Senhor Presidente, Senhores Líderes de Partido, Senhoras e Senhores Deputados:
QUEM conhece o Maranhão, por certo tem
conhecimento que, na capital do Estado, está instalada, desde 1980, a Alumar, um consórcio de corporações transnacionais que, hoje, detém o primeiro lugar na produção de alumina e alumínio em todo o mundo, com um faturamento global superior a 30 milhões de dólares.
Para uma região pobre como a nossa, chega a ser
assustador o montante de capital investido no empreendimento, bem como o elevado nível tecnológico aí manipulado.
Será ingenuidade pensarmos, também, que o
desenvolvimento de um planta industrial de tal porte não cause nenhum impacto ao meio ambiente, ainda mais quando se sabe que a Alumar está implantada em uma ilha oceânica, de ecossistema notoriamente delicado. Desde o primeiro momento, ao final dos anos 70, quando ainda se discutia a chegada daquela empresa do Maranhão, notabilizou-se, em oposição à idéia, o Comitê de Defesa da Ilha, à cuja frente respeitadas lideranças e especialistas maranhenses em biodiversidade pintaram um cenário apocalíptico quanto aos efeitos do funcionamento daquela indústria em São Luís. Felizmente, tão sombrio prognóstico não se realizou, o que me antecipo em anunciar, como premissa para o argumento que pretendo apresentar sobre a questão.
E é que, Senhoras e Senhores Deputados, a questão
Alumar retorna ao debate e às manchetes do jornal, no Maranhão, exatamente quando aquele conglomerado de empresas anuncia novo processo de expansão industrial, de acordo, aliás, com o que desde o início eram os seus planos. O caso tem chegado, aliás, desde o começo deste mês, à tribuna parlamentar, na qual se alternam ilustres membros da Assembléia Legislativa do Estado, indagando das vantagens e desvantagens da expansão da Empresa. Uns pretenderam, nada menos, a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as atividades da Alumar e da Merck, outra indústria, esta no ramo farmacêutico, instalada no Maranhão. Tendo prevalecido a solução menos arrebatada, criou-se uma Comissão Especial, para, em 120 dias, analisar o projeto de
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ampliação da Alumar e os impactos de ordem social, econômica e ambiental decorrentes da expansão da planta industrial da multinacional do alumínio no Maranhão.
O assunto não pode ser mais palpitante, não só por sua
repercussão no cenário estadual, mas por incluir também a agenda ecológica, objeto de discussão por todos os continentes.
De minha parte, queria, desta tribuna, oferecer alguma
contribuição sobre o problema da Alumar e de sua expansão, de forma desapaixonada, sem inflexões de ordem política, sem tintura ideológica ou interesse partidário.
Antes de tudo, não foi fácil – como já lembrei – nem foi
gratuito o estabelecimento daquela Companhia em São Luís. Não foi gratuito para qualquer das partes: a própria Alumar e o Governo que, à época, lhe abria as portas, em nome do povo maranhense. A empresa beneficiou-se de concessões, subsídios e isenções fiscais, uma após outra, nos termos da Lei, e, ao que se sabe, na plena transparência dos atos públicos, aprovados pelos representantes do povo, na Assembléia Legislativa do Estado.
Mas não foram inúteis nem de pouco valor as críticas
com que a sociedade maranhense, por meio de sua mais
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ilustrada representação, se opôs à instalação da Alumar em São Luís. Estou convencido que, exatamente para minimizar, se não mesmo anular, tais críticas é que aquela Empresa se empenhou tanto em medidas de proteção e conservação da natureza, ao longo de mais de duas décadas, a ponto de ser merecedora de prêmios internacionais como preservadora do meio ambiente. Nada diferente se poderia esperar de um empreendimento de tamanha grandeza, no qual a responsabilidade sócio- ecológica deve andar pari passu com o arsenal tecnológico que tem à sua disposição.
Eu não precisaria dizer que, como cidadão, à época, e
hoje, como representante do povo do Maranhão, considerei e considero demasiado generosas – descabidas, até, as concessões feitas à Alumar, à época de sua instalação em São Luís. Tratava-se, como se trata, de uma multinacional que poderia pagar, sem qualquer favor, tudo o que recebeu, não direi como “gentileza”, mas como “incentivo” ou “iniciativa motivadora” para ir ao Maranhão. Bastaria lembrar que as condições naturais, no percurso da Serra de Carajás ao porto do Itaqui, na capital maranhense, já constituíam, por si mesmas – mais que um “convite” – uma medida de bom senso administrativo-econômico para que fosse o terminal do Maranhão, em detrimento de qualquer outro, a preferência de instalação da Alumar.
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Anoto este ponto de vista, para fazer confronto com o que, há poucos dias, vi discutirem nobres deputados do Maranhão, e ir firmando, desde logo, a posição que proponho seja a mais acertada, de lado a lado: tanto da Empresa como do poder público maranhense.
Alguns deputados são acordes em interpelar a Alumar,
no momento em que aquela empresa se propõe expandir a sua produção de alumina, de 1,5 milhão de toneladas/ano para 3,5 milhões de toneladas/ano, carreando um investimento de aproximadamente dois bilhões de dólares para a economia local.
Querem Suas Excelências medir o impacto econômico
de tamanha iniciativa!
Afirmam os mesmos argumentadores que,
aproveitando-se da matéria-prima, a bauxita, da Serra de Carajás, a Alumar deixa, no Pará, só o buraco, e no Maranhão, resíduos de lama vermelha.
Para tanto, ademais disso, é enorme a demanda de
energia elétrica: a Alumar consome mais eletricidade que todo o Estado do Maranhão, mais do que todas as indústrias, todo o comércio, todas as residências do Maranhão juntas. Estranhamente, esse descomunal consumo de energia elétrica custa àquela multinacional
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apenas um quinto do valor pago pelas contas residenciais maranhenses.
Esse é um problema sério, sem dúvida. Mas cabe
informar que a Alumar tem um sistema autônomo de captação da hidroelétrica de Tucuruí, e seria ao tempo da construção daquela rede, ou antes de iniciar-se a obra, que se deveria discutir tão extraordinário privilégio. Com certeza, o truste internacional do alumínio não teria nenhuma necessidade de tão exorbitante concessão. A troco de quê foram esses benefícios concedidos? Em defesa de ambas as partes, cabe imaginar que, pelo menos, tais benesses tenham obedecido aos termos da Lei, ainda que à época obscura do Regime Militar.
Apesar disso – e eis outro problema, segundo o
argumento dos deputados estaduais do Maranhão – é nulo o valor que a Alumar agrega à exportação da bauxita.
Sendo tão duro que isso seja verdade, é também
verdade que isso é duro, porque a pergunta subjacente à questão de agregar valores aos produtos industrializados pela Alumar leva-nos a indagar quando e como estivemos preparados para oferecer quadros técnico-científicos qualificados para tal empreendimento.
Onde estiveram, onde têm ficado as nossas
universidades diante de tal desafio?
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Parece que o detalhe desse questionamento tem escapado aos nobres deputados maranhenses: o Maranhão, maior que muitos países europeus, tem apenas uma universidade estadual – em larga escala ocupada com cursos de licenciatura e, ainda assim, a nível de graduação – e duas instituições federais de ensino superior. Como reitor que fui da Universidade Estadual, posso declarar que a Instituição maranhense viu-se, não poucas vezes, com baixo “poder de fogo” para responder ao que lhe demandava a Alumar, oferecendo-lhe, aquela companhia, em troca, recursos apreciáveis que, por falta de contrapartida técnica e científica especializada, não puderam ser aproveitados.
Outros deputados maranhenses cobram uma “atitude
pragmática” do Governo do Estado e do Governo Federal, no sentido de obter retorno específico, a maior, em relação às demais empresas da Região, ou diretamente para o Erário estadual, ou negociando-se a realização de obras que, a princípio, seriam responsabilidade do poder público, como o saneamento e o abastecimento d’água para a cidade de São Luís. Uma “contrapartida social” entre 5 e 10% estaria sendo cogitada para tal finalidade.
Ora, aqui, Senhoras e Senhores Deputados, eu vejo o
outro lado da moeda: e assim como fui contrário a qualquer concessão excepcional para que a Alumar se instalasse no
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Maranhão, há quase três décadas, deverei pronunciar-me contra qualquer iniciativa que, a título excepcional, venha sobrecarregar uma empresa, singularmente, qualquer que seja a sua procedência ou o seu tamanho, sem incluir, na mesma exigência, todas as entidades produtoras, do gênero ou da espécie, no âmbito estadual. Para nenhum paternalismo, nenhum “filialismo”: justiça e equanimidade para qualquer dos lados. Tratamento paritário para qualquer empreendimento, em qualquer setor produtivo. O simples fato de aumentar em cerca de 2 bilhões de dólares o investimento em sua planta industrial no Maranhão, esse fato deve gerar, por si mesmo, a criação de numerosos empregos, além de levantar, automaticamente, em mais de 100%, o montante de impostos que a empresa arrecadará aos cofres do Estado. Além do mais, a fase dos incentivos fiscais já deve ter sido ultrapassada na história das relações Alumar-Governo do Maranhão.
Nem faltou quem lembrasse, a propósito dos valores
agregados aos produtos industrializados pela Alumar, que o Estado deveria ter “moral” para cobrar àquela Companhia a instalação de uma siderúrgica no Maranhão, a fim de produzir laminados, ligas leves de alumínio, etc., podendo gerar pequenas indústrias e mais empregos em seu entorno.
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Não há por que deixarmos de advogar tal forma de expansão à gigantesca empresa estabelecida no Maranhão, levando-se em conta, como não poderia deixar de ser, as condições de competitividade internacional e as vantagens comparativas, que hoje alcançam dimensões globais. Mas seria preciso estarmos atentos, antes ou concomitantemente, à preparação de mão-de-obra especializada local, o que parece foi esquecido na emoção do debate na Assembléia Legislativa estadual. Outra vez, as instituições de educação superior deveriam ser chamadas à questão!
Da mesma fora, e pelas mesmas razões, os membros
da Assembléia maranhense que se envolveram com o projeto de crescimento da Alumar exigiram-lhe maior cota de empregados maranhenses nos quadros daquela empresa. Por desinformação ou, mais uma vez, pela emoção com que se discutiu o problema, os representantes do povo maranhense fizeram, até sem o querer, o maior elogio, tanto ao desempenho daquela corporação transnacional em nossa terra, como, a despeito de nossas inúmeras carências, às nossas instituições educacionais, preparadoras de quadros profissionais. E por quê? Porque, nos dias atuais, 85% dos empregados da Alumar são maranhenses, incluindo-se, nessa estatística, membros da própria Direção daquela empresa, que se formaram em
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escolas do Estado e, em sua própria história funcional, partiram dos postos iniciais até galgarem as altas posições de que podem orgulhar-se, a si mesmos e à sua terra natal.
Em síntese, queria louvar a iniciativa da Assembléia
Estadual do Maranhão pela iniciativa do debate. Queria associar-me, com algumas reflexões, à oportunidade em que o assunto vem a público. E queria lembrar o quanto é difícil a luta contra o subdesenvolvimento, pois é sabido que, tal como a produção de riqueza, o ciclo da pobreza é também sistêmico, e requer, sempre e invariavelmente, grande força de vontade e união de forças para superá-lo.
Sobretudo queria reafirmar que “não há riqueza senão
o homem” – e para isso, precisamos cuidar, sempre mais e melhor, da educação de nosso povo.
Muito obrigado.
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