão impugna-
do carece de fundamentação idônea, uma vez que se
baseou na gravidade abstrata do delito, na duração da
pena a cumprir, na hipotética situação de um executado
assumir faltas cometidas por outro e no entendimento de
que a exigência da avaliação do reeducando por equipe
multidisciplinar deve persistir para cassar a decisão que
concedeu à paciente progressão ao regime intermediá-
rio, não havendo elementos que demonstrem, concre-
tamente, o demérito da condenada e que justifiquem a
negativa de progressão de regime prisional.
4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de
ofício, para, confirmando a liminar e em consonância
com o parecer ministerial, cassar o acórdão hostiliza-
do e restabelecer a decisão de primeiro grau, que de-
feriu à paciente progressão ao regime semiaberto (HC
322.020⁄SP, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA

114
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TURMA, DJe 17⁄03⁄2016). (grifo no original)

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO.


DESCABIMENTO. EXECUÇÃO. COMUTAÇÃO. DECRETO N.
8.380/2014. FALTA GRAVE. INTERRUPÇÃO DO LAPSO PARA
CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. ART. 4º. PARÁGRAFO ÚNICO.
SÚMULA N. 535/STJ. REQUISITO SUBJETIVO. EXAME CRIMI-
NOLÓGICO. REQUISITOS NÃO PREVISTOS NA NORMA DE RE-
GÊNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. WRIT
NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. Em
consonância com a orientação jurisprudencial da Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal - STF, esta Corte não admite habeas
corpus substitutivo de recurso próprio, sem prejuízo da concessão
da ordem, de ofício, se existir flagrante ilegalidade na liberdade de
locomoção do paciente. 2. O acórdão recorrido está em desacor-
do com o entendimento pacificado por essa Corte no sentido de
que a prática de falta grave, não tem o condão de interromper o
prazo exigido para a concessão de livramento condicional, comu-
tação de pena e indulto. 3. O art. 4º, parágrafo único, do Decreto n.
8.380/2014 prevê que a aplicação de sanção por falta disciplinar de
natureza grave, previstas na Lei n. 7.210/84, não interrompe o lapso
temporal para fins de indulto e comutação de penas. 4. Quanto ao
tema a Terceira Seção desta Corte editou a Súmula n. 535, fixando
o entendimento de que a falta disciplinar de natureza grave, mesmo
que decorrente da prática de novo delito, não acarreta a alteração
da data-base para a concessão de indulto ou comutação da pena.
5. No tocante ao requisito subjetivo, o Decreto presidencial conces-
sivo exige apenas, para obtenção do benefício, que o condenado
não tenha registro de falta grave nos últimos doze meses, contados
da data da publicação do mencionado ato normativo. 6. Assim, não
há previsão para se condicionar a comutação da pena a requisi-

115
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

tos não previstos no decreto presidencial, inclusive a realização de


exame criminológico, tendo em vista ser competência privativa do
Presidente da República definir quais os critérios para concessão
da benesse, sob pena de afronta aos princípios da legalidade e
da separação dos poderes. Habeas corpus não conhecido. Ordem
concedida, de ofício, para determinar que o Juízo das Execuções
Criminais examine o pedido do paciente, com fundamento apenas
nos requisitos previsto no Decreto n. 8.380/2014. (HC 400.176/SP,
Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
08/08/2017, DJe 18/08/2017)

Tribunal de Justiça de Goiás

AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME.


EXAME CRIMINOLÓGICO. REQUISITO SUBJETIVO. NÃO SATIS-
FEITO. I- Inviável a reforma da decisão que indeferiu o pedido de
progressão de regime quando não satisfeito o requisito subjetivo,
fundamentado em exame criminológico. II- AGRAVO CONHECI-
DO E DESPROVIDO. (TJGO, AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL
86322-32.2008.8.09.0029, Rel. DES. CARMECY ROSA MARIA A.
DE OLIVEIRA, 2A CÂMARA CRIMINAL, julgado em 10/08/2017,
DJe 2335 de 24/08/2017)

HABEAS CORPUS. CONDENAÇÃO PELA PRÁTICA DE HOMI-


CÍDIO QUALIFICADO, PORTE DE ARMA DE FOGO E USO DE
DOCUMENTO FALSO. PROGRESSÃO DE REGIME. CUMPRI-
MENTO DO REQUISITO OBJETIVO. DETERMINAÇÃO DE RE-
ALIZAÇÃO DO EXAME CRIMINOLÓGICO PARA AVALIAÇÃO DO
SUBJETIVO. INEXISTÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
1. A análise dos requisitos necessários à progressão de regime de
cumprimento da pena exige ampla valoração da prova, devendo ser
aferido pelo juízo da execução, em decisão que desafia, em regra, o

116
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

recurso de agravo em execução. 2. Concernente à determinação ju-


dicial condicionando a análise do requisito subjetivo à realização de
exame criminológico, se devidamente motivado o decisum, pelas
circunstâncias do caso concreto, não se verifica constrangimento
ilegal. Ademais, havendo informações de que já elaborado o exame
e a solicitação de que seja remetido ao juízo com urgência, conclui-
-se que a efetivação da prestação jurisdicional se avizinha. ORDEM
PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESSA EXTENSÃO, DENEGA-
DA. (TJGO, HABEAS CORPUS 74243-93.2017.8.09.0000, Rel.
DES. ITANEY FRANCISCO CAMPOS, 1A CÂMARA CRIMINAL,
julgado em 25/04/2017, DJe 2266 de 12/05/2017)

117
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
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PROGRESSÃO DE REGIME
Supremo Tribunal Federal

PENA – REGIME DE CUMPRIMENTO – ARTIGO 2º, § 2º, DA LEI


Nº 8.072/1990 – TRÁFICO DE DROGAS – CAUSA DE DIMINUI-
ÇÃO. A causa de diminuição prevista no § 4º do artigo 33 da Lei
nº 11.343/2006 não afasta a observância da necessidade de cum-
primento de 2/5 da pena para ter-se a progressão. (HC 115280,
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em
08/08/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-186 DIVULG 22-08-
2017 PUBLIC 23-08-2017)

HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. LIVRAMENTO CON-


DICIONAL. COMETIMENTO DE FALTA GRAVE. INTERRUPÇÃO
DA CONTAGEM DO LAPSO TEMPORAL PARA CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO. AUSÊNCIA DE COMPORTAMENTO SATISFATÓRIO
DURANTE A EXECUÇÃO DA PENA. NÃO PREENCHIMENTO
DOS REQUISITOS. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA PARA A REVO-
GAÇÃO DO LIVRAMENTO CONDICIONAL. ORDEM DENEGADA.
I – A jurisprudência pacífica deste Supremo Tribunal Federal tam-
bém opera no sentido de que a prática de falta grave no decorrer da
execução penal interrompe o prazo para concessão de progressão
de regime, reiniciando-se, a partir do cometimento da infração dis-
ciplinar grave, a contagem do prazo para que o condenado possa
pleitear novamente o referido benefício executório. Precedentes. II
- Admite-se a aplicação retroativa da alteração do art. 127 da Lei de
Execuções Penais, pela Lei 12.433/2011, para limitar a revogação
dos dias remidos à fração de um terço, mantendo a previsão de
reinício da contagem do prazo para a obtenção de benefícios. III - A
modificação legislativa não afastou a necessidade de comprovação

118
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

do comportamento satisfatório durante a execução da pena previs-


ta no art. 83, III, do Código Penal, inocorrente no caso em exame,
pela falta grave cometida pelo paciente. IV – Ordem denegada. (HC
136376, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda
Turma, julgado em 18/04/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
089 DIVULG 28-04-2017 PUBLIC 02-05-2017)

Superior Tribunal de Justiça

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PE-


NAL. PROGRESSÃO DE REGIME. INEXISTÊNCIA DE VAGA EM
ESTABELECIMENTO ADEQUADO. APENADO QUE ESTÁ CUM-
PRINDO PENA EM LOCAL QUE LHE ASSEGURA OS BENEFÍCIOS
DO REGIME INTERMEDIÁRIO DE CUMPRIMENTO DE PENA.
INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO À SÚMULA VINCULANTE N. 56/
STF. 1. Firmou-se no Superior Tribunal de Justiça o entendimento
de que a inexistência de vaga em estabelecimento prisional compa-
tível com o regime determinado no título condenatório ou decorrente
de progressão de regime permite ao condenado o cumprimento da
reprimenda no modo menos gravoso. Ante a deficiência do Estado
em viabilizar a implementação da devida política carcerária, deve-
-se conceder ao paciente, em caráter excepcional, o cumprimento
da pena em regime imediatamente menos gravoso ou, na falta de
casa de albergado ou similar, em prisão domiciliar, até o surgimento
da vaga em estabelecimento adequado. 2. A Corte Excelsa editou a
Súmula Vinculante n. 56, verbis: “A falta de estabelecimento penal
adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime
prisional mais gravoso, devendo-se observar nessa hipótese os pa-
râmetros fixados no RE 641.320.” 3. No caso, contudo, o Tribunal
de origem assentou que, “conquanto os apenados estejam em res-
gate da pena privativa de liberdade em estabelecimento com desig-

119
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

nação incompatível (penitenciária e não colônia), as condições de


encarceramento no interior da Penitenciária Industrial de Joinville
são satisfatórias, ao passo que são oportunizados aos detentos em
regime semiaberto os benefícios do trabalho externo, aliado ao fato
de que, por ocasião de seus recolhimentos ao cubículo prisional,
permanecem separados dos demais reeducandos do modo exe-
cucional fechado, de sorte que os direitos inerentes ao sistema de
cumprimento da reprimenda estão sendo respeitados”. Assim, à vis-
ta das peculiaridades do caso, não se pode afirmar que o paciente/
agravante cumpre pena no regime mais gravoso, o que, por certo,
não autorizaria afirmar que há violação à Súmula Vinculante n. 56
do Supremo Tribunal Federal, de modo a autorizar a concessão da
ordem. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no
HC 398.050/SC, Rel. Ministro ANTÔNIO SALDANHA PALHEIRO,
SEXTA TURMA, julgado em 08/08/2017, DJe 17/08/2017)

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE


DROGAS. DOSIMETRIA.
APLICAÇÃO DO § 4º DO ART. 33 DA LEI N. 11.343/06. CIRCUNS-
TÂNCIAS DO DELITO. QUANTIDADE E NATUREZA DAS DRO-
GAS. DEDICAÇÃO A ATIVIDADES CRIMINOSAS. REEXAME DE
PROVAS. VIA ELEITA INADEQUADA. PRETENSÃO DE MODI-
FICAÇÃO DO REGIME PRISIONAL INICIAL. SUPERVENIENTE
PROGRESSÃO AO REGIME PRETENDIDO. PERDA DE OBJETO.
VEDAÇÃO À PROGRESSÃO PER SALTUM. SÚMULA N. 491 DO
STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. O habeas corpus,
marcado por cognição sumária e rito célere não é adequado à mu-

120
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

dança do entendimento adotado na instância ordinária - quanto às


evidências nos autos denotarem que a ré se dedicava à atividade
criminosa - uma vez que demanda revolvimento do conjunto fático-
-probatório, providência inviável na via eleita. 2. O pedido de alte-
ração do regime inicial fechado para o semiaberto fica prejudicado
pela superveniente progressão da paciente a esse regime. Mesmo
que se alterasse o regime inicial, a paciente não poderia progredir
diretamente para o aberto, tendo em vista a vedação à progressão
per saltum. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 380.751/
SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado
em 06/04/2017, DJe 20/04/2017)

Excerto do Voto

Noutro enfoque, no que se refere ao regime prisional,


a Lei de Execuções Penais (Lei n. 7.210⁄84) estabelece
em seu art. 112 que o cumprimento da pena privativa
de liberdade obedecerá ao sistema progressivo, com a
transferência do apenado ao regime imediatamente me-
nos gravoso, caso ele preencha os requisitos legais –
lapso de pena e bom comportamento carcerário.

Interpretando esse dispositivo, foi editado o enunciado n.


491 da Súmula desta Corte, in verbis: É inadmissível a
chamada progressão per saltum de regime prisional.

Assim, conquistada a progressão ao regime prisional


semiaberto, a agravante deverá aguardar interregno ne-
cessário para iniciar o cumprimento da pena no regime
menos gravoso, conforme pretendido.

Nesse sentido, colaciono julgados de ambas as Turmas

121
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

que compõem a Terceira Seção desta Corte Superior:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS.


ESTUPRO DE VULNERÁVEL. REGIME PRISIO-
NAL. MATÉRIA NÃO DEBATIDA NO ACÓRDÃO
IMPUGNADO. NÃO CABIMENTO DO WRIT. SU-
PERVENIENTE PROGRESSÃO AO REGIME
PRETENDIDO. PREJUDICIALIDADE CONSTATA-
DA. ÓBICE À PROGRESSÃO PER SALTUM. SÚ-
MULA 491⁄STJ. AGRAVO REGIMENTAL IMPRO-
VIDO. 1. A pretendida fixação de regime prisional
menos gravoso não foi enfrentada pelo Tribunal a
quo, conforme ressai do acórdão impugnado, razão
pela qual o Superior Tribunal de Justiça não é com-
petente para a análise da insurgência, sob pena
de supressão de instância. 2. Ademais, a superve-
niente progressão do paciente ao regime prisional
semiaberto torna prejudicado o pleito de alteração
para esse regime inicial, não se admitindo a cha-
mada progressão per saltum, conforme enunciado
da Súmula 491⁄STJ. 3. Agravo regimental improvi-
do (AgRg no HC 317.801⁄ES, Rel. Ministro REY-
NALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
DJe 16⁄03⁄2016).

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS.


PRETENSÃO DE FIXAÇÃO DO REGIME SE-
MIABERTO. PROGRESSÃO OBTIDA ANTES DO
AJUIZAMENTO DO WRIT. FALTA DE INTERES-
SE DE AGIR. VEDAÇÃO DE PROGRESSÃO PER
SALTUM. SÚMULA 491⁄STJ. 1. A progressão para

122
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

o regime pretendido, obtida na origem, evidencia


a falta de interesse de agir no writ ajuizado poste-
riormente à obtenção do benefício, porquanto não
mais vigente o regime prisional atacado na impe-
tração. 2. O fato de o paciente ter sido progredido
ao regime semiaberto não lhe confere o direito à
continuação do cumprimento de sua pena em regi-
me aberto, dada a necessidade de permanecer 1⁄6
da pena em cada regime. Súmula 491⁄STJ veda a
progressão per saltum. Precedente. 3. Agravo re-
gimental improvido (AgRg no HC 377.868⁄SP, Rel.
Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TUR-
MA, DJe 16⁄12⁄2016).

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO.


NÃO CABIMENTO. EXECUÇÃO PENAL. ART. 217-A, CAPUT, E
ART. 344 DO CÓDIGO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME. SU-
POSTA AUSÊNCIA DE VAGA EM ESTABELECIMENTO COMPATÍ-
VEL COM O REGIME SEMIABERTO. INOCORRÊNCIA. INAPLI-
CABILIDADE DA SÚMULA VINCULANTE 56/STF. ANÁLISE DAS
CONDIÇÕES ESTRUTURAIS E DE SALUBRIDADE DO ESTABE-
LECIMENTO PRISIONAL. NECESSIDADE DE AMPLO REVOLVI-
MENTO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. INVIABILIDADE NA
ESTREITA VIA DO WRIT. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. I
- A Terceira Seção desta Corte, seguindo entendimento firmado pela
Primeira Turma do col. Pretório Excelso, firmou orientação no sen-
tido de não admitir a impetração de habeas corpus em substituição
ao recurso adequado, situação que implica o não conhecimento da
impetração, ressalvados casos excepcionais em que, configurada
flagrante ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal, seja pos-
sível a concessão da ordem de ofício. II - Segundo a jurisprudência

123
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

desta Corte Superior, se o caótico sistema prisional estatal não pos-


sui meios para manter os detentos em estabelecimento apropria-
do, é de se autorizar, excepcionalmente, que a pena seja cumprida
em regime mais benéfico - estabelecimento adequado ao regime
aberto ou prisão domiciliar. III - Nessa mesma orientação, o excel-
so Supremo Tribunal Federal, em sessão realizada em 29/06/2016,
aprovou a Súmula Vinculante n. 56 com a seguinte redação: “A falta
de vagas em estabelecimento prisional não autoriza a manutenção
do preso em regime mais gravoso, devendo-se observar, nessa hi-
pótese, os parâmetros do Recurso Extraordinário 641.320.” IV - No
presente caso, contudo, não se verifica a presença de referida hipó-
tese excepcional - ausência de vaga em estabelecimento prisional
compatível com o regime semiaberto -, pois não há notícias de que
ele esteja sujeito a regime mais gravoso do que o que lhe foi impos-
to, limitando-se a sua irresignação à precariedade dos estabeleci-
mentos prisionais de regime semiaberto. V - A discussão acerca das
condições de recolhimento dos apenados no sistema prisional local,
tidas por inadequadas ao regime de cumprimento de pena em co-
mento, demanda amplo revolvimento de matéria fático-probatória,
procedimento a toda evidência incompatível com a estreita via do
writ. Habeas corpus não conhecido. (HC 395.999/SP, Rel. Ministro
FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 03/08/2017, DJe
15/08/2017)

Tribunal de Justiça de Goiás

AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. NULIDADE DA DECISÃO.


CERCEAMENTO DE DEFESA. IMPOSSIBILIDADE. Deve ser rejei-
tada a alegação preliminar de nulidade da decisão, ao argumento de
cerceamento de defesa, pela não intimação do advogado, quando
há a nomeação de defensor para a audiência de justificação e não
se verifica prejuízo ao agravante. 2) PRÁTICA DE FALTAS GRA-

124
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

VES. POSSUIR OBJETOS PROIBIDOS (CHUCHO E CELULAR)


E COMETIMENTO DE NOVO CRIME DOLOSO. ALTERAÇÃO DA
DATA-BASE. INTERRUPÇÃO A PARTIR DO COMETIMENTO DAS
FALTAS DISCIPLINARES. A prática de faltas disciplinares de natu-
reza grave, durante o transcurso do cumprimento da pena, é pas-
sível de interrupção da contagem do prazo para a progressão de
regime, devendo o novo cômputo levar em conta como marco inicial
(data-base) a data do cometimento das infrações. 3) PERDA DOS
DIAS REMIDOS NA FRAÇÃO DE 1/3 (UM TERÇO). A perda da
terça parte (1/3) do tempo remido pelo reeducando é consequência
lógica de medida punitiva legalmente prevista, em razão da práti-
ca de faltas disciplinares de natureza grave, consoante inteligência
do art. 127 da Lei nº 7.210/84, abrangendo os dias já homologa-
dos pelo juízo da execução, inclusive. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. (TJGO, AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL 89182-
78.2017.8.09.0000, Rel. DES. CARMECY ROSA MARIA A. DE OLI-
VEIRA, 2A CÂMARA CRIMINAL, julgado em 08/08/2017, DJe 2333
de 22/08/2017)

AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. TRÁFICO DE DROGAS. NÃO


REINCIDÊNCIA. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS COMPROBATÓ-
RIOS. ACÓRDÃO CONFIRMATÓRIO DA SENTENÇA CONDENA-
TÓRIA. TRÂNSITO EM JULGADO. Carecendo o recurso interposto
de documentação obrigatória que possa respaldar a fundamenta-
ção acerca da equivocada incidência da agravante da reincidência
e, de consequência, a fração correta para fins de progressão de
regime, peças imprescindíveis à perfeita análise do tema recursal
- art. 587, parágrafo único, do Código de Processo Penal -, invi-
ável a admissão do recurso. AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL
NÃO CONHECIDO. (TJGO, AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL
150507-47.2017.8.09.0067, Rel. DES. ITANEY FRANCISCO CAM-
POS, 1A CÂMARA CRIMINAL, julgado em 01/08/2017, DJe 2331
de 18/08/2017)
125
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

REGRESSÃO DE REGIME
Supremo Tribunal Federal

PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO OR-


DINÁRIO EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. REGRES-
SÃO CAUTELAR DE REGIME PRISIONAL. INAPLICABILIDADE
DO ART. 118, § 2º, DA LEP. DESNECESSIDADE DE OITIVA PRÉ-
VIA DO APENADO. NEGATIVA DE ROMPIMENTO DO MONITO-
RAMENTO ELETRÔNICO. REVOLVIMENTO DE FATOS E PRO-
VAS. 1. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que a fuga do
condenado justifica a regressão cautelar do regime prisional, sendo
que a oitiva prévia disposta no art. 118, § 2º, da Lei de Execução
Penal somente é indispensável na hipótese de regressão definitiva.
Precedentes. 2. Avançar nas alegações postas no recurso, sobre o
rompimento ou não do sistema de monitoração eletrônica, revela-
-se inviável nesta ação constitucional, por pressupor o revolvimento
de fatos e provas. 3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(RHC 135554 AgR, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda
Turma, julgado em 16/09/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
210 DIVULG 30-09-2016 PUBLIC 03-10-2016)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PE-


NAL. REGRESSÃO CAUTELAR DE REGIME PRISIONAL. INA-
PLICABILIDADE DO ART. 118, § 2º, DA LEP. DESNECESSIDADE
DE OITIVA PRÉVIA DO APENADO. PRECEDENTES. RECURSO
IMPROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que a
fuga do condenado justifica a regressão cautelar do regime prisio-
nal, sendo que a oitiva prévia disposta no art. 118, § 2º da Lei de
Execução Penal somente é indispensável na hipótese de regres-
são definitiva. Precedentes. 2. Recurso improvido. (RHC 116467,
Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em

126
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

19/11/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-237 DIVULG 02-12-


2013 PUBLIC 03-12-2013)

Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PE-


NAL. FALTA GRAVE. REGRESSÃO CAUTELAR AO REGIME PRI-
SIONAL FECHADO. POSSIBILIDADE. RECURSO DESPROVIDO.
1. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de ser possível
a regressão cautelar, inclusive ao regime prisional mais gravoso,
diante da prática de infração disciplinar no curso do resgate da
reprimenda, sendo desnecessária até mesmo a realização de audi-
ência de justificação para oitiva do apenado, exigência que se torna
imprescindível somente para a regressão definitiva. Precedentes.
Recurso ordinário em habeas corpus desprovido. (RHC 81.352/MA,
Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
18/04/2017, DJe 28/04/2017)

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE


RECURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. LIVRAMENTO CON-
DICIONAL. REVOGAÇÃO. CONDENAÇÃO SUPERVENIENTE
PELA CONDUTA DE PORTE DE DROGA PARA USO PRÓPRIO,
PRATICADA NO CURSO DO PERÍODO DE PROVA. NATUREZA
JURÍDICA DE CRIME. FALTA DISCIPLINAR GRAVE CONFIGU-
RADA. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. HABEAS
CORPUS NÃO CONHECIDO. I - Não mais se admite, perfilhando
o entendimento do col. Pretório Excelso e da eg. Terceira Seção
deste Superior Tribunal de Justiça, a utilização de habeas corpus
substitutivo quando cabível o recurso próprio, situação que implica
o não-conhecimento da impetração. Contudo, no caso de se veri-
ficar configurada flagrante ilegalidade, recomenda a jurisprudência
a concessão da ordem, de ofício. II - “O Plenário do Supremo Tri-

127
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

bunal Federal manifestou-se acerca da situação jurídica do crime


previsto no art. 16 da Lei n.º 6.368/76, em face do art. 28 da Lei
n.º 11.343/2006, e rejeitou a tese de abolitio criminis ou de infra-
ção penal sui generis, para afirmar a natureza de crime da conduta
do usuário de drogas, muito embora despenalizado (RE 430.105
QO/RJ, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, DJe de 26/04/2007)”
(HC n. 245.581/SP, Quinta Turma, Relª. Minª. Laurita Vaz, DJe de
26/3/2014). III - Não há ilegalidade a coartar, na utilização de conde-
nação, pela prática, no curso do período de prova, do delito de por-
te de entorpecentes para uso próprio, para revogar o benefício do
livramento condicional, nos termos do preceito do art. 86, inciso I,
do Código Penal, tendo havido, como houve, no caso, a suspensão
cautelar do benefício, ainda na sua vigência. IV - “O Superior Tribu-
nal de Justiça tem entendimento pacificado no sentido de que a
prática de crime descrito no art. 28 da Lei 11.343/2006, apesar de
não mais cominar pena privativa de liberdade, constitui falta grave,
apta a autorizar a regressão de regime” (HC n. 220.413/MG, Quinta
Turma, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe de 1º/7/2013). Habeas
corpus não conhecido. (HC 373.714/SP, Rel. Ministro FELIX FIS-
CHER, QUINTA TURMA, julgado em 16/02/2017, DJe 02/03/2017)

Tribunal de Justiça de Goiás

AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. PRÁTICA DE FALTA GRAVE.


FUGA. REGRESSÃO CAUTELAR DO REGIME DE CUMPRIMEN-
TO DE PENA. AUSÊNCIA DE AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO E
DE INSTAURAÇÃO DE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DIS-
CIPLINAR. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. OFENSA
AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA.
Não há que se falar em cerceamento do direito de defesa, por ofen-
sa aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla de-
fesa, quando da expedição de mandado de prisão em virtude de

128
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

regressão cautelar de regime por fuga perpetrada pelo agravan-


te, tendo em vista o caráter provisório daquela, sendo sua oitiva/
justificação assegurada em caso de regressão definitiva. AGRAVO
CONHECIDO E IMPROVIDO. (TJGO, AGRAVO EM EXECUÇÃO
PENAL 36342-51.2017.8.09.0175, Rel. DES. ITANEY FRANCISCO
CAMPOS, 1A CÂMARA CRIMINAL, julgado em 11/07/2017, DJe
2318 de 31/07/2017)

AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. REGRESSÃO CAUTELAR DE


REGIME. VIOLAÇÃO DA TORNOZELEIRA ELETRÔNICA. FALTA
GRAVE. 1 - A violação ao monitoramento eletrônico configura des-
cumprimento dos deveres impostos, sendo perfeitamente válida a
regressão para regime prisional mais gravoso, bem como a modi-
ficação da data base para aquisição de novo benefício. 2 - Agravo
conhecido e desprovido. (TJGO, AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL
227700-15.2016.8.09.0087, Rel. DR(A). JAIRO FERREIRA JÚ-
NIOR, 1A CÂMARA CRIMINAL, julgado em 18/05/2017, DJe 2283
de 07/06/2017)

AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. REGRESSÃO DE REGIME


PRISIONAL. NULIDADE. NECESSIDADE DE PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. INADMISSIBILIDADE. PRÁTI-
CA DE NOVO CRIME. REGRESSÃO DE REGIME. DESNECESSI-
DADE DE TRÂNSITO EM JULGADO. REGRESSÃO DO REGIME
ABERTO PARA O FECHADO. INVIABILIDADE DE REGRESSÃO
‘PER SALTUM’. 1. Improcede a pecha de ilegalidade atribuída ao
ato judicial, uma vez que se faz desnecessária a instauração de pro-
cedimento administrativo disciplinar para apuração de falta grave,
quando esta é certa e evidenciada ao magistrado competente pela
execução penal, em audiência pessoal com o apenado, assistido
pelo defensor, sendo a este assegurado o contraditório e a ampla

129
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

defesa. 2. Na hipótese de cometimento de falta grave ou crime dolo-


so pelo apenado, deve ser imposta a regressão ao regime de cum-
primento de pena mais gravoso, não sendo exigido o trânsito em jul-
gado da condenação pela nova infração (arts. 52 e 118, inciso I, da
Lei nº 7.210/84). 3. Da mesma forma que é proibida a progressão
‘por salto’, ao teor do disposto na Súmula 491 do Superior Tribunal
de Justiça, é razoável que não se permita a regressão do aberto
para o fechado, devendo o reeducando passar pelo regime inter-
mediário (semiaberto) antes de ser regredido para o fechado, sob
pena de se ferir os princípios da proporcionalidade e da razoabilida-
de. AGRAVO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJGO,
AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL 1595-58.2017.8.09.0116, Rel.
DR(A). EUDELCIO MACHADO FAGUNDES, 1A CÂMARA CRIMI-
NAL, julgado em 06/06/2017, DJe 2291 de 21/06/2017)

130
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MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

TRANSFERÊNCIA DE PRESOS
Supremo Tribunal Federal

CUSTÓDIA – LOCAL – TRANSFERÊNCIA. Possível é a transfe-


rência do preso uma vez constatado plano para eliminar agentes
penitenciários – artigo 12 do Decreto nº 6877/2009. (HC 121716,
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em
14/03/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-062 DIVULG 28-03-
2017 PUBLIC 29-03-2017)

Superior Tribunal de Justiça

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RE-


CURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. TRANSFE-
RÊNCIA DO PACIENTE PARA PRESÍDIO FEDERAL LOCALIZA-
DO EM OUTRO ESTADO DA FEDERAÇÃO. ALEGADA NULIDADE
POR AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO, BEM COMO DE INTI-
MAÇÃO DA DEFESA PARA MANIFESTAÇÃO ACERCA DA REMO-
ÇÃO. RETORNO DO APENADO AO ESTADO DE ORIGEM. IM-
POSSIBILIDADE. EXTRATO DE INTELIGÊNCIA DA SECRETARIA
DE SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
CONDENADO INTEGRANTE DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
(COMANDO VERMELHO). PERICULOSIDADE. REEXAME DE
PROVAS. INVIABILIDADE EM SEDE DE AÇÃO MANDAMENTAL.
CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. RESGUARDO
DO INTERESSE PÚBLICO. WRIT NÃO CONHECIDO. 1. O Supre-
mo Tribunal Federal, por sua Primeira Turma, e a Terceira Seção
deste Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e
sucessiva do habeas corpus, passaram a restringir a sua admissibi-
lidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela via re-

131
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

cursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem,


de ofício, nos casos de flagrante ilegalidade. Esse entendimento
objetivou preservar a utilidade e a eficácia do mandamus, que é o
instrumento constitucional mais importante de proteção à liberdade
individual do cidadão ameaçada por ato ilegal ou abuso de poder,
garantindo a celeridade que o seu julgamento requer. 2. Esta Corte
Superior de Justiça, consolidou entendimento no sentido de que o
recolhimento em penitenciária federal se justifica no interesse da
segurança pública ou do próprio preso, devendo estar fundamenta-
do em dados concretos que demonstram a necessidade da medida,
como, a título exemplificativo, nas hipóteses de presos de alta pe-
riculosidade, participantes de organizações criminosas. 3. Na hipó-
tese vertente, consta no procedimento especial de transferência n.
2016/0042145-5 Extrato de Inteligência da Secretaria de Seguran-
ça Pública do Estado do Rio de Janeiro informando o envolvimento
do paciente em organização criminosa atuante na mencionada uni-
dade federativa (Comando Vermelho). Aponta o referido documento
o elevado grau de periculosidade do apenado, bem como seu en-
volvimento direto com o resgate do traficante Nicolas Labre de Je-
sus (vulgo FAT FAMILY). 4. Por conseguinte, a inclusão do paciente
encontra-se fundamentada em dados concretos da execução penal
(fatos que indicam a periculosidade do apenado, integrante de or-
ganização criminosa), não havendo que se falar em ilegalidade da
medida imposta. 5. Alegações do paciente no sentido de que se
encontrava encarcerado no Presídio de Bangu 1, não tendo relação
com os fatos relatados pela Secretaria de Segurança Pública, não
são suficientes, por si sós, para afastar a presunção de veracida-
de das afirmações do referido órgão público. 6. Impende registrar,
nesse diapasão, que a rediscussão da matéria mostra-se incompa-
tível com a via mandamental eleita, porquanto, para se invalidar a
conclusão da instância originária, torna-se imprescindível a reava-

132
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

liação do contexto fático probatório. 7. Por fim, conforme ressaltado


pelo Parquet Federal, não há que se falar em nulidade por ofensa
ao contraditório e à ampla defesa, se houve intimação da Defesa
e esta se manifestou contrariamente à remoção do apenado para
o presídio federal. 8. Habeas corpus não conhecido. (HC 379.701/
MS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 06/04/2017, DJe 17/04/2017)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS CORPUS.


PRISÃO PROVISÓRIA. TRANSFERÊNCIA DE APENADO PARA
O SISTEMA PENITENCIÁRIO FEDERAL. RENOVAÇÃO. FUN-
DAMENTAÇÃO IDÔNEA. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO FÁ-
TICO-PROBATÓRIA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. 1. Conforme assinalado na decisão agravada, a
manutenção do agravante no sistema penitenciário federal ba-
seou-se em fundamentação idônea, consistente nos indícios de
que integra perigosa facção criminosa atuante no Estado de São
Paulo e que teria participado do homicídio de um policial militar.
A reversão do panorama fático acima traçado, como já afirmado,
afigura-se inviável no rito de habeas corpus, por sua natureza céle-
re, que desautoriza a dilação probatória. 2. Nos termos do art. 10,
§ 1º, da Lei n. 11.671/08, a transferência em questão é “renovável,
excepcionalmente, quando solicitado motivadamente pelo juízo de
origem”, de modo que não há falar em violação de prazos, diante
da expressa autorização legal. A maior dificuldade de atuação dos
defensores em prestar a assistência ao agravante em razão do
local de cumprimento de pena não constitui óbice à transferência
de presos para o sistema penitenciário federal, quando presentes
os requisitos legais, como in casu. 3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no RHC 57.428/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK,
QUINTA TURMA, julgado em 22/09/2016, DJe 05/10/2016)

133
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HA-


BEAS CORPUS. ADMISSÃO DE PRESO EM ESTABELECIMEN-
TO PENAL DE SEGURANÇA MÁXIMA. RENOVAÇÃO DO PRA-
ZO SEM A OBSERVÂNCIA DO CONTRADITÓRIO. MATÉRIA NÃO
EXAMINADA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO
IMPUGNADA. INOCORRÊNCIA. INTERESSE DA SEGURANÇA
PÚBLICA. ELEMENTOS CONCRETOS CONSIGNADOS PELO
JUÍZO DA ORIGEM E RATIFICADOS PELO JUIZ FEDERAL.
AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. Não cabe a esta Corte
examinar matéria não apreciada pelo Tribunal de origem, sob pena
de supressão de instância. 2. Este STJ já firmou entendimento no
sentido de que ao Juízo Federal não compete manifestar-se acer-
ca das razões do Juízo de origem para a transferência de presos
para o sistema penitenciário federal. 3. O recolhimento em peniten-
ciária federal justifica-se quando no interesse da segurança pública,
nos termos do art. 3º da Lei n. 11.671/2008. 4. Tendo sido a transfe-
rência e a respectiva renovação requeridas e, consequentemente,
autorizadas com base em elementos concretos que demonstraram
ser necessária a medida, não há falar em constrangimento ilegal. 5.
Agravo regimental improvido. (AgRg no RHC 50.406/MS, Rel. Mi-
nistro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 07/04/2016,
DJe 19/04/2016)

134
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

VISITAS PERIÓDICAS AO LAR


– Possibilidade de visitas periódicas do preso ao lar

Supremo Tribunal Federal

HABEAS CORPUS. LEI DE EXECUÇÕES PENAIS. ARTS. 122 E


123. VISITAS PERIÓDICAS AO LAR. REQUISITOS DE NATURE-
ZA OBJETIVA E SUBJETIVA. INCOMPATIBILIDADE DO BENEFÍ-
CIO COM OS FINS DA PENA. DECISÃO FUNDAMENTADA PELO
JUÍZO DAS EXECUÇÕES PENAIS. ORDEM DENEGADA. 1. A in-
terpretação dos arts. 122 e 123 da Lei de Execuções Penais revela
que o deferimento dessa importante medida ressocializadora, em
que a visita periódica ao lar consiste, impõe o preenchimento de
requisitos de natureza tanto objetiva quanto subjetiva. É dizer, para
além do cumprimento mínimo de 1/6 da reprimenda e o acusado os-
tentar comportamento adequado, o magistrado também há de iden-
tificar a compatibilidade do benefício com os objetivos da pena. 2.
Na concreta situação dos autos, o Juízo das Execuções Penais não
enxergou a compatibilidade do benefício com os objetivos da repri-
menda; notadamente pelo longo caminho de pena ainda a cumprir
pelo apenado. Decisão devidamente fundamentada. 3. Ordem de-
negada. (HC 104242, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Segunda
Turma, julgado em 08/02/2011, DJe-081 DIVULG 02-05-2011 PU-
BLIC 03-05-2011 EMENT VOL-02513-01 PP-00072)

PENAL. HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. SAÍDA TEMPO-


RÁRIA. CRIME HEDIONDO. SENTENCIADO NO REGIME SEMIA-
BERTO. PLEITO DE VISITA PERIÓDICA À FAMÍLIA. ARTIGOS 122
E 123 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL. REQUISITOS DE ÍNDOLE
OBJETIVA E SUBJETIVA. DIREITO ABSOLUTO. INEXISTÊNCIA.

135
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

DECISÃO DENEGATÓRIA FUNDAMENTADA PELO JUÍZO DA


EXECUÇÃO. ORDEM INDEFERIDA. 1. A saída temporária na mo-
dalidade visita à família, regulada pelos artigos 122 e 123 da Lei de
Execução Penal (Lei 7.210/84), impõe requisitos de natureza obje-
tiva e subjetiva. 2. Deveras, “como o benefício das visitas livres não
constitui um direito absoluto do preso, mas estrita faculdade outor-
gada ao magistrado, exigente de componentes subjetivos a serem
aferidos pelo juiz, não deve ser concedido indiscriminadamente,
possibilitando uma inusitada oportunidade de fuga livre para con-
denados com larga pena a cumprir, principalmente quando foi autor
de crime ou crimes de maior gravidade.” (Julio Fabbrini Mirabete,
in Execução Penal. Comentários à Lei nº 7.210, de 11-7-1984, 11ª
edição). 3. In casu, o paciente foi condenado a 40 (quarenta) anos
e 5 (meses) de reclusão, sendo 17 (dezessete) anos por homicídio
qualificado (art. 121, § 2º, I, III e IV c/c art. 29 do CP), contra o jorna-
lista Tim Lopes, sendo certo que cumprida 1/6 (um sexto) da pena,
sendo certo que: a) o apenado foi beneficiado pela progressão para
o regime semiaberto em 13/8/2008; b) o sentenciado somente com-
pletará o tempo mínimo para o livramento condicional em 6/5/2024;
c) o indeferimento do benefício ocorreu em decisão devidamente
fundamentada, por entender o juízo da execução a sua incompati-
bilidade com os objetivos da pena, inexistindo abuso de poder, te-
ratologia ou ilegalidade a sanar, sendo certo que maiores incursões
no processo de execução do sentenciado demandariam o exame
de fatos e provas, incabível na via estreita do writ. 4. A jurispru-
dência da Corte é no mesmo sentido: HC 105.259/RJ, Rel. Minis-
tra Cármen Lúcia, Primeira Turma, Julgamento em 12/04/2011; HC
104.242/RJ, Rel. Min. Ayres Britto, Segunda Turma, Julgamento em
8/02/2011. 5. Ordem indeferida. (HC 104870, Relator(a): Min. LUIZ
FUX, Primeira Turma, julgado em 04/10/2011, DJe-206 DIVULG 25-
10-2011 PUBLIC 26-10-2011 EMENT VOL-02615-01 PP-00055)

136
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO.


AUTORIZAÇÃO. VISITAS PERIÓDICAS AO LAR. ARTIGO 123 DA
LEP. OBSERVÂNCIA DAS TESES FIXADAS NO RECURSO RE-
PRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA (RESP N. 1.544.036/RJ).
REQUISITOS OBJETIVOS E SUBJETIVOS. NÃO OCORRÊNCIA.
INEXISTÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ANÁLISE DE
COMPATIBILIDADE DO BENEFÍCIO COM OS OBJETIVOS DA
PENA. ELEMENTO SUBJETIVO. REVOLVIMENTO DO CONJUN-
TO PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. 1. A jurisprudência desta
Corte Superior, seguindo a orientação firmada pela Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal, assentou-se no sentido de que o
habeas corpus não pode ser utilizado como substituto de recurso
próprio, com vistas a não se desvirtuar a finalidade desse remédio
constitucional. Precedentes. 2. “2. A autorização das saídas tempo-
rárias é benefício previsto nos arts. 122 e seguintes da LEP, com o
objetivo de permitir ao preso que cumpre pena em regime semiaber-
to visitar a família, estudar na comarca do juízo da execução e par-
ticipar de atividades que concorram para o retorno ao convívio so-
cial. 3. Cuida-se de benefício que depende de ato motivado do juiz
da execução penal, ouvido o Ministério Público e a administração
penitenciária, desde que o preso tenha comportamento adequado,
tenha cumprido o mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se primário, e
1/4 (um quarto), se reincidente, e haja compatibilidade do benefício
com os objetivos da pena. 4. É de se permitir a flexibilização do
benefício, nos limites legais, de modo a não impedir que seu gozo
seja inviabilizado por dificuldades burocráticas e estruturais dos ór-
gãos da execução penal. Assim, exercendo seu papel de intérprete
último da lei federal e atento aos objetivos e princípios que orientam
o processo de individualização da pena e de reinserção progressiva

137
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

do condenado à sociedade, o Superior Tribunal de Justiça, por sua


Terceira Seção, estabelece, dado o propósito do julgamento desta
impugnação especial como recurso repetitivo, as seguintes teses:
Primeira tese: É recomendável que cada autorização de saída tem-
porária do preso seja precedida de decisão judicial motivada. Entre-
tanto, se a apreciação individual do pedido estiver, por deficiência
exclusiva do aparato estatal, a interferir no direito subjetivo do ape-
nado e no escopo ressocializador da pena, deve ser reconhecida,
excepcionalmente, a possibilidade de fixação de calendário anual
de saídas temporárias por ato judicial único, observadas as hipóte-
ses de revogação automática do art. 125 da LEP. Segunda tese: O
calendário prévio das saídas temporárias deverá ser fixado, obriga-
toriamente, pelo Juízo das Execuções, não se lhe permitindo dele-
gar à autoridade prisional a escolha das datas específicas nas quais
o apenado irá usufruir os benefícios. Inteligência da Súmula n. 520
do STJ. Terceira tese: Respeitado o limite anual de 35 dias, estabe-
lecido pelo art. 124 da LEP, é cabível a concessão de maior número
de autorizações de curta duração. Quarta tese: As autorizações de
saída temporária para visita à família e para participação em ativi-
dades que concorram para o retorno ao convívio social, se limitadas
a cinco vezes durante o ano, deverão observar o prazo mínimo de
45 dias de intervalo entre uma e outra. Na hipótese de maior núme-
ro de saídas temporárias de curta duração, já intercaladas durante
os doze meses do ano e muitas vezes sem pernoite, não se exige
o intervalo previsto no art. 124, § 3°, da LEP (REsp n. 1544036/
RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 14/09/2016. 3. No caso, houve violação de parte dessas
diretrizes, na medida em que as saídas mensais deferidas violaram
o prazo mínimo de intervalo entre uma e outra, conforme disposto
no § 3º do artigo 124 da LEP, ademais foram deferidas ao agravado
30 (trinta) saídas anuais, violando, ainda, o prazo mínimo de inter-
valo entre elas e, por fim, não houve previsão de oitiva do Ministério

138
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

Público acerca das saídas, o que viola expressa disposição da LEP.


4. A benesse solicitada pelo paciente representa medida que visa à
ressocialização do preso, contudo, para fazer jus a esse benefício,
o apenado deve necessariamente cumprir todos os requisitos obje-
tivos e subjetivos, consoante se depreende do disposto no caput do
art. 123 da Lei de Execução Penal. 5. Habeas corpus não conheci-
do. (HC 350.924/RJ, Rel. Ministro ANTÔNIO SALDANHA PALHEI-
RO, SEXTA TURMA, julgado em 10/11/2016, DJe 24/11/2016)

EXECUÇÃO PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS COR-


PUS. REGIME FECHADO. (1) SUPOSTA PRÁTICA DE FALTA
GRAVE (FUGA). REGRESSÃO CAUTELAR DE REGIME. DESNE-
CESSIDADE DE OITIVA PRÉVIA DO REEDUCANDO. JURISPRU-
DÊNCIA PACÍFICA DESTA CORTE. (2) VISITAS PERIÓDICAS AO
LAR. INDEFERIMENTO PELO JUÍZO DAS EXECUÇÕES. FUNDA-
MENTAÇÃO. EXISTÊNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. NÃO
OCORRÊNCIA. (3) NOVA REALIDADE FÁTICO-PROCESSUAL.
PACIENTE FORAGIDO. (4) RECURSO A QUE SE NEGA PROVI-
MENTO. 1. Não há constrangimento ilegal em acórdão de prévio
writ, uma vez que este Superior Tribunal já firmou entendimento
no sentido de que, cometida falta grave pelo condenado, é perfei-
tamente cabível a regressão cautelar do regime prisional, sem a
oitiva prévia do condenado, que somente é exigida na regressão
definitiva. Precedentes do STJ. 2. In casu, o Juízo das execuções
indeferiu o pleito de saída temporária fundamentadamente, eis que
entendeu incompatível a benesse com os objetivos da reprimenda.
E, mais, nem se apercebeu que o paciente estava foragido e que a
unificação de penas fixara o regime fechado tendo em vista o mon-
tante da pena (13 anos, 2 meses e 15 dias de reclusão). 3. Ainda
que assim não fosse, verifica-se carência de ação por ausência de
interesse processual diante da nova realidade fático-processual, na

139
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
MANUAL PRÁTICO DE EXECUÇÃO PENAL

medida em que o ora Paciente estava foragido à época da decisão


que indeferiu a saída temporária e posteriormente quando da impe-
tração do prévio writ perante o Tribunal de origem em que a Defesa
contestava o indeferimento do pedido de visitas periódicas ao lar. 4.
Recurso a que se nega provimento. (RHC 38.299/ES, Rel. Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
15/05/2014, DJe 30/05/2014)

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EXAME BIOLÓGICO PARA TRAÇAR


PERFIL GENÉTICO DO PRESO
Superior Tribunal de Justiça

PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM


HABEAS CORPUS. CRIMES DE ESTUPRO. CONDENAÇÃO EM
PRIMEIRA E SEGUNDA INSTÂNCIAS. EXAME DE DNA. ALE-
GADA PROVA ILÍCITA. NÃO OCORRÊNCIA. CONJUNTO PRO-
BATÓRIO COESO ACERCA DA CONDENAÇÃO. LEI 12.654/12.
COLETA DE PERFIL GENÉTICO. IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL.
RECURSO ORDINÁRIO DESPROVIDO. I - A condenação do re-
corrente pelos delitos de estupro e estupro na forma tentada, na
hipótese, fundamentou-se em elementos concretos extraídos dos
autos que comprovaram a materialidade e a autoria delitivas, de
modo que os laudos periciais (exame de DNA) não consistiram no
único elemento de prova produzido. Além da confissão extrajudicial,
realizada de maneira clara e detalhada, aliada aos depoimentos
das duas vítimas - e ainda de uma terceira, corroborada pelo depoi-
mento de um vizinho, - foram uníssonas no sentido de apontar o
recorrente como autor dos delitos. Logo, desinfluente a tese de que
a coleta de material genético para a realização do exame de DNA
teria sido colhida de forma ilegal, até porque o recorrente autorizou
a realização do exame (precedente). II - Outrossim, com o adven-
to da Lei n. 12.654, de 28 de maio de 2012, admite-se a coleta de
perfil genético como forma de identificação criminal, seja durante
as investigações, para apurar a autoria do delito, seja quando o réu
já tiver sido condenado pela prática de determinados crimes, quais
sejam, os dolosos, com violência de natureza grave contra pessoa
ou hediondos (arts. 1º e 3º). Recurso ordinário desprovido. (RHC
69.127/DF, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julga-
do em 27/09/2016, DJe 26/10/2016)

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ABREVIAÇÕES

AgInt: Agravo Interno


Agr: Agravo
AgR: Agravo Regimental
AgRg: Agravo Regimental
AgRg no Resp: Agravo Regimental no Recurso Especial
AREsp: Agravo em recurso Especial
Art.: Artigo
CF: Constituição Federal
CPC: Código de Processo Civil
CP: Código Penal
CPP: Código de Processo Penal
De: Diário Eletrônico
DEECRIM: Direito de Unidade Regional de Departamento
Estadual de Execução Criminal
Des: Desembargador
DJe: Diário Eletrônico da Justiça
DPJ: Departamento de polícia judiciária
Eg: Egrégio
EP: Execução Penal
EXT: Extradição

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HC: Habeas Corpus


LEP: Lei de Execução Penal
Min: Ministro
MPE: Ministério Público Estadual
PAD: Procedimento Administrativo Disciplinar
PCC: Primeiro Comando da Capital
PPE: Prisão Preventiva para Extradição
ProgReg: Progressão de Regime
RDD: Regime Disciplinar Diferenciado
RE: Recurso Especial
Rel: Relator
REsp: Recurso Especial
RHC: Recurso em Habeas Corpus
RISTF: Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal
RMS: Recurso em Mandado de Segurança
ROC: Recurso Ordinário Constitucionalidade
RTJ: Revista Trimestral de Jurisprudência
STF: Supremo Tribunal Federal
STJ: Superior Tribunal de Justiça
TrabExt: Trabalho Externo
TJGO: Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

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