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Bateria de testes de memória (I) *

critérios de elaboração e avaliação

DENISE DIAS CoRREA"''''


CLARICE GoRENSTEIN"'**

1. Introdução; 2. Critérios de elaboração e ava-


liação; 3. Considerações gerais; 4. Exemplos dos
testes.

Uma bateria de memória auditiva e visual, que permite avaliar simultaneamente


as memórias de curta e de longa duração, foi desenvolvida a partir de instru-
mentos clínicos, para a avaliação de efeitos amnésticos de drogas psicoativas.
Este estudo propõe-se a discutir a adequação dos procedimentos adotados e os
critérios utilizados na elaboração e avaliação da bateria de testes.

1. Introdução

o processamento de informações na memona tem sido estudado por diversos


autores, que procuram explicar sua organização em termos de processos e
estágios, utilizando diferentes abordagens e nomenclaturas.
Segundo o modelo proposto por Atkinson e Schiffrin (1969), este pro-
cessamento pode ser dividido em três níveis: o registro dos sentidos, a me-
mória de curta duração e a de longa duração.
O registro dos sentidos é um depósito que retém transitoriamente a infor-
mação, ao mesmo tempo em que a vai transferindo para a memória de curta
duração, onde ela é inicialmente analisada e codificada (aquisição). A aqui-
sição depende da atenção, percepção e codificação do material a ser apreen-
dido. Se a informação presente na memória de curta duração não for utili-
zada pelo sujeito, ela pode se perder após um período de até 30 segundos_

• Artigo apresentado à Redação em 21.10.87. As autoras agradecem as sugestões de


Valentim Gentil e a colaboração de Thais H. F. Pelliciotti na elaboração dos componentei
da bateria.
** Do Grupo Multidisciplinar de Psicofisiologia Clínica.
u* Do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade
de São Paulo. (Endereço da autora: Universidade de São Paulo - Instituto de Ciências
Biomédicas - Departamento de Farmacologia - 05.508 - São Paulo, SP.)

Arq. bras. Psic., Rio de Janeiro, (2):24-35, abr./jun. 1988


--~------~------------~--~--------~----~----------------
Mecanismos de controle como atenção e repetição (rehearsal) podem manter
a informação por mais tempo na memória de curta duração.
Algumas das informações presentes na memória de curta duração vão
sendo gradativamente transferidas para a memória de longa duração, que é
considerada um depósito permanente de informações (retenção).
A retenção, também chamada de estocagem (Sahgal, 1980), depende da
consolidação da informação (Caine et alii, 1981) e é dificilmente manipulável
ou separável da aquisição e evocação (Lister et alii, 1986).
As informações previamente adquiridas são utilizadas para organizar as
novas, sendo assim revistas, o que é importante para a manutenção de fatos
remotos (Mesulam, 1985). A informação estocada pode ainda ser modificada
por eventos que ocorrem após a aquisição, através da recodificação (Tulving,
1984).
A evocação consiste na busca e identificação da informação armazenada
em um ou mais arquivos de memória (Lister et alii, 1986). A habilidade em
evocar a informação da memória de longa duração varia consideravelmente em
função do tempo de estocagem e da interferência de outras informações. A
falha na evocação é caracterizada pela menor eficiência na busca e seleção
da informação relevante (Craik e Lockhart, 1972).
Existem algumas controvérsias quanto à duração da informação na me-
mória de curta duração (Craik e Lockhart, 1972) e ao caráter de depósito per-
manente de informações atribuído à memória de longa duração (Roth et alii,
1984). Existem também discordâncias no sentido de considerar as memórias
de curta e de longa duração como dois sistemas diferentes de estocagem ou
como um único sistema com diferentes tipos de codificação (Lister, 1985).
O acesso aos processos mnêmicos ocorre através de testes que procuram
discriminar etapas e estudar patologias e alterações provocadas por manipula-
ções como o efeito de drogas.
Vários testes de memória, enfocando diferentes aspectos, são descritos na
literatura. Alguns destes, citados por Lezak (1983), são relacionados a seguir.

1. Para avaliar a memória auditiva: Auditory-Verbal Learning Test (Rey,


1964; Taylor, 1959), Sentence Repetition (Benton e Hamsher, 1978), Memory
for Story and Paragraph Recall (Terman e Merril, 1973), The Babcock Story
Recall Test (Babcock, 1930; Babcock e Levy, 1940; Rapaport et alii, 1968).

2. Para avaliar memória visual: The Visual Retention Test (Benton, 1974),
Non-Language Paired Associate Learning Test (Fowler, 1969), The Memory for
Designs Test (Graham e Kendall, 1960), Visual Retention Test (Warrington
e James, 1967).

3. Baterias que reúnem testes que avaliam as diferentes modalidades: Measu-


ring Intelligence (Terman e Merril, 1937), Wechsler Memory Scale (Wechsler,
1945), Memory Test Battery (Cronholm e Molander, 1957), The Methods of
8elective Reminding (Buschke e Fuld, 1974), Questionaire Technique for In-
vestigating Very Long-Term Memory (Warrington e Silberstein, 1970), Stan-
ford-Binet Intelligence Scale (Terman e Merril, 1973).

No Brasil, a maioria dos pesquisadores utiliza traduções próprias, não va-


lidadas em nosso meio. Um dos poucos testes traduzidos e padronizados é o

Testes de memória 2S
de aptidão mnemônica que faz parte da bateria Cepa de Testes de Aptidões'
Específicas (Rainho, 1961). Estes testes são divididos em memória auditiva,
que consiste de lista de palavras, e memória visual com figuras de objetos e
animais. Entretanto, sua aplicabilidade é restrita a algumas situações e, além
disso, encontramos inadequações nestes testes: na parte verbal, as palavras
possuem diferentes níveis de concreticidade e não são homogêneas quanto ao
número de sílabas; na parte visual, as figuras são codificadas verbalmente, por-
tanto, não são exclusivamente visuais.
Interessados em verificar os efeitos de drogas sobre a memória, especifi-
camente os dos benzodiazepínicos, que comprovadamente produzem amnésia
anterógrada (Bixler et a!ii, 1979; Roth et alii, 1984; Lister, 1985), tentamos
buscar na literatura internacional os testes mais apropriados aos nossos obje-
tivos.
Quando a intenção é avaliar efeitos amnésticos de drogas, o ideal é uti-
lizar uma única bateria de testes que permita discriminar a memória de curta
da de longa duração e as falhas de aquisição das de evocação e consolidação.
Os testes mais específicos são demorados, o que leva à desmotivação e ao can-
saço por parte dos sujeitos.
Existe também a necessidade de seguir a curva de efeito versus tempo de
ação da droga. Em geral, deseja-se medir os efeitos no pico de ação e, em
tarefas muito demoradas, pode-se perder o efeito máximo quando as con~n­
trações plasmáticas caem abaixo da concentração mínima eficaz.
Optamos então por uma bateria de testes derivada de vários instrumen-
tos clínicos que permitisse' avaliar simultaneamente as memórias de curta e de
longa duração. A bateria resultante foi baseada em modificações, tanto' de; con-
teúdo quanto de procedimentos, dos seguintes instrumentos: Test 01 Cognitive
Function (General Practice Research Unit Interview Schedule, appendix UI,
Goldberg et a1ii); Wechsler Memory Scale (Wechsler, 1945); Stanlord'-Binet
Intelligence Scale (Terman e Merril, 1973); Benton Visual Retention Test
(Benton, 1974).
A primeira dificuldade quando se usam instrumentos em uma língua que
não a original é que uma "tradução" requer a realização de uma pesquisa de
equivalência de significado em que se considerem aspectos fonéticos e, ainda,
a prevalência dos termos nas duas línguas.
Além disso, as adaptações dos testes não eram em número suficiente para
utilização em medidas repetidas no mesmo sujeito. Assim, decidimos pela adap-
tação dos testes originais, em vez de uma simples tradução, e pela elaboração
de novas frases, histórias e figuras.
A bateria resultante foi utilizada em alguns experimentos e, além de ser
de fácil utilização, se mostrou sensível para detectar efeitos amnésticos de dro-
gas (Gentil et alii, 1985; Gentil Filho, 1987; Gorenstein et alií, no prelo). En-
tretanto, verificamos que os diferentes componentes dessa bateria não eram
homogêneos, o que poderia ser devido à falta de controle na sua elaboração.
Em vista disso, reelaboramos toda a bateria, seguindo rigorosos critérios de
padronização, tanto de seus elementos quanto dos procedimentos de aplica-
ção e avaliação.
O presente estudo visa discutir a adequação dos procedimentos adotados
e os critérios utilizados na elaboração e avaliação de uma bateria de t'estes

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de memória auditiva e visual que permita avaliar simultaneamente as memó-
rias de curta e de longa duração.

2. Critérios de elaboração e avaliação

2.1 Retenção auditiva: frases

2.1.1 Elaboração

A.s frases foram controladas quanto ao número de sílabas (38), à ordenação


dIreta de vocábulos, ao tipo de construção sintática (coordenadas e subordina-
das) e ao número de frases na oração (ver item 4).
A elaboração de frases quanto ao número de sílabas baseou-se em pes-
quisas anteriores (Braz e Pellicciotti, 1981), indicando que indivíduos com
idades entre 15 e 18 anos são capazes de memorizar frases constituídas de
até 30 sílabas. Assim, para a população de universitários, testamos a possi-
bilidade da adequação de frases com 38 sílabas.

2.1.2 Procedimento

A frase é lida uma vez e solicita-se que o sujeito a repita imediatamente após
a apresentação. Caso ocorram alterações, a frase é repetida até, no máximo,
três vezes.
A recuperação imediata das frases tem a finalidade de verificar a capa-
cidade de retenção na memória de curta duração. Não recuperamos as frases
após 20 minutos, uma vez que já há outras tarefas específicas para essa
avaliação.

2 .1.3 Avaliação

o escore (de O a 4) é atribuído segundo o número necessano de leituras até


a reprodução correta ou até o máximo permitido (O = repetição sem altera-
ções; 1 = correto após uma repetição; 2 = correto após duas repetições;
3 = correto após três repetições; 4 = com alterações após três repetições).
São estes os tipos possíveis de alteração: omissão de vocábulos (a alte-
ração mais grave), seguido por substituição de vocábulos, alteração da ordem
original e inserção de novos elementos que podem ou não alterar o sentido da
frase.
Não é considerada alteração a substituição de vocábulos por smommos.
A omissão de vocábulos é valorizada dependendo do significado que tenha
dentro da estrutura frasal, uma vez que expressa alterações qualitativamente
diferentes. Assim, a omissão de palavras essenciais é considerada uma alte-
raçãq relevante, enquanto a de não-essenciais corresponde a uma perda de
0,5 no escore de avaliação.
Os critérios de avaliação anteriores fundamentam-se no estudo realizado
(parte-lI, que será publicada no próximo número), no qual demos o mesmo
valor às omissões de palavras essenciais e não-essenciais e consideramos a
substituição por sinônimo como alteração. A partir dos resultados obtidos, mo-
dificamos a forma de avaliação, conforme exposto antes, e a adotaremos em
estudes futuros.

Testes de memória 27
2.2 Retenção auditiva: histórias

2.2.1 Elaboração

As histórias (ver item 4) foram controladas quanto ao número de palavras (43),


ao número de informações (14 itens, cada qual com estrutura completa de
significado), à quantidade de elementos de menor carga informativa (um nume-
ral e dois nomes próprios), à ordenação de vocábulos na sentença (constru-
ção direta) e à construção sintática (número de sentenças coordenadas, subor-
dinadas e justapostas).
O número de itens que compõem a história foi definido a partir de estu-
dos anteriores (Gentil et alii, 1987; Gorenstein et alii, no prelo), que demons-
traram que essa composição é adequada para populações de universitários.

2.2.2 Procedimento

A história é lida duas vezes e solicita-se que o sujeito a reproduza imediata-


mente e 20 minutos l!PÓS sua apresentação. No caso de recuperação incom-
pleta aos 20 minutos, são feitas perguntas específicas relativas aos itens omi-
tidos. Se mesmo assim não houver recuperação, testa-se o reconhecimento atra-
vés da apresentação da resposta correta e mais duas incorretas. Caso o sujeito
não se lembre espontaneamente de qualquer item da história, são fornecidas
pistas padronizadas, no máximo três, correspondentes aos três tópicos princi-
pais abordados na história. Se ainda assim o sujeito não se lembrar da história,
ou a recuperação for menor do que quatro itens, testa-se o reconhecimento
da história através da apresentação da história original e mais duas semelhantes.
A história é lida duas vezes para maximizar a aquisição. Em experimento
anterior (Gorenstein et alii, no prelo), verificamos que a apresentação da his-
tória uma única vez foi insuficiente para se obter boa aquisição. enquanto a
terceira repetição não acrescentava dados significativos.
A recuperação das histórias imediatamente, após 20 minutos, com pergun-
tas específicas, pistas e reconhecimento tem o objetivo de avaliar as memó-
rias de curta e de longa duração em termos de aquisição, evocação e consoli-
dação de informações (item 3).

2.2.3 Avaliação

O escore é atribuído segundo o número de itens lembrados para recuperação


livre (imediata e 20 minutos) e com perguntas específicas, pistas e reconhe-
cimento.
Os tipos de alteração são considerados conforme segue: omissão total im-
plicando a perda do item (-1); substituição das informações (-1); omlssao par-
cial da informação (-0,5); inserção aleatória de novos elementos (0,5); conta-
minação por elementos de outras histórias (-0,5).
Não é considerada a alteração de ordem dos vocábulos, bem como dos
itens que compõem a história, desde que não comprometa o significado da
história original.

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2.3 Retenção visual: figuras

2.3.1 Elaboração

Algumas figuras são provenientes dos testes de Benton (1974) e Wechsler


(1945), enquanto outras foram elaboradas com padrões geométricos semelhan-
tes (item 4 e figura 1).

2.3.2 Procedimento

A figura é apresentada durante 20 segundos e solicita-se que o sujeito a re-


produza imediatamente e 20 minutos após sua apresentação. Caso o sujeito
não se lembre da figura, são apresentadas pistas padronizadas (no máximo três),
sendo que a primeira fornece a dimensão da figura e as outras duas são de
detalhamento crescente dos componentes. Caso as pistas sejam insuficientes;
testa-se o reconhecimento, apresentando-se a figura original e mais duas seme-
lhantes.

2.3 .3 Avaliação

o escore é atribuído de acordo com o seguinte critério: O = reprodução cor-


reta; 1 =reprodução com menos de duas alterações; 2 = reprodução com
mais de duas alterações; 3 =não reproduz ou troca a figura; 4 = reproduz
com pistas; 5 =não reproduz com pistas; 6 = não reconhece a figura.
São estes os tipos possíveis de alteração: omissão de traços, substituição
de traços, inserção de novos elementos, contaminação por elementos de outras
figuras, alteração de proporções e rotação da figura.

2.4 Tarefas de interferência

o objetivo das tarefas de interferência é o de impedir que o sujeito mantenha


a atenção concentrada nas informações apresentadas, fazendo uso de recursos
como a repetição, o que pode ocorrer entre as apresentações dos testes.
Esse procedimento é importante, uma vez que a manutenção da infor-
mação presente é disponível por mais tempo, facilita sua consolidação (Atkin.
son e Shiffrin, 1969) e não se pode garantir que todos os sujeitos utilizem o
recurso da repetição.
Assim, as tarefas de interferência têm a finalidade de padronizar a ocupa-
ção dos sujeitos nos intervalos entre a apresentação de grupos de teste.
No nosso caso administramos dois tipos de tarefas: contar de 3 em 3
a partir de O, 1, 2, 3, durante dois minutos, e subtestes do Teste Coletivo
de Inteligência para Adultos - CIA - forma 1, com historietas, semelhan-
ças, informações e compreensão (Moraes et alii, 1955).

3. Considerações gerais

Dados da literatura indicam que a memona de curta duração é predominante-


mente fonética, enquanto que a de longa duração é predominantemente se-
mântica (Baddeley e Warrington, 1970). Entretanto, o efeito fonético só parece
ser essencial quando são fornecidas sílabas ou listas de palavras sem sentido.

Testes de memória 29
Em frases, a codificação é essencialmente semântica, pois sua repetição en-
volve a compreensão.
Considerando, então, que o fundamental para a aquisição é a manuten-
ção do sentido, é dispensável a emissão literal das 38 sílabas que compõem
a frase, o que implica a aceitação de sinônimos. Portanto, a aquisição de
frases com significado não pode ser avaliada da mesma forma que a de dígitos
~digit span, Wechsler, 1945), um teste que mede a capacidade da memória de
curta duração e no qual só seqüências corretas são aceitas.
A elaboração de uma frase deveria levar em conta não apenas o número
de sílabas que a compõem, mas também o número de palavras com signifi-
cado. Por outro lado, é importante salientar que o aumento excessivo do nú-
mero de sílabas dificulta a aquisição do conteúdo.
Estas observações estão de acordo com os pressupostos de Luria (1979),
para quem a memória baseia-se num complexo processo de recodificação do
material comunicado, vinculado à abstração dos detalhes secundários e à ge-
neralização dos aspectos principais da informação, sendo, então, uma retenção
não das palavras imediatamente percebidas, mas das idéias transmitidas pela
comunicação verbal.
A memória verbal é também chamada de associativa ou lógica, pois as
palavras nunca provocam noções isoladas, mas cadeias e matrizes inteiras de
elementos associativos ou logicamente conexos (Luria, 1979).
A organização de palavras em um sistema semântico amplia consideravel-
mente a capacidade de retenção (Luria, 1979). Sendo assim, as histórias e
frases foram elaboradas de maneira que as idéias fossem lógico-temporalmente
organizadas, o que requer um número bem menor de repetições para a apren-
dizagem e é muito menos suscetível à influência inibitória de fatores interfe-
rentes (Luria, 1979).
A recuperação das histórias imediatamente e após 20 minutos, livre, com
perguntas específicas, pistas e reconhecimento, teve o objetivo de avaliar a
aquisição, evocação e consolidação das informações.
De acordo com Sahgal (1980), a aquisição, a consolidação e a evocação
são independentes, e a maioria dos testes que se propõe a medi-las isolada-
mente na verdade não consegue discriminá-las.
A utilização de perguntas específicas e pistas fornecidas nas histórias fun-
ciona como um recurso auxiliar para o acesso a informações adquiridas que
não são evocadas livremente; já o reconhecimento é a única maneira de asse-
gurar se a informação foi ou não consolidada.
Nos casos em que o sujeito não tem recuperação imediata, não lembra
após 20 minutos livremente, ou mesmo com pistas, nem reconhece a história,
podemos supor que não houve aquisição da informação.
Quando a recuperação da informação depois de 20 minutos só ocorre
após perguntas específicas ou reconhecimento, independentemente de ter sido
ou não recuperada imediatamente, pode-se supor que houve falha de evoca-
ção e/ou aquisição da informação. O mesmo se aplica aos casos em que a
informação é lembrada na recuperação livre de 20 minutos, mas não na
imediata.
A dificuldade em se discriminar entre aquisição e evocação vem do fato
de que as informações mais relevantes possuem traço mais forte, enquanto
as irrelevantes são fracamente adquiridas e necessita-se de pistas para recuperá-
Ias .. Portanto, quando uma informação é recuperada após a apresentação de

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pistas não se pode assegurar se a falha foi no processo de busca (evocação)
ou no de aquisição.
Quando a informação só é lembrada imed!ataménte e mesmo as per-
guntas específicas ou o reconhecimento não contribuem para sua recuperação,
podemos supor que não houve consolidação da informação na memória de
longa duração.
Embora o modelo teórico estabeleça que a recuperação tardia da infor-
mação implica a consolidação, isto nem sempre ocorre, pois o tempo de perma-
nência na memória de curta duração pod~ ser maior do que teoricamente
se admite.
Essa afirmação pode ser ilustrada com um exemnlo recente, ocorrido em
nossos laboratórios. Um dos voluntários, que participou de um experimento
com doses intravenosas de flunitrazepam, foi capaz de reter durante mais
de 20 minutos uma história e uma figura e reproduzi-las corretamente e sem
pistas, durante a filmagem do experimento realizada para fins didáticos. To-
davia. duas horas mais tarde perdeu completamente as informações, nem sendo
capaz de reconhecer a figura ou a história (Gentil Filho, 1987).
Esse incidente sugere que houve aquisição e a informação permaneceu
nnr 11m teP1no muito lomm na memória de curta dura cão, até sua evocação.
Mas. provavelmente por falta de consolidacão na memória de longa duração,
a informação foi completamente perdida mais tarde. Aspectos motivacionais ou
ligados ao estado de sedação (state-dependent learninf!) podem ter contribuído
pilTil a man11tencão da informação por um tempo mais longo na memória de
curta duração, talvez com a utilização de recursos de repetição (Gentil Fi-
lho, 1 9 8 7 ) . 1 .
Concluindo, através de critérios de padronização. elaboramos uma bateria
de testes de m,emória auditiva e visual, de fácil aplicação e. possível de ser
usada em medidas repetidas no mesmo sujeito. Os procedimentos adotados
permitem relacionar os resultados obtidos com aspectos qualitativos das fun-
ções mnêmicas.

4. Exemplos dos testes


4.1 Exemplos de frases
1. Uma perua :de escola lotada de crianças perdeu o breque e bateu em uma
construção, matando muitos pedreiros.
2. As finais do campeonato de futebol provocam tanta emoção, que geralmente
acontecem brigas nos estádios.

4.2 Exemplos de histórias


4.2.1 Primeiro exemplo
Itens Reconhecimento
1. Oswaldo era Ronaldo/Fábio
2. o primeiro Segundo/Terceiro
3. violinista Baterista/Pianista
4. da orquestra Grupo/Conjunto
5. do teatro municipal Teatro Cultura Artística/Teatro
E<;tadual

Testes de mem6ria 31
Itens Reconhecimento
6. Ele também dava aulas Apresentações/ Cursos
7. em uma escola de música Arte/Universidade
8. para os alunos adiantados Iniciantes/Regulares
9. No final do ano, ele Início/Meio
10. escolhia os dois Um/Três
11. melhores Piores/Mais interessados
12. alunos Músicos/Estagiários
13. que iriam receber bolsas de estudo Prêmios/Dinheiro
13. para os Estados Unidos Europa/México
Pistas globais:

1. Músico.
2. Aula de música.
3. Escolha de alunos.
Perguntas específicas: as perguntas específicas são feitas de acordo com
os itens omitidos. Por exemplo, na omissão de "Oswaldo", pergunta-se: "Qual
era o nome da pessoa?"; na omissão de "Teatro Municipal", pergunta-se: "A
que orquestra ele pertencia?"

4.2.2 Segundo exemplo

Itens Reconhecimento
1. Durante um tremor de terra Incêndio/Tempestade
2 na África do Sul Irlanda/América do Sul
3. o jardim zoológico Circo/Escola
4. também foi danificado Destruído/Abalado
5. Os animais Alunos/Crianças
6. tiveram que ser remanejados, e Hospitalizados/Tratados
7. quatro Dez/Sete
8. animais Crianças/Leões
9. de grande porte Menor tamanho/Mais ferozes
10. ficaram juntos na mesma jaula Jaulas diferentes/Mesmo pavilhão
11. Isso provocou uma briga Várias mortes/Confusão
12. entre os gorilas, Leões/ Crianças
13. que se feriram Fugiram/Perderam
14. seriamente Mortalmente/Levemente

Pistas globais:

1. Catástrofe.
2. Animais.
3. Briga.
Perguntas específicas: as perguntas específicas são feitas de acordo com os
itens omitidos. Por exemplo, na omissão de "África do Sul", pergunta-se: "Em
que lugar isso ocorreu?"; na omissão de "Quatro", pergunta-se: "Quantos
animais?"

32 A.B.P. 2/88
Figura 1

rn
f

D
Exemplos de figuras e reconhecimento (a, d = figura apresentada;
b, c, e, f = reconhecimento)

Abstract

An auditory and visual memory battery, which allows the simultaneous eva-
luation of short and long-term memory, was developed based on clinicaI instru-
ments, for the assessment of amnestic effects of psychoactive agents. The aim
of the present study is to discuss the adequacy of the procedures and criteria
adopted on the development and evaluation of the test battery.

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