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MINISTÉRIO DA SAÚDE

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ


ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA
em convênio com
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA-RS
PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU EM SAÚDE PÚBLICA

José Cláudio dos Santos Araújo

INSERÇÃO DA FISIOTERAPIA NA ATENÇÃO BÁSICA: UM


CAMINHO NECESSÁRIO A PERCORRER EM SAÚDE PÚBLICA

INSERTION OF FISIOTERAPIA IN PRIMARY CARE: A JOURNEY


THROUGH THE NEED FOR PUBLIC HEALTH

Porto Alegre – RS
2009
José Cláudio dos Santos Araújo

INSERÇÃO DA FISIOTERAPIA NA ATENÇÃO BÁSICA:


UM CAMINHO NECESSÁRIO A PERCORRER EM SAÚDE PÚBLICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como


requisito parcial para obtenção do título de
Sanitarista, do curso de Pós-graduação Lato sensu
em Saúde Pública, da Escola Nacional de Saúde
Pública Sérgio Arouca em convênio com a Escola de
Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Sul.

Orientador: Dr. Luis Henrique Telles da Rosa.

Porto Alegre – RS
2009
RESUMO

Este trabalho trata de uma revisão da literatura sobre o Fisioterapeuta na Atenção


Básica mesclada com a experiência do autor(preceptor) no local de trabalho.Tem-se
o intuito de ratificar a importância da atuação do profissional de fisioterapia tanto na
residência multiprofissional em Saúde Pública no Centro de Saúde Escola Murialdo-
CSEM que, mesmo incipiente, já revela grandes perspectivas de atuação, tanto em
outras atividades como na Estratégia de Saúde da Família-ESF, em que ocorre, por
vezes, a inserção desse profissional. O objetivo é discutir a importância e a
qualificação do atendimento em saúde, sob a ótica da integralidade, um dos
princípios do Sistema Único de Saúde-SUS. Os dados obtidos são provenientes de
material de consulta em fontes formais relevantes em saúde pública, como artigos,
relatórios, livros, entre outros. Também é descrita a vivência do autor (preceptor)
durante a atuação na Residência Integrada em Saúde-RIS, no período de 2006 a
2008. Além disso, é enfatizada a importância de uma reorientação nas atuais formas
de graduação, a partir de uma maior inserção dos preceitos do SUS. Apesar de um
longo caminho a percorrer até a sua plena vinculação ao SUS, a Fisioterapia já
demonstra uma contribuição relevante na Atenção Básica, com a formação de
grupos, visitas domiciliares e a participação em programas de saúde, não
restringindo sua atuação apenas à assistência e à reabilitação. A Fisioterapia pode
evitar que danos temporários ou permanentes tenham desfechos que possam
implicar grandes gastos monetários, danos psicológicos e diminuição de qualidade
de vida, além de oferecer outros benefícios. Apesar de já apresentar relatos
significativos de artigos científicos que demonstram as diversas possibilidades de
ações em saúde coletiva do profissional fisioterapeuta. Acredita-se que a sua
inclusão na ESF possa trazer grandes benefícios para a saúde, a educação e
gestões municipais, com base em experiências trazidas neste trabalho.

Palavras Chave: Atenção Básica; Integralidade; Fisioterapia; Residência Integrada


em Saúde.
ABSTRACT:

This work is a literature review on the Physical Therapist in Primary Care merged
with the experience of the author (teacher) in place of trabalho.Tem is the intention
of ratifying the importance of the role of occupational therapy in both the residence
of multiprofessional in Public Health Center for School Health-CSEM Murialdo,
even infancy, already shows great prospects for action, as in other activities, such
as the Family Health Strategy-ESF, which is sometimes the insertion of a trader.
The objective is to discuss the importance and skills of health care, from the
viewpoint of completeness, one of the principles of the Unified Health System-SUS.
The data are derived from material sources of formal consultation on relevant public
health, such as articles, reports, books, and more. Also described is the experience
of the author (teacher) during the performance Integrated Residency in Health-RIS
in the period 2006 to 2008. Furthermore, it emphasized the importance of a shift in
the current form of graduate students from a greater integration of the principles of
the SUS. Despite a long way to go before the full link to the SUS, the Physiotherapy
has shown an important contribution in Primary Care, with the formation of groups,
home visits and participation in health programs, not restricting its activities solely
to assisting and rehabilitation. The Physiotherapy can prevent temporary or
permanent damage have outcomes that may involve large monetary expenses,
psychological damage and diminished quality of life, besides offering other benefits.
Although already present reports of significant scientific articles that show the
different possibilities of action in public health professional's physiotherapist. It is
believed that its inclusion in the ESF can bring great benefits to health, education
and municipal administrations, based on experiences taken in this work.

Keywords: Primary Care, Integration, Physical Therapy, Integrated Residency in


Health
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 6
1.1 Metodologia............................................................................................... 7
2 ATENÇÃO BÁSICA................................................................................... 8
3 INTEGRALIDADE...................................................................................... 12
4 PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA .................................................. 13
5 FISIOTERAPIA.......................................................................................... 16
6 BREVE HISTÓRICO DA FISIOTERAPIA NO BRASIL............................. 19
7 A FISIOTERAPIA NA ATENÇÃO BÁSICA............................................... 22
8 A RESIDÊNCIA INTEGRADA EM SAÚDE............................................... 25
8.1 A experiência do Murialdo....................................................................... 28
8.2 O Grupo de Caminhada de uma das Unidades Básicas........................ 31
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 34
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 36
6

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho trata da inserção da Fisioterapia na Atenção Básica em Saúde


Pública, a partir de uma descrição de experiências da fisioterapia em Atenção
Básica que, pela efetividade demonstrada, legitima uma vinculação mais consistente
junto ao Sistema Único de Saúde-SUS, o que, no momento atual, não ocorre.
Também é trazida uma breve discussão teórica existente sobre este tema a partir da
experiência do autor no Centro de Saúde Escola Murialdo- CSEM / Porto Alegre-RS,
onde atua como preceptor do Núcleo de Fisioterapia da Escola de Saúde Pública
vinculada à Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul.
O objetivo geral deste trabalho é discutir a importância da inserção do
fisioterapeuta na Atenção Básica, sob a diretriz da integralidade, com a finalidade de
qualificar o atendimento em saúde por meio do ingresso desse profissional no SUS.
Busca-se realizar uma revisão da literatura acerca das experiências existentes da
Fisioterapia em Atenção Básica na Estratégia de Saúde da Família - ESF, e nas
residências multiprofissionais em Saúde Pública, de importância fundamental na
formação de profissionais para atuarem no SUS.
Atualmente observam-se providências concretas na formação de profissionais de
saúde capacitados para atuarem no SUS por meio dos Ministérios da Saúde e da
Educação, pela portaria 45 que trata da residência multiprofissional (BRASIL, 2007)
e pelo lançamento do Programa, que reorienta a graduação dos profissionais de
saúde, inserindo os preceitos do SUS nessa formação(PRÓ-SAÚDE,2009).
Percebe-se, portanto, o papel fundamental que teria na saúde pública a inserção
do Fisioterapeuta no ESF, visto que essa é uma estratégia de atenção à saúde que
altera o modelo assistencial, prioriza a promoção e a prevenção da saúde de uma
população adscrita a um território, o que facilita o trabalho de vigilância e a aplicação
de programas que visam ao levantamento epidemiológico e à respectiva
intervenção.
Registra-se que, no momento, há possibilidade dessa inclusão multiprofissional
na saúde pública, via SUS, a partir da criação do Núcleo de Apoio à Saúde da
Família - NASF (BRASIL, 2008), mas sem experiências ainda comprovadas, por ser
uma política em fase de construção e discussão devido a sua recente incorporação
ao sistema de saúde que se reflete na contribuição da vivência do fisioterapeuta na
7

residência do CSEM, em sua incipiente experiência, mas já denotada atuação,


principalmente junto aos usuários e à equipe, em caráter de residência há apenas
dois anos.

1.1 Metodologia

A metodologia consiste de uma revisão de literatura mesclada com a experiência


profissional por meio de uma abordagem qualitativa. Neste trabalho, é feita uma
abordagem nos conceitos e características que orientam a sua realização, tais
como: Atenção Básica, Integralidade, Residência Integrada em Saúde -RIS, além de
um breve histórico da fisioterapia
Os dados obtidos são provenientes de material de consulta em fontes
secundárias contidas na legislação, parcerias com entidades públicas, além de
artigos com experiências da fisioterapia na Atenção Básica. São descritas, ainda, a
vivência do autor(preceptor) na residência integrada em saúde na curta trajetória da
fisioterapia nesta residência em Atenção Básica, assim como relatos alusivos à
melhora global na saúde por componentes de grupo de caminhada em uma
determinada Unidade Básica de Saúde. A realização deste grupo é um trabalho de
campo realizado pelos residentes de fisioterapia no CSEM, sem a devida
necessidade de identificação, pois são factuais os enormes benefícios que a
atividade física propicia, conforme atesta Adamoli e Azevedo (2009).
8

2 ATENÇÃO BÁSICA

A Atenção Básica em saúde é caracterizada por um conjunto de ações de saúde,


no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a
prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção
da saúde. É desenvolvida por meio de práticas gerencias, sanitárias, democráticas e
participativas sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de território
delimitado. É o contato preferencial dos usuários com o sistema de saúde, orientado
pelo princípio da integralidade, participação social e universalidade, entre outros
(BRASIL, 2006).
Conforme Gil (2006), alguns autores utilizam os termos Atenção Primária à
Saúde e Atenção Básica à saúde como sinônimos, na perspectiva de unidades
locais ou em caratér de assistência.
A Atenção Básica considera o sujeito em sua singularidade, na complexidade, na
integralidade e na inserção sócio-cultural e busca a promoção de sua saúde, a
prevenção e o tratamento de doenças e a redução de danos ou de sofrimento que
possam comprometer suas possibilidades de viver de modo saudável.
A Atenção Básica propõe-se a efetivar a integralidade em seus vários aspectos,
tais como: integração das ações programáticas e demanda espontânea; articulação
das ações de promoção à saúde; prevenção de agravos; vigilância à saúde;
tratamento e reabilitação; trabalho de forma interdisciplinar e em equipe; e
coordenação do cuidado na rede de serviços.
Nas Cartas de Promoção à Saúde (BRASIL,2002), Ferreira e Buss relatam que
durante a década de 60, houve um amplo debate realizado em várias partes do
mundo, realçando a determinação econômica e social da saúde que abriu caminho
para a busca de uma abordagem positiva nesse campo, visando superar a
orientação predominantemente centrada no controle da enfermidade. Entre as várias
iniciativas registradas com tal orientação, merecem destaque especial a abertura da
China Nacionalista ao mundo exterior - com a realização das duas primeiras
missões de observação de especialistas ocidentais promovidas pela Organização
Mundial da Saúde, sob a liderança de Halfdan Mahler (1973-1974), e o movimento
canadense desenvolvido a partir do Relatório Lalonde - Uma Nova Perspectiva na
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Saúde dos Canadenses (1974), posteriormente reforçado com o Relatório Epp -


Alcançando Saúde Para Todos (1986).
Carvalho (2004), aponta que o Relatório Lalonde, publicado em 1974, trata-se de
um memorando de discussão produzido pelo Ministério de Bem Estar e Saúde do
Canadá, sintetizou um ideário que preconiza como eixo central de intervenção um
conjunto de ações que procuram intervir positivamente sobre comportamentos
individuais não-saudáveis.
Esse debate suscitou duas Conferências Internacionais que são importantes para
melhor compreender a atenção primária (ou básica) e a promoção em saúde.
A primeira, que originou a “Declaração de Alma-Ata” (1978), sobre os cuidados
primários em saúde, expressou a necessidade de ação urgente de todos os
governos, dos que trabalham nos campos de saúde e do desenvolvimento, além da
comunidade mundial, para promover a saúde de todos os povos do mundo. Nessa
conferência, foram discutidos os cuidados primários com o seu conceito ampliado e
aprofundado, como cuidados essenciais de saúde, baseados em métodos e
tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis,
colocadas ao alcance universal de indivíduos, família e comunidade, mediante sua
plena participação e a um custo que a comunidade e o país possam manter em cada
fase de seu desenvolvimento, no espírito de autoconfiança e autodeterminação..
Segundo Scliar (2007), o conceito de cuidados primários de saúde tem
conotações. É uma proposta racionalizadora, mas é também uma proposta política;
em vez da tecnologia sofisticada oferecida por grandes corporações, propõe
tecnologia simplificada, “de fundo de quintal”. No lugar de grandes hospitais,
ambulatórios; de especialistas, generalistas; de um grande arsenal terapêutico; uma
lista básica de medicamentos - enfim, em vez da “mística do consumo”, uma
ideologia da utilidade social.
A outra conferência, esta sobre promoção em saúde, foi antes de tudo uma
resposta às crescentes expectativas por uma nova saúde pública, movimento que
vinha ocorrendo em todo o mundo. Foi baseada nos progressos alcançados com a
Declaração de Alma-Ata, com o documento da Organização Mundial da Saúde
sobre “Saúde Para Todos” (OMS, 1997), assim como no debate ocorrido na
Assembléia Mundial da Saúde sobre as necessárias ações intersetoriais .
Essa conferência originou a Carta de Otawa (1986) que define o que seja
promoção em saúde, nome dado ao processo de capacitação da comunidade para
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atuar na melhoria da qualidade de vida e de saúde, vinculado a uma maior


participação no controle desse processo.
Campos (2003) esclarece que dar prioridade à prevenção não é,
necessariamente, uma estratégia de contenção de custos, pois não se pode
descuidar do atendimento às demais necessidades de saúde, nos níveis mais
complexos do sistema, quando se tem em mente o cumprimento dos objetivos e dos
pressupostos do Sistema Único de Saúde. Estes são, segundo a Lei Orgânica da
Saúde, assegurar o acesso universal e igualitário a todos os níveis de assistência e
prestar ações e serviços preventivos e curativos individuais e coletivos.
Entre as características do processo de trabalho das equipes de Atenção Básica
destaca-se o desenvolvimento de ações educativas que possam interferir no
processo saúde-doença da população, ampliado pelo controle social na defesa da
qualidade de vida.
A Atenção Básica, para sua efetiva resolutividade, necessita de profissionais com
uma qualificação diferenciada, a qual tem sido viabilizada por programas de
incentivo à mudança nas graduações em saúde.
Faria (2000) constata que deve haver algum elemento comum a caracterizar a
formação na área da saúde, para constituir-se num elemento integrador para a
atuação dos profissionais dessa área.
Um programa federal que veio resgatar a inserção do SUS em nível educacional
na graduação é o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em
Saúde, o já citado, PRÓ-SAÚDE. Inicialmente três áreas são contempladas -
Medicina, Enfermagem e Odontologia - áreas cujos profissionais fazem parte da
estratégia do Programa de Saúde da Família em todo o Brasil.
Como diz Almeida, Oliveira e Ribeiro (2005, p. 1), “é opinião consensual, quando
se discute os caminhos para a saúde, que a prevenção deve ser o objetivo maior de
todas as ações em saúde e que, neste contexto, a educação é parte fundamental
para que as ações preventivas tenham êxito”.
Uma experiência a ser destacada em educação na Atenção Básica com a
fisioterapia é a de Juiz de Fora, em Minas Gerais, que, com a Universidade Federal
através do Departamento de Fisioterapia, em conformidade com mudanças
curriculares que tramitavam no Ministério de Educação e Cultura (MEC) naquele
momento, propiciaram um campo de atuação pouco explorado na profissão de
fisioterapeuta. Devido à identificação de um grande número de pacientes acamados,
11

foi criado um projeto que favorecesse a inserção do profissional de Fisioterapia nas


unidades de saúde, redundando numa classificação em 1º lugar do total de 77
projetos selecionados por aquela Universidade (FREITAS, 2002).
A Atenção Básica tem o ESF como estratégico para a reorganização de seu
modelo assistencial de acordo com os preceitos do SUS.
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3 INTEGRALIDADE

O princípio da integralidade é um dos norteadores para a inclusão do profissional


de fisioterapia em Atenção Básica, e também é uma das diretrizes a ser cumprida
pelo SUS, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços
preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os
níveis de complexidade do sistema (BRASIL,1990).
Pode-se, também, demarcar a integralidade como eixo, como propõe Ceccim e
Feuerwenker (2004) no artigo sobre mudança na graduação das profissões de
saúde, a fim de apoiar as necessárias alterações na formação de profissionais, já
que implica compreensão ampliada da saúde, articulação de saberes e práticas
multiprofissionais e interdisciplinares e alteridade com os usuários para a inovação
das práticas em todos os cenários de atenção à saúde e de gestão setorial.
Segundo Mattos (2004), entre os princípios e diretrizes do SUS, talvez o da
integralidade seja o menos visível na trajetória do sistema e de suas práticas, tendo-
se de adotar, a partir dessa, uma postura que identifique, com base no
conhecimento técnico, as necessidades de prevenção e assistência e que selecione
as intervenções a serem ofertadas no contexto de cada encontro.
13

4 PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA

O Programa Saúde da Família - PSF teve início em 1994, como um dos


programas propostos pelo governo federal aos municípios para implementar a
atenção básica. O PSF é tido como uma das principais estratégias de reorganização
dos serviços e de reorientação das práticas profissionais em nível de assistência,
promoção da saúde , prevenção de doenças e reabilitação. Traz, portanto, muitos e
complexos desafios a serem superados para consolidar-se. No âmbito da
reorganização dos serviços de saúde, a estratégia da saúde da família vai ao
encontro dos debates e análises referentes ao processo de mudança do paradigma
que orienta o modelo de atenção à saúde vigente e que vem sendo enfrentada,
desde a década de 1970, pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos
com um novo modelo que valorize as ações de promoção e proteção da saúde,
prevenção das doenças e atenção integral às pessoas (PORTAL SAÚDE, 2009).
O PSF, por meio da Portaria 648 de 28 de março de 2006, que estabelece a
revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, passou a ser
denominado Estratégia de Saúde da Família-ESF, por ser considerado uma
estratégia de inserção de um novo modelo assistencial que tem como preceito as
diretrizes do SUS, com o diferencial de possuir uma equipe mínima, e conter
obrigatoriamente na sua equipe um agente comunitário de saúde.Profissional que
deve morar na comunidade onde o PSF está situado, responsável essencialmente
pela vigilância, orientação e vínculo com a comunidade adscrita. Também deve estar
cadastrado neste PSF um número determinado de famílias que será de, no mínimo,
2.400 e, no máximo, 4.500 pessoas (BRASIL, 1998).
O programa elege como ponto central o estabelecimento de vínculos e a criação
de laços de compromisso e de co-responsabilidade entre os profissionais de saúde e
a população, faz com que a família passe a ser o objeto precípuo de atenção,
entendida a partir do ambiente onde vive. A equipe mínima de saúde da família é
composta por médico, cirurgião-dentista, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e
agente da saúde, cujas atribuições comuns são as de realizar ações de atenção
integral conforme a necessidade de saúde da população local, bem como as
previstas nas prioridades e protocolos da gestão local, enquanto outros profissionais
14

de saúde podem ser incorporados de acordo com a demanda local e com a política
pública de saúde e educação do próprio local.
O PSF é um ambiente privilegiado para se exercer esse princípio, seja por meio
de política de formação e estratégica, assim como pela possibilidade de a ação em
saúde ser realizada de forma multiprofissional e interdisciplinar.
Uma experiência exitosa com inserção da fisioterapia em PSF no Brasil é a que
se desenvolve, desde 1993, nas comunidades do Grotão e Maria de Nazaré, que
são áreas geograficamente vizinhas da cidade de João Pessoa/PB. Surgiu com o
intuito de proporcionar atendimento fisioterapêutico domiciliar às pessoas de classes
populares impossibilitadas para se deslocarem aos serviços de saúde, sendo
chamada de Fisioterapia na Comunidade. Propõe-se a atuar na atenção primária à
saúde e visa à intervenção nos três níveis de prevenção. Ribeiro et al (2008)
relataram essa experiência no I Congresso Brasileiro de Extensão Universitária,
realizado em João Pessoa.
Na educação de diferentes profissionais para atuarem em saúde, capacitados
para atuarem no PSF, destaca-se a parceria entre gestores públicos que acontece
na cidade de Sobral (CE). Naquela cidade, a Residência em Saúde da Família,
implantada por meio de parceria e do consórcio entre a Prefeitura Municipal de
Sobral e a Escola de Formação em Saúde da Família Visconde de Sabóia e
Universidade Estadual Vale do Acaraú, tem como objetivo geral capacitar os
profissionais para atuarem na saúde (médicos, enfermeiros, odontólogos,
psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais, fisioterapeutas, educadores físicos,
entre outros), com a estratégia de Saúde da Família (ESCOLA DE FORMAÇÃO EM
SAÚDE DA FAMÍLIA VISCONDE DE SABÓIA, 2009).
Em outro trabalho, Formiga, Gonçalves e Ribeiro (2008) sobre “Fisioterapia na
comunidade: o papel da extensão popular no processo de formação acadêmica”,
concluem que a vivência no projeto realizado em Sobral-CE, e sua dinâmica,
prepara mais adequadamente os acadêmicos para a inserção no SUS e contribui
para a melhoria na saúde das pessoas, além de colaborar com a ampliação e a
ativação das redes sociais dos moradores .
Algumas profissões da saúde, entretanto, encontram muita dificuldade de
inserção em Atenção Básica, dentre elas a fisioterapia que, infelizmente, ainda está
relegada à assistência e à reabilitação.
15

De acordo com a Residência em Saúde Multiprofissional, que acontece na cidade


de Casvavel-PR, nas atribuições do fisioterapeuta no programa de saúde da
Família,

a Fisioterapia apresenta uma missão primordial, de cooperação, mediante a


nova realidade de saúde que se apresenta, através da aplicação de meios
terapêuticos físicos, na prevenção, eliminação ou melhora de estados
patológicos do homem, na promoção e na educação em saúde
(RAGASSON et al, 2008, p. 3).

Sendo assim, Ragasson et al, consideram para que seja possível o acesso pleno
à saúde da população e a concretização das políticas de Saúde do país, uma
necessidade de transformação radical do modelo de atenção, ainda vigente, para
uma concepção ampla de saúde e principalmente a capacitação de recursos
humanos para o processo de reorganização da Atenção Básica, proposta pelo
Ministério da Saúde.
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5 FISIOTERAPIA

Segundo o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional-COFFITO, a


fisioterapia é uma ciência da saúde que estuda, previne e trata os distúrbios
cinéticos funcionais intercorrentes em órgãos e sistemas do corpo humano, gerados
por alterações genéticas, por traumas e por doenças adquiridas. Fundamenta suas
ações em mecanismos terapêuticos próprios, sistematizados pelos estudos da
Biologia, das ciências morfológicas, das ciências fisiológicas, das patologias, da
bioquímica, da biofísica, da biomecânica, da cinesia, da sinergia funcional e da
cinesia patologia de órgãos e sistemas do corpo humano e as disciplinas
comportamentais e sociais.
De acordo com Barros (2003), na área clínica, o fisioterapeuta utiliza métodos
diagnósticos específicos, prescreve e administra tratamento por meio de diferentes
técnicas manuais, biomecânicas, neurofisiológicas, utiliza as próprias mãos, induz
movimentos e posturas terapêuticas, agregando equipamentos elétricos e
eletrônicos, tais como gerador de ultrasom, microondas terapêutico, ondas curtas,
laser, infravermelho, indutores de correntes galvânicas, farádicas, russa,
interferencial, entre outros diversos aparelhos com funções estabelecidas de
analgesia, eletroestimulação, cicatrização de tecidos, entre outros. Os recursos
utilizados pelo fisioterapeuta vão desde o arsenal da hidroterapia, eletroterapia, até a
mecanoterapia, fototerapia, cinesioterapia, por exemplo. Os recursos terapêuticos
estabelecidos na fisioterapia têm utilidade em diferentes disfunções, para desdobrar-
se em diversas áreas de atuação profissional, como, por exemplo, a atuação na
prevenção e tratamento das disfunções uro-ginecológicas, em alterações cutâneas
como nas úlceras de decúbito e campo da estética Também na saúde da criança, do
idoso, disfunções dos sistemas neurolocomotor e cardio-respiratório, e nas
disfunções têmporo-mandibulares, dentre muitas outras.
Em Saúde Coletiva, a atribuição específica do fisioterapeuta refere-se à
educação, prevenção e assistência fisioterapêutica coletiva na Atenção Primária em
saúde. Nas ações básicas, conforme o COFFITO, apresenta as seguintes
atribuições: participar de equipes multiprofissionais destinadas ao planejamento, a
implementação, ao controle e à execução de projetos e programas de ações básicas
17

de saúde ; promover estudos e pesquisas voltados à inserção de protocolos da sua


área de atuação nas ações básicas de saúde; participar do planejamento e da
execução de treinamentos e reciclagens de recursos humanos em saúde; e
participar de órgãos colegiados de controle social .
Dentre as competências e habilidades gerais na atenção à saúde, o COFFITO
aponta que esses profissionais de saúde, dentro de seu âmbito profissional, devem
estar aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação
da saúde, tanto individual quanto coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua
prática seja realizada de forma integrada e contínua com as demais instâncias do
sistema de saúde, sendo capaz de pensar criticamente, de analisar os problemas da
sociedade e de procurar soluções para os mesmos. Os profissionais devem realizar
seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética e
da bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se
encerra com o ato técnico, mas, sim, com a resolução do problema de saúde, de
acordo com as necessidades individuais e coletivas (COFFITO, 2009) .
Além do campo das doenças infecciosas, o papel do fisioterapeuta também se
deve ater às doenças crônico-degenerativas, e todas as adversidades patológicas
advindas delas, como osteoporose, artrose, hipertensão, doenças neurológicas, por
exemplo.
Segundo a Organizaçaõ Mundial de Saúde, no seu Relatório Mundial sobre
Cuidados Inovadores, atualmente as condições crônicas são responsáveis por 60%
de todo o ônus decorrente de doenças no mundo e nos países em desenvolvimento,
surge basicamente no nível de Atenção Primária e deve ser tratada principalmente
nesse âmbito.
Esse documento aponta os oito elementos essenciais para aprimorar o sistema
de saúde, entre eles destacam-se: o apoio para uma mudança de paradigma do
sistema de saúde; o desenvolvimento de um sistema de saúde integrado; a ênfase
na prevenção, nas ações em saúde; e a centralização do tratamento no paciente e
na família. Também conforme esse relatório, as doenças degenerativas tem se
tornado mais expressiva no mundo inteiro.
Em conseqüência dos avanços na saúde pública, as populações estão
envelhecidas, e um número cada vez maior de indivíduos vive décadas com uma ou
mais condições crônicas. Essa situação demanda dos sistemas de saúde novas
ações de longo prazo (OMS, 2003).
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Com a finalidade de esclarecer a população, os gestores e os próprios


profissionais do papel do fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional em saúde pública,
o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 5ª Região–RS,
CREFITO 5 lançou a cartilha Fisioterapeuta e terapeuta Ocupacional: o que estes
profissionais podem fazer por você (CREFITO, 2005), o que suscitou o lançamento
de nova cartilha, agora com variadas iniciativas profissionais do fisioterapeuta em
saúde pública, intitulado A Fisioterapia e Suas Vivências na Saúde Pública do Rio
Grande do Sul:Relatos de Experiências no SUS (CREFITO,2007).
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6 BREVE HISTÓRICO DA FISIOTERAPIA NO BRASIL

Como atesta Arreguy (1997), a Fisioterapia no Brasil como profissão, assumiu


maior vulto por volta de 1940, através do Movimento Internacional de reabilitação.
Nesse período, o País atravessava uma fase de crescimento econômico que
proporcionou um grande avanço tecnológico e científico. Observou-se o incremento
da indústria automobilística e da construção civil, além do incentivo à exploração do
País com a abertura de novas rodovias. Paralelamente a esses benefícios,
contrapuseram-se problemas gerados por planejamentos geotécnicos, ecológicos e
sociais deficientes. Doenças respiratórias surgiram devidas ao aumento do nível de
poluição do ar. Várias enfermidades aconteceram provocadas pelo desequilíbrio
ecológico, principalmente pelo desmatamento desordenado e pelo uso inadequado
do solo. Somada a esse quadro, constatou-se uma grande elevação no índice de
acidentes de trabalho, assim como o surgimento de uma epidemia de poliomielite
que se alastrou por todo o país.
Diante dessa situação crítica, e do consequente aumento da demanda de
pacientes, em 1951 foi criado o primeiro curso para formação de Técnicos em
Fisioterapia, com duração de 2 anos. Em 4 de agosto de 1954, foi fundada a
Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação-ABBR, instituição sem fins
lucrativos, que se destinava ao atendimento de menores e adultos portadores de
deficiências físicas. Nela foi criada a primeira escola de Reabilitação, de nível
superior, com o objetivo de formar Fisioterapeutas (CREFITO 2, 1984).
Segundo Barros (2003), a fisioterapia, desde muito cedo no Brasil, foi área de
interesse de outras categorias que não os próprios fisioterapeutas. Com a criação
das primeiras escolas de formação de fisioterapeutas, na década de cinquenta,
surgiram, os profissionais que iriam se responsabilizar por tão nobre área de estudo
e atuação. No entanto, a maioridade técnico-científica e consequente autonomia do
fisioterapeuta tiveram inúmeros obstáculos em seu caminho rumo à consolidação.
Mesmo depois do reconhecimento legal do profissional fisioterapeuta, a fisioterapia
foi palco de disputas intensas no chamado “mercado de saúde brasileiro.
O exercício da profissão, como nível superior, foi reconhecido em 13 de outubro
de 1969 através do Decreto-Lei nº 938. Em 17 de dezembro de 1975 foi criado
Conselho Federal de Fisioterapia - COFFITO, juntamente com os Conselhos
20

Regionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional - CREFITO. São autarquias


federais que funcionam como órgãos fiscalizadores e normativos que têm a
incumbência de supervisionar a profissão e o dever legal de manter o controle ético
e científico dos serviços ou atendimentos prestados à população. Para tal controle,
foi publicado em 22 de setembro de 1978, no Diário Oficial da União (DOU), o
Código de ética da profissão, por meio da Resolução COFFFITO-10 e descritas as
atribuições do fisioterapeuta em 21 de maio de 1987 - D.O.U., resolução COFFITO -
80 (BRASIL,1969).
Para Barros (2003), em seu artigo sobre a autonomia desse profissional ao longo
da história, diz que:

O Fisioterapeuta pode ser definido como um profissional da área da


saúde, pleno, autônomo que atua isoladamente ou em equipe em
todos os níveis de assistência à saúde, incluindo a prevenção,
promoção, desenvolvimento, tratamento e recuperação da saúde em
indivíduos, grupos de pessoas ou comunidades. É o profissional que
cuida da saúde da população com ênfase no movimento e na função,
prevenindo, tratando e recuperando disfunções e doenças, sendo
portanto seu principal objeto de trabalho a saúde funcional
(BARROS, 2003, p. 20).

Historicamente, é atribuída ao fisioterapeuta ação voltada para a atenção


secundária e terciária, seja em clínica, consultórios privados ou hospitais com pouco
destaque na Atenção Primária à saúde. Não são exceções às demais profissões,
que ficaram atreladas a essa lógica até a criação do Sistema Único de Saúde no
final dos anos 80.
Na contramão desse estereótipo a que foi relegada a fisioterapia, destaca-se a
iniciativa da Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, através do seu
Departamento de Fisioterapia, no sentido de trazer a Fisioterapia para a Atenção
Primária. A UFMG realiza atividades em consonância com o modelo assistencial
apregoada pelo SUS, inserindo-se na Estratégia de Saúde da Família, com a
colaboração decisiva dos agentes comunitários de saúde que trazem os casos de
pacientes acamados que necessitam de intervenção fisioterapêutica. Também são
ofertadas consultas individualizadas e participação em grupos de caminhada, com
relatos na melhoria da qualidade de vida (SAMPAIO, 2002).
Barros (2004) sustenta que resgatar a história da fisioterapia e do próprio campo
da saúde significa refletir sobre o momento presente e, através do mergulho no
21

passado, possibilitar as transformações sociais, políticas, científicas e culturais que


os profissionais necessitem.
22

7 A FISIOTERAPIA NA ATENÇÃO BÁSICA

A inserção da Fisioterapia na Atenção Básica do SUS justifica-se pela grande


possibilidade de atuação do profissional dessa área junto ao usuário, tanto individual
por meio de técnicas específicas acompanhadas dos devidos encaminhamentos
para a rede, bem como no coletivo, na participação de programas e grupos, que se
torna possível pela educação em saúde. Assim pergunta Barros (2002) a respeito da
inserção do Fisioterapeuta na rede pública,

quem poderia ser mais indicado do que o profissional que se dedica


ao estudo e à investigação do movimento humano, das funções
corporais, do desenvolvimentos das potencialidades, atividades
laborativas e da vida diária, entre outros, e tudo isso privilegiando a
utilização de recursos da natureza e do próprio corpo humano?
(BARROS, p. 7, 2002).

Temos que lembrar da grande dificuldade de acesso dos pacientes a atividades


físicas promovidas coletivamente, por estarem centralizadas e longe da periferia
urbana, onde a lógica da atenção básica encontra-se mais presente. A partir disso,
as dificuldades se acumulam, inclusive para referenciar as lesões crônicas
degenerativas.
Entre essas dificuldades, a questão econômica se sobressai pelo uso do
transporte coletivo para deslocamento até as clinícas conveniadas, que são
localizadas em área mais central da cidade. Outro empecilho é a falta de um
transporte adaptado aos pacientes idosos, o que leva por vezes a um agravamento
do quadro álgico. Podemos exemplificar no quadro de gonartrose (Artrose de joelho)
em que a altura das portas dos ônibus impacta a região do joelho, tanto na subida
como na descida, o que prejudica a continuidade do tratamento fisioterapêutico.
Também os pacientes com sequela neurológica de Acidente Vascular Cerebral -
AVC, apresentam dificuldade de continuidade do tratamento, pois muitas vezes
estão restritos ao leito e necessitariam de uma fisioterapia mais constante. Esbarram
tanto no reduzido número de profissionais de fisioterapia que atuam na Atenção
Básica, como na já citada falta de acessibilidade.
Como exemplo da ação do fisioterapeuta em Atenção Básica, pode-se citar o
papel fundamental da visita domiciliar, nos cuidados aos pacientes acamados,
23

restritos ao leito ou ao lar e aos que não tenham condições de acesso à Unidade de
Saúde da Família, seja por barreiras físicas, pessoais, geográficas ou familiares.
Segundo Savassi e Dias (2006), a Visita Domiciliar proporciona uma visão mais
ampla das reais condições de vida da família e possibilita uma interação em
ambiente tanto familiar quanto social, através do conhecimento de seu cotidiano, de
sua cultura, seus costumes, suas crenças, o que torna essas vivências
enriquecedoras para ambos.
Rehem e Trad (2005), afirmam que, embora não tenham sido publicadas
diretrizes para regulação da atenção domiciliar no contexto da Atenção Básica, nos
documentos do PSF, a internação domiciliar é referida como uma prática incentivada
pelo PSF, ressaltando que esta não substitui a internação hospitalar tradicional, mas
que deve ser sempre utilizada no intuito de humanizar e garantir maior qualidade e
conforto ao paciente. Vale ressaltar que tanto a internação domiciliar como a visita
domiciliar são indicadas como formas de atenção domiciliar.
Muitos casos não podem ser definidos pelos protocolos, diretrizes ou referenciais
teóricos e devem ser individualizados pelas equipes de acordo com a demanda de
atendimentos e com a disponibilidade de profissionais para exercer suas atividades
fora da Unidade Básica de Saúde.
Em 24 de janeiro de 2008, o Ministério da Saúde- MS, lançou a Portaria GM 154,
Ela cria os Núcleos de Apoio de Saúde da Família-NASF.No seu artigo 2º
estabelece que os

NASF sejam constituídos por equipes compostas por profissionais de


diferentes áreas de conhecimento, atuando em parceria com os
profissionais das Equipes de Saúde da Família-ESF, compartilhando as
práticas em saúde nos territórios sob responsabilidade das ESF, atuando
diretamente no apoio às equipes e na unidade na qual o NASF está
cadastrado (BRASIL, 2008).

Essa política possibilita a inserção no SUS do profissional de Fisioterapia,


embora seja nitidamente uma participação na forma de matriciamento nas unidades
de saúde, o que dificulta a individualização da atenção, relegada provavelmente
para referenciamento para clínicas conveniadas, com toda a dificuldade inerente
quanto à já citada acessibilidade e a demanda excessiva.
Tornou-se imprescindível a adesão do profissional Fisioterapeuta à equipe de
saúde, bem como a sua vinculação com outras profissões, de acordo com os
pressupostos do SUS: equidade, integralidade, universalidade e descentralização
24

das ações de saúde. Nesse patamar de atenção interdisciplinar, supomos que o


usuário tem a possibilidade de recuperação ou de melhorias na qualidade de vida
com diminuição de custos na saúde em longo prazo (OMS, 2003)
25

8 A RESIDÊNCIA INTEGRADA EM SAÚDE

A Portaria nº 16/99, de 01 de outubro de 1999, da Secretaria da saúde do Rio


Grande do Sul-SES/RS, criou o Aperfeiçoamento Especializado e o integrou ao
Programa de Residência Médica já existente, ao instituir a Residência Integrada em
Saúde-RIS, coordenada pela Escola de Saúde Pública--ESP e mantida pela
SES/RS. Como resultado do processo de legitimação da RIS, foi apresentada e
aprovada a Lei nº 11789 de 17 de maio de 2002 que criou, no âmbito da Secretaria
de Saúde do Rio Grande do Sul , o programa de bolsas de estudos para a
Residência integrada em saúde (RIO GRANDE DO SUL, 2002).
A proposta político pedagógica da RIS visa o aperfeiçoamento/especialização do
profissional de saúde através do desenvolvimento de atividades práticas em serviços
de saúde oferecidos pela rede de serviços do SUS, integradas a atividades
didáticas. Como modalidade de formação pós-graduada baseada no exercício
profissional, a RIS oferece também importante oportunidade de debate das políticas
e estratégias de organização da atenção à saúde, possibilita articular os diferentes
atores sociais e promover a autonomia dos usuários.
Atualmente são quatro as ênfases da RIS, assim distribuídas: Atenção Básica em
Saúde Coletiva, Saúde Mental Coletiva, Dermatologia Sanitária e Pneumologia
Sanitária
Um local que acontece residência em fisioterapia, esta com ênfase em
Pneumologia Sanitária é no Hospital Sanatório Partenon, com a disponibilidade de
uma vaga anual a ser preenchida por processo seletivo. Já no Hospital São Pedro é
lotado profissional fixo de fisioterapia, que atua somente na assistência.
A atuação dos fisioterapeutas na Residência Integrada em Saúde, com enfâse
na Atenção Básica, por meio do Centro de Saúde Escola Murialdo-CSEM, mostrou a
face oculta da necessidade da atividade fisioterapêutica em situações não comuns,
tais como: atividade de grupos e participação em programas de saúde.
Com a atuação fisioterapêutica ampliada nas unidades básicas de saúde do
Murialdo, observamos que essa tornou-se parte integrante nas atividades de rotina.
Até então, a demanda por fisioterapia era restrita ao encaminhamento para
atendimento em clínicas longe do local de moradia do usuário. A mudança de
modelo assistencial propiciada pela Atenção Básica, entendida como porta de
26

entrada ao sistema de saúde, pôde enfatizar as consultas individuais e as visitas


domiciliares.
Na residência do Murialdo, as visitas domiciliares são realizadas na modalidade
de interconsultas, com a presença de outro(s) profissional(ais), o que enriquece o
tratamento, pois tem-se uma visão mais abrangente do quadro instalado e uma
perspectiva melhor de evolução e/ou referência do mesmo.
As ações específicas de fisioterapia contribuem em muito na vinculação e
resolutividade dos casos, tanto para referenciar quanto para atuar em diversas
situações, como: orientar meios naturais de analgesia (calor e gelo), uso de terapia
manual, ações educativas em creches, escolas, associações de moradores, entre
outras.
Outras adversidades do mundo moderno em que o fisioterapeuta pode atuar e
contribuir decisivamente através da promoção, prevenção e a reabilitação é na
grande incidência de lesões traumáticas pelo aumento de doenças ocupacionais, ou
seja, na saúde do trabalhador.
A Lei 8080/90, que institui o SUS, no seu artigo 6º, parágrafo 3º, quando
descreve sobre a Saúde do Trabalhador:

Conjunto de atividades que se destina através de ações de vigilância


epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos
trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos
trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de
trabalho (BRASIL, 1990).

Um fator a ser considerado nas mudanças paradigmáticas referentes à prática da


fisioterapia, que constitui um entrave em sua visibilidade na saúde pública, é a
dificuldade de realizar um levantamento epidemiológico dos casos e sua
resolutividade, seja pela demanda excessiva de usuários nas unidades referidas,
escassos recursos humanos em fisioterapia nas instituições em geral, assim como a
ausência de recursos tecnológicos, como computador, na maioria das unidades
básicas em que são atendidos os pacientes. Esse fator dificulta uma melhor
classificação das doenças e a devida inserção na rede, com a consequente piora no
fluxo das informações recolhidas e referenciadas, o que agrava a vigilância em
saúde.
A vigilância em saúde é definida como a observação contínua da distribuição e
tendências da incidência de doenças mediante a coleta sistemática, consolidação e
avaliação de informes de morbidade e mortalidade, assim como outros dados
27

relevantes, que torne a disseminação dessas informações a todos os usuários


cadastrados na UBS e uma organização dos serviços e, de forma indireta, da própria
atenção em Fisioterapia.
Por meio da formação em serviço, a RIS abrange um amplo leque de atividades
dentro de um contexto fundamentado nos princípios do SUS e na formação para
atuação em equipe de saúde. O programa configura um projeto de formação que
alia trabalho e educação em apoio ao sistema de saúde e que reconhece os
serviços públicos que integram o SUS como campos de prática para o ensino e a
pesquisa em saúde.
Nesse sentido, a Residência Integrada em Saúde objetiva um trabalho integrado
de atuação em equipe de saúde, no qual a atenção integral envolve o cruzamento
dos diferentes saberes que configuraram, ao longo da história, os diversos núcleos
de conhecimento.
Há uma infinidade de metodologias para descrever o processo de trabalho em
equipe. A aplicação dos conceitos de núcleo e campo de responsabilidade dos
profissionais que integram um processo de trabalho de caráter interdisciplinar tem
funcionado como um dispositivo útil para analisar o trabalho em equipe.
O núcleo de responsabilidade de cada profissional indica uma identidade : o
compromisso com certo saber e com um conjunto de prática e tarefas. O campo,
uma ampliação situacional do núcleo, é orientado pela necessidade de se cumprirem
objetivos acordados em um dado contexto. Segundo Campos(2000), tanto o núcleo
como o campo seriam, pois, mutantes e se inter-influenciariam, não sendo possível
detectarem-se limites precisos entre um e outro.
Deve-se registrar a Portaria nº 45 (BRASIL, 2007) que ratifica a importância da
residência multiprofissional em saúde como formadora de profissionais de saúde,
constituindo-se em ensino de pós–graduação sob a forma de curso de
especialização lato sensu destinado às profissões que se relacionam à saúde,
caracterizado por ensino em serviço e que, no seu artigo 2º, inciso V, diz que seus
eixos norteadores, deverão contemplar estratégias pedagógicas capazes de utilizar
e promover cenários de aprendizagem configuradas em itinerário de linhas de
cuidado de forma a garantir a formação integral e interdisciplinar.
A Residência Integrada em Saúde--RIS que acontece na Escola de Saúde
Pública guarda algumas similaridades nos seus objetivos com o PSF, principalmente
nos aspectos de territorialização, população adscrita e educação em saúde, com o
28

acréscimo de mais profissionais inseridos, além da equipe mínima do PSF, como o


Psicólogo, Assistente Social e Nutricionista.
A configuração da fisioterapia na RIS foi demandada através das instâncias
deliberativas do programa Residência e pela Coordenação de Ensino que solicitou a
elaboração dos planos de ensino para as atividades teóricas e práticas da residência
em Fisioterapia.
A participação da fisioterapia via residência vislumbra um novo paradigma para
essa profissão, relegada por tanto tempo apenas à assistência e à reabilitação.
Uma experiência em PSF, mas com a devida intersecção com a residência, que
fortalece a formação em serviço, ocorre na cidade de Sobral--CE, onde a partir da
inserção do fisioterapeuta na residência em 2000, foi constatada uma grande
aceitação desse serviço, considerado essencial por 100% dos entrevistados,
conforme atesta Mirella (VÉRAS, 2002).

8.1 A Experiência no Murialdo

O Centro de Saúde Escola Murialdo--CSEM é uma instituição que disponibiliza


serviço de saúde, desde 1958, às comunidades da região leste do município de
Porto Alegre. Desenvolve uma proposta técnica de atuação que congrega ensino e
assistência na perspectiva da saúde comunitária, com o pioneiro Programa de
Residência em Saúde Comunitária, que mantém desde 1976. Atende a uma
população de cerca de 52.000 pessoas, conforme censo do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2000), através de sete unidades básicas de saúde.
O Murialdo, como é popularmente conhecido, tem seu trabalho historicamente
ligado à saúde-educação na comunidade pela formação em serviço dos residentes
nela graduados. Demonstra ser um dos locais mais adequados para capacitar os
profissionais de saúde que irão atuar nas políticas de saúde estratégicas ora
vigentes, como o ESF e o NASF, com apoio das universidades que fazem desse
local um campo de estágio em atenção básica, pelo ensino em serviço propiciado
pelo mesmo.
Como o Centro de Saúde Escola Murialdo (CSEM) atua com ênfase na Atenção
Básica, mas sem a intersecção com o ESF, há uma certa limitação quanto à
29

resolutividade, pois arca com uma demanda populacional geometricamente


progressiva sem a devida reposição de pessoal.
Mesmo assim, pelo papel educacional formativo, é realizada uma espécie de
“resgate acadêmico” pelo Murialdo, necessário para uma efetiva atuação de
profissionais da saúde no SUS, já que na graduação, como diz Almeida et all, na
discussão sobre o fenômeno saúde-doença, no espaço acadêmico atual predomina
uma perspectiva de multicausalidade, embora ainda seja dada maior ênfase aos
aspectos biológicos.
A compreensão do fenômeno sob a perspectiva da teoria da Determinação
Social permite ao profissional de saúde uma concepção mais alargada do
adoecimento e uma possibilidade de atuação mais ampla, possibilita uma
reorientação da prática, que vai se revelar insuficiente ao lidar com os problemas de
saúde da população, fato que acontece mais amiúde nos serviços de rede básica de
saúde.
Numa perspectiva atual, vislumbra-se através da residência em Atenção Básica
do CSEM, uma variada e importante inserção do profissional de Fisioterapia em
Atenção Básica em saúde, propiciado pela sua formação de recursos humanos para
atuarem no SUS.
Há apenas dois anos inserida como núcleo na residência, a Fisioterapia já
demonstra seu importante papel junto aos demais profissionais e à comunidade,
seja pela demanda constante para consultas e encaminhamentos, como pela
atuação em visitas domiciliares, programas e formação de grupos, dentre os últimos,
por exemplo, o de caminhada, junto a UBS, no qual a Fisioterapia está inserida.
Atualmente temos a presença de quatro residentes lotados (R1 e R2) em duas
unidades, sendo as demais supridas através de cotas, das quais o usuário fará uso
para ser atendido em clínicas conveniadas. Deve-se registrar que são sete unidades
básicas de saúde pertencentes ao CSEM, que a opção por determinada unidade
deu-se de forma aleatória, e que a ausência de residentes nas demais deve-se aos
escassos recursos humanos na preceptoria.
As consultas individuais e visitas domiciliares com a presença do profissional de
fisioterapia lotado no Murialdo deram-se a partir do fim do ano de 2003, quando
foram oferecidas algumas novas lógicas de tratamento junto à unidade básica, com
uma consulta específica com o fisioterapeuta que, a partir de técnicas específicas,
propiciou intervenção e complementação muito importantes na qualidade do
30

tratamento. Por haver apenas 1(um) fisioterapeuta preceptor e 7(sete) unidades de


saúde para atendimento naquela época, a assistência restringiu-se a visitas
domiciliares e algumas palestras explicativas para os grupos existentes, como o do
hiperdia. A partir da demanda dos residentes de outras áreas, que denotavam uma
enorme ausência de fisioterapia nas unidades citadas, particularmente na residência
multiprofissional, foram realizadas algumas palestras explicativas e oficinas, como a
da Feira da Saúde do Morro da Cruz, que acontece anualmente.
A partir de meados de 2006, houve o deslocamento de uma colega que veio do
Sanatório Partenon para o Murialdo, o que possibilitou a divisão das unidades entre
os fisioterapeutas.
Mesmo sendo uma residência em Atenção Básica, nesse período foi impossível
reverter a lógica curativa e de reabilitação atribuída historicamente à Fisioterapia.
Com o trabalho já vislumbrado através da presença “in loco” do fisioterapeuta, foi
deliberada pelas instâncias da instituição que se realizasse a residência em
Fisioterapia, o que se deu a partir de 2007, com duas vagas disponíveis.
A partir da residência em Fisioterapia, e sem uma certeza de reposição de
recursos humanos, optamos por diminuir o número de unidades com a presença
física do fisioterapeuta para quatro, com as demais contempladas por meio de cotas
de Fisioterapia, divididas igualitariamente. Com esta otimização do trabalho em
Atenção Básica a partir da residência, cada preceptor ficou responsável por um
residente com duas unidades básicas de saúde para atuação. O trabalho foi
exaustivo devido à grande demanda exigida pela população e UBS.
Em 2008, no segundo ano de residência, o atendimento restringiu-se a duas
Unidades Básicas de Saúde, enquanto as restantes continuaram a dispor de cotas
de fisioterapia conforme rotinas do município, o que possibilitou melhora na
qualidade do serviço prestado, principalmente devido à disponibilidade de tempo que
o residente investia na unidade de saúde, e a vinculação do profissional com a
comunidade.
Também ocorreu maior continuidade da consulta individual, com avaliação inicial
e triagem para encaminhamento e consequente agendamento, com maior qualidade
na atenção, e possibilidade de reavaliações, conforme o caso, com menor intervalo
de tempo.
O atendimento na unidade inclui uso de técnicas dirigidas ao problema de
fisioterapia identificado. A consulta tem em média um tempo de 40 minutos, com a
31

possibilidade de continuidade do tratamento na unidade , conforme o caso, e


também a abordagem de outras áreas de conhecimento, na ocasião da
interconsulta, de acordo com a demanda e disponibilidade do residente de outro
núcleo.
Com visita interdisciplinar na moradia do usuário, se torna mais rotineiro a
atuação de outros profissionais, porque as visitas não são realizadas
individualmente pelos residentes.
O Fisioterapeuta atua em diferentes atividades na Visita Domiciliar como:
orientações posturais, condutas do cuidador e acamado, trocas de decúbito,
exercícios específicos às necessidades identificadas, entre outras técnicas. As
visitas com essa natureza podem amenizar e/ou melhorar a qualidade de vida do
usuário ou apenas reduzir o dano.

8.2 O Grupo de caminhada de uma das Unidades Básicas

De acordo com Adamoli e Azevedo (2009), a promoção da prática de atividades


físicas (AF) nas populações tem ocupado lugar de destaque na agenda mundial de
saúde pública. Isso de deve aos comprovados benefícios que a AF exerce para a
prevenção de diversas doenças e para a manutenção da saúde, incluido a mental.
A falta de aptidão física e a capacidade funcional pobre são umas das principais
causas de baixa qualidade de vida nos idosos. Com o avanço da idade, há uma
redução da capacidade cardiovascular, da massa muscular, da força e flexibilidade
musculares, e esses efeitos são exacerbados pela falta de exercício.
Entre as atividades desenvolvidas pelos residentes de fisioterapia destaca-se “O
Grupo de Caminhada”, de determinada unidade pertencente ao Murialdo, que é
desenvolvido em uma área da periferia de Porto Alegre-RS.
O Grupo de Caminhada desta unidade tem por objetivo a promoção da saúde
através da atividade física orientada e de cuidados nutricionais. A maioria dos
participantes são usuários que são cadastrados na unidade, mas alguns foram se
vinculando ao programa apesar de não serem cadastrados na unidade referida.
O Grupo teve início em 2006 por iniciativa da residente de nutrição lotada nesta
unidade com a preceptoria do fisioterapeuta (autor). Nessa época, não havia
32

residentes de fisioterapia, apenas estagiários de universidade privada, conveniada


ao Murialdo naquele momento.
Os participantes do grupo passaram por avaliação médica, acordada com médico
de família, através de um mutirão, realizado durante uma campanha de vacinação
da época. Como havia poucas oportunidades de prática de atividades físicas
orientadas , logo observou-se uma demanda significativa, inclusive de outra unidade
do município. Foi necessário restringir a entrada de mais participantes, e houve a
tentativa de negociar a ida de algum profissional de saúde à unidade referida, por
enquanto sem o sucesso esperado. Para acolhimento de participantes não
cadastrados na Unidade Básica de Saúde, observou-se o princípio da
universalidade, como uma das diretrizes do SUS a ser seguida, e optou-se por
solicitar aos candidatos o laudo médico com autorização para a atividade proposta.
A maioria dos usuários apresenta doenças crônicas, como hipertensão, artrose,
dores ocupacionais, entre outras.
As dificuldades para se conseguir um local adequado para a prática das
atividades ficaram evidentes: em uma escola, o espaço físico era muito limitado, não
havia ginásio coberto nem pista adequada; em outra, existia pista e cobertura, mas
várias dificuldades para o acesso dos componentes do grupo, com um número
demasiado de degraus e o fato de não ser um local fechado prejudicavam a
atividade em dias frios ou chuvosos.
Mesmo com todas essas dificuldades, o grupo manteve-se coeso com um
número expressivo de participantes, em sua maioria constituído de mulheres, com a
presença de um a dois participantes homens em média.
Apesar da receptividade dos professores dos colégios citados, inclusive com
alguma participação aleatória dos profissionais de educação física nas atividade, era
latente a necessidade de um local mais adequado, motivada pela observação de
que os usuários compareciam assiduamente ao encontro uma vez por semana.
No segundo semestre de 2007, o grupo deslocou-se para o ginásio de uma
igreja, com melhores condições estruturais, já que era coberto e fechado.
Também no segundo semestre, mas no ano de 2008, instituiu-se encontros
também às terças-feiras, o que possibilitou um vínculo maior entre os profissionais
de saúde e os participantes, que agora ocorre em dois dias da semana, terças e
quintas-feiras, das 8h30min às 9h30min.
33

Este grupo, devido a sua presença e vinculação aos residentes , já suscitou dois
trabalhos de conclusão de curso, um de fisioterapia e outro de nutrição, ratificou a
participação da fisioterapia, deslocada do estereótipo da assistência, não só porque
é uma atividade fim mas também pela integralidade das ações em saúde.
Deve ser ressaltado que atualmente o grupo encontra-se num momento de
consolidação do trabalho proposto, com um número de participantes que oscila entre
20 a 30 em média. Os relatos dos participantes evidenciaram uma melhora no seu
bem-estar, diminuição de dores, entre outras considerações, que asseguram a
certeza dessa prática como “promoção de saúde”, numa comunidade carente de
locais públicos para a prática de lazer e atividades físicas.
34

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Fisioterapia pode evitar que danos temporários ou permanentes tenham


desfechos que possam implicar grandes gastos monetários futuros, muito embora a
sua inserção no SUS ainda seja incipiente. Quando a promoção e a proteção à
saúde do indivíduo são aplicadas com bases científicas da fisioterapia, supomos que
é possível observar a redução de danos nos níveis de morbidade . A fisioterapia tem
grandes contribuições na redução de danos e na promoção da qualidade de vida.
Conforme a OMS (2003), a solução está em adotar uma nova forma de encarar e
gerenciar as condições crônicas. Mediante inovação, os sistemas de saúde que
dispõem de recursos escassos ou praticamente inexistentes poderão maximizar os
resultados, reorientando os modelos, antes voltados a problemas agudos, para o
atendimento das condições crônicas. Vários países estão fazendo essa mudança e
iniciando o desenvolvimento de programas inovadores para condições crônicas.
Com a inserção de uma política pública de saúde mais abrangente, possibilitada
pela inserção do SUS, e de acordo com os princípios de integralidade,
universalidade e descentralização, através da Lei nº 8080, torna-se imprescindível a
vinculação de outros profissionais na rede pública que possam diminuir o fluxo de
referência, além da presença do mesmo nas visitas domiciliares, formação de
grupos e vinculação aos programas existentes, com a perspectiva positiva concreta
na melhoria da qualidade de vida da população.
Em relação aos trabalhadores a serem inseridos no sistema de saúde pública,
vamos encontrar na Constituição Federal que cabe ao SUS, entre suas
competências e atribuições, ordenar a formação de recursos humanos na área de
saúde (BRASIL,1990).
Pequenos passos são tão importantes quanto a mudança de todo o sistema.
Aqueles que procedem a mudanças, pequenas ou grandes, se beneficiam hoje e
criam as bases para o sucesso no futuro.
Este é um trabalho de cunho descritivo e que apresenta relatos e produções
científicas que demonstram as possibilidades de ações em saúde coletiva do
profissional fisioterapeuta.
35

Acredita-se que a sua inclusão e a de outros profissionais de saúde na equipe de


saúde da família pode trazer grandes benefícios para a saúde, a educação e às
gestões municipais.
36

REFERÊNCIAS

ADAMOLI, Angélica Nickel; AZEVEDO, Mario Renato. Padrões de atividade física


de pessoas com transtornos mentais e de comportamento. Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, fev. 2009. Disponível em: <http://www
.scielo.br/ scielo. php?script=sci_ arttext&pid= S141381232009000100030
&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 29 mar. 2009.

ALMEIDA, A. B.; OLIVEIRA, A. M. B.; RIBEIRO, K. S. Q S. A Fisioterapia na


Atenção Básica a partir de uma experiência popular. V Colóquio Internacional
Paulo Freire. Recife, 2005. p. 1-12.

ARREGUY, Euclydes Etienne Miranda. Fisioterapia: O Resgate da Comunicação


Humana pelo Movimento . In: GOMES, Denise Cristina Ribeiro (Org.). Equipe de
Saúde: O Desafio da Integração. Minas Gerais: Edufu, 1997. v. 1, p. 131-142.

BARROS, Fábio B. M. de. O Fisioterapeuta na Saúde da População: Atuação


Transformadora. Rio de Janeiro: Fisiobrasil, 2002.

______. Autonomia Profissional do Fisioterapeuta ao longo da história. Revista


FisioBrasil, Espírito Santo, n. 59, p. 20-31, 2003.

______. Da visão romântica aos conflitos, fechamento e exclusão na área de saúde.


Revista Fisiobrasil, Espírito Santo, v. 8, n. 68, p. 36-38, 2004.

BRASIL. Decreto Lei n. 938, de 13 de outubro de 1969. Provê sobre as profissões


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[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 14 out. 1969.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 157, de 19 de fevereiro de 1998.


Estabelece os critérios de distribuição e requisitos para a qualificação dos
municípios aos incentivos ao Programa de Agentes Comunitários de Saúde e ao
Programa de Saúde da Família. Disponível em:<http://portal.
saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/portaria157.pdf. >. Acesso em: mar. de 2009.

BRASIL. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para


a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento
dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 20 set. 1990. Disponível em:
37

<http://www6.senado.gov.br/sicon/ExecutaPesquisaLegislacao.action > Acesso em:


fev. 2009.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 648 de 28 de março de 2006. Aprova a


Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas
para a organização da atenção básica para o Programa Saúde da Família (PSF) e o
Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 29 mar. 2006. Disponível em: <
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