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Vida
C.H)f.\ \ICA
Vida
ACADÊM ICA
r- deAaZ PEnSRDORES CRISTÃOS
Pesquisar artigos e comentá rios so bre a ob ra de um
pe nsador am plia e enriquece nossa visão. No entanto,
se quiserm os conhecer de for ma dir eta e profunda
suas idéias, nada melhor qu e ir à próp ria fon te!

Esse é o objetivo de Agostinho, livro elabo rado com


citaç ões relevantes distrib uída s em .mai s de 130
verbe tes, de A a Z, qu e fornecem um a visão
abrangente da reflexão teológica deste qu e é
considerado po r mu itos o maior teó logo cri stão desde
o apóstolo Paulo.

Em virtude da coerência e amplitude do pensamento


do teólogo norte-afric ano do q uinto século, esta obra
constitui-se ferramenta essencial pará todos os
Interessados em um contato mais prolongado com as
fontes primárias de um pen sador apaixo nante.
eleite -se!

Franklin Ferreira é membro das equipes pastoraisda Igreja Presbiteriana


da Barra da Tijuca e da Primeira Igreja Batista do Cosme Velho (RJ).
Mestre em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, é
professor no Seminário Teológico Servo de Cristo (SP) e 110 Seminário
Teológico Batista do Sul (RJ). É casado com Marilene e pai de Beatriz.

I~
ISBN 85 - 7367 - 93 8 - 7

Vida
ACADÊM ICA
I
9 7885736 79380

www. vida a cad emic a.n et Categoria: FORMAÇÃO TEOLÓGICA:


Área histórico-sistemáticalTeologia reformada
FRANKLIN FERREIRA

Pensadores Cristãos
Agostinho
DeAaZ

Tradução de citações em latim


Paulo José Benício

JI;I
Vida
ACAotMICA
©2006, de Franklin Ferreira

VIda Todos os direitos em lingua portuguesa reservados por
Editora Vida


PROIBIDA A REPRODUÇÃO POR QUAISQUER MEIOS,
SALVOEM BREVES CITAÇOES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.

EDITORA VIDA
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CEP 03059-000 São Paulo, SP Coordenação editorial: Rosana Brandão
Te!.: O xx 11 6618 7000 Edição: Lilian Jenkino e André Jenkino do Carmo
Fax: O xx 11 6618 7050 Revisão: Polyana Lima
www.editoravida.com.br Diagramação: Sonia Peticov
www.vidaacademica.net Capa: Marcelo Moscheta

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Ferreira, Franklin
Agostinho de A a Z I Franldin Ferreira - São Paulo: Edirora Vida,
2006. (Série pensadores cristãos)

Bibliografia
ISBN 85-7367-938-7

1.Agostinho, Santo, Bispo de Hipona, 354-430 I. Tírulo lI. Série.


06-0122 CDD 280.092

índice para catálogo sistemático:


1. Agostinho: Pensadorescristãos: Cristianismo 280.092
Dedicatória

Certa vez, referindo-se ao dr. John Gerstner, professor de


História da Igreja no PittsburgTheological Seminary (USA),
R.c. Sproul disse: "Tive a felicidade de estudar com um
professor que confirmava o cristianismo clássico. Ele era o
nosso professor mais severo e que mais exigia de nós no terre-
no acadêmico. Sua mente sempre pronta a nos preparar ar-
madilhas e sua singular habilidade de raciocínio lógico e
conclusivo me impressionavam. Ele parecia sobrepujar o res-
tante dos professores tanto em conhecimento quanto em
brilhantismo analítico". Com profunda gratidão, digo exa-
tamente o mesmo sobre os professoresJohn Samuel Hammett
e Alan Doyle Myatt. Eles tiveram igual significado em mi-
nha vida!
Sumário

Prefiicio 11

Agostinho, bispo de Hipona: doutor da graça 15


Em peregrinação 16
De monge a bispo 21
As principais controvérsias 23
O fim de uma era 35
Cronologia 39
Notas 215
Bibliografia 239

A B
ADEODATO 43 BATISMO 54
ALIANÇA 43 BELEZA 56
ALMA 44 BEM 58
AMIZADE 45 C
AMOR 46 CASTIDADE 58
ANJOS 48 CÉU 59
APOLOGÉTICA 50 CHRJSTUS VICTOR 59
ÁRVORE 51 CIDADE DE DEUS, CIDADE
ASCENSÃO 51 DA TERRA 60
ASTROLOGIA 53 CONCUPISCÊNCIA 63
CONFISSÃO 63 G
CONSCIÊNCIA 64 GRAÇA 104
CONTEMPLAÇÃO 64 GRAÇA, BENEFfcIOS 106
CONVERSÃO 65 GRAÇA COMUM 108
CRIAçÃO 67 GRAÇA COOPERANTE 110
CRIAÇÃO, DIAS DA 69 GRAÇA PERSEVERANTE 112
CRIAÇÃO, HUMANIDADE 69 GRAÇA PREVENIENTE 112
CRISTO TOTAL 70 GUERRA 114
CRUZ 70 H
CULPA 71 HERESIA 115
CULTO, LITURGIA 71 HOMEM, SER HUMANO 116
CULTO AOS MORTOS 72 HUMILDADE 117
D
DEMÔNIOS 72 IDOLATRIA 118
DEUS, ESpfRITO SANTO 72 IGREJA 119
DEUS,FILHO 72 IMAGEM DE DEUS 122
DEUS, IMUTÁVEL 73 INFERNO 124
DEUS, PAI 74 INVEJA 124
DEUS, TRINDADE 75 IRMÃOS 125
DEUS, ÚNICO 80
J
E JESUS CRISTO, NATUREZAS 125
EDUCAÇÃO, FILOSOFIA 82 JESUS CRISTO, SACRIFfCIO 128
EDUCAÇÃO, MÉTODO 84 JUfZOFINAL 130
ENTRETENIMENTO 85 JUSTIFICAÇÃO 131
ESCRITURA, CÁNON 85
L
ESCRITURA, INSPIRAÇÃO 88
LEGISLAÇÃO, LEGISLADOR 132
ESCRITURA, INTERPRETAÇÃO 90
LIVRE-ARBfTRIO, LIBERDADE 132
ESCRITURA, SUFICIÊNCIA 94
LUTA ESPIRITUAL 136
ESpfRITO SANTO 96
ETERNIDADE 97
MAL 136
EUCARISTIA, CEIA DO SENHOR 97
MANIQUEfsMO 138
EXISTÊNCIA 98
MARIA 139
ÊXTASE 99
MARTfRIO 141
F
MATRIMÔNIO 142
FAMfLIA 100
MENTIRA 144
FÉ 101
MÉRITO 144
FELICIDADE,
MILAGRES 144
BEM-AVENTURANÇA 103
MILÊNIO 145
MÔNICA 146 REGENERAÇÃO 188
MORAL 149 RELIGIÃO 189
MORTE 150 RESSURREIÇÃO 189
MUNDO 152 REVEIAÇÃO 191
N S
NASCIMENTO VIRGINAL 153 SABEDORIA 191
O SACRAMENTOS 193
ORAÇÃO 153 SACRIFíCIO 194
SALMOS 195
P
SALVAÇÃO 196
PASTORAL 155
SANTIFICAÇÃO 196
PAZ 158
SATANÁS,DIABO 197
PECADO ORIGINAL 158
SEDUÇÃO 198
PECADO PESSOAL 161
SEPTUAGINTA 199
PEDRO 162
SOFRIMENTO 200
PEÚGIO, PEIAGIANISMO 164
SUPERSTIÇÃO 200
PENITÊNCIA,
ARREPENDIMENTO 165
PERDÃO 165 TEMPO 201
PERSEVERANÇA 167 TENTAÇÃO 205
POBRES, POBREZA 169 TRADIÇÃO 205
PRAZER 170 U
PREDESTINAÇÃO, ELEIÇÃO 171 UNA 206
PREGAÇÃO 176 V
PRESCIÊNCIA 177
VERDADE 207
PROSPERIDADE 179
VíCIO 209
PROVIDÊNCIA 180 210
VIDA ETERNA
Q VIRTUDE 212
QUEDA 181 VONTADE DE DEUS 213
R Z
RECAPITUIAÇÃO 182 ZELO 214
REDENÇÃO 182
Prefácio

Todo livro em português que permita um melhor conhe-


cimento das idéias de Agostinho é sempre bem-vindo. Afi-
nal, trata-se reconhecidamente de um dos personagens
centrais da história da igreja e do pensamento cristão. São
muitas as peculiaridades do bispo de Hipona que o tornam
uma figura tão notável e influente. Em primeiro lugar, vale
lembrar sua experiência religiosa dramática e pungente, que
o levou de uma vida libertina a uma conversão marcante e
um compromisso genuíno com Deus, conforme ele mesmo
narra, de forma inédita, nas suas Confissões. Outra área ple-
na de conseqüências foi a sua variegada trajetória filosófica e
intelectual, primeiro como maniqueísta, depois como
neoplatônico (influência da qual nunca se afastou totalmen-
te) e finalmente como cristão.
Um aspecto adicional de Agostinho que o torna fascinan-
te foi o fato de ele conciliar uma intensa atividade pastoral
com uma reflexão teológica igualmente apaixonada e fértil.
Foi o seu profundo interesse pelo bem-estar da igreja, não só
a sua própria diocese no norte da África, mas a igreja cristã
no sentido mais amplo, que o levou a envolver-se nas famosas
controvérsias que foram tão importantes na articulação de
muitos aspectos da sua teologia. Nos seus escritos antimani-
queístas, ele teve a oportunidade de repensar uma questão
crucial para tantas áreas da doutrina cristã - a natureza do
bem e do mal. Os debates com os cismáticos donatistas o
impeliram a desenvolver a sua eclesiologia, a sua concepção
sobre o ministério cristão e o seu entendimento dos sacra-
mentos. Finalmente, a controvérsia contra Pelágio fez que
reconsiderasse muitas de suas idéias na área fundamental da
doutrina da salvação.
Por causa da profundidade, coerência, criatividade e am-
plitude do seu pensamento, o teólogo norte-africano do quin-
to século marcou profundamente toda a reflexão teológica
posterior, das mais diversas correntes. Influenciou a própria
tradição católica, ainda que a sua igreja tenha rejeitado cer-
tos aspectos salientes da sua soteriologia. E afetou decisiva-
mente a teologia protestante, a começar dos seus representantes
mais destacados, Martinho Lutero e João Calvino. Este últi-
mo chegou ao ponto de escrever em uma de suas obras:
Augustinus totus noster est (Agostinho é todo nosso). Não seria
um exagero dizer que a teologia protestante é essencialmen-
te uma forma de agostinismo com adaptações.
Por essas e outras razões o presente trabalho do pastor e
professor Franklin Ferreira se torna tão relevante. Agostinho
- De A a Z é uma obra de envergadura, que resultou de um
imenso e cuidadoso trabalho de pesquisa. Sua parte inicial
dá ao leitor uma boa noção contextual ao oferecer um pano-
rama biográfico do personagem, no qual são situadas com
clareza as suas idéias teológicas e a sua vasta produção literá-
ria. Essa seção se encerra com uma valiosa cronologia das
datas mais significativas da vida de Agostinho.
Em seguida, a coletânea de citações propriamente dita
apresenta excertos do pensamento do grande pensador so-
bre 134 tópicos de grande interesse. Alguns tópicos contêm
apenas uma breve citação. Outros, mais significativos, podem
conter além de dez citações, muitas delas bastantes extensas.
E o que é mais importante: essas citações são retiradas de

]2
uma grande variedade de obras de Agostinho, permitindo
uma visão realmente abrangente da sua reflexão teológica.
No final do livro está um outro recurso valioso para os
leitores e pesquisadores, que é uma extensa e rica lista de re-
ferências bibliográficas. Além de um bom número de notas
explicativas em ordem alfabética, o volume também é enri-
quecido por 687 notas bibliográficas que identificam as fon-
tes de um igual número de citações. Por causa da amplitude
do seu escopo e da maneira criteriosa como foram feitas as
seleções que a compõem, esta obra está destinada a tornar-se
uma importante referência nos estudos agostinianos em por-
tuguês. Irão consultá-la com proveito não só os que queiram
encontrar rapidamente uma citação de Agostinho sobre de-
terminado assunto, mas aqueles que desejam ter um contato
mais prolongado com as fontes primárias de um teólogo tão
fascinante e original!
DR. MDERI SOUZA DE MATOS
Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper

15
Agostinho, bispo de Hipona:
doutor da graça

Precisamos de um Agostinho ou um Lutero para


nos filar novamente; caso contrário, a luz da graç'tl
de Deus será não somente o/ilstad!J, mas
completamente extinta na nossa época.

R. C. SPROUL

Poucos teólogos cristãos são tão relevantes para nossa épo-


ca como Agostinho. Em meio a sua luta pessoal, em sua pe-
regrinação em direção à fé cristã, surgiram perguntas que
refletem os conflitos espirituais de muitos cristãos modernos:
a Escritura é realmente a fonte última de autoridade para
nossas crenças? Como podemos interpretar corretamente a
Escritura? O que é exatamente o mal? Como o mal entrou
na Criação? Por que somos tão freqüentemente incapazes de
fazer o bem? Por que nos encontramos tantas vezes amando
coisas erradas? Como podemos aprender a amar o bem?
Como o pecado tem afetado nossa capacidade de amar o
que é certo e odiar o que é errado? Como o pecado tem afe-
tado nossa vontade e personalidade? Se Deus é infinitamen-
te poderoso e amoroso, por que o mundo está cheio de tanto
mal e sofrimento? Quem é Deus? Como podemos chegar à
salvação? Onde podemos encontrar a igreja verdadeira?
Por seu embate com tais questões e pela profundidade e
abrangência das respostas que ofereceu a elas, Agostinho se
tornou o maior teólogo cristão desde o apóstolo Paulo, diri-
gindo a mente e os ensinamentos da igreja por mais de mil
anos após a sua morte.

EM PEREGRINAÇÃO
O norte da África produziu quatro gigantes do cristianis-
mo ocidental: Tertuliano, Cipriano, Atanásio e Agostinho.
Aurelius Augustinus, mais conhecido como Santo Agos-
tinho, nasceu em Tagaste, província romana na Numídia-
hoje Souk-Ahras, naArgélia-, em 13 de novembro de 354.-
Ele foi o primogênito de Patrício, conselheiro municipal e
membro da classe média, que permaneceu pagão até as vés-
peras de sua morte, e da cristã Mônica, que orou fervorosa e
constantemente em seu favor. O irmão de Agostinho, Navígio,
morreu jovem, e a irmã, Perpétua, foi membro dos primei-
ros mosteiros.

'As duas principais biografias sobre o bispo de Hipona, em português, são a


de Garry WILLS, SantoAgostinho, e o clássico escrito por Peter BROWN, Santo
Agostinho: uma biografia. Esta biografia clássica, originalmente publicada em
1967, há mais de trinta anos é a narrativa-padrão sobre a vida de Agostinho. A
edição lançada aqui é uma versão atualizada em 2000, após a descoberta de
sermões e cartas até então desconhecidos; no epílogo Brown reconhece, dentre
outras coisas, que na primeira versão retratou Agostinho bem mais severo do que
ele teria sido. Cf. Eugene PETERSON, 1ãke and read: spiritual reading: an annotated
list, p. 96: "A influência de Agostinho na vida cristã é, em grande parte, benéfica,
mas não totalmente. Por ser multidimensional e difusa, requer consideração re-
petida. Serão necessáriasmuitas visitas para apreciar e entender sua existência e as
conexões complexas entre sua experiência e a cultura secular. Cada retorno a
Agostinho tem seu benefício: perspicácia, admoestação, encanto, sagacidade,
prudência, anelo. A vida cristã é ampla, e Agostinho viveu-a plenamente. A
biografia de Brown faz justiça tanto aos emaranhados complexos dos tempos
quanto à simplicidade profunda que veio à existência, gradualmente, nessa vida
santa", Para uma introdução aos temas principais da teologia de Agostinho, cf.
Justo L. GONZALEZ, Uma história dopensamento cristão, v. 2, p. 15-54.

] (,
Em 365, com 11 anos, Agostinho foi enviado para estu-
dar em Madaura. Os idiomas com que se expressava eram o
púnico (ou cartaginês), a língua de sua terra, e o latim, que
dominava com perfeição." Em 370, voltou a Tagaste, e aos
17 anos transferiu-se para Cartago, para estudar retórica e
artes liberais.
Vim para Cartago e logo fui cercado pelo ruidoso fervilhar
dos amores ilícitos. Ainda não amava, e já gostava de ser
amado, e, na minha profunda miséria, eu me odiavapor não
ser bastantemiserável. Desejandoamar, procuravaum obje-
to para esse amor, e detestava a segurança, as situações isen-
tas de risco. Tinha dentro de mim uma fome de alimento
interior - fome de ti, ó meu Deus.'
Seu pai, Patrício, morreu no ano seguinte, e Agostinho
conheceu uma mulher, com quem se uniu nesse mesmo ano;
ela se tornaria sua companheira durante quinze anos - ele a
abandonou depois, e não mencionou seu nome nas obras
que escreveu.
Em Cartago, ele leu Hortênsio, de Cícero. A leitura dessa
obra levou-o a se apaixonar pela filosofia. A partir de então,
passou a buscar a verdadeira sabedoria, que acabaria por levá-
lo à fé cristã." Em 373, tornou-se um ouvinte (auditor)
maniqueu,' sendo esse, provavelmente, o ano do nascimento
de seu filho Adeodato, falecido em 390. Em 374, regres-

bEle nunca dominou o grego, em grande parte por causa das "terríveisameaças

e castigos", empregados na sala de aula. Cf. AGOSTINHO, Confissões, 1.14.23, p. 38.


'O maniqueísmo era uma seita filosófico-religiosa fundada por um persa,
Mani, e era sincretista e dualista, com dois princípios - luz e trevas - em
constante conflito. Para os maniqueus, o universo físico originou-se das trevas,
enquanto a alma humana é produto da luz. Essa teoria também tentava explicar
a origem do mal, e negava a responsabilidade pelas ações más cometidas, pois elas
eram originadas pelas trevas. Cf. Peter BROWN, op. cit., p. 57-74.

17
sou a Tagaste como professor de gramática, e, em 383, foi
para Roma, onde continuou a docência. Dois anos de-
pois, ganhou a cátedra de retórica da Casa Imperial, e foi
para Milão, onde conheceu Ambrósio, bispo da cidade. d
Desiludido por tantas contradições, abandonou o mani-
queísmo nessa época, e começou a receber influência do
neoplatonismo. e
Por causa do exemplo dos monges e da sua própria for-
mação neoplatônica, Agostinho estava convicto de que teria
de renunciar à carreira de professor de retórica e a todas as
suas ambições e alegrias dos prazeres sensuais, caso se tornas-
se um cristão. Esta era uma das principais dificuldades que
ainda o detinham. Ele mesmo conta que sua constante ora-
ção era: Dá-me o dom da castidade, mas ainda não.

dAmbrósio (339-397) foi um dos gigantes entre os pais da Igreja. Usava o


método alegórico na interpretação de muitas passagens em que Agostinho tinha
encontrado dificuldades. Como essemétodo era perfeitamente aceitável na ciên-
cia retórica da época, Agostinho não podia fazer objeção. O que Ambrósio na
verdade estava fazendo, apesar de não estar ciente disso, era mostrar ao mestre de
retórica a riqueza e o valor das Escrituras. Cf. Justo L. GONZALEZ, Uma história
ilustrada do cristianismo: a era dos gigantes, p. 139-46. Cf. tb. Peter BROWN,
op. cit., p. 95-105. Agostinho, em suas diversas obras, cita o nome de Ambrósio
pelo menos cento e quinze vezes, acompanhado dos adjetivos beatus, sanctus,
noster. A figura de Ambrósio era o seu ideal de bispo.
'O platonismo, como interpretado especialmente por Plotino e Porfírio,
ensinava que apenas o Uno é real por completo e que as demais categorias
são emanações em diferentes graus desse Um impessoal. A partir daí, as
categorias são progressivamente menos perfeitas na medida em que se afastam
do Uno. O chamado neoplatonismo viria a ser a ponte que permitiria a Agosti-
nho dar o grande passo de sua vida, pois era, para os cristãos milaneses, a
filosofia por excelência, a melhor formulação da verdade racionalmente estabe-
lecida. O neoplatonismo era visto como uma filosofia que, com ligeiras adapta-
ções, parecia capaz de auxiliar a fé cristã a tomar consciência de sua própria
estrutura interna e a defender-se com argumentos racionais. Cf. Peter BROWN,
op. cit., p. 107-21.
Mas estava ainda fortementepresoà mulher.O apóstoloPaulo
não me proibia o matrimônio, se bem me exortasse sobre-
maneira a escolherum estado mais alto, quando sugeria que,
se possível, todos os homens vivessem como ele. Mas eu,
ainda bastante fraco, procurava uma condição maiscômoda.
Era esse, em tudo, o único motivo de minhas hesitações,
enfraquecido que estavapor preocupações enervantes, pois,
devendo entregar-me à vida conjugal, via-me sujeito a ou-
tras obrigações que não queria suportar,"
Sendo assim, cresceu nele a batalha entre o querer e o não
querer. Agostinho queria tornar-se cristão. Mas ainda não.
Sabia que não podia mais interpor dificuldades de ordem
intelectual, o que fazia a luta consigo mesmo ser ainda mais
intensa. De todos os lados vinham notícias de outras pessoas
que haviam feito o que ele não arriscava fazer, e sentia inveja.
Certo dia, em agosto de 386, Agostinho sentou-se no jar-
dim de urna casa que alugava com alguns amigos. Ele lia,
com um amigo chamado Alípio, o texto da epístola de Paulo
aos Romanos/ e conversava sobre o evangelho pregado e en-
sinado pelo apóstolo. Nesse momento, não podendo tolerar
a companhia de seus amigos, e tampouco a sua, ele fugiu
para o outro lado do jardim, onde se encontrou em terrível
agonia de espírito.

fRomanos, de todas as epístolas paulinas, provavelmente é a mais importante.

E isso não só por ser a mais extensa. Do ponto de vista doutrinal, é uma das mais
ricas e a mais estruturada. Essa epístola foi comentada por Maninho Lutero, João
Calvino, Karl Barth, John Murray, Lloyd-jones, John Stott e C. E. B. Cranfield,
dentre outros. Sua interpretação desempenhou um papel decisivo em dois mo-
mentos da história da Igreja: no século V, por ocasião da crise pelagiana e das
grandes controvérsias sobre a liberdade da graça, e no século XVI, quando da
Reforma protestante. Historicamente, nenhuma outra epístola exerceu igual in-
fluência, e seu estudo é vital para a espiritualidade cristã. Cf. F. F. BRUCE, Roma-
nos: introdução e comentário, p. 50-2.

I')
Deixei-me, não sei como, cair debaixo de uma figueira e dei
livre curso às lágrimas, que jorravam de meus olhos aos bor-
botões, como sacrifício agradável a ti. E muitas coisas eu te
disse, não exatamente nestes termos, mas com o seguinte
sentido: "E tu, Senhor, até quando? Até quando continuarás
irritado? Não te lembres de nossas culpas passadas!". Sentia-
me ainda preso ao passado, e por isso gritava desesperada-
mente: "Por quanto tempo, por quanto tempo direi ainda:
amanhã, amanhã? Por que não agora? Por que não pôr fim
agora à minha indignidader"."

TOma e lé. TOma e lé- TOlle, lege. Estas palavras, que algu-
ma criança gritava em suas brincadeiras infantis, chegaram
aos ouvidos do abatido Agostinho, que sofria profunda-
mente debaixo da figueira. As palavras que as crianças grita-
vam pareciam ser um sinal do céu. Pouco antes, Agostinho
jogara, em outro lugar do jardim, o texto que estivera lendo.
Agora voltou para lá, tomou-o e leu as seguintes palavras do
apóstolo Paulo: "Não em orgias e bebedeiras, nem na devas-
sidão e libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas revesti-vos
do Senhor Jesus Cristo e não procureis satisfazer os desejos
da carne"."

Não quis ler mais, nem era necessário. Mal terminara a lei-
tura dessa frase, dissiparam-se em mim todas as trevas da
dúvida, como se penetrasse no meu coração uma luz de cer-
teza. Marcando a passagem com o dedo ou com outro sinal
qualquer, fechei o livro e, de semblante já tranqüilo, o mos-
trei a Alípio."

Nas palavras do apóstolo, Agostinho encontrou o que es-


tivera procurando por muito tempo. Dedicou-se totalmente
à vida cristã e deixou sua ocupação como professor, buscan-
do levar a vida de um monge ao converter sua casa em mos-
teiro para oração, estudo e reflexão.
DE MONGE A BISPO
Em 387, com 33 anos, na noite da Páscoa de 24 para 25
de abril, Agostinho foi batizado por Ambrósio; seguiram-no
seu filho, Adeodato, e o amigo de juventude, Alípio, que
viria a ser bispo de Tagaste.
Ele abandonou a vida pública, indo morar em Cassicíaco,
com amigos e familiares. Pouco depois, a piedosa mãe de
Agostinho, Mônica, faleceu em 6stia Tiberina, perto de
Roma. Ele então voltou para a África, indo de novo para
Tagaste, onde vendeu suas posses e se dedicou a seu ideal de
vida comum: estudo, pobreza, trabalho e meditação.s Pouco
depois, mudou-se para Hipona - que ficava próxima da
atual Annaba, na Argélia - , para procurar um lugar onde
fundar um mosteiro e viver com seus irmãos. Em 391, foi
praticamente obrigado a ser ordenado presbítero. Confor-
me os planos, fundou um mosteiro e nele viveu, presbítero e
monge, no ascetismo e no estudo "segundo a maneira e a
regra estabelecida no tempo dos Apóstolos"."
Quatro anos depois, também contra sua vontade, Agosti-
nho foi eleito bispo coadjutor.
O velho bispo Valério propõe à assembléia designar um padre
com possibilidades de auxiliá-lo, principalmente na pregação.
A presença de Agostinho não passara despercebida. Houve
um só grito: "Agostinho, bispo". O candidato protesta, recal-
citra, chora. Não adianta nada: a ordenação estava decidida."

gA análise meditativa da vida interior, dos desejose das paixõesé umas das
principais características da espiritualidadeagostiniana. Meditação significare-
fletircom nossa mente sobre a Bíbliae asverdadesde Deus, a fim de amarmos a
Deus mais pessoalmentee vivermoscomo ele quer que vivamos.A meditação é
uma forma de conversacom Deus, ou na presençade Deus, que é mental, em vez
de sermeramente verbalizada. Cf.James HOUSTON, OrarcomDeus: desenvolven-
do uma transformadora e poderosaamizadecom Deus, p. 262-6. Paraa diferen-
çaentre a oraçãoverbal, meditação,contemplaçãoe oraçãoextática, v.p. 249-76.

21
Logo Agostinho estava ensinando o Credo aos bispos da
região.h Em 396, aos 42 anos, sucedeu ao bispo Valério, em
Hipona. O mosteiro que ele fundou acabou por se tornar
um seminário para presbíteros e bispos para toda a África.
Suas atribuições pastorais serviam:
1) à igreja de Hipona, a que estava e sentia-se ligado: a pre-
gação (duas vezes por semana - sábado e domingo - , às
vezes por mais dias consecutivos ou ainda duas vezes ao dia),
a audientia episcopalis, que ocupava também o dia todo, o
cuidado com os pobres e os órfãos, a formação do cleto, a
organização dos mosteiros masculinos e femininos, a admi-
nistração dos bens eclesiásticos de que não gostava, mas tole-
rava, a visita aos enfermos; 2) à igreja africana: participação
nos conflitos programados anualmente, freqüentes viagens
para responder ao convite dos colegas ou para atender a ne-
cessidades eclesiásticas; 3) à igreja universal: controvérsias
dogmáticas, resposta a muitas interpelações, livros e livros
sobre as mais variadas questões que lhe eram propostas e
impostas."

No período de 386 a 396, Agostinho já tinha escrito de


forma considerável. A primeira categoria de livros escritos
nesse período consiste em diálogos filosóficos: Contra os aca-
dêmicos, Solilóquios, A vida feliz e A ordem (386), A imortali-
dade da alma e A gramdtica (387), A grandeza da alma
(387-8), O livre-arbítrio (388-95), O mestre (389) e A músi-
ca (389-91). O segundo grupo é composto de obras contra
os maniqueus: A moral da igreja católica e A moral dos
maniqueus (388), As duas almas (391) e Controvérsia contra

h''Aopermitir que Agostinho pregasse, Valério infringiu um privilégio zelosa-


mente guardado da hierarquia africana - o de que somente o bispo, sentado em
seu trono elevado, devia expor as Escrituras" (Peter BRüWN, op. cito,P: 172-3).
Fortunato, o maniqueu (392). A última categoria é composta
de obras teológicas e exegéticas: Sobre o Gênesis, contra os
maniqueus (386-391), A verdadeira religião (389), Questões
diversas (389-96), A utilidade do crer (391), Afé e o símbolo
(393), algumas Cartas e alguns Sermões. 10

AS PRINCIPAIS CONTROVÉRSIAS
A teologia de Agostinho se desenvolveu em meio a uma
série de debates. Em seu primeiro grande debate teológico,
ele se ocupou dos maniqueus. Na maioria das vezes, a polê-
mica é apologética: ele defende a dignidade da igreja e seu
direito exclusivo de se chamar Igreja de Cristo.' Contra o
racionalismo de seus adversários, Agostinho mostra que a fé
não exclui a inteligência - as duas se esclarecem e se refor-
çam mutuamente. Defende também o Antigo Testamento
como preparação do Novo Testamento, e que aquele está em
harmonia e continuidade com este. Deus preserva beleza e
bondade na Criação. O mal é a corrupção do bem, resulta-
do do livre pecado do homem. Agostinho, sob influência do
neoplatonismo, e seguindo seu próprio gênio, denunciou de
forma especial o dualismo metafísico do maniqueísmo, com
seu conseqüente panteísmo e materialismo. 11
No segundo debate teológico, Agostinho se viu diretamen-
te confrontado com o donatismo. Esse movimento, cujo
nome vem de Donato, bispo de Cartago falecido em 332,
surgiu durante a perseguição dos imperadores Décio e Dio-
cleciano. Os donatistas, que se percebiam como uma igreja
de puros, recusaram a ordenação de um bispo suspeito de
ter entregado as Escrituras por ocasião de uma perseguição,

iOS maniqueus pretendiam, em vão, remontar seus ensinos ao próprio Jesus


Cristo, ao passo que a verdadeira igreja, por meio dos apóstolos, deriva de Jesus
sua autoridade, a qual constitui a base da fé cristã.
julgando severamente os cristãos que acolhiam com, segun-
do lhes parecia, demasiada indulgência os chamados lapsi
ou traditores - os que haviam traído a fé diante do poder
romano. Chegaram a rejeitar a validade dos sacramentos
administrados por ministros que eles julgavam impuros, pois,
para os donatistas, os sacramentos só teriam valor se o minis-
tro fosse digno. Aliás, aqueles batizados por ministros indig-
nos deviam ser rebatizados por bispos donatistas, Alguns deles
começaram a se reunir em milícias armadas, assaltando e agre-
dindo os ministros cristãos, tornando a situação extremamente
tensa.
Para Agostinho, os donatistas eram culpados do pecado
de cisma, apartando-se da Igreja de Jesus Cristo, e foi por
ocasião desse conflito que ele elaborou sua teologia dos sa-
cramentos e da igreja. Sustentou firmemente que a graça
sacramental age por si mesma, ex opere operato (que pode ser
traduzido como "em virtude do próprio ato"), sendo irrele-
vantes as condições espirituais do ministro. Em seu entendi-
mento, os sacramentos continuam válidos porque é Cristo
quem os oferece. Ele elaborou, sobretudo, a doutrina da igre-
ja, como o corpo de Cristo unificado pelo amor no Espírito.
Aqueles que dela se afastam possuem em vão a fé, os sacra-
mentos e mesmo as virtudes. Assim, Agostinho foi levado a
afirmar uma igreja invisível, conhecida apenas por Deus -
os eleitos, os verdadeiros cristãos - , dentro da igreja visível,
que era a igreja na terra. Enquanto esperamos a vinda do
Senhor, santos e pecadores estão misturados. Somente Deus
conhece seus eleitos. Essa diferenciação entre a igreja visível
e a igreja invisível foi enfatizada por João Calvino e outros
teólogos protestantes.
Aos escritos, Agostinho acrescentou encontros e debates.
Uma conferência pública, realizada em 411, reuniu 286 bis-
pos católicos e 279 bispos donatistas em Cartago. Os pri-
meiros levaram vantagem, com o poder civil intensificando
as medidas repressivas. Agostinho sempre tentou afastar as
torturas graves e a pena de morte; no entanto, aceitou e até
justificou algumas vezes certo grau de coerção, por parte do
poder civil, por amor a um bem maior: a salvação da alma e
a unidade da igreja. Diante do retorno à ordem que disso
resultou e das conversões julgadas leais, ele reconheceu a
necessidade do uso de repressão por parte do Estado. Mas
apenas nessa polêmica, por causa de seus desdobramentos,
ele buscou apoio no Estado - acima de tudo, Agostinho
buscou a paz e a "manutenção da paz pela paz". 12
As obras desse segundo período, de 396 a 411, contêm
seus escritos antimaniqueístas posteriores: Contra a epístola
de maniqueu (397), Contra Fausto, o maniqueu (398) e A
natureza do bem (399). Em seguida, houve alguns escritos
eclesiásticos: O batismo (400), Contra a epístola de Petiliano
(401) e A unidade da igreja (405). Finalmente, houve algu-
mas obras teológicas e exegéticas: A doutrina cristã (397),
Confissões (398-9), Comentário literal ao Gênesis (400-15) e
A Trindade (400-16). Dessa época, são ainda as obras: Os
bens do matrimônio, o único tratado totalmente dedicado ao
casamento, e A santa virgindade (401). Cartas, Sermões e
Comentdrio aos Salmos também foram escritos no período.
Dentre tais obras se destacam três. Nos nove primeiros
livros de Confissões, Agostinho relata sua vida até a morte de
Mônica: sua miséria no pecado e a lenta ascensão para a pre-
sença de Deus. Essa obra não é uma narrativa ou diário, mas
uma longa oração, em que o autor recorda na presença de
Deus os 34 anos, meditando sobre sua peregrinação espiri-
tual, revendo a busca pessoal por Deus confessada no peca-
do e proclamada na soberania e liberdade da graça de Deus,
que lhe concede misericórdia e o perdoa. O décimo livro
apresenta uma análise psicológica de seu estado de espírito

25
no período da redação da obra, e os três livros finais contêm,
partindo da narração bíblica da Criação, considerações so-
bre Deus, o mundo, o tempo e a eternidade)
Em A doutrina cristã, na verdade um manual de herme-
nêutica e pregação, Agostinho estabeleceu importantes prin-
cípios de interpretação bíblica. Nos primeiros três livros,
oferece alguns deles:
1. A fé é um pré-requisito fundamental para o intérprete da
Palavra de Deus.
2. Deve-se considerar o sentido literal e histórico do texto.
3. O Antigo Testamento é um documento cristológico.
4. O propósito do expositor é descobrir o sentido do texto e
não o de atribuir-lhe sentido.
5. O credo ortodoxo deve controlar a interpretação das Es-
crituras.
6. O texto não deve ser estudado isoladamente, mas no seu
contexto bíblico geral.
7. Se o texto for obscuro, não se pode tornar matéria de
fé. As passagens obscuras devem dar lugar às passa-
gens claras.
8. O Espírito Santo não dispensa o aprendizado das línguas
originais, geografia, história, ciências naturais, filosofia etc.
9. As Escrituras não devem ser interpretadas de modo a se
contradizerem. Para isso, deve-se considerar a progressi-
vidade da revelaçâo.P

'Eugene PETERSON diz: "A espiritualidade envolve levar nossa experiência


pessoal a sério como matéria-prima para a redenção e santidade, examinando seu
material, nossa vida, com tanto rigor quanto o fazemos com a Escritura e doutrina.
As Confissões são as balizas desse exercício" (op, cit., p. 3). Para James HOUSTON,
"enquanto não lermos as Confissões de Agostinho, não teremos idéia da honesti-
dade que podemos expressar diante de Deus" (op, cit., p. 253). Cf. tb, Peter
BROWN, op. cit., p. 195-224.
No livro final, que trata da oratória, Agostinho estabelece
uma relação entre os princípios da retórica e a tarefa da pre-
gação. Ele insistiu que a pregação tem três propósitos: ins-
truir, agradar e persuadir, e afirmou que o pregador é o que
interpreta e ensina as verdades divinas. Também deu ênfase
à necessidade de haver um acordo entre a vida e as palavras
do pregador, bem como a necessidade de oração como um
preparo para a pregação do sermão.

Quem quiser conhecer e ensinar deve, na verdade, primeira-


mente aprender tudo o que é preciso ensinar, e adquirir o
talento da palavra como convém a um homem da igreja.
Mas, no momento mesmo de falar, que pense nestaspalavras
do Senhor, que se aplicam particularmente ao coração bem
disposto: "Quando vos entregarem não fiqueis preocupados
em saber como ou o que haveis de falar, porque não sereisvós
que estareis falando naquela ora, mas o Espírito de vosso Pai
é que falará em vós",14

A Trindade é a obra dogmática mais importante de Agos-


tinho, que levou dezesseis anos para terminá-la. Está dividi-
da em duas partes: a primeira, com uma ênfase bíblica e
teológica, vai dos livros I ao VII. Ele aceitou sem discussão a
verdade que existe um só Deus, que é Trindade, e que o Pai,
o Filho e o Espírito Santo são simultaneamente distintos e
coessenciais, numericamente um quanto à substância. Na
explicação que faz do mistério trinitário, Agostinho concebe
a unidade da natureza divina, antes de considerar as Pessoas
divinas em separado. Sua fórmula trinitariana é: uma só na-
tureza subsistindo em três Pessoas. Essas três Pessoas se apro-
priam de modo distinto da mesma natureza: o Pai sem
princípio, o Filho por geração eterna do Pai e o Espírito San-
to espirado pelo Pai e pelo Filho. Seus escritos estão repletos
de declarações detalhadas quanto a isso.

27
A segunda parte, do livro VIII ao XV; tem um enfoque
psicológico e filosófico. Nessa parte, Agostinho desenvolve as
analogias trinitarianas, que ele descobre especialmente na
alma humana, criada à imagem de Deus. É esse último pon-
to que constitui o elemento de maior originalidade no trata-
do. Freqüentemente tem sido dito que a principal analogia
trinitária dessa seção é a do amante (amans), do objeto ama-
do (quod amatur) e do amor que os une (amor). Porém, a
discussão de Agostinho de tal analogia é bastante curta, e é
apenas uma transição para aquela que considera a analogia
mais importante, a da atividade da mente quando dirigida
para si mesma ou, melhor ainda, para Deus. As analogias
trinitarianas resultantes foram:
1. A mente, seu conhecimento de si mesma e seu amor de
SI mesma.

2. A memória ou o conhecimento potencial da mente de


si mesma, o entendimento, isto é, sua apreensão de si
mesma à luz das razões eternas e a vontade, ou amor de
si mesma, pela qual o processo do ato de conhecimen-
to é posto em movimento.
3. A mente, lembrando, conhecendo e amando ao pró-
prio Deus.

Agostinho considera que apenas quando a mente focaliza


a si mesma, com todas as suas potências de lembrança, en-
tendimento e amor a seu Criador, é que a imagem de Deus,
que ela traz em si, corrompida pelo pecado, pode ser plena-
mente restaurada. Então, seguindo o entendimento agosti-
niano, apenas no próprio Deus está a base para a razão e a
linguagem humana, para nossa capacidade de escolha, para
nossa profunda diversidade de emoções, para a apreciação
da beleza, para nossa propensão à criatividade, para nosso
senso de ética e eternidade, para nosso desejo de relaciona-
mento social."
No terceiro e mais acalorado debate teológico de Agosti-
nho, começa a controvérsia sobre a doutrina da graça.' Pelá-
gio, nascido na Grã-Bretanha, famoso por sua disciplina
moral, ao chegar a Roma, em torno do ano 400, começou a
ensinar os seguintes pontos: Adão foi criado mortal e teria
morrido quer tivesse pecado, quer não; o pecado de Adão
contaminou só a ele e não a raça humana; as crianças recém-
nascidas estão naquele estado em que estava Adão antes da
queda; a raça humana inteira nem morre por causa da mor-
te de Adão, nem ressuscita pela ressurreição de Cristo; a Lei,
tanto quanto o Evangelho, conduz ao Reino dos céus; mes-
mo antes da vinda de Cristo houvera homens sem pecado. 16
Para Pelágio, não haveria a necessidade de alguma graça es-
pecial de Deus, pois ela era algo que estaria presente em to-
dos os lugares, em todo momento. Esses ensinos logo chegaram
ao norte da África.
Agostinho se opôs a Pelágio. Para isso, ele se lembrou de
como foi difícil sua conversão, em como ele orava: "Por quanto
tempo, por quanto tempo direi ainda: amanhã, amanhã? Por

Ipara mais informações sobre a soteriologia na época pré-nicena, antes da


controvérsia pelagiana, v. Reinhold SEEBERG, Manualdehistoria de las doctnnas,
v. 1, p. 325-8. Seeberg nota que a atitude dos pais gregos sobre o problema do
livre-arbítrio era fundamentalmente diferente dos pais latinos. Aqueles partem
do intelecto, ao qual a vontade está subordinada e por meio do qual opera. O que
o homem pensa poderá fazer.Os latinos, ao contrário, concedem à vontade uma
posição autônoma. Os pais gregos consideram que o homem opera o começo de
sua salvação, e que depois Deus cooperaria com a graça. Os pais latinos, por causa
da ênfase na doutrina do pecado original, consideram que Deus começa a obra,
e depois o homem cooperaria com sua vontade, enfatizando muito fortemente a
obra da graça, ainda que não-exclusiva. Os mestres orientais enfatizaram então
uma sinergia divina, e os ocidentais, uma sinergia humana.

29
que não agora? Por que não pôr fim agora à minha indigni-
dade?" Y Sua resposta foi abrangente:

1. Na Criação, Adão tinha a capacidade de pecar (posse


peccare) e a capacidade para não pecar (posse nonpeccare).
Mas, a partir da queda de Adão, a humanidade se tor-
nou totalmente depravada, ou seja, todas as esferas de
nossa humanidade - razão, vontade e afetos - tor-
naram-se escravas do pecado. Como herança maldita,
recebida de Adão, a natureza humana passou a ser
escrava do pecado e sujeita à morte. Na Criação, Adão
foi feito com a capacidade para morrer (pose mori) e
para não morrer (pose non mori), Depois da queda, a
morte entrou no mundo e todos os descendentes de
Adão foram colocados sob a sua maldição. O homem
caído agora é incapaz de não morrer (non posse non
morii." Como conseqüência, a humanidade continua
tendo livre-arbítrio (liberum arbitrium), mas não mais
liberdade (libertas) - a vontade humana não mais é
dona de si mesma. A humanidade livremente escolhe
o pecado. Por conseqüência, o ser humano é incapaz
de até mesmo buscar a Deus sem o socorro da graça
especial.
2. Em decorrência disso, somos redimidos apenas por cau-
sa da eleição livre e incondicional de Deus. Em sua
maravilhosa graça, Deus escolhe pecadores, na eterni-
dade, não por mera previsão de fé ou obras, mas sobe-
rana e livremente, por sua graça e para sua glória.
"Procuremos entender a vocação própria dos eleitos,
os quais não são eleitos porque creram, mas são eleitos
para que cheguem a crer.:"? A prioridade da graça li-
vre e soberana de Deus na salvação de pecadores foi
afirmada claramente por Agostinho, porque ele enten-
deu que só sendo livre e soberana a graça pode ser, de
fato, imerecida.
3. Então, essa graça age de forma irresistível nos eleitos: o
Espírito convence com eficácia os pecadores, atrain-
do-os irresistivelmente a Cristo, cativando-os com sua
beleza e formosura.

Quão suave se tornou de repente para mim a privação das


falsas delícias! Eu, que tanto temia perdê-las, senti prazer
agora em abandoná-las. Tu, ó verdadeira e suprema suavida-
de [alegria], as afastavas de mim. Afastavas e entravas em
lugar delas, mais doce do que qualquer prazer - é claro, não
pela carne nem pelo sangue - mais luminoso que toda luz,
porém mais oculto que qualquer segredo, mais sublime que
todas as honras, mas não para aqueles que se exaltam a si
mesmos. Meu espírito libertava-se agora das preocupações
torturantes da ambição e da avareza, dos pruridos da sarna
das paixões. Só me entretinha agora contigo, ó minha glória,
riqueza e salvação, Senhor, meu Deus."

Ele afirmou que até mesmo a fé dos eleitos em Cristo é


um dom de Deus, obra da sua graça imerecida.

4. E esses pecadores, eleitos e graciosamente atraídos a


Cristo, perseverarão. Mais ainda, Deus mesmo dá o
dom da perseverança aos eleitos, para conduzi-los à
glorificação.

Afirmamos então ser dom de Deus a perseverança com a


qual se persevera no amor a Cristo até o fim. O fim a que me
refiro é o término desta vida, na qual e somente nela há o
perigo de pecado. [...] Portanto, não se pode afirmar que
alguém tenha recebido ou possuído o dom da perseverança,
se não perseverou."

31
A salvação, do começo ao fim, é obra da graça de Deus
para sua glória. E somente no céu, em nosso estado glorifica-
do, seremos não só declarados sem pecado, mas também inca-
pazes de pecar (non posse peccare). No céu, "um lugar melhor
do que aquele que Adão gozou no Éden antes da quedà',22
Deus preservará seus eleitos num estado de perfeição.
A diferença entre Pelágio e Agostinho residia em seus
pontos de vista sobre a natureza humana e a graça de Deus.
As idéias de Pelágio foram refutadas por Agostinho numa
série de tratados que se tornaram conhecidos como tratados
antipelagianos. E o pelagianismo foi condenado de maneira
formal como heresia pelo bispo de Roma em 417 e 418, e
pelos concílios de Cartago, em 418, de Éfeso, em 431 (o
terceiro grande concílio eclesiástico) e, finalmente, de Orange,
em 529. m
Peter Brown escreveu:
[Na doutrina da graça] Agostinho encontrou o "antídoto
contra o elitismo cristão". [...] Nenhum grupo deixava de
ser tocado pela graça divina. Pois não havia esforço, por mais
humilde que fosse, que não dependesse tão rigorosamente
da dddiua da graça divina quanto a mais espetacular mani-
festação de "carisma" [como no martírio e no celibato]. To-
dos os fiéis eram iguais, pois todos eram igualmente "pobres".
Todos eram também iguais porque, para seu sustento, eram
inteiramente dependentes do abundante banquete de Deus.
[...] Agostinho pôs-se a trabalhar para eliminar a distância

"Para mais informações sobre a controvérsia pelagiana, cf. POSSfDIO, A vidade


SantoAgostinho, p. 58-60; Peter BROWN, op. cit., p. 425-69, 475-509 e, espe-
cialmente, 593-637; Iain Murray, Agostinho, bispo de Hipona, in: FéparaHoje,
n. 4, ano 1999, p. 23-8; John PIPER, O legado da alegria soberana, p. 43-80; R.
C. SPROUL, op. cit., p. 29-67, e, especialmente, N. R. NEEDHAM, ed. Thetriumph
o/grace: Augustine'swritings on Salvation.

52
entre a vitória da graça divina nos mártires - cujo compor-
tamento parecia inimitável e muito "extramundano" para a
maioria dos seus ouvintes - e a operação menos dramática,
porém igualmente decisiva, dessa mesma graça na média dos
cristãos, quando eles enfrentavam a dor e a tentação em sua
vida. [...] A graça divina seguiria o cristão em todas as ida-
des, protegendo o fiel batizado até nos períodos mais vulne-
ráveisde sua vida. [...] E, mais importante que tudo, Agostinho
apreendeu com clareza, em sua doutrina da graça, as conse-
qüências do intenso sentimento da ação validada por uma
inspiração sobrenatural, que perpassava toda a cultura reli-
giosa de sua época. Ele domesticou essa idéia de ação ao
colocar a glória da graça divina à disposição de todos. Num
mundo em que ninguém podia gloriar-se em si mesmo, Agos-
tinho deixou aberto o caminho para que todos, dentro da
igreja católica, se gloriassem na idéia da ação baseada em Deus,
pois insistiu em que Deus era capaz de colocar um peso de
glória (2Co 4.17) em cada coraçâo.P
Depois da morte de Agostinho, a igreja medieval gradual-
mente mudou de opinião e aceitou a posição semipelagiana
- ou semi-agostiniana - , acatando o primeiro ponto da
formulação de Agostinho, a depravação total, combinando-
a com uma elaborada doutrina da graça presente nos sacra-
mentos da igreja, com a qual o homem poderia cooperar
para chegar à salvação.
As obras no período final da vida de Agostinho, de 411 a
430, eram, em grande medida, antipelagianas. As primeiras
obras que escreveu contra os pelagianos foram: Os méritos e a
remissão dos pecados (411-2), O espirito e a letra (412), A na-
tureza e a graça (415), A correção dos donatistas (417), A gra-
ça de Cristo e o pecado original (418), A alma e sua origem
(419), As núpcias e a concupiscência (419-20), O enquiridio
(421) e dois livros ContraJuliano (421 e 429-30). O segundo
grupo de escritos antipelagianos inclui: A graça e o livre-arbí-
trio e A correção e a graça (426), A predestinação dos santos e
O dom da perseverança (428-9). As últimas grandes obras
nesse período são teológicas e exegéticas, incluindo aquela
que talvez tenha sido a maior de todas: A cidade de Deus
(413-26). O cuidado devido aos mortos (421) e as Retratações
(426-7) situam-se aqui, assim como grande número de Car-
tas, Sermões e a continuação do Comentdrio aos Salmos.
A cidade de Deus é a grande obra não só desse período,
mas da vida de Agostinho. O tratado sobre a providência de
Deus, na verdade a primeira filosofia cristã da história, é a
afirmação de que nenhuma cidade terrestre pode compa-
rar-se com a Jerusalém Celestial, a cidade de Deus. A cidade
terrestre tem sua ascensão e queda, mas a cidade de Deus
permanece para sempre. Para Agostinho, a cidade terrestre
é a ferramenta temporal e temporária de Deus, e pode
assumir muitas formas ao longo do tempo. A cidade de
Deus é invencível e continuará triunfando e realizando a
vontade dele. Na essência, homens e nações se levantam e
caem, mas a cidade de Deus conquistará tudo. A cidade de
Deus é a igreja e, pela graça e poder de Deus, acabará subs-
tituindo os reinos terrestres na cidade celeste na ocasião da
segunda vinda de Cristo. Até então, será um reino espiritual
oculto, que existe sempre e onde quer que a vontade de Deus
o queIra.
Essa interpretação cristã da história foi um grande conso-
lo para muitos cristãos que viram o Império Romano se esfa-
celar no Ocidente por causa das invasões vândalas. Até mesmo
cristãos identificaram o Império Romano cristianizado com
o Reino de Deus, e sua derrota para as tribos bárbaras foi
um choque. Mas a idéia central de Agostinho é: a cidade de
Deus não é afetada pelo declínio do Império Romano, por-
que ela não é deste mundo.ê"
o FIM DE UMA ERA
Em 430, os vândalos, liderados por Genserico, atacaram
a Numídia e cercaram Hipona. Em 26 de setembro de 426,
Agostinho nomeou seu sucessor, Eráclio. "Uma vez registra-
da a decisão, Eráclio adiantou-se para orar, enquanto o ve-
lho Agostinho sentava-se atrás dele, em seu trono elevado:
'o grilo estridula', disse Eráclio, 'o cisne silencia' ".25
Com efeito, santo Agostinho em sua vida, que por um dom
de Deus foi longa, para o bem e o estado feliz da santa Igreja
- de fato viveu setenta e seis anos, dos quais uns quarenta
no clericato ou episcopado - costumava dizer-nos nos coló-
quios familiares que, após o batismo, mesmo os cristãos e
bispos de vida irrepreensível não deviam deixar esta vida sem
digna e conveniente penitência.
Foi o que ele fez durante a última doença que o levou;
pois mandara copiar os poucos salmos davídicos penitenciais,
dispostos em quatro colunas, e os pendurara na parede jun-
to ao leito; durante a doença os olhava e lia, chorando copio-
sa e constantemente.
Não querendo que fosse desviada por alguém a sua aten-
ção, uns dez dias antes da morte, pediu-nos a todos os pre-
sentes que ninguém entrasse em seu quarto, a não ser na
hora de visita dos médicos ou de se lhe levarem as refeições.
Assim foi feito e observado, enquanto ele se dava o tempo
todo à oração.
Até a sua última doença, na igreja pregava a palavra de
Deus ininterruptamente, com zelo e fortaleza, tendo con-
servado mente lúcida e julgamento correto.
Tendo incólumes todos os membros do corpo, íntegras a
visão e a audição, como está escrito, adormeceu com os seus
pais, numa felizvelhice, estando nós presentes em oração. Tam-
bém estávamos presentes quando foi oferecido a Deus o san-
to sacrifício em sufrágio do defunto; em seguida foi sepultado.

.15
Não fez testamento algum, porque o pobre de Deus nada
possuía para ter de fazê-lo. [...] Deixou à igreja um clero mais
que suficiente e mosteiros masculinos e femininos, cheios de
ascetas, com os respectivos superiores. Igualmente deixou
bibliotecasde livrose tratados seusou de outros santos, através
dos quais é possível reconhecer como foi ele e a sua grandeza
na Igreja, pela graça de Deus. 26

No terceiro mês do cerco, em 28 de agosto de 430, mor-


reu Agostinho, aos 76 anos."
Sua imensa luta teológica é o exemplo supremo do prin-
cípio de que a fé deve buscar a compreensão (praecedit fides,
sequitur intellectus). Em toda a sua obra teológica, elaborada
em clima de oração, estão unidas sabedoria (sapientia) e eru-
dição (scientia).

Revela-se, com efeito, em seus escritos, quanto é possível


verificar à luz da verdade como aquele agradável e caro a
Deus viveu reta e verdadeiramente da fé, da esperança e da
caridade da igreja católica. Reconhecem-no todos os que ti-
ram proveito da leitura de seus escritos sobre as coisas divi-
nas. Mas julgo que maior proveito obtinham os que puderam
vê-lo e ouvi-lo a falar na igreja, e principalmente os que não
desconheciam sua maneira de viver entre os homens."

Os temas principais da teologia agostiniana são: o mal como


a corrupção do bem, o poder do pecado, a busca da felieida-

"Em 497, os bispos cristãos foram expulsos da Numídia. Ao partirem para a


Sardenha, levaram consigo o corpo de Agostinho, que ali ficou até as invasões
sarracenas do século VIII, quando o então rei dos lombardos, Luitprand, o resga-
tou e ordenou que seus cavaleiros o trouxessem até Pávia, na Itália, onde perma-
nece até hoje. Quando se desce pela Strada Nuovo, chega-se a uma igreja
lombardo-românica do século XII, chamada de San Pietro in Ciel d'Oro. Perto
do altar, pode-se ver o relicário de mármore ornamentado que contém os restos
mortais de Agostinho de Hipona.
de e da redenção, a importância da defesa filosófica da fé
cristã, a refutação do ceticismo, a beleza e a bondade do Deus
trino e uno, a providência de Deus, a liberdade da graça, as
evidências da existência de Deus, a confiança na fé cristã, a
origem do tempo e o Reino de Deus. Agostinho claramente
reconhecia a primazia e a autoridade da revelação cristã. Ele
se separou de suas influências filosóficas onde via que elas
conflitavam com a Escritura, que foi a fonte de autoridade
de sua elaboração teológica.o
Possídio, bispo de Calama e amigo de Agostinho, perma-
neceu ainda um ano nas ruínas de Hipona e preparou um
Catálogo das obras do mestre. Curiosamente, hoje possuí-
mos obras que Possídio mencionava como desaparecidas, e
outras, citadas no Catálogo, não chegaram até nós." As obras
que Possídio assinalou como ausentes já haviam chegado à
Europa, pois foram copiadas, com a concordância de Agos-
tinho, na sua biblioteca. Além disso, o Catálogo não contém
a enumeração das 93 obras, repartidas em 233 livros, catalo-
gados por Agostinho."

°Em grande medida, seguindo a Agostinho, o filósofo reformado Cornelius


van Til apresentou a chamada apologética proposicional. Essa abordagem reco-
nhece que nenhum fato, histórico ou não, pode ser interpretado de maneira
coerente sem pressupor a fé no Deus trino - infinito e pessoal- como revelado
na Escritura. Ao lermos as Escrituras devemos começar a partir das pressuposições
reveladas na Escritura, através das proposições das Escrituras até as conclusões da
Escritura. Isto não é neutro nem objetivo. Mas, metodologicamente, não pode-
mos esperar que sequer entendamos, e muito menos que aceitemos a mensagem
da Escritura, se impusermos pressuposições estranhas a ela. Devemos, portanto,
permitir que nosso pensamento, pelo menos temporariamente, seja moldado
pelas pressuposições da Escritura a fim de entendê-la. Cf. Colin BRüWN, Filoso-
fia e.fé cristã, p. 159: "Há lacunas no pensamento da Van Til. Mesmo assim, Van
Til deu passos legítimos em direção a uma apreciação filosóficada religião bíblica.
Sua discussão de pressuposições, e sua lembrança de que os homens não precisam
que a existência de Deus seja comprovada a eles, pois já têm consciência dele, são
de máxima importância" .

37
A dispersão de sua obra pelo mundo cristão ocidental ex-
plica a influência considerável de Agostinho no Baixo Impé-
rio Romano, em toda a Idade Média e depois disso. Essas
obras forneceram à igreja aquilo de que necessitava para os
séculos vindouros, criando um oásis de certeza num mundo
perturbado. Os maiores nomes do Renascimento - entre
eles, Erasmo de Rotterdam - dedicaram-se a editá-las com
o surgimento da imprensa. Assim, a vida e o pensamento de
Agostinho chegaram até nós, e talvez nenhum personagem
da Antiguidade nos seja mais bem conhecido.
Agostinho foi o mestre por excelência de uma nova épo-
ca. A influência agostiniana pode ser encontrada nos escritos
de Leão Magno, não apenas nos temas cristológicos, mas tam-
bém os que diziam respeito à graça de Deus. Boécio depen-
de dos escritos trinitários e Gregório depende das ênfases
pastorais e éticas. Na Idade Média, Anselmo de Canterbury
encontra em Agostinho a fonte mais importante para o prin-
cípio teológico da fé buscando compreensão (jides quaerens
intellectum), que dominou sua busca de Deus e seu entendi-
mento sobre a expiação. Igualmente agostiniano é Bernardo
de Clairvaux, quando tratou da graça e do livre-arbítrio, do
amor de Deus, da espiritualidade cristã e do ministério pas-
toral. Martinho Lutero e João Calvino," os grandes reforma-
dores do século XVI, foram profundamente influenciados
pelo bispo de Hipona, assim como o grande teólogo congre-
gacional do século XVIII, jonathan Edwards. E o movimen-
to de renovação inglês do século XVII, o movimento
puritano, tem sido chamado de "agostinianismo reformado" .30
Freqüentemente tem sido dito que tanto o catolicismo quanto
o protestantismo têm sua origem em Agostinho. O primeiro

per, por exemplo, Anthony N. S. LANE,john Calvin: student ofthe church


[athers, especialmente p. 38-9.
obtém dele (mas não exclusivamente dele) seu alto conceito
da igreja e dos sacramentos. O último segue Agostinho na
sua visão da soberania de Deus, da perdição do homem no
pecado e da graça de Deus que é o meio exclusivopara trazer
a salvaçãoao homem. Assim como ocorre a todos os ditados
fáceis, esta declaraçãoacercade Agostinho simplifica demais.
Há, certamente, católicos hoje que compartilham do ponto
de vista de Agostinho acerca da salvação e protestantes que
não compartilham dele. Sejacomo for, porém, foi de Agosti-
nho mais do que qualquer outro teólogo individualmente
que o pensamento medieval recebeu seu arcabouço teológi-
co de idéias. Mesmo quando pensadores posteriores altera-
ram a pintura dentro do quadro, o arcabouço com que
começaram foi a teologia da igreja primitiva em geral e a de
Agostinho em particular."

Portanto, nenhum de seus predecessores foi tão notável


quanto Agostinho, que realizou sua obra numa pequena ci-
dade do norte da África, cujo impacto, porém, se fez sentir
através dos séculos futuros em todo o cristianismo ocidental,
tanto católico como protestante.

Senhor, despertai na vossa Igreja o espírito que animou san-


to Agostinho, para que todos nós, sedentos da verdadeira
Sabedoria, não cansemos de vos procurar a vós, fonte vivado
amor eterno. Amém.?

CRONOLOGIA
313: Constantino promulga o Edito de Milão, tornando
o cristianismo a religião oficial do Império Romano do Oci-
dente.

qOração oficial da festa litúrgica de Santo Agostinho, em 28 de agosto.


354: Agostinho nasce em Tagaste, Numídia, na África.
370: Volta de Madaura para Tagaste.
371: Estuda em Cartago.
372: Patrício morre e Agostinho une-se a uma concubina.
373: Nasce seu filho, Adeodato.
375: Volta de Cartago para lecionar em Tagaste.
376: Retoma a Cartago.
380: O Edito de Teodósio torna o cristianismo religião
oficial no Império Romano do Oriente.
383: Agostinho abandona o maniqueísmo e embarca para
Roma.
384: Nomeado professor em Milão. Jerônimo começa a
tradução da Bíblia para o latim, tradicionalmente chamada
de Vulgata.
385: Mônica chega a Milão.
386: Agostinho descobre o neoplatonismo (provavelmente
em junho). Conversão ao cristianismo (fim de agosto). De-
mite-se do cargo de professor, e parte para o Cassicíaco (se-
tembro). Teodósio repele os godos no Danúbio.
387: Agostinho volta a Milão e é batizado, com Alípio e
Adeodato (abril). Visão de 6stia. Morte de Mônica.
388: Volta a Cartago e a Tagaste.
390: Morte de Adeodato.
391: Chega a Hipona para fundar um mosteiro. É orde-
nado presbítero.
392: Debate com o maniqueu Fortunato em Hipona.
Escreve a Jerônimo pedindo traduções latinas de comentá-
rios gregos sobre a Bíblia.
395: Agostinho sucede Valério como bispo de Hipona.
Morte de Teodósio.
396: Morte de Valério.
403: Agostinho prega em Cartago.
409: Pelágio em Cartago. Os vândalos e os suevos inva-
dem a Espanha.
410: Agostinho em Cartago. Recolhe-se a uma proprie-
dade perto de Hipona, por motivo de saúde.
411-413: Prega regularmente em Cartago.
418: Pelágio é expulso de Roma.
426: Eráclio é nomeado sucessor de Agostinho.
429: Os vândalos chegam ao norte da África Ocidental.
430: Agostinho falece em 28 de agosto.

41
A

ADEüDATü
"Juntamos também a nós Adeodato, filho do meu peca-
do, a quem tinhas dotado de grandes qualidades. Com quin-
ze anos apenas, superava em talento muitas pessoas maduras
e eruditas. [...] Cedo o levaste desta terra; e com a recorda-
ção dele sinto maior segurança do que a teria com sua vida.
Nada mais devo temer por sua infância, nem por sua adoles-
cência ou puberdade. A nós o associamos pela mesma idade
na tua graça. "1

ALIANÇA
"Na Velha Aliança, como numa sombra, se esconde a Nova.
Por que é, na verdade, que se diz Velha Aliança senão porque
é encobrimento da Nova? E por que é que se chama a outra
Nova senão porque é o descobrimento da Velha?"2
"O próprio sacerdócio segundo a ordem de Aarão foi cons-
tituído para ser como que uma sobra do sacerdócio eterno."?
''A Velha Aliança, a do Sinai, que gera para a servidão,
para mais não serve do que para prestar testemunho da
Nova Aliança."?
"Graças à Nova Aliança, esperarmos] a verdadeira beati-
tude espiritual no Reino dos CéUS."5
''Assim, guardadas as proporções, acontece com o gênero
humano, cuja vida se desenrola como a de uma só pessoa,
desde Adão até o fim deste século. Pelas leis da divina Provi-
dência que a governa, aparece a humanidade distribuída em
duas classes. Uma constituída pela multidão dos ímpios que
trazem impressa a imagem do homem terreno desde o início
dos tempos até o seu fim. A outra classe é formada das gera-
ções de um povo consagrado ao único Deus. De Adão a João
Batista, conduziu Deus a vida do homem terreno sob certa
justiça servil. Sua história chama-se o Antigo Testamento,
sob a promessa de um reino temporal. Mas toda essa histó-
ria, no seu conjunto, nada mais é do que a imagem do novo
povo do Novo Testamento, ao qual é prometido o reino dos
céus. A vida desse povo, na fase temporal, vai da vinda do
Senhor à humildade, até a sua volta à glória, no dia do Juízo.
Depois do que, o velho homem, tendo desaparecido, será
aquela transformação definitiva e prometida: uma vida
angélica. "6

ALMA
"Por que motivo, então, não se há de bendizer a Deus e
glorificá-lo com inefáveis louvores quando, tendo criado al-
mas destinadas a perseverar na observância das leis da justi-
ça, nosso Criador deu a vida também a outras almas que ele
previu haver de pecar e mesmo perseverar em seu pecado?
Visto que estas últimas almas são ainda superiores em bonda-
de aos seres animados que são incapazes de pecar, seja por
falta de razão, seja por carecer do livre-arbítrio da vontade.
E, além disso, as almas mesmo impenitentes são ainda mais
nobres e excelentes do que qualquer brilho esplêndido dos
corpos luminosos. Esses que muitos homens cometem o erro
grosseiro de venerar como sendo a substância própria de Deus
altíssimo."7
"Se supusermos que Deus criou uma só alma, da qual ti-
raram sua origem as almas de todos os homens que nascem,
quem poderia negar não ter cada homem pecado, ao pecar
o primeiro homem? No caso, porém, de as almas serem cria-
das separadamente, uma a uma, na ocasião do nascimento
de cada homem, não se pode achar ser contra a razão, mas,
ao contrário, perfeitamente conveniente e bem conforme
a ordem que os deméritos da primeira alma sejam conaturais
à alma seguinte, e que o mérito da segunda seja conatural
à antecedente.:"
"Ninguém, de modo algum, a não ser Deus onipotente,
pode ser o Criador de tais almas, de dar-lhes a existência,
antes mesmo de ter sido amado por elas. E reformá-las, aman-
do-as; e aperfeiçoá-las, quando por elas amado. É Ele que dá
o ser às almas que não existem ainda. E àqueles que o amam
como autor de sua existência concede-lhes o poder de se-
rem felizes."9

AMIZADE
"Eis o que amamos nos amigos, que amamos de tal modo
que sentimos a consciência culpada quando não pagamos
amor com amor, sem nada esperar do outro senão sinais de
afeto. Daí o luto quando morre um amigo, daí as trevas da
dor, a doçura que se transforma em amargura, o coração inun-
dado de pranto e a morte dos vivos pela vida perdida dos
que morrem. Feliz aquele que te ama, e que, por teu amor,
ama o amigo e o inimigo! Somente não perde nenhum ente
querido aquele para quem todos são queridos, aquele que
nunca perdemos. E quem é ele senão o nosso Deus, o Deus
que criou o céu e a terra e que lhes confere plenitude, pois
foi plenificando-os que os fez? Somente quem te abandona
pode perder-te. Mas onde irá ao abandonar-te? Para onde
fugirá, senão para longe de tua bondade e para perto da tua

45
cólera? Onde poderia ele, no seu castigo, não encontrar a
tua lei? E a tua lei é a verdade; e a verdade és tu."!"
''A amizade só é verdadeira quando une pessoas ligadas a
ti pelo 'amor derramado em nossos corações pelo Espírito
Santo que nos foi dado' [Rm 5.5]."11
"Se junto comigo aderirdes convictamente a esses dois
mandamentos [o amor a Deus e ao próximo], nossa amizade
será verdadeira e sempiterna e não-somente nos unirá a nós
mesmos, como também nos unirá ao próprio Senhor."12
"À pessoa que não tem amigos, nada no mundo se apre-
senta amável."13
''A amizade não se deve confinar dentro de limites estrei-
tos. Ela abarca todos os que são dignos de afeição e amor,
embora brote mais prontamente com uns do que com ou-
tros. A amizade ainda se estende aos nossos inimigos, por
quem também devemos rezar. Não existe, portanto, nenhum
ser humano que não mereça amor: se não for por afeição
mútua, é ao menos pelo fato de compartilharmos a mesma
natureza humana. Por outro lado, é certo que aqueles com
quem mantemos relação recíproca de amor sublime e puro
nos proporcionam maior prazer."14

AMOR
"Estes sentimentos [as paixões] são, portanto, maus, quan-
do é mau o amor; bons, quando o amor é bom."15
''A finalidade de todas as nossas obras é o amor. Este é o
fim, é para alcançá-lo que corremos, é para ele que corre-
mos; uma vez chegados, é nele que repousaremos."16
"Deus, nosso mestre, ensinou-nos dois mandamentos prin-
cipais: o amor de Deus e o amor do próximo. Neles encon-
trou o homem três objetos para amar - Deus, ele próprio e
o próximo."I?
"Não deve odiar o homem por causa de seu vício, nem
amar o vício por causa do homem, mas sim odiar o vício e
amar o homem."18
''Ama e faze o que quiseres.'?"
"Ama, e assim não poderás fazer senão o bem. "20
"Meu peso é o amor; por ele sou levado para onde sou
levado. Teu dom nos inflama e nos leva para o alto; nós nos
inflamamos e nos movemos. Subimos os degraus do coração,
cantando o cântico dos degraus [51119.1]."21
"Deus só pode ser amado pelo Espírito que ele nos con-
cedeu."22
''Assim, como ele ama a seus inimigos fazendo nascer o
seu sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre
justos e injustos, do mesmo modo, nós que não podemos dis-
por em favor de nossos inimigos, nem do sol, nem da chuva,
pelo menos derramemos as nossas lágrimas, quando orarmos
por eles."23
"Rogai a Deus a graça de vos amar uns aos outros. Amai a
todos os homens, também aos vossos inimigos. Não por se-
rem irmãos vossos, mas para se tornarem tais. Rogai para
estardes sempre abrasados do amor fraterno."24
"Pouco te ama aquele que ao mesmo tempo ama outra
criatura, sem amá-la por tua causa. 6 amor, que sempre ar-
des e não te extingues jamais! 6 caridade, meu Deus, infla-
ma-me!"25
"Estou seguro, Senhor, de que te amo; disso não tenho
dúvidas. Tocaste-me o coração com a tua palavra, e comecei
a amar-te. O céu, a terra e tudo que neles existe dizem-me
por toda parte que te ame, e não cessam de repeti-lo a todos
os homens, 'de modo que eles não têm desculpa' [Rm 1.20;
C..)]. Mas, que amo eu quando te amo? Não uma beleza cor-
poral ou uma graça transitória, nem o esplendor da luz, tão
cara a meus olhos, nem as doces melodias de variadas
cantilenas, nem o suave odor das flores, dos ungüentos, dos
aromas, nem o maná ou o mel, nem os membros tão suscetí-
veis às carícias carnais. Nada disso eu amo, quando amo o
meu Deus. E contudo, amo a luz, a voz, o perfume, o ali-
mento e o abraço, quando amo o meu Deus: a luz, a voz, o
odor, o alimento, o abraço do homem interior que habita
em mim, onde para a minha alma brilha uma luz que ne-
nhum espaço contém, onde ressoa uma voz que o tempo não
destrói, de onde exala um perfume que o vento não dissipa,
onde se saboreia uma comida que o apetite não diminui, onde
se estabelece um contato que a sociedade não desfaz. Eis o
que amo quando amo o meu Deus. "26

ANJOS
"Com o nome de anjo se designa o ofício, não a natureza.
Perguntas o nome desta natureza? É espírito. Procuras saber
qual o seu múnus? É de anjo, mensageiro. Quanto ao que é,
é espírito; quanto ao que faz, é anjo."27
"Os anjos já existiam quando foram criados os astros. Ora,
estes o foram ao quarto dia. Diremos, então, que foram cria-
dos ao terceiro? Claro que não. Sabemos muito bem o que
nesse dia foi feito: a terra foi separada das águas, cada um
destes elementos recebeu as espécies que lhes convinham e a
terra produziu tudo o que nela cria raízes. Seria, porventura,
no segundo? Também não. Nesse dia foi feito o firmamento
entre as águas do alto e de baixo, dando-se-lhe o nome de
Céu; e no firmamento foram criados os astros ao quarto dia.
É, pois, claro que se eles se encontram entre as obras que
Deus fez em seis dias, os anjos são essa luz que recebeu o
nome de dia; e foi para marcar a unidade que se não disse o
primeiro dia, mas sim um dia. Porque o segundo, o terceiro e
os seguintes não são outros, mas o mesmo dia único repetido
para constituir o número seis ou sete, em vista de um conhe-
cimento senário ou septenário - o senário relativo às obras
que Deus fez e o septenário relativo ao repouso de Deus."28
"Não é lícito pôr em dúvida que as inclinações, entre si
contrárias, dos bons e dos maus anjos, não resultam de natu-
rezas e princípios diversos, pois foi Deus, autor e criador ex-
celente de todas as substâncias, quem as criou a umas e outras
- mas provêm das vontades e apetites. Uns mantêm-se no
bem, comum a todos, que para eles é o próprio Deus, e na
sua eternidade, na sua verdade, na sua capacidade; os ou-
tros, comprazendo-se mais no seu poder pessoal, como se fosse
bem seu próprio, afastaram-se do supremo bem, fonte uni-
versal de felicidade e - preferindo o fausto da sua elevação
à eminentíssima glória da eternidade, a astúcia da sua vaida-
de à plena certeza da verdade, as suas paixões de facção à
indivisível caridade - tornaram-se orgulhosos, enganado-
res e invejosos. A beatitude daqueles tem, pois, por causa a
sua união a Deus - e a desgraça destes explica-se pela razão
contrária: a separação de Deus."29
''A verdadeira causa da beatitude dos anjos bons está no
fato de estarem unidos ao que é no mais elevado grau. Quan-
do, pelo contrário, perguntamos qual a causa da desgraça
dos anjos maus, ela apresenta-se-nos precisamente no fato de
se terem desviado daquele que no mais elevado grau é, para
se voltarem a si mesmos, que não possuem o ser em grau supre-
mo. E que outro nome tem este vício senão o de soberba?"30

49
"É preciso reconhecer, em justo louvor do Criador, que
não é apenas dos homens santos mas também dos santos an-
jos que se pode dizer que a caridade de Deus neles se difun-
diu pelo Espírito Santo que lhes foi dado."3l

APOLOGÉTICA
"Quando recordo estas coisas, o faço contra os indoutos
cuja ignorância deu origem a este divulgado provérbio: 'não
chove - a culpa é dos cristãos'. Sem dúvida que os que fo-
ram educados nas disciplinas liberais e gostam de história
conhecem estes fatos. Todavia, para tornarem extremamente
hostis para conosco as turbas ignaras, fingem ignorá-lo e pro-
curam convencer o vulgo de que quem tem a culpa das cala-
midades que o gênero humano tem de padecer em certos
lugares e tempos é o nome de Cristo que por toda a parte se
está a difundir com irresistível fama e gloriosíssima populari-
dade, contra os deuses. Conosco voltem a recordar-se das
calamidades que tantas e tão variadas vezes assolaram Roma,
antes de Cristo aparecer em carne, antes de ser conhecido
entre os povos o seu nome cuja glória em vão invejam; e, se
puderem, defendam dessas calamidades os seus deuses, se é
que lhes prestam culto os seus devotos para não sofrerem
desses males. Pretendem imputar-nos essas calamidades se
agora as têm que suportar. Por que é que os seus deuses per-
mitiram que as calamidades de que vou falar acontecessem
aos seus devotos antes que o nome de Cristo, já público, os
enfrentasse e proibisse os seus sacrifícios?"32
"Apoiar-me-ei, não apenas na autoridade divina, mas tam-
bém na razão - o que me permito por causa dos descren-
tes."33
"Deus emprega dois meios: a autoridade e a razão. A au-
toridade exige a fé e prepara o homem para a reflexão. A
razão conduz à compreensão e ao conhecimento. A autori-
dade, porém, jamais caminha totalmente desprovida da ra-
zão, ao considerar Aquele em quem se deve crer."34

ÁRVORE
(v. tb. CONVERSÃO)

"Tua lei, Senhor, condena certamente o furto, como tam-


bém o faz a lei inscrita no coração humano, e que a própria
iniqüidade não consegue apagar. Nem mesmo um ladrão
tolera ser roubado, ainda que seja rico e o outro cometa o
furto obrigado pela miséria. E eu quis roubar, e o fiz, não
por necessidade, mas por falta de justiça e aversão a ela por
excesso de maldade. Roubei de fato coisas que já possuía em
abundância e da melhor qualidade; e não para desfrutar do
que roubava, mas pelo gosto de roubar, pelo pecado em si.
Havia, perto da nossa vinha, uma pereira carregada de fru-
tos nada atraentes, nem pela beleza nem pelo sabor. Certa noi-
te, depois de prolongados divertimentos pelas praças até altas
horas, como de costume, fomos, jovens malvados que éra-
mos, sacudir a árvore para lhe roubarmos os frutos. Colhe-
mos quantidade considerável, não para nos banquetearmos,
se bem que provamos algumas, mas para jogá-las aos porcos.
Nosso prazer era apenas praticar o que era proibido. "35

ASCENSÃO
"Antes de toda e qualquer coisa, é preciso converter-se
pelo temor de Deus para conhecer-lhe a vontade, para saber
o que ele nos ordena buscar ou rejeitar. Necessário é que este
temor incuta o pensamento de nossa mortalidade e da futu-
ra morte e fixe no lenho da cruz todos os movimentos de
soberba, como se nossas carnes estivessem atravessadas pelos
cravos. Em seguida, é preciso tornar-nos mansos pela pieda-

'5 ]
de, para não contradizermos a Escritura divina. Seja quando
ela for compreendida e vier repreender alguns de nossos ví-
cios, seja quando, incompreendida, nós nos imaginarmos
capazes de julgar e ensinar melhor do que ela. Devemos, ao
contrário, pensar e crer que é muito melhor e mais verdadei-
ro o que está escrito ali, ainda que oculto, do que o que pos-
samos saber por nós próprios. Depois desses dois graus do
temor de Deus e da piedade, chega-se ao terceiro, o grau da
ciência [...]. Porque é nesse grau que se há de exercitar todo o
estudioso das divinas Escrituras, com a intenção de não en-
contrar nelas outra coisa mais do que o dever de amar a Deus
por Deus, e ao próximo por amor de Deus. [...] Essa ciência
que leva à santa esperança não torna o homem presunçoso,
mas antes o faz suplicante. Com esse afeto obtém, mediante
diligentes súplicas, a consolação do auxílio divino, para que
não caia no desespero. Desse modo, o estudioso da Escritura
começa a entrar no quarto grau, isto é, na fortaleza, pela qual
se têm fome e sede de justiça. Graças a essa força, ele afasta-
se de toda alegria mortífera das coisas temporais e, apartan-
do-se delas, dirige-se ao amor dos bens eternos, isto é, da
imutável Unidade que é a Trindade, idêntica a ela própria.
Apenas o homem - o quanto lhe foi possível - chega a
divisar de longe o fulgor dessa Trindade e reconhece que a
fraqueza de sua vista não pode suportar aquela luz, e sobe ao
quinto grau, isto é, ao conselho, fundamentado sobre a mise-
ricórdia, onde purifica sua alma tumultuada e como desas-
sossegada pelo clamor da consciência das imundices
contraídas, devido ao apetite das coisas inferiores. Ele se exer-
cita especialmente no amor ao próximo e se aperfeiçoa nele.
Em seguida, na plenitude de sua esperança, na integridade
de suas forças, chega até o amor aos inimigos e sobe ao sexto
grau. Lá, purifica os olhos com os quais Deus pode ser visto
- o quanto é possível - pelos que morrem para este rnun-
do. Porque eles vêem a Deus, à medida que morrem para
este século. Contudo, à medida que vivem para este século,
não o vêem. Embora o aspecto dessa luz divina comece já a
mostrar-se não só mais segura e tolerável, mas também mais
agradável, é preciso dizer que só se pode vê-lo 'em enigma e
em espelho' (lCo 13.12), porque, enquanto peregrinamos
nesta vida, caminhamos mais pela fé do que pela visão
(2Co 5.6,7), ainda que nossa conversação seja com o céu
(Fp 3.20). (...] Esse santo, em conseqüência, terá coração tão
purificado, tão simples, que não se apartará da verdade por
interesse de agradar aos homens, nem com o fim de evitar os
mil aborrecimentos que tornam infeliz esta vida presente. Esse
filho de Deus eleva-se até à sabedoría, que é o sétimo e últi-
mo grau onde gozará delícias, tranqüilo e em paz."36

ASTROLOGIA
"Eu não cessava de consultar esses embusteiros denomi-
nados astrólogos, que pareciam não sacrificar nem dirigir
preces aos espíritos para adivinhar o futuro. [...] Mas esses
impostores procuram destruir esse plano de salvação, dizen-
do: 'Pecar é inevitável, e a causa vem do céu. .É obra de Vênus,
de Saturno, ou de Marte'. Evidentemente, querem com isso
inocentar o homem, que é carne, sangue e orgulhosa podri-
dão; a culpa recairia sobre o criador e ordenador do céu e
dos astros. E quem é este, senão tu, nosso Deus, suavidade e
fonte da justiça."37
"Quando ele [um médico que se tornou cônsul em
Cartago] soube de minhas conversas, que eu me dedicava ao
estudo dos livros de horóscopo, com paternal bondade me
aconselhou a lançá-los fora e não despender em coisas vãs o
tempo e o trabalho necessário a coisas mais úteis."38

53
B
BATISMO
''As crianças são apresentadas [no batismo] para receber a
graça espiritual, não tanto por aqueles que as levam nos bra-
ços (embora também por eles, se são bons fiéis), mas, sobre-
tudo, pela sociedade universal dos Santos e dos fiéis. [...] É a
Mãe Igreja toda, que está presente nos seus Santos, a agir,
pois é ela inteira que os gera a todos e a cada um.")
"O Espírito Santo habita em bebês batizados, ainda que
eles não o saibam."2
"O sacramento de Cristo não deixa de ser santo mesmo
entre os sequazes de Satanás, [...] sempre que tenham, ao re-
cebê-lo, essas disposições de alma [...]. Não se lhes deve, por-
tanto, administrar outra vez. [...] Para mim é coisa evidente
que não devemos considerar quem é que administra, mas o
que é que se administra; não quem é que recebe, mas o que é
que se recebe [...]. Quem está com Satanás não pode cor-
romper o sacramento que procede de Cristo [...]. Cada vez
que se administra o batismo observando a fórmula do Evan-
gelho, por maior que seja a perversão do batizante ou do
batizado, o sacramento é santo em si mesmo por ser sacra-
mento de Jesus Cristo. Caso alguém receba o batismo das
mãos de um homem desencaminhado, se não recebe a per-
versidade do ministro, mas a santidade do mistério, sendo
incorporado à Igreja pela fé, pela esperança e pela caridade,
ele recebe a remissão de seus pecados. [...] Se, porém, o pró-
prio batizado está desencaminhado, então, enquanto perse-
verar no seu erro, o que lhe é administrado não lhe serve
para salvação; contudo, o que é recebido permanece nele
inalteravelmente santo, não devendo ser renovado quando
ele retornar ao reto caminho."3
"Há grande diferença entre um apóstolo e um beberrão;
mas não há diferença nenhuma entre um batismo cristão
realizado por um apóstolo e um batismo cristão realizado por
um beberrão [...]. Não há diferença entre um batismo cris-
tão realizado por um apóstolo e o que é realizado por um
herege.":'
"A água empregada num batismo herético não é adulte-
rada; pois a criação de Deus não é em si mesmo má, e a Pala-
vra do evangelho não deve ser considerada falha por qualquer
mestre."5
''A pessoa batizada não perde o sacramento do batismo
quando se separa da unidade da igreja. Da mesma forma,
um homem ordenado não perde o sacramento de adminis-
trar o batismo ao se separar da unidade da igreja."6
"Se as crianças dessas [tenras] idades tiverem recebido os
sacramentos do mediador e nessas idades acabarem a vida,
transferidas seguramente do poder das trevas para o Reino
de Cristo, não só não estarão destinadas aos suplícios eter-
nos, mas também não sofrerão, na verdade, tormento algum
purificador depois da morte."?
As crianças serão levadas "ao banho da regeneração". 8
"É assim que os teus sacramentos, ó Deus, graças às obras
dos teus santos, deslizam entre as ondas das tentações do
mundo para regenerarem os povos no batismo em teu
nome."9
"Fomos batizados, e desapareceu qualquer preocupação
quanto à vida passada."!"
"Sabemos que no batismo de Cristo os pecados são per-
doados, e que este batismo vale para a remissão dos pecados.
Se as crianças são inteiramente inocentes, por que as mães
correm para a igreja quando elas adoecem? Que pecado apa-
ga aquele batismo, a que se refere aquele perdão? Veja a cri-
ança inocente a chorar, não a se encolerizar. Que lava o
batismo? Que dívida se paga com aquela graça? Apaga-se a
propagação do pecado. Se aquela criança pudesse falar, te
diria, e se já tivesse o entendimento que possuía Davi, te
responderia: O que observas em mim, que sou uma crian-
ça? É verdade que não vês pecados que tenha cometido,
mas fui concebido em iniqüidade e 'em pecado me gerou
minha mãe'." 11
"Há ainda o costume, entre aquelas mesmas pessoas, de
indagarem para que pode servir às criancinhas o sacramento
do batismo de Cristo, quando muitas delas, após tê-lo rece-
bido, morrem antes de ser capazes de nada entender. Quan-
to a esse problema, conforme uma crença sólida, piedosa e
razoável, o que é de fato útil à mesma criança batizada é a fé
daqueles que a oferecem para ser consagrada a Deus. Essa
opinião é recomendada pela autoridade muito salutar da
Igreja."12

BELEZA
"Eu quero a ti, ó justiça, ó inocência, ó beleza que atrai o
olhar dos virtuosos, que em ti se satisfazem sem jamais se
saciar."I3
"Não falo da beleza que reside na justiça ou na sabedoria,
na inteligência do homem, na memória, nos sentidos e na
vida vegetativa, nem da beleza da inteligência humana, da
memória, dos sentidos e de toda a vida vegetativa, nem da
beleza das estrelas na harmonia do firmamento, nem da be-
leza da terra e do mar, cheios de vidas que nascendo tomam
o lugar dos mortos. E tampouco falo da beleza limitada e
ilusória dos vícios sedutores."14
"Cada uma das criaturas em particular era boa, mas,
tomadas em conjunto, eram muito boas. O mesmo se diz
da beleza dos corpos, porque o corpo, que é composto de
membros belos, é bem mais belo que os membros sepa-
radamente, cujo conjunto harmonioso compõe o todo, em-
bora os membros considerados separadamente sejam belos
também."15
Quem é Deus? "Perguntei à terra, e esta me respondeu:
'Não sou eu'. E tudo o que nela existe me respondeu a mes-
ma coisa. Interroguei o mar, os abismos e os seres vivos, e
todos me responderam: 'Não somos o teu Deus; busca-o aci-
ma de nós'. Perguntei aos ventos que sopram, e toda a atmos-
fera com os seus habitantes me responderam: 'Anaxímenes
está enganado; não somos o teu Deus'. Interroguei o céu, o
sol, a lua e as estrelas: 'Nós também não somos o Deus que
procuras'. Pedi a todos os seres que me rodeiam o corpo:
'Falai-me do meu Deus, já que não sois o meu Deus; dizei-
me ao menos alguma coisa sobre ele'. E exclamaram em alta
voz: 'Foi ele quem nos criou'. Para interrogá-los eu os con-
templava, e sua resposta era a sua beleza".16
"Ele é a forma incriada e a mais bela de todas as formas.
Os corpos todos possuem certa beleza, sem a qual não seriam
o que são. Se pois, indagarmos quem constituiu os corpos,
busquemos entre todos os seres o que seja formosíssimo. Toda
formosura procede dele. E quem é esse senão o Deus único,
a verdade única, a única salvação de todas as coisas, a primei-
ra e soberana essência, a fonte de onde procede tudo o que é
- enquanto tem o ser - porque tudo o que é como tal é
bom."17
BEM
"Por serem bons, procedem de Deus; por não serem ple-
namente bons, não são Deus. Por conseguinte, o único bem
que não se pode deteriorar é Deus. Os demais bens proce-
dem dele, podem se deteriorar por si mesmos, porque por
sua própria procedência nada são. E pelo mesmo Deus, que
alguns bens, em parte, não se deterioram e que outros, dete-
riorados, podem recobrar a sua integridade."l8
''Ainda que o homem possa usar mal da liberdade, a sua
vontade livre deve ser considerada como um bem."l9

c
CASTIDADE
"É graças à continência que nos reunimos e nos recondu-
zimos à unidade, da qual nos afastamos para nos perdermos
na multiplicidade."!
"Dá-me a castidade e a continência, mas que não seja
para já."2
"Muitos há que preferem abster-se totalmente do seu uso,
antes que [se refrear] para usá-los corretamente."3
"Ficava preso às mais insignificantes bagatelas, às vaidades
das vaidades, minhas velhas amigas que me solicitavam a na-
tureza carnal, murmurando: 'Tu nos vais abandonar'? E tam-
bém: 'De agora em diante, nunca mais estaremos contigo'. E
ainda: 'De agora em diante, não poderás fazer isto ou aqui-
lo'! E que pensamentos me sugeriam, meu Deus, ao dizerem:
'Isto e aquilo'. (...] Do lado para onde voltava o rosto e por
onde temia passar, apresentava-se a mim a casta dignidade
da Continência, com serena alegria e sem desordem. (...]
Encontravam-se aí meninos e meninas, grande número de
jovens e pessoas de todas as idades, dignas viúvas, virgens ido-
sas. Em todas elas não era estéril a continência, e sim a mãe
fecunda das alegrias geradas de ti, Senhor seu esposo. E a
Continência ria de mim e ao mesmo tempo me exortava,
como se dissesse: 'Não poderás tu fazer o mesmo que fizeram
estes e aquelas?' ."4

CÉU
(v. VIDA ETERNA)

CHRISTUS VICTOR
"É porque o Verbo de Deus, o Filho único de Deus, que
sempre teve e sempre terá o demônio submetido às suas leis,
tendo se revestido de nossa humanidade, submeteu igual-
mente o demônio ao homem. Para isso, nada lhe exigiu com
violência. Mas venceu-o pela lei da justiça. Posto que o de-
mônio, tendo enganado a mulher e feito cair o homem por
meio dela - certamente animado pelo desejo perverso de
causar dano, entretanto com todo direito - , pretendia sub-
meter à lei da morte todos os descendentes do primeiro ho-
mem, a título de pecadores. Em conseqüência, esse poder
não deveria perdurar senão até o dia em que o demônio po-
ria o Justo à morte, Àquele em quem nada podia encontrar
digno de morte. E Ele não somente foi condenado à morte,
sem crime algum, como também nasceu sem concupiscên-
cia alguma, pela qual o demônio subjugava a todos os seus
cativos, como frutos de sua árvore. Isso sem dúvida levado
por um desejo muito perverso. Não obstante, sem lhe ter
faltado certo direito de propriedade. Por conseguinte, é com
toda justiça que o demônio está constrangido a libertar aque-
les que crêem naquele a quem submeteu à morte injustamente.
Desse modo, se os homens morrem de morte temporal, que
essa morte seja para liquidar sua dívida; e se vivem da vida
eterna, que seja para viver naquele que pagou por eles uma
dívida que ele próprio não tinha. Para aqueles, porém, a quem
o demônio tiver persuadido de perseverar na infidelidade,
com direito ele os terá como companheiros na danação eter-
na. Assim, pois, aconteceu que o homem não foi arrancado
por violência ao demônio, tal como este não havia se apro-
priado por violência do homem, mas por persuasão. Dessa
maneira, foi submetido o homem que com direito havia sido
humilhado, a ponto de se tornar escravo daquele a quem
dera o consentimento para o mal. Com direito, também, foi
libertado por Aquele a quem dera o consentimento para o
bem. Isso porque o homem fora menos culpado consentin-
do ao mal do que o demônio a persuadir a fazê-lo.'?

CIDADE DE DEUS, CIDADE DA TERRA


"A gloriosíssima Cidade de Deus - que no presente de-
curso do tempo, vivendo da fé, faz a sua peregrinação no
meio dos ímpios, que agora espera a estabilidade da eterna
morada com paciência até o dia em que será julgada com
justiça, e que, graças a sua santidade, possuirá então, por uma
suprema vitória, e paz perfeita - tal é, Marcelino, meu ca-
ríssimo filho, o objeto desta obra. Empreendi-a a teu pedi-
do, para me desobrigar da promessa que te fizera de defender
esta Cidade contra os que ao seu fundador preferem seus
próprios deuses. Grande e árduo trabalho! Mas Deus será a
nossa ajuda! Sei de que forças tenho necessidade para de-
monstrar aos soberbos quão poderosa é a virtude da humil-
dade, pois que, para lá de todas as grandezas passageiras e

60
efêmeras da Terra, ela atinge uma altura que não é uma usur-
pação do orgulho humano, mas um dom da graça divina.
De fato, o rei e fundador desta Cidade, de que resolvemos
falar, revelou nas Escrituras do seu povo o dito da lei divina
Deus resiste aos soberbos e concede a sua graça aos humildes
(Tg 4.6, IPe 5.5). Mas deste privilégio exclusivo de Deus, a
alma intumescida de orgulho tenta apropriar-se dele e gosta
de ouvir dizer em seu louvor poupar os vencidos e domar os
soberbos. Também é preciso falar da Cidade da Terra, na sua
ânsia de domínio, que, embora os povos se lhe submetam, se
torna escrava da sua própria ambição de domínio. Dela tra-
tarei, nada calando conforme o exige o plano desta obra e o
permitir a minha capacidade."6
"Incomparavelmente mais gloriosa é a cidade do Alto,
onde a vitória é a verdade, onde a dignidade é a santidade,
onde a paz é a felicidade, onde a vida é a eternidade."?
''Aconteceu que, entre tantos e tão grandes povos espa-
lhados por toda a Terra, apesar da diversidade de usos e cos-
tumes, da imensa variedade de línguas, armas e vestuário,
não se encontram senão dois tipos de sociedades humanas
que nós podemos à vontade, segundo as nossas Escrituras,
chamar as duas Cidades - uma, a dos homens que querem
viver segundo a carne, e a outra, a dos que pretendem seguir
o espírito, conseguindo cada uma viver na paz do seu gênero
quando eles conseguem o que pretendem."8
"É por isso que agora, na Cidade de Deus e à Cidade de
Deus, a peregrinar neste século, muito se recomenda a hu-
mildade, altamente exaltada no seu rei que é Cristo. Nas Sa-
gradas Escrituras ensina-se que o vício da soberba, contrário
a essa virtude, domina sobretudo no seu adversário que é o
Diabo. Sem dúvida que é grande a diferença que opõe as
duas cidades: uma, a sociedade dos homens piedosos, a

6]
outra, a dos ímpios, cada uma com os seus anjos próprios em
que prevaleceu o amor de Deus ou o amor de si mesmo."9
"Dois amores fizeram as duas cidades: o amor de si até ao
desprezo de Deus - a terrestre; o amor de Deus até ao des-
prezo de si - a celeste. Aquela se glorifica em si própria -
esta no Senhor; aquela solicita dos homens a glória - a mai-
or glória desta consiste em ter Deus como testemunha da sua
consciência; aquela na sua glória levanta a cabeça - esta diz
ao seu Deus: 'Tu és a minha glória, tu levantas a minha cabe-
ça' (513.3); aquela nos seus príncipes ou nas nações que sub-
juga é dominada pela paixão de dominar - nesta servem
mutuamente na caridade: os chefes dirigindo, os súditos
obedecendo; aquela ama a sua própria força nos seus
potentados - esta diz ao seu Deus: 'Amar-te-ei, Senhor,
minha fortaleza'; por isso, naquela, os sábios vivem como
ao homem apraz ao procurarem os bens do corpo, ou da
alma, ou dos dois: e os que puderam conhecer a Deus 'não o
glorificaram como Deus, nem lhe prestaram graças, mas
perderam-se nos seus vãos pensamentos e obscureceram o
seu coração insensato. Gabaram-se de serem sábios' (isto
é, exaltando-se na sua sabedoria sob o império do orgu-
lho), 'tornaram-se loucos - e substituíram a glória de Deus
incorruptível por imagens representando o homem cor-
ruptível, aves, quadrúpedes e serpentes' (porque à adora-
ção de tais ídolos conduziram os povos ou nisso os segui-
ram), 'e veneraram e prestaram culto a criaturas em vez
de ao Criador que é bendito para sempre' (Rm 1.21-25)
- mas nesta só há uma sabedoria no homem: a piedade
que presta ao verdadeiro Deus o culto que lhe é devido e
que espera, como recompensa na sociedade dos santos (tan-
to dos homens como dos anjos), 'que Deus seja tudo em
todos' (l Co 15.28)."10
"É que a cidade dos santos é a do Alto, embora procrie cá
cidadãos entre os quais ela vá peregrinando até que chegue o
tempo do seu reino."!'
"Chamamos Cidade de Deus àquela de que dá testemu-
nho a Escritura que, não devido a movimentos fortuitos dos
ânimos, mas antes devido a uma disposição da Suma Provi-
dência [...], acabou por subjugar toda a espécie de humanos
engenhos."12

CONCUPISCÊNCIA
"Chamo caridade ao movimento da alma cujo fim é a frui-
ção de Deus por ele próprio, e a fruição de si próprio e do
próximo por amor de Deus. Chamo, ao contrário, concupis-
cência ao movimento da alma cujo fim é fruir de si próprio,
do próximo e de qualquer objeto sensível, sem referência a
Deus."13
"Tu me ordenas que eu me abstenha da concupiscência da
carne, da concupiscênciados olhos e da ambição do mundo."14
"Na verdade, estão os homens reduzidos à extrema misé-
ria. Padecem sob o jugo de suas paixões: a sensualidade, o
orgulho e a curiosidade. Quer seja por duas dessas concupis-
cências quer por todas elas."15
"São três as concupiscências. E nada encontras que possa
constituir os desejos humanos que não derive da concupis-
cência da carne, da concupiscência dos olhos ou da ambição
do mundo. Foi por essas tentações que o Senhor foi tentado
pelo demônio."16

CONFISSÃO
"Qual será, então, a nossa esperança? Antes de tudo, a
confissão. Que ninguém se julgue justo. Sob o olhar de Deus

63
que vê o que é o homem, ninguém levante com orgulho a
cabeça - esse que nada era e agora é. Então, antes de tudo
a confissão, depois o amor."l?

CONSCIÊNCIA
"Volta à tua consciência, interroga-a. [...] Voltai, irmãos,
ao interior e em tudo o que fizerdes atentai para a testemu-
nha, Deus."18

CONTEMPLAÇÃO
"Que devo fazer, meu Deus, ó minha vida verdadeira?
Irei além dessa faculdade que se chama memória, para che-
gar a ti, ó doce luz. Que me dizes? Subindo, através de mi-
nha alma, a ti, que estás acima de mim, transporei também
essa minha faculdade que se chama memória, no desejo de
alcançar-te onde podes ser atingido e prender-me a ti onde é
possível fazê-Io."19
"Em nenhuma dessas realidades que percorro, e sobre as
quais te consulto, encontro lugar seguro para minha alma,
senão em ti. Somente em ti posso reunir todos os pensamen-
tos dispersos, e nada de mim se afasta de ti."20
"Eu te invoco, 'meu Deus, misericórdia minha', que me
criaste e não te esqueceste daquele que se esqueceu de ti. Eu
te chamo à minha alma, que preparas para te receber, inspi-
rando-lhe este desejo. Não desampares aquele que te invoca,
tu que te antecipaste, antes que eu te invocasse."21
"6 meu Deus, tu te dás e te entregas a mim. Eu te amo.
E, se ainda é pouco, faze que eu te ame ainda mais. Não
posso medir para saber quanto me falta de amor, que seja
suficiente para que a minha vida corra para os teus braços e
daí não se afaste, até esconder-se no segredo da tua face."22
"Prescinde disto e daquilo e contempla o próprio Bem, se
podes. Então verás a Deus, que é bom, não por algum outro
bem, mas o Bem de todos os bens."23
"E o que é conhecer a Deus, senão o contemplar e perce-
ber com firmeza, com os olhos da mente?"24
"Vemos todas essas coisas, e vemos que são muito boas,
porque em nós as contemplas, tu que nos concedeste o Espí-
rito para as podermos ver e nelas te amar."25
"Há homens infelizes que, desprezando as coisas conheci-
das, só se alegram com novidades. Gostam mais de investigar
do que contemplar. Enquanto é a contemplação o fim de
qualquer estudo. "26

CONVERsA0
"Quando essas severas reflexões me fizeram emergir do
íntimo e expuseram toda a minha miséria à contemplação
do coração, desencadeou-se uma grande tempestade porta-
dora de copiosa torrente de lágrimas. Para dar-lhes vazão com
naturalidade, levantei-me e afastei-me de Alípio, o necessá-
rio para que sua presença não me perturbasse, pois a solidão
me parecia mais apropriada ao pranto. Alípio percebeu o
estado em que me encontrava: o tom da voz embargada pe-
las lágrimas, ao dizer-lhe alguma coisa, havia-me traído. Le-
vantei-me; ele permaneceu atônito, onde estávamos sentados.
Deixei-me, não sei como, cair debaixo de uma figueira e dei
livre curso às lágrimas, que jorravam dos meus olhos aos bor-
botões, como sacrifício agradável a ti. E muitas coisas eu te
disse, não exatamente nestes termos, mas com o seguinte sen-
tido: 'E tu, Senhor, até quando? Até quando continuarás ir-
ritado? Não te lembres de nossas culpas passadas!'. Sentia-me
ainda preso ao passado, e por isso gritava desesperadamente:
'Por quanto tempo, por quanto tempo direi ainda: amanhã,

65
amanhã? Por que não agora? Por que não pôr fim agora à
minha indignidade?'. Assim falava e chorava, oprimido pela
mais amarga dor do coração. Eis que, de repente, ouço uma
voz vinda da casa vizinha. Parecia de menino ou menina re-
petindo continuamente uma canção: 'Toma e lê, toma e lê'.
Mudei de semblante e comecei com a máxima atenção a
observar se se tratava de alguma cantilena que as crianças
gostam de repetir em seus jogos. Não me lembrava, porém,
de tê-la ouvido antes. Reprimi o pranto e levantei-me. A única
interpretação possível, para mim, era a de uma ordem divina
para abrir o livro e ler as primeiras palavras que encontrasse.
Tinha ouvido que Antão, assistindo por acaso a uma leitura
evangélica, sentiu um chamado, como se a passagem lida fosse
pessoalmente dirigida a ele: 'Vai, vende os teus bens e dá aos
pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-
me'. E logo, através dessa mensagem, converteu-se a ti. Apres-
sado, voltei ao lugar onde Alípio ficara sentado, pois, ao
levantar-me, havia deixado aí o livro do Apóstolo [Paulo].
Peguei-o, abri e li em silêncio o primeiro capítulo sobre o
qual caiu o meu olhar: 'Não em orgias e bebedeiras, nem na
devassidão e libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas re-
vesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis satisfazer os
desejos da carne'. Não quis ler mais, nem era necessário. Mal
terminara a leitura dessa frase, dissiparam-se em mim todas
as trevas da dúvida, como se penetrasse no meu coração uma
luz de certeza. Marcando a passagem com o dedo ou com outro
sinal qualquer, fechei o livro e, de semblante já tranqüilo, o
mostrei a Alípio. Também ele, por sua vez, me mostrou o que
lhe acontecera e que eu ignorava. Pediu-me que lhe mostras-
se a passagem lida por mim. Mostrei-a, e ele prosseguiu além
do que eu havia lido, ignorando eu portanto o que estava escri-
to. O texto era o seguinte: 'Acolhei o fraco na fé'. Alípio apli-
cou-o a si mesmo e o revelou a mim. Foi como um convite que o
firmou em seu propósito, perfeitamente de acordo com seu
tipo de vida, que há muito tempo o havia distanciado de mim.
Sem hesitar e sem se perturbar, juntou-se a mim. Fomos ime-
diatamente à minha mãe e lhe contamos o sucedido. Ela fi-
cou radiante. E nós lhe relatamos como os fatos se tinham
desenvolvido. E ela exulta e triunfa, bendizendo-te, Senhor,
'que és poderoso além do que pedimos ou pensamos'. Verifi-
cava que lhe havias concedido muito mais do que ela pedira
com lágrimas e orações em meu favor. De tal forma me con-
verteste a ti, que eu já não procurava esposa, nem esperança
alguma terrena, mas permanecia firme naquela fé em que
tantos anos antes me tinhas mostrado em sonho a minha mãe.
'Transformaste sua tristeza em alegria'. Alegria muito maior
do que ela havia desejado, e muito mais preciosa e pura do que
ela poderia esperar dos netos nascidos da minha carne. "27
"Logo, aquele que dia a dia renova-se progredindo no co-
nhecimento de Deus, na justiça e santidade da verdade
(Ef 4.24), transfere seu amor do temporal para o eterno; do
visível para o invisível; do carnal para o espiritual; e persiste
com muito cuidado em refrear suas paixões e diminuir os
desejos em relação aos bens temporais, para se unir com per-
severança aos bens espirituais, pela caridade. E tanto mais
caminhará, quanto mais for ajudado pela graça de Deus. Pois
esta é a palavra divina: sem mim nadapodeisfazer ao 15.5)."28

CRIAÇÃO
-o Deus, viste finalmente que todas as coisas que tinhas
criado eram 'muito boas'. Também nós as vemos, e observa-
mos que são todas muito boas."?"
"Vemos todas essas coisas, e vemos que são muito boas,
porque em nós as contemplas, tu que nos concedeste o Espí-
rito para as podermos ver e nelas te amar."3ü
"Cada uma das criaturas em particular era boa, mas, to-
madas em conjunto, eram muito boas. O mesmo se diz da
beleza dos corpos, porque o corpo, que é composto de mem-
bros belos, é bem mais belo que os membros separadamente,
cujo conjunto harmonioso compõe o todo, embora os mem-
bros separadamente sejam belos também."3l
"Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar,
interroga a beleza do ar que se dilata e se difunde, interroga
a beleza do céu... interroga todas estas realidades. Todas elas
te respondem: 'olha-nos, somos belas'. Sua beleza é um hino
de louvor. Essas belezas sujeitas à mudança, quem as fez se-
não o Belo, não sujeito à mudança?"32
"Que se deve, na verdade, entender por esta frase re-
petida a propósito de tudo 'Deus viu que isso era bom'
(Gn 1.4,10,12,18,21,25,31), senão a aprovação da obra
realizada em conformidade com a arte que é a Sabedoria de
Deus? Certamente que Deus não esperou acabar a sua obra
para saber que ela era boa. Pelo contrário - nada teria feito
se lhe fosse desconhecido. Para Ele, portanto, ver que a sua
obra é boa - e se a não tivesse visto antes de a criar não a
teria feito - não é aprender, mas ensinar-nos que é boa."33
-o Deus, criaste o céu e a terra neste Princípio, ou seja,
no teu Verbo, no teu Filho, na tua virtude, na tua sabedoria,
na tua verdade, falando e agindo maravilhosamente. Quem
o poderá compreender ou descrever? Que luz é essa que bri-
lha diante de mim e golpeia o meu coração sem o ferir?"34
,,~ / c
i u es, sempre, sempre, sempre o mesmo, santo, santo,
santo, Senhor Deus onipotente'. Tu no princípio que proce-
de de ti, na tua Sabedoria nascida da tua substância, do nada
criaste alguma coisa. Fizeste o céu e a terra, mas não da tua
substância, pois assim teriam sido iguais ao teu Filho unigê-
nito, e, portanto, iguais também a ti. E não seria absoluta-
mente justo que fosse igual a ti aquilo que não veio de ti. Por
outro lado, nada havia fora de ti, de onde pudesses criar, ó
Deus, Trindade una e Unidade trina. Por isso, criaste do nada
o céu e a terra."35
"Mesmo supondo que o mundo seja feito de alguma ma-
téria informe, essa matéria foi tirada totalmente do nada."36
"Deus sabe atuar repousando - e repousar atuando."37

CRIAÇÃO, DIAS DA
"Assim o demonstra a própria ordem dos seis ou sete pri-
meiros dias: estão lá nomeadas uma manhã e uma tarde, até
que, acabadas todas as obras de Deus no sexto dia, o sétimo
nos descobre, num grande mistério, o repouso de Deus. Mas
de que dias se trata - é difícil, impossível mesmo, fazer disso
uma idéia, quanto mais exprimi-la.":"

CRIAçÃO, HUMANIDADE
"Embora não viessem a morrer se não tivessem pecado,
utilizavam-se, porém, de alimentos como homens que eram
em corpos não espirituais, mas ainda animais e terrestres. A
vetustez não os envelheceria até os levar fatalmente à morte
(este estado de vida era-lhes maravilhosamente concedido
pela graça de Deus, mediante a árvore da vida que estava no
meio do Paraíso junto com a árvore proibida). [...] Saborea-
vam os frutos das árvores da vida para evitarem que a morte
surgisse sorrateiramente, mesmo no termo duma longa ve-
lhice. Era como se as outras servissem de alimento e esta de
sacramento."39
"Como está escrito, Deus fez o homem reto e, como tal,
dotado de vontade boa. Não seria de fato reto se não tivesse
vontade boa. A boa vontade é, portanto, obra de Deus, pois
foi com ela que foi criado o homem. Mas a primeira vontade

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má, porque precedeu no homem todas as suas más obras, é
menos uma obra que um defeito pelo qual o homem, aban-
donando a obra de Deus, decai para suas próprias obras que,
por tal fato, são más, porque são como ao homem apraz e
não como apraz a Deus."4o
" 'Abriram-se os olhos de ambos' (Gn 3.7), diz-se, não para
verem, pois já antes viam, mas para discernirem entre o bem
que tinham perdido e o mal em que tinham caído."!'
"Nenhum outro plano ajustou-se melhor em proveito do
gênero humano do que este realizado pela mesma sabedoria
de Deus: - o Filho unigênito, consubstanciai ao Pai e co-
eterno, dignou-se assumir integralmente o homem. 'E o vt>r-
bo se fez carne e habitou entre nós' (]o 1.14). Demonstrou
assim aos homens carnais e incapazes de captar espiritual-
mente a verdade, e escravos dos sentidos corporais, quão ele-
vado lugar ocupa, na criação, a natureza humana."42

Isaías, "falando em nome de Cristo, diz: 'Como o esposo


aformoseado com uma coroa e como a esposa ornada com as
suas jóias' (Is 61.10). Encontra-se aí uma só pessoa que fala e
apresenta-se como o esposo e a esposa, porque não são dois,
mas uma só carne, 'porque o Verbo se fez carne e habitou
entre nós'. A essa carne refere-se à Igreja, e temos então o
Cristo total: Cabeça e membros".43

"Se Cristo não te vem à mente, em ti ele dorme; acorda-o,


lembra-te de tua fé. Cristo dorme em ti se esqueceste a
sua paixão; estará desperto, se te lembrares de seus padeci-
mentos. Se o olhares, aderires de coração ao que ele pade-
ceu, não tolerarás igualmente de bom grado e até com alegria
por teres adquirido alguma semelhança com a paixão de
teu rei?"44

CULPA
"Como agradecerei ao Senhor por minha memória re-
cordar tais fatos, sem que isso perturbe a minha alma? Hei
de amar-te, Senhor, hei de dar-te graças e exaltar-te porque
me perdoaste atos tão graves e tão maus. Sei que, pela tua
graça e misericórdia, meus pecados se desfizeram como gelo
ao sol; devo à tua graça também todo mal que não pratiquei.
A que ponto não poderia ter chegado, eu que amei o pecado
por si mesmo, sem motivo? Senhor, proclamo que me perdo-
aste todas as culpas, quer cometidas voluntariamente, quer
as que, por tua graça, não cometi. "45

CUlTO, LITURGIA
"Quantas lágrimas verti, de profunda comoção, ao mavi-
oso ressoar de teus hinos e cânticos em tua igreja! Aquelas
vozes penetravam nos meus ouvidos e destilavam a verdade
em meu coração, inflamando-o de doce piedade, enquanto
corria meu pranto e eu sentia um grande bem-esrar.r"
"Todos os domingos nós cantamos 'Aleluia', o que signifi-
ca que nossa futura ocupação no céu será a de louvar a
Deus."47
"Diante de quem é conveniente tal júbilo senão diante do
Deus inefável? Inefável é aquilo de que é impossível falar. E
se não podes falar e não deves calar, o que resta senão jubilar?
O coração rejubila sem palavras e a imensidão do gáudio
não se limita a sílabas. 'Cantai-lhe bem com júbilo'."48
"O cristão canta a Deus menos pelas palavras do que pelo
coração. E o canto só é verdade à medida que expressa a
emoção interior"?
CULTO AOS MORTOS
"Que nossa religião não seja culto aos mortos. Se eles vive-
ram na piedade não se comprazem com tais honras, antes
querem que adoremos Aquele em cuja luz eles mesmos se
alegram ao ver-nos associados a seus méritos. Honremo-los,
pois, imitando-os e não os adorando. E se viveram mal, onde
quer que estejam, nenhum culto merecem."50

D
DEMÔNIOS
"Quão pouco merecem as honras divinas estes seres ani-
mados aéreos que só têm razão para serem infelizes, só têm
paixões para serem infelizes, só têm a eternidade para na in-
felicidade permanecerem sem fim!"!
"Nós, porém, segundo a linguagem da Escritura, regra
da nossa religião cristã, lemos que há anjos, uns bons e outros
maus, mas nunca que há bons demônios. Onde quer que
nas Escrituras se encontre esta palavra de daemones ou dae-
monia (demônios), trata-se sempre de espíritos maléficos.'?

DEUS, ESPÍRITO SANTO


(v. ESPÍRITO SANTO)

DEUS,FILHO
(v. JESUS CRISTO)
DEUS, IMUTÁVEL
"Dizemos que só há um bem imutável- o Deus verda-
deiro e bem-aventurado. Porém, as criaturas que Ele fez,
embora sejam boas, pois d'Ele provêm, são, todavia, mutáveis,
pois que não foi d'Ele mas do nada que as fez."3
Contrária à orientação dos maniqueus, "a fé católica ensi-
na que só Deus é a natureza sem princípio, quer dizer, o Bem
supremo e imutável. [...] Ela ensina ainda que a partir deste
Bem supremo e imutável foram criados o universo e todas as
coisas boas, embora elas não sejam iguais, porque foram
criadas do nada, sendo, portanto, mutáveis. Não há, pois,
absolutamente nenhuma natureza ou que não seja Deus ela
própria, ou que não seja criada por Deus, de tal modo que
todo ser, sejam lá quais forem seu talho ou sua qualidade,
como natureza, só pode ser um bem"."
Os homens "medem pela sua inteligência humana,
mutável e limitada, a inteligência divina absolutamente imu-
tável, capaz de abarcar a infinidade e de enumerar os inú-
meros seres sem mudar de pensamento. [...] A sua obra [de
Deus] nova pode aplicar um plano [de ação] que não é novo
mas eterno. Não é arrependendo-se duma abstenção an-
terior que Ele começou a fazer o que nunca foi feito. Se ele
primeiro se absteve e depois atuou (não sei como poderá um
homem compreendê-lo), estas palavras primeiro e depois apli-
cam-se indubitavelmente aos seres que antes não existiam e
existiram depois; mas n'Ele nenhuma vontade subseqüente
modificou ou suprimiu uma vontade precedente, mas com
uma e mesma eterna e imutável vontade fez que na criação
não existissem os seres que ainda não tinham existência e,
depois, que existissem os que começaram a tê-la. Mostravam
talvez assim, de uma maneira admirável, aos que são capazes
de o compreender, que nenhuma necessidade tinha desses
seres, mas criava-os por uma bondade gratuita pois que, en-
quanto permaneceu sem eles durante toda uma eternidade,
nem por isso tinha sido menos feliz". 5
"É certo que muitas coisas más são pelos maus praticadas
contra a vontade de Deus. Mas tão grande é a sua sabedoria
e tamanha é a sua virtude que tudo, mesmo o que parece
contrário à sua vontade, tende para os fins e resultados que
Ele antecipadamente viu como bons e justos. Por isso, quan-
do se diz que Deus muda de vontade, que, por exemplo, fica
irado contra aqueles para quem era brando - não foi Ele
mas foram os homens que mudaram e de certo modo o acham
mudado nas mudanças que experimentaram: tal como o Sol
muda para os olhos enfermos - de suave torna-se de certa
maneira áspero, de deleitoso torna-se molesto, embora ele
próprio continue a ser o mesmo que era."?
"O único Deus, que por ser imutável, é o princípio de
todo ser mutável."?
"Preferia sustentar que a tua imutável natureza era fatal-
mente condenada ao erro, a confessar que a minha, mutável,
se tivesse desencaminhado por livre vontade e tivesse ficado
sujeita ao erro por castigo."8
"J á me disseste, Senhor, com voz forte no meu íntimo,
que és eterno, o único a possuir a imortalidade, pois nunca
mudas nem de forma nem de movimento, e tua vontade não
varia conforme o tempo, pois uma vontade mutável não pode
ser imortal. Este fato me é claro diante de ti."?

« 'Pai Nosso!' Com esse nome, inflama-se o amor, pois o


que pode ser mais amado pelos filhos do que o seu Pai? E ao
chamarem os homens a Deus de 'Pai Nosso', aviva-se também
neles o afeto suplicante e a certeza de obterem o que vai ser
pedido. [...] Com efeito, o que não concederia Deus a seus
filhos suplicantes, havendo já lhes outorgado a filiaçãodivina?"1O
"Com razão, pois, entendam-se que as palavras: 'Pai nosso
que estás no céu' significam que ele está no coração dos jus-
tos, onde Deus habita como em seu santo templo. Por aí tam-
bém, quem ora há de querer ver habitar em si mesmo aquele
a quem ora e nessa nobre ambição será fiel à justiça que é o
melhor modo de convidar Deus a vir estabelecer sua morada
na própria alma."ll

DEUS, TRINDADE
"6 minha fé, vai avante na tua confissão. Diz ao Senhor
teu Deus: santo, santo, santo é o Senhor meu Deus. Fomos
batizados em teu nome, Pai, Filho e Espírito Santo."12
"O Pai, o Filho e o Espírito Santo, isto é, a própria Trinda-
de, una e suprema realidade, é a única Coisa a ser fruída,
bem comum de todos. Se é que pode ser chamada Coisa e
não, de preferência, a causa de todas as coisas - se também
puder ser chamada causa. Não é fácil encontrar um nome
que possa convir a tanta grandeza e servir para denominar
de maneira adequada a Trindade. A não ser que se diga que
é um só Deus, de quem, por quem e para quem existem to-
das as coisas (Rm 11.36). Assim, o Pai, o Filho e o Espírito
Santo são, cada um deles, Deus. E os três são um só Deus.
Para si próprio, cada um deles é substância completa e, os
três juntos, uma só substância. O Pai não é o Filho, nem o
Espírito Santo. O Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo. E
o Espírito Santo não é o Pai nem o Filho. O Pai é só Pai, o
Filho unicamente Filho, e o Espírito Santo unicamente Espí-
rito Santo. Os três possuem a mesma eternidade, a mesma
imutabilidade, a mesma majestade, o mesmo poder. No Pai
está a unidade, no Filho a igualdade e no Espírito Santo a
harmonia entre a unidade e a igualdade. Esses três atributos
todos são um só, por causa do Pai, todos são iguais por causa
do Filho e todos [são] conexos por causa do Espírito Santo."13
"Os diferentes nomes aplicados a cada uma das três pessoas
na Trindade traduzem relação recíproca, tais como: Pai e Fi-
lho, e o Dom de ambos, o Espírito Santo. Com efeito, não se
pode dizer que o Pai é a Trindade, ou que o Filho é a Trinda-
de, nem o Dom ser a Trindade. O que é dito, porém, de
cada um dos três em relação a si mesmo é dito não no plural,
mas no singular, pois é referente a uma única realidade: a
própria Trindade."14
"Creia o homem no Pai, no Filho e no Espírito Santo,
como um só e único Deus, grande, onipotente, bom, justo,
misericordioso, criador de todas [as] coisas visíveis e invisí-
veis, e tudo o mais que dele se possa dizer digna e verdadeira-
mente, conforme a capacidade da inteligência humana. E
quando ouvir dizer que o Pai é um só Deus, não separe o
Filho e o Espírito Santo, porque com ele são um só Deus.
Quando ouvir dizer que o Filho é um só Deus é mister en-
tender assim, mas sem separá-lo do Pai e do Espírito Santo. E
de tal modo diga que existe uma só essência, e não considere
a essência de um ser maior ou melhor do que a do outro e
diferente em algum aspecto. Contudo, não pense que o Pai é
o Filho ou Espírito Santo ou qualquer coisa que uma pessoa
em separado diga em relação às outras, como, por exemplo,
o termo 'Verbo' aplica-se somente ao Filho, e Dom afirma-se
somente a respeito do Espírito Santo."15
"Com respeito às relações mútuas na Trindade, se aquele
que gerou é princípio do gerado, o Pai é princípio em refe-
rência ao Filho, porque o gerou. Entretanto não é uma in-
vestigação de pouca importância inquirir se o Pai é também
princípio com relação ao Espírito Santo, pois está escrito:
procede do Paí. Se assim for, é princípio não somente do que
gera ou faz (o Filho), mas também da Pessoa que ele dá (o
Espírito). Isso lançaria urna possível luz sobre a questão que a
muitos preocupa, sobre a possibilidade de dizer-se que o Es-
pírito Santo também seja Filho, já que sai do Pai, corno se lê
no Evangelho 00 15.26). Saiu do Pai, sim, mas não corno
nascido, mas corno Dom, e, por isso, não se pode dizer filho,
já que não nasceu corno o Unigênito, nem foi criado corno
nós, que nascemos para a adoção filial pela graça de Deus."16
"Não há, pois, senão um bem simples e, conseqüentemen-
te, senão um bem imutável - Deus. E este bem criou todos
os bens que, não sendo simples, são, portanto, mutáveis.
Digo, precisamente, criou, isto é, fez, e não gerou. É que o
que é gerado de um ser simples é simples corno ele e é o
mesmo que aquele que o gerou. A estes dois seres chamamos
Pai e Filho e um e outro com o seu Santo Espírito são um só
Deus. A este Espírito do Pai e do Filho se chama nas Sagra-
das Escrituras Espírito Santo por urna espécie de apropria-
ção deste nome. É, porém, distinto do Pai e do Filho, pois
não é nem o Pai nem o Filho. Disse que é distinto mas não é
outra coisa, porque também Ele é igualmente simples, igual-
mente imutável e coeterno. E esta Trindade é um só Deus e
não deixa de ser simples por ser Trindade. [...] É por isso que
se chama simples a natureza que nada tem que possa perder;
ou é simples a natureza em que aquele que tem se identifica
com aquilo que tem. [Portanto] chamam-se simples as perfei-
ções que, por excelência e na verdade, constituem a natureza
divina: porque nelas não é a substância urna coisa e a quali-
dade outra coisa."17
"Entenda também que, assim corno o Pai tem a vida em si
mesmo, para que dele proceda o Espírito Santo, assim deu
ao Filho para que dele também proceda o mesmo Espírito
Santo, o qual procedeu de ambos, fora do tempo. E pelo
fato de dizer-se que o Espírito Santo procede do Pai, deve-se
entender que o Filho recebe-o do Pai, e então, o Espírito
Santo procede também do Filho. Pois o que o Filho tem, re-
cebe-o do Pai, e assim recebe do Pai para que dele proceda, o
mesmo Espírito Santo."18
"Quem poderá compreender a Trindade onipotente? E
quem não fala dela, ainda que não a compreenda? É rara a
pessoa que, ao falar da Santíssima Trindade, saiba o que diz.
Discute-se, debate-se, mas ninguém é capaz de contemplar
essa visão, sem paz interior. Quisera meditassem os homens
sobre três coisas que têm dentro de si mesmos, as três bem
diferentes da Trindade. Indico-as, para que se exercitem, e
assim experimentem e sintam quão longe estão desse misté-
rio. Aludo à existência, ao conhecimento e à vontade. De
fato existo, conheço e quero. Existo, sabendo e querendo; sei
que existo e quero; quero existir e conhecer. Repare, quem
puder, como é inseparável a vida nessas três faculdades: uma
só vida, uma só inteligência, uma só essência. Como são
inseparáveis os objetos dessa distinção. Distinção, no entan-
to, que existe! Cada um está diante de si mesmo. Estude-se,
veja e responda-me. Contudo, mesmo que reflita e me res-
ponda, não julgue ter compreendido a essência deste Ser
imutável que está acima de todas as criaturas, o Ser que
imutavelmente existe, imutavelmente sabe e imutavelrnente
quer. Será porventura graças a essas três faculdades que há
em Deus a Trindade, ou essa tríplice faculdade existe em cada
uma das três Pessoas, de modo a serem três em cada uma?
Ou ambas as coisas se realizam de modo admirável, numa
simplicidade múltipla, sendo a Trindade o seu próprio fim
infinito, pela qual existe, se conhece e se basta imutavelmente,
na grande abundância de sua Unidade? Quem poderia ex-
primir facilmente esse conceito? Quem teria palavras para o
exprimir? Quem, de algum modo, ousaria pronunciar-se te-
merariamente a esse respeitor'"?
"O fundamento para seguir esta religião [cristã] é a histó-
ria e a profecia. Aí se descobre a disposição da divina Provi-
dência, no tempo, em favor do gênero humano, para
reformá-lo e restaurá-lo, em vista da posse da vida eterna.
Crendo nisso, a mente vai se purificando num modo de vida
ajustado aos preceitos divinos. Isso a habilitará à percepção
das realidades espirituais. Essas realidades não são nem do
passado, nem do futuro, mas são sempre idênticas a si mes-
mas, imunes de qualquer mudança temporal. Trata-se do
mesmo e único Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Conhecida
essa Trindade - quanto é possível na vida presente - sem
dúvida alguma a mente percebe que toda criatura intelec-
tual, animal e corporal recebe dessa mesma Trindade cria-
dora: o ser para ser o que é; a sua forma; e a direção dentro da
perfeita ordem universal. Não se entenda por aí, porém, que
apenas parcela das criaturas é feita pelo Pai, outra pelo Filho
e outra ainda pelo Espírito Santo. O certo é que todas e cada
uma das naturezas individuais recebe a criação do Pai pelo
Filho, no dom do Espírito Santo. Visto que todas as coisas,
substância, essência, natureza ou qualquer outro termo mais
adequado que se dê possui ao mesmo tempo estas três pro-
priedades: é algo único, distingue-se por sua forma das de-
mais coisas, e está dentro da ordem universal."2o
"Quando chegarmos à tua presença, cessará o muito que
dissemos, mas muito nos ficará por dizer e tu permanecerás
só, tudo em todos (lCo 15.28), e então eternamente canta-
remos um só cântico, louvando-te em um só movimento, em
ti estreitamente unidos. Senhor, único Deus, Deus Trinda-
de, tudo o que disse de ti nestes livros, de ti vem. Reconhe-
çam-no os teus, e se algo há de meu, perdoa-me e perdoem-me
os teus. Amém. "21
"Se o pudesses compreender, ele não seria Deus."22
DEUS, ÚNICO
"Seu nome é grande, lá onde for pronunciado com o res-
peito devido à sua majestade. Assim, pois, é santo o seu nome
ali onde, com veneração e temor de o ofender, ele vier a ser
nomeado."23
"Deus, criador de todas as coisas, concedei-rne primeira-
mente que eu faça uma boa oração; em seguida, que me tor-
ne digno de ser ouvido por ti; por fim, que me atendas. [...]
Deus, Pai da verdade, Pai da sabedoria, Pai da verdadeira e
suprema vida, Pai da felicidade, Pai do que é bom e belo, Pai
da luz inteligível, Pai de nosso desvelo e iluminação, Pai da
garantia pela qual somos aconselhados a retornar a ti. Eu te
invoco, Deus Verdade, em quem, por quem e mediante quem
é verdadeiro tudo o que é verdadeiro. Deus Sabedoria, em
quem, por quem e mediante quem têm sabedoria todos os
que sabem. [...] Deus, cujo reino é o mundo inteiro, a quem
o sentido não percebe. [...] Deus, de quem separar-se signifi-
ca cair, a quem retornar significa levantar-se, em quem per-
manecer significa ser firme. Deus, de quem afastar-se é
morrer, ao qual voltar é reviver, em quem habitar é viver.
Deus, a quem ninguém deixa senão enganado, a quem nin-
guém busca senão estimulado para isso, a quem ninguém
encontra senão purificado. Deus, a quem abandonar é o
mesmo que perecer, a quem acatar é o mesmo que amar, a
quem ver é o mesmo que possuir. Deus, a quem a fé nos
estimula, a esperança nos eleva, o amor nos une. [...] Amo
somente a ti, sigo somente a ti, busco somente a ti; estou dis-
posto a servir somente a ti e desejo estar sob a tua jurisdição,
porque somente tu governas com justiça. [...] Afasta de mim
a ignorância para que eu te reconheça. Dize-me para onde
devo voltar-me para ver-te e espero fazer tudo o que manda-
res. [...] Faze, Pai, que eu te procure, mas livra-me do erro.
Nenhuma outra coisa, além de ti, se apresente a mim, que te
estou procurando. Se nada mais desejo senão a ti, Pai, então
eu te encontro logo. Mas se houver em mim desejo de algo
supérfluo, limpa-me dele e torna-me apto a ver-te."24
"Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde de-
mais eu te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu te
procurava do lado de fora! Eu, disforme, lançava-me sobre
as belas formas das tuas criaturas. Estavas comigo, mas eu
não estava contigo. Retinham-me longe de ti as tuas criatu-
ras, que não existiriam se em ti não existissem. Tu me cha-
maste, e teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e
brilhaste e tua luz afugentou a minha cegueira. Espargiste
tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti. Eu te saboreei,
e agora tenho fome e sede de ti. Tu me tocaste, e agora estou
ardendo no desejo de tua paz. Quando estiver unido a ti
com todo o meu ser, não mais sentirei dor e cansaço. Minha
vida será verdadeiramente vida, toda plena de ti. Alivias aque-
les a quem plenamente satisfazes. Não estando ainda repleto
de ti, sou um peso para mim mesmo. Minhas alegrias, que
deveriam ser choradas, contrastam em mim com as tristezas
que deveriam causar-me júbilo, e ignoro de que lado está a
vitória. [...] Ai de mim! 'Tem piedade de mim, Senhor!' Ai
de mim! Vês que não escondo minhas chagas. Tu és o médi-
co, eu sou o enfermo. Tu és misericordioso, e eu sou miserá-
vel. Não 'é uma provação a vida do homem sobre a terra'?
Quem deseja trabalhos e dificuldades? Ordenas aos homens
que as suportem [...]. Execráveis as prosperidades do mun-
do, duas vezes execráveis, seja pelo temor da adversidade,
seja pela corrupção da alegria! Amargas adversidades do
mundo, uma, duas e três vezes amargas, por causa do desejo
da prosperidade, pela dureza da adversidade e pelo medo de
que esta vença nossa capacidade de suportá-la! Quem pode-
rá negar que a vida humana sobre a terra seja uma tentação
sem tréguas?"25

81
"Eu quero a ti, ó justiça, ó inocência, beleza que atrai
ó

o olhar dos virtuosos, que em ti se satisfazem sem jamais se


saciar."26
" 'Grande és tu, Senhor, e sumamente louvável: grande a
tua força, e a tua sabedoria não tem limite'. E quer louvar-te
o homem, esta parcela de tua criação; o homem carregado
com sua condição mortal, carregado com o testemunho de
seu pecado e com o testemunho de que resistes aos soberbos;
e, mesmo assim, quer louvar-te o homem, esta parcela de tua
criação. Tu o incitas para que sinta prazer em louvar-te; fizes-
te-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não
repousa em ti."27
Deus estava "mais dentro de mim do que a minha parte
mais Íntima. E [tu, Deus,] eras superior a tudo o que eu ti-
nha de mais elevado". 28

o aluno já possui uma apreensão interna da verdade: "por


conseguinte, nem sequer a este, que vê coisas verdadeiras,
ensino algo dizendo-lhe a verdade, porque aprende não pe-
las minhas palavras, mas pelas próprias coisas, que a ele inte-
riormente revela Deus".'
"No que diz respeito a todas as coisas que compreende-
mos, não consultamos a voz de quem fala, a qual soa por
fora, mas a verdade que dentro de nós preside à própria
mente, incitados talvez pelas palavras a consultá-la. Quem é
consultado ensina verdadeiramente, e este é Cristo, que ha-
bita, como foi dito, no homem interior (Ef3.16,17)."2
As palavras são, por si próprias, instrumentos inadequa-
dos para ensinar, para comunicar o que cada pessoa sente e
sabe em seu íntimo: "com as palavras não aprendemos senão
palavras; antes, o som e o ruído das palavras, porque, se o
que não é sinal não pode ser palavra, não sei também como
possa ser palavra aquilo que ouvi pronunciado como palavra
enquanto não lhe conhecer o significado. Só depois de co-
nhecer as coisas se consegue, portanto, o conhecimento com-
pleto das palavras; ao contrário, ouvindo somente as palavras,
não aprendemos nem sequer estas. Com efeito, não tivemos
conhecimento das palavras que aprendemos nem podemos
declarar ter aprendido as que não conhecemos, senão depois
que lhes percebemos o significado, o que se verifica não me-
diante a audição das vozes proferidas, mas pelo conhecimen-
to das coisas significadas". 3
"Por aí se conclui, com bastante clareza, que para apren-
der é mais eficaz a livre curiosidade do que um constrangi-
mento ameaçador.l"
Aprender envolve também uma mudança na atitude e
no comportamento: "por esse amor, portanto, como por um
alvo proposto, pelo qual digas tudo o que dizes, o que quer
que narres faze-o de tal forma que aquele que te ouve, ouvin-
do, creia e, crendo, espere e, esperando, ame"."
A fé é necessária e está acima e além daquilo que nós po-
demos saber por meio da experiência e da razão: "portanto,
creio tudo o que entendo, mas nem tudo que creio também
entendo. Tudo o que compreendo conheço, mas nem tudo
que creio conheço". 6
EDUCAÇÃO, MÉTODO
O professor deve estar genuinamente interessado e apre-
ciar o que está ensinando, porque apenas dessa maneira ele
irá superar o senso de inadequação das palavras para comu-
nicar tudo que deve ensinar: "um escândalo nos contrista
quando acreditamos ou vemos que o seu autor perece, ou faz
perecer um fraco. E aquele que vem para ser iniciado na fé
- esperando-se que possa fazer progressos - dissipará a dor
causada pelo faltoso. [...] Não sei por que as palavras são mais
ardentes nas advertências desse tipo. Alimenta-as a presença
da dor: tornamo-nos menos indolentes e por isso mesmo
dizemos mais inflamada e veementemente o que, livres de
preocupações, diríamos fria e lentamente"."
O professor deve genuinamente respeitar o estudante: "se
o ouvinte é demasiado inepto, surdo e indiferente a tais en-
cantos, deve ser suportado misericordiosamente". 8
Que o professor deve variar sua linguagem e sua aborda-
gem de acordo com o estudante: "mas porque agora tratamos
da instrução dos catecúmenos, posso eu mesmo testemunhar
que me impressiono diferentemente ao ver diante de mim
para serem catequizados o erudito, o tímido, o cidadão, o
estrangeiro, o rico, o pobre, o civil, o magistrado, o podero-
so, o representante desta ou daquela família, desta ou daque-
la idade, ou sexo, desta ou daquela seita, provindo deste ou
daquele erro vulgar. É de acordo com a diversidade do meu
sentimento que o meu comentário brota, se desenvolve e ter-
mina. E, apesar de que a mesma caridade se deve a todos, a
todos não se aplica o mesmo remédio: assim também, a mes-
ma caridade gera a uns, torna-se fraca em relação a outros,
procura edificar a uns, teme ferir a outros; inclina-se diante
de uns, ergue-se diante de outros; com uns carinhosa, com
outros severa, de nenhum inimiga, de todos é mãe". 9
o professor deve estimular seus estudantes e os incentivar
a se expressar: "deve ser afastado com branda exortação o
temor excessivo, que lhe impede manifestar a sua opinião;
deve-se moderar-lhe a timidez, fazendo-o notar que está en-
tre irmãos. É preciso descobrir por meio de perguntas se está
entendendo, e incutir-lhe confiança para que fale sem te-
mor se quiser opor alguma objeção. É preciso perguntar-lhe
também se já ouviu alguma vez estas verdades, e se o não
comovem - talvez por serem conhecidas e banais". 10
"E mais se deverá dizer a Deus, por ele, que de Deus, a
ele... "!!

ENTRETENIMENTO
"Somos mais propensos a nos entreter com brincadeiras e
jogos nos quais o que nos seduz não é a verdade pura. [...]
Ora, apegando-nos a essas frivolidades, afastamo-nos da Ver-
dade e não descobrimos mais aquilo que elas imitam."!2
"Deixemos de lado, repudiando, as ninharias do teatro e
da poesia. Essa curiosidade vã deixa-nos o espírito alquebra-
do de fome e sede. Suas fantasias ocas excitam, em vão, o
desejo do espírito de se refazer e se saciar, tal como se fossem
meros banquetes pintados numa tela. Eduquemo-nos, pro-
veitosamente, com este nobre jogo (do estudo das Escritu-
ras). É salutar jogo de homens livres."!"

ESCRITURA, CÂNON
"Quanto às Escrituras canônicas, siga a autoridade da
maioria das igrejas católicas, entre as quais, sem dúvida, se
contam as que mereceram ser sede dos apóstolos e receber
cartas deles. Eis o método que se há de observar no discerni-
mento das Escrituras canônicas: os livros que são aceitos por
todas as igrejas católicas se anteponham aos que não são acei-

85
tos por algumas. Por outro lado, entre os livros que algumas
igrejas não admitem, prefiram-se os que são aceitos pelas igre-
jas mais numerosas e importantes aos que são unicamente
aceitos pelas igrejas menos numerosas e de menor autorida-
de. Enfim, no caso de alguns livros serem aceitos por muitas
igrejas e outros pelas igrejas mais autorizadas, ainda que
isso seja difícil, eu opino que se atribua a ambas a mesma
autoridade." 14

"O cânon completo das Escrituras Sagradas [...] compre-


ende os seguintes livros: os cinco de Moisés, a saber: o Gêne-
sis, o Êxodo, o Levítico, os Números e o Deuteronômio; um
livro de Jesus, filho de Nave (josué) e um dos Juízes; um livri-
nho intitulado Rute, o qual parece pertencer ao começo da
história dos Reis; seguem-se os quatro dos Reinos e dois dos
Paralipômenos que não são a sua seqüência, mas por assim
dizer uma complementação. Todos esses livros são narração
histórica que contêm o desenvolvimento das épocas e a or-
dem dos acontecimentos. Há outras histórias de tipo dife-
rente que não possuem conexão com a ordem dos
acontecimentos anteriores, nem se relacionam entre si, como
os livros de Jó, de Tobias, de Ester, de Judite, os dois livros
dos Macabeus e os dois de Esdras. Estes parecem seguir an-
tes [d]aquela história que ficara suspensa com os livros dos
Reis e dos Paralipômenos. Depois, seguem os Profetas, entre
os quais se encontra um livro de Davi, os Salmos, três de Sa-
lomão: os Provérbios, o Cântico dos cânticos e o Eclesiastes.
Os outros dois livros, dos quais um é a Sabedoria e o outro o
Eclesiástico, são atribuídos a Salomão por certa semelhança
com os precedentes, mas comumente se assegura que quem
os escreveu foi Jesus, filho de Sirac. E, como mereceram ser
recebidos com autoridade (canônica), devem ser contados
entre os livros proféticos. Os livros restantes são os propria-
mente chamados dos Profetas. Doze são esses livros, corres-
pondendo cada qual a um profeta. Como estão conexos e
nunca foram separados, são contados como um só livro. Eis
o nome dos profetas: Oséias, joel, Amós, Obadias, Jonas, Mi-
quéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e
Malaquias. Em seguida, os quatro livros dos grandes profe-
tas: Isaías, Jeremias, Daniel e Ezequiel. Estes quarenta e qua-
tro livros possuem autoridade no Antigo Testamento. Quanto
ao Novo testamento, compreende os quatro livros do Evan-
gelho segundo são Mateus, são Marcos, são Lucas e são João;
as quatorze cartas de são Paulo: uma aos Romanos, duas aos
Coríntios, uma aos Gálatas, uma aos Efésios, uma aos Filipenses,
duas aos Tessalonicenses, uma aos Colossenses, duas a Timó-
teo, uma a Tito, uma a Filêmon e uma aos Hebreus; as duas
de são Pedro; as três de são João; o livro único dos Atos dos
Apóstolos e outro único de são João intitulado Apocalipse." 15
"Desde essa época da restauração do Templo até Aristó-
bulo, nunca mais houve reis, mas príncipes entre os judeus.
O cálculo do tempo deles não se encontra nas Sagradas Es-
crituras chamadas canônicas, mas em outros escritos, entre
os quais estão os livros dos Macabeus. Os judeus não os têm
por canônicos, mas tem-nos por tal a Igreja, devido aos cruéis
e admiráveis sofrimentos de alguns mártires que, antes da
vinda de Cristo na carne, combateram até a morte pela lei
de Deus e sofreram os mais graves e horríveis males."16
"Ponhamos de parte as fábulas dos escritos chamados
apócrifos [atribuídos aos antigos patriarcas Noé e Enoque],
pois a sua origem obscura pareceu suspeita aos 'padres' atra-
vés dos quais nos chega a autoridade das verdadeiras Escritu-
ras por uma sucessão bem segura e conhecida. Embora nesses
apócrifos se encontre alguma verdade, os seus numerosos
erros retiram-lhe toda a autoridade canônica. [...] Da mesma
forma muitos escritos foram apresentados pelos heréticos sob
o nome de outros profetas e outros, mais recentes, sob o nome
dos apóstolos. Depois de um exame cuidadoso foram todos
postos de parte como apócrifos pela autoridade canônica.?'"

ESCRITURA, INSPIRAÇÃO
"Lembra-se do que vou dizer. Uma só é a palavra de Deus
que se estende por todas as Escrituras; e através da boca de
muitos santos ressoa um só Verbo, que sendo no princípio
Deus junto de Deus, lá não consta de sílabas, porque está
fora do tempo."18
"As Sagradas Escrituras, absolutamente verídicas."19
Deus "instituiu também a Escritura chamada canônica e
investida da mais alta autoridade. Nela acreditamos a respei-
to de tudo o que convém não ignorar e que somos incapazes
de conhecer por nós próprios". 20
''Aprendi a reverenciar unicamente àqueles livros que cha-
mo de canônicos. Creio, portanto, com muita firmeza, que
nenhum dos autores desses livros cometeu qualquer tipo de
erro em seus escritos."21
As doutrinas cristãs "devem ser defendidas pela razão, que
deve ter seu ponto de partida ou no sentido físico ou nas
intuições da mente. E aquilo que nem experimentamos atra-
vés dos sentidos do nosso corpo, nem conseguimos atingir
mediante [nosso] intelecto, deve indubitavelmente ser crido
com base no testemunho daquelas testemunhas através das
quais foram escritas as Escrituras, corretamente chamadas
divinas; essas testemunhas foram capacitadas, ou mediante
seu sentido físico ou sua percepção intelectual, a ver ou pre-
ver as respectivas coisas".22
''As Escrituras Sagradas [...], com toda a razão, gozam de
admirável autoridade no mundo inteiro: foram essas Escri-
turas que, sob a ação divina, entre outras coisas que já se
verificaram, predisseram que nelas viriam a acreditar todos
os pOVOS."23
"Oh! Admirável profundidade das tuas palavras! Essa tal
profundidade está diante de nós como um rosto sorridente
diante das crianças. Mas como é admirável essa profundida-
de, meu Deus, como é admirável essa profundidade! Que-
rer perscrutá-la infunde tremor, tremor diante de tamanha
grandeza, tremor de amor! Odeio com veemência os inimi-
gos dela."24
Não nos cabe formular juízos "a respeito da tua Escritura,
ainda que contenha passagens obscuras, porque a ela sub-
metemos a inteligência, e temos como justo e verdadeiro até
mesmo o que permanece velado à nossa compreensâo'l."
"Senhor, por acaso não será verdadeira a tua Escritura,
ditada que foi por ti, que és verdadeiro, ou melhor, que és a
própria Verdade? [...] E dizes, falando com voz poderosa ao
ouvido interior do teu servo, rompendo-lhe a surdez e cla-
mando: 'o que a minha Escritura diz, eu digo' ."26
"De tudo que foi dito [...] esta é a suma: que se entenda
ser a plenitude e o fim da Lei, como de toda a Escritura divi-
na, o amor àquela Coisa, que será nosso gozo (Rm 13.10;
1Tm 1.5); e o amor dos que podem partilhar conosco da-
quela fruição."27
A Escritura "é a palavra do Espírito de Deus, porque, sem
que ele inspire, nós não a diríamos"."
Os hagiógrafos são "dedos de Deus".29
"O Espírito de Deus [fala, mas] por intermédio dos ho-
mens."30
"Os que a lêem não desejam encontrar nela mais do que o
pensamento e a vontade dos que a escreveram e desse modo

89
chegar a conhecer a vontade de Deus, segundo a qual crêem
que esses homens compuseram."31
"Não duvido de que a obscuridade dos Livros santos seja
por disposição particular da Providência divina, para vencer
o orgulho do homem pelo esforço e para premunir seu espí-
rito do fastio, que não poucas vezes sobrevém aos que traba-
lham com demasiada facilidade."32
"Lemos que pelo dedo de Deus foi gravada a Lei e dada
por meio de Moisés, seu santo servo (Ex 31.18; Dt9.10);
muitos entendem por dedo de Deus o Espírito Santo. Por
isso, se julgarmos com acerto serem os dedos de Deus os seus
ministros, cheios do Espírito Santo, por causa do mesmo Es-
pírito que nele opera, uma vez que compuseram para nós
toda a divina Escritura, interpretaremos aqui de modo ade-
quado como céus os livros de ambos os Testamentos. [...] Ve-
rei e entenderei as Escrituras, que escreveste por obra do
Espírito Santo, através de teus ministros. "33
"Estes livros são obra dos dedos de Deus. Foram compos-
tos por inspiração do Espírito Santo aos santos. "34
"Todo aquele que nas Escrituras entende de modo dife-
rente ao do autor sagrado engana-se em meio mesmo da ver-
dade, visto que as Escrituras não mentem. "35
"A fé cambaleará se a autoridade das Escrituras vacilar."36

"Resolvi por isso dedicar-me aos estudos das Sagradas Es-


crituras, para conhecê-las. E encontrei um livro que não se
abre aos soberbos, e que também não se revela às crianças;
humilde no começo, mas que nos leva aos píncaros e está
envolto em mistério, à medida que se vai à frente. Eu era inca-
paz de nele penetrar ou de baixar a cabeça à sua entrada."3?
"É por isso que no Antigo Testamento esconde-se o Novo,
e no Novo encontra-se a manifestação do Antigo.":"
"Embora os do Antigo [Testamento] sejam os primeiros
no tempo, todavia os do Novo [Testamento] devem antepor-
se-lhes devido à sua dignidade, uma vez que os do Antigo são
um anúncio dos do Novo."39
"Se não penetramos na intenção do autor desse livro, pelo
menos não nos afastamos da regra de fé que é tão bem co-
nhecida dos fiéis através de outras passagens das Sagradas
Escrituras com a mesma autoridade.T"
"Quando lemos os autores cuja autoridade não nos é per-
mitido afastar, tomemos as suas palavras no sentido próprio
sempre que uma correta interpretação não nos mostrar ou-
tra saída."?'
"Os que lêem a Escritura inconsideradamente enganam-
se com as múltiplas obscuridades e ambigüidades, tomando
um sentido por outro. Nem chegam a encontrar, em algu-
mas passagens, alguma interpretação. E assim, projetam so-
bre os textos obscuros as mais espessas trevas."42
"Se acontecer de o leitor ler alguns pecados cometidos
por grandes homens, pode, é certo, notar e descobrir aí uma
figura dos acontecimentos futuros. Todavia, que ele retire do
caráter particular do ato cometido a seguinte lição: de modo
algum, ter a ousadia de se vangloriar de suas boas ações, nem,
graças à sua própria retidão, condenar os outros como peca-
dores, vendo tão excelsos varões envoltos em tempestades que
devem ser evitadas, ou em naufrágios inteiramente lamentá-
veis. Aliás, os pecados deles não foram relatados a não ser
para tornar temido, em toda parte, este pensamento do Após-
tolo: 'Assim, pois, aquele que julga estar de pé, tome cuidado
para não cair' (l Co 10.12). Quase não há página alguma

'lI
nos santos Livros onde não ressoe esta palavra: 'O Senhor
resiste aos soberbos, mas dá sua graça aos humildes' ."43
"Nas passagens mais claras se há de aprender o modo de
entender as obscuras."44
"Quando das mesmas palavras da Escritura são tirados
não somente um, mas dois ou vários sentidos - ainda que
não se descubra qual foi o sentido que o autor tenha em vista
- não há perigo em adotar qualquer deles. Sob a condição,
porém, de poder mostrar, através de outras passagens das
santas Escrituras, que tal sentido combina com a verdade."45
"Esta é a suma: que se entenda ser a plenitude e o fim da
Lei, como de toda a Escritura divina, o amor àquela Coisa,
que será nosso gozo (Rm 13.10; lTm 1.5); e o amor dos que
podem partilhar conosco daquela fruição.":"
"Em todo caso, todo aquele que nas Escrituras entende
de modo diferente ao do autor sagrado engana-se em meio
mesmo da verdade, visto que as Escrituras não mentem."47
"Comecei então a notar que eram defensáveis suas teses
[de Ambrósio], e logo vim a perceber não ser temerário de-
fender a fé que eu supunha impossível opor aos ataques dos
maniqueus. E isso, sobretudo, porque via resolverem-se uma
a uma as dificuldades de várias passagens do Antigo Testa-
mento que, tomadas ao pé da letra, me tiravam a vida. Ou-
vindo agora a explicação espiritual de tais passagens, eu me
reprovava a mim mesmo por ter acreditado que a Lei e os
Profetas não pudessem resistir aos ataques e insultos de seus
inimigos.T"
"Logo descobri também que teus filhos espirituais, rege-
nerados pela graça na santa Igreja católica, não entendiam
as palavras onde se diz que 'o homem foi criado por ti à tua
imagem', no sentido de te acreditarem e julgarem encerrado
na forma de corpo humano. Eu, que nem de longe suspeita-
va o que era substância espiritual, então me envergonhei ale-
gremente de ter vociferado por tantos anos, não contra a fé
católica, mas contra as ficções criadas por imaginações car-
nais. [...] Assim, sentia-me confuso e transformado, e estava
contente, ó Deus meu, porque tua Igreja única, o corpo do
teu único Filho, em cujo seio desde menino aprendi o nome
de Cristo, não tinha nenhum gosto por questões pueris, e
que sua autêntica doutrina não cometia o erro de circuns-
crever-te, ó Criador de tudo, num espaço que, embora alto e
amplo, seria limitado de todos os lados por configurações de
corpo humano.?"
"Alegrava-me, também, por ter aprendido a ler as antigas
Escrituras da Lei e dos Profetas, com interpretação diferente
daquelas que antes me pareciam absurdas, quando eu acusa-
va teus santos de terem fé em coisas nas quais realmente não
acreditavam. Alegrava-me ouvir Ambrósio quando, muitas
vezes em seus sermões, recomendava ao povo a norma a ser
escrupulosamente observada: a 'letra' mata, 'mas o espírito
comunica a vida'."50
"Que tuas Escrituras sejam castas delícias para mim; que
eu não me engane sobre elas, nem a outros engane com elas."51
"Não duvido de que a obscuridade dos Livros santos seja
por disposição particular da Providência divina, para vencer
o orgulho do homem pelo esforço e para premunir seu espí-
rito do fastio, que não poucas vezes sobrevém aos que traba-
lham com demasiada facilidade."52
"O homem temente a Deus procura diligentemente a
vontade divina nas santas Escrituras. Pacificado pela pieda-
de, que não ame as controvérsias. Munido do conhecimento
das línguas, que não se veja embaraçado por palavras e ex-
pressões desconhecidas. Provido de certos conhecimentos

93
necessários, que saiba identificar a natureza e as proprieda-
des das coisas quando empregadas a título de comparação.
Finalmente, apoiado na exatidão do texto obtido por traba-
lho consciencioso de correção, que ele, assim preparado, possa
dissipar e resolver as ambigüidades das Escrituras."53
"Uma vez prestada a devida atenção, se ainda aparece
incerto ao estudioso como deve pontuar ou pronunciar,
que ele consulte as Regras de fé (Regula fideí) adquiridas
em outras passagens mais claras da Escritura. Ou então,
que recorra à autoridade da Igreja. [...] Mas no caso de dois
sentidos, ou todos eles, caso forem muitos, resultarem am-
bíguos, sem nos afastarmos da fé, resta-nos consultar o con-
texto anterior, e o seguinte à passagem onde está a ambi-
güidade. Veremos por aí, entre os diversos sentidos que se
oferecem, qual o melhor ou com qual o texto mais se har-
moniza."54
"Um homem fala com tanto maior sabedoria, quanto maior
ou menor progresso faz na ciência das santas Escrituras. E eu
não me refiro ao progresso que consiste em ler bastante as
Escrituras, ou aprendê-las de cor, mas do progresso que con-
siste em compreendê-las bem e procurar diligentemente o
seu sentido."55

"Se quereis seguir a autoridade das Escrituras, que a tudo


devem ser preferidas, segui aquela que, desde o tempo em
que o próprio Cristo estava presente, pelo ministério dos
apóstolos e pela sucessão dos bispos nas sedes que vêm dos
apóstolos, foi conservada até o tempo atual em todo o uni-
verso, recomendada, glorificada. Vereis aí, com efeito, as pró-
prias passagens obscuras do Antigo Testamento esclarecidas
e suas predições realizadas."56
"Eu tinha de estudar todas as suas prescrições nas Escritu-
ras, orar e ler, agindo de tal modo que força suficiente para
tais deveres perigosos fosse concedida à minha alma. Não o
fiz antes porque não tive tempo, mas tão logo recebi ordem,
planejei usar todo o tempo de lazer para estudar as Escritu-
ras Sagradas. [...] Ajuda-me [...] com suas orações. [...] Sei
que o Senhor não despreza a piedade das orações em tal cau-
sa, mas talvez ele as aceitará como um sacrifício de aroma
suave e me restaurará em tempo mais curto do que eu tinha
pedido, armado com o conhecimento salvadordas Escrituras."57
"Eu, que vos falo, estava iludido no passado, quando, ainda
em minha juventude, tentei começar a aplicar às Escrituras divi-
nas discussões críticas, em vezde piedosa investigação. Em mi-
nha moralidade lassa, fechei meu próprio acesso ao Senhor.
[...] Em meu orgulho, ousei procurar aquilo que nenhum
homem pode achar, a menos que pratique a humildade."58
"Não conhecemos outros livros que tão eficazmente des-
truam a soberba e abatam o inimigo, o defensor que resiste à
idéia de reconciliar-te contigo, defendendo os próprios pe-
cados. Não conheço, Senhor, não conheço palavras tão pu-
ras, que tanto me induzissem a confessar-te, a tomar sobre
minha cabeça o teu jugo, que me convidassem a prestar-te
tão desinteressado culto. Oxalá eu compreenda essas verda-
des, ó Pai bondoso. Concede-me essa graça, porque me sub-
meti a ti e estabeleceste firmemente aquelas palavras para as
almas submissas."59
''Aquele que se alimenta interiormente com a palavra de
Deus não procura no deserto desta vida o prazer."60
"Tornaste justos os ímpios, separaste-os dos pecadores e
confirmaste a autoridade da tua Escritura entre os homens
superiores, para que fossem dóceis a ti, e entre os inferiores,
para que a eles se submetessem."61
"Dediquemo-nos a alimentar-nos e a beber no estudo e
na aplicação às divinas Escrituras!"62
"Se alguém julga ter entendido as Escrituras divinas ou
partes delas, mas se com esse entendimento não edifica a
dupla caridade - a de Deus e a do próximo - , é preciso
reconhecer que nada entendeu."63

ESPÍRITO SANTO
O Espírito Santo é a "Caridade suprema que une as duas
outras pessoas [o Pai ao Filho] e que nos submete a elas".64
"O Espírito Santo procede principalmente do Pai, pelo
dom que o Pai fez ao Filho [...], e conjuntamente procede de
ambos."65
"O Espírito Santo, conforme as Escrituras, não é somente
o Espírito do Pai, nem somente o Espírito do Filho, mas de
ambos. E essa certeza insinua-se a nós acerca dessa caridade
mútua com que o Pai e o Filho se amam mutuamente."66
"Se alguma das três Pessoas deve receber a denominação
de Caridade, quem com mais propriedade senão o Espírito
Santo?"67
"Refere-se, portanto, ao Espírito, onde se lê: Deus é Amor
[lJo 4.16]. Conseqüentemente, o Espírito Santo, que pro-
cede de Deus, quando é outorgado ao homem, inflama-o de
amor por Deus e pelo próximo, sendo ele mesmo o Amor."68
"Nada há mais excelente do que este dom de Deus. É a
única coisa que distingue os filhos do Reino eterno dos filhos
da perdição eterna. Outros dons são também concedidos por
meio do Espírito Santo, os quais, porém, nada aproveitam
sem a caridade. "69
"Entenda, porém, que o gerou [o Filho] fora do tempo,
de tal modo que a vida que o Pai deu ao Filho ao gerá-lo é
coeterna à vida do Pai que a deu. Entenda também que, as-
sim como o Pai tem a vida em si mesmo, para que dele proce-
da o Espírito Santo, assim deu ao Filho para que dele também
proceda o mesmo Espírito Santo, o qual procedeu de am-
bos, fora do tempo. E pelo fato de dizer-se que o Espírito
Santo procede do Pai, deve-se entender que o Filho recebe-o
do Pai, e então, o Espírito Santo procede também do Filho.
Pois o que o Filho tem, recebe-o do Pai, e assim recebe do Pai
para que dele proceda, o mesmo Espírito Santo. "70
"Portanto, se queres saber se recebestes o Espírito, inter-
roga teu coração. Pergunta-te se acaso não recebeste o sacra-
mento sem ter recebido a virtude do sacramento. Interroga
o teu coração! Se encontrares aí o amor, fica tranqüilo! Não é
possível aí estar a caridade, sem estar o Espírito de Deus!"71

ETERNIDADE
o Verbo "é pronunciado eternamente, e por ele todas as
coisas são eternamente proferidas. Pois o que foi dito não foi
sucessivamente proferido - uma coisa concluída para que a
seguinte pudesse ser dita, mas todas as coisas proferidas simultâ-
nea e eternamente. Se assim não fosse, já haveria tempo e mu-
dança, e não verdadeira eternidade e verdadeira imortalidade". 72
"Tu existes antes de todos os tempos, eterno Criador de
todos os tempos; que nenhum tempo é coeterno contigo,
nem criatura alguma, se bem que haja algumas superiores ao
tempo."73
"Na eternidade nada passa, tudo é presente, ao passo que
o tempo nunca é todo presente."74

EUCARISTIA, CEIA DO SENHOR


"6 sacramento da piedade! 6 sacramento da unidade!
6 vínculo da caridade!"75

97
''A Eucaristia é nosso pão cotidiano. A virtude própria desse
alimento divino é uma força de união que nos vincula ao
Corpo do Salvador e nos faz seus membros, a fim de que nos
transformemos naquilo que recebemos [...]. O pão cotidiano
está ainda nas leituras que ouvis cada dia na Igreja, nos hinos
que são cantados e que vós cantais. Tudo isso é necessário à
nossa peregrinação."76
"O que recebeis é o vosso próprio símbolo. Ao que sois,
respondeis: 'Amém!'. E essa resposta marca a vossa adesão.
Escutas: 'O corpo de Cristo!' e respondes: 'Amém!'. Torna-te
um membro de Cristo, para que o teu 'Amém!' seja verda-
deiro."77
''Aquele pão que vedes sobre o altar, santificado pela Pala-
vra de Deus, é o corpo de Cristo. Aquele cálice, santificado
pela Palavra de Deus, é o sangue de Cristo. Por meio destes
elementos, o Senhor Cristo quis transmitir seu corpo e seu
sangue, que ele derramou por nós."78
"Sabeis o que estais comendo e o que estais bebendo, ou
melhor, quem estais comendo e quem estais bebendo."79
Banquete em que ele "confiou e entregou aos discípulos o
mistério de seu corpo e de seu sangue". so
"Por que preparais vossos dentes e vosso estômago? Crede,
e tereis comido.l""
"Crer nele é comer pão vivo. Aquele que crê, come, e fica
invisivelmente satisfeito, porque renasce invisivelmente.Yê

EXISTÊNCIA
Razão: "Tu, que queres conhecer-te a ti mesmo, sabes que
existes?
[Agostinho:] Sei.
R. De onde sabes?
A. Não sei.
R. Sentes-te como um ser simples ou múltiplo?
A. Não sei.
R. Sabes que te moves?
A. Não sei.
R. Sabes que te pensas?
A. Sei".83
"Sem qualquer imagem enganosa da fantasia ou da ima-
ginação, é coisa absolutamente certa que sou, que conheço e
que amo. Nestas verdades, nenhum receio tenho dos argu-
mentos dos acadêmicos que dizem: Que será se te engana-
res? - Pois se me enganar, existo. Realmente, quem não existe
de modo nenhum se pode enganar. Por isso, se me engano é
porque existo. Porque, portanto, existo se me engano, como
poderei enganar-me sobre se existo, quando é certo que exis-
to quando me engano? Por conseguinte, como seria eu quem
se enganaria, mesmo que me engane não há dúvida de que
não me engano nisto: - que conheço que existo. Mas a con-
seqüência é que não me engano mesmo nisto: - que conhe-
ço que me conheço. De fato, assim como conheço que existo,
assim também conheço isso mesmo: - que me conheço. E
quando eu amo estas duas coisas, acrescento às coisas que
conheço o amor como terceiro elemento que não é de me-
nor importância. Pois não me engano sobre se me amo, já
que não me engano nas coisas que amo; mesmo que elas fos-
sem falsas, seria verdade que amo as coisas falsas."84

ÊXTASE
''Ao aproximar-se o dia de sua morte - dia que só tu co-
nhecias e nós ignorávamos - sucedeu, creio que por tua
vontade e de modo misterioso como costumas fazer, que ela
e eu nos encontrássemos sozinhos, apoiados a uma janela,
cuja vista dava para o jardim interno da casa onde moráva-

99
mos, em Óstia Tiberina. Afastados da multidão, procuráva-
mos, depois das fadigas de uma longa viagem, recuperar as
forças, tendo em vista a travessia marítima. Falávamos a sós,
muito suavemente, esquecendo o passado e avançando para
o futuro. Tentávamos imaginar na tua presença, tu que é a
verdade, qual seria a vida eterna dos santos [...]. E subíamos
ainda mais ao interior de nós mesmos, meditando, celebran-
do e admirando as suas obras. E chegamos assim ao íntimo
de nossas almas. Indo além, atingimos a região da inesgotá-
vel abundância [...]. Assim falávamos, se bem que de modo e
com palavras diversas. No entanto, Senhor, tu sabes como
nesse dia, durante esse colóquio, o mundo, com todos os seus
prazeres, perdia para nós todo valor, e minha mãe me disse:
'Meu filho, nada mais me atrai nesta vida; não sei o que es-
tou ainda fazendo aqui, nem por que estou ainda aqui. Já se
acabou toda esperança terrena. Por um só motivo eu deseja-
va prolongar a vida nesta terra: ver-te católico antes de eu
morrer. Deus me satisfez amplamente, porque te vejo des-
prezar a felicidade terrena para servi-lo. Por isso, o que é que
estou fazendo aqui?'. "85

"Daí nasce também a paz do lar, isto é, a concórdia


harmoniosa em mandar e obedecer dos que coabitam. Os
que cuidam dos outros é que mandam: como o marido na
mulher, os pais nos filhos, os senhores nos servidores. Aque-
les de quem se cuida é que obedecem; como as mulheres aos
maridos, os filhos aos pais, os servidores aos senhores. Mas,
na casa do justo que vive da fé e que ainda peregrina afasta-
do dessa Cidade Celeste, os que mandam estão ao serviço
daqueles sobre os quais parece que mandam. É que não man-
dam pela paixão de dominar, mas pelo dever de deles cuida-
rem, nem pelo orgulho, de se sobrepor, mas pela bondade
de cuidarem de todos."!
"Os verdadeiros pais defamília cuidam de todos os mem-
bros da sua casa como dos filhos, no sentido de todos adora-
rem e serem dignos de Deus, vivamente desejosos de
chegarem à Casa celestial.'?
"Como a família deve ser o princípio ou a célula da socie-
dade e como todo o princípio se refere a algum fim no seu
gênero e como toda a célula se refere à integridade do todo
de que é parte - claramente se conclui que à paz da cidade
se refere a da família, isto é, que a concórdia bem ordenada
dos que juntos convivem no mando e na obediência se refere
à concórdia bem ordenada dos cidadãos no mando e na obe-
diência. É assim que o pai de família deve tomar das leis da
cidade aqueles preceitos com que governe a sua casa de har-
monia com a paz da cidade.":'


''A fé busca, o entendimento encontra; por isso diz o pro-
feta: Se não crerdes, não entendereis (Is 7.9). Doutro lado, o
entendimento prossegue buscando aquele que a fé encon-
trou, pois, Deus olha do céu para os filhos dos homens, como é
cantado no salmo sagrado: para ver se há alguém que tenha
inteligência e busque a Deus. Logo, é para isto que o homem
deve ser inteligente: para buscar a Deus.""

lO!
"Eu creio para compreender e compreendo para (melhor)
crer. "5
''Aos antigos santos foi anunciado que Ele havia de vir em
carne, tal qual nós O anunciamos como já chegado, para
que por Ele uma só e a mesma fé conduza a Deus todos os
que estão predestinados a tornarem-se Cidade de Deus, Casa
de Deus, Templo de Deus."6
"Por isso é que foi escrito: 'O justo vive da fé' (Hb 10.38.
Cf. GI3.11), pois nem vemos ainda o nosso bem [supremo]
- e por isso é preciso que o procuremos crendo; nem o pró-
prio viver com retidão nos vem de nós, mas antes, aos que
crêem e oram, ajuda Aquele que dá a fé com que cremos que
necessitamos de ser por ele ajudados."?
« 'Perdoai as nossas dívidas como nós perdoamos aos nos-
sos devedores' (Mt 6.12). Esta oração não é eficaz para aque-
les cuja fé é morta porque é fé sem obras, mas é-o para aqueles
cuja fé se põe em prática pelo amor."8
"É porque, desejando compreender o quanto possível a
eternidade, a igualdade e a unidade da Trindade, torna-se
necessário crer antes de compreender, e estar atentos para
que nossa fé seja sincera."9
"Tinha sido temerário e ímpio por ter acusado a fé católi-
ca, sem antes me haver informado através de pesquisa séria."?
"Seja-nos, pois, Deus propício e faça-nos chegar a enten-
der aquilo em que acreditamos."ll
"É verdade que o homem que cai por si mesmo não pode
igualmente se reerguer por si mesmo, tão espontaneamente.
É porque, do céu, Deus nos estende sua mão direita, isto é,
nosso Senhor Jesus Cristo. Peguemos essa mão, com fé firme,
esperemos sua ajuda com esperança confiante e desejemo-la
com ardente caridade."12
''Assim, o espírito da graça faz com que tenhamos fé, a fim
de que pela fé façamos os pedidos na oração e possamos cum-
prir os mandamentos. Por isso o Apóstolo freqüentemente
antepõe a fé à lei, já que não podemos cumprir o ordenado
pela lei a menos que com fé peçamos mediante a oração a
força necessária."13

FELICIDADE, BEM-AVENTURANÇA
"- Estamos convencidos de que, se alguém quiser ser fe-
liz, deverá procurar um bem permanente, que não lhe possa
ser retirado em algum revés de sorte.
- Já concordamos com isso, diz Trigésio.
- Então, qual a vossa opinião? É Deus eterno e imutável?
- Eis aí uma verdade tão certa que qualquer questão se
torna supérflua, interveio Licêncio.
Em piedosa harmonia, todos os outros disseram-se de acor-
do. Concluí então:
- Logo, quem possui a Deus é feliz!"14
"Todo o que encontrou a Deus e o tem benévolo é feliz.
Todo o que ainda busca a Deus tem-no benévolo, mas ainda
não é feliz. E, enfim, todo o que se afasta de Deus, por seus
vícios e pecados, não somente não é feliz, mas sequer goza da
benevolência de Deus.?"
"Como devo procurar-te, Senhor? Quando te procuro, Ó
meu Deus, procuro a felicidade da vida. Procurar-te-ei, para
que minha alma viva. O meu corpo, com efeito, vive da mi-
nha alma, e a alma vive de ti."16
"Possuí-lo é a sua felicidade; perdê-lo é a sua desgraça.
Mas o que tira a sua felicidade do bem que Ele é e não de
outro não pode ser infeliz porque não pode perder-se."!"

lO"
"Há uma alegria que não é concedida aos ímpios, mas
àqueles que te servem por puro amor: essa alegria és tu
mesmo. E esta é a felicidade: alegrar-nos em ti, de ti e por
ti. É esta a felicidade, e não outra. Quem acredita que
exista outra felicidade persegue uma alegria que não é a
verdadeira. "18
"Ninguém é feliz sem a posse do sumo Bem, cuja contem-
plação e posse encontram-se nessa verdade que denomina-
mos sabedoria."!"

GRAÇA
"Entre a graça e a predestinação há apenas esta diferença:
a predestinação é a preparação para a graça, enquanto a gra-
ça é a doação efetiva da predestinação."!
"De ti, ó Deus, me vêm todos os bens, e do meu Deus
toda a minha salvação!"?
"Mas esta graça, sem a qual nem as crianças nem os adul-
tos podem ser salvos, não é dada em consideração aos mere-
cimentos, mas gratuitamente, o que caracteriza a concessão
como graça. Justificados gratuitamente pelo seu sangue. Assim,
são dignos de justa condenação os que por ela não são liber-
tados, seja porque não puderam ouvir, seja porque não qui-
seram obedecer, seja também quando pela idade não pode-
riam ouvir, e não receberam o banho da regeneração que
poderiam receber, o qual lhes proporcionaria a salvação. Isso
porque levam consigo o pecado, o qual ou contraíram pela
origem ou avultaram pelos maus costumes. Sendo que todos
pecaram, seja em Adão, seja em si mesmos, e todos estão priva-
dos da glória de Deus (Rm 3.23)."3
''Assim, toda a raça humana merece castigo. E se todos
recebessem a punição, a punição não seria injusta. Por isso os
que são libertados pela graça não se denominam vasos de
seus méritos, mas vasos de misericórdia (Rm 9.23). De quem
procede a misericórdia? Não é daquele que enviou Cristo
Jesus a este mundo para salvar os pecadores, os quais ele
conheceu, predestinou, chamou, justificou e glorificou?
(Rm 8.29,30). Portanto, quem é a tal ponto insensato que
não renda graças inefáveis à misericórdia daquele que liber-
tou os que quis e cuja justiça não se haveria de inculpar mes-
mo que condenasse todos os seres humanos."!
"Não sejais ingratos para com a graça tão imensa daquele
que tendo um único Filho não quis que ele fosse o único.
Para que tivesse irmãos, adotou filhos que, com o Filho, pu-
dessem possuir a vida eterna."?
"Que Deus seja tua morada, e tu sê a morada de Deus!
Permanece em Deus, para que Deus permaneça em ti. Deus
permanece em ti para te sustentar. Tu permaneces em Deus
para não caíres."?
''Anulamos a liberdade pela graça? De forma alguma; con-
solidamo-la. Assim como a lei se fortalece pela fé, a liberdade
não se anula pela graça."?
''A graça de Deus, que nos é concedida para bem agir e
perseverar no bom caminho, impulsiona-nos não somente a
poder o que queremos, mas também a querer o que podemos."8

lOS
BENEFÍCIOS
O perdão dos pecados: " 'Não esqueças nenhuma de suas
retribuições'. Não fala o salmo de doações, mas de 'retribui-
ções'. Nosso crédito era outro; foi-nos devolvido o que não
nos era devido. [...] Tu retribuíste bens com obras más; Deus
retribuiu com bens o mal. Como retribuíste, ó homem, com
o mal pelos bens que Deus te deu? Outrora eras blasfemo,
perseguidor e insolente; retribuístes com blasfêmias. Em tro-
ca de que bens? Em primeiro lugar, porque existes [...]; em
seguida, porque vives [...]. Mas, tu, em vez de dar graças, em
vez de humildade, da reverência, do culto religioso, isto é, de
tudo o que devias a teu Deus, pelos bens que recebeste e a
que aludi, retribuíste com blasfêmias. E ele, que faz? Diz:
Confessa, que eu perdôo. Eu também retribuí, mas não a
tua maneira. Tu retribuíste com mal pelo bem; eu retribuo
com bens pelos males"."
A cura das enfermidades da alma: "não temas. Todas as
tuas enfermidades serão curadas. Respondes: São grandes;
mas o médico é maior. O médico onipotente não depara com
doença alguma incurável. Apenas aceita o tratamento, não
repilas a sua mão; ele sabe o que deve fazer. [...] Deus fez teu
corpo, Deus criou a tua alma; ele sabe como refazer o corpo
que formou, reformar o que ele mesmo plasmou. Apenas
deves submeter-te às mãos do médico; ele odeia aquele que
repele suas mãos. [...] Deus, que te fez, cura-te com toda cer-
teza e gratuitamente". 10
A libertação da morte eterna: "cura todas as tuas enfermi-
dades, porque resgata da morte a tua vida. [...] Ele curará
todas as tuas enfermidades, quando este ser corruptível
revestir a incorruptibilidade. Pois, tua vida já foi resgata-
da da morte. Podes ficar tranqüilo. Foi feito um contrato
bem garantido. Ninguém engana teu redentor, ninguém o

]06
compra, ninguém o coage. Exerceu aqui um comércio, já
pagou o preço, derramou seu sangue. O Filho único de Deus,
dizia, derramou o sangue por nós. 6 alma, reanima-te; vales
tanto!";'!
A coroa da vitória: "é evidente que lutas; portanto, serás
coroado, porque vences. Mas olha quem venceu primeiro,
quem te faz tornar-te, pela segunda vez, vencedor. (...] Por
nós mesmos fomos vencidos, mas nele vencemos. Por esta razão
ele te coroa, coroando seus dons e não os teus méritos. [...]
Portanto, se és coroado, é por sua misericórdia que és coroa-
do. Em parte alguma podes ser soberbo. Louva sempre o
Senhor, não esqueças as suas retribuições. É uma retribuição
seres chamado quando és pecador e ímpio para seres justifi-
cado. É uma retribuição, quando és reerguido e dirigido para
não caíres. Trata-se de uma retribuição receberes forças para
perseverares até o fim. É uma retribuição que esta tua carne,
que pesa sobre ti, ressuscite e não se perca nem um cabelo de
tua cabeça. É retribuição seres coroado após a ressurreição.
É retribuição louvares a Deus eternamente sem desfalecer". 12
A satisfação dos desejos de bem e renovação da juventu-
de: "bem para ti é o bem supremo. Que falta àquele que tem
o bem supremo por seu bem? Efetivamente, existem bens
inferiores, que são bons uns ou outros. [...] Ergue tua espe-
rança ao bem de todos os bens. Será bem para ti aquele pelo
qual foste feito bom em tua espécie, e todas as coisas em suas
espécies foram feitas boas. Pois, Deus fez tudo muito bom.
[...] Ora, perguntas quando se cumulará de bens a tua alma?
Quando tua juventude for renovada. (...] Não me saciarei
de alimentos temporais; o Senhor me conceda algo de eter-
no, algo de eterno ele me conceda: Dê-me sua Sabedoria,
dê-me seu Verbo, Deus junto de Deus, e a si mesmo Deus
Pai, e o Filho, e o Espírito Santo. Estou à sua porta como

107
mendigo; não dorme aquele que invoco, que me dê três pães.
[...] Eis que agora medito na Trindade; de algum modo per-
cebo algo da Trindade, apenas de maneira obscura em espe-
lho, parcialmente; quando serei saciado?".13
Desveste a alma das obras do velho homem e a veste com
as do novo: "uma vez que o Pai sabe de que fomos feitos, que
somos feno, e podemos florescer por pouco tempo, enviou-
nos seu Verbo que subsiste para sempre, e fez dele um irmão
para o feno que não permanece eternamente. Fez um Uni-
gênito por natureza, único nascido de sua substância, irmão
para tantos irmãos adotivos. Não te admires de seres partici-
pante de sua eternidade; ele primeiro se fez partícipe da na-
tureza do feno. Ele te negará o que é mais elevado do que tu,
uma vez que recebeu de ti o que era humilde? [...] Portanto,
considerando a ti mesmo, pensa em tua condição humilde,
pensa no pó que és. Não te orgulhes. Tudo o que tiveres de
melhor, tu o deves a sua graça, a sua misericórdia."14

GRAÇA COMUM
"O bem, delas [mãe e amas] recebido, era para elas igual-
mente um bem, do qual não eram elas a origem, mas inter-
mediárias dele; porque de ti, ó Deus, me vêm todos os bens,
e do meu Deus toda a minha salvação!"15
"Assim Deus, na superabundância e na grandeza de sua
bondade, pôs à nossa disposição não somente grandes bens,
mas também bens médios e outros inferiores. Essa bondade
divina deve ser glorificada de preferência pelos grandes bens
doados, mais do que pelos médios. Da mesma forma, mais
pelos bens médios do que pelos pequenos. Todavia, por to-
dos eles, Deus deve ser glorificado."16
"Todo bem procede de Deus. Não há, de fato, realidade
alguma que não proceda de Deus."I?
''Aquele varão [Moisés] sabia que de qualquer pessoa de
quem precedesse conselho verdadeiro, não viria dessa pessoa
humana, mas sim daquele que é a Verdade, isto é, do Deus
imutável." 18
"Todo bom e verdadeiro cristão há de saber que a Verda-
de, em qualquer parte onde se encontre, é propriedade do
Senhor."19
"Os que são chamados filósofos, especialmente os platô-
nicos, quando puderam, por vezes, enunciar teses verdadei-
ras e compatíveis com a nossa fé, é preciso não somente não
serem eles temidos nem evitados, mas antes que reivindique-
mos essas verdades para nosso uso, como alguém que retoma
seus bens a possuidores injustos. De fato, verificamos que os
egípcios não apenas possuíam ídolos e impunham pesados
cargos a que o povo hebreu devia abominar e fugir, mas ti-
nham também vasos e ornamentos de ouro e prata, assim
como quantidade de vestes. Ora, o povo hebreu, ao deixar o
Egito, apropriou-se, sem alarde, dessas riquezas (Êx 3.22),
na intenção de dar a elas melhor emprego. E não tratou de
fazê-lo por própria autoridade, mas sob a ordem de Deus
(Êx 12.35,36). E os egípcios lhe passaram sem contestação
esses bens, dos quais faziam mau uso. Ora, dá-se o mesmo
em relação a todas as doutrinas pagãs. Elas possuem, por cer-
to, ficções mentirosas e supersticiosas, pesada carga de traba-
lhos supérfluos, que cada um de nós, sob a conduta de Cristo,
ao deixar a sociedade dos pagãos, deve rejeitar e evitar com
horror. Mas eles possuem, igualmente, artes liberais bastan-
te apropriadas ao uso da verdade e ainda alguns preceitos
morais muito úteis. E quanto ao culto do único Deus, en-
contramos nos pagãos algumas coisas verdadeiras, que são
como o ouro e a prata deles. Não foram os pagãos que os
fabricaram, mas os extraíram, por assim dizer, de certas mi-

io»
nas fornecidas pela Providência divina, as quais se espalham
por toda parte e das quais usaram, por vezes, a serviço do
demônio. Quando, porém, alguém se separa, pela inteligên-
cia, dessa miserável sociedade pagã, tendo-se tornado cris-
tão, deve aproveitar-se dessas verdades, em justo uso, para a
pregação do evangelho. Quanto às vestes dos egípcios, isto é,
às formas tradicionais estabelecidas pelos homens, mas adap-
tadas às necessidades de uma sociedade humana, da qual não
podemos ser privados nesta vida, será permitido ao cristão
tomá-las e guardá-las a fim de convertê-las em uso comum."20
"Quanto é pequena a quantidade de ouro, prata e vestes
tiradas do Egito por esse povo hebreu em comparação com
as riquezas que lhe sobrevieram em Jerusalém, e que apare-
ceram sobretudo com o rei Salomão (l Rs 10 .14-23), assim é
igualmente pequena a ciência - se bem que útil- recolhi-
da nos livros pagãos, em comparação com a ciência contida
nas divinas Escrituras. Porque tudo o que um homem tenha
aprendido de prejudicial alhures aí está condenado, e tudo
o que aprendeu de bom aí está ensinado. E quando cada um
tiver encontrado tudo o que aprendeu de proveitoso em
outros livros, descobrirá muito mais abundantemente aí. E o
que é mais, o que não aprendeu em nenhuma parte somente
encontrará na admirável superioridade e profundidade des-
tas Escrituras."?'

"É claro que nós também fazemos, mas cooperando com


a obra daquele que nos antecede pela sua misericórdia. Ele
nos antecede para que sejamos curados, e nos acompanha
para continuarmos sãos; antecede-nos ao nos chamar e acom-
panha-nos até a glória; antecede-nos para que levemos a vida
santamente e acompanha-nos para com ele sempre viver,
porque, sem ele, nada podemos fazer (]o 15.5)."22
"Toda a minha esperança baseia-se na grandeza da tua
misericórdia. Concede-me o que me ordenas, e ordena o que
quiseres. Tu nos ordenas a continência, e alguém disse: 'Cons-
ciente de que ninguém pode possuir a continência, a não ser
por dom de Deus, já era sabedoria o saber de onde vem esse
dom'. É graças à continência que nos reunimos e nos
reconduzimos à unidade, da qual nos afastamos para nos
perdermos na multiplicidade. Pouco te ama aquele que ao
mesmo tempo ama outra criatura, sem amá-la por tua causa.
6 amor, que sempre ardes e não te extingues jamais! 6 cari-
dade, meu Deus, inflama-me! Tu me ordenas a continência:
concede-me o que me ordenas, e ordena o que quiseres."23
"Nós, pelo contrário, asseveramos que a vontade humana
é de tal modo ajudada por Deus para praticar a justiça, que,
além de o homem ser criado com o dom da liberdade e ape-
sar da doutrina que o orienta sobre o modo de viver, receba
o Espírito Santo, que infunde em sua alma a complacência e
o amor do Bem incomunicável que é Deus [...]. Desse modo,
com o penhor da graça recebido gratuitamente, anseie ade-
rir ao Criador e anele vivamente aproximar-se da participa-
ção daquela Luz verdadeira [...]. Se o caminho da verdade
permanecer oculto, de nada vale a liberdade, a não ser para
pecar. [...] Porém, para que venha a amá-lo, o amor de Deus
se difunde em nosso coração não pelo livre-arbítrio que radi-
caem nós, mas pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5.5)."24
"Portanto, para querermos, ele age em nós; quando que-
remos, com vontade decidida, coopera conosco. Porém, quan-
do não age para querermos ou não coopera quando quere-
mos, somos incapazes de praticar as obras de piedade. "25
"Considerando também a vontade, que nos leva a crer e
se atribui ao dom de Deus, porque nasce da liberdade e a
recebemos na criação, reflita e perceba o contraditar que

111
não somente se deve atribuir esta vontade à graça divina,
porque procede da liberdade inserida em nós pela natureza
desde a criação, mas também porque Deus age mediante
meios suasórios visíveis para nos levar a querer e a crer. Esta
atuação divina pode se dar ou exteriormente por meio de
exortações evangélicas, com alguma influência dos preceitos
da lei, se levam o homem à consciência de sua fragilidade e a
se refugiar pela fé na graça que justifica, ou interiormente,
onde ninguém pode provocar nenhum pensamento, mas é
iniciativa da vontade consentir ou dissentir. Portanto, quan-
do Deus concorre com a alma racional mediante estes meios
- e ninguém pode crer em algo apenas com o uso da liber-
dade sem a influência de uma persuasão ou chamado em
relação em quem deve crer - , não há dúvida de que ele
opera no homem o próprio querer e sua misericórdia nos
precede em tudo. Mas o consentimento ou o dissentimento
ao chamado de Deus, conforme já afirmei, é obra da vonta-
de própria. Esse ensinamento não somente não desvaloriza o
que está escrito: Que é que possuis que não tenhas recebido?,
mas o confirma. Pois a alma não tem capacidade de receber
e conservar os dons, aos quais se refere a sentença, a não ser
consentindo. Por isso, o que tem e o que recebe vem de Deus,
mas o receber e o conservar dependem de quem recebe e
possui."26

(v. PERSEVERANÇA)

"Os que perseverarão estão misturados pela vontade pro-


vidente de Deus com os que não perseverarão, a fim de que
aprendamos a não nos presumir, mas, sentindo-nos solidá-
rios com os mais humildes (Rm 12.16), operemos nossa sal-
vação com temor e tremor, pois é Deus quem opera em nós o
querer e o operar, segundo a sua vontade (Fl2.12,13). Por-
tanto, nós queremos, mas é Deus quem opera em nós e nos
leva a operar de acordo com sua boa vontade."27
"Portanto, a graça antecede a fé; em caso contrário, se a fé
antecede a graça, não há dúvida de que a vontade a precede,
pois a fé não pode existir sem a vontade de crer. Mas se a
graça antecede a fé, porque precede a vontade, conseqüen-
temente precede toda obediência, precede também a carida-
de, mediante a qual se presta a Deus uma obediência submissa
e suave. E isto é obra da graça em quem é concedida. "28
"Louvor e glória a ti, que és a fonte de todas as misericór-
dias. Eu me tornava cada vez mais miserável, e tu te aproxi-
mavas mais de mim. Tua destra estava junto a mim para
arrancar-me do lodo e lavar-me, e eu nada percebia. Nada
conseguia impedir que eu me afogasse no abismo dos praze-
res carnais, a não ser o temor da morte e do teu futuro juízo
que, mesmo através das diversas doutrinas, nunca abando-
nava o meu espírito.'?"
"Se cremos que podemos alcançar esta graça e cremos
deveras por um ato da vontade, devemos investigar a origem
deste querer em nós. Se nos vem pela natureza, por que não
vem a todos? O mesmo Deus não é o criador de todos? Se
procede de um dom de Deus, por que não favorece a todos,
pois ele quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimen-
to da verdade?"30
"Sem o auxílio de Deus, pelo arbítrio da vontade, não
podemos superar as tentações desta vida."3l
"Ele nos antecede para que sejamos curados, e nos acom-
panha para continuarmos sãos; antecede-nos ao nos chamar
e acompanha-nos até a glória; antecede-nos para que leve-
mos a vida santamente e acompanha-nos para com ele sem-
pre viver, porque, sem ele, nada podemos fazer 00 15.5)."32

"Por isso não violaram o preceito não matarás os homens


que, movidos por Deus, levaram a cabo guerras, ou os que,
investidos de pública autoridade e respeitando a sua lei, isto
é, por imperativo de uma razão justíssima, puniram com a
morte os criminosos."33
"Embora não tenham faltado nem faltem nações estran-
geiras inimigas contra as quais sempre se fez e continua a
fazer-se a guerra - todavia, a própria extensão do Império
gerará guerras do pior gênero, ou sejam as guerras sociais e
civis, com as quais o gênero humano é calamitosamente sa-
cudido, quer quando se combate para que elas acabem de
vez, quer quando se receia que elas surjam mais uma vez."34
"Quando pegares em armas para batalhar, pensa primei-
ro que a própria força física é dom de Deus. Dessa maneira,
não pensarás em servir-te de um dom de Deus contra Deus.
É necessário guardar a fé prometida, mesmo para com o ini-
migo com quem se está em guerra: quanto mais para com o
amigo por quem se combate! Deve querer-se a paz, quando
se é constrangido à guerra, para que Deus nos livre do cons-
trangimento e nos conserve na paz. Não se procura a paz
para provocar a guerra, mas faz-se a guerra para conquistar a
paz. Sê, pois, pacífico, mesmo na guerra, e vela por que a tua
vitória leve os que derrotas ao bem da paz. 'Bem-aventura-
dos os pacíficos', diz o Senhor, 'porque serão chamados filhos
de Deus'. Se a paz humana é tão doce para a felicidade tem-
poral dos mortais, quanto mais doce não é a paz divina para
a felicidade eterna dos anjos! Seja, portanto, por necessida-
de, não por vontade, que abatas o inimigo na luta. E assim
como se faz violência ao adversário que se revolta e que resis-
te, assim se deve usar de misericórdia para com o vencido e o
prisioneiro, principalmente se isso não compromete a paz."35

H
HERESIA
"De fato, as inúmeras heresias, uma vez apartadas da nor-
ma do cristianismo, atestam que aqueles que, sobre Deus Pai,
a sua sabedoria e o dom divino, professam e ensinam doutri-
nas contrárias à verdade não são admitidos à participação
dos santos mistérios. Isso porque se crê e se ensina com fun-
damento da salvação humana que estejam concordes: a filo-
sofia - isto é, a procura da sabedoria - e a religião. De
quem não aprovamos a doutrina, tampouco havemos de par-
ticipar com eles dos sacramentos."!
"Deve-se, porém, advertir e chamar mais a atenção da-
quelas seitas que conservando os mesmos sacramentos, con-
tudo, por sua maneira diferente de pensar, e por preferirem
difundir seus erros com obstinação maior do que cuidado
em corrigi-los - deveriam eles ser excluídos da comunhão
católica e da participação de seus sacramentos. Não só por
sua doutrina, mas também por sua superstição mereceriam
denominações e assembléias próprias.'?
"Era realmente necessário que houvesse heresias, a fim de
que os firmes na fé se distinguissem dos fracos."3

J1
"Portanto, se muitos têm a alegria de ver o dia do Senhor
é graças aos hereges que os despertaram. Utilizemo-nos, pois,
dos hereges, não para aceitar os seus erros, mas para nos con-
firmar na disciplina católica contra os seus ataques. E seja-
mos mais cautelosos e vigilantes, já que não conseguimos
fazê-los voltar ao caminho da salvação."?

HOMEM, SER HUMANO


"Quer louvar-te o homem, esta parcela de tua criação; o
homem carregado com sua condição mortal, carregado com
o testemunho de seu pecado e com o testemunho de que
resistes aos soberbos; e, mesmo assim, quer louvar-te o ho-
mem, esta parcela de tua criação. Tu o incitas para que sinta
prazer em louvar-te; fizeste-nos para ti, e inquieto está o nos-
so coração, enquanto não repousa em ti."?
"Como a natureza da alma, criada imortal, não poderá
ser privada de toda a vida, a sua morte suprema consiste em
ser separada da vida de Deus numa eternidade de suplício."6
"Só com o qual [o verdadeiro Deus], só no qual, só pelo
qual a alma humana, isto é, a alma racional e intelectual é
feliz."?
"Se ninguém tivesse pecado, o Mundo estaria ornado e
cheio só de naturezas boas."8
"Quando, pois, a propósito de cada criatura, se põem as
três questões [...] quem a fez?, por que meio? e por que a fez?-
haverá que responder: Fê-la Deus, pelo Seu Verbo, porque
ela é boa."?
"Realmente, a verdade é que a alma não é o homem todo,
mas a sua parte melhor; nem o corpo é o homem todo mas a
sua parte inferior. É ao conjunto de ambos que se dá o nome
de homem."lO
HUMILDADE
"Eu gostaria que, para procurar atingir e conservar a ver-
dade, tu te submetesses a esta via, com todo teu fervor, e que
não te enveredasses por outra que não seja a que foi prepara-
da por aquele que viu, como Deus, a fraqueza de nossos pas-
sos. Esta via consiste em primeiro lugar na humildade, em
segundo na humildade, em terceiro na humildade, e, quantas
vezes me perguntares, continuarei dizendo a mesma coisa.
Não porque não haja outros preceitos que são afirmados, mas
porque se a humildade não precede tudo o que fazemos de
bem, e não acompanha e o segue, se não é proposta para que
a contemplemos, apresentada para que a ela adiramos, e im-
posta para que a ela estejamos adstritos, logo que nos regozi-
jamos por alguma boa ação, o orgulho nos arranca tudo das
mãos. É que se os outros vícios devem ser temidos no seio do
pecado, o orgulho deve causar medo mesmo numa boa ação,
se não queremos que as ações realizadas de maneira louvável
se percam pelo desejo do próprio elogio. Perguntaram a um
celebérrimo orador o que, em sua opinião, se devia observar
em primeiro lugar entre os preceitos da eloqüência. Pois bem,
eis o que, segundo contam, ele teria respondido: a elocução.
E em segundo lugar? - tornaram a perguntar. E ele: a mes-
ma elocução. Perguntado uma terceira vez, respondeu de
novo: a mesma elocução. Assim também eu. Se me pergun-
tares e me interrogares quantas vezes quiseres a respeito dos
preceitos da religião cristã, não gostaria de responder outra
coisa a não ser a humildade, mesmo se por acaso a necessida-
de me obrigasse a dizer outra coisa."ll
" 'Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é
o Reino dos Céus' (Mt 5.3). Lemos na Sagrada Escritura acer-
ca da cobiça dos bens temporais que 'Tudo é vaidade e presun-
ção dos espíritos' (Ec 1.14). Ora, presunção de espírito quer
dizer orgulho e arrogância. Assim é dito, freqüentemente,

117
dos orgulhosos que estão cheios de si. [...] Logo, com razão se
estende aqui que são pobres de espírito, os humildes e tementes
a Deus, isto é, os desprovidos de todo espírito que incha."12
"É por isso [pela soberba de nossos primeiros pais, Adão e
Eva] que agora, na Cidade de Deus e à Cidade de Deus, a
peregrinar neste século, muito se recomenda a humildade,
altamente exaltada no seu rei que é Cristo."13
"De certo que é bom ter 'o coração ao alto', mas não para
si próprio - o que é soberba - , mas 'para o Senhor' - o
que é próprio de uma obediência que só dos humildes pode
ser. Assim é próprio da humildade levantar 'o coração ao alto'
de forma maravilhosa e é próprio da soberba baixá-lo."14
"Talvez vos envergonhásseis de imitar um homem humil-
de; imitai, ao menos, um Deus humilde."15
"Se, em vossa fraqueza, não mostrardes desprezo pelo Cristo
humilde, manter-vos-eis firmes no Cristo exaltado. Pois qual era
a razão de Cristo tornar-se humilde, senão porque éreisfracos?" 16
"Louva a Deus em ti, não a ti mesmo. Não pelo fato de
seres o que és, mas porque ele te fez; não porque tu podes
algo, mas porque ele pode em ti e por ti."17

IDOLATRIA
"Porque a verdade é que é mais fácil a um homem deixar
de ser homem, adorando como deuses as obras das suas mãos,

1]
do que às obras tornarem-se deuses pelo culto que um ho-
mem lhes presta."!
"O homem se afasta daquele que o fez quando acima dele
coloca o que ele próprio fez."2
"Quanto a nós, é-nos prescrito (Dt 6.5) amar e honrar a
um só Deus, criador de todos os seres. São os pagãos que
veneram suas estátuas como Deus ou como signos e imagens
de deuses."3

IGREJA
"Ninguém que não ama a unidade da igreja tem amor a
Deus, e por causa disto é correto dizer que só se recebe o
Espírito Santo dentro da Igreja Católica."!
''A Igreja avançará, peregrinando entre as perseguições
do mundo e as consolações de Deus."5
"Aquele que possui ocultamente uma excelsa morada tem
igualmente na terra seu tabernáculo. Seu tabernáculo ter-
restre é sua Igreja, que ainda peregrina. Mas é na Igreja que
há de ser procurado, porque no tabernáculo se encontra o
caminho que leva à casa. Por isso, expandia minha alma aci-
ma de mim mesmo para atingir a meu Deus; por que assim
agi? [...] 'Porque entrarei no local do tabernáculo admirável,
até a casa de Deus'. [ ] Pois, tabernáculo de Deus na terra
são os homens fiéis [ ]. Subindo do tabernáculo [Davi] che-
gou à casa de Deus. No entanto, ao contemplar as partes do
tabernáculo, foi conduzido à casa de Deus, seguindo certa
suavidade, e um deleite interior e oculto, como se da casa de
Deus viesse o som suave de algum órgão. Enquanto andava
no tabernáculo, e tendo ouvido determinado som interior,
foi conduzido por sua suavidade, e pôs-se a seguir aquela
melodia [...] e alcançou a casa de Deus. [...] Como chegaste
ao mais recôndito da casa de Deus? 'Entre gritos de alegria e

!19
de louvor, e sons festivos'. [...] Na casa de Deus, a festa é eter-
na. [...] O coro dos anjos é eternamente festivo. A presença
de Deus traz uma alegria indefectível. É um dia de festa, sem
início e sem fim. Daquela eterna e perpétua festividade res-
soa não sei bem que eco canoro, suave aos ouvidos de nosso
coração; mas isto se o ruído do mundo não o abafa. O eco
daquela festa é agradável ao ouvido daquele que anda no
tabernáculo e considera os milagres de Deus em prol da re-
denção dos fiéis, e ainda atrai o cervo às fontes das águas."6
"Estende tua caridade ao mundo todo, se queres amar a
Cristo, porque os membros de Cristo estão espalhados pelo
mundo todo. Se amas só a uma parte do Corpo, estás cindido,
e assim não te encontras no Corpo. Se não estás no Corpo,
não mais estás sob o influxo da Cabeça. O que te adianta
crer, se ao mesmo tempo blasfemas? Tu adoras Cristo na Ca-
beça, e o blasfemas no seu Corpo. Cristo ama o seu Corpo.
Se podes prescindir do seu corpo, a Cabeça não o prescinde.
É bem inutilmente que tu me honras, exclama a Cabeça lá
do céu, é inutilmente que me honras. Pareces como homem
que te quisesse beijar o rosto, mas te pisasse os pés, talvez com
calçado cheio de pregos ele pisa-te os pés, enquanto procura
segurar tua cabeça para beijá-la. Não interromperias essas
demonstrações de respeito, gritando e dizendo: - O que
fazes, homem? Tu me pisas! [...] Eis por que nosso Senhor
Jesus Cristo, ao subir ao céu, quarenta dias após sua ressur-
reição, quis-nos recomendar o seu Corpo, com o qual ia ficar
aqui na terra. Ele via que grande número lhe prestaria ho-
menagens na glória, pois subira ao céu, mas via que essas
honras seriam vãs se ao mesmo tempo os seus membros na
terra fossem pisados. Foi para que não se enganassem, para
que não adorassem a Cabeça no céu, pisando-lhe os pés na
terra, que ele disse onde estariam os seus membros."?
''Alegremo-nos, portanto, e demos graças por nos termos
tornado não somente cristãos, mas o próprio Cristo.
Compreendeis, irmãos, a graça que Deus nos concedeu ao
dar-nos Cristo como Cabeça? Admirai e rejubilai, nós nos
tornamos Cristo. Com efeito, uma vez que ele é a Cabeça e
nós somos os membros, o homem inteiro é constituído por
ele e por nós. [...] A plenitude de Cristo é, portanto, a Cabe-
ça e os membros. O que significa isto: a Cabeça e os mem-
bros? Cristo e a Igreja."8
Eis "o Cristo total, Cabeça e Corpo. De muitos fez-se um
só. [...] Quer, porém, fale a Cabeça, quer falem os membros,
é Cristo quem fala. Fala enquanto Cabeça e fala enquanto
corpo. Mas, o que foi dito? 'Serão dois numa só carne. É
grande este mistério: refiro-me à relação entre Cristo e sua
Igreja' [Gn 2.24; Ef 5.31,32]. E o próprio Cristo declarou
no evangelho: 'De modo que já não são dois, mas uma só
carne' (Mt 19.6). Como sabeis, quanto a essas duas pessoas
que formam uma pela união matrimonial, Isaías se refere a
elas como sendo uma coisa só. [...] Chama-se esposo por cau-
sa da Cabeça e esposa por causa do corpo"."
"O que é o nosso espírito, isto é, a nossa alma em relação
aos nossos membros, assim é o Espírito Santo em relação aos
membros de Cristo, ao corpo de Cristo, o qual é a Igreja."IO
''A Igreja recebeu as chaves do Reino dos Céus para que
se opere nela a remissão dos pecados pelo sangue de Cristo e
pela ação do Espírito Santo. É nesta Igreja que a alma revive,
ela que estava morta pelos pecados a fim de viver com Cristo,
cuja graça nos salvou."!'
A Igreja é "o mundo reconciliado'l.P
Existem muitos cristãos, mas apenas um Cristo: "os cris-
tãos unidos à sua Cabeça, que subiu ao céu, formam um só

]21
Cristo. Não digo que ele é um só e nós somos muitos, mas
que nós, sendo muitos, naquele que é um, somos um só. Por
conseguinte, Cristo é um só, Cabeça e corpo" .13
"Quem poderá verdadeiramente dizer que possui o amor
de Cristo quando não abraça sua unidade [da Igreja]?"14
"Também nós, portanto, recebemos o Espírito Santo se
amamos a Igreja, se estamos unidos pelo amor, se exultamos
com o nome de católicos e com a fé católica. Acreditemos
nisto, irmãos: teremos o Espírito Santo na mesma medida que
amarmos a Igreja de Cristo. [...] Ademais, amamos a Igreja quan-
do nos mantemos firmes como seu membro e no seu amor."15
''Amemos o Senhor nosso Deus, amemos sua Igreja; a ele
enquanto pai, a esta enquanto mãe. A Deus como o Senhor,
à Igreja como escrava, porque somos filhos da serva. Mas
este matrimônio é contraído por grande caridade. Não ofen-
de a um e apraz ao outro. [...] Que te adianta não ofender o
Pai, mas injuriar a mãe? [...] Deveis manter, portanto, caríssi-
mos, manter todos unanimemente a Deus como pai e a Igre-
ja como vossa mãe."16
"A Igreja católica declara: não se deve abandonar a uni-
dade, não é lícito dividir a Igreja de Deus."17

lMAGEM DE DEUS
"Todavia, não se extinguiu nele por completo uma como
que centelha da razão que o fez ser a imagem de Deus."18
"Quando estiver unido a ti com todo o meu ser, não mais
sentirei dor ou cansaço. Minha vida será verdadeiramente
vida, toda plena de ti."!"
"Convém compreender em que sentido se diz que o ho-
mem é a 'imagem de Deus' e que é 'terra e à terra voltará'. A
primeira expressão refere-se à alma racional dada ao ho-
mem, isto é, ao corpo do homem pelo sopro de Deus ou,
se se prefere expressão mais adequada, pela inspiração de
Deus; a segunda refere-se ao corpo tal qual foi formado
por Deus a partir do pó, ao qual se deu a alma para dele
fazer um corpo animado, isto é, um homem dotado de alma
vivente.F''
"Da mesma forma a alma foi criada imortal e - embora
morta pelo pecado que a priva de certa vida, isto é, da vida
do Espírito de Deus com a qual podia viver na sabedoria e
na beatitude - conserva, todavia, a sua vida própria, mise-
rável embora, porque foi criada imortal."21
"É necessário, porém, procurar na alma do homem, ou
seja, em sua mente racional e inteligente, essa imagem do
Criador, inserida imortalmente nesta nossa natureza imor-
tal. "22
''Ainda que seja grande a dignidade de sua natureza, con-
tudo pode-se ele viciar, porque não é a suprema natureza. E
ainda que possa ter sido viciada, por não ser a suprema natu-
reza, contudo, essa natureza é grande por ser capaz de parti-
cipar da natureza suprema."23
"Quanto àqueles que, advertidos a se relembrarem de si,
convertem-se ao Senhor, de disformes que eram pelas pai-
xões mundanas, são eles reformados pelo Senhor tendo aten-
dido ao Apóstolo que diz: Não vos conformeis com este mundo,
mas transformai-vos, renovando a vossa mente (Rm 12.2), a
fim de que aquela imagem comece a ser restaurada por quem
a formou. "24
''Ao pecar, o homem perdeu a justiça e a santidade da
verdade. Eis por que a imagem tornou-se disforme e sem
brilho. O homem recupera-a ao renovar-se e reformar-se."25

]23
"Se somos feitos à imagem de Deus, por que não seríamos
como Deus? Não se trata de semelhança que vá até a igual-
dade perfeita, mas de semelhança proporcionada à nossa
medida."26

INFERNO
"De fato, os que estão em tormentos, esses ignorarão o
que se passa dentro [no céu], no gozo do Senhor; mas os que
estiverem nesse gozo, esses saberão o que se passa fora [no
inferno], nas trevas exteriores."27
"Não lhe [a Jesus] repugnou proferir por três vezes as
mesmas palavras numa só passagem [Mc 9.43-48]. Quem
não treme perante esta repetição, esta tão veemente procla-
mação de tal castigo pela boca divina?"28
"Mas essa geena que também se chama lago de fogo e de
enxofre será um fogo corpóreo e atormentará os corpos dos
condenados, quer dos homens quer dos demônios - sólidos
os dos homens, aéreos os dos demônios - ou apenas os cor-
pos dos homens com os seus espíritos e os dos demônios-espí-
ritos sem corpos, unindo-se ao fogo corpóreo para dele
absorverem a pena sem com ele partilharem a vida. Um só,
realmente, será o fogo para uns e outros, como o afirmou a
Verdade."29
"O que de modo nenhum se pode negar é que o fogo
eterno será mais doloroso para uns e mais leve para outros,
conforme a diferença de méritos, embora maus, de cada um,
quer porque a violência e o ardor variam conforme a pena
devida a cada um, quer porque queima da mesma forma mas
não é sentido com igual sofrimento.I"?

INVEJA
"A inveja é o pecado diabólico por excelência."?'
IRMÃOS
"Os que amam a Deus e fazem a sua vontade formam
com ele uma só família, da qual Deus é o Pai. Serão pais uns
dos outros, quando deles cuidam; filhos, quando se aceitam
mutuamente; mas serão especialmente irmãos. Isso porque o
testamento de um único e mesmo Pai os chama à mesma
herança. "32
''A união espiritual é mais forte do que aquela que nasce
de lugares e tempos, enquanto estamos neste corpo."33

J
JESUS CRISTO, NATUREZAS
"Jamais teríamos sido libertados, nem mesmo pelo único
mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, se
ele também não fosse Deus. Quando Adão foi criado, ele era
obviamente justo, não sendo necessário um mediador. Mas
quando o pecado estabeleceu um imenso abismo entre a
humanidade e Deus, foi preciso um mediador singular no
nascimento, na vida e na morte sem pecado, a fim de que
fôssemos reconciliados com Deus e conduzidos à vida eterna
mediante a ressurreição da carne. Assim, pela humildade de
Deus, o orgulho humano foi repreendido e curado, e mos-
trou-se ao homem o quanto ele se afastara de Deus, pois foi
necessária a encarnação de Deus para a restauração do ho-
mem. Além disso, o Deus-homem deu um exemplo de obe-
diência; e, tendo o primogênito assumido a forma de servo,

125
nele, que anteriormente nada fizera para isso merecer, abriu-
se uma fonte de graça, e no próprio Redentor operou-se por
antecipação a ressurreição da carne prometida aos redimidos.
O diabo foi derrotado naquela exata natureza que ele,
exultante, supunha haver enganado."l
"O que foi vencido era somente homem, e, se justamente
vencido, foi porque em sua soberba quis ser como Deus. Ao
contrário, o que venceu era homem e Deus, e nascido de
uma virgem triunfou, porque Deus, em sua humildade, go-
vernava esse homem, não como faz com os demais santos,
mas porque o assumiu."2
Mediador entre Deus e o homem, Cristo "reúne ambas
as naturezas [a humana e a divina] em unicidade de pessoa"."
"Em Cristo, existem duas substâncias [a humana e a divi-
na ] , mas uma so'pessoa.
''4

"Havia uma alma humana em Cristo, não apenas a parte


não racional dela, mas o lado racional, que chamamos de
mente."5
"Em unidade com sua pessoa, com a forma de Deus per-
manecendo invisível, Cristo assumiu a forma visível de um
homem. [Ao fazê-lo, ele (...)] não perdeu nem diminuiu a
forma de Deus."6
"Deus poderia ter assumido a condição humana proce-
dendo de outra estirpe, na qual fosse Mediador entre Deus e
os homens, sem participar da linhagem de Adão, a qual com
seu pecado acorrentou todo o gênero humano. Tal como fi-
zera no princípio, ao criar o primeiro homem não o tendo
criado já unido a alguma raça. Poderia assim, desse ou de
qualquer outro modo, ditado por sua vontade, criar outro
homem único, que vencesse o demônio, vencedor do pri-
meiro homem. Mas Deus julgou ser mais conveniente for-
mar da mesma raça vencida o homem pelo qual haveria de
vencer o inimigo do gênero humano. Todavia quis formá-lo
de uma virgem, que concebeu pelo Espírito e não pela car-
ne; pela fé e não pela libido (Lc 1.35). Não houve o concur-
so da concupiscência da carne, veículo normal de inseminação
e concepção para os demais que arrastam o pecado original.
Excluída totalmente desse processo, a virgindade foi
santamente fecundada pela fé, não pela união dos corpos.
Assim, aquele que nascia da linhagem do primeiro homem
assumiu somente a origem da linhagem, não, porém, o cri-
me de origem. Nascia, pois, não uma natureza viciada pelo
contágio da transgressão, mas o único remédio para todos
esses vícios. Nascia, repito, um homem sem pecado e dele
isento também para o futuro, pelo qual nasceriam os que
haveriam de ser libertados do pecado, e que não poderiam
nascer senão em pecado."?
"Mas, se, segundo a opinião mais aceitável e mais prová-
vel, todos os homens são necessariamente infelizes por serem
mortais, tem que se procurar um intermediário que seja, além
de homem, também Deus - para, por mediação da sua
bem-aventurada imortalidade, encaminhar os homens da sua
miserável mortalidade à imortalidade bem-aventurada."8
Jesus Cristo "tornou-se, de fato, mortal, não por enfra-
quecimento da divindade do Verbo, mas por assunção da
fraqueza da carne". 9
"Não é enquanto Verbo que ele é mediador, porque o
Verbo, soberanamente imortal e soberanamente feliz, está
longe dos mortais infelizes. Ele é mediador enquanto homem,
mostrando por isso mesmo que, para atingir aquele que é,
não somente o Bem feliz mas também beatificante não é pre-
ciso procurar outros mediadores que julguemos encarrega-
dos de dispor os degraus da nossa ascensão - pois foi o

127
próprio Deus bem-aventurado e beatificante, tornado par-
tícipe da nossa humanidade, quem nos forneceu um meio
rápido de participarmos na sua divindade.Y'"
"O mediador entre Deus e os homens devia ter alguma
semelhança com Deus e alguma semelhança com os homens.
Se ele se parecesse apenas com os homens estaria longe de
Deus, e se fosse semelhante só a Deus estaria longe dos ho-
mens, e assim não poderia ser verdadeiro mediador."!'
"O verdadeiro mediador, que tua insondável misericór-
dia manifestou e enviou aos homens, a fim de que aprendes-
sem a humildade a exemplo dele, este 'mediador entre Deus
e os homens é o homem Jesus Cristo' [lTm 2.5]. Ele se apre-
sentou entre os pecadores mortais e o Justo imortal, mortal
como os homens e justo como Deus. Ora, dado que a vida e
a paz são a recompensa da justiça, ele, por meio da justiça
unida a Deus, anulou a morte dos ímpios justificados, com-
partilhando-a com eles. Foi revelado aos santos antigos, pela
fé na futura paixão dele, para que eles se salvassem, como nós
nos salvamos pela fé na paixão já passada. De fato, ele é me-
diador enquanto homem. Porque, enquanto Verbo, não é
intermediário, pois é igual a Deus, 'Deus em Deus' []o 1.1],
sendo um só Deus com Deus."l2

JESUS CRISTO, SACRIFÍCIO


"O Filho de Deus que nos criou fez-se um de nós; e nosso
Rei nos governa, porque nosso Criador nos fez. Aquele por
quem fomos feitos é quem nos governa; somos cristãos, por-
que ele é Cristo. Cristo é palavra derivada de crisma, isto é,
unção. Efetivamente, eram ungidos os reis e os sacerdotes.
Ele, de fato, foi ungido como Rei e Sacerdote. Como Rei,
lutou por nós; como Sacerdote, ofereceu-se por nós. Quan-
do lutou por nós, parecia vencido; na verdade, porém, ven-

128
ceu. Pois, foi crucificado e de sua cruz, em que estava prega-
do, abateu o diabo. Daí vem que é nosso Rei. E como é Sa-
cerdote? Porque ofereceu-se por nós. Daí o Sacerdote, uma
vítima para ser oferecida. Como encontraria o homem uma
vítima pura? Que vítima? Que coisa pura pode oferecer o
pecador? 6 iníquo, ó ímpio! Seja o que for que trouxeres é
impuro, e no entanto uma vítima pura deve ser oferecida
por ti. [...] Mas és pecador, és ímpio, tens uma consciência
manchada. [...] Que, então, hás de oferecer, a fim de te puri-
ficares? [...] O sacerdote puro, portanto, ofereça-se a si mes-
mo, e purificará. Foi isto que Cristo fez. Nos homens, ele
nada encontrou que fosse puro, a fim de oferecê-lo em lugar
dos homens; ofereceu-se, então, como vítima pura. Feliz víti-
ma, verdadeira vítima, hóstia imaculada! Não ofereceu coisa
que lhe tenhamos dado; ou melhor, ofereceu o que recebeu
de nós e ofereceu-o inteiramente puro. Assumiu nossa carne
e a ofereceu. Mas, de onde a recebeu? Do seio da virgem
Maria, para oferecer uma carne pura em favor de seres im-
puros. Ele é Rei, o Sacerdote. Nele nos alegremos."13
"Por isso o verdadeiro Mediador, que, ao tomar a forma
de escravo, se tornou mediador entre Deus e os homens, o
homem Jesus Cristo, sob a forma de Deus, aceita o sacrifício
com o Pai, com o qual é um só Deus; mas, sob a forma de
escravo, preferiu ser sacrifício a aceitá-lo, para que ninguém
aproveitasse esta oportunidade para sacrificar a qualquer cri-
atura. É por isso que Ele é sacerdote: é Ele quem oferece, é
Ele a oblação."14
"Sinais variados e múltiplos deste verdadeiro sacrifício eram
os antigos sacrifícios dos santos, sendo eles figura deste único
sacrifício, como se, por muitas palavras, se expressasse uma
só realidade para ser bem ponderada sem causar enfado.
Com este supremo e autêntico sacrifício cessaram todos os
falsos sacrifícios."15

129
"O Senhor também era mortal, mas não por causa de al-
gum pecado. Aceitou a pena que merecíamos, e assim apa-
gou a nossa culpa. Com razão, portanto, todos morrem em
Adão, mas em Cristo todos são vivificados.Y"
"Os santos necessitam na atual economia de uma graça
mais eficaz, embora não menos ditosa. Com efeito, que gra-
ça há mais eficaz que o Filho unigênito de Deus, igual e
coeterno ao Pai, que por eles se fez homem, e homens peca-
dores, embora isento da mancha original e de pecados pes-
soais? Ele, o Cristo, ainda que tenha ressuscitado ao terceiro
dia para nunca mais morrer, suportou a morte pelos mortais,
deu vida aos mortos, a fim de que, remidos pelo seu sangue,
pudessem exclamar à vista de tão valioso penhor: Se Deus
está conosco, quem estará contra nós? Quem não poupou o seu
próprio Filho e o entregou por todos nós, como não nos haverá
de agraciar em tudo junto com ele? (Rm 8.31-32)."17

"Todo o mal que os maus praticam é registrado sem que o


saibam. No dia em que 'Deus não se calará' [SI 50.3], voltar-
se-á para os maus: 'Eu havia', dir-Ihes-á, 'colocado na terra
meus pobrezinhos para vós. Eu, seu Chefe, reinava no céu, à
direita do meu Pai, mas, na terra, os meus membros passa-
vam fome. Se tivésseis dado aos meus membros, vosso dom
teria chegado até a Cabeça. Quando coloquei meus pobre-
zinhos na terra, constituí-os meus tesoureiros para recolher
vossas boas obras em meu tesouro; vós, porém, nada depo-
sitastesem suas mãos, razão por que nada possuís junto a mim'.":"
"O que, pois, toda a Igreja do verdadeiro Deus afirma na
sua confissão e profissão pública de fé é que Cristo há de vir
dos Céus para julgar os vivos e os mortos: a isto é que chama-
mos o último dia do juízo divino, isto é, o tempo final."19
"É pela transformação das coisas e nunca pelo seu aniqui-
lamento que este mundo passará."20
"Quando, portanto, se lê nas Escrituras proféticas [Anti-
go Testamento] que Deus há de vir para fazer o último julga-
mento, embora se não forneça qualquer precisão, deve,
todavia, compreender-se, em razão do próprio juízo, que se
trata de Cristo porque, embora o Pai tenha de julgar, julga-
rá, porém, servindo-se da vinda do Filho do homem."21

JUSTIFICAÇÃO
''A justificação do ímpio é uma obra maior que a criação dos
céus e da terra, pois os céus e a terra passarão, ao passo que a
salvação e a justificaçãodos eleitospermanecerão para sempre."22
"Quem, portanto, desejar evitar as penas eternas não só
se deve batizar mas também justificar-se em Cristo - e desta
maneira passará do Diabo para Cristo."23
"Esta justiça de Deus [Rm 3.20-22] pertence ao Novo
Testamento e tem a seu favor o testemunho dos livros do
Antigo, isto é, a Lei e os Profetas."?'
''A nossa justiça, por enquanto, vem da fé."25
"O início de nossa justificação é a confissão de nossos pe-
cados. Começaste a não mais querer encobrir as tuas faltas?
Já iniciaste a tua justificação! Esta justificação aperfeiçoar-se-
á em ti, quando nada mais te deleitar; quando 'a morte for
absorvida na vitória' (lCo 15.54); quando nenhuma concu-
piscência te dominar; quando não tiveres mais de lutar con-
tra a carne e o sangue; quando conseguires a coroa da vitória
e o triunfo sobre o inimigo. Só então, a justiça será perfeita.
Por agora, ainda lutamos."26
"Quando nossa justiça tiver atingido a perfeição e quan-
do nos tornarmos iguais aos anjos, ainda assim nossa justiça

15]
não será igual a de Deus. Que distância, pois, ela nos separa
atualmente de Deus, visto que nem então ela poderá chegar
à mesma igualdade!"27
"Deus justificou estes eleitos para que praticassem boas
obras."28

LEGISLAÇÃO, LEGISLADOR
"Portanto, o legislador temporal- se for homem de bem
e sábio - baseia-se sobre a lei eterna, sobre a qual a nenhu-
ma alma racional foi dado poder julgar, para discernir con-
forme suas prescrições imutáveis o que convém em tal
conjuntura impor ou proibir."]

LIVRE-ARBÍTRIO, LIBERDADE
"Se o caminho da verdade permanecer oculto, de nada
vale a liberdade, a não ser para pecar,'?
"Deus atua nos corações humanos para dispor de suas
vontades conforme ele quiser, seja em favor dos bons com
sua misericórdia, seja com relação aos maus de acordo com
seus merecimentos, sempre conforme seus desígnios, umas
vezes evidentes, outras, ocultos, mas sempre justos."?
"Nem os bem-aventurados serão privados de livre-arbí-
trio por não sentirem o atrativo do pecado. Pelo contrário,
será mais livre esse arbítrio desde que se veja liberto do atra-
tivo do pecado até chegar ao atrativo indeclinável de não
pecar. Efetivamente, o primeiro livre-arbítrio dado ao ho-
mem, quando ao princípio foi criado na retidão, podia não
pecar [posse non peccare], mas também podia pecar; mas este
último será tão poderoso que já não poderá pecar [non posse
peccare]; mas isto também por dom de Deus e não devido ao
poder da sua natureza. [...] Deus por natureza não pode pe-
car - mas o participante de Deus recebe d'Ele o dom de
não pecar. [...] Assim como, na verdade, a primeira imortali-
dade, perdida pelo pecado de Adão, consistia em poder não
morrer [posse non mor!1 e a última consistirá em não poder
morrer [non posse mor!1 - assim também o primeiro livre-
arbítrio consistia em poder não pecar [posse non peccare] e o
último consistirá em não poder pecar [non posse peccare (...)].
Na verdade, será que o próprio Deus, visto que não pode
pecar, não pode ter [ivre-arbítrio?""
"O livre-arbítrio somente é útil para a realização das boas
obras se recebe assistência de Deus, que é concedida me-
diante oração e humildade no agir. Mas quem tiver a assis-
tência de Deus, ainda que seu conhecimento da lei seja
excelente, de maneira nenhuma será sólido e firme na justi-
ça, mas inchado por inchaço fatal proveniente de um
irreverente orgulho. Isto no-lo ensina a oração dominical,
pois seria perfeitamente inútil clamarmos a Deus dizendo
'não nos deixes cair em tentação', se o não cair estivesse em
nosso poder, de modo que pudéssemos, sem a ajuda divina,
realizar tal petição."?
"A livre vontade será tanto mais livre quanto mais for sau-
dável; e será tanto mais sã quanto mais dependente da mercê
e graça do Senhor. Por si mesma, a vontade suplica e excla-
ma: 'Firma os meus passos na tua palavra; e não me domine
iniqüidade algumà (51119.133). Como pode ser livre uma

LB
vontade dominada pela injustiça? Observe-se, aliás, quem é
aquele que é invocado a fim de escapar-se dessa dominação.
Não se diz 'dirige meus passos de conformidade com meu
livre-arbítrio', mas 'dirige meus passos na tua palavra', É uma
oração e não uma promessa; uma confissão e não uma pro-
fissão; um anseio por plena liberdade e não uma ostentação
de capacidade própria."6
"Esta liberdade de vontade [...] não é removida pela assis-
tência recebida, mas é assistida precisamente porque não é
removida. Quem implora: 'Sê tu meu auxiliador' confessa
seu propósito de cumprir o que Deus mandou e sua necessi-
dade de ser auxiliado por quem mandou, para que tenha o
poder de obedecer. Assim, por exemplo, aquele que, saben-
do que ninguém podia ser continente, se Deus não o permi-
tisse, aproximou-se do Senhor e o suplicou (Sb 8.21). Ele,
certamente, aproximou-se e orou voluntariamente; não teria
orado, se não tivesse vontade de orar. Mas, se não tivesse ora-
do, com que força podia sua vontade contar? E, mesmo que
antes de orar, tivesse possuído a força, de que lhe serviria sua
força a não ser que desse graças, como resultado desta força,
àquele de quem invocou o poder que antes não possuía? A
graça nos socorrerá, se não formos presunçosos acerca de
nossas próprias virtudes e 'não levados pelo gosto das gran-
dezas, mas acomodados às coisas humildes' [Rm 12.16 (Vul-
gata Latina)]; se, pelo que já temos podido fazer, damos graças
e, pelo que ainda não podemos fazer, imploramos a Deus
com ansiosa vontade; se, com boas obras, apoiamos nossa
oração, dando para que nos seja dado, perdoando para que
nos seja perdoado."7
"E por isso, do mau uso do livre-arbítrio saiu esta série de
calamidades que, por um encadeamento de desgraças, con-
duziu o gênero humano, pervertido desde a origem e como
que corrompido na raiz, até o flagelo da segunda morte que
não tem fim, à exceção apenas daqueles que pela graça de
Deus se libertarem."!
''A nossa vontade é sempre livre, mas não é sempre boa.
Ou é livre da justiça, quando se sujeita ao pecado, e então é
má, ou é livre do pecado quando serve à justiça, e nesse caso
é boa. A graça de Deus, porém, é sempre boa, e faz com que
tenha boa vontade quem antes tinha a má."9
"O primeiro homem podia não pecar, podia não morrer,
podia não deixar o bem. Podemos dizer que não podia pecar
gozando do dom da liberdade? Ou não podia morrer, se lhe
foi dito: Sepecares, morrerás? Ou não podia deixar o bem, se
o deixou pelo pecado e por isso morreu? Portanto, a primei-
ra liberdade da vontade era poder não pecar; a última será
muito mais excelente, ou seja, não poder pecar. A primeira
liberdade era poder não morrer; a última será muito mais
vantajosa, a saber, não poder morrer. A primeira possibilida-
de da perseverança era poder não deixar o bem; a última
será a felicidade da perseverança, isto é, não poder deixar de
praticar o bem."!"
''A alma religiosa escolhe uma e outra [a presciência de
Deus e a livre vontade do homem], confessa uma e outra e
fundamenta uma e outra na fé religiosa. Como? Pergunta.
Porque, se há uma presciência do futuro, seguem-se todos
aqueles acontecimentos que são conexos até se chegar ao
ponto em que na nossa vontade já nada há. Mas, se, pelo
contrário, alguma coisa depende da nossa vontade, os mes-
mos argumentos virados do avesso nos levam a demonstrar
que não há presciência do futuro. Eis como se viram do aves-
so todas essas questões: se há um arbítrio da vontade - nem
tudo acontece fatalmente; se nem tudo acontece fatalmente,
a ordem das causas não está determinada; se a ordem das
causas não está determinada, também não está determinada
na presciência de Deus a ordem dos acontecimentos, por-
que eles não se podem realizar sem causas que os precedam e
os produzam; se a ordem dos acontecimentos não está deter-
minada pela presciência divina eles não acontecem todos
como Deus previu que aconteceriam: e portanto em Deus,
diz ele, não há presciência de todos os futuros. É contra estas
audácias ímpias e sacrílegas que nós afirmamos, não só que
Deus conhece todos os acontecimentos antes que eles se veri-
fiquem, mas também que fazemos voluntariamente tudo o
que sabemos e temos consciência de que o fazemos apenas
porque o queremos."ll
"Porque a própria liberdade, se não for ajudada pela gra-
ça, nem poderá receber o nome de boa vontade."l2

LUTA ESPIRITUAL
"O demônio luta sozinho contra nós. Nós, se estivermos
com Deus, vencemos o demônio. Se lutares sozinho contra o
demônio, serás vencido."l3

M
MAL
"Quando, então, se pergunta de onde vem o mal, deve-se
primeiro indagar o que é o mal e este não é outra coisa senão
a corrupção, seja da medida, da forma ou da ordem que per-

1:.,6
tence à natureza. A natureza, que portanto foi corrompida,
é tida como má, porquanto certamente é boa quando não é
corrompida; mas, mesmo corrompida, é boa enquanto na-
tureza e é má enquanto corrompida."!
"O pecado não é a busca da natureza má, mas o abando-
no da melhor, de modo que o ato em si é mau, mas não a
natureza que o pecador usa erroneamente. O mal é, pois,
empregar erroneamente o que e, bom. "2
"Pois o Deus Todo-Poderoso [...), por ser soberanamente
bom, nunca deixaria qualquer mal existir em suas obras se
não fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar o bem
do próprio mal."3
"O mal, com efeito, não é uma natureza: a perda do bem
é que recebe o nome do mal."!
''A causa do mal não é o bem, mas a falta de bem."5
"E procurando o que era a iniqüidade compreendi que
ela não é uma substância existente em si, mas a perversão da
vontade que, ao afastar-se do Ser supremo, que és tu, Ó Deus,
se volta para as criaturas inferiores; e, esvaziando-se por den-
tro, pavoneia-se exteriormente."6
"O que eu sei é que a natureza de Deus nunca, em parte
nenhuma e de modo nenhum, pode falhar, ao passo que po-
dem falhar as naturezas feitas a partir do nada."7
"Quem ama perversamente um bem, seja ele de que na-
tureza for, mesmo que o obtenha, torna-se mau nesse bem e
miserável pela privação de um bem rnelhor,""
"Deus, assim como é o criador excelente das naturezas
boas, assim é também o ordenador justíssimo das vontades
más. E quando estas abusam, para o mal, das naturezas boas,
serve-se mesmo das naturezas más para o bem."9

l37
"Se também ele se tornou diabo por sua própria vontade
perversa, ele que era um anjo bom inteiramente criado por
um Deus de bondade, de onde lhe veio essa vontade má que
o tornou diabo?"1O
"Se o mal não fosse obra da vontade, absolutamente nin-
guém deveria ser repreendido ou admoestado. E com toda
essa supressão, a lei cristã e toda a disciplina religiosa recebe-
riam golpe mortal. Logo, à vontade deve ser atribuído o fato
de se cometer pecado."!'
"O mal é apenas privação do bem, privação esta que che-
ga ao nada absoluto."!2

MANIQUEÍSMO
"Quando, finalmente, me foi possível, com alguns ami-
gos, fazer que ele me escutasse num momento oportuno, então
lhe apresentei algumas dificuldades que me perturbavam.
Descobri logo que ele nada entendia das disciplinas liberais,
com exceção da gramática, da qual conhecia apenas o corri-
queiro. Tinha lido alguns discursos de Cícero, pouquíssimas
obras de Sêneca, algumas obras de poetas, e umas poucas, de
seus correligionários, escritas em latim mais cuidado. E, como
se exercitava diariamente na oratória, havia adquirido facili-
dade de falar, tornada ainda mais agradável e sedutora pelo
emprego inteligente de seu talento e de certa graça natural."!"
"Os livros desta seita, na verdade, estão cheios de intermi-
náveis fantasias a respeito do céu, dos astros, do sol e da lua."!"
"Começavam a interessar-me os debates públicos contra
os maniqueus, realizados em Cartago por certo Elpídio, que
citava as Sagradas Escrituras, de tal modo que era difícil con-
tradizê-lo. As respostas que lhe davam me pareciam fracas, e
não o faziam em público, mas em segredo, sustentando que
as Escrituras do Novo Testamento haviam sido falsificadas
por um desconhecido que quisera inserir a lei judaica na fé
cristã; mas não apresentavam desses textos nenhum exem-
plar não adulterado."15
''Assim, duvidando de tudo, à maneira dos acadêmicos -
como se imagina comumente - flutuando entre todas as
doutrinas, resolvi abandonar os maniqueus."1G
''Após ter-me cansado inutilmente de resolvê-la, levou a
precipitar-me na heresia (dos maniqueus), com tal violência
que fiquei prostrado. Tão ferido, sob o peso de tamanhas e
tão inconsistentes fábulas, que se não fosse meu ardente de-
sejo de encontrar a verdade, e se não tivesse conseguido o
auxílio divino, não teria podido emergir de lá nem aspirar à
primeira das liberdades - a de poder buscar a verdade.:"?

MARIA
"Maria tornou-se mais feliz recebendo a fé de Cristo do
que concebendo a carne de Cristo."18
"O que tornou a virgindade de Maria tão santa e agradá-
vel a Deus não foi porque a concepção de Cristo a preser-
vou, impedindo que sua virgindade fosse violada por um
esposo, mas porque antes mesmo de conceber ela já a tinha
dedicado a Deus e merecido, assim, ser escolhida para trazer
Cristo ao mundo."19
"É porque, entre todas as mulheres, Maria é a única a ser
ao mesmo tempo virgem e mãe, não somente pelo espírito,
mas também pelo corpo. Ela é mãe conforme o espírito, não
de quem é nossa Cabeça, isto é, do Salvador do qual ela nas-
ceu espiritualmente. Pois todos os que nele creram - e nesse
número ela mesma se encontra - são chamados com razão
'filhos do esposo' (Mt 5.19). Mas ela é certamente a mãe de
seus membros - que somos nós - porque cooperou com
sua caridade para que nascessem os fiéis na Igreja, os mem-

139
bros desta divina Cabeça, da qual ela mesma é a verdadeira
mãe conforme a carne. "20
"Nasceu Cristo em Belém de Judá, conforme anterior
profecia, homem visívelnascido de uma virgem humana, Deus
oculto procedendo de um Deus Pai."2l
"Portanto, o Senhor se fez pecado, porque foi feito no
meio do pecado, pois assumiu a carne da mesma massa que
merecera a morte, por causa do pecado. Resumindo: Maria,
filha de Adão, morreu por causa do pecado, Adão morreu
por causa do pecado, e a carne do Senhor, provinda de Ma-
ria, morreu para apagar os pecados."22
"Isento deste vínculo da concupiscência carnal, nasceu
Cristo não de um varão, mas de uma virgem que concebeu
por obra do Espírito Santo. Dele não se pode dizer que foi
concebido em iniqüidade; não se pode dizer: Sua mãe o ge-
rou em pecado. [...] Por conseguinte, não se diz que os ho-
mens são concebidos em iniqüidades e em pecado são gerados
pelas mães porque seria pecado a união dos cônjuges, mas
porque a geração se produz numa carne sujeita à pena devi-
da ao pecado. [...] A casta união conjugal não é culpada, mas
o pecado original acarreta a merecida pena."23
"Segundo observa o evangelista [João]: 'Jesus desceu a
Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos e seus discípulos. E ali
ficaram apenas alguns dias' [Jo 2.12]. Portanto, Jesus tinha
mãe, irmãos e discípulos. E se ele tinha irmãos é porque ti-
nha mãe. O hábito de nossa Escritura santa, com efeito, é de
não restringir esse nome de 'irmãos' unicamente aos filhos
nascidos do mesmo homem e da mesma mulher. Nem àque-
les que nascem de uma só e mesma mulher, ou só do mesmo
pai, ainda que nascidos de mães diferentes. Nem mesmo de
restringir o nome de irmãos a primos de primeiro grau, como
são os filhos de dois irmãos ou de duas irmãs. Não são esses,
unicamente, os que a Escritura costuma chamar de irmãos.
É preciso penetrar o sentido das expressões empregadas pela
Escritura Sagrada. Ela tem sua maneira de dizer. Possui sua
linguagem própria. Quem ignora essa linguagem pode ficar
perturbado e perguntar-se: então, o Senhor tem irmãos? Será
que Maria teve ainda outros filhos? Não! De modo algum!
Foi desde o seu parto virginal que principiou a dignidade
das virgens. Essa filha do gênero humano pôde ser mãe, mas
não foi 'mulher', em certo sentido. Ela é chamada 'mulher',
sem dúvida, em consideração a seu sexo, mas não por ter
perdido sua virgindade. Isso é assim deduzido, se conside-
rarmos a linguagem da Escritura. [...] Qual é, pois, a razão
de ser da expressão 'irmãos do Senhor'? Irmãos do Senhor
eram os parentes de Maria. Parentes, em algum grau que
seja. Como se demonstra isso? Pela própria Escritura, que
chama, por exemplo, Ló de irmão de Abraão [Gn 13.8;
14.14]. E ele era um filho de seu irmão. Lede e vereis que
Abraão era tio de Ló, e, todavia, chamavam-se ambos de ir-
mãos, unicamente por serem parentes. Também Labão era
tio de Jacó, por ser irmão de Rebeca, esposa de Isaque. Lede
a Escritura e vereis que tio e sobrinho tratavam-se de irmãos.
Perante esses fatos, ficareis sabendo que todos os consangüí-
neos de Maria eram considerados irmãos de Cristo."24

MARTÍRIO
"Todos os hereges sofrem, mas pelo erro, não pela verda-
de, porque mentem contra o próprio Cristo. Todos os pa-
gãos, em sua impiedade, suportam todos os seus sofrimentos
pelo erro. Que ninguém, pois, se exalte nem se glorifique
por seu sofrimento, mas que prove primeiro a verdade de
sua palavra. Se me mostras o sofrimento, eu pergunto pela
causa! Se dizes: 'sofri', eu digo: 'por que sofreste?'. Porque se
nos detivermos apenas no sofrimento, então, os bandidos tam-

141
bém merecem condecoração. [...] Se é preciso gabar-se do
sofrimento, então, o diabo tem muito do que se gloriar. Por-
que seus sofrimentos estão aí, à vista de todos: seus templos
por toda a parte derrubados, seus ídolos por toda a parte
quebrados, seus sacerdotes e seus endemoninhados por toda
a parte massacrados. Será que por isso ele poderá dizer: 'eu
também sou mártir, pois tenho sofrido demais?'. Portanto,
que o homem de Deus escolha, antes, sua causa, e só depois
caminhe tranqüilamente para o sofrimento. Se ele caminhar
para o sofrimento por uma boa causa, aí sim, depois do sofri-
mento, ele merecerá também a coroa."25
"É a causa que distingue o mártir da paciência, ou me-
lhor, da dureza dos celerados. O sofrimento é igual, mas a
causa é diferente. [Vicente] combateu pela verdade, pela jus-
tiça, por Deus, por Cristo, pela fé, pela unidade da Igreja,
pela indivisa caridade."26
"Nós aos nossos mártires construímos não templos como
a deuses, mas memórias como a mortos cujas almas vivem
junto de Deus; e nelas erigimos altares para oferecermos sa-
crifícios, não aos mártires, mas ao único Deus deles e nosso."2?
"E nem então a Cidade de Cristo, apesar de caminhar
ainda na Terra como peregrina, mas ter as forças de grandes
populações, não lutou contra os seus ímpios perseguidores
em defesa da sua salvação temporal - mas, ao contrário,
para obter a vida eterna, não opôs resistência. Eram amarra-
dos, enclausurados, decepados, torturados, queimados,
esquartejados, chacinados - mesmo assim multiplicavam-
se. Para eles, lutar pela salvação mais não era que desprezar a
salvação pelo Salvador."28
"Quem já não ouviu falar dos mártires? Sobre que lábios
cristãos esse nome não se encontra cada dia? Oxalá também
se encontrasse no nosso coração, para que imitássemos o
seu heroísmo [...], e não fizéssemos pouco caso [...] de seus
exemplos. "29

MATRIMÔNIO
"Nós é que não temos a menor dúvida de que, conforme
a bênção de Deus, 'crescer, multiplicar-se e encher a Terra' é
um dom das núpcias que Deus instituiu desde o princípio,
antes do pecado do homem, quando os criou homem e mu-
lher, diferença de sexo que ficou bem patente na carne."30
"Que lhe tenha sido dada uma mulher tirada do seu lado
- mostra à saciedade também quão cara deve ser a união do
homem e da mulher. "31
"Mesmo quando os cônjuges realizam os deveres da união
conjugal, embora nesse ato procedam com alguma maior
intemperança e incontinência, se devem mútua fidelidade."32
"Se um dos cônjuges quiser guardar perpétua continên-
cia, não o possa fazer sem o consentimento do outro. Por isso
está escrito: 'A mulher não tem poder sobre seu corpo, mas
sim o marido; e o marido não tem poder sobre seu corpo,
mas sim a mulher' (lCo 7.4). De sorte que não se neguem um
ao outro aquilo que é conducente, não só para a procriação,
senão também para prover à fragilidade e à incontinência,
quer o exija o marido da mulher, quer a mulher o exija do
marido: não venha a acontecer que por causa disto caiam em
pecaminosas corruptelas, por instigação de Satanás, que se
aproveita da incontinência de ambos, ou de uma das partes."33
"Boas são as núpcias, e com justiça devem ser defendidas
contra todas as calúnias."34
"Em parte alguma das Santas Escrituras se encontra con-
denado o matrimônio, enquanto a desobediência é sempre
reprovada. "35
"Entre todos os povos e entre todos os homens sempre
foram considerados como bem do matrimônio a procriação
e a castidade conjugal, e no povo de Deus a santidade do
sacramento, pela qual é nefando que a mulher separada do
marido se case com outro, durante a vida do marido, mesmo
com o libelo de repúdio nem sequer por motivo da procria-
ção, essencial ao matrimônio. Nem pela falta de prole se dis-
solve o vínculo conjugal, senão unicamente pela morte do
cônjuge."36
"Nem pelo divórcio fica abolida a aliança nupcial, de tal
modo que, mesmo separados, sempre serão cônjuges entre
si, porque cometerão adultério com aqueles a quem se unam
depois de separados, faltando ela à fidelidade ao marido, e
ele à fidelidade para com sua mulher."37

MENTIRA
''A mentira consiste em dizer o que é falso com a intenção
de enganar."38
"Tu não aceitas ser possuído juntamente com a mentira."39
"Mentir é querer passar pelo que não se é."40

MÉRITO
"Por nós mesmos fomos vencidos, mas nele vencemos. Por
esta razão ele te coroa, coroando seus dons e não os teus mé-
ritos."!'
''A graça veio primeiro; agora se entrega aquilo que é de-
vido. [...] Os méritos são dons de Deus."?

MILAGRES
"Sabemos que nossos antepassados para se elevarem em
grau de fé - das coisas temporais às eternas - guiaram-se

144
(e nem podia ser de outro modo) pelos milagres visíveis. Se
bem que, graças a eles, esses milagres não se apresentam mais
necessários a seus descendentes. Aqueles milagres não foram
mais consentidos ao nosso tempo, estando uma vez difundi-
da e estabelecida por toda a terra a Igreja Católica. Isso para
que o nosso espírito não exijasempre coisasvisíveis, e que o gêne-
ro humano não se arrefeça pelo costume de se apoiar nesses
bens, com cuja novidade se inflamara. Aliás, não podemos
mais duvidar de que é preciso crer naqueles homens pionei-
ros. Sua pregação foi acessível apenas para alguns, mas, de-
pois, conseguiram persuadir todos os povos a segui-los.l'"
"Os milagres realizados por nosso Senhor Jesus Cristo são
obras divinas e convidam o espírito humano a elevar-se das
coisas visíveis ao conhecimento de Deus. E como Deus não é
de natureza que possa ser visto pelos olhos do corpo; e como,
de outro lado, os milagres que ele realiza ao governar e admi-
nistrar a criação tornaram-se tão comuns por sua freqüência,
que ninguém presta atenção à admirável e espantosa ação de
Deus na menor semente, ele reservou-se, em sua misericór-
dia, a realização de certos fatos, em momentos oportunos,
fora do curso habitual da natureza. Assim, os homens pas-
sam a ficar admirados, presenciando fatos raros, embora não
maiores do que os que se consideraram vulgares, em razão da
assiduidade com que se realizam."44

MILÊNIO
O evangelista João, "com certeza, empregou mil anos
[Ap 20.1,2] em vez do conjunto dos anos deste século para
marcar, com um número perfeito, a plenitude do próprio
tempo"."
"O Diabo foi amarrado e encerrado no abismo precisa-
mente por isso - para já não extraviar os povos [predestina-

145
dos] que constituem a Igreja e que ele mantinha extraviados
antes de [edificarem] a Igreja.'?"
"Se, para o Diabo, ser amarrado e encerrado equivale dizer
que não pode extraviar a Igreja [Ap 20.1-6], quererá dizer
então a sua libertação que já pode extraviá-la? Longe disso,
pois jamais poderá por ele ser extraviada a Igreja predestina-
da e eleita antes da fundação do Mundo, da qual foi dito: 'O
Senhor conhece os que são dele' (2Tm 2.19)."47
''Assim, pois, durante todo o tempo que esse livro [Apoca-
lipse] abarca, ou seja, desde o primeiro advento de Cristo até
o fim do século, que será o do seu segundo advento, o Diabo
está aprisionado, no sentido de que este aprisionamento con-
siste em não extraviar a Igreja durante esse intervalo que ele
designa pelo número de mil anos, pois que, sem dúvida,
mesmo desvencilhado, ele não conseguirá extraviá-la.?"
"Durante o período de mil anos em que o Diabo está
amarrado, os santos reinam com Cristo também durante mil
anos, devendo estes ser entendidos, sem dúvida, da mesma
maneira, ou seja, desde o período do seu primeiro advento.?"

MÔNICA
"Envergonhava-me de atender as suas solicitações, por-
que me pareciam conselhos de mulher. No entanto, eram
teus os conselhos, e eu não sabia; eu estava convencido de
que tu te calavas, e que era ela quem falava; mas por meio
dela eras tu que me falavas, e nela eu te desprezava, eu, teu
servo, 'filho de tua servà."50
"Nesse sonho, [Mônica] viu-se de pé sobre uma régua de
madeira, e um jovem luminoso e alegre lhe foi sorridente ao
encontro, enquanto ela estava triste e amargurada. Pergun-
tou-lhe os motivos da tristeza e das lágrimas cotidianas, não
por curiosidade, mas para instruí-la, como acontece muitas
vezes. E respondendo ela [disse] que chorava a minha perdi-
ção, ele a confortou, aconselhando-lhe que prestasse atenção
e visse que onde ela se encontrava aí estava também eu. Ela
olhou e me viu diante de si, de pé, na mesma régua."51
"Minha mãe, porém, não se rendeu a essas palavras [que
Agostinho não se converteria], mas insistiu, suplicando-lhe
com muitas lágrimas, que me fosse ver e tivesse uma conversa
comigo, até que o bispo, já um tanto aborrecido, respondeu-
lhe: 'Vá e viva em paz, pois é impossível que possa perecer
um filho de tantas lágrimas'."52
"No entanto, somente tu, meu Deus, conhecias os moti-
vos que me faziam deixar Cartago e me levavam a Roma,
mas não os manifestavas à minha mãe nem a mim. Ela cho-
rou amargamente a minha partida e me seguiu até o mar.
Quando me apertou estreitamente, tentando persuadir-me
a voltar ou a deixá-la vir comigo, enganei-a, fingindo que
desejava acompanhar um amigo que aguardava vento favo-
rável para navegar. Menti à minha mãe - e que mãe! Fugi
dela. [...] Recusando voltar sem mim, eu a convenci com es-
forço a passar a noite numa capela dedicada a São Cipriano,
vizinha ao lugar onde se achava nosso navio. Nessa mesma
noite parti escondido, e ela ficou a chorar e a rezar."53
"Embora de coração afetuoso, [meu pai] se encolerizava
facilmente. Minha mãe havia aprendido a não o contrariar
com atos ou palavras, quando o via irado. Depois que ele se
refazia e acalmava, ela procurava o momento oportuno para
mostrar-lhe como se tinha irritado sem refletir.T"
Mônica "suportou infidelidades conjugais, sem jamais
hostilizar, demonstrar ressentimento contra o marido por
isso".55 "E ao final, nos últimos anos de vida do marido, ela o
conquistou para ti. Depois da conversão deste, ela não preci-
sou mais lamentar os ultrajes que antes sofria."56

147
"Não lembro bem o que foi que lhe respondi. Passados,
porém, cinco dias ou pouco mais, ela caiu de cama com fe-
bre. Durante a doença, perdeu os sentidos, por alguns ins-
tantes não reconhecia os presentes. Acorremos logo, e ela
imediatamente voltou a si. Olhou para meu irmão e para
mim ao lado e, como se procurasse alguma coisa, pergun-
tou-nos: 'Onde é que eu estava?'. Depois, notando nosso es-
panto e tristeza, acrescentou: 'Enterrareis aqui a vossa mãe'.
Permaneci mudo, procurando conter as lágrimas. Meu ir-
mão, porém, proferiu algumas palavras, mostrando o desejo
de vê-la morrer na pátria e não em terra estranha. Minha
mãe repreendeu-o com olhar severo por pensar de tal ma-
neira. E, voltando-se para mim, disse: 'Vê o que ele está
dizendo!'. E então para nós dois: 'Enterrai este corpo em qual-
quer lugar, e não vos preocupeis com ele. Faço-vos apenas
um pedido: lembrai-vos de mim no altar do Senhor, seja qual
for o lugar em que estiverdes'. [...] Pelo nono dia de doença,
aos cinqüenta e seis anos de idade, quando eu tinha trinta e
três, essa alma fiel e piedosa libertou-se do corpo. Fechei-lhe
os olhos, e uma tristeza infinita invadiu-me a alma. Estava
prestes a transbordar em torrentes de lágrimas. Contudo,
por um violento ato de vontade, meus olhos as absorveram
até secar-lhes a fonte. Eu me senti mal ao fazer tal esforço.
Quando ela exalou o último suspiro, o jovem Adeodato pror-
rompeu em soluços, mas, instado por nós, calou-se. Assim
também eu, naquele resto de infância que tendia a manifes-
tar-se em lágrimas, também eu calava, vencido pela voz do
adulto, pela voz de espírito. De fato, não nos parecia justo
celebrar o funeral com lamentos e choros, pois essas demons-
trações servem usualmente para deplorar a morte como in-
felicidade ou como aniquilamento total, ao passo que essa
morte não era uma desgraça, nem era para sempre. [...]
Quando seu corpo foi levado, fomos à sepultura, e de lá vol-
tamos sem chorar. Nem mesmo chorei durante as orações,
quando oferecemos por ela o sacrifício de nossa redenção,
com o corpo já colocado ao lado do túmulo, antes do enter-
ro, segundo era costume do lugar. Nem durante essas preces
chorei. No entanto, durante o dia todo, me oprimia uma
dor íntima e, com o coração perturbado, eu te suplicava,
quanto podia, que aliviasses meu sofrimento. E tu não o fi-
zeste [...]. Pensei então em tomar um banho, pois ouvira di-
zer que o nome banho vem do grego balanion, porque afasta
os sofrimentos da alma. Confesso também isso à tua miseri-
córdia, ó Pai dos órfãos; confesso que saí do banho como
estava antes, sem conseguir expulsar do coração essa amarga
tristeza. Depois adormeci. Quando acordei, a dor era bem
menor. [...] Depois, pouco a pouco, voltava a recordar os
primeiros pensamentos sobre tua serva, seu comportamento
piedoso para contigo [...]; e queria ainda chorar diante de ti
[...]. Afinal, não mais reprimi as lágrimas, que correram à
vontade; e sobre elas pousei o coração, que nelas encontrou
repouso. "57

MORAL
"Tua lei, Senhor, condena certamente o furto, como tam-
bém o faz a lei inscrita no coração humano, e que a própria
iniqüidade não consegue apagar."58
''A fim de que os homens não se queixassem de ter-lhes
faltado algo, foi escrito [por Deus] em tábuas aquilo que eles
não liam em seus corações."59
"Quem quiser meditar com piedade e recolhimento o ser-
mão que nosso Senhor Jesus Cristo pronunciou na monta-
nha, tal como o lemos no Evangelho segundo Mateus,
encontrará aí, creio eu, um programa perfeito de vida cristã
destinado à direção dos costumes. "60

149
''Algumas pessoas, desejosas de obedecer aos preceitos de
Deus, podem interpretar mal a palavra 'simplicidade' e ima-
ginar que haverá igualmente culpa em afirmar falsidades
como em ocultar, por vezes, uma verdade. Por aí serão leva-
dos a revelar a certas pessoas verdades que elas não poderiam
suportar. Desse modo, causar-Ihes-ão dano maior do que se
essas verdades fossem guardadas em perpétuo silêncio."61
"Onde, pois, estarão escritas essas regras [a lei natural]?
[...] Onde hão de estar escritas senão no livro daquela luz
que se chama Verdade? Nesse livro é que se baseia toda lei
justa que é transcrita e se transfere para o coração do homem
que pratica a justiça. Não como se ela emigrasse de um lado
para o outro, mas a modo de impressão na alma. Tal como a
imagem de um anel fica impressa na cera, sem se apagar do
anel."62
"Na lei temporal dos homens nada existe de justo e legíti-
mo que não tenha sido tirado da lei eterna."63
"Não existe verdadeira liberdade a não ser entre pessoas
felizes, as quais seguem a lei eterna. "64

MORTE
''A morte, ao contrário, precipita no não-ser a tudo o que
morre, à medida que morre. O ser que morre não morre intei-
ramente, porque, se as coisas mortais ou corruptíveis perdes-
sem inteiramente seu ser, chegariam ao nada. Tanto mais morrem
quanto mais deixam de participar da essência. Ou dito mais
brevemente: tanto mais morrem, quanto menos são."?
"O castigo da carne é a morte, e de fato nela é inerente a
própria mortalidade. "66
"O sofrimento encheu-me de trevas o coração, e eu não
via senão a morte em toda parte. A pátria tornou-se para
mim um tormento; a casa paterna, motivo incrível de infeli-
cidade, e tudo o que tivera em comum com ele, agora, sem
ele, transformava-se em sofrimento ilimitado. Meus olhos o
procuravam por toda parte sem encontrá-lo; eu odiava o
mundo inteiro, aborrecia-me porque o amigo não mais exis-
tia, e ninguém podia dizer-me: 'Aí vem ele', como, quando
em vida, se ausentava por algum tempo. Tornei-me um grande
problema para mim mesmo e perguntava à minha alma por
que estava tão triste e angustiado, mas não tinha resposta. Se
eu lhe dizia: 'Confia em Deus'l, ela não me obedecia, e com
razão, pois a pessoa queridíssima que havia perdido era me-
lhor e mais real que o fantasma no qual eu pedia que ela
esperasse. Somente as lágrimas me eram doces e substituíam
o amigo no conforto do meu espírito."67
"Com efeito, a sentença do Apóstolo [2Co 5.10] adverte-
nos que é antes da morte que devemos fazer o que poderá ser
útil depois dela."68
''As almas dos mortos estão, pois, em lugar de onde nada
vêem do que se passa ou do que acontece aos homens aqui
na terra. Como, portanto, poderiam partilhar das misérias
dos vivos, já que ou bem estão a suportar as suas próprias
penas, caso as tenham merecido, ou bem estão a repousar
como foi prometido a josias, em lugar de paz? Aí não sofrem
nem por si nem pelos outros, libertados que estão de todas as
penas que sua dor pessoal e sua compaixão por outrem lhes
ocasionavam quando ainda estavam vivos aqui na terra."69
"Convenhamos, pois, que os mortos ignoram os aconteci-
mentos daqui da terra, pelo menos no momento mesmo em
que se realizam. Podem vir a conhecê-los mais tarde, por aque-
les que vão ao seu encontro, uma vez mortos. Por certo, não
ficam conhecendo tudo, mas somente aquilo que lhes for auto-
rizado de ser revelado e que elestêm necessidade de conhecer."70

151
"A Sagrada Escritura atesta-nos que alguns mortos foram
enviados a certas pessoas vivas; e reciprocamente, algumas
pessoas foram até a morada dos mortos. Assim, Paulo foi ar-
rebatado ao Paraíso [2Co 12.2]. E o profeta Samuel, após
sua morte, apareceu a Saul ainda vivo e lhe predisse o futuro
[ISm 28.15-19]. É verdade que alguns negam que tenha
sido Samuel que apareceu, pois sua alma era refratária a tais
procedimentos mágicos, como dizem. Foi, conforme julgam,
outro espírito, suscetível a essa arte maléfica que se revestiu
de imagem semelhante a ele. [...] (Mas há outro texto que
convida a admitir esse envio de mortos aos vivos: a passagem
das aparições de Moisés e Elias no Tabor.)"71
"É preciso compreender, antes, que é por efeito do poder
divino que os mártires intervêm em nossos interesses. Pois os
mortos não possuem por sua própria natureza tal poder."72

MUNDO
" 'Não vos admireis, irmãos, se o mundo vos odeia'
(I]o 3.13). Será preciso dizer, uma vez mais, o que entender
por 'mundo'? Não é o céu nem a terra, nem as obras feitas
por Deus, mas os amantes do mundo. [...] O que é, pois,
mundo? O mundo tomado no mau sentido significa os que
amam o mundo. O mundo tomado no bom sentido é o céu,
a terra e as obras de Deus que nele se encontram. Daí ser
dito: 'E o mundo foi feito por meio dele' 00 1.10). O mun-
do é ainda tomado como a plenitude da terra, como diz João:
'Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados. E não so-
mente pelos nossos pecados, mas também pelos de todo o
mundo' (I]o 2.2). O mundo aí são os fiéis espalhados pelo
orbe da terra."73
N
NASCIMENTO VIRGINAL
(v. MARIA)

o
ORAÇÃO
"Percorrei todas as orações que se encontram nas Escritu-
ras, e eu não creio que possais encontrar nelas algo que não
esteja incluído na oração do Senhor."!
"Na oração, efetua-se a conversão de nosso coração a Deus,
a ele que está sempre disposto a conceder-nos seus dons, se
formos capazes de recebê-los.'?
Jesus "ora por nós como nosso sacerdote, ora em nós como
nossa Cabeça e a ele oramos como a nosso Deus. Reconheça-
, » 3
mos, portanto, na sua as nossas vozes, e sua voz em nos .
"É a ti que devemos pedir, é em ti que devemos buscar, é
à tua porta que devemos bater. Assim, somente assim recebe-
remos, somente assim encontraremos, somente assim nos será
aberta a porta."!
"Com efeito, os seus santos, com uma vontade santa por
Ele inspirada, querem que se façam muitas coisas que não

153
chegam a ser feitas; como rogam piedosa e santamente por
alguns, mas Ele não faz o que lhe pedem, sendo Ele quem,
pelo seu Espírito, causa neles essa vontade de orar. Por isso,
quando os santos querem e rogam, em conformidade com
Deus, que cada um seja salvo, podemos dizer, segundo esse
tipo de expressões: Deus quer mas nãojàz; dizemos então que
Ele quer no sentido de que Ele faz com que os outros quei-
ram. Mas, conforme essa vontade, que é sua e eterna como a
sua presciência, claro está que tudo o que quis no Céu e na
Terra, tanto passado e presente como futuro, fê-lo já. Mas
antes que chegue o tempo em que se cumprirá como Ele
quis o que antes de todos os tempos previu e determinou,
nós dizemos: Acontecerá quando Deus quiser; mas se ignora-
mos dum acontecimento, não só o momento em que virá a
acontecer, mas também se chegará a acontecer, então dize-
mos: Acontecerá se Deus quiser: não porque Deus venha a ter
então uma vontade nova que antes não tinha, mas porque só
então acontecerá aquilo que desde toda a eternidade está
preparado na sua vontade imutável."5
"Acontece que aqueles que oram impõem a seus mem-
bros uma posição condizente com a oração: põem-se de joe-
lhos, estendem as mãos, prostram-se no chão e executam
muitos outros gestos do mesmo gênero. [...] Contudo, por
essas demonstrações, a pessoa estimula-se a si mesma a orar e
a gemer com mais humildade e fervor. E ainda que os gestos
corporais não possam se produzir sem movimento interior
da alma, esses atos exteriores e invisíveis amplificam, não sei
como, o ato interior e invisível que os suscitara. Não obstante,
se alguém estiver impedido ou até impossibilitado de os rea-
lizar com seus próprios membros, isso não incapacita o ho-
mem interior de orar. Deus o vê, contrito e arrependido,
prostrar-se no santuário secreto do seu coração."6
"Se faltassem outros argumentos, a Oração do Senhor se-
ria suficiente à causa da graça que defendemos, porque nada
nos deixou em que nos possamos gloriar como coisa nossa.
Na verdade, mostra que a graça de não nos afastarmos de
Deus é doação dele, pois revela que lhe devemos pedir."7
"Conta-se que os monges no Egito fazem freqüentes ora-
ções, mas brevíssimas e, por assim dizer, lançadas de súbito, para
que a intenção - aplicada com toda a vigilânciae tão necessária
ao orante - não venha a dissipar-se e afrouxar pela excessiva
demora. Ensinam ao mesmo tempo com clarezaque, se a aten-
ção não consegue permanecer desperta, não se deve deixá-la
enfraquecer; mas, em caso contrário, não se há de cortá-la."!

PASTORAL
"Eu fui agarrado, fui feito padre, o que por fim me con-
duziu ao episcopado."!
Os ministros "devem ser apreciados não pelo seu título,
que muitas vezes é indignamente obtido, mas segundo a san-
tidade que não é comum aos bons e aos maus". 2
"Se eu vos pudesse contar todas as horas de meus dias e de
minhas noites que devo conceder às necessidades dos outros,
ficaríeis apavorado e surpreso com a massa de assuntos que
me impedem de consagrar-me à redação que me solicitais e
que eu lamento não poder reromar"

155
"O dever de me dedicar às tarefas que me são impostas
não me deixa tempo para fazer aquilo que seria do meu agra-
do. Esses trabalhos devoram o pouco de lazer que me resta,
em meio aos assuntos e chamados alheios. Por vezes, fico
obsedado, não sabendo mais para onde me voltar."4
"Pregar, discutir, admoestar, edificar, estar à disposição de
cada um - que fardo, que peso, que trabalho!"5
"Imita os bons, tolera os maus e, porque não sabes o que
será amanhã o que hoje é mau, a todos ama."6
"De que adianta, ao longo de tantos anos, ter batizado
tanta gente se ninguém guardou as promessas de castidade
que fez? Mas longe de mim crer que isso seja verdade! Se
fosse assim, seria melhor que eu não me houvesse tornado
vosso bispo. Prefiro até pensar o contrário! Uma das tristezas
da minha função é a de receber confidências de tantas infi-
delidades conjugais e nada saber daqueles que vivem na fi-
delidade. O que me poderia alegrar permanece oculto, mas
o que me desola se exibe à luz do dia."?
"É preciso considerar aquilo que cada um pode suportar,
para não se deter uns e fazer outros cair. Que tormento para
mim! Freqüentemente me ocorre que, se eu punir alguém,
ele cai. Mas, se eu não punir, é outro que cai. Ó santo homem
de Deus, meu caro Paulino, que pavor! Que coisa tenebrosa!"8
"Que há de mais terrível para o homem do que ver mui-
tos que vivem mal, e verificar que estão cheios de obras más
aqueles de que se esperava que agissem bem? Passa-se a rece-
ar que sejam iguais a todos os que se julgava serem bons e
caem suspeitas sobre quase todos os bons. Que homem aque-
le! Como pôde cair? Como pôde ser surpreendido em tal
torpeza, em tal crime, em tal ação má? [...] Irmãos. Para estes
escândalos só existe um remédio: Não pensar mal de um ir-
mão. Sê humildemente o que queres seja ele, e não julgarás
que ele é o que não éS."9
"Observa a formiga de Deus. Levanta-se diariamente, corre
à Igreja de Deus, ora, ouve a leitura, canta o hino, rumina o
que ouviu, medita, recolhe no seu íntimo os grãos apanha-
dos na eira. Aqueles que ouvem com prudência o que agora
foi dito, agem deste modo, e todos os vêem vir à igreja, voltar
da igreja, ouvir a leitura, tomar o livro, abri-lo e lê-lo. Tudo
isso se vê fazer. Aquela formiga está trilhando o caminho,
carregando e depositando, perante os que a olham. Virá um
dia o inverno. Para quem ele não chega?"lO
"Nesta vida, e especialmente nestes tempos, não há nada
mais confortável, mais deleitável, nada mais almejado do que
o ofício de bispo, presbítero ou diácono, quando este é exer-
cido levianamente, em meio aos atrativos dos bajuladores.
Aos olhos de Deus, porém, não há nada mais desprezível,
mais deplorável, mais indigno de condenação [...]. Por outro
lado, quando esse serviço é executado conforme manda o
nosso Mestre, aos olhos de Deus não há maior felicidade."!'
" 'Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalharam os
que a edificaram'. [...] Quais são os que trabalham na cons-
trução? Todos os que na Igreja pregam a palavra de Deus, os
ministros dos sacramentos de Deus. Todos corremos, todos
trabalhamos, todos edificamos [...]. Mas 'se o Senhor não
edificar a casa, em vão trabalharam os que a edificaram'. [...]
Com efeito, nós falamos exteriormente, e o Senhor edifica
interiormente. [...] Ele edifica, ele admoesta, ele atemoriza,
ele abre o intelecto, ele aplica vosso modo de pensar a fé."!2
"O sacramento do matrimônio em nosso tempo está res-
tringido a um só marido e uma só esposa, de tal modo que
não seja lícito ordenar bispo ou sacerdote senão o marido de
uma só mulher."13

157
"Na ação, não é às honras desta vida nem ao poderio que
se deve amar, porque 'tudo é vaidade debaixo do Sol'
(Ec 1.14), mas é ao próprio trabalho [a atividade pastoral],
cumprido no exercício dessas honras e desse poderio, se rea-
lizado com retidão e utilidade, isto é, capaz de contribuir,
segundo os planos de Deus, para a salvação dos que nos estão
submetidos."14
"O amor à verdade, portanto, é que busca o santo lazer [a
vida monástica], e a urgência da caridade aceita a devida ocu-
pação [a atividade pastoral]. Se ninguém nos impuser este
fardo, convém que nos apliquemos à contemplação da ver-
dade. Se no-lo impuserem, convém que o aceitemos como o
exige o dever de caridade. Mas, mesmo então, não convém
renunciar inteiramente às alegrias da verdade, não aconteça
que, privados desta suavidade, aquele dever nos oprima."15

PAZ
"Senhor Deus, concede-me a paz, tu que tudo nos deste.
Concede-nos a paz do repouso, paz do sábado, uma paz sem
ocaso. Essa belíssima ordem de coisas 'muito boas', uma vez
cumprido o seu papel, toda ela passará; porque terão tido
um amanhecer e uma tarde."!"

PECADO ORIGINAL
"Logo, depois do pecado, ele [Adão] foi levado ao exílio e
por causa do pecado, toda a raça à qual deu origem foi cor-
rompida nele e, assim, submetida à pena de morte. E tanto é
assim que todos os descendentes de sua união com a mulher
que o levou ao pecado, que foram condenados ao mesmo
tempo com ele - por serem produtos da concupiscência
carnal na qual o mesmo castigo de desobediência se inflige
- , foram maculados pelo pecado original e levados depois
de muitos erros e sofrimentos até o derradeiro e eterno casti-
go que sofrem em comum com os anjos pecadores, seus
corruptores, senhores e co-participantes da condenação.?'?
''A concupiscência permanece na prole e a faz adquirir o
reato do pecado de origem, ainda que o reato do mesmo
pecado nos pais tenha sido purificado pela remissão dos pe-
cados."18
''A natureza do homem foi criada no princípio sem culpa
e sem nenhum vício. Mas a atual natureza, com a qual todos
vêm ao mundo como descendentes de Adão, tem agora ne-
cessidade de médico devido a não gozar de saúde. O sumo
Deus é o criador e autor de todos os bens que ela possui em
sua constituição: vida, sentidos e inteligência. O vício, no
entanto, que cobre de trevas e enfraquece os bens naturais, a
ponto de necessitar de iluminação e de cura, não foi perpe-
trado pelo seu Criador, ao qual não cabe culpa alguma. Sua
fonte é o pecado original que foi cometido por livre vontade
do homem. Por isso, a natureza sujeita ao castigo atrai com
justiça a condenação. Se agora somos nova criatura em Cris-
to, contudo éramos por natureza, como os demais, filhos da
ira. Mas Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor
com que nos amou, quando estdvamos mortos em nossos delitos,
nos vivificou com Cristo -pela graça fostes salvos! (Ef 2.3-5)."19
"Portanto, todo o gênero humano que devia propagar-se
pela mulher estava no primeiro homem quando essa união
dos cônjuges recebeu a sentença divina da sua condenação.
E aquilo em que se tornou o homem, não quando foi criado,
mas quando pecou e foi castigado, transmitiu-o ele aos seus
descendentes no que diz respeito à origem do pecado e da
morte."20
"Deus, autor das naturezas e não dos vícios, criou o ho-
mem reto, mas este, espontaneamente pervertido e justamente
castigado, gerou pervertidos e castigados. É que todos estive-

]59
mos naquele homem único quando todos fomos aquele ho-
mem único que foi arrastado ao pecado pela mulher que
dele fora feita antes do pecado."21
"Foi no seu íntimo que começaram a ser maus para logo
caírem em ostensiva desobediência. De fato, não se chega ao
ato mau sem que a vontade má o tenha precedido."22
"Com efeito, assim como, por um só homem que pecou,
caímos nesse tão grave mal, assim também, por um só ho-
mem, sendo este o próprio Deus, que justifica, chegamos a
esse tão sublime bem."23
"Por que razão diz que foi concebido em iniqüidade, se-
não porque contraiu o pecado original de Adão? A própria
necessidade da morte liga-se ao pecado. Ninguém nasce sem
contrair a culpa, a pena."24
"Em Adão todos pecaram. Excetua-se apenas a criança
inocente que não nasceu com o pecado de Adão.'?'
''Aprouve, muito justamente a Deus, que governa sobera-
namente todas as coisas, que nascêssemos daquele primeiro
casal, com ignorância e dificuldade no esforço e mortalida-
de. Isso porque, ao pecarem, eles foram precipitados no erro,
na dor e na morte. Assim, na origem do homem devia se
manifestar a justiça daquele que pune; e, no decorrer de sua
vida, a misericórdia daquele que liberta."26
"Na escolha equivocada daquele único homem, todos
pecaram nele, visto que todos estavam naquele único homem,
de quem todos, em face disso, derivam individualmente o
pecado original."27
"Por efeito de certa justiça de Deus, o gênero humano foi
entregue ao poder do demônio, com a transmissão do peca-
do original do primeiro homem a todos os que nasçam da

](ÍO
união dos dois sexos. Pesa, assim, sobre todos os seus descen-
dentes, o pecado contraído pelos primeiros pais."28
"Em relação ao modo como o homem foi entregue ao
poder do demônio, não se deve pensar que Deus foi o autor
ou que o tenha ordenado - somente o permitiu e com jus-
tiça. Tendo Deus abandonado o pecador, o autor do pecado
apoderou-se do homem."29

PECADO PESSOAL
"Pecado, então, é qualquer transgressão, por atos, pala-
vras ou desejos, à lei eterna."30
O pecado é "amor de si [mesmo] até o desprezo de
Deus"."
"O homem não pode, enquanto está na carne, evitar to-
dos os pecados, pelo menos os pecados leves. Mas esses peca-
dos que chamamos leves, não os consideras insignificantes: se
os consideras insignificantes ao pesá-los, treme ao contá-los.
Um grande número de objetos leves faz uma grande massa;
um grande número de gotas enche um rio; um grande nú-
mero de grãos faz um montão. Qual é então nossa esperan-
ça? Antes de tudo, a confissão."32
''As suas faltas são, portanto, voluntárias e não necessárias,
e por isso é que são seguidas de um justo castigo."?"
"E eu até ouso dizer que é útil aos soberbos que caiam em
pecado evidente e manifesto, para que sintam desgosto con-
sigo mesmos, eles que, ao cair, já tinham sentido prazer."34
"Denominamos 'pecado' não apenas o que em sentido
próprio é pecado, por ter sido cometido conscientemente
e por livre vontade, mas também o que é a conseqüência
necessária do mesmo pecado, como castigo [do próprio pe-
cado]."35

16]
"Senhor meu Deus, quão impenetrável é a profundeza
de teus segredos, e quão longe deles me levaram as conse-
qüências de meus pecados!"3G

"Porque os homens que desejavam edificar-se sobre ho-


mens diziam: 'Eu sou de Paulo; e eu de Apolo; e eu de Cefas',
que era Pedro. Mas outros que não desejavam serem edificados
sobre Pedro, mas sobre a Pedra, diziam: 'Mas eu sou de Cris-
to'. E quando o Apóstolo Paulo averiguou que foi escolhido,
e Cristo desprezado, ele disse: 'Está Cristo dividido? Foi Pau-
lo crucificado por vós? Ou fostes vós batizados em nome de
Paulo?'. E, como não o fomos no nome de Paulo, assim nem
também no nome de Pedro; mas no nome de Cristo: para
que Pedro fosse edificado sobre a Pedra, não a Pedra sobre
Pedro. Este mesmo Pedro então que tinha sido declarado
'bem-aventurado' pela Pedra, carregando a figura da Igreja,
tendo posição de destaque entre os apóstolos, logo após ter
ouvido que era 'abençoado', logo depois de ter ouvido que
era 'Pedro', logo depois de ter ouvido que ele seria 'constru-
ído sobre a Pedra', desagradou ao Senhor quando ouviu de
sua futura Paixão, pois ele havia predito aos seus discípulos o
que estava para acontecer."37
"E esta Igreja, simbolizada em sua generalidade, foi per-
sonificada no Apóstolo Pedro, por causa da primazia de seu
apostolado. Porque, com respeito à sua própria personalida-
de, ele foi por natureza um homem, pela graça, um cristão,
por uma graça ainda mais abundante, um apóstolo, e até o
primeiro apóstolo; mas, quando foi lhe dito 'Dar-re-ei as chaves
do reino dos céus, e o que ligares na terra será ligado tam-
bém nos céus; o que desligares na terra será desligado nos
céus', ele representou a Igreja universal, a qual neste mundo
é abalada por diversas tentações, que vêm sobre ela como
torrentes de chuva, dilúvios e tempestades, e não a submer-
ge, porque ela está fundada sobre a pedra (petra) , da qual
Pedro recebeu seu nome. Porque petra (pedra) não é deriva-
da de Pedro, mas Pedro de petra; justamente como Cristo
não é chamado assim a partir de cristão, mas o cristão a par-
tir de Cristo. Porque foi por essa mesma razão que o Senhor
disse 'Sobre esta pedra eu edificarei minha Igreja', porque
Pedro tinha dito 'Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo'. Sobre
esta pedra, então, Ele disse, que tu tens confessado, eu
edificarei minha Igreja. Porque a Pedra (Petra) era Cristo; e
sobre esse fundamento foi o próprio Pedro edificado. Por-
que outro fundamento não pode ser lançado além do qual já
está posto, que é Cristo Jesus. A Igreja, então, que está fun-
dada em Cristo, recebe dele as chaves do reino dos céus na
pessoa de Pedro, quer dizer, o poder de ligar e desligar
pecados. Porque a Igreja é essencialmente em Cristo, como
é representativamente Pedro na pedra (petra), e nessa repre-
sentação Cristo deve ser entendido como a Pedra, e Pedro
como a Igreja."38
"Antes, ele era chamado de Simão. O nome de Pedro lhe foi
concedido pelo Senhor, e isso com a intenção simbólica de sua
representatividade da Igreja. Porque Cristo, você vê, é a petra
ou pedra; Pedro, ou Rochoso, é o povo cristão. Pois a pedra
(Petra) é o nome original. Portanto, Pedro é assim chamado
tendo seu nome derivado da pedra; não a pedra sendo deri-
vado de Pedro, assim como Cristo não é chamado Cristo por
causa do nome cristão, mas cristão é derivado de Cristo."39
"Certas expressões parecem aplicar-se propriamente ao
apóstolo Pedro, no entanto, não oferecem sentido muito
claro a não ser que se refiram à Igreja, que ele figurava, devi-
do ao primado de que gozava entre os discípulos. Por exem-
plo, a expressão: 'Eu te darei as chaves do reino dos céus'
(Mr 16.19) e outras semelhantes.t'"

160
''A palavra da verdade, portanto, não foi retirada da boca
de Pedro, que era tipo da Igreja; não foi até o extremo [...].
Apesar de ter negado num momento, perturbado pelo medo,
no entanto reparou pelas lágrimas e confessando foi posteri-
ormente coroado. Todo o corpo da Igreja, portanto, é que
fala, a saber, a santa Igreja universal. Neste corpo inteiro, seja
porque embora muitos tenham negado, restaram os fortes
que combateram pela verdade até a morte, seja porque des-
tes que negaram muitos fizeram reparação, não foi retirada
de sua boca a palavra da verdade 'até o extrerno'r'"!

PELÁGIO, PELAGIANISMO
"Não podemos encarecer o suficiente nosso desejo de que
seja encontrada confissão declarada sobre a graça nos escri-
tos desses homens, pois muitos são os que os lêem, atraídos
por sua penetração e eloqüência. Quiséramos uma menção des-
sa graça que o Apóstolo recomenda com veemência, por ser:
- a medida da fé, e sem a fé é impossível ser agradável a
Deus (Hb 11.6);
- e 'o justo viverá da fé' (Rm 1.17);
- 'a fé que age pela caridade' (GI 5.6);
- pois antes da qual e sem a qual não há boas obras em
ninguém, já que 'tudo o que não procede da boa-fé é peca-
do' (Rm 14.23);
- (sabemos que) 'Deus dispensou a cada um a medida
da fé' (Rm 12.3);
- para não sermos ajudados apenas com a revelação da
ciência, a vivermos pia e justamente, porque 'a ciência incha;
é a caridade que edificà (ICo 8.1);
- para sermos auxiliados pela inspiração da mesma 'ca-
ridade que é a plenitude da Lei' (Rm 13.10), e que edifica
nosso coração, a fim de que a ciência não o leve a engran-
decer-se.
Até o presente, nós não pudemos encontrar tais ensina-
mentos nos escritos desses inovadores."42

PENITÊNCIA, ARREPENDIMENTO
"Quem confessa os próprios pecados já está agindo em
harmonia com Deus. Deus acusa teus pecados; se tu tam-
bém os acusas, tu te associas a Deus. O homem e o pecador
são, por assim dizer, duas realidades: quando ouves falar do
homem, foi Deus quem o fez; quando ouves falar do peca-
dor, é o próprio homem quem o fez. Destrói o que fizeste
para que Deus salve o que Ele fez. [...] Quando começas a
detestar o que fizeste, é então que tuas boas obras começam,
porque acusas tuas más obras. A confissão das más obras é o
começo das boas obras. Contribui para a verdade e conse-
gues chegar à luz."43
"Deus nos criou sem nós, mas não quis salvar-nos sem nós."44
"O Senhor nosso Deus, por uma disposição misteriosa e
arcana de sua divina e excelsa justiça, inoculou em nós o re-
médio do arrependimento, o qual o demônio não mereceu
obter."45
PERDÃO
"Como agradecerei ao Senhor por minha memória re-
cordar tais fatos, sem que isso perturbe a minha alma? Hei
de amar-te, Senhor, hei de dar-te graças e exaltar-te porque
me perdoaste atos tão graves e tão maus. Sei que, pela tua
graça e misericórdia, meus pecados se desfizeram como gelo
ao sol; devo à tua graça também todo mal que não pratiquei.
A que ponto não poderia ter chegado, eu que amei o pecado
por si mesmo, sem motivo? Senhor, proclamo que me perdo-
aste todas as culpas, quer cometidas voluntariamente, quer
as que, por tua graça não cometi. Qual o homem que, cons-
ciente de sua própria fraqueza, tem a ousadia de atribuir às

165
próprias forças o mérito da castidade e da inocência, a ponto
de amar-te menos, como se não precisasse de tua misericór-
dia, pela qual perdoas as culpas de quem arrependido se vol-
ta para ti? Quem, chamado por ti, seguiu a tua voz e evitou
as faltas, de cuja confissão e relato toma conhecimento nestas
páginas, não se ria de mim, doente que fui curado por aque-
le médico, a quem ele próprio deve o fato de não ter caído
doente, ou de ter sido menos doente do que eu. Que esse
alguém apenas te ame, meu Deus, ainda mais, reconhecen-
do que aquele que me libertou da exaustão do pecado, o
preservou também da mesma funesta debilidade.T'"
"Mas tu, médico de minha vida interior, mostra-me os
frutos deste meu trabalho. A confissão de minhas faltas pas-
sadas - que perdoaste e esqueceste para me fazer feliz, trans-
formando-me a alma pela fé e pelo teu sacramento -leva a
quem a lê e ouve a não se entregar ao desespero dizendo:
não posso. Que esta confissão desperte nele o amor pela tua
misericórdia e pela doçura da tua graça, que fortalece todos
os fracos e lhes permite tomar consciência da própria fra-
queza. Os bons têm prazer em ouvir as faltas passadas de que
agora estão livres, não pelo fato de serem faltas, mas porque,
tendo existido, já não existem. Senhor meu Deus, a quem
todos os dias a minha consciência se confessa, mais confiante
na tua misericórdia do que na sua inocência, mostra-me qual
o fruto desta confissão, feita também aos homens na tua pre-
sença, não do que fui, mas do que sou agora. Compreendi e
já recordei o fruto da confissão do passado. Mas muitos, quer
me conheçam quer não, desejariam saber o que sou agora,
no próprio momento em que escrevo minhas confissões. Já
ouviram falar de mim, mas seus ouvidos não me auscultam o
coração, onde, de fato sou verdadeiramente eu mesmo. De-
sejariam, pois, ouvir-me confessar quem sou no meu íntimo,
que o olhar, os ouvidos, a intuição não podem atingir.":"
"Portanto, quando confessamos nossas misérias e reconhe-
cemos tua misericórdia para conosco, manifestamos o nosso
amor por ti, a fim de que leves a termo a nossa libertação que
iniciaste, e deixando de ser infelizes em nós, sejamos felizes
em ti."48

PERSEVERANÇA
''Aquele, porém, que pensar poder perseverar por suas
próprias força, não reza para alcançá-la. Portanto, deve-
mos tomar cuidado para que, por temor a que se arrefeça
a exortação, não venha a extinguir-se a oração e se acender a
soberba.I"?
''Ao primeiro homem, que na criação recebera o dom de
poder não pecar [posse non peccare], poder não morrer [posse
non mort] , poder não se afastar do bem [posse non cadere],
foi-lhe concedida a ajuda da perseverança, não para perse-
verar, mas sem a qual não poderia perseverar pela força do
livre-arbítrio. Mas agora os santos destinados ao reino de Deus
pela sua graça recebem não a ajuda para a perseverança, mas
um dom que lhes outorga a própria perseverança. Assim,
não somente não podem perseverar sem este dom, mas com
ele perseveram realmente.P''
"É necessária liberdade maior para enfrentar tantas e tão
fortes tentações, as quais não houve no paraíso, e, além disso,
mais protegida e mais vigorosa com o dom da perseverança,
para vencer este mundo com todos os seus amores, temores e
erros."51
"Deus não quis que os santos se gloriassem de si mesmos,
mas dele, por motivo de sua perseverança no bem. Não so-
mente lhes concede a ajuda igual à do primeiro homem, sem
a qual não podem perseverar, se quiserem, mas leva também
a querer. E como não alcançarão a perseverança sem o poder
e o querer, na liberdade de sua graça outorga-lhes a possibi-
lidade e a vontade de perseverar. Sua vontade encontra-se
tão inflamada do fogo do Espírito Santo, que podem porque
querem e querem porque Deus os leva a querer. Se nesta
vida, marcada pela fraqueza (na qual convinha que se aper-
feiçoasse a virtude para reprimir a presunção), se nesta vida,
repito, fossem deixados por conta de sua vontade para ficar,
se quisessem, com a ajuda de Deus, indispensável para a per-
severança, e Deus não atuasse sobre sua vontade, esta sucum-
biria devido à fraqueza, situados que estão no meio de tantas
e tão sedutoras tentações. Portanto, não poderiam perseve-
rar pelo fato de não quererem, ao serem vencidos pela fra-
queza, ou não terem a vontade necessária para serem capazes.
É talo socorro oferecido à fraqueza da vontade humana que,
pela graça divina, poderia agir firme e invencivelmente
[insuperabiliter], e, embora frágil, não desfaleceria nem seria
superado por nenhuma adversidade. Assim, o resultado foi
que a vontade humana e frágil perseverasse no bem ainda
que pequeno pelo poder de Deus, ao passo que a vontade do
primeiro homem, forte e sadia, não perseverou no bem mai-
or ao fazer uso da liberdade."52
"O que estou dizendo refere-se aos predestinados ao rei-
no de Deus, cujo número é tão determinado, que não é pos-
sível nenhum acréscimo ou diminuição. Não se refere àqueles
que pelo anúncio e pela pregação do evangelho são tão nu-
merosos para se poder contar. Estes podem se considerar cha-
mados, não, porém, eleitos, porque não são segundo o seu
desígnio. "53
''Aqueles eleitos, como muitas vezes dissemos, que foram
chamados segundo seu desígnio, foram também predestina-
dos e conhecidos de antemão. Se algum deles se perde, é
sinal de que Deus se engana; mas nenhum se perde, porque
Deus não se engana. Se algum deles perece, Deus é vencido
pelo pecado do homem; mas nenhum deles perece, porque
Deus por nada pode ser vencido."54

POBRES, POBREZA
" 'Todos igualmente ricos e pobres'. Novas repetições. 'Ri-
cos' referem-se a filhos do povo; 'pobres', a filhos dos homens.
Entende-se por ricos os soberbos e por pobres os humildes.
Tenha alguém muitas riquezas em dinheiro; se não se orgu-
lha por causa disso é pobre. Não tenha outro coisa alguma,
mas ambiciona e se orgulha, Deus o coloca entre os ricos e os
réprobos. Deus interroga o coração de ricos e dos pobres, e
não seu tesouro e sua casa. [...] Ninguém procura ser rico, a
não ser que se orgulhe no meio em que vive, e queira parecer
superior aos outros. Ao dizer o Apóstolo: 'não sejam orgu-
lhosos', igualou-os aos que não possuem bens. Pode aconte-
cer de um mendigo, com algumas moedinhas, mais se exalte
do que o rico que atende ao preceito do Apóstolo: 'Aos ricos
deste mundo, exorta-os a que não sejam orgulhosos'. Como
não serão orgulhos? Se não fazem como se segue: 'Nem po-
nha sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus
vivo, que nos provê de tudo em abundância, para que nos
alegremos' (lTm 6.17). Não disse: os provê; mas: 'nos pro-
vê'. Então, o próprio Paulo não tinha riquezas? Sim; tinha.
Quais? As mencionadas pela Escritura em outro lugar: 'Ao
fiel um mundo todo de riquezas'. Ouve também sua de-
claração: 'Como nada tendo, embora tudo possuamos'
(2Co 6.10). Quem quiser, portanto, ser rico não adira a uma
parte, e possuirá tudo. Una-se àquele que tudo criou."55
"Por isso, não consideres pobres apenas os que não têm
dinheiro. Nota em que é pobre cada qual. Talvez és rico na-
quilo em que ele é pobre, e tens o que lhe emprestar. Talvez
emprestas teus membros e é mais do que se emprestasses di-
nheiro. Precisa de um conselho e tu és cheio de prudência;

169
em prudência ele é pobre e tu és rico. Eis que nem trabalhas,
nem perdes coisa alguma; dás um conselho e fizeste uma es-
mola."56
"O pobre segundo Deus é pobre pelo espírito, e não con-
forme a bolsa. [...] Deus não olha o que tem, mas sua cupidez
[...]. Todos os humildes de coração, estabelecidos na prática
da dupla caridade, tenham o que tiverem neste mundo, Deus
os enumera entre seus pobres, que se saciam de pães."57
"Vedes que os pobres e desamparados pertencem a Deus.
Mas, trata-se dos pobres em espírito, porque deles é o reino
dos céus. Quais são os pobres em espírito? Os humildes, os
que tremem diante de minha palavra, os que confessam seus
pecados; aqueles que não presumem de seus méritos, nem
de sua justiça. [...] Aqueles que, ao fazerem algo de bom, lou-
vam a Deus; quando praticam o mal, acusam a si mesmos."58

"Vim para Cartago e logo fui cercado pelo ruidoso fervi-


lhar dos amores ilícitos. Ainda não amava, e já gostava de ser
amado, e, na minha profunda miséria, eu me odiava por não
ser bastante miserável. Desejando amar, procurava um obje-
to para esse amor, e detestava a segurança, as situações isen-
tas de risco. Tinha dentro de mim uma fome de alimento
interior - fome de ti, ó meu Deus. Mas, não sentia essa
fome, porque não me apeteciam os alimentos incorruptíveis,
não por estar saciado, mas porque, quanto mais vazio, mais
enfastiado eu me sentia. [...] Era para mim mais doce amar e
ser amado, se eu pudesse gozar do corpo da pessoa amada.
Assim, eu manchava as fontes da amizade com a sordidez da
concupiscência e turbava a pureza delas com a espuma in-
fernal das paixões. Não obstante eu ser feio e indigno, apre-
sentava-me, num excesso de vaidade, como pessoa elegante e
refinada. Mergulhei, então, no amor em que desejava ser
envolvido. Deus meu, misericórdia minha, como foste bom
em derramar tanto fel sobre meus prazeres! Fui amado e
cheguei ocultamente às cadeias do prazer; mas, na alegria,
eu me via amarrado por laços de sofrimento, castigado pelo
ferro em brasa do ciúme, das suspeitas, dos temores, das có-
leras e das contendas."59

PREDESTINAÇÃO, ELEIÇÃO
''Atribuí aos desígnios ocultos de Deus ao terdes conheci-
mento do que acontece a crianças, as quais são portadoras do
mal hereditário de Adão: enquanto umas são socorridas pelo
batismo, outras não o são e morrem com essa mancha.l"?
''Alguém atrever-se-á a dizer que Deus não sabia de ante-
mão a quem daria a graça de crer ou os seguidores que daria
a seu Filho para que nenhum deles se perdesse? ao 18.9). É
claro que previu, assim como previu os seus benefícios, me-
diante os quais se digna libertar-nos. Esta é a predestinação
dos santos e não outra coisa, ou seja, a presciência de Deus e a
preparação dos seus favores, com os quais alcançam a liber-
tação todos os que são libertados. Os demais, porém, por um
justo juízo divino, são abandonados na massa da perdição,
onde foram abandonados os tírios e os sidônios, os quais tam-
bém poderiam crer, se tivessem presenciado os maravilhosos
sinais de Cristo. Mas como não lhes foi dado crer, foi-lhes
negada a motivação da fé. De tudo isso se conclui que alguns
têm na própria natureza a divina dádiva da inteligência que
os move à fé ou mediante a pregação ou a visão de sinais
adequados à sua mente. Contudo, se, por um mais alto juízo
de Deus, não são separados da massa da perdição pela graça
da predestinação, não lhes aproveita nem a pregação nem os
sinais divinos (...]. Nesta mesma massa da perdição foram
abandonados os judeus que não chegaram a crer nos gran-
des e evidentes milagres realizados em sua presença. [...] Ce-
gou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que seus olhos
não vejam, seu coração não compreenda e não se convertam e
eu não os cure [Jo 12.40]. Portanto, os olhos dos tírios e
sidônios não lhes tinham sido cegados e endurecido o co-
ração como aos judeus; teriam crido, se tivessem visto os si-
nais presenciados pelos judeus. Mas nem a estes aproveitou
o poder crer, visto que não eram predestinados por aquele
do qual são insonddveis seus juízos e impenetrdveis os caminhos
(Rm 11.33) [...]. Não obstante, o que o Senhor afirmou so-
bre os tírios e sidônios pode-se entender talvez de outro modo,
ou seja: 'Ninguém vem a Cristo, senão aquele a quem é dado';
e isto é concedido àqueles que foram eleitos desde a criação do
mundo."61
"Esta é a imutável verdade da predestinação da graça. Pois,
o que quis dizer o Apóstolo: Nele ele nos escolheu antes da
fundação do mundo? (Ef 1.4). Com efeito, se de fato está es-
crito que Deus soube de antemão os que haveriam de crer, e
não que os haveria de fazer que cressem, o Filho fala contra
esta presciência ao dizer: Não fostes vós que me escolbestes, mas
fui eu que vos escolhi. Isto daria a entender que Deus sabia de
antemão que eles o escolheriam para merecerem ser escolhi-
dos por ele. Conseqüentemente, foram escolhidos antes da
criação do mundo mediante a predestinação na qual Deus
sabia de antemão todas as suas futuras obras, mas são retira-
dos do mundo com a vocação com que Deus cumpriu o que
predestinou. Pois, os que predestinou, também os chamou
com a vocação segundo seu desígnio. Chamou os que
predestinou e não a outros, justificou os que assim chamou e
não a outros; predestinou os que chamou, justificou e glori-
ficou (Rm 8.30) e não a outros com a consecução daquele
fim que não tem fim. Portanto, Deus escolheu os crentes, mas
para que o sejam e não porque já o eram. Diz o apóstolo Tiago:
Não escolheu Deus os pobres em bens deste mundo para
serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que
o amam? (Tg 2.5). Portanto, ao escolher, fá-los ricos na fé,
assim como herdeiros do Reino. Pois, com razão, se diz que
Deus escolheu nos que crêem aquilo pelo qual os escolheu
para neles realizá-lo. Pergunto: quem ouvir o Senhor, que
diz: Não fostes vós que me escolhestes, masfui eu que vos escolhi,
terá atrevimento de dizer que os homens têm fé para ser es-
colhidos, quando a verdade é que são escolhidos para crer? A
não ser que se ponham contra a sentença da Verdade e di-
gam que escolheram antes a Cristo aqueles aos quais ele dis-
se: Nãofostes vós que me escolhestes, masfui eu que vos escolhi."62
"Quando lemos em alguns comentadores da palavra de
Deus o termo 'presciência' como sinônimo de vocação dos
eleitos, o que nos impede de entendê-lo como predestina-
ção? Talvez tenham preferido usar o termo devido à sua mais
fácil compreensão e, por outro, não é incompatível, mas co-
incide com a verdade ensinada a respeito da predestinação
da graça. O que sei é que ninguém conseguiu discorrer con-
tra esta predestinação, que defendemos de acordo com as
santas Escrituras, a não ser incorrendo em erro."63
"Nosso coração e nossos pensamentos não estão sob o nos-
so poder; tudo pertence a Deus confessando que dele rece-
bemos tudo para nos voltarmos para ele perseverando, a fim
de que nos pareça bom o que é bom e honremos a Deus e
recebamos a Cristo, para que de infiéis nos tornemos devo-
tos e religiosos, e assim creiamos na Trindade e confessemos
com a voz o que cremos, tais e tão ilustres doutores, repito,
atribuem tudo isto à graça de Deus e o reconhecem como
dádivas divinas e atestam que nada procede de nós, mas dele
para nós. Haverá alguém que diga que tais doutores, ao con-
fessar assim a graça de Deus, atrevem-se a negar sua presciên-
cia, a qual professam não somente os doutos, mas também os

173
ignorantes? Pois, se sabiam que Deus é de tal modo o autor
destes dons que não ignoravam que Deus sabia de antemão
que os daria e a quem os daria, não há dúvida de que conhe-
ciam a predestinação que, pregada pelos apóstolos, defende-
mos laboriosa e diligentemente contra os novos hereges."64
"Para todos aqueles que pela liberalidade divina são se-
gregados da condenação original, haverá, sem dúvida, uma
maneira de ouvirem o evangelho."65
"Por conseguinte, todos os que, na disposição providente
de Deus, são conhecidos de antemão foram chamados, justi-
ficados, glorificados, não digo antes de renascerem pelo ba-
tismo, mas mesmo ainda não nascidos, já são filhos de Deus e
de forma alguma podem perecer."66
"Está escrito: Quer que todos os homens sejam salvos
[l Tm 2.4], abrangendo todos os predestinados, porque há
no meio deles todo gênero de pessoas."67
"Estes dons de Deus, concedidos aos eleitos chamados se-
gundo o desígnio divino e que consistem em começar a crer e
perseverar na fé até o término desta vida, como provamos
com tantos testemunhos de razão e de autoridade, estes dons
de Deus, repito, se não existe a predestinação defendida por
nós, não são conhecidos de antemão por Deus. Mas são co-
nhecidos, e esta é a predestinação que ensinamos. [...] Eis o
motivo pelo qual a predestinação é indicada algumas vezes
com o nome de presciência, como diz o Apóstolo: Não repu-
diou Deus o seu povo que de antemão conhecera (Rm 11.2).
Estas palavras 'conhecera de antemão' têm o significado de
'predestinara', conforme revela o contexto. [...] Conheceu,
pois, previamente o resto que formaria conforme a eleição
da graça. Isto é, portanto, o sentido de 'predestinou'; sem
dúvida, conheceu previamente, se predestinou; e ter predes-
tinado é ter sabido de antemão o que faria."68
"Por que de duas crianças, ambas sujeitas ao pecado origi-
nal, uma é eleita e a outra é abandonada, e por que de dois
ímpios adultos, este é chamado para seguir o que chama e o
outro não é assim chamado? Impenetráveis são os juízos de
Deus. Por que de duas pessoas piedosas, uma recebe o dom
da perseverança até o fim e à outra não o é outorgado? Im-
penetráveis são os juízos de Deus."69
"Ou se há de reconhecer a doutrina da predestinação
como a proclama com evidência a santa Escritura, ou seja,
nos predestinados os dons e a vocação de Deus são irreversí-
veis, ou se há de confessar a concessão da graça de Deus de
acordo com nossos merecimentos, como afirmam os pelagia-
nos. Esta doutrina, porém, foi condenada oralmente pelo
próprio Pelágio conforme lemos nas atas dos bispos orien-
tais. Esses irmãos, por cuja causa escrevemos, distam tanto
do veneno herético que, embora não queiram confessar ain-
da serem predestinados os que se submetem à graça de Deus
e perseveram, contudo confessam que a graça antecede a
vontade daqueles a quem é dada. No entanto, não acreditam
na doação gratuita da graça, como ensina a Verdade, mas
professam a doação dela de acordo com os méritos da vonta-
de precedentes, como divulga o erro pelagiano colocando-se
contra a Verdade. Portanto, a graça antecede a fé; em caso
contrário, se a fé antecede a graça, não há dúvida de que a
vontade a precede, pois a fé não pode existir sem a vontade
de crer. Mas se a graça antecede a fé, porque precede a von-
tade, conseqüentemente precede toda obediência, precede
também a caridade, mediante a qual se presta a Deus uma
obediência submissa e suave. E isto é obra da graça em quem
é concedida."70
cc 'Com efeito, Deus fechou-os a todos na infidelidade para

a todos fazer misericórdia' (Rm 11.32) [...] Ele tem, portan-


to, compaixão de todos os vasos de misericórdia. A quem se
refere este todos? Não, evidentemente, a todos os homens,
mas àqueles, tanto gentios como Judeus, que Ele predestinou,
chamou, justificou e glorificou, entre os quais nenhum con-
denado haverá."7l

PREGAÇÃO
"Mas alguns dizem: 'A doutrina da predestinação é pre-
judicial à utilidade da pregação'. Como se fosse contrária à
pregação do Apóstolo: O Doutor dos Gentios não procla-
mou tantas vezes a predestinação na fé e na verdade e por
acaso desistiu de pregar a palavra de Deus?"72
"Portanto, exortamos e pregamos, mas os que têm ouvi-
dos para ouvir ouvem-nos com submissão; porém os que não
têm acontece com eles o que está escrito: Ouvem sem ouvir
nem entender (Mt 13.13); ou seja, ouvem com o sentido do
corpo, não ouvem com o assentimento do coração."73
"Enfim, não só por intermédio daqueles que O tinham
visto e ouvido antes da sua paixão e depois da sua ressurrei-
ção, mas também, depois da morte destes, por intermédio
dos seus sucessores, foi o Evangelho pregado por todo o
mundo, entre horríveis perseguições, suplícios variados e
mortes dos mártires, confirmando-o Deus com maravilhas e
portentos, com diversos tipos de poderes e dons do Espírito
Santo."74
"O pregador é o que interpreta e ensina as divinas Escri-
turas. [...] Nesta tarefa, o mestre deve tratar de conquistar o
hostil, motivar o indiferente e informar o ignorante sobre o
que deve ser feito ou esperado."75
"É, pois, de toda necessidade para o orador - que tem o
dever de falar com sabedoria, ainda que não consiga fazê-lo
com eloqüência - ser fiel às palavras das Escrituras.'?"
"Quem quiser conhecer e ensinar deve, na verdade, pri-
meiramente aprender tudo o que é preciso ensinar, e adqui-
rir o talento da palavra como convém a homem da Igreja.
Mas no momento mesmo de falar, que pense nestas palavras
do Senhor, que se aplicam particularmente a coração bem
disposto: 'Quando vos entregarem não fiqueis preocupados
em saber como ou o que haveis de falar. Naquele momento
vos será indicado o que deveis falar, porque não sereis vós
que falareis naquela hora, mas o Espírito de vosso Pai é que
falará em vós' (Mt 10.19,20)."77
''Assim, orando por si e por aqueles a quem falará, deve
ser orante, antes de ser orador. À medida que se aproxima a
hora em que usará da palavra e antes de tomá-la, que eleve
sua alma sedenta a Deus, para saber derramar para fora o
que hauriu, e comunicar o de que se impregnou."78
''A vida do orador será - para se fazer ser escutado com
maior docilidade - de peso bem maior do que a mais subli-
me elevação de sua linguagem. "79

PRESCIÊNCIA
"Mas Deus tudo previu e não pôde ignorar que o homem
viria a pecar. Temos de conceber a Cidade Santa conforme o
que Ele previu e dispôs e não conforme o que pode chegar
ao nosso conhecimento pois não foi isso que esteve nos desíg-
nios de Deus. Claro que o homem com o seu pecado não
pôde perturbar o plano divino nem como que obrigar Deus
a mudar o que tinha estabelecido. Deus, na sua presciência,
previu uma e outra coisa, isto é, quão mau se viria a tornar o
homem que Ele criou bom e o bem que havia de tirar desse
mal. É certo que se diz que Deus altera os seus desígnios (em
linguagem metafórica a Escritura chega mesmo a dizer que
Deus se arrependeu). Mas isso diz-se em atenção ao que o

177
homem espera ou em atenção ao que comporta a ordem das
coisas naturais - e não em atenção ao que o Onipotente
previu que havia de fazer.:"?
"Conquanto Deus não desconhecesse a futura queda do
homem - por que teria de impedir que o homem fosse tenta-
do pela malícia do anjo mau? É que, realmente, sem de modo
algum duvidar de que o homem seria vencido, previu também
que a posteridade do homem, sustentada pela sua graça, triun-
faria do próprio Diabo para maior glória dos santos. E assim
aconteceu: nenhum futuro está oculto a Deus, nem Este força
com a sua presciência ninguém a pecar. [...] Quem se atreve a
pensar ou a afirmar que não esteve no poder de Deus impedir a
queda do anjo e do homem? Preferiu, todavia, não lhes retirar
esse poder, e demonstrar assim de quanto mal era capaz a
soberba deles e de quanto bem era capaz a sua graça."81
"Foi Ele quem, embora sabendo antecipadamente que
certos anjos, pelo orgulho de se quererem bastar a si própri-
os para conseguirem a vida feliz, haviam de desertar de ta-
manho bem, não lhes retirou esse poder, julgando que havia
mais poder e bondade em fazer bem por ocasião do mal do
que em não permitir mal algum."82
"Deus não teria criado nenhum, já não digo dos anjos,
mas mesmo nenhum dos homens, cuja malícia futura previ-
ra, se igualmente não tivesse conhecido os meios de mudá-
los em proveito dos bons, e assim embelezar a ordem dos sécu-
los, como um formosíssimo poema de variadas antíteses."83
''Assim, o que diz o Apóstolo: [a salvação] Não vem das
obras,para que ninguém se encha de orgulho. Pois somos criatu-
ras dele, criados em Jesus Cristo para as boas obras, significa a
graça. O que se lê em continuação: Que Deus já antes tinha
preparado para que nelas andássemos (Ef2.9-1Ü) indica a pre-
destinação, que não existe sem a presciência, ao passo que
a presciência se pode dar sem a predestinação. Pela predesti-
nação, Deus previu o que havia de fazer, pelo que foi dito:
Fez as coisas dofuturo (Is 45, sego LXX). Ele tem o poder de
prever mesmo o que não faz, como quaisquer pecados, ainda
que haja pecados que o são como castigo de pecados, como
está escrito: Deus os entregou à sua mente incapaz de julgar,
parafazerem o que não presta (Rm 1.28); nisto não há peca-
do de Deus, mas justiça de Deus. Portanto, a predestinação
de Deus, que é prática do bem, é, como disse, preparação
para graça, mas a graça é efeito da própria predestinação.
Por isso, quando Deus prometeu a Abraão em sua descen-
dência a fé de muitos povos, dizendo: E tu serds pai de muitas
gentes (Gn 17.4-5), o que levou o Apóstolo a dizer: A heran-
ça vem dafé, para queseja gratuita epara que a promessa fique
garantida a toda a descendência, não fez a promessa em vir-
tude do poder de nossa vontade, mas devido à sua predesti-
nação. Prometeu, pois, não o que os homens, mas o que ele
havia de realizar. Porque, embora os homens façam o bem
relativo ao culto de Deus, ele faz com que eles façam o que
ordenou, e não depende deles que ele faça o que prometeu.
Em caso contrário, para o cumprimento da promessa de
Deus, dependeria do poder dos homens e não do de Deus, e
o que pelo Senhor foi prometido retribuiriam a Abraão. Não
foi neste sentido que Abraão acreditou, mas acreditou, dan-
do glória a Deus, convencido de que ele é capaz de cumprir o
queprometeu (Rm 4.16-21). Não diz: 'Predizer', mas 'Saber
pela presciência', Pois é capaz de também predizer e prever
as ações alheias a si, mas diz: é capaz de cumprir, o que quer
dizer: não obras estranhas a si, mas as próprias."84

PROSPERIDADE
Na adversidade e na prosperidade, "haverá entre esses dois
extremos um estado intermediário, onde a vida humana não
seja uma tentação?".85

179
"Habitualmente, quando os bens estão presentes com
abundância, nós pensamos que não os amamos em demasia.
É quando começam a desaparecer que descobrimos quem
somos nós. O que perdemos sem sofrimento é o que possuí-
mos sem apego."86
"Os bons têm ainda outra razão para sofrerem os males
temporais. É a mesma de Jó: que o homem submeta o seu
próprio espírito à prova e comprove e conheça com que grau
de piedade e com que desinteresse ama a Deus."87

PROVIDÊNCIA
''Aprouve à divina Providência dispor para a outra vida,
para os bons, de bens dos quais os pecadores não gozarão, e
para os ímpios, de males que não atormentarão os justos. Quis,
porém, que estes bens e males temporais fossem comuns a
todos, para que nem sejam procurados ansiosamente os bens
que vemos também na posse dos maus, nem sejam evitados,
como qualquer coisa de vergonhoso, os males de que tam-
bém padecem freqüentemente os bons. [...] Mas é na distri-
buição de bens e de males que Deus mais vezes patenteia a
sua intervenção. De fato, se ele desde já castigasse qualquer
pecado com penas manifestas, julgar-se-ia que nada reserva
para o último juízo. E, pelo contrário, se desde já deixasse
impunes todos os pecados, julgar-se-ia que a Providência di-
vina não existe."88
"Embora os demônios tenham algum poder nestes assun-
tos, reduz-se ele, porém, aos limites assinalados por uma se-
creta e livre decisão do Onipotente."89
"Também governa tudo quanto criou, de tal maneira que
a cada uma das suas criaturas é dado provocar e dirigir os
seus próprios movimentos. E, ainda que nada possam sem
ele, com ele não se confundem."90
"Realmente, todo o bem que os anjos ou os homens po-
dem fazer aos homens depende de um só Deus Onipotente,
e duvidar disto é uma loucura."?'
''Aquele, que providente e onipotentemente distribui por
cada um o que a cada um convém, sabe muito bem utilizar-
se dos bons e dos maus."92
"De tal maneira a divina Providência moderou o rigor de
seus castigos que, mesmo sob o peso deste corpo corruptível,
podemos caminhar em direção à justiça. Renunciando a todo
orgulho, chegamos a submeter-nos ao único verdadeiro
Deus, sem mais nos confiar em nós mesmos. Basta pormo-
nos em suas mãos, para que nos governe e defenda."93
''A divina Providência, sendo imutável em si mesma, so-
corre de diversas maneiras a criatura frágil conforme a varie-
dade das enfermidades."94
"Não poucas pessoas gostam mais das coisas temporais do
que da divina Providência que forma e dirige os tempos."95
''A ação da divina Providência foi tal que, pela arte de tra-
tamento indescritível, a própria fealdade dos vícios transfor-
ma-se em não sei quê de belo."96

Q
QUEDA
(v. PECADO ORIGINAL)

181
R

RECAPITULAÇÃO
''A Sabedoria divina não age de modo diferente quando
cuida do homem. Apresentou-se em pessoa para curá-lo. Ela
própria é o médico e ao mesmo tempo o remédio. Posto que
o homem caiu por orgulho, recorreu à humildade para o
curar. Nós, que fomos enganados pela sabedoria da serpen-
te, seremos libertados pela loucura de Deus. Ora, assim como
a Sabedoria parece loucura para os contestadores de Deus,
do mesmo modo o que chamamos loucura é sabedoria para
os vencedores do demônio. Usamos mal da imortalidade e
isso nos fez morrer. Cristo usou bem da mortalidade e isso
nos faz viver. Pela alma corrompida de uma mulher entrou a
doença. E do corpo íntegro de outra mulher veio a saúde. A
esse gênero de contrários pertence também a cura de nossos
vícios, graças ao exemplo das virtudes de Cristo. Eis agora os
remédios semelhantes aplicados como ataduras a nossos mem-
bros e a nossas feridas: nascido de uma mulher, ele libertou
aqueles que tinham sido enganados por uma mulher. Ho-
mem, libertou os homens. Mortal, libertou os mortais. Mor-
to, libertou os mortos. A economia da medicina cristã pode
apresentar ainda muitos outros remédios tirados, seja dos
contrários, seja dos semelhantes."!

REDENÇÃO
"Porém, se Cristo não morreu em vão, ninguém pode al-
cançar a justificação e a redenção da ira justíssima de Deus,
ou seja, do castigo, a não ser pela fé e pelo mistério do sangue
de Cristo.'?
"O vencedor do primeiro Adão que subjugava o gênero
humano, vencido pelo segundo Adão, perdeu seu direito
sobre o povo cristão."3
''A imundície de nossos pecados tornava-nos menos idô-
neos ou totalmente inábeis a essa participação. Devíamos,
portanto, ser purificados. Ora, a única purificação eficiente
para os iníquos e os soberbos é o sangue do justo e a humil-
dade de Deus. Para chegarmos à contemplação de Deus -
o que não podemos conseguir pela natureza - devíamos ser
purificados por aquele que se fez o que somos por natureza,
e o que somos pelo pecado. Com efeito, não somos Deus por
natureza; somos homens; e não somos justos devido ao peca-
do. Assim, Deus feito homem justo, intercede junto a Deus
pelo homem pecador. Se o pecador não se coaduna com o
justo, há contudo harmonia entre o homem e homem. Acres-
centando pois a nossa semelhança de sua humanidade o Fi-
lho de Deus despiu-nos da dessemelhança de nosso pecado.
E tornando-se participante de nossa mortalidade, fez-nos
participantes de sua divindade."!
"O Mediador da vida, mostrando que não se deve temer
a morte, da qual não se pode fugir devido à condição huma-
na, mas que se deve temer o pecado e evitá-lo pela força da
fé, vem ao nosso encontro para atingirmos o fim para onde
caminhamos, não, porém, pelo caminho por onde andamos.
Pois, nós fomos levados à morte pelo pecado e ele, pela justi-
ça. Por isso, como nossa morte é pena do pecado, sua morte
tornou-se a hóstia propiciatória pelo nosso pecado."5
"O Senhor entregou-se por nós à morte que não mere-
ceu, para que não fosse nossa a ruína que merecemos. Ne-
nhum tribunal do poder humano o despojou de sua carne,
despojou-se voluntariamente. Pois aquele que podia não
morrer, se não o quisesse, morreu porque quis, e assim des-

183
pojou os Principados e as Potestades, expondo-os em espetá-
culo, e levando-os em cortejo triunfal (CI2.15)."6
"Assim aconteceu, a fim de que, agindo o diabo contra
nós como com um justo direito, o próprio inocente assassi-
nado o vencesse com pleníssimo direito e levasse cativo o ca-
tiveiro oriundo do pecado (Ef 4.8), e nos libertasse do
merecido cativeiro devido aos nossos pecados, destruindo,
com seu sangue de justo injustamente derramado, a escritura
de nossa morte e resgatando os pecadores para justificá-los."?
"Quem é sacerdote tão justo e santo quanto o Filho de
Deus? Ele que não precisa oferecer sacrifícios pelo pecado
original e pelos que se cometem durante a vida. E de que
vítima podem os homens se utilizar para o sacrifício em seu
próprio favor, que seja mais digna do que a mesma carne
humana? E o que há de mais apto para a imolação do que a
carne mortal? E o que há de mais puro para purificar os
mortais de seus vícios, do que a carne sem nenhum contágio
de concupiscência carnal, nascida num útero e útero virgi-
nal? E que sacrifício mais grato para quem oferece e para
quem se oferece do que a nossa carne convertida no corpo
de nosso Sacerdote? São quatro os elementos em todo sacrifício:
a quem se oferece, quem oferece, o que se oferece e por quem se
oferece. O único e verdadeiro Mediador que nos reconcilia
com Deus pelo sacrifício da paz permanece na unidade com
aquele a quem se oferece, faz-se um com aqueles por quem
oferece e é um só quem oferece e a oblação oferecida."8
"O importante para nós é que creiamos e guardemos no
coração, com firmeza e de modo inabalável, que a humilda-
de de um Deus, nascido de mulher e levado à morte pelos
mortais após tamanhas humilhações, é o remédio mais eficaz
para a cura do tumor de nossa soberba e o sacramento subli-
me que desata o vínculo do pecado."9
"Qual a justiça que venceu o demônio? Qual, senão a jus-
tiça de Cristo Jesus?"1O
"Pode haver maior prova de justiça do que caminhar até a
morte de cruz pela justiça? E que maior sinal de poder do
que ressuscitar dentre os mortos e subir ao céu com o mesmo
corpo com que sofreu a morte? Portanto, venceu primeira-
mente o demônio pela justiça, e depois pelo seu poder. Pela
justiça, porque nele não houve pecado e, entretanto, foi
morto por um ato injustíssimo. Pelo poder, porque reviveu
após a morte para nunca mais morrer (Rm 6.9). Contudo,
teria vencido o demônio pelo poder, ainda que não pudesse
ser entregue à morte por ele. Mas é maior prova de poder
vencer a morte ressurgindo, do que evitá-la vivendo."!'
"Ainda que o demônio subjugasse com razão aqueles que
escravizara como réus de pecado, numa condição de morte,
a esses ele viu-se obrigado a libertar devido àquele a quem
infligiu imerecidamente a pena de morte, sem que fosse réu
de pecado algum."12
"Nessa redenção, o sangue de Cristo foi dado por nós como
preço do resgate, preço que não enriqueceu mais o demônio
quando o recebeu, mas, ao contrário, com ele ficou arado."!"
" 'Não me oprimam os soberbos', porque conheço o pre-
ço da minha redenção, e faço dele o meu alimento e a minha
bebida, e o distribuo."14
"Ouvimos este primeiro versículo, recitado pelo Senhor
na cruz, ao dizer: 'Eli, Eli', que se traduz: 'Meu Deus, meu
Deus'. 'Lama sabachthani?', isto é, 'Por que me desamparas-
te?' (Mt 27.46). O evangelista verteu e narrou o que ele dis-
se em hebraico: 'Meu Deus, meu Deus, por que me
abandonaste?' O que queria dizer o Senhor? Deus não o aban-
donara, porque ele era Deus. Efetivamente, Deus, filho de

185
Deus, na verdade Deus, Verbo de Deus. [...] E quando o
Verbo, Deus feito carne, pendia da cruz e dizia: 'Meu Deus,
meu Deus, olha-me. Por que me desamparaste?' assim se ex-
prime porque nós lá estávamos com ele, porque a Igreja é o
corpo de Cristo. Por que razão rezou: 'Meu Deus, meu Deus,
olha-me. Por que me desamparaste?' a não ser para despertar
nossa atenção e nos declarar: Este salmo foi escrito a meu
respeito? 'Longe de minha salvação estão as vozes de meus
delitos'. De que delitos, se dele foi dito: 'Ele não cometeu peca-
do, nem se achou falsidade em sua boca' (lPd 2.22)? Como
então fala: 'meus delitos'. A não ser que reze por nossos deli-
tos e fez seus os nossos pecados, para fazer nossa a sua justiça?"15
"Diz-se que há propiciação para a impiedade quando Deus
se faz propício aos ímpios. Que quer dizer que Deus se torna
propício aos ímpios, que perdoa e dá vênia? Para que de Deus
se impetre o perdão, a propiciação se faz por meio de um
sacrifício. Aliás, existe um sacerdote nosso, enviado pelo Se-
nhor Deus. Ele assumiu de nós a vítima para oferecer a Deus,
queremos dizer, as primícias santas da carne assumida no seio
da Virgem. Foi este holocausto que ele ofereceu a Deus [...).
Como sabeis, o Senhor foi crucificado pela tarde (cf.
Mt 27.46); e nossas impiedades foram perdoadas, pois do
contrário [nos teriam] absorvido. [...) Tu, sacerdote, tu víti-
ma, tu oferente, tu oblação. Este é o sacerdote que agora
entrou além do véu, e sendo ali o único dentre aqueles que
viveram na carne, intercede por nós. [...] Mas o esplendor da
glória de nosso bem-aventurado Senhor Jesus Cristo é eter-
no. [...] Perdoados, porém, nossos pecados e nossas impieda-
des por meio daquele sacrifício vespertino, passamos para
junto do Senhor, e o véu é retirado. Foi por isso que, crucifi-
cado o Senhor, o véu do templo se rasgou (cf. Mt 27.51)."16
"Observemos o indício de seu amor. Recebemos tal pe-
nhor da promessa de Deus; temos a morte de Cristo, temos o
sangue de Cristo. Quem morreu? O Filho Único. Por causa
de quem ele morreu? Oxalá fosse por causa dos bons, dos
justos. Mas, então? Diz o Apóstolo: 'Cristo morreu pelos ím-
pios' (Rm 5.6). Quem doou sua morte em prol dos ímpios,
que há de reservar aos justos, a não ser a sua vida? Erga-se,
portanto, a fragilidade humana; não se desespere, não se
choque, não se aparte, não diga: Não serei eu. Foi Deus quem
o prometeu; veio para prometer; apareceu aos homens, veio
assumir nossa morte, prometer sua vida. [...] Trouxe-nos bens
de sua região e em nossa região suportou os males. [...] Hou-
ve previamente tamanho amor! Esteve conosco onde nós es-
távamos; estaremos nós com ele lá onde ele está. Que
prometeu Deus, ó homem mortal? Que haverás de viver eter-
namente. Não crês? Crê, crê. É muito mais o que ele já fez do
que aquilo que ainda prometeu. Que fez ele? Morreu por ti.
Que te prometeu? Que viverás com ele. É muito mais incrí-
vel que tenha morrido aquele que é eterno do que viver eter-
namente um ser mortal. Já temos o que é incrível. Se Deus
morreu por causa do homem, este não haverá de viver com
Deus? O ser mortal não haverá de viver eternamente, se por
ele morreu aquele que eternamente vive? Mas como Deus
morreu, e onde? E Deus pode morrer? Assumiu de tua natu-
reza um corpo que morresse por ti. Somente a carne poderia
morrer; apenas um corpo mortal poderia morrer. Revestiu-
se de um corpo a fim de morrer por ti, e te revestirá daquilo
que te permitirá viver com ele. Como se revestiu do que é
mortal? Através da virgindade de sua mãe. Como te revestirá
da vida? Pela igualdade com o Pai."!?
"Grande segurança dá-nos Deus. Com razão celebramos
a Páscoa, na qual o sangue do Senhor foi derramado para
nos purificar de todo delito. Estejamos seguros - o jugo da
escravidão em que o demônio nos mantinha foi dissolvido
pelo sangue de Cristo."!8

187
"Cristo é, pois, o nosso advogado. Toma tento de não pe-
cares. Mas, se pela fraqueza desta vida, o pecado te invade,
percebe de imediato e condena-o. Condenando-o logo, vi-
rás com toda segurança até seu juiz. Nele tens um advogado.
Não temas perder a causa, uma vez tua falta confessada. Se
nesta vida, vemos por vezes quem se confia a um advogado
eloqüente não perder a sua causa, confiando-te ao Verbo,
pensas haver de perder a tuai'"?
" 'Cristo é a vítima de expiação pelos nossos pecados,
mas também pelos pecados de todo o mundo' (1Jo 2.2). O
que significam estas palavras, irmãos? 'Ouvimos dizer que a
arca esteve em Efrata, encontramo-la nos campos da selva'
(Sl 132.6). Sim, encontramos a Igreja espalhada pelo mun-
do todo. Eis que Jesus Cristo é 'a vítima de expiação pelos
nossos pecados'. E não somente pelos nossos, mas também
pelos de todo o mundo. Eis que encontrais a Igreja por todo
o mundo."20

REGENERAÇÃO
"Se durante a etapa de sua vida humana, a alma vence as
cobiças com que se nutriu pelo gozo das coisas perecedoras,
se ela crê que para as vencer Deus a ajuda com o socorro de
sua graça, e se submete a ele, em espírito e de boa vontade,
então, sem dúvida alguma, ela será regenerada."21
"Na verdade, quando a alma, regenerada pela graça de
Deus, restituída na sua integridade e submissa a seu único
Criador - juntamente com o corpo também restaurado na
sua estabilidade primitiva, digo, quando a alma começar a
dominar o mundo em vez de ser dominada por ele então
não haverá mais nenhum mal para ela. Isso porque essa bele-
za inferior e mutável das coisas temporais, em vez de a envol-
verem, estarão submissas a ela."22
"Leiam, pois, e entendam, vejam e confessem que Deus,
não pela lei ou pela doutrina que soam externamente, mas
por uma força interna e oculta, admirável e inefável, opera
nos corações humanos não apenas revelações, mas também a
boa vontade."23

RELIGIÃO
"O caminho de toda vida boa e feliz encontra-se na ver-
dadeira religião. Por ela, é adorado o único Deus, com pie-
dade muito pura. E é ele reconhecido como o princípio de
todos os seres, aperfeiçoamento e coesãode todo o universo."24
"É a religião cristã a que devemos abraçar, e manter a co-
munhão com a Igreja, a denominada católica, por ser uni-
versal. Assim é ela denominada, não somente por seus fiéis,
mas também por seus adversários. Queiram ou não, os pró-
prios hereges e cismáticos quando falam dela, não com seus
próprios adeptos, mas com os próprios estranhos, não deno-
minam católica "universal", senão a Igreja católica. Não se
poderiam fazer entender se não a distinguissem pelo nome
que o mundo todo lhe dá."25
"Que a nossa religião nos ligue, pois, ao Deus único e
onipotente. Entre o nosso espírito com o qual o conhecemos
como Pai e a Verdade - isto é, a luz interior com que o
conhecemos, criatura alguma se interpõe."26
"Que nossa religião não seja culto às obras humanas. "27

RESSURREIÇÃO
"Em nenhum outro ponto se contradiz à fé cristã tão vee-
mentemente, tão pertinazmente, de modo tão insistente e
contencioso, como a respeito da ressurreição da carne."28
"Se se sustentar que cada um há de ressuscitar com a esta-
tura que tinha quando morreu, não nos devemos opor teimo-

189
samente - contanto que se exclua toda a disformidade, toda
a fraqueza, toda a incapacidade e toda a corrupção e tudo o
que não fica bem àquele reino no qual os filhos da ressurrei-
ção e da promessa serão iguais aos anjos de Deus, não quanto
ao corpo e à idade, claro está, mas quanto à felicidade."29
"Não sei como, devido ao amor pelos bem-aventurados
mártires, acontece que chegamos a desejar, naquele reino,
ver nos seus corpos as cicatrizes das chagas que receberam
pelo nome de Cristo. E talvez as cheguemos a ver. É que
nelas não haverá disformidade mas dignidade - e uma cer-
ta beleza, não do corpo, embora no corpo, mas beleza da
virtude refulgirá nelas."30
"Se convier no século novo que se vejam na sua carne
imortal os indícios das gloriosas feridas, aparecerão cicatri-
zes, nos sítios em que os membros, para serem separados, fo-
ram espancados ou cortados; porém, esses mesmos membros
não estarão perdidos, mas serão repostos nos seus lugares.
Ainda que não apareçam então todos os defeitos que advieram
ao corpo - não se devem considerar ou chamar defeitos aos
indícios da virtude."3!
"Assim como o espírito que serve a carne é, de certo modo,
considerado 'carnal', assim também será considerada 'espiri-
tual' a carne [ressurrecta], não porque ela se venha a trans-
formar em espírito como alguns concluem do que está escrito:
'Semeia-se um corpo animal, ressuscitará um corpo espiritual'
(lCo 15.42), mas porque ela obedecerá ao espírito com total e
maravilhosa facilidade ao ponto de nisso encontrar a alegria
definitiva duma indissolúvel imortalidade: já não experimenta-
rá a doença, nem a corruptibilidade, nem o entorpecimento."32
"Crer na ressurreição do Senhor de entre os mortos e em
sua ascensão ao céu fortalece nossa fé com uma grande espe-
rança."33
REVELAÇÃO
"Não existe escada alguma entre as realidades humanas e
as coisas divinas, de modo que o homem por seu próprio
esforço pudesse se elevar da vida terrestre. Eis porque a ine-
fável misericórdia de Deus vem ajudar a cada homem em
particular e ao conjunto do gênero humano, para lembrá-
los da sua primeira e perfeita natureza, mediante a dispensa-
ção da divina Providência."34

s
SABEDORIA
"Se me perguntardes o que vem a ser a sabedoria - con-
ceito a cuja análise e aprofundamento a nossa razão tem-se
consagrado até o presente quanto pode - dir-vos-ei que a
sabedoria é simplesmente a moderação do espírito. Isto é,
aquilo pelo que a alma se conserva em equilíbrio, de modo a
não se dispersar em excessos ou encolher-se abaixo de sua
plenitude. Sem essa medida, a alma atira-se em excesso na
direção dos prazeres, da ambição, do orgulho e de todas as
outras paixões do mesmo gênero."l
"Quando alguém, tendo encontrado a sabedoria, faz dela
o objeto de sua contemplação - para me servir de uma expres-
são deste menino [Adeodato] - e a ele se apega, sem se dei-
xar seduzir por coisasvãs, sem se voltar mais para as aparências
enganosas, cujo peso arrasta e submerge em profunda obje-
ção, tudo se desfaz, por estar ele abraçado a seu Deus."?

191
"Mas que sabedoria será digna desse nome, a não ser a
Sabedoria de Deus? Justamente aprendemos pela autorida-
de divina que o Filho de Deus é precisamente a Sabedoria de
Deus (lCo 1.24); e o Filho de Deus, evidentemente, é Deus.
Por conseguinte, é feliz quem possui a Deus."3
"Não presumamos, assim, haver alcançado a nossa medi-
da. Porque, também se certos da ajuda de Deus, ainda não
atingimos a Sabedoria, nem, por conseguinte, a felicidade.
Pois a perfeita plenitude das almas, a qual torna a vida feliz,
consiste em conhecer piedosa e perfeitamente:
- por quem somos guiados até à Verdade (o Pai);
- de qual Verdade gozamos (o Filho);
- e por qual vínculo estamos unidos à Suma Medida (o
Espírito Santo).
Nesses três elementos, aqueles que possuem o conhecimen-
to e repelem as ilusões de várias superstições reconhecem um
só Deus e uma só Substância."?
"Será a sabedoria outra coisa a não ser a verdade, na qual
se contempla e se possui o sumo Bem"?5
Falando sobre a sabedoria, realidade muito mais sublime
do que nossa mente e nossa razão, Agostinho diz: "Ei-la di-
ante de ti: é a própria Verdade! Abraça-a, se o podes. Que
ela seja o teu gozo! 'Põe tuas delícias no Senhor e ele conce-
derá o que teu coração deseja!' (S137.4). Pois o que desejas
senão ser feliz? E haverá alguém mais feliz do que aquele que
goza da inabalável, imutável e muito excelente Verdade?"."
"Tão grande é a beleza da justiça, tão grande o encanto
da luz eterna, isto é, da Verdade e da Sabedoria imutável, que
mesmo se não nos fosse permitido gozar delas, a não ser pelo
espaço de um único dia, em troca ter-se-ia plenamente razão
em menosprezar por elas inumeráveis anos desta vida, embora
repletos de delícias e transbordantes de bens temporais."?
A "sabedoria, isto é, a contemplação da verdade, [...] pa-
cifica todo o homem e imprime nele viva semelhança com
Deus".8

SACRAMENTOS
"Une-se a palavra ao elemento, e acontece o Sacramento."9
"Toda esta cidade resgatada, isto é, a assembléia e a socie-
dade dos santos, é oferecida a Deus como um sacrifício uni-
versal pelo Magno Sacerdote que, para de nós fazer o corpo
de uma tal cabeça, a si mesmo se ofereceu por nós na sua
paixão sob a forma de escravo. [...] Tal é o sacrifício dos cris-
tãos: 'muitos somos um só corpo em Cristo' (Rm 12.5). E
este sacrifício a Igreja não cessa de o reproduzir no Sacra-
mento do altar bem conhecido dos fiéis: nele se mostra que
ela própria é oferecida no que oferece."!"
"O ministro orgulhoso deve ser colocado com o diabo,
mas nem por isso é contaminado o dom de Cristo, que, por
esse ministro, continua a fluir em sua pureza, e, por meio
dele, chega límpido e cai em terra fértil. [...] Na verdade, a
virtude espiritual do sacramento se assemelha à luz: os que
devem ser iluminados a recebem em sua pureza, pois, mes-
mo que tenha de atravessar seres manchados, ela não se con-
ramina."!'
"Pois se os sacramentos não tivessem certa semelhança com
as coisas das quais são sacramentos, eles não seriam sacramen-
tos. Na maioria dos casos, essa semelhança faz com que rece-
bam os nomes daquelas coisas. Dessa maneira, como o
sacramento do corpo de Cristo é, de certa forma, o corpo de
Cristo, e o sacramento de seu sangue é, de certa forma, seu
sangue, assim também o sacramento da fé [batismo] é fé."12
"Pois a exposição dos mistérios procura expressar-se em
palavras bem claras. [...] Tendo chegado o tempo da graça, a

195
mesma sabedoria de Deus assumiu o homem, por ele (o Cristo)
fomos chamados à liberdade. Instituiu então alguns sinais
sagrados (sacramenta), muito salutares, que mantiveram uni-
dos os membros da comunidade do povo cristão, isto é, a
multidão livremente submissa ao único Deus."13
"Pois o mesmo Senhor e os ensinamentos dos apóstolos
transmitiram-nos não uma multidão de sinais, mas um nú-
mero bem reduzido. São muito fáceis de serem celebrados,
de excepcional sublimidade a serem compreendidos, e a se-
rem realizados com grande simplicidade. Tais são: o sacra-
mento do batismo e a celebração do corpo e sangue do
Senhor. Quando alguém os recebe, bem instruído, sabe a
que se referem e, por conseguinte, venera-os com liberdade
espiritual e não com servidão carnal."14

"O verdadeiro sacrifício é, pois, toda a obra que contri-


bui para nos unir a Deus numa santa sociedade, isto é, toda
a obra destinada a esse bem supremo graças ao qual pode-
mos ser verdadeiramente felizes."15
"O sacrifício visível é, pois, o sacramento, isto é, o sinal
sagrado do sacrifício invisível."16
"O seu mais nobre e melhor sacrifício somos nós própri-
os, isto é, sua Cidade; e desta realidade celebramos nós o
mistério por nossas oblações."17
"É por isso que a própria misericórdia que nos leva a so-
correr o nosso semelhante, se não é praticada por amor de
Deus, não é um sacrifício."18
"O homem consagrado em nome de Deus e a Deus ofe-
recido é ele mesmo um sacrifício, na medida em que morre
para o mundo a fim de viver para Deus."19
SALMOS
"Quanto te invoquei, meu Deus, ao ler os salmos de
ó

Davi, cânticos de fé, hinos de piedade contrastantes com


qualquer sentimento de orgulho, eu, novato ainda no cami-
nho do teu verdadeiro amor, catecúmeno em férias [...].
Quantas exclamações me inspirava a leitura desses salmos, e
como eles me inflamavam no teu amor! Desejava ardente-
mente recitá-los, se possível, para o mundo todo, a fim de
rebater o orgulho do gênero humano. E, no entanto, são
cantados no mundo inteiro, e nada pode furtar-se ao teu
calor."20
''Ainda agora encontro algum descanso nos cânticos vivi-
ficados pelas tuas palavras [...]. É verdade que essas melodias
exigem não pequeno lugar em meu coração [...]. Se aquelas
palavras são cantadas assim, nossas almas são impelidas a um
fervor de piedade mais devoto e mais ardente [...]. Outras
vezes, pelo contrário [...], exagerando em precaver-me desse
perigo, peco por excessiva severidade, a ponto de querer pri-
var meus ouvidos, e conseqüentemente os de toda a igreja,
das suas melodias usadas para acompanhar o Saltério de Davi.
Nessas condições, me parece mais seguro seguir o costume
de Atanásio, bispo de Alexandria: segundo ouvi dizer, ele
fazia ler os salmos com modulação de voz tão discreta, que
mais parecia uma recitação que um canto. Todavia, quando
me lembro das lágrimas derramadas ao ouvir os cânticos de
tua igreja nos primórdios de minha conversão à fé, e ao sen-
tir-me agora atraído, não tanto pela música como pela letra
dessas melodias, cantados em voz límpida e modulação apro-
priada, reconheço de novo a grande utilidade deste costu-
me. Assim, oscilo entre o perigo do prazer e a constatação de
seus efeitos salutares. [...] Inclino-me a aprovar o costume de
cantar na igreja, para que os espíritos mais fracos possam,
através do prazer dos ouvidos, elevar-se na devoção."21

19'5
"Não havia muito tempo que a igreja de Milão [por obra
de Ambrósio] começara a adotar o consolador e edificante
costume de celebrar com grande fervor os ritos com o canto
dos fiéis, que uniam num só coro as vozes e o coração. [...] A
multidão dos fiéis velava na igreja, pronta a morrer com seu
bispo [...]. Foi então que começou o uso de cantarem hinos e
salmos como os orientais, a fim de que os fiéis não se acabru-
nhassem com o tédio e a tristeza. Esse uso subsiste até hoje e
foi imitado pela maior parte das comunidades de fiéis, espa-
lhados por todo [o] mundo."22

SALVAÇÃO
"Na esperança fomos salvos, e aguardamos com paciência
o cumprimento das tuas promessas."23
"É pela fé que começamos a ser curados, mas nossa salva-
ção será perfeita quando este corpo corruptível for revestido
da incorruptibilidade e quando este corpo mortal for reves-
tido de imortalidade (lCo 15.53,54). Essa é esperança, não
ainda realidade."24

SANTIFICAÇÃO
"Concede-me o que me ordenas, e ordena o que quiseres."25
"Pensava que a continência dependesse apenas de nossas
forças, e eu achava que não as possuía. Era insensato, a ponto
de não saber, como diz a Escritura, que ninguém pode ser
continente, se tu não lhe concedes tal dom. E tu o terias con-
cedido a mim, se meus gemidos te houvessem ferido os ouvi-
dos; se eu houvesse lançado aos teus pés, com extrema
confiança, todas as minhas angústias."26
"Caio miseravelmente, e tu me levantas misericordiosa-
mente, às vezes sem eu perceber, apenas resvalado de leve, às
vezes penosamente, por ter ficado preso ao chão."27

!%
"Em se tratando de alguém já regenerado e justificado e
que recai na infidelidade voluntariamente, não poderá di-
zer: 'Não recebi', visto que pela sua livre vontade preferiu o
mal à graça de Deus recebida. E se, ferido salutarmente pela
correção, chora seu pecado e retoma às boas ou melhores
obras antigas, então fica evidente a utilidade da correção.
Mas, para ser proveitosa, a repreensão que parte do homem,
feita ou não com amor, é sempre obra de Deus."28
"Contra os homens santificados, o anjo mau, chamado
demônio, não pode causar mal algum."29
"Tu, que nunca abandonas as obras começadas, completa
o que em mim há de imperfeito.'?"
"Eu te peço, meu Deus, que me reveles a mim mesmo, a
fim de que confesse aos meus irmãos, de quem espero ora-
ções, as feridas que em mim encontrar. Examinar-rne-ei de
novo, e mais diligentemente."3l
"Embora digamos que a obediência é dom de Deus, con-
tudo exortamos as pessoas à sua prática."32

SATANÁS, DIABO
"O que o Senhor diz do Diabo no Evangelho: 'Era ho-
micida desde o começo e não se manteve na verdade'
00 8.44) deve ser entendido no sentido de que foi ho-
micida não só desde o princípio, isto é, desde o princípio
do gênero humano, desde que foi criado o homem a quem
podia matar com o engano - mas também no sentido de
que desde o princípio da sua criação não esteve na verdade e
por isso nunca foi feliz com os santos anjos, recusando-se a
ser súdito do Criador, pondo a sua alegria em se orgulhar do
seu pretenso poder pessoal, tornando-se depois falso e enga-
nador."33

197
"Porque ninguém escapa ao poder do Onipotente: aque-
le que recusou manter-se, por uma piedosa submissão, no
que era na realidade, aspira, por uma orgulhosa elevação, a
simular o que não é. E é também no mesmo sentido que é
preciso entender o que diz o apóstolo S. João: 'O Diabo peca
desde o começo' (]o 8.44), quer dizer, ele rejeitou desde a
sua criação a justiça que só uma vontade piedosa e submissa
a Deus pode conservar."34
"O Senhor não disse 'o Diabo é alheio à verdade', mas
'não se manteve na verdade' (]o 8.44), querendo assim dar a
entender que decaiu da verdade."35
"A frase 'o Diabo peca desde o começo' (]o 8.44) não sig-
nifica que ele pecou desde o princípio da criação, mas desde
o começo do pecado, neste sentido de que foi pelo seu orgu-
lho que o pecado começou."36
"Fez, portanto, com que o Diabo, bom pela sua criação,
mau pela sua vontade, fosse atirado para o grupo dos seres
inferiores para ser entregue às mofas dos seus anjos, no senti-
do de que os santos tirem proveito das próprias tentações
pelas quais ele procurava ser-lhes nocivo. Ao criá-lo, Deus
não ignorava a sua malícia futura e previa todo o bem que
do mal tiraria. [...] No preciso momento em que o criou-
criando-o bom por causa da sua vontade - nos dava a en-
tender que já tinha preparado, graças à sua presciência, os
meios de tirar proveito mesmo do mal."3?

"Fui muitas vezes seduzido e sedutor, enganado e enga-


nador, em meio às diversas paixões, ensinando, de público,
as ciências chamadas liberais e, em particular, praticando uma
religião [o maniqueísmo] indigna de tal nome. Ora soberbo,
ora supersticioso, sempre vaidoso."38
SEPTUAGINTA
"Um dos Ptolomeus, rei do Egito, mostrou o desejo de
conhecer e de possuir as Sagradas Escrituras. De fato, depois
da morte de Alexandre da Macedônia, também denomina-
do o Magno, que tinha submetido ao seu magnífico e pouco
duradouro domínio toda a Ásia e quase todo o orbe, em par-
te pela força, em parte pelo terror (foi então que ele invadiu
e conquistou também, além dos demais povos do Oriente, a
Judéia) - por sua morte os seus generais, não podendo pos-
suí-lo em paz, partilharam entre si esse imenso império, ou
melhor, esfrangalharam-no, arruinando tudo pela suas guer-
ras, e o Egito começou a ter os Ptolorneus como reis. O pri-
meiro deles, filho de Lago, deportou muitos prisioneiros da
Judéia para o Egito. Mas um outro Ptolomeu, chamado
Filadelfo, que àquele sucedeu, permitiu que todos os que
aquele tinha levado cativos regressassem em liberdade; além
disso, enviou presentes régios para o templo de Deus e pediu
a Eleázar, sumo sacerdote, que lhe desse as Escrituras, que,
devido à sua fama, tinha ouvido dizer que, com certeza, eram
divinas, e por isso desejava tê-las na célebre biblioteca que
fundara. Como o dito pontífice lhas enviou em hebraico,
aquele, logo a seguir, pediu-lhe também tradutores. Foram-
lhe dados setenta e dois, seis homens de cada uma das doze
tribos, versadíssimos em ambas as línguas, ou seja, a hebraica
e a grega. Prevaleceu depois o costume de à tradução se cha-
mar dos Setenta. Conta-se que houve, nas palavras que em-
pregaram, uma concordância da verdade tão maravilhosa,
tão assombrosa e plenamente divina, que, embora cada um
se tivesse instalado para este trabalho separadamente dos
outros (foi, de fato, assim que aprouve a Ptolomeu verificar a
sua fidelidade), nenhum divergiu do outro nem sequer numa
palavrado mesmo sentido e do mesmo valor, nem na ordem das
palavras; mas, como se fosse um só tradutor, uma só coisa o

t':J':J
tinham interpretado todos; porque, na verdade, um só Espí-
rito havia em todos. E tão admirável dom de Deus recebe-
ram-no eles para que, também deste modo, fosse reforçada a
autoridade destas Escrituras, não como humanas mas, como
de fato eram, divinas, no interesse das nações que um dia
viriam a crer nelas - o que vemos estar já cumprido."39
"Desta versão dos Setenta traduziu-se para latim o texto a
que aderem as Igrejas latinas, embora nos nossos tempos o
presbítero Jerônimo, homem doutíssimo e conhecedor de
todas as três línguas, não tenha deixado de traduzir as mes-
mas Escrituras para latim, não do grego, mas do hebraico."40
"Por isso, também eu, seguindo, à minha modesta manei-
ra, as passadas dos Apóstolos, pois que também eles tomaram
os testemunhos dos Profetas do texto hebraico e dos Setenta,
julguei que devia usar de uma e outra autoridade, uma vez
que uma e outra são divinas e uma só e a mesma."41

SOFRIMENTO
"Pedro ainda não tinha compreendido isso ao desejar viver
com Cristo sobre a montanha [Lc 9.33]. Ele reservou-te isto,
Pedro, para depois da morte. Mas agora ele mesmo diz: 'Desce
para sofrer na terra, para servir na terra, para ser desprezado,
crucificado na terra. A Vida desce para fazer-se matar; o Pão
desce para ter fome; o Caminho desce para cansar-se da cami-
nhada; a Fonte desce para ter sede; e tu recusas sofrer?'."42
"Portanto, cumpriram-se todos os sofrimentos, em nossa
Cabeça [Cristo]; restavam vir ainda [os] padecimentos de
Cristo em seu corpo.v"

SUPERSTIÇÃO
"Toda superstição é para o homem o pior castigo e a mais
perigosa torpeza. "44

200
"Tendamos a Deus e religuemos nossas almas a ele somente
- o que é, corno dizem, o sentido original da palavra reli-
gião - e abstenhamo-nos de toda superstição.?"
"A superstição é tudo o que os homens instituíram em
vista da fabricação e do culto de ídolos."46

T
TEMPO
"Em Deus não há, como em nós, a previsão do futuro, a
visão do presente e a recordação do passado, é totalmente
diferente a sua maneira de conhecer, ultrapassando, muito
acima e de muito longe, os nossos hábitos mentais. Ele vê
com um olhar absolutamente imutável, sem levar o seu pen-
samento de um objeto para outro. Por conseguinte, o que se
passa no tempo compreende, certamente, não só aconteci-
mentos futuros que ainda não são, mas também presentes
que já são e passados que já não são. Mas Ele abarca-os a
todos na sua estável e sempiterna presença."!
"Não houve portanto um tempo em que nada fizeste,
porque o próprio tempo foi feito por ti. E não há um tempo
eterno contigo, porque tu és estável, e se o tempo fosse está-
vel não seria tempo. O que é realmente o tempo? Quem
poderia explicá-lo de modo fácil e breve? Quem poderia cap-
tar o seu conceito, para exprimi-lo em palavras? No entanto,
que assunto mais familiar e mais conhecido em nossas con-

201
versações? Sem dúvida, nós o compreendemos quando dele
falamos, e compreendemos também o que nos dizem quan-
do dele nos falam. Por conseguinte, o que é o tempo? Se nin-
guém me pergunta, eu sei; porém, se quero explicá-lo a quem
me pergunta, então não sei. No entanto, posso dizer com
segurança que não existiria um tempo passado, se nada pas-
sasse; e não existiria um tempo futuro, se nada devesse vir; e
não haveria o tempo presente se nada existisse. De que modo
existem esses dois tempos - o passado e o futuro - , uma
vez que o passado não mais existe e o futuro ainda não existe?
E quanto ao presente, se permanecesse sempre presente e
não se tornasse passado, não seria mais tempo, mas eternida-
de. Portanto, se o presente, para ser tempo, deve tornar-se
passado, como podemos dizer que existe, uma vez que a sua
razão de ser é a mesma pela qual deixará de existir? Daí não
podermos falar verdadeiramente da existência do tempo, se-
não enquanto tende a não existir."2
"Eis como respondo a quem pergunta: 'Que fazia Deus
antes de criar o céu e a terrà? Não vou responder como aquele
que, segundo se narra, respondeu, contornando com graça
a dificuldade da pergunta: 'Deus preparava o inferno para
aqueles que perscrutam estes profundos mistérios'. Não vou
responder assim, porque uma coisa é procurar compreen-
der, outra é querer brincar. Eu preferiria responder: 'Aquilo
que não sei, não sei'. Seria melhor do que dar uma resposta que
expunha ao ridículo quem fez uma pergunta profunda e tra-
ga louvor a quem deu uma resposta falsa. Mas, eu respondo,
meu Deus, que és o Criador de tudo. E se pelo nome de céu
e terra se compreendem todas as criaturas, responderei sem
hesitar: 'Antes de criar o céu e a terra, Deus não fazia nada' ."3
"Se algum espírito leviano, errando entre as imagens vãs
do passado, se admirar de que tu, ó Deus, que tudo podes,
tudo crias e tudo dominas, autor do céu e da terra, se esse
espírito se admirar que tu te tenhas mantido inativo por inú-
meros séculos antes de empreenderes a criação, que ele
procure despertar e observar que o seu espanto não tem fun-
damento. De onde poderiam vir e como poderiam transcor-
rer os inumeráveis séculos, se não os tivesses criado, tu que és
o autor e criador de todos os séculos? Que tempo poderia
existir, se não fosse estabelecido por ti? E como poderia esse
tempo transcorrer, se nunca tivesse existido? Portanto, sendo
tu o Criador de todos os tempos - se é que existiu algum
tempo antes da criação do céu e da terra - como se pode
dizer que cessavas de agir? De fato, foste tu que criaste o pró-
prio tempo, e ele não podia decorrer antes de o criares. Mas
se antes da criação do céu e da terra não havia tempo, para
que perguntar o que fazias então? Não podia existir um 'en-
tão' onde não havia tempo.""
"Porventura não é sincera a minha alma ao dizer-te que
posso medir o tempo? Então, meu Deus, meço sem saber o
que meço? Meço com o tempo o movimento de um corpo, e
não posso medir do mesmo modo também o tempo? Seria
possível medir a duração do movimento de um corpo, e quan-
to o corpo demora para chegar de um lugar a outro, sem
medir o tempo em que se move? E com que meço o tempo?
Posso eu medir um tempo mais longo com o espaço mais
breve de tempo, do mesmo modo que medimos o compri-
mento de um caibro com uma unidade menor? De fato,
medimos a duração de uma sílaba longa com a duração de
uma breve, e dizemos que a primeira é o dobro da segunda.
Assim, medimos a extensão de um poema pelo número de
versos (...]. Todavia, nem desse modo chegamos à noção exa-
ta da medida do tempo, porque pode suceder que um verso
breve, recitado lentamente, dure mais tempo que um verso
mais longo recitado apressadamente. (...] Daí concluo que o

lO,
tempo nada mais é do que extensão. Mas extensão do quê?
Ignoro. Seria surpreendente, se não fosse a extensão da pró-
pria alma. Portanto, dize-me, eu te suplico, meu Deus, que
coisa meço eu quando me exprimo de modo indeterminado:
'Este tempo é mais longo do que aquele'; ou quando digo, de
modo mais preciso: 'Este tempo é o dobro daquele'. Sei per-
feitamente que meço o tempo, mas não o futuro, porque
ainda não existe; nem o presente porque não tem extensão,
nem o passado porque não existe mais. O que meço eu en-
tão? O tempo que está passando, e não o que já passou?"5
"É em ti, meu espírito, que eu meço o tempo. Não me
perturbes, ou melhor, não te perturbes com o tumulto de
tuas impressões. É em ti, repito, que meço os tempos. Meço,
enquanto está presente, a impressão que as coisas gravam em
ti no momento em que passam, e que permanece mesmo
depois de passadas, e não as coisas que passaram para que a
impressão se reproduzisse. É essa impressão que meço, quan-
do meço os tempos. Portanto, ou essa impressão é o tempo,
ou não meço o tempo."6
"Tu no princípio que procede de ti, na tua Sabedoria nas-
cida da tua substância, do nada criaste alguma coisa. Fizeste
o céu e a terra, mas não da tua substância, pois assim teriam
sido iguais a teu Filho unigênito, e, portanto, iguais também
a ti. E não seria absolutamente justo que fosse igual a ti aqui-
lo que não veio de ti. Por outro lado, nada havia fora de ti, de
onde pudesses criar, Deus, Trindade una e Unidade trina.
ó

Por isso, criaste do nada o céu e a terra, duas realidades, uma


grande e outra pequena. Tu és onipotente e bom, para cria-
res tudo bom: um céu grande e uma terra pequena. Só tu
existias, e nada mais. Deste nada, fizeste o céu e a terra, duas
realidades: uma perto de ti, outra perto do nada. Uma que
só a ti tem como superior, outra que nada tem inferior a si."7
TENTAÇÃO
A "tríplice cupidez: a do prazer, a da ambição e a da curio-
sidade"."
"Eu duvido de que entre esses homens que proclamam
nada merecer culto, ser possível encontrar alguém que não
esteja sujeito aos prazeres carnais ou em busca do vão poder,
ou ainda, loucamente atraído pelo espetáculo. Assim, sem o
saber, amam essas coisas temporais, na esperança de conse-
guir felicidade. Mas, forçosamente, queira ou não, o homem
é servo daquelas mesmas coisas com que aspira ser feliz."9
"São também três as tentações que a Verdade feita ho-
mem assinala à nossa vigilância, por meio de seu exemplo"
(Mt 4.1-10).10
"Sem dúvida, tu me ordenas que eu me abstenha da con-
cupiscência da carne, da concupiscência dos olhos e da am-
bição do mundo."!'

TRADIÇÃO
"De onde resulta que as verdades, nas quais primeiramente
acreditamos, fiando-nos somente na autoridade, tornam-se
depois compreensíveis (pela reflexão), até nos parecerem
certíssimas. Em parte, abraçamos essas verdades porque ve-
mos que elas são possíveis, e em parte, porque muito conve-
niente foi o terem sido reveladas. [...] Quando se conhecem
as seguintes verdades: aquela sacrossanta encarnação, o par-
to da Virgem, a morte do Filho de Deus por nós, a ressurrei-
ção dos mortos, a ascensão ao céu, o assentar-se à direita do
Pai, a remissão dos pecados, o juízo universal, a ressurreição
da carne, quando se tem o conhecimento da eternidade da
Trindade e da contingência da criatura, essas verdades não
são consideradas apenas como objeto de crença, mas perce-

205
bemos sua relação com a misericórdia que o Deus supremo
manifestou para com o gênero humano."12
Os fiéis devem crer nos artigos do Credo apostólico "para
que, crendo, obedeçam a Deus; obedecendo, vivam correta-
mente; vivendo corretamente, purifiquem seu coração; e,
purificando o coração, compreendam o que crêem". 13
"Eu não creria no Evangelho, se a isso não me levasse a
autoridade da Igreja Católica."14
"O teu Símbolo [o Credo apostólico confessado pela Igre-
ja] seja para ti como um espelho. Olha-te nele para veres se
crês tudo o que declaras crer e alegra-te cada dia por tua fé."15

u
"Durante esses anos, eu vivia em companhia de uma mu-
lher, a quem não estava unido por legítimo matrimônio, mas
que a imprudência de uma paixão inquieta me fez encon-
trar. Era, porém, uma só, e eu lhe era fiel. Com esta união
experimentei pessoalmente a diferença entre o laço conjugal
instituído em vista da procriação, e uma ligação baseada ape-

apor Agostinho mencionar sua concubina, com quem viveu durante quase
quinze anos, como "uma mulher" (unam habebam), Garry WILLS chama-a suges-
tivamente de Una (Santo Agostinho, p. 38).
nas na paixão sensual, da qual podem nascer filhos sem se-
rem desejados, embora uma vez nascidos se imponham ao
amor dos pais."!
"No entanto, multiplicavam-se os meus pecados. Quan-
do de mim foi arrebatada a mulher com quem vivia, consi-
derada impedimento para meu casamento, meu coração, que
lhe era afeiçoadíssimo, ficou profundamente ferido e san-
grou por muito tempo. Ela voltou para a África fazendo a ti
o voto de jamais pertencer a outro homem e deixando para
mim o filho que me havia dado. Mas eu, infeliz, fui incapaz
de imitar a esta mulher! Eu não conseguia suportar a espera
de dois anos para receber a esposa que tinha pedido. Na re-
alidade eu não amava o matrimônio; eu era, sim, escravo do
prazer. E tratei de arranjar outra mulher, não como esposa
legítima, para manter e alimentar intacta ou agravar a doen-
ça de minha alma até o casamento, e aí chegar sem haver
interrompido meus hábitos."2

v
VERDADE
"De modo algum poderias negar a existência de uma ver-
dade imutável que contém em si todas as coisas mutáveis e
verdadeiras. E não as poderás considerar como sendo tua ou
como exclusivamente minha, nem de ninguém. Pelo contrá-
rio, apresenta-se ela e oferece-se universalmente a todos os
que são capazes de contemplar realidades invariavelmente
verdadeiras. É ela semelhante a uma luz admiravelmente se-
creta e pública ao mesmo tempo. Ora, a respeito de algo que
pertence assim universalmente a todos os que raciocinam e
compreendem, poder-se-ia dizer que pertence como própria
à natureza particular de alguém? Tu te lembras, penso eu, de
nossas considerações precedentes sobre os sentidos corporais?
A respeito daqueles objetos que percebemos em comum pe-
los sentidos da vista ou do ouvido, tal como as cores e os sons,
nós os vemos ou entendemos conjuntamente, tanto eu como
tu. E, contudo, esses objetos não pertencem à natureza de
nossos olhos ou ouvidos, mas nos são comuns, enquanto ob-
jetos de percepção. Assim, não dirias sobre esses objetos que
nós percebemos um e outro em comum, cada um com sua
própria mente, que eles constituam a natureza individual da
mente de qualquer de nós. Porque se os olhos de duas pessoas
vêem juntos, ao mesmo tempo, um objeto, será impossível
esse objeto ser identificado com os olhos desta ou daquela.
Será esse objeto terceira coisa para a qual se dirigem os olha-
res de uma pessoa e outra."!
"6 verdade, ó luz do meu coração, faze que não sejam as
trevas a falar-me! Deixei-me cair no meio delas, e me encon-
trei na sombra, porém, mesmo daí eu te amei imensamente.'?
"Por isso, Senhor, são terríveis os teus julgamentos, por-
que a tua verdade não é minha, nem deste, nem daquele,
mas de todos nós. A todos nós tu chamas publicamente à
comunhão com ela, admoestando-nos severamente a não
presumirmos possuí-la como bem privativo, para não nos
arriscarmos a ser privados dela."3
"Nessa diversidade de opiniões verdadeiras [quanto à in-
terpretação de Gn 1.1,2], que a própria verdade nos mante-
nha unidos na concórdia! Que o nosso Deus tenha compaixão
de nós, para que usemos legitimamente da lei, segundo a sua

208
finalidade, que é a caridade pura. [...] Amemo-nos todos nós
que interpretamos essas palavras e delas dizemos a verdade.
E amemos a ti, nosso Deus, fonte da verdade, se temos sede
não de vãs fantasias, mas dessa mesma verdade.I"
"Não saias de ti, mas volta para dentro de ti mesmo, a
Verdade habita no coração do homem. E se não encontras
senão a tua natureza sujeita a mudanças, vai além de ti mes-
mo. Em te ultrapassando, porém, não te esqueças [de] que
transcendes tua alma que raciocina. Portanto, dirige-te à fonte
da própria luz da razão."5
"Não é o ato de reflexão que cria as verdades. Ele somente
as constata. Portanto, antes de serem constatadas, elas já per-
maneciam em si, e uma vez constatadas essas verdades nos
renovam. "6

VÍCIO
"Da vontade pervertida nasce a paixão; servindo à paixão,
adquire-se o hábito, e, não resistindo ao hábito, cria-se a ne-
cessidade. "7
''Assim, não é da natureza da alma o vício. É, sim, contra a
sua natureza. O vício nada mais é que pecado e a pena do
pecado."!
"Se um homem ama o seu semelhante não como a si mes-
mo, mas como a um animal de carga; ou como gosta de seu
banho; ou da plumagem ou do canto de um pássaro; isto é,
ama só para obter algum prazer ou vantagem temporal, é
fatal ele se tornar escravo - não de homem, mas do que é
pior ainda - do vício vergonhoso e abominável de não amar
o outro como ele deve ser amado. É debaixo da tirania de
semelhante vício que ele será arrastado para a pior das vidas,
ou antes, para a morte. "9

209
"Porque uma malícia que vicia supõe indubitavelmente
uma natureza anterior não viciada. Mas o vício é de tal modo
contra a natureza que só pode ser nocivo à natureza. Não
seria, portanto, um vício separar-se de Deus se, para a natu-
reza de que esta separação constitui um vício, não fosse me-
lhor estar unido a Deus. É por isso que mesmo a vontade má
presta poderoso testemunho a favor da natureza boa."lO
"Mas eu o ignorava e caminhava para a minha perdição,
com cegueira tal, que me envergonhava, diante de meus com-
panheiros, de parecer menos depravado que os outros, quan-
do os ouvia exaltando as próprias infâmias, tanto mais dignas
de glória quanto mais infames eram; eu queria fazer o mes-
mo, não só pelo fato em si, mas pelo louvor que disso resulta-
va. Nada é tão digno de censura como o vício; no entanto,
para não ser censurado, eu mergulhava ainda mais no vício;
quando não me podia igualar a meus companheiros corrup-
tos, fingia ter praticado o que não praticara, para não pare-
cer desprezível pela inocência ou ridículo por ser casto."!'

VIDA
"Cá acreditais, lá vereis."l2
"Lá repousaremos e veremos, veremos e amaremos, ama-
remos e louvaremos. Eis o que estará no fim sem fim. E que
outro é o nosso fim senão chegar ao reino que não tem fim?"l3
"Lá é que estará a verdadeira glória, lá onde ninguém será
louvado por erro ou por lisonja de quem louva; as verdadei-
ras honras não serão negadas aos que delas são merecedores,
nem concedidas aos que delas são indignos; mas nem sequer
a tal se apresentará um indigno, lá onde não é permitido que
esteja senão o digno. Lá reinará a verdadeira paz, lá onde
ninguém sofrerá qualquer adversidade provinda de si pró-
prio ou de outrem. O prêmio da virtude será Ele próprio,

.21U
Ele que concedeu a virtude e dela prometeu ser Ele próprio
o melhor e o maior prêmio que possa haver. Que outra coisa
é, com efeito, o que foi dito pelo profeta: 'Eu serei o seu
Deus e eles serão o meu povo' (Lv 26.12). [...] Também só
assim se pode compreender corretamente o que diz o Após-
tolo: 'Para que Deus seja tudo em todos' (lCo 15.28). Ele
próprio é que será o fim dos nossos desejos, Ele é que será
contemplado sem fim, será amado sem embotamento, será
louvado sem cansaço. E este dom, este afeto, esta ocupação
seguramente que serão, como a própria vida eterna, comuns
a todOS."14
''Aquele descanso, com que repousaste no sétimo dia de-
pois de tantas obras muito boas [...] é um anúncio que nos
vem pela palavra da tua Escritura: também nós descansare-
mos em ti, no sábado da vida eterna, depois dos nossos traba-
Ihos."15
"Se quiser dizer a verdade, não sei de que natureza virá a
ser essa atividade, ou melhor, repouso, lazer, pois nunca o
experimentei nos sentidos do corpo. Mas se eu disser que o
experimentei na mente, isto é, na inteligência - que pode
ou que é a nossa inteligência perante essa realidade que a
sobrepuja?"16
"Deus nos será conhecido e visível de tal modo que será
visto em espírito por cada um de nós; será visto por uns nos
outros; será visto em si próprio; será visto num novo Céu e
numa nova Terra; será visto em toda a criatura que então
existir; será visto em todo o corpo, com os olhos do corpo,
para onde quer que se voltem esses olhos do corpo espiritual.
Mesmo os nossos pensamentos estarão patentes, mutuamen-
te, a todos nós.:"?

21 ]
"Quão grande será essa felicidade onde mal nenhum ha-
verá, ou bem nenhum faltará, onde toda a ocupação consis-
tirá em louvar a Deus que será tudo em todos!":"
"Nem os bem-aventurados serão privados de livre-ar-
bítrio por não sentirem o atrativo do pecado. Pelo contrá-
rio, será mais livre esse arbítrio desde que se veja liberto
do atrativo do pecado até chegar ao atrativo indeclinável
de não pecar. Efetivamente, o primeiro livre-arbítrio dado
ao homem quando ao princípio foi criado na retidão, po-
dia não pecar, mas também podia pecar; mas este último
será tão poderoso que já não poderá pecar; mas isto tam-
bém por dom de Deus e não devido ao poder da sua na-
tureza."!?
"Este será realmente o maior sábado que não terá tarde."20

VIRTUDE
"Viver bem não é outra coisa senão amar a Deus de
todo o coração, de toda a alma e em toda forma de agir.
Dedicar-lhe um amor integral (pela temperança), que ne-
nhum infortúnio poderá abalar (o que depende da fortale-
za), que obedece exclusivamente a ele (e nisto consiste a
justiça), que vela para discernir todas as coisas com receio de
deixar-se surpreender pelo ardil e pela mentira (e isto é a
prudência)."?'
"Por maiores que sejam as virtudes que [os cristãos] pos-
sam ter nesta vida, atribuem-nas unicamente à graça de Deus
que as concedeu aos seus desejos, à sua fé, às suas orações-
e, ao mesmo tempo, compreendem quanto lhes falta para
chegarem à perfeição da justiça, tal como ela é na sociedade
dos santos Anjos na qual se esforçam por entrar. E, por mui-
to que louve e apregoe a virtude que, privada da verdadeira
piedade, se põe ao serviço da glória humana, de forma ne-
nhuma ela se poderá comparar aos débeis começos dos san-
tos, cuja esperança está firmada na graça e na misericórdia
do verdadeiro Deus. "22
"Contudo, ele poderá adquirir tal dom, se louvar a Deus,
autor de todas as coisas sensíveis, e impregnar-se de fé, se
esperar pela esperança e procurar a Deus pela caridade."23
"Eis por que existem essas três virtudes: a fé, a esperança e
a caridade. Elas encerram toda a ciência e toda a profecia."24

VONTADE DE DEUS
"Podemos, por outro lado, sem faltar à verdade, interpre-
tar as palavras: 'Seja realizada tua vontade na terra, como é
realizada nos Céus' da seguinte maneira: que essa vontade
seja realizada na Igreja como ela se realiza em nosso Senhor
Jesus Cristo - naquele Homem que sempre cumpriu fiel-
mente a vontade de seu Pai, assim como na Esposa com quem
se uniu. Com efeito, de modo adequado, o céu e a terra po-
dem significar o varão e a esposa, porquanto a terra só fruti-
fica quando fertilizada pelo CéU."25
''A vontade de Deus não é uma criatura; é anterior a
toda criatura, pois nada seria criado se antes não existisse
a vontade do Criador. Essa vontade pertence à própria
substância de Deus. Mas se algo surgiu na substância de
Deus que antes não existia, não é justo denominá-la subs-
tância eterna. Pelo contrário, se era eterna a vontade de
Deus que existisse a criatura, por que não é eterna também
a criatura?"26

2U
z
ZELO
"Reuniste os incrédulos numa única sociedade, para que
aparecesse o zelo dos fiéis, desejosos de praticar em tua hon-
ra obras de misericórdia, distribuindo aos pobres as riquezas
terrenas, a fim de conquistar as celestes."!
Notas

Agostinho, bispo de Hipona: doutor da graça


IAGOSTINHO, Confissões, 3.1.1, p. 66.
2PeterBROWN, SantoAgostinho: uma biografia, p. 49-55.
3AGOSTINHO, Confissões, 8.1.2, p. 206.

4AGOSTINHO, Confissões, 8.12.28, p. 230.


5AGOSTINHO, Confissões, 8.12.29, p. 231. Cf. Romanos 13.13,14.
6AGOSTINHO, Confissões, 8.12.29-30, p. 231.
7A. Trapê, Agostinho de Hipona. In: Ângelo DI BERARDINO, org. Diciondrio
patrístico e de antiguidades cristãs, p. 55. Cf. tb. Clodovis BOFF, A vida da
comunhão de bens: a regra de Santo Agostinho comentada na perspectiva da
teologiada libenação.
8A. HAMMAN, SantoAgostinho eseu tempo, p. 230.
9A. Trapê, op. cit., p. 55.
lOA lista bibliográfica está baseadaem Norman Geisler, Agostinho de Hipo-
na, in: Walter A. ELWELL, ed. Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã,
v. 1, p. 32-5.
11Michel SPANNEUT, Ospadres da igreja, v. 2, p. 211.
12Idem, ibidem, p. 211. Cf. especialmentePOSSfDIO, A vidadeSantoAgosti-
nho, p. 48-53.
13Paulo R. B. Anglada, Orare etlabutare: a hermenêuticareformadadasEscri-
turas, in: Fides Reformam 2 (1), jan.-jul.l1997, p. 117. Para uma introdução à
hermenêutica de Agostinho,cf.Christopher HAu, Lendo asEscrituras comospais
da igreja, p. 111-20, e David S. DOCKERY, Hermenêutica contemporânea à luz da
igreja primitiva, p. 131-41. Cf. tb. Peter BROWN, op. cit., p. 323-35.
14AGOSTINHO, A doutrinacristã, 4.16.32, p. 239.
15Para uma introdução a essaobra e extensabibliografia, v.Franklin Ferreira,
De Trinitate:Agostinho de Hipona e a doutrina da Trindade, in: l-0x Scripturae:
Revista Teológica Brasileira, set.l2002, v.XI, n. 1, p. 29-46.
16H. BETTENSON, Documentos da igreja cristã, p. 104.

215
17AGOSTINHO, Confissões, 8.12.28, p. 230.
18AGOSTINHO,A cidade de Deus, 22.30, p. 2365-71.
19AGoSTINHo,Agraça (Apredestinação dos santos, 17.34), v. Il, p. 194.
2°AGOSTINHO, Confissões, 9.1.1, p. 235-6.
2IAGOSTINHO, A graça (O dom da perseverança, 1.1), v. n, p. 212.
22R. C. SPROUL, Solagratia: a controvérsia sobre o livre-arbítrio na histó-
ria, p. 51.
23Peter BROWN, op. cit., p. 623-5, 627.
24George Carey,Agostinho de Hipona, in: Robin KEELEY, org. Fundamentos
da teologia cristã, p. 297-8. Cf. tb. Peter BROWN, op. cit., p. 373-411.
25Peter BROWN, op. cit., p. 511.
26poSSforo, op. cit., p. 91-2.
27Idem, ibidem, p. 93.
28Francis FERRIER, SantoAgostinho, p. 30.
29Berthold ALTANER & Alfred STUIBER, Patrologia: vida, obras e doutrina dos
padres da igreja, p. 418.
30]. I. Packer,Os Puritanos, in: Robin KEELEY, org. Op. cit., p. 313.
31Colin BROWN, Filosofia efé cristã, p. 15.

A
IAGOSTINHO, Confissões, 9.6.14, p. 246-7.
2AGOSTINHO, A cidade deDeus, 16.26, p. 1526.
3AGOSTINHO,A cidade deDeus, 17.6, p. 1621.
4AGOSTINHO,A cidade de Deus, 17.7, p. 1268-9.
5AGOSTINHO, A cidade de Deus, 17.7, p. 1269.
6AGOSTINHO,A verdadeira religião, 27.50, p. 74-5.
7AGOSTINHO, O livre-arbítrio, III.5.16, p. 167.
8AGOSTINHO, O livre-arbítrio, m.20.56, p. 213-4.
9AGOSTINHO, O livre-arbítrio, III.20.56, p. 215.
IOAGOSTINHO, Confissões, 4.9.14, p.lOO-1.
IIAGOSTINHO, Confissões, 4.4.7, p. 94.
12AGOSTINHO, Carta 258.4, disponível em <http://www.augustinus.it/lati-
no/lettere/index2.htm>, consultado em janeiro/2006 (tradução de Paulo
Benicio).
13AUGUSTINE, Letter 130.2.4. In: Philip Schaff, ed. TheConJfssions andLetters

01Augustine, with a Sketch ofbis Lifeand Work, p. 914 (tradução livre do autor).
14AuGUSTINE, Letter 130.6.13. In: Philip Schaff, ed. The Confissions and
Letters 01Augustine, with a Sketch olhis Lifeand Work, p. 919 (tradução livre do
autor).
15AGOSTINHO,A cidade de Deus, 14.7, p. 1253.
16AUGUSTINE, Ten homilies on the first epistle ofjohn (In Epistolam Joannis
ad Parrhos), 10.4. In: Philip SchafF, 00. Augustine: Homilies ontheGospel offohn,
Homilies ontheFirstEpistle o[John, Soliloquies, p. 1031 (tradução livre do autor).
17AGOSTINHO, A cidade de Deus, 19.14, p. 1920 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
18AuGUSTINE, City of God, 14.6. In: Philip Schaff, ed. Augustine: City o[
Gori, Christian Doetrine, p. 573 (tradução livre do autor).
19AGOSTINHO, Comentdrio daprimeiraepistola deSãoJoão, 7.8, P: 151.
2°AGOSTINHO, Comentdriodaprimeira epistola deSãoJoão, 10.7, p. 208.
2IAGOSTINHO, Confissões, 13.9.10, p. 411.
22AGOSTINHO, Confissões, 13.31.46, p. 445.
23AGOSTINHO, Comentdrio daprimeiraepístola deSãoJoão, 9.3, P: 183.
24AGOSTINHO, Comentdrio daprimeiraepístola deSãoJoão, 10.7, p. 209.
25AGOSTINHO, Confissões, 10.29.40, p. 301.
26AGOSTINHO, Confissões, 10.6.8, p. 274-5.
27AGOSTINHO, Comentdrio aos Salmos, 103, I S., 15, v. 3, p. 101.
28AGOSTINHO, A cidade de Deus, 11.9, p. 1009 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
29AGOSTINHO, A cidade deDeus, 12.1, p. 1079-80.
30AGOSTINHO, A cidade de Deus, 12.6, p. 1091 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
1
3 AGOSTINHO,A cidadedeDeus, 12.9, p. 1l 01.
2
3 AGOSTINHO,A cidade deDeus, 2.3, p. 201 (a transcrição foi adaptada para
o português do Brasil).
33AGOSTINHO, A cidade deDeus, 19.1, p. 1865.
34AGOSTINHO, A verdadeira religião, 24.45, p. 69.
35AGOSTINHO, Confissões, 2.4.9, p. 55.
36AGOSTINHO,A doutrinacristã, 2.7.9-11, p. 92-4.
37AGOSTINHO, Confissões, 4.3.4, p. 91-2.
38AGOSTINHO, Confissões, 4.3.5, p. 92.

B
IAUGUSTINE, Letter 98.5. In: Philip Schaff, ed. TheConfessions and Letters of
Augustine, with a Sketch ofhis Lifeand Wórk, p. 801 (tradução livre do autor).
2AGOSTINHO, Carta 187.8.26, disponível em <http://www.augustinus.it/
latino/lettere/index2.htm>, consultado em janeiro/2006 (tradução de Paulo
Benicio).
3AUGUSTINE, Baptism,againstthe Donatists (De Baptismo contra Donatistas),
4.10-11.16-18. In: Philip Schaff, ed. Augustine: The Writings against the
Manichaens, and against theDonatists, p. 838-40 (tradução livre do autor).

217
4AUGUSTINE, Letter 93.11.48. In: Philip Schaff,ed. TheConfessions and Letters
ofAugustine, with a Sketch ofhis Lifeand Work, p. 781 (tradução livre do autor).
5AUGUSTINE, Baptism, against the Donatists (De Baptismo contra Donatistas),
4.17.25. In: Philip Schaff, ed. Augustine: TheWritings againsttheManichaens,
and againstthe Donatists, p. 847 (tradução livre do autor).
6AuGUSTINE, Baptism, against the Donatists (De Baptismo contra Donatistas),
1.1.2. In: Philip Schaff, ed. Augustine: TheWritings agaimttheManichaens, and
against the Donatists, p. 756 (tradução livre do autor).
7AGOSTINHO,A cidade de Deus, 21.16, p. 2181.
HAGOSTINHO,A cidade de Deus, 20.8, p. 2011.
9AGOSTINHO, Confissões, 13.20.26, p. 426.
lOAGOSTINHO, Confissões, 9.6.14, p. 247.
IIAGOSTINHO, Comentário aos Salmos, 50.10, v. 1, p. 908.
12AGOSTINHO, O livre-arbítrio, III.23.67, p. 228.
lJAGOSTINHO, Confissões, 2.10.17, p. 62.
14AGOSTINHO, Confissões, 2.6.12, p. 58.
15AGOSTINHO, Confissões, 13.28.43, p. 442.
16AGOSTINHO, Confissões, 10.6.9, p. 275-6.
17AGOSTINHO, A verdadeira religião, 11.21, p. 46-7.
18AGOSTINHO,A verdadeira religião, 19.37, p. 60.
19AGOSTINHO, O livre-arbítrio, II.18.48, p. 135.

c
IAGOSTINHO, Confissões, 10.29.40, p. 300-1.
2AGOSTINHO, Confissões, 8.7.17, p. 221.
3AGOSTINHO, Dosbens... (Dos bens do matrimônio, 21.25), p. 58.
4AGOSTINHO, Confissões, 8.11.26-27, p. 228-9.
5AGOSTINHO, O livre-arbítrio, IIUO.31, p. 185-6.
6AGOSTINHO,A cidade de Deus, prefácio, p. 98 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
7AGOSTINHO,A cidade de Deus, 2.29, p. 281.
8AGOSTINHO, A cidade de Deus, 14.1, p. 1233 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
9AGOSTINHO,A cidade de Deus, 14.13, p. 1279.
lOAGOSTINHO,A cidade de Deus, 14.28, p. 1319-20 (a transcrição foi adap-
tada para o português do Brasil).
IIAGOSTINHO,A cidade deDeus, 15.1, p. 1325.
12AGOSTINHO, A cidade de Deus, 11.1, p. 987.
13AGOSTINHO, A doutrinacristã, 3.10.16, p. 166.

14AGOSTINHO, Confissões, 10.30.41, p. 301.


15AGOSTINHO, A verdadeira religião, 38.70, p. 96.
16AGOSTINHO, Comentário daprimeiraepístola deSãoJoão, 2.14, p. 69.
17AGOSTINHO, Comentário daprimeiraepístola deSãoJoão, 1.6, p. 36.
18AuGUSTINE, Ten homilies on the first epistle ofJohn (In EpistolamJoannis
ad Parthos), 8.9. In: Philip Schaff, ed. Augustine: Homilies on the Gospel offohn,
Homilies ontheFirstEpistle ofJohn, Soliloquies, p. 1008 (tradução livredo autor).
19AGOSTINHO, Confissões, 10.17.26, P: 290.
20AGOSTINHO, Confissões, 10.40.65, p. 322.
21AGOSTINHO, Confissões, 13.1.1, p. 403.
22AGOSTINHO, Confissões, 13.8.9, p. 409-10.
23AGOSTINHO,A Trindade, 8.3.4, p. 264.
24AGOSTINHO, A Trindade, 8.4.6, p. 267.
25AGOSTINHO, Confissões, 13.34.49, P: 449.
26AGOSTINHO,A verdadeira religião, 53.102, p. 127.
27AGOSTINHO, Confissões, 8.12.28-30, p. 230-2.
28AGOSTINHO,A Trindade, 14.17.23, p. 474.
29AGOSTINHO, Confissões, 13.28.43, p. 442.
30AGOSTINHO, Confissões, 13.34.49, p. 449.
31AGOSTINHO, Confissões, 13.28.43, p. 442.
32AGOSTINHO, Sermão 241.2, disponível em <http://www.augustinus.it/
latino/discorsi/index2.htm>, consultado em janeiro12006 (tradução de Paulo
Benicio).
33AGOSTINHO,A cidade deDeus, 11.21, p. 1037.
34AGOSTINHO, Confissões, 11.9.11, p. 338.
35AGOSTINHO, Confissões, 12.7.7, p. 369.
36AGOSTINHO,A verdadeira religião, 18.36, p. 59.
37AGOSTINHO, A cidade deDeus, 12.18, p. 1127 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
38AGOSTINHO, A cidade deDeus, 11.6, p. 1002.
39AGOSTINHO, A cidade deDeus, 13.20, p. 1208.
4°AGOSTINHO,A cidade deDeus, 14.11, p. 1271 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
41AGOSTINHO, A cidade deDeus, 14.17, p. 1290.
42AGOSTINHO,A verdadeira religião, 16.30, p. 53.
43AGOSTINHO, Comentário daprimeiraepístola deSãoJoão, 1.2, p. 30.
44AGOSTINHO, Comentário aos Salmos, 54.10, v. 2, p. 70-1.
45AGOSTINHO, Confissões, 2.7.15, p. 60.
46AGOSTINHO, Confissões, 9.6.14, p. 247.
47AUGUSTINE, Letter 55.15.28. In: Philip Schaff, ed. The Confessions and
Letters 01Augustine, witha Sketch ofbisLifeand Work, p. 597-8 (tradução livredo
autor).

219
48AGOSTINHO, Comentário aos Salmos 32, II, S. I, 8, v. 1, p. 393.
49AUGUSTINE,Letter 48.3. In: Philip Schaff,ed. TheConfessions and Letters o/
Augustine, with a Sketch ofbis LifeandWork, p. 559 (tradução livre do autor).
50AGOSTINHO,A verdadeira religião, 55.108, p. 133.

D
IAGOSTINHO,A cidade deDeus, 8.15, p. 746.
2AGOSTINHO,A cidade deDeus, 9.19, p. 867 (a transcrição foi adaptada para
o português do Brasil).
3AGOSTINHO,A cidade deDeus, 12.1, p. 1080.
4AGOSTINHO, Carta 207, Contra Iulianum libri sex 1.8.36, disponível em
<http://www.augustinus.it/latino/contro~iuliano/index2.htm>. consultado em
janeiro/2006 (tradução de Paulo Benicio).
5AGOSTINHO,A cidade deDeus, 12.18, p. 1126-7 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
6AGOSTINHO, A cidade deDeus, 22.2, p. 2245.
7AGOSTINHO, A verdadeira religião, 10.18, p. 43.
8AGOSTINHO, Confissões, 4.15.26, p. 110.
9AGOSTINHO, Confissões, 12.11.11, p. 372.
10AGOSTINHO, O sermão da montanha, 2.4.16, p. 116.

IIAGOSTINHO, O sermão da montanha, 2.5.18, p. 118.


12AGOSTINHO, Confissões, 13.12.13, p. 413.
13AGOSTINHO,A doutrinacristã, 1.5.5, p. 46-7.
14AGOSTINHO, A Trindade, 8, prólogo, p. 259.
15AGOSTINHO,A Trindade, 7.6.12, p. 256-7.
16AGOSTINHO,A Trindade, 5.14.15, p. 208-9.
17AGOSTINHO, A cidade de Deus, 11.1 O, p. 1011-3.
18AGOSTINHO,A Trindade, 15.26.47, p. 549.
19AGOSTINHO, Confissões, 13.11.12, p. 412.
2°AGOSTINHO,A verdadeira religião, 7.13, p. 39-40.
21AGOSTINHO,A Trindade, 15.28.50, p. 557.
22 AGOSTINHO, Sermão 52.6.16, disponível em <http://www.augustinus.it/

latino/discorsi/index2.htm>, consultado em janeiro/2006 (tradução de Paulo


Benicio).
23AGOSTINHO, O sermão da montanha, 2.5.19, p. 119.
24AGOSTINHO, Solilóquios, 1.1.2-6, p. 15-20.
25AGOSTINHO, Confissões, 10.27-28.38-39, p. 299-300.
26AGOSTINHO, Confissões, 2.10.17, p. 62.
27AGOSTINHO, Confissões, 1.1.1, p. 19.
28AGOSTINHO, Confissões, 3.6.11, p. 74.

220
1AGOSTINHO, De magistro (tÚJ mestre), XII, 40, p. 352.
2AGOSTINHO, De magistro (tÚJ mestre), XI, 38, p. 351.
3AGOSTINHO, Demagistro (tÚJ mestre), XI, 36, p. 350.
4AGOSTINHO, Confissões, 1.14.23, p. 38.
5AGOSTINHO, A instrução dos catecúmenos, 4.8, p. 44.
6AGOSTINHO, De magistro (tÚJ mestre), XI, 37, p. 351.
7AGOSTINHO, A instrução dos catecúmenos, 14.21, p. 64-5.
8AGOSTINHO,A instrução dos catecúmenos, 13.18, p. 60.
9AGOSTINHO, A instrução dos catecúmenos, 15.23, p. 67.
IOAGOSTINHO, A instrução dos catecúmenos, 13.18, p. 60.
llAGOSTINHO, A instrução dos catecúmenos, 13.18, p. 60.
12AGOSTINHO, A verdadeira religião, 49.95, p. 121.
13AGOSTINHO, A verdadeira religião, 51.100, p. 125.
14AGOSTINHO, A doutrinacristã, 2.8.12, p. 95-6.
15AGOSTINHO, A doutrinacristã, 2.8.13, p. 96-7.
16AGOSTINHO,A cidade deDeus, 18.36, p. 1803 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
17AGOSTINHO,A cidade deDeus, 15.23, p. 1406 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
18AGOSTINHO, Comentário aos Salmos, 103, IV, 1, v. 3, p. 151-2.
19AGOSTINHO, A cidade deDeus, 11.6, p. 1001.
2°AGOSTINHO,A cidade deDeus, 11.3, p. 991.
21AuGUSTINE, Lerter 82.1.3. In: Philip Schaff,ed. TheConfessiom and Letters
ofAugustine, with a Sketch ofhisLifeand Work, p. 679 (tradução livre do autor).
22AUGUSTINE, The enchiridion, 4. In: Philip Schaff, ed. Augustine: On the
HolyTrinity, DoctrinalTreatises, MoralTreatises, p. 455 (tradução livre do autor).
23AGOSTINHO, A cidade deDeus, 12.9, p. 1101.
24AGOSTINHO, Confissões, 12.14.17, p. 376.
25AGOSTINHO, Confissões, 13.23.33, p. 432.
26AGOSTINHO, Confissões, 13.29.44, p. 443.
27AGOSTINHO, A doutrinacristã, 1.35.39, p. 76.
28AGOSTINHO, Comentdrio aos Salmos 26, 11, 1, v.l, p. 248.
29AGOSTINHO, ComentdrioaosSalmos, 8.7, v. 1, p. 95.
30AGOSTINHO, A cidade deDeus, 18.43, p. 1823.
31AGOSTINHO, A doutrinacristã, 2.5.6, p. 89.
32AGOSTINHO,A doutrinacristã, 2.6.7, p. 90.
33AGOSTINHO, Comentário aos Salmos, 8.7, v. 1, P: 95.
34AGOSTINHO, Comentário aos Salmos, 8.8, v.l, p. 96.
35AGOSTINHO,A doutrinacristã, 1.36.41a, p.78.

221
6AGOSTINHO,
3 A doutrinacristã, 1.37.41 b, p. 79.
37AGOSTINHO, Confissões, 3.5.9, p. 71.
38AGOSTINHO, A instrução dos catecúmenos, 4.8, p. 43.
39AGOSTINHO, A cidade de Deus, 20.4, p. 1983.
4üAGOSTINHO, A cidade deDeus, 11.33, p. 1073 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
41AGOSTINHO,A cidade deDeus, 14.8, p. 1256-7 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
42AGOSTINHO,A doutrinacristã, 2.6.7, p. 89-90.
43AGOSTINHO,A doutrinacristã, 3.23.33, p. 180-1.
44AGOSTINHO, A doutrina cristã, 3.26.37b, p. 183.
45AGOSTINHO, A doutrinacristã, 3.27.38, p. 184.
46AGOSTINHO, A doutrinacristã, 1.35.39, p. 76.
47AGOSTINHO, A doutrinacristã, 1.36.41 a, p.78.
48AGOSTINHO, Confissões, 5.14.24, p. 138.
49AGOSTINHO, Confissões, 6.3-4.4-5, p. 147-8.
5üAGOSTINHO, Confissões, 6.4.6, p. 148-9.
51AGOSTINHO, Confissões, 11.2.3, p. 330.
52AGOSTINHO, A doutrinacristã, 2.6.7, p. 90.
53AGOSTINHO, A doutrinacristã, 3.1.1, p. 151.
54AGOSTINHO, A doutrinacristã, 3.2.2, p. 152.
55AGOSTINHO,A doutrinacristã, 4.5.7, p. 213.
56AuGUSTINE, Reply to Faustus the Manichaean (Contra Faustum
Manichaeum), 33.9. In: Philip 5chaff, ed. Augustine: The Writings againstthe
Manichaens, and against theDonatists, p. 647 (tradução livre do autor).
57AUGUSTINE, Letter 21.2-3. In: Philip 5chaff,ed. TheConfessions andLetters of
Augustine, with a Sketch ofhisLift andWork, p. 435-6 (tradução livredo autor).
58AGOSTINHO, Sermão 51.5-6, disponível em <http://www.augustinus.it/
latino/discorsi/index2.htm>, consultado em janeiro/2006 (tradução de Paulo
Benicio).
59AGOSTINHO, Confissões, 13.15.17, p. 418.
6üAGOSTINHO,A verdadeira religião, 38.71, p. 97.
61AGOSTINHO, Confissões, 13.34.49, p. 448.
62AGOSTINHO, A verdadeira religião, 51.100, p. 125.
63AGOSTINHO,A doutrinacristã, 1.36.40, p. 77.
64AGOSTINHO,A Trindade, 7.3.6, p. 244.
65AGOSTINHO, A Trindade, 15.26.47, p. 550.
66AGOSTINHO,A Trindade, 15.17.27, p. 522.
67AGOSTINHO,A Trindade, 15.17.29, p. 524.
68AGOSTINHO,A Trindade, 15.17.31, p. 527.
69AGOSTINHO,A Trindade, 15.18.32, p. 527.
7°AGOSTINHO,A Trindade, 15.26.47, p. 549.
71AGOSTINHO, Comentdrio daprimeiraepístola deSãoJoão, 6.10, p. 135.
72AGOSTINHO, Confissões, 11.7.9, p. 336.
73AGOSTINHO, Confissões, 11.30.40, p. 361.
74AGOSTINHO, Confissões, 11.11.13, p. 340.
75AUGUSTINE, Gospel according to St. John (In Joannis evangeliurn tractatus),
26.13. In: Philip Schaff, ed. Augustine: Homilies on the Gospelofjobn, Homilies
on theFirstEpistle ofJohn, Soliloquies, p. 342 (tradução livre do autor).
76AuGUSTINE, Sermons on selected lessons ofthe NewTestament, 57.7. In:
Philip Schaff,ed. Augustine: Sermon ontheMount, Harmony oftheGospels; Homilies
on the Gospels, p. 591 (tradução livre do autor).
77AGOSTINHO, Sermão 272.1, apud A. HAMMAN, SantoAgostinho eseu tem-
po,p.190-1.
78AGOSTINHO, Sermão 227.1, disponível em <http://www.augustinus.itl
latino/discorsi/index2.htm>, consultado em janeiro12006 (tradução de Paulo
Benicio).
79AGOSTINHO, Sermão 9.14, disponível em <http://www.augustinus.it/lati-
no/discorsi/index2.htm>, consultado em janeiro12006 (tradução de Paulo
Benicio).
8°AGOSTINHO, ComentdrioaosSalmos, 3.1, v. 1, p. 31.
81AuGUSTINE, Gospel according to St. John (In[oannis evangelium tractatusi,
25.12. In: Philip Schaff, ed. Augustine: Homilies on the Gospel ofjohn, Homilies
on theFirstEpistle ofJohn, Soliloquies, p. 326 (tradução livre do autor).
2AuGUSTINE,
8 Gospel according to St. John (InJoannis evangelium tractatust,
26.1. In: Philip Schaff, ed. Augustine: Homilies ontheCospelofJohn, Homilies on
theFirstEpistle of[obn, Soliloquies, p. 335 (tradução livre do autor).
83AGOSTINHO, Solilóquios, 11.1.1, p. 55.
84AGOSTINHO, A cidade deDeus, 11.26, p. 1051-2.
85AGOSTINHO, Confissões, 9.10.23-26, p. 255-7.

F
lAGOSTINHO,A cidade deDeus, 19.14, p. 1921.
2AGOSTINHo,AcidadedeDeus,19.16,p.1927.
3AGOSTINHO,A cidade de Deus, 19.16, p. 1928 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
4AGOSTINHO, A Trindade, 15.2.2, p. 481.
5AGOSTINHO, Sermão 43.7.9, disponível em <http://www.augustinus.it/lati-
noldiscorsi/index2.htm>,consultado em janeiro/2006 (traduçãode Paulo Benicio).
6AGOSTINHO,A cidade deDeus, 18.47, p. 1836 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).

223
7AGOSTINHO, A cidadede Deus, 19.4, p. 1881.
8AGOSTINHO,A cidadede Deus, 19.27, p. 1963.
9AGOSTINHO,A Trindade, 8.5.8, p. 270.
IOAGOSTINHO, Confissões, 6.3.4, p. 147.
11AGOSTINHO, O livre-arbítrio, 1.2.4, p. 28.
12AGOSTINHO, O livre-arbítrio, II.20.54, p. 143.
13AGoSTINHo,Agraça (A graça e a liberdade, 14.28), v. II, p. 52-3.
14AGOSTINHO, A vidafeliz, 2.11, p. 130-1.
15AGOSTINHO,A vidafeliz, 3.21, p. 142.
16AGOSTINHO, Confissões, 10.20.29, p. 292.
17AGOSTINHo,AeidadedeDeus, 12.1,p. 1080.
18AGOSTINHO, Confissões, 10.22.32, p. 295.
19AGOSTINHO, O livre-arbítrio, 11.9.26, p. 107.

G
1AGOSTINHo,Agraça (A predestinação dos santos, 10.19), v. II, p. 174.
2AGOSTINHO, Confissões, 1.6.7, p. 24.
3AGoSTINHo,Agraça (A natureza e a graça, 4.4), v. I, p. 115.
4AGoSTINHo,Agraça (A natureza e a graça, 5.5), v. I, p. 115-6.
5AGOSTINHO, Comentário daprimeira epístola de SãoJoão, 8.14, p. 177.
6AGOSTINHO, Comentário daprimeira epístola de SãoJoão, 9.1, p. 179.
7AGOSTINHO, A graça (O espírito e a letra, 30.52), v. I, p. 78.
8AGOSTINHo,Agraça (A correção e a graça, 11.32), v. II, p. 118.
9AGOSTINHO, Comentário aosSalmos, 102.3, v. 3, P: 48-9.
IOAGOSTINHO, Comentário aosSalmos, 102.5, v. 3, p. 51-2.
11AGOSTINHO, Comentário aosSalmos, 102.6, v. 3, p. 52-4.
12AGOSTINHO, Comentário aosSalmos, 102.7, v. 3, p. 55-6.
13AGOSTINHO, Comentário aosSalmos, 102.8-10, v. 3, p. 56-61.
14AGOSTINHO, Comentário aosSalmos, 102.22-24, v. 3, p. 74-5.
15AGOSTINHO, Confissões, 1.6.7, p. 24.
16AGOSTINHO, O livre-arbítrio, 1I.19.50, p. 139.
17AGOSTINHO, O livre-arbítrio, II.20.54, p. 143.
18AGOSTINHO, A doutrina cristã, prólogo, 7, p. 36.
19AGOSTINHO,A doutrina cristã, 2.19.28, p. 116.
2°AGOSTINHO, A doutrina cristã, 2.41.60, p. 144-5.
1AGOSTINHO,
2 A doutrina cristã, 2.43.63, p. 148.
22AGOSTINHO, A graça (A natureza e a graça, 31.35), v. I, p. 145.
23AGOSTINHO, Confissões, 10.29.40, p. 300-1.
24AGoSTINHo,Agraça (O espírito e a letra, 3.5), v, I, p. 20.
25AGoSTINHo,Agraça (A graça e a liberdade, 17.33), v. II, p. 59.

224
26AGOSTINHO, A graça (O espíritoe a letra, 34.60), v.I, p. 90-1.
27AGOSTINHO, A graça (O dom da perseverança, 13.33), v.II, p. 246.
28AGOSTINHO, A graça (O dom da perseverança, 27.41), v.II, p. 256.
29AGOSTINHO, Confissões, 6.16.26, p. 168.
30AGOSTINHO, A graça (O espíritoe a letra, 33.57), v.I, p. 86.
31AGOSTINHO, Comentário aos Salmos, 89.4, v.2, p. 947-8.
32AGOSTINHO, A graça (A naturezae a graça,31.35), v.I, p. 145.
33AGOSTINHO, A cidade deDeus, 1.21, p. 161.
34AGOSTINHO, A cidade deDeus, 19.7, p. 1898 (a transcriçãofoi adaptada
para o português do Brasil).
35AUGUSTINE, Letter189.6.In: PhilipSchaff, ed. TheConftssions andLetters of
Augustine, witha Sketch ofhisLift andWork, p. 1110-1 (tradução livre do autor).

H
lAGOSTINHO, A verdadeira religião, 5.8, p. 34.
2AGOSTINHO, A verdadeira religião, 5.9, p. 34-5.
3AGOSTINHO, Confissões, 7.19.25,p. 199.
4AGOSTINHO, A verdadeira religião, 8.15, p. 41.
5AGOSTINHO, Confissões, 1.1.1, p. 19.
6AGOSTINHO, A cidade deDeus, 6.12, p. 602.
7AGOSTINHO, A cidade deDeus, 9.2, p. 923.
8AGOSTINHO, A cidade deDeus, 11.23, p. 1044.
9AGOSTINHO, A cidade deDeus, 11.23, p. 1045.
IOAGOSTINHO, A cidade deDeus, 13.24, p. 1222-3.
llAuGUSTINE, Letter 118.3.22. In: Philip Schaff, ed. The Confessions and
Letters ofAugustine, witha Sketch ofhisLift andWork, p. 881-2 (tradução livre do
autor).
12AGOSTINHO, O sermão da montanha, 1.1.3, p. 25.
13AGOSTINHO, A cidade deDeus, 14.13, p. 1279.
14AGOSTINHO, A cidade deDeus, 14.13, p. 1278.
15AuGUSTINE, Gospel accordingtoSt.john (In joannis evangelium tracratus),
25.16. In: Philip Schaff, ed. Augustine: Homilies onthe Gospel offobn, Homilies
ontbeFirstEpistle ofJohn, Soliloquies, p. 329-30 (traduçãolivredo autor).
16AGOSTINHO, Sermão142.2,disponível em <http://www.augustinus.idlati-
no/discorsi/index2.htm>, consultado emjaneiro/2006 (tradução de Paulo Benicio).
17AGOSTINHO, ComentdrioaosSalmos, 144.7, v.3, p. 1015.

I
lAGOSTINHO, A cidade deDeus, 8.23, p. 768.
2AGOSTINHO, A cidade deDeus, 8.23, p. 768.

225
JAGOSTINHO,A doutrina cristã, 3.7.11, p. 162.
4AuGUSTINE, Baptism, against me Donatists (De Baptismo contra Donatistas),
3.16.21. In: Philip Schaff, ed. Augustine: The Writings againstthe Manichaens,
and againstthe Donatists, p. 816 (tradução livre do autor).
5AGOSTINHO, A cidadede Deus, 18.51, p. 1848.
úAGOSTINHO, Comentário aosSalmos, 41.9, v. 1, p. 699-701.
7AGOSTINHO, Comentário daprimeira epístola de SãoJoão, 10.8-9, p. 210-2.
HAUGUSTINE, Cospel according to St. John (InJoannisevangelium tractatus),

21.8. In: Philip Schaff, ed. Augustine: Homilies on the CospelofJohn, Homilieson
the FirstEpistleoj'[obn, Soliloquies, p. 278 (tradução livre do autor).
9AGOSTINHO, Comentário aosSalmos, 74.4, v. 2, p. 619.
IOAGOSTINHO, Sermão 268.2, disponível em -chttpi//www.augustinus.ic/
latino/discorsi/indexâ.htrn:-, consultado em janeiro/2006 (tradução de Paulo
Benicio).
IIAGOSTINHO, Sermão 214.11, disponível em <http://www.augustinus.it/
latino/discorsi/index2.htm>, consultado em janeiro/2006 (tradução de Paulo
Benicio).
12AGOSTINHO, Sermão 96.7.9, disponível em «htrpo'/www.augustinus.ir/
latino/discorsi/index2.htm>, consultado em janeiro/2006 (tradução de Paulo
Benieio).
13AGOSTINHO, Comentário aosSalmos, 127.3, v. 3, p. 677.
14AUGUSTINE, Letter 61.2. In: Philip Schaff, ed. The Conftssions and Letters of
Augustine, with a Sketchofhis Life and Wórk, p. 610 (tradução livre do autor).
15AUGUSTINE, Cospe! according to St. John (In Joannis evange!ium tractatus),
32.8. In: Philip Schaff, ed. Augustine: Homilies on the Gospel ofjohn, Homilieson
theFirstEpistleoffohn, Soliloquies, p. 390 (tradução livre do autor).
16AGOSTINHO, Comentário aosSalmos, 88, Ir S., 14, v. 2, p. 944.
17AGOSTINHO, Comentário aosSalmos, 119.9, v. 3, p. 550.
ISAGOSTINHO, A cidadede Deus, 22.24, p. 2336.
19AGOSTINHO, Confissões, 10.28.39, p. 299.
2oAGOSTINHO, A cidadede Deus, 13.24, p. 1223.
I
2 AGOSTINHO,A cidadede Deus, 13.24, p. 1229.

22AGOSTINHO,A Trindade, 14.4.6, p. 444.


2lAGOSTINHO,A Trindade, 14.4.6, p. 445.
24AGOSTINHO, A Trindade, 14.16.22, p. 470.
25AGOSTINHO,A Trindade, 14.16.22, p. 470.
6
2 A GOSTI NHO , Comentário daprimeira epístola de SãoJoão, 9.3, p. 183.

27AGOSTINHO, A cidadede Deus, 20.22, p. 2077 (a transcrição foi adaptada


para o português do Brasil).
8
2 A GOST INHO , A cidadede Deus, 21.9, p. 2160.

29AGOSTINHO,A cidadede Deus, 21.10, p. 2165.


30AGOSTINHO,A cidade deDeus, 21.16, p. 2183.
31AGOSTINHO, Sermo de disciplina christiana, 7.7, disponível em <http://
www.augustinus.iúlatino/disciplina_cristianalindex.htm>. consultado em janei-
ro/2006 (tradução de Paulo Benicio).
32AGOSTINHO,A verdadeira religião, 46.89, p. 115.
33AGOSTINHO,A verdadeira religião, 47.91, p. 117.

lAUGUSTINE, The enchiridion, 108. In: Philip Schaff, ed. Augustine: On the
Holy Trinity, DoetrinalTreatises, Moral Treatises, p. 533-4 (tradução livre do
autor).
2AGOSTINHO,A Trindade, 13.18.23, p. 430.
3AUGUSTINE, Letter 137.3.9. In: Philip Schaff,ed. TheConfessions andLetters
ofAugustine, witha Sketch ofhisLifeand Work, p. 948 (tradução livre do autor).
4AGOSTINHO, Sermão 130.3, disponível em <http://www.augustinus.it/la-
tino/discorsi/index2.htm>, consultado em janeiro/2006 (tradução de Paulo
Benicio).
5AUGUSTINE, Gospel according to St,John (In Joannis evangeliurn tractatus),
23.6. In: Philip Schaff, ed. Augustine: Homilies onthe Gospelofjobn, Homilies on
theFirstEpistle ofJohn, Soliloquies, p. 302 (tradução livre do autor).
6AuGUSTINE, The enchiridion, 35. In: Philip Schaff, ed.Augustine: On the
Holy Trinity, Doctrinal Treatises, MoralTreatises, p. 481 (tradução livre do autor).
7AGOSTINHO, A Trindade, 13.18.23, p. 428-9.
sAGOSTINHO,A cidade deDeus, 9.15, p. 855.
9AGOSTINHO,A cidade deDeus, 9.15, p. 855 (a transcrição foi adaptada para
o português do Brasil).
lOAGOSTINHO,A cidade deDeus, 9.15, p. 857.
lIAGOSTINHO, Confissões, 10.42.67, p. 323-4.
12AGOSTINHO, Confissões, 10.43.68, p. 324.
13AGOSTINHO, Comentdrio aos Salmos, 149.6, v. 3, p. 1150-1.
14AGOSTINHO, A cidade deDeus, 10.20, p. 939 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
15AGOSTINHO,A cidade deDeus, 10.20, p. 939.
16AGOSTINHO, Comentário aos Salmos, 50.10, v. 1, p. 909.
17AGoSTINHo,Agraça (A correção e a graça, 11.30), v. II, p. 115-6.
IsAGOSTINHO, Sermão 18.4, disponível em <http://www.augustinus.it/lati-
no/discorsi/index2.htm>, consultado em janeiro12006 (tradução de Paulo
Benicio).
19AGOSTINHO, A cidade deDeus, 20.1, p. 1971-2 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).

227
2°AGOSTINHO, A cidade deDeus, 20.14, p. 2036.
2IAGOSTINHO, A cidade deDeus, 20.30, p. 2118-9 (a transcrição foi adapta-
da para o português do Brasil).
22AuGUSTINE, Cospel according to Sr.]ohn (InJoannis evangelium tractatus),
72.3. In: Philip Schaff, ed. Augustine: Homilies ontheGospel offohn, Homilies on
theFirstEpistle ofJohn, Soliloquies, p. 661 (tradução livre do autor).
23AGOSTINHO,A cidade deDeus, 21.16, p. 2182-3 (a transcrição foi adapta-
da para o português do Brasil).
24AGOSTINHO, A cidade deDeus, 20.4, p. 1984.
25AGOSTINHO, Comentário daprimeiraepístola deSãoJoão, 4.3, p. 91.
26AGOSTINHO, Comentário daprimeiraepístola deSãoJoão, 4.3, p. 92.
27AGOSTINHO, Comentário daprimeiraepístola deSãoJoão, 4.9, p. 101.
2BAGOSTINHO, A graça (A correção e a graça, 12.36), v. Il, p. 122.

L
[AGOSTINHO, A verdadeira religião, 31.58, p. 84.
2AGoSTINHo,Agraça (O espírito e a letra, 3.5), v. I, p. 21.
3AGOSTINHO, A graça (A graça e a liberdade, 21.43), v. Il, p. 72.
4AGOSTINHO, A cidade deDeus, 22.30, p. 2367-8 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
5AGOSTINHO, Carta 157.2.5, disponível em <http://www.augustinus.it/la-
tino/lettere/index.htm>, consultado em janeiro/2006 (tradução de Paulo Benieio).
6AGOSTINHO, Carta 157.3.16, disponível em <http://www.augustinus.it/
Iatino/letrere/index.htrn», consultado em janeiro/2006 (tradução de Paulo
Benicio).
7AGOSTINHO, Carta 157.2.10, disponível em <http://www.augustinus.it/
latino/Ierrere/index.htm», consultado em janeiro/2006 (tradução de Paulo
Benieio).
BAGOSTINHO,A cidade deDeus, 13.14, p. 1187 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
9AGOSTINHo,Agraça (A graça e a liberdade, 15.31), v. Il, p. 56.
lOAGoSTINHo,Agraça (A correção e a graça, 12.33), v. Il, p. 119.
IIAGOSTINHO,A cidade deDeus, 5.9, p. 487-8.
12AGOSTINHO, Dos bens... (Dos bens da viuvez: carta 188 a]uliana, 2.7), p. 279.
13AGOSTINHO, Comentário daprimeiraepístola deSãoJoão, 4.3, p. 92.

M
IAUGUSTINE, Concerning the nature of good, against the Manichaeans (De
Natura Boni contra Manichaeos), 4. In: Philip Schaff, ed. Augustine: TheWritings
against tbe Manichaens, and against the Donatists, p. 654 (tradução livre do
autor).
2AUGUSTINE, Concerning me nature ofgood, against the Manichaeans (De
Natura Boni contra Manichaeos), 36. In: Philip Schaff,00.Augustine: TheWritings
against the Manichaens, and against the Donatists, p. 671 (tradução livre do
autor).
3AUGUSTINE, The enchiridion, 11. In: Philip Schaff, ed. Augustine: On tbe
HolyTrinity, Doctrinal Treatises, MoralTreatises, p. 460 (tradução livre do autor).
4AGOSTINHO, A cidade de Deus, 11.9, p. 1010.
5AGOSTINHo,AcidddedeDeus, 12.9,p. 1101.
6AGOSTINHO, Confissões, 7.16.22, p. 195.
7AGOSTINHO, A cidade deDeus, 12.8, p. 1097.
8AGOSTINHO, A cidade deDeus, 12.8, p. 1098.
9AGOSTINHO, A cidade deDeus, 11.17, p. 1029.
IOAGOSTINHO, Confissões, 7.3.5, p. 177.
lIAGOSTINHO, A verdadeira religião, 14.27, p. 51.
12AGOSTINHO, Confissões, 3.7.12, p. 75.
13AGOSTINHO, Confissões, 5.6.11, p. 125-6.
14AGOSTINHO, Confissões, 5.7.12, p. 126.
15AGOSTINHO, Confissões, 5.11.21, p. 135.
16AGOSTINHO, Confissões, 5.14.25, p. 139.
17AGOSTINHO, O livre-arbítrio, 1.2.4, p. 28.
18AGOSTINHO, Dosbens (A santa virgindade, 3.3), p. 103.
19AGOSTINHO, Dosbens (A santa virgindade, 4.4), p. 103.
20AGOSTINHO, Dosbens (A santa virgindade, 6.6), p. 105-6.
2IAGOSTINHO, A cidade deDeus, 18.46, p. 1831.
22AGOSTINHO, Comentário aos Salmos, 34, S. II, 3, p. 478.
23AGOSTINHO, Comentdrio aosSalmos, 50.10, v. 1, p. 908-9.
24AuGUSTINE, Cospel according to St. John (In Joannis evangelium tractarus),
10.2. In: Philip Schaff, ed. Augustine: Homilies ontheGospeloffohn, Homilies on
theFirst Epistle ofJohn, Soliloquies, p. 136 (tradução livre do autor).
25AGOSTINHO, Sermão 328.4.4, disponível em <http://www.augustinus.it/
latino/discorsi/index2.htm>, consultado em janeiro/2006 (tradução de Paulo
Benieio).
26AGOSTINHO, Sermão 274.1, disponível em <http://www.augustinus.it/
latino/discorsi/index2.htm>, consultado em janeiro/2006 (tradução de Paulo
Benicio).
27AGOSTINHO, A cidade deDeus, 22.10, p. 2285-6.
28AGOSTINHO, A cidade deDeus, 22.6, p. 2260.
29AGOSTINHO, Comentário daprimeiraepístola deSãoJoão, 1.2, p. 29.
30AGOSTINHo,AcidddedeDeus, 14.22,p. 1301.

229
31AGOSTINHO,A cidadede Deus, 12.28, p. 1153.
32AGOSTINHO, Dosbens (Dos bens do matrimônio, 4.4), p. 33.
33AGOSTINHO, Dosbens (Dos bens do matrimônio, 6.6), p. 36.
34AGOSTINHO, Dos bens (Dos bens do matrimônio, 20.24), p. 57.
35AGOSTINHO, Dos bens (Dos bens do matrimônio, 23.29), p. 63.
36AGOSTINHO, Dos bens (Dos bens do matrimônio, 24.32), p. 66.
37AGOSTINHO, Dosbens (Dos bens do matrimônio, 7.7), p. 38.
38AuGUSTINE, On lying (De Mendacio), 5. In: Philip Schaff, ed. Augustine:
On the Holy Trinity, DoetrinalTreatises, Moral Treatises, p. 833 (tradução livredo
autor).
39AGOSTINHO, Confissões, 10.41.66, p. 323.
4°AGOSTINHO, A verdadeira religião, 33.61, p. 87.
41AGOSTINHO, ComentdrioaosSalmos, 102.7, v. 3, p. 55.
42AGOSTINHO, Sermão 298.4-5, disponível em <http://www.augustinus.itl
latino/discorsi/index2.htm>, consultado em janeiro/2006 (tradução de Paulo
Benicio).
43AGOSTINHO,A verdadeira religião, 25.47, p. 71.
44AuGUSTINE, Cospel according to St. John (In Joannis evangelium tractatus),
24.1. In: Philip Schaff,ed. Augustine: Homilies on the Gospel offobn, Homilieson
theFirstEpistleof'[ohn, Soliloquies, p. 313 (tradução livre do autor).
45AGOSTINHO, A cidadede Deus, 20.7, p. 2002.
46AGOSTINHO,A cidadede Deus, 20.7, p. 2004.
47AGOSTINHO, A cidadede Deus, 20.8, p. 2007.
48AGOSTINHO, A cidadede Deus, 20.8, p. 2008 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
49AGOSTINHO, A cidadede Deus, 20.9, p. 2013.
50AGOSTINHO, Confissões, 2.3.7, p. 53.
51AGOSTINHO, Confissões, 3.11.19, p. 83.
52AGOSTINHO, Confissões, 3.12.21, p. 84-5.
53AGOSTINHO, Confissões, 5.8.15, p. 129-30.
54AGOSTINHO, Confissões, 9.9.19, p. 252.
55AGOSTINHO, Confissões, 9.9.19, p. 252.
56AGOSTINHO, Confissões, 9.9.22, p. 254.
57AGOSTINHO, Confissões, 9.11-12.27-33, p. 257-62.
58AGOSTINHO, Confissões, 2.4.9, p. 55.
59AGOSTINHO, Comentdrio aosSalmos, 57.1, v. 2, p. 136.
6°AGOSTINHO, O sermão da montanha, 1.1.1, p. 23.
61AGOSTINHO, O sermão da montanha, 2.20.67, p 161.
62AGOSTINHO, A Trindade, 14.15.21, p. 469-70.
6JAGOSTINHO, O livre-arbítrio, 1.6.15, p. 41.
64AGOSTINHO, O livre-arbítrio, 1.15.32, p. 65.
65AGOSTINHO,A verdadeira religião, 11.22, p. 47.
66AGOSTINHO, ComentdrioaosSalmos, 50.10, v. 1, p. 909.
67AGOSTINHO, Confissões, 4.4.9, p. 95-6.
68AGOSTINHO, O cuidado devido aos mortos, 1.2,p.155.
69AGOSTINHO, O cuidado devido aos mortos, 13.16,p.181.
70AGOSTINHO, O cuidado devido aos mortos, 15.18, p. 182.
7IAGOSTINHO, O cuidado devido aos mortos, 15.18, p. 183.
72AGOSTINHO, O cuidado devido aos mortos, 16.19, p. 185.
73AGOSTINHO, Comentdrio daprimeiraepístola deSãoJoão, 5.9, p. 115-6.

o
IAUGUSTINE, Letter 130.12.22. In: Philip Schaff, ed. The Confissions and
Letters 01Augustine, with a Sketch ofbis LifeandWork, p. 926 (tradução livre do
autor).
2AGOSTINHO,O sermão da montanha, 2.3.14, p. 114.
3AGOSTINHO,Comentdrio aos Salmos, 85.1, v. 2, p. 841.
4AGOSTINHO, Confissões, 13.38.53, p. 450.
5AGOSTINHO, A cidade deDeus, 22.2, p. 2246-7.
6AGOSTINHO, O cuidado devido aos mortos, 5.7, p. 164-5.
7AGOSTINHO, A graça (O dom da perseverança, 7.13), v. II, p. 224-5.
8AGOSTINHO, Dosbens... (Dos bens da viuvez: carta 130 a Proba, 10.20), p.
202.

p
IAGOSTINHO, Sermão 355.1, apud A. HAMMAN, Santo Agostinho eseu tempo,
p.213-4.
2AGOSTINHO,A cidade deDeus, 20.21, p. 2074.
Carta 139.2, apud A. HAMMAN, Santo Agostinho eseu tempo, p.
3AGOSTINHO,
219.
4AGOSTINHO, Carta 139.2, apudA. HAMMAN, Santo Agostinho eseu tempo, p.
220.
5AGOSTINHO, Carta 139.2, apud A. HAMMAN, Santo Agostinho eseu tempo, p.
220.
6AGOSTINHO,A instrução dos catecúmenos, 27.55, p. 104.
7AGOSTINHO, Sermão 392.4.6, apud A. HAMMAN, Santo Agostinho e seu
tempo, p. 166.
8AuGUSTINE, Letter 95.3. In: Philip Schaff,ed. TheConfissions and Letters 01
Augustine, with a Sketch o/his LifeandWork, p. 788 (tradução livre do autor).
9AGOSTINHO, ComentdrioaosSalmos, 30, II,S. II, 7, v. 1, p. 324-5.
IOAGOSTINHO, Comentdrio aos Salmos, 66.3, v. 2, p. 366-7.
IIAUCUSTINE, Letter 21.1. In: Philip Schaff, ed. TheConfessions and Letters of
Augustine, with a Sketch ofhis Lifeand Work, p. 434-5 (tradução livre do autor).
12AcoSTINHO, Comentário aos Salmos, 126.2, v. 3, p. 658-9.
13AcoSTINHO, Dosbens... (Dos bens do matrimônio, 18.21), p. 54.
14AcoSTINHO, A cidade deDeus, 19.19, p. 1936 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
15ACOSTINHo,AcidadedeDeus,19.19,p.1937.
16AcOSTINHO, Confissões, 13.35.50, p. 449.
17AUCUSTINE, The enchiridion, 26. In: Philip Schaff, ed. Augustine: On the
HolyTrinity, DoctrinalTreatises, MoralTreatises, p. 473 (tradução livre do autor).
IBAcoSTINHO, A graça (A graça de Cristo e o pecado original, 2.39.44), v. I,
p. 311.
19AcoSTINHO, A graça (A natureza e a graça, 3.3), v. I, p. 114.
2oACOSTINHO, A cidade de Deus, 13.3, p. 1162 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
2IAcoSTINHO, A cidade deDeus, 13.14, p. 1187 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
22AcoSTINHO,A cidade de Deus, 14.13, p. 1277 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
23AcoSTINHO,A cidade deDeus, 21.15, p. 2180.
24AcOSTINHO, Comentário aos Salmos, 50.10, v. 1, p. 908.
25AcoSTINHO, Comentário aos Salmos, 50.10, v. 1, p. 909.
26AcoSTINHO, O livre-arbítrio, III.20.55, p. 212-3.
27AUCUSTINE, On marriage and concupiscence (De nuptis et concupiscentia),
2.15. In: Philip Schaff, ed.Augustine:Anti-Pelagian Writings, p. 724 (tradução
livre do autor).
2BAcoSTINHO, A Trindade, 13.12.16, p. 416-7.
29AcoSTINHO,A Trindade, 13.12.16, p. 417.
30AucUSTINE, Reply to Faustus the Manichaean (Contra Faustum
Manichaeum), 22.27. In: Philip Schaff, ed. Augustine: TheWritings againstthe
Manichaens, and against theDonatists, p. 526 (tradução livre do autor).
3IAcoSTINHO, A cidade deDeus, 14.28, p. 1319.
32AucUSTINE, Ten homilies on the first epistle of]ohn (In EpistolamJoannis
ad Parthos), 1.6. In: Philip Schaff, ed. Augustine: Homilies on the GospelofJohn,
Homilies on theFirstEpistle ofJohn, Soliloquies, p. 923 (tradução livre do autor).
33AcoSTINHO,A cidade deDeus, 12.8, p. 1097.
34AcoSTINHO, A cidade deDeus, 14.13, p. 1280.
35ACOSTINHO, O livre-arbítrio, III.19.54, p. 212.
36AcoSTINHO, Confissões, 11.31.41, P: 362.
37AUCUSTINE, Sermons on selected lessons of rhe NewTestament, 26.2-3.
In: Philip Schaff, ed. Augustine: Sermon on theMount, Harmonyofthe Gospels,
Homilies on the Gospels, p. 720-1 (tradução livre do autor).
38AUGUSTINE, Gospelaccordingto St,John (In[oannis evangelium tractatust,
124.5. In: Philip Schaff, ed. Augustine: Homilies onthe CospelofJohn, Homilies
on tbeFirst Epistle ofJohn, Soliloquies, p. 904-5 (traduçãolivredo autor).
39AUGUSTINE, Sermonson selected lessons of the NewTestament, 26.1. In:
PhilipSchaff, 00.Augustine: Sermon ontheMount, Harmonyofthe Gospels; Homilies
on the Gospels, p. no (traduçãolivredo autor).
4°AGOSTINHO, Comentário aos Salmos, 108.1, v.3, p. 246.
41AGOSTINHO, Comentário aos Salmos, 118, XII S., 3, v.3, p. 430-1.
42AGOSTINHO, Dosbens... (Dos bens da viuvez: carta 188 ajuliana, 3.13), p.
283.
43AUGUSTINE, Gospelaccording to St. John (In[oannis evangelium tractatust,
12.13. In: Philip Schaff, ed. Augustine: Homilies on the Gospel offobn, Homilies
on theFirstEpistle ofJohn, Soliloquies, p. 168 (traduçãolivredo autor).
44AUGUSTINE, Sermonson selectedlessons of me NewTestament, 67.1. In:
PhilipSchaff, ed.Augustine: Sermon ontheMount, Harmony oftheGospels; Homilies
onthe Gospels, p. 986 (tradução livredo autor).
45AGOSTINHO,A Trindade, 4.12.15, p. 166.
46AGOSTINHO, Confissões, 2.7.15, p. 60.
47AGOSTINHO, Confissões, 10.3.4, p. 271-2.
48AUGUSTINE, The Confessions, 11.1.1.In: PhilipSchaff, ed. TheConfessions
andLetters ofAugustine, witha Sketch ofhisLifeand Work, p. 293 (traduçãolivre
do autor).
49AGOSTINHO, A graça (O dom da perseverança, 16.39), v.II, p. 254.
50AGoSTINHo,Agraça (Acorreçãoe a graça, 12.34), v.II, p. 120.
51AGoSTINHo,Agraça (Acorreçãoe a graça, 12.35), v.II, p. 121.
52AGoSTINHo,Agraça (Acorreçãoe a graça, 12.38), v.II, p. 124-5.
53AGoSTINHo,Agraça (Acorreçãoe a graça, 13.39), v.II, p. 126.
54AGoSTINHo,Agraça (Acorreçãoe a graça,7.14), v.II, p. 99.
55AGOSTINHO, ComentdrioaosSalmos, 48, S. I, 3, v. 1, p. 828-9.
56AGOSTINHO, Comentário aos Salmos, 125.13, v.3, p. 653.
57AGOSTINHO, Comentário aos Salmos, 131.26, v.3, p. 761-2.
58AGOSTINHO, Comentdrio aos Salmos, 73.24, v.2, p. 608-9.
59AGOSTINHO, Confissões, 3.1.1, p. 65-6.
6°AGoSTINHo,Agraça (Agraçae a liberdade, 23.45), v.II, p. 75.
61AGoSTINHo,Agraça (O dom da perseverança, 14.35), v. II, p. 248-9.
62AGOSTINHO, A graça (A predestinaçãodos santos, 17.24), v. II, p. 194-5.
63AGOSTINHO, A graça (O dom da perseverança, 19.48), v.II, p. 264-5.
64AGOSTINHO, A graça (O dom da perseverança, 19.50), v.II, p. 268.
65AGOSTINHO, A graça (A correçãoeagraça, 7.13), v. II, p. 97.
66AGOSTINHO, A graça (A correçãoe a graça,9.23), v.II, p. 109.
67AGOSTINHO, A graça (A correçãoe a graça, 14.44), v.II, p. 131.
68AGOSTINHo,Agraça (O dom da perseverança, 17-18.47), v. n, p. 262-4.
69AGoSTINHo,Agraça (O dom da perseverança, 9.21), v. n, p. 230.
7°AGoSTINHo,Agraça (O dom da perseverança, 16.41), v. Il, p. 256.
71 AGOSTINHO, A cidade de Deus, 21.24, p. 2211.

72AGOSTINHO, A graça (O dom da perseverança, 14.24), v. lI, p. 247.


73AGOSTINHO, A graça (O dom da perseverança, 14.37), v. n, p. 252.
4AGOSTINHO,
7 A cidade deDeus, 18.50, p. 1844.
75AGOSTINHO, A doutrinacristã, 4.4.6, p. 211.
6AGOSTINHO,
7 A doutrinacristã, 4.5.8, p. 213.
77AGOSTINHO, A doutrina cristã, 4.16.32, p. 239.
HAGOSTINHO,A
7 doutrina cristã, 4.16.32, p. 238.
79AGOSTINHO, A doutrina cristã, 4.28.59, p. 271.
sOAGOSTINHO,A cidade deDeus, 14.11, p. 1271 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
81AGOSTINHO,A cidade deDeus, 14.27, p. 1318.
82AGOSTINHO, A cidade de Deus, 22.1, p. 2242.
83AGOSTINHO, A cidade deDeus, 11.18, p. 1031 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
84AGOSTINHO, A graça (A predestinação dos santos, 10.19), v. Il, p. 174-5.
85AGOSTINHO, Confissões, 10.28.39, p. 300.
86AGOSTINHO, A verdadeira religião, 47.92, p. 118.
87AGOSTINHO, A cidade deDeus, 1.9, p. 124 (a transcrição foi adaptada para
o português do Brasil).
88AGOSTINHO,A cidade deDeus, 1.8, p. 118 (a transcrição foi adaptada para
o português do Brasil).
89AGOSTINHO,A cidade deDeus, 2.23, p. 261 (a transcrição foi adaptada para
o português do Brasil).
9üAGOSTINHO,A cidade de Deus, 7.30, p. 686-7.
91AGOSTINHO,A cidadede Deus, 10.14, p. 923 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
92AGOSTINHO, A cidade deDeus, 14.27, p. 1317 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
93AGOSTINHO, A verdadeira religião, 15.29, p. 52.
94AGOSTINHO, A verdadeira religião, 17.34, p. 57.
95AGOSTINHO, A verdadeira religião, 22.43, p. 66.
%AGOSTINHO, A verdadeira religião, 28.51, p. 76.

R
lAGOSTINHO, A doutrinacristã, 1.14.13, p. 53-4.
2AGOSTINHO, A graça (A natureza e a graça, 2.2), v. I, p. 113.
3AGOSTINHO, A Trindade, 13.18.23, p. 430.
4AGOSTINHO,A Trindade, 4.2.4, p. 150.
5AGOSTINHO,A Trindade, 4.12.15, P: 166.
GAGOSTINHO,A Trindade, 4.13.17, P: 168.
7AGOSTINHO,A Trindade, 4.13.17, p. 169.
8AGOSTINHO,A Trindade, 4.14.19, p. 171-2.
9AGOSTINHO,A Trindade, 8.5.7b, p. 269.
lOAGOSTINHO,A Trindade, 13.14.18, p. 420.
llAGOSTINHO,A Trindade, 13.14.18, p. 421-2.
12AGOSTINHO,A Trindade, 13.15.19, p. 422.
13AGOSTINHO,A Trindade, 13.15.19, p. 423.
14AGOSTINHO, Confissões, 10.43.70, p. 326.
15AGOSTINHO, Comentário aos Salmos, 21, Il, 3, v. 1, p. 200.
G
l A GOST INHO, Comentário aos Salmos, 64.6, v. 2, p. 318-20.

17AGOSTINHO, Comentário aos Salmos, 148.8, v. 3, p. 1132-3.


18AGOSTINHO, Comentário daprimeira epístola deSãoJoão, 1.5, p. 35.
19AGOSTINHO, Comentário daprimeira epístola deSãoJoão, 1.7, p. 38.
20AGOSTINHO, Comentário daprimeira epístola deSãoJoão, 1.8, p. 40.
21AGOSTINHO,A verdadeira religião, 12.24, p. 48.
22AGOSTINHO, A verdadeira religião, 23.44, p. 67.
23AGOSTINHO, A graça (A graça de Cristo e o pecado original, 1.24.25), v. I,
p.239.
24AGOSTINHO, A verdadeira religião, 1.1, p. 25.
25AGOSTINHO,A verdadeira religião, 7.12, p. 39.
2GAGOSTINHO, A verdadeira religião, 55.113, p. 137.
27AGOSTINHO, A verdadeira religião, 55.108, p. 133.
28AGOSTINHO, Comentário aos Salmos, 88, II 5., 5, v. 2, p. 933.
29AGOSTINHO, A cidade deDeus, 22.20, p. 2321 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
30AGOSTINHO, A cidade deDeus, 22.19, p. 2318.
31AGOSTINHO, A cidade deDeus, 22.19, p. 2318.
32AGOSTINHO, A cidade deDeus, 13.20, p. 1207-8.
33AGOSTINHO, A doutrina cristã, 1.15.14, p. 54.
34AGOSTINHO, A verdadeira religião, 10.19, p. 44.

s
1AGOSTINHO, A vidafeliz, 4.33, p. 154.
2AGOSTINHO, A vidafeliz, 4.33, p. 155.
3AGOSTINHO,A vidafeliz, 4.34, p. 155.
4AGOSTINHO, A vidafeliz, 4.35, p. 156-7.

255
5AcOSTINHO, o livre-arbítrio, 11.9.26, p. 106.
GACOSTINHO, O livre-arbítrio, II.13.35, p. 119.
7ACOSTINHO, O livre-arbítrio, IIL25.77, p. 240.
8AcoSTINHO, O sermão da montanha, 1.3.10, p. 30.
9AUCUSTINE, Cospe! according to St. John (InJoannis evangelium tractatus) ,
80.3. In: Philip Schaff, ed. Augustine: Homilies on theGospelofJohn, Homilies on
theFirst Epistle ofJohn, Soliloquies, p. 690 (tradução livre do autor).
IOAcOSTINHO, A cidade de Deus, 10.6, p. 900-1 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
llAucUSTINE, Cospe! according to St. John (InJoannis evangelium tractatusi,
5.15. In: Philip Schaff, ed. Augustine: Homilies onthe Gospel offohn, Homilies on
theFirstEpistle ofJohn, Soliloquies, p. 71 (tradução livre do autor).
12AUCUSTINE, Letter 98.9. In: Philip Schaff, ed. TheConftssions and Letters of

Augustine, with a Sketch ofhis LifeandWork, p. 804 (tradução livre do autor).


13AcoSTINHO, A verdadeira religião, 17.33, p. 55-6.
14AcoSTINHO, A doutrinacristã, 3.9.13, p. 164.
15ACOSTINHO, A cidade de Deus, 10.6, p. 899.
16AcoSTINHO,A cidade deDeus, 10.5, p. 895.
17ACOSTINHO, A cidade deDeus, 19.23, p. 1954.

18AcoSTINHO, A cidade deDeus, 10.6, p. 899.


19AcOSTINHO, A cidade deDeus, 10.6, p. 899.
2°AcoSTINHO, Confissões, 9.4.8, p. 241.
21AcoSTINHO, Confissões, 10.33.49-50, p. 307-9.
22AcoSTINHO, Confissões, 9.7.15, p. 247-8.
23AcoSTINHO, Confissões, 11.9.11, p. 338.
24AcoSTINHO, Comentdrio daprimeiraepístola deSãoJoão, 8.13, p. 175.
25AcoSTINHO, Confissões, 10.29.40, p. 300.
26AcoSTINHO, Confissões, 6.11.20, p. 163-4.
27AGOSTINHO, Confissões, 10.34.53, p. 312.
28AcoSTINHo,Agraça (A correção e a graça, 6.9), v. II, p. 92.
29AGOSTINHO, A verdadeira religiiio, 13.26, p. 49.
30AcoSTINHO, Confissões, 10.4.5, p. 273.
31AcoSTINHO, Confissoes. 1ll.37.62, p. 319.
32AGoSTINHo,Agraça (O dom da perseverança, 14.37), v. II, p. 251.
33AcOSTINHO, A cidade de Deus, 11.13,p.1020.
34AGOSTINHO, A cidade {/r Deus, 11.13, p. 1020-1 (a transcrição foi adapta-
da para o português do Brasil).
35ACOSTINHO, A cidade rll' Deus, 11.13, p. 1021.
36AGOSTINHO,A cidade deDeus, 11.15, p. 1026.
37AGOSTINHO, A cidade d.: Deus, 11.17, p. 1029-30.
38AcoSTINHO, Confissões, 4.1.1, p. 89.
39AGOSTINHO, A cidade deDeus, 18.42, p. 1817-9 (a transcrição foi adapta-
da para o português do Brasil).
4°AGOSTINHO, A cidade deDeus, 18.43, p. 1821.
41AGOSTINHO, A cidade deDeus, 18.44, p. 1826.
42AUGUSTINE, Sermons on selected lessons ofthe New Testament, 28.6. In:
Philip Schaff,ed. Augustine: Sermon ontheMount, Harmony oftheGospels, Homilies
on the Gospels, p. 739 (tradução livre do autor).
43AGOSTINHO, Comentário aos Salmos, 86.5, v. 2, p. 881.
44AGOSTINHO, A verdadeira religião, 55.108, p. 133.
45AGOSTINHO, A verdadeira religião, 55.111, p. 136.
46AGOSTINHO, A doutrinacristã, 2.21.30, p. 117.

T
lAGOSTINHO, A cidade deDeus, 11.21, p. 1037-8 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
2AGOSTINHO, Confissões, 11.14.17, p. 342-3.
3AGOSTINHO, Confissões, 11.12.14, p. 340-1.
4AGOSTINHO, Confissões, 11.13.15, p. 341.
5AGOSTINHO, Confissões, 11.26.33, p. 354-6.
6AGOSTINHO, Confissões, 11.27.33, p. 358.
7AGOSTINHO, Confissões, 12.7.7, p. 369.

BAGOSTINHO, A verdadeira religião, 38.69, p. 96.


9AGOSTINHO, A verdadeira religião, 38.69, p. 96.
lOAGOSTINHO, A verdadeira religião, 38.71, p. 97.
llAGOSTINHO, Confissões, 10.30.41, p. 301.
12AGOSTINHO, A verdadeira religião, 8.14, p. 40-1.
13AuGUSTINE, Faith and the Creed (De Fide et Symbolo), 10.25. In: Philip
Schaff, ed. Augustine: On theHolyTrinity, DoctrinalTreatises, MoralTreatises, p.
639 (tradução livre do autor).
14AuGUSTINE, Against rhe epistle ofManichaeus called fundamental (Con-
tra Epistolam Manichaei quam vocant Fundamenti), 5.6. In: Philip Schaff, ed.
Augustine: The Writings against the Manichaens, and against the Donatists, p.
225 (tradução livre do autor).
15AUGUSTINE, Sermons on selected lessons ofthe New Testament, 8.13. In:
Philip Schaff,00.Augustine: Sermon ontheMount, Harmony oftheGospels, Homilies
on the Gospels, p. 604 (tradução livre do autor).

u
lAGOSTINHO, Confissões, 4.2.2, p. 90.
2AGOSTINHO, Confissões, 6.15.25, p. 167-8.

2.37
v
IAGOSTINHO, o livre-arbítrio, 11.12.33, p. 116-7.
lAGOSTINHO, Confissões, 12.10.10, p. 371.
3AGOSTINHO, Confissões, 12.25.34, p. 391.
4AGOSTINHO, Confissões, 12.30.41, p. 398.
5AGOSTINHO, A verdadeira religião, 39.72, p. 98.
6AGOSTINHO, A verdadeira religião, 39.73, p. 100.
7AGOSTINHO, Confissões, 8.5.10, p. 214.
8AGOSTINHO, A verdadeira religião, 23.44, p. 67.
9AGOSTINHO,A verdadeira religião, 46.86, p. 113.
IOAGOSTINHO, A cidade deDeus, 11.17, p. 1029.
IIAGOSTINHO, Confissões, 2.3.7, p. 53-4.
12AGOSTINHO, A cidade de Deus, 20.21, p. 2070.
13AGOSTINHO, A cidade de Deus, 22.30, p. 2371.
14AGOSTINHO, A cidade deDeus, 22.30, p. 2366 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
15AGOSTINHO, Confissões, 13.36.51, p. 449.
16AGOSTINHO, A cidade deDeus, 22.29, p. 2355 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
17AGOSTINHO, A cidade deDeus, 22.29, p. 2364.
18AGOSTINHO, A cidade de Deus, 22.30, p. 2365.
19AGOSTINHO, A cidade deDeus, 22.30, p. 2367 (a transcrição foi adaptada
para o português do Brasil).
2°AGOSTINHO, A cidade deDeus, 22.30, p. 2369.
2IAuGUSTINE, MoraIs of the Catholic Church (De moribus Ecclesiae
Catholicae), 25.46. In: Philip Schaff, ed. Augustine: The Writings against the
Manichaens, and against theDonatists, p. 95 (tradução livre do autor).
22AGOSTINHO, A cidade de Deus, 5.19, p. 531-2.
23AGOSTINHO, A verdadeira religião, 54.106, p. 131.
24AGOSTINHO, A doutrinacristã, 1.37.41 b, p. 79.
25AGOSTINHO, O sermão da montanha, 2.6.24, p. 122.
26AGOSTINHO, Confissões, 11.10.12, p. 339.

z
lAGOSTINHO, Confissões, 13.36.49, p. 448.
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Trad. Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 2002.
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Maria Mãe do Cristo, de Caxambu (MG). São Paulo: Paulus, 1997-8.
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