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ANDRÉ BIONE
MÓDULO 1 – EPIDEMIOLOGIA GERAL
CASO 01 – HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA
EPIDEMIOLOGIA E SAÚDE
HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA
MEDIDAS PREVENTIVAS
CASO 02 – MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIA
MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIA
TIPOS DE MÉTODOS DE ESTUDO NA EPIDEMIOLOGIA
EVIDÊNCIAS/NÍVEL DE EVIDÊNCIA
GRAU DE RECOMENDAÇÃO
ENSAIO CLÍNICO – FASES
REVISÃO SISTEMÁTICA
METANÁLISE
ESTUDOS MULTICÊNTRICOS
VIES
CASO 03 – INDICADORES DE SAÚDE
INDICADORES DE SAÚDE
GRUPOS DE INDICADORES DE SAÚDE
NÚMERO ABSOLUTO X NÚMERO RELATIVO
INDICADOR X ÍNDICE
COEFICIENTE X TAXA X ÍNDICE
PRINCIPAIS INDICADORES DE SAÚDE
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO X TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA X TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA
CURVA DE MORTALIDADE PROPORCIONAL
CASO 04 – DOENÇAS INFECCIOSAS
INFECÇÃO E DOENÇA INFECCIOSA
PERÍODO DE INCUBAÇÃO E DE TRANSMISSIBILIDADE
DOENÇAS QUARENTENÁVEIS E DE ISOLAMENTO
A CADEIA EPIDEMIOLÓGICA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS
VETORES
DOENÇAS EMERGENTES E REEMERGENTES
ENDEMIA, SURTO, EPIDEMIA E PANDEMIA
CASO 05 – DOENÇAS E AGRAVOS NÃOTRANSMISSÍVEIS (DANT)
CARACTERIZAÇÃO DAS DANT
MAGNITUDE DAS DANT
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DAS DANT
INTERVENÇÕES PARA PREVENÇÃO DE DANT E PROMOÇÃO DA SAÚDE
ETIOLOGIA – ESCLARECIMENTOS
CASO 06 – VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
BASES HISTÓRICAS E CONCEITUAIS
PROPÓSITOS E FUNÇÕES
COLETA DE DADOS E INFORMAÇÕES
UTILIZAÇÃO DO ROTEIRO DE INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
NORMATIZAÇÃO
RETROALIMENTAÇÃO DO SISTEMA
AVALIAÇÃO DOS SISTEMAS DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
CASO 07 – VIGILÂNCIA SANITÁRIA
A VIGILÂNCIA SANITÁRIA
LOCAIS DE ATUAÇÃO
OBJETIVOS, NOÇÕES E FUNÇÕES
INSTRUMENTOS PARA AÇÃO
EPIDEMIOLOGIA GERAL
ANDRÉ BIONE
SISTEMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (SNVS)
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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CASO 01 – HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA
EPIDEMIOLOGIA E SAÚDE
● Conceito de saúde: Completo estado de bem‐estar físico, mental e social, não apenas ausência de
doença.
● Conceito de epidemiologia: Estudo dos fatores que determinam a frequência e a distribuição das
doenças nas coletividades humanas. Estuda os problemas de saúde em grupos de pessoas.
● Objetivos da epidemiologia:
1. Descrever a distribuição e a magnitude dos problemas de saúde nas populações humanas;
2. Proporcionar dados para planejamento, execução e avaliação das ações de prevenção, controle e
tratamento das doenças;
3. Identificar fatores etiológicos no surgimento de enfermidades.
HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA
Processo no qual o ser humano passa por múltiplas situações, que exigem do seu meio interno um
trabalho de compensações e adaptações sucessivas. A questão saúde x doença, portanto, não é um problema
de presença/ausência, mas um equilíbrio dinâmico de fatores que constituem a história natural da doença. A
HND trata‐se de como o processo patológico ocorreria sem interferências, ou seja, sem haver tratamento,
prevenção...
Divide‐se em dois períodos: prépatológico, ou epidemiológico, patológico. Abrange dois domínios
que se completam mutuamente: o meio ambiente, onde ocorrem as pré‐condições, e o meio interno, onde se
processam modificações bioquímicas, fisiológicas e histológicas progressivamente. Constitui um tríade: meio
ambiente, agente etiológico e suscetível, podendo haver um vetor no processo.
O período pré‐patológico contem a fase de suscetibilidade, inicial, ou de fatores ambientais. Nela,
não há doença propriamente dita, mas há condições que favorecem o seu aparecimento. As pessoas, contudo,
não apresentam o mesmo risco de adoecer: "um dos princípios básicos do raciocínio epidemiológico
baseia‐se na constatação de que as pessoas não nascem iguais nem vivem iguais. Muitas passam as vidas em
condições ou possuem características e atributos ou hábitos que facilitam ou dificultam a ocorrência de
danos à saúde: são os fatores de risco ou de proteção.
Já o período patológico contem as seguintes fases: de interação estímulosuscetível, de alterações
fisiohistobiológicas (juntas, formam a fase préclínica), de sinais e sintomas, ou clínica, e a de cronicidade, ou
de incapacidade residual.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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d. evolução crônica progressiva com óbito
em longo prazo;
e. evolução crônica com períodos
assintomáticos.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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O homem, assim como o meio ambiente, é participante intrínseco tanto na HND quanto na
prevenção de patologias. Com base na história natural da doença, o homem tem parte durante o período
pré‐patológico ‐ nas interações BEINGS (Biológico, Envoltório/ambiente, Imunidade, Nutrição, Genético e
Social) e medidas de prevenção primária ‐ e o patológico, através das medidas secundária e terciária de
prevenção, aliadas aos fatores BEINGS, sempre presentes na HND.
MEDIDAS PREVENTIVAS
São medidas preventivas aquelas usadas para evitar as doenças ou suas consequências, além de
trata‐las. Podem ser classificadas em inespecíficas ou específicas. Medidas inespecíficas, gerais ou amplas
promovem o bem‐estar das pessoas. Já as medidas específicas ou restritas incluem as técnicas próprias para
lidas com cada dano à saúde em particular.
As medidas de prevenção, com base nas fases da HND, situam‐se em todo o processo, sendo cada
tipo em uma fase distinta. Existem 3 tipos de prevenção: primária, secundária e terciária.
A primária ocorre no estágio pré‐patológico, e tem como objetivo eliminar os fatores de risco para
impedir o contagio pelo homem. Comporta dois níveis de prevenção: 1º promoção à saúde (educação
sanitária, saneamento básico, uso da camisinha, etc.) e 2º proteção específica (vacinação, por exemplo).
Na prevenção secundária, que ocorre nas fases pré‐clínica e clínica, o objetivo é detectar a doença e
tratá‐la o mais rápido possível. Assim, é dividida em 3º diagnóstico e tratamento precoces (exames de
rastreamento) e 4º limitação do dano.
Já na prevenção terciária, há o 5º e último nível de prevenção ‐ reabilitação, ou seja, evitar
complicações e sequelas.
Há também outro critério de classificação de prevenção, mais restrito, o qual engloba as medidas
praticadas por indivíduos que, no momento, não sentem os efeitos de uma doença. Estas medidas dirigem‐se
à diminuição do risco de aparecerem futuras doenças. São as medidas universais, seletivas e
individualizadas.
As medidas universais são recomendadas a todas as pessoas, pois os benefícios ultrapassam em
muito os custos e riscos. Aplicadas com ou sem assistência profissional (ex: higiene, dieta e exercícios). As
medidas seletivas são aconselhadas a subgrupos, a segmentos populacionais com alto risco de adoecer (ex:
proteção no trabalho, vacinação antirrábica em animais e abstinência de álcool e fumo em grávidas). Já as
medidas individualizadas, são aplicadas unicamente na presença de uma condição que coloca o individuo
em alto risco para o desenvolvimento futuro da doença (ex: quimioprofilaxia contra a tuberculose, controle
da hipertensão e da hipercolesterolemia).
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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CASO 02 – MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIA
MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIA
A Medicina Baseada em Evidências (MBE) é definida como o elo entre a boa pesquisa científica e a
prática clinica. A MBE utiliza provas científicas existentes e disponíveis no momento, com boa validade
interna e externa, para a aplicação de seus resultados na prática clínica. Quando é abordado o tema do
tratamento e fala‐se em evidências, elas relacionam‐se com a efetividade, eficiência, eficácia e segurança:
Eficácia: indica a utilidade ou o benefício (ex: procedimento clínico), quando aplicado em condições
bem controladas. Para ser eficaz, o procedimento deve ser capaz de produzir o efeito desejado, em situações
"ideais de uso". Trata‐se do resultado obtido em "laboratório";
Efetividade: é o grau em que uma determinada intervenção, procedimento ou serviço produz um
resultado benéfico, quando empregado no "mundo real", em uma população bem definida; é o resultado
verdadeiramente observado nas condições habituais de uso, por isso a efetividade está muito relacionada
com o dia a dia das pessoas;
Eficiência: refere‐se aos efeitos alcançados em relação ao esforço despendido, em termos de
recursos e tempo utilizados; é o resultado obtido, tendo em conta os insumos empregados. Avalia‐se o
custo‐benefício final do que foi pesquisado ou da experiência, levando em conta o custo, o tempo e o
resultado de tais estudos, decidindo, assim, se eles são realmente eficientes para a saúde da população;
Segurança: significa que uma intervenção possui características confiáveis que tornam improváveis
a ocorrência de efeitos indesejáveis para o paciente.
A MBE é uma abordagem para a tomada de decisões em que o médico usa a melhor evidência disponível,
em consulta com o paciente, ou no planejamento da saúde, para decidir sobre a opção que se adapte melhor à
situação.
O seu uso exige compreensão acerca das seguintes questões:
Quando possível, os profissionais da saúde devem utilizar informações provenientes de estudos
sistemáticos, reprodutíveis e sem tendenciosidade, de forma a aumentar a confiança no prognóstico, na
eficácia da terapia e na utilidade dos testes diagnósticos.
A compreensão da fisiopatologia é necessária, mas insuficiente para a prática clínica.
A compreensão de determinadas regras de evidência é necessária para avaliar e aplicar de forma
efetiva a literatura médica.
TIPOS DE MÉTODOS DE ESTUDO NA EPIDEMIOLOGIA
● Estudos descritivos: são a primeira fase na obtenção de conhecimento. Informam sobre a
distribuição de um evento na população de maneira quantitativa, podendo ser de incidência ou prevalência.
Não há um grupo‐controle para comparação dos resultados, sendo, portanto, considerados estudos
nãocontrolados. A população utilizada pode ser composta tanto por apenas indivíduos doentes, quanto por
apenas indivíduos sadios, como também pela mistura de ambos os grupos.
● Estudos analíticos: segunda fase na obtenção de conhecimentos sobre um tema. As pesquisas
analíticas, diferentemente das descritivas, seguem a uma ou mais questões, as hipóteses, que relacionam
causa e efeito (ex: obesidade > diabetes? Fumo > câncer? Vacina > Prevenção?). Neste tipo de estudo, há um
grupocontrole, que serve de comparação com o grupo de estudo. Os diferentes tipos de estudos analíticos
se formam pela maneira com que os grupos de estudo e controle são organizados.
Ensaio clínico randomizado: parte‐se da causa em
direção ao efeito. Os grupos de estudo e controle são formados
aleatoriamente, com o objetivo de formar grupos semelhantes.
Em seguida, faz‐se a intervenção, avaliando os resultados em
apenas um dos grupos, servindo o outro para comparação.
Estudo de coorte: aqui também parte‐se da causa em
direção ao efeito. A diferença está em não haver alocação
aleatória da exposição. Os grupos são formados por observação das situações reais, permitindo comparações
como a seguinte: obesos x operados x os que recusam a cirurgia.
Estudo de casocontrole: este tipo de estudo, diferentemente dos demais, parte do efeito em
direção à causa. É, portanto uma pesquisa etiológica do tipo retrospectiva, de trás para frente. Nesse sentido,
pode apenas ser realizada após o efeito já ter ocorrido.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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Estudo transversal: nesta modalidade, causa e efeito são identificados ao mesmo tempo. Ao
contrário dos métodos anteriores, é somente a análise dos dados que permite identificar os grupos de
interesse, expostos, não‐expostos, doentes e sadios, de modo a investigar a associação entre exposição e
doença.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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● Estudos ecológicos (ou estatísticos, de grupos): diferentemente dos outros tipos de estudos, os
estudos ecológicos não têm como unidade de observação o indivíduo, mas o grupo de indivíduos.
Denomina‐se variável ecológica aquela que descreve o que ocorre num conjunto de indivíduos. Neste estudo,
os dados já estão agregados e não se sabe se um dado indivíduo tem esta ou aquela característica.
EVIDÊNCIAS/NÍVEL DE EVIDÊNCIA
A evidência surge como produto de estudos ou experiências. Quanto mais sério, padronizado,
rigoroso e metodológico for o estudo, maior será a importância da evidência obtida. Atualmente os diferentes
tipos de evidência são classificados em níveis, que vão de 1 (melhor) a 5. A classificação permite que as
evidências sejam identificadas com base na relevância e confiabilidade para futuros usos, como em estudos,
pesquisas, trabalhos e recomendações, por exemplo.
GRAU DE RECOMENDAÇÃO
O grau de recomendação é um parâmetro, com base nas evidências científicas, aplicado a um
parecer (recomendação), que é emitido por uma determinada instituição ou sociedade. Esse parecer leva em
consideração critérios como viabilidade, custos, questões políticas, características de uma população, além
das evidências científicas. Por isso o grau de recomendação pode variar amplamente entre as diversas
instituições.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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ENSAIO CLÍNICO – FASES
Um ensaio clínico é qualquer investigação em seres humanos, objetivando descobrir ou verificar os
efeitos farmacodinâmicos, farmacológicos, clínicos e outros efeitos de produto, além de identificar reações
adversas ao produto em investigação, com o objetivo de averiguar sua segurança e eficácia.
Fase préclínica: Aplicação de nova molécula em animais, após identificada em experimentações in
vitro como tendo potencial terapêutico. Fase clínica I: farmacocinética no ser humano (metabolismo e
biodisponibilidade); Segurança em indivíduos sadios; Fase II: Estudo Terapêutico Piloto; Segurança e
eficácia em pacientes; Fase III: Estudo Terapêutico Ampliado; Eficácia do medicamento comparada entre
países, multicêntrico; Fase IV: pesquisa após aprovação para comercialização do produto; Efetividade e
segurança ou teste no mundo real
REVISÃO SISTEMÁTICA
O propósito de uma revisão sistemática é resumir a melhor pesquisa disponível sobre uma questão
específica. Isto é feito por meio da síntese dos resultados de diversos estudos.
Uma revisão sistemática utiliza procedimentos transparentes para encontrar, avaliar e sintetizar os
resultados de pesquisa relevantes. Os procedimentos são explicitamente definidos antecipadamente, de
modo a assegurar que o exercício é transparente e pode ser replicado. Esta prática também é projetado para
minimizar o preconceito. Estudos incluídos em uma revisão são rastreados quanto à qualidade, de modo que
os resultados de um grande número de estudos possam ser combinados. A revisão em pares (peer review) é
uma parte fundamental do processo: pesquisadores independentes e qualificados controlam os métodos do
autor e os resultados.
Uma revisão sistemática deve ter:
Critérios de inclusão/exclusão claros e transparentes
Uma estratégia de busca explícita
Codificação e análise sistemática de estudos incluídos
Meta‐analise* (quando possível)
METANÁLISE
Metodologia em que os resultados de estudos que abordam a mesma questão e empregam métodos
similares são combinados para aumentar a força estatística e, dessa forma, uma conclusão mais definitiva
pode ser obtida. As melhores metanálises utilizam‐se de estudos controlados e aleatorizados.
ESTUDOS MULTICÊNTRICOS
Nos estudos multicêntricos pesquisadores de diferentes centros de pesquisa, com interesses e
habilidades similares, trabalham juntos em um mesmo problema. Desse modo, há a produção dos dados em
diferentes locais, sendo necessária a transmissão dos dados entre os centros envolvidos no estudo, além de
haver um grande número de pesquisadores envolvidos.
Ensaios clínicos multicêntricos são considerados o padrão ouro em pesquisa clínica. São
extremamente úteis em pesquisa de doenças raras, na avaliação de novos fármacos e de novas terapias. Por
atender comunidades distintas ao mesmo tempo coletando dados de diversas regiões geográficas, seus
resultados podem ser interpretados como válidos para a população em geral.
Apresentam como vantagem principal a redução no tempo de experimento porém são de alto custo
e alta complexidade. Exigem a monitorização constante do desenvolvimento do protocolo, da coleta de dados
e calibração constante dos pesquisadores participantes.
VIES
‐ Viés de seleção: é um tipo de erro ocasionado pela forma como os grupos a serem estudados são
selecionados ou perdidos durante o estudo. Nesse tipo de viés ocorre uma distorção do resultado em virtude
de a população efetivamente pesquisada não representar a população planejada para o estudo.
‐ Viés de aferição: ocorre quando as informações necessárias ao estudo são medidas ou informadas
erroneamente. O vício na aferição se deve ao fato de entrevistadores e/ou casos saberem que grupo é caso e
que grupo é controle, o que facilita aos casos informarem diferentemente seus hábitos, por exemplo, e aos
entrevistadores insistirem em determinado ponto com os casos.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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‐ Viés de confusão: ocorre quando existe um fator de confusão distribuído de modo diferente nos grupos a
serem comparados e que produz o desfecho clínico. A confusão acontece quando se conclui que o desfecho
clínico é resultado do fator em estudo, quando na verdade é resultado do fator de confusão.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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CASO 03 – INDICADORES DE SAÚDE
INDICADORES DE SAÚDE
Permitem que se conheçam as condições de saúde de uma determinada comunidade ou população,
fornecendo informações sobre as principais doenças e danos à saúde que a afetam, os grupos mais
suscetíveis, as faixas etárias mais atingidas, os riscos mais relevantes, e ajudando a identificar os fatores
determinantes das doenças, permitindo que se criem mecanismos mais eficazes de prevenção.
A partir da análise desses dados é que poderão ser definidas as prioridades, estabelecidas as
políticas de saúde pública e avaliados os serviços de saúde que estão sendo prestados.
Os principais indicadores de saúde são os de mortalidade, morbidade, nutrição e os demográficos e
sociais, além dos serviços de saúde e dos indicadores positivos de saúde. Podem ser agrupados em positivos,
do tipo bem‐estar, qualidade de vida e normalidade, e negativos, como a mortalidade e a morbidade.
GRUPOS DE INDICADORES DE SAÚDE
Mortalidade: é o mais empregado e o primeiro a ter sido utilizado em avaliações de saúde coletiva. É o
indicador que revela diversas informações acerca do óbito em uma dada comunidade, sendo a mortalidade
infantil, materna e a esperança de vida os mais ressaltáveis. A sua análise permite chegar a importantes
conclusões: elevadas taxas de mortalidade por causas evitáveis, por exemplo, indicam baixos níveis
sanitários e sociais da população. A transição da mortalidade é lenta, por isso tem maior utilidade quando
analisada a longo prazo.
Morbidade: também de extrema importância, as estatísticas de morbidade expressam a situação das
doenças na população. Elas permitem analisar os riscos de adoecer a que as pessoas estão expostas, preparar
na investigação dos fatores determinantes e escolher as ações saneadoras adequadas. Comparadas às de
mortalidade, a transição das medidas de morbidade são mais sensíveis na expressão de mudanças de curto
prazo. A prevalência (número de pessoas, em uma determinada população, que tem uma doença ou condição
específica em um ponto do tempo) e a incidência (número de novas ocorrências de doença, lesão ou morte na
população estudada, no período estudado) são medidas de frequência da morbidade.
Nutrição: permite numerosas conclusões, podendo a avaliação do estado nutricional ser indiretas ou diretas.
A avaliação indireta faz uso de indicadores de outros campos, como o de mortalidade e renda per capita, e
auxilia na escolha de indicadores diretos. Estes enfocam as avaliações dietéticas (determinam a natureza e a
quantidade dos alimentos consumidos pela população), clínicas (detectam sinais e sintomas da presença
excessiva ou da deficiência e um ou mais nutrientes no organismo) e laboratoriais (amostras de sangue e
urina, por exemplo, que detectam alteração de nutrientes, importantes no diagnóstico precoce).
Indicadores demográficos: permitem estimar as condições de saúde da população. A mortalidade e a
esperança de vida são importantes indicadores demográficos, como também são valiosos os níveis de
fecundidade, natalidade, e a composição da população em termos de idade e sexo. Indicadores demográficos
servem de fundamento para o planejamento, pois, mesmo sem informação sobre os problemas de saúde ou
coleta de dados adicionais, esses indicadores justificam, no mínimo, medidas básicas de saúde coletiva.
Indicadores sociais: coadjuvantes, indiretos, mas também importantes no planejamento da saúde, são os
indicadores sociais. Aqui, as condições socioeconômicas se mostram intimamente ligadas à saúde. Estes
indicadores são estreitamente relacionados, mas nem sempre unânimes em concordância, já que medem
diferentes aspectos da vida social. Indicadores sociais podem combinar uma série de índices, como o de
alfabetização, mortalidade infantil e materna, renda per capita, esperança de vida e até o da proporção de
crianças em idade escolar fora de escolas.
Indicadores ambientais: famosos indicadores ambientais são as condições de moradia e do peri‐domicílio
(entorno da moradia, ambiente). São essenciais na cobertura e qualidade do saneamento básico e, quando se
referem a este aspecto, denominam‐se INDICADORES SANITÁRIOS. A indústria e a urbanização têm grande
poder de alterar o meio ambiente, seja no solo, na água ou no ar. Por isso a grande necessidade destes
indicadores para o planejamento e vigilância de medidas preventivas e saneadoras imediatas.
Indicadores dos serviços de saúde: este tipo de indicador reflete, necessariamente, o que ocorre na
assistência à saúde. É, basicamente, um olhar sobre a gestão de saúde pública. Subdivide‐se em Indicadores
de Insumos, de Processo e de Resultados/Impacto. De forma resumida, estas subdivisões compreendem,
respectivamente: os materiais, recursos humanos e financeiros aplicados; de que maneira estão sendo
aplicados; e, finalmente, que resultados estão provocando.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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Indicadores positivos de saúde: este tipo de indicador é bem diferente dos demais, pois se relaciona com
uma ideologia diferenciada. Enquanto a maioria dos profissionais esta familiarizada com um enfoque “de
risco“, com uma epidemiologia da doença”, há a "epidemiologia da saúde", com a qual se relacionam os
indicadores positivos, que avaliam, por exemplo, a qualidade de vida, o bem‐estar e a normalidade, ou seja,
aspectos que propiciam saúde. Na epidemiologia, um bom exemplo de dado indicador positivo de saúde é a
avaliação da qualidade de vida dos pacientes no período pós‐operatório de um procedimento de risco.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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NÚMERO ABSOLUTO x NÚMERO RELATIVO
Os valores absolutos representam os dados obtidos diretamente de uma fonte de informação ou
através de observações. Eles têm limitações, pois não se apoiam em pontos de referência que permitam
melhor conhecimento da situação, como por exemplo, bairro, estado etc.
Já quando esses valores absolutos são trabalhados, representados através de uma fração com
denominadores fidedignos, passam a ser chamados valores relativos. São expressos em relação a outros
valores absolutos que guardam entre si alguma forma de relação coerente, por isso, valor relativo serve para
facilitar as comparações e interpretações.
INDICADOR x ÍNDICE
Indicador: tem a conotação de revelar a situação de saúde de um indivíduo ou da população. O
termo é usado para representar ou medir aspectos não observados diretamente, tais quais, por exemplo, a
saúde, normalidade, a qualidade de vida e própria felicidade. É importante frisar que o indicador inclui
apenas um aspecto, é unidimensional, por exemplo: Indicador de Mortalidade / Indicador de Felicidade.
Índice: expressa situações multidimensionais, pois incorpora diferentes indicadores em uma
medida, como, por exemplo, o índice de morbimortalidade, que, tal como a designação traduz, incorpora
tanto o impacto das doenças (morbidade) quanto o dos óbitos que incidem em uma população (mortalidade).
COEFICIENTE x TAXA x ÍNDICE
A frequência relativa pode ser expressa de duas formas: coeficiente (ou taxa) e índice. Nos
coeficientes, o número de casos é relacionado ao tamanho da população da qual eles procedem. No
numerador, coloca‐se o número de casos detectados. Já no denominador, o tamanho da população sob risco
de sofrer o evento colocado no numerador. Coeficiente e taxa são sinônimos
Em índices, por outro lado, o número de casos não é relacionado à população da qual eles procedem.
Assim, eles não medem risco e, sim, a relação entre os eventos. No numerador, coloca‐se o número de
eventos de um certo tipo; no denominador, o número de outro tipo de evento. Duas situações podem ocorrer,
dependendo de os casos colocados no numerador estarem ou não incluídos no denominador.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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PRINCIPAIS INDICADORES DE SAÚDE
COEFICIENTE DE MORTALIDADE GERAL: (x1.000)
Nº total de óbitos
População total, na metade do período
COEFICIENTE DE MORTALIDADE POR SEXO: (x1.000)
Nº de óbitos de um dado sexo
População do mesmo sexo, na metade do período
COEFICIENTE DE MORTALIDADE POR IDADE: (x100 mil)
Nº de óbitos em dado grupo etário
População do mesmo grupo etário, na metade do período
COEFICIENTE DE MORTALIDADE POR CAUSA: (x100 mil)
Nº de óbitos por determinada causa (ou grupo de causas)
População na metade do período
COEFICIENTE DE MORTALIDADE MATERNA: (x1.000)
Nº de óbitos por causas ligadas à gravidez, parto e puerpério
Nº de nascidos vivos, no período
COEFICIENTE DE MORTALIDADE INFANTIL: (x1.000)
Nº de óbitos de crianças menores de um ano de idade
Nº de nascidos vivos, no período
COEFICIENTE DE MORTALIDADE NEONATAL: (x1.000)
Nº de óbitos de crianças nas 1os 4 semanas de vida
Nº de nascidos vivos, no período
COEFICIENTE DE MORTALIDADE NEONATAL PRECOCE: (x1.000)
Nº de óbitos de crianças na primeira semana de vida
Nº de nascidos vivos, no período
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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COEFICIENTE DE MORTALIDADE NEONATAL TARDIA: (x1.000)
Nº de óbitos de crianças na 2ª, 3ª e 4ª semanas de vida
Nº de nascidos vivos, no período
COEFICIENTE DE MORTALIDADE PÓS‐NEONATAL: (x1.000)
Nº de óbitos de crianças de 28 dias até um ano de idade
Nº de nascidos vivos, no período
COEFICIENTE DE MORTALIDADE PERINATAL: (x1.000)
Nº de óbitos fetais (22 semanas) e da primeira semana de vida
Nº de nascidos vivos e natimortos, no período
COEFICIENTE DE NATIMORTALIDADE: (x1.000)
Nº de natimortos
Nº de nascidos vivos e de natimortos, no período
COEFICIENTE DE LETALIDADE: (x100 ou x1000)
Nº de óbitos por determinada doença
Nº de casos da mesma doença
MORTALIDADE PROPORCIONAL POR CAUSAS: (x100)
Nº de óbitos por determinada causa (ou grupo de causas)
Todos os óbitos, no período
MORTALIDADE PROPORCIONAL ‐ MENORES DE 1 ANO: (x100)
Nº de óbitos de crianças menores de um ano de idade
Todos os óbitos, no período
MORTALIDADE PROPORCIONAL DE 50 ANOS OU MAIS: (x100)
Nº de óbitos de maiores de 50 anos (SWAROOP UEMURA)
Todos os óbitos, no período
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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PERFIL EPIDEMIOLÓGICO x TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA x TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA
O perfil epidemiológico representa as doenças mais frequentes num determinado espaço e período
de tempo. Já a transição epidemiológica é a mudança nos padrões de mortalidade e morbidade de uma
comunidade. Ocorre junto à transição demográfica. Ela incorpora as mudanças dos padrões de saúde e
doença, mortalidade, fecundidade e estrutura por idades, além dos determinantes socioeconômicos,
ecológicos, de estilo de vida e de suas consequências para os grupos populacionais.
Basicamente, caracteriza‐se pela evolução progressiva de um perfil de alta mortalidade por doenças
infecciosas para um outro onde predominam os óbitos por doenças cardiovasculares, neoplasias, causas
externas e outras doenças consideradas crônico‐degenerativas. São vários fatores que interagem para
determinar um novo perfil epidemiológico, como: modos de produção econômica e de reprodução humana
(fertilidade, mortalidade e migração), avanço tecnológicos, etc.
Na população brasileira o processo engloba três mudanças básicas:
substituição, entre as primeiras causas de morte, das doenças transmissíveis (doenças infecciosas) por
doenças não transmissíveis;
deslocamento da maior carga de morbimortalidade dos grupos mais jovens (mortalidade infantil) aos
grupos mais idosos;
transformação de uma situação em que predomina a mortalidade para outra em que a morbidade
(doenças crônicas) é dominante.
Modelos de transição epidemiológica:
1) Clássico: nas duas primeiras décadas do século XX as doenças degenerativas substitui as infecciosas como
principais causas de mortalidade (ex.: Suécia e Estados Unidos).
2) Acelerado: é o mesmo processo do primeiro modelo (mudança das causas de mortalidade), porém
aconteceu mais tardiamente e em um período de tempo menor. (ex.: Japão).
3) contemporâneo/atrasado: a transição epidemiológica é ainda mais recente ou ainda não se completou.
*Obs.: modelo polarizado prolongado‐ há países, como o Brasil, que não se encaixa nesses modelos e por
isso denomina‐se que esteja ocorrendo um "novo modelo de transição". Isso ocorre porque eles possuem as
seguintes características:
1) Sobreposição de etapas: doenças infecto‐parasitárias e crônico‐degenerativas coexistindo.
2) Movimento de contra‐transição devido o ressurgimento de algumas doenças, porém sem grande
interferência na mortalidade (ex.: dengue).
3) Transição prolongada já que não há uma perspectiva de resolução dos problemas
À medida que os países atingem níveis de desenvolvimento mais elevados, as melhorias das condições
sociais, econômicas e de saúde causam a transição de um padrão de expectativa de vida baixa, com altas
taxas de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias em faixas de idade precoces, para um aumento
das mortes por doenças não transmissíveis (doenças degenerativas e de causa externa).
Fases da transição demográfica:
fase préindustrial ou primitiva: na qual há um equilíbrio populacional, em que as taxas de natalidade e
mortalidade, principalmente infantil, são elevadas.
fase intermediária (divergência de coeficientes): na qual as taxas de natalidade permanecem altas
enquanto decrescem as taxas de mortalidade(explosão populacional).
fase intermediária (de convergência de coeficientes): quando a natalidade passa a diminuir em ritmo mais
acelerado que a mortalidade, cujo efeito mais notável é o ''envelhecimento'' da população.
Fase de estabilização demográfica: as taxas de crescimento ficam próximas de 0%. Ela é o resultado da
tendência iniciada na terceira fase: o declínio da fecundidade e a ampliação da expectativa média de vida
que acentuou o envelhecimento da população. As taxas de natalidade e de mortalidade se aproximaram a
tal ponto que uma praticamente anula o efeito da outra. Esta é a situação encontrada há pouco mais de
uma década em diversos países europeus.
No fim desse processo, há um retorno ao equilíbrio populacional, denominado fase moderna ou
pós‐transição, com aproximação dos coeficientes só que em níveis muito mais baixos. Dessa forma, os valores
de fecundidade se aproximam do nível de reposição e a esperança de vida aumenta.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
ANDRÉ BIONE
CURVA DE MORTALIDADE PROPORCIONAL
Nas curvas do tipo I, típicas de regiões subdesenvolvidas, com nível de saúde muito baixo, nota‐se o
predomínio de óbitos de adultos jovens, possivelmente devido a contribuição maciça de várias doenças
transmissíveis endêmicas, como, por exemplo, malária, febre tifoide, cólera e verminoses.
Nas curvas do tipo II (curva em J invertido), nível de saúde baixo, o predomínio de óbitos reside nas
faixas infantil e pré‐escolar, nas quais a desnutrição e as diarreias consistem a raiz dos altos índices de
mortalidade infantil proporcional.
Nas curvas do tipo III (ou em U), nível de saúde regular, se observa que a proporção dos óbitos
infantis já está em menor percentagem do que no tipo II. No tipo III, é nítido o aumento da percentagem de
óbitos de pessoas de 50 e mais anos de idade, fato este que reflete uma certa melhoria do nível de saúde.
As curvas do tipo IV (ou em J), indicam o melhor nível de saúde, com baixa proporção de óbito dos
grupos infantil, pré‐escolar ou jovem e o predomínio quase absoluto de óbitos de pessoas idosas.
Essas curvas são ótimos meios de comparação entre a defasagem no âmbito da saúde entre países
subdesenvolvidos e desenvolvidos. São também utilizadas para comparar a evolução da saúde em países
durante os anos, relacionando‐as à melhoria da saúde.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
ANDRÉ BIONE
CASO 04 – DOENÇAS INFECCIOSAS
INFECÇÃO e DOENÇA INFECCIOSA
Uma infecção é o processo pelo qual um agente biológico penetra, desenvolve‐se ou multiplica‐se no
organismo de outro ser vivo. Pode ser imperceptível ou evoluir clinicamente, sendo este caso uma doença
infecciosa. A maioria das doenças infecciosas está ligada à pobreza e ao subdesenvolvimento.
Doenças agudas e crônicas: doenças crônicas são as doenças que se desenrolam a longo prazo,
enquanto as agudas são de curta duração.
Infestação: pessoas/animais – artrópodes no corpo ou vestes. Obj. e locais – artróp. e roedores.
● Doença Infecciosa e Parasitária (DIP) – Classificação Internacional de Doenças: Denominação
empregada na Classificação Internacional de Doenças (CID). No entanto, nem todas as doenças infecciosas
estão incluídas, como a meningite bacteriana, que faz parte das Doenças do Sistema Nervoso.
● Doença Transmissível: Expressão muito empregada em saúde pública. São doenças transmitidas
entre seres humanos, de animais para seres humanos, trazidas por insetos ou outros vetores, ou transmitidas
pelo ar, água ou solo. São, basicamente, doenças cujo agente etiológico é vivo e transmissível.
● Doença Contagiosa/Infectocontagiosa: Doenças infecciosas cujos agentes etiológicos atingem os
sadios através do contato direto. Toda doença contagiosa é infecciosa, mas o inverso não é verdadeiro.
As doenças infecciosas podem assumir
várias formas. Uma doença manifesta apresenta
todas as características que lhe são típicas. Por
outro lado, na infecção inaparente o indivíduo não
apresenta sinais e sintomas clínicos, mas pode transmitir o agente aos suscetíveis com a mesma intensidade
da doença manifesta. A doença em forma latente representa um período de equilíbrio no qual não há sinais
clínicos e o doente não é uma fonte de contagio. Na forma abortiva (ou frustra), nem todos os sinais clínicos
emergirão acima do horizonte clínico. Já o modo fulminante é o que ocorre de maneira notavelmente grave
com coeficiente de letalidade elevado.
PERÍODO DE INCUBAÇÃO E DE TRANSMISSIBILIDADE
O período de incubação é o intervalo de tempo que decorre entre a exposição a um agente
infeccioso e o aparecimento de sinais ou sintomas da doença. Dependendo da doença e do caso, pode variar
de algumas horas (cólera) até meses ou anos (hanseníase, AIDS). O período de transmissibilidade, por
outro lado, é o período durante o qual o agente infeccioso pode ser transferido, direta ou indiretamente, de
uma pessoa infectada a outra, de um animal ao homem, ou mesmo do homem a um artrópode.
DOENÇAS QUARENTENÁVEIS E DE ISOLAMENTO
As doenças quarentenáveis podem levar à restrição de atividades dos doentes durante o período
máximo de incubação, a fim de evitar a propagação de uma doença (ex: peste bubônica e febre amarela). Já as
doenças de isolamento exigem a segregação dos indivíduos doentes durante o período de
transmissibilidade, em lugar e condições que evitem a transmissão direta
ou indireta do agente infeccioso a indivíduos suscetíveis (ex: raiva e
difteria). Dependendo da forma de transmissão, as doenças requerem
diferentes tipos de isolamento.
A CADEIA EPIDEMIOLÓGICA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS
Segundo o modelo da tríade epidemiológica, para que haja
infecção, é necessária a presença de: 1. agente específico; 2. meio
ambiente propício à transmissão; 3. hospedeiro suscetível. A interação
destes três elementos é representada pela cadeia epidemiológica ou de
infecção, que contem seis componentes básicos: agente etiológico,
reservatório e fonte de infecção, porta de saída do agente do reservatório,
vias de transmissão, porta de entrada no hospedeiro, e hospedeiro.
● Agente etiológico: o agente infeccioso está presente no
organismo e é responsável pelo processo infeccioso. É um vírus, bactéria, fungo, protozoário ou helminto
que, através das formas que assume no ciclo reprodutivo, pode ser introduzido em outro ser vivo, onde se
desenvolve ou se multiplica, podendo gerar uma patologia, doença infecciosa, que é também transmissível.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
ANDRÉ BIONE
Propriedades‐ Infectividade: capacidade de se instalar no hospedeiro e se desenvolver ou multiplicar;
Patogenicidade: capacidade de produzir sintomas da doença; Virulência: capacidade de produzir casos
graves ou fatais; Antigenicidade ou imunogenicidade: capacidade de induzir imunidade no hospedeiro;
Mutagenicidade: capacidade de alterar características genéticas próprias; Vulnerabilidade a antibiótico e
demais substâncias; Dose infectante: quantidade do agente necessária para iniciar uma infecção; Poder
invasivo: capacidade de se difundir através do organismo do hospedeiro.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
ANDRÉ BIONE
● Reservatório: local apropriado para que os agentes vivam e se reproduzam,
como o ser humano, animais ou vegetais. O animal ou homem pode estar doente ou
ser um portador. Portador é aquele que alberga o agente da doença, mas não
apresenta sintomas clínicos. As fontes de infecção são: o homem (seja em fase
clínica e subclínica, seja em estado de portador), animais e o ambiente, que
pode, por exemplo, conter esporos como forma de resistência do agente.
● Porta de saída: Enquanto os agentes estiverem confinados no
reservatório, não há progresso na cadeia. Substrato é o material produzido
em processo fisiológico ou patológico que carrega consigo formas do agente
infectante (ex: escarro, esperma, pus, sangue, suor e urina).Ao sair para o
ecossistema, o agente poderá passar por vida livre no ecótopo (ecossistema
abiótico), na superfície de um vetor mecânico, ou em um hospedeiro
intermediário.
A saída se dá por: a. Eliminação natural, em que o organismo
infectado expele para o exterior contingentes de bioagentes infectantes sem
interferência de auxílios externos, geralmente pelos orifícios naturais ou
lesões expostas; b. Extração mecânica, pelo qual os bioagentes são retirados
do hospedeiro junto ao substrato, por intermédio de agentes vivos ou
inanimados; c. Morte de infectados, que se dá com a morte do hospedeiro e
seu uso como alimento (ex: carne de porco e boi).
Estágio do agente infeccioso no ambiente – Maturação: algumas
formas de vida dependem do ecótopo para amadurecerem e se tornarem
infectantes, seja para um hospedeiro definitivo, seja para um vetor biológico
(ascaridíase, esquistossomose); Multiplicação: comum no caso das bactérias
e fungos; Desenvolvimento: 1. O bioagentes não tem condições de viver
nenhuma de suas etapas biológicas fora de um hospedeiro; 2. O agente,
através de seus estágios biológicos, deve passar parte de seu ciclo em vida
livre e parte em vida parasitária. Propagação: multiplicação sem
desenvolvimento. A população de agentes, que tem aceso ao hospedeiro
intermediário, reproduz indivíduos idênticos e estes dão origem a outros.
Depois de algum tempo, pouco indivíduos tornam‐se uma carga de grande
poder infectante; b. Desenvolvimento cíclico: sem multiplicação. O indivíduo que teve acesso ao hospedeiro
passa por uma série de mudas, cumprindo os estágios biológicos do seu ciclo vital No final do ciclo, o nº de
indivíduos produzidos é igual ao daqueles que tiveram acesso ao hospedeiro = sem multiplicação.; c. Ciclo
propagativo: multiplicação com desenvolvimento. A multiplicação do agente infeccioso é procedida por
etapas evolutivas do ciclo biológico
Ao final da parte do ciclo no hospedeiro intermediário, a carga infectante do agente é bem maior
que a extraída da fonte de infecção. Uma vez saído do organismo parasitado, o agente pode ser infectante ou
contaminante. Será infectante para hospedeiros intermediários que funcionem como vetores biológicos,
hospedeiros intercalados ou hospedeiros primários. Será contaminante para elementos físicos do ecótopo,
hospedeiros que o mantenham na superfície externa ou que lhe deem passagem no trato gastrintestinal, sem
serem infectados.
● Transmissão (de agentes infecciosos): processo em que o agente infeccioso, oriundo de um
indivíduo infectado, com passagem ou não por intermediários vivos ou objetos e materiais inanimados, tem
acesso ao meio interno de um novo hospedeiro.
Fatores inanimados, quando agentes de transmissão, são chamados de veículos. Estes são objetos ou
materiais contaminados que sirvam de meio mecânico, auxiliando um agente infeccioso no transporte e
introdução num hospedeiro suscetível. Os principais veículos são alimentos, fomites (inclusive nas infecções
hospitalares), água para beber, ar atmosférico e transfusão de sangue. Denomina‐se contaminação a
presença de agentes infecciosos na superfície do corpo, fomites ou alimentos. Poluição é a presença de
substâncias nocivas, mas não necessariamente infecciosas no ambiente. A contaminação na sup. do corpo
não implica um estado de portador.
Veículo Transportador e Introdutor (transmitido por/pelo): o agente infeccioso é transportado e
introduzido passivamente no hospedeiro suscetível (ex: Vibrio cholerae – hospedeiro > vômito e fezes > água
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
ANDRÉ BIONE
potável > novo hospedeiro). Veículo Suporte (transmitido através de): nem transporta, nem introduz. É o
meio físico que coloca em comunicação os fatores envolvidos no processo transmissivo (ex: Schistosoma
mansoni – esquistossomose – água, Necator americanus – ancilostomose – solo). Aerossóis primários e
secundários: micropartículas de secreções ou excreções. Os primários são os que transitam diretamente
para o suscetível, enquanto que os secundários são os que dessecam e se misturam à poeira, por exemplo,
para, possivelmente atingir um suscetível.
● Porta de entrada: as portas de entrada são os orifícios naturais,
mucosas, pele ou soluções de continuidade com a pele. Acesso ao Novo
Hospedeiro: a. Diretamente de outro indivíduo da mesma espécie
anteriormente infectado (gonorreia); b. Diretamente da mãe para o feto por
via placentária (sífilis, rubéola); c. Diretamente de indivíduos de outra
espécie, igualmente suscetível (raiva); d. Introduzido por ação ou com a
contribuição de um vetor biológico infectado (doença de Chagas); e. Trazido
em algum substrato por um vetor mecânico (tracoma); f. Veiculado por algum
elemento não vivo do ecótopo, seja físico ou biológico, como mão, objetos e
alimentos contaminados (infecções hospitalares);
Mecanismos de penetração a. Ingestão (água, alimentos, objetos – ascaridíase, amebíase, giardíase,
cólera, poliomielite); b. Inalação através das vias respiratórias superiores (tuberculose, hanseníase); c.
Transmissão da mãe para o feto por via transplacentária (toxoplasmose, rubéola, sífilis); d. Penetração
através das mucosas (gonorreia, doença de Chagas); e. Penetração através de solução de continuidade na pele
(tétano, doença de Chagas); f. Deposição sobre a pele seguida de propagação localizada (dermatomicoses –
fungos); g. Penetração ativa por alguma forma de sobrevivência do bioagente patogênico (Esquistossomose,
ancilostomose); h. Introdução no organismo, com auxílio de objetos e instrumentos (orifícios naturais,
perfurações cirúrgicas ou acidentais – endoscopias); i. Introdução em tecido muscular ou na corrente
sanguínea, por picada de inseto ou por mordedura de animais (filariose, leishmaniose, raiva); j. Ingestão com
tecido animal utilizado como alimento (teníase).
a) Hospedeiro: aquele que, em condições naturais, penetrado por bioagentes patogênicos, concede
subsistência a estes, permitindo‐lhes seu desenvolvimento ou multiplicação. Há outra terminologia, espécie
refratária, a que inviabiliza seu desenvolvimento ou multiplicação. O indivíduo suscetível é a pessoa ou
animal sujeitos a uma infecção. O indivíduo resistente é aquele que, através de algum mecanismo natural ou
através de imunização artificial, tornou‐se capaz de impedir o desenvolvimento, em seu organismo de
agentes infecciosos. Indivíduo nãoinfectado: aquele pertencente a uma espécie suscetível que não alberga
um determinado agente infeccioso; Indivíduo infectado: aquele que alberga um agente infeccioso e
apresenta infecção inaparente ou manifestações da doença. Neste último caso, pode se chamar paciente
enfermo ou caso de doença infecciosa; Indivíduo infectante: aquele do qual o agente infeccioso possa ser
adquirido em condições naturais; Suspeito: aquele cuja história clínica e sintomatologia indicam estar
acometido por alguma doença ou tê‐la em incubação; Portador: indivíduo infectado que alberga um agente
infeccioso de uma doença, sem apresentar sintomas e constituindo fonte potencial de infecção.
Imunidade Passiva Ativa
Natural Adquirida por via transplacentária Adquirida como consequência de infecção
Artificial Adquirida por aplicação de soro Induzida pela aplicação de vacina
Propriedades do hospedeiro – Resistência: sistema de defesa com o qual o organismo impede a
difusão ou a multiplicação de agentes infecciosos que o invadiram, ou os efeitos nocivos dos seus produtos
tóxicos. É associada à nutrição, integridade da pele e mucosas, fatores genéticos, estado de saúde, estresse,
imunidade específica; Suscetibilidade: grau de sujeição a uma doença; Resistência natural: tem caráter
inespecífico. É a capacidade de resistir à doença independente de anticorpos ou reações específicas;
Imunidade: estado de resistência, geralmente associado a anticorpos que possuem ação específica sobre o
microrganismo causador da doença. O indivíduo imune é aquele que possui anticorpos protetores
específicos ou imunidade celular, capaz de reagir eficazmente para prevenir uma infecção ou doença clínica
quando exposto ao agente infeccioso.
MODOS DE TRANSMISSÃO
Transmissão Horizontal: o agente infeccioso é passado de uma pessoa outra. Pode ser direta imediata ou
indireta, tanto através de um substrato ambiental como por meio de um vetor.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
ANDRÉ BIONE
Transmissão Direta Imediata: um substrato vital, eliminado por um indivíduo infectado em relação íntima
com o suscetível (relações sexuais, mordedura, beijo), leva consigo o agente patogênico, sem passagem no
meio ambiente, até o meio interno do suscetível, estabelecendo a infecção (gonorreia, sífilis, herpes genital,
cancro mole, tricomoníase, candidíase, AIDS).
Transmissão Direta Mediata: um substrato vital, eliminado por um indivíduo infectado, próximo a um
suscetível, leva consigo o agente patogênico, com passagem reduzida pelo meio ambiente até o meio interno
do suscetível, onde estabelece a infecção. Doenças transmitidas por contato imediato ou mediato são
denominadas doenças contagiosas. (mãos, fomites, secreções oronasais – sarampo, tuberculose pulmonar,
hanseníase, tracoma).
Transmissão Indireta: bioagentes patogênicos, montados ou não no substrato com o qual são eliminados,
necessitam de um suporte mediador, veículo ou hospedeiro intermediário, para percorrer toda ou parte da
distância que separa o infectado do suscetível e estabelecer a infecção (hospedeiro intercalado ‐
esquistossomose, vetor biológico ‐ doença de Chagas, veículo ‐ cólera).
Transmissão Vertical: ocorre durante o processo de reprodução (através de esperma ou óvulo),
desenvolvimento fetal ou parto (AIDS, sífilis, rubéola).
VETORES
Vetores são seres vivos que veiculam o agente desde o reservatório até o hospedeiro potencial.
Vetores mecânicos são os transportadores de agentes, geralmente insetos, que os carreiam nas patas,
probóscides, asas ou trato gastrintestinal contaminados e onde não há multiplicação ou
modificação do agente. Vetores biológicos são aqueles em que os agentes desenvolvem algum ciclo vital
antes de serem disseminados ou inoculados no hospedeiro.
DOENÇAS EMERGENTES E REEMERGENTES
Doenças infecciosas emergentes são as que surgiram recentemente (nas últimas 2 décadas) numa
população ou as que ameaçam se expandir em um futuro próximo. Doenças infecciosas reemergentes são
aquelas causadas por microrganismos bem conhecidos que estavam sob controle, mas tornaram‐se
resistentes às drogas antimicrobianas comuns, como a malária e a tuberculose, ou estão se expandindo
rapidamente em incidência ou em área geográfica, como a cólera na América.
ENDEMIA, SURTO, EPIDEMIA e PANDEMIA
Endemia ‐ É a ocorrência de determinada doença que acomete sistematicamente populações em
espaços característicos e determinados, no decorrer de um longo período, (temporalmente
ilimitada), e que mantem uma de incidência relativamente constante, permitindo variações cíclicas e
sazonais.
Epidemia – É a ocorrência em uma comunidade ou região de casos de natureza semelhante,
claramente excessiva em relação ao esperado. O conceito operativo usado na epidemiologia é: uma
alteração, espacial e cronologicamente delimitada, do estado de saúde‐doença de uma população,
caracterizada por uma elevação inesperada e descontrolada dos coeficientes de incidência de
determinada doença, ultrapassando valores do limiar epidêmico preestabelecido para aquela
circunstancia e doença. Devemos tomar cuidado com o uso do conceito de epidemia lato‐sensu que
seria a ocorrência de doença em grande numero de pessoas ao mesmo tempo.
Surto é a ocorrência de dois ou mais casos epidemiologicamente relacionados – Alguns autores
denominam surto epidêmico, ou surto, a ocorrência de uma doença ou fenômeno restrita a um
espaço extremamente delimitado: colégio, quartel, creches, grupos reunidos em uma festa, um
quarteirão, uma favela, um bairro etc.
Pandemia ‐ caracterizada por uma epidemia com larga distribuição geográfica, atingindo mais de
um pais ou de um continente.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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CASO 05 – DOENÇAS E AGRAVOS NÃO‐TRANSMISSÍVEIS (DANT)
CARACTERIZAÇÃO DAS DANT
As primeiras referencias às doenças não‐transmissíveis remetiam para o grupo das chamadas
“Doenças Crônicas Não‐Transmissíveis” (DCNT), cujas doenças são caracterizadas por:
b) História natural prolongada;
c) Multiplicidade de fatores de risco complexos;
d) Interação de fatores etiológicos conhecidos e desconhecidos;
e) Causa necessária desconhecida;
f)Especificidade de causa desconhecida;
g) Ausência de participação ou participação duvidosa de microrganismos entre os determinantes;
h) Longo período de latência;
i)Longo curso assintomático;
j)Curso clínico em geral lento, prolongado e permanente;
k) Manifestações clínicas;
l)Lesões celulares irreversíveis;
m) Evolução para graus variados de incapacidade ou morte.
Aí estão doenças cardíacas, cerebrovasculares e autoimunes, cânceres, diabetes, hipertensão etc.
Recentemente, tem sido adotado o agrupamento de todas as doenças e agravos à saúde, de natureza
não‐transmissível, acrescentando‐se às DCNT as lesões produzidas por acidentes e violências, as causas
externas, constituindo as Doenças e Agravos Não‐Transmissíveis (DANT)
MAGNITUDE DAS DANT
O impacto das DANT sobre as sociedades humanas é crescente. Os custos econômicos e sociais delas
decorrentes avolumam‐se, seja devido à morte prematura ou incapacitação definitiva de pessoas em idade
produtiva, ou ainda pela sobrecarga na demanda por serviços assistenciais. Vários estudos indicam que as
DANT são importantes problemas de saúde pública no mundo.
Fatores de risco causadores de DANT que mais se destacam:
1.Hipertensão (13% do total de mortes)
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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2.Hipercolesterolemia (Doenças cerebrovasculares, doenças isquêmicas cardíacas)
3.IMC elevado (Diabetes melitus, doenças isquêmicas cardíacas, cânceres)
4.Alimentação inadequada (Neoplasias gastrintestinais, doenças isquêmicas cardíacas, AVCs)
5.Inatividade física (Câncer de mama, de cólon e do reto, doenças isquêmicas cardíacas)
6.Tabaco (Doenças vasculares, neoplasias da traqueia, brônquios e pulmão, doenças respiratórias crônicas)
7.Ingestão de álcool (Neoplasias do esôfago e do fígado, cirrose hepática, homicídios, epilepsia e acidentes
com veículos)
8. Lesões por acidente de trânsito
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DAS DANT
Modelos epidemiológicos e Vigilância das DANT: o modelo ecológico – a tríade epidemiológica –
nasce e se desenvolve sob a hipótese da unicausalidade, ou seja, uma única causa leva a um efeito único. Para
DCNT, esse modelo é incapaz de apreender sua complexa cadeia de causalidade, na medida em que não é
possível identificar um único agente como causa.
Laframboise elaborou um binômio saúde‐doença chamado campo da saúde, caracterizado pelo
reconhecimento da multicausalidade para determinação da saúde ou doença, estados relacionados aos
seguintes aspectos: Biologia humana: envolve os fatos que se manifestam como consequência da
constituição orgânica do individuo (herança genética, envelhecimento, constituição corpórea, mecanismos de
defesa, suscetibilidades, resistências etc.); Ambiente: agrupa fatores externos ao organismo – físicos
(aspectos geofísicos), exposição a agentes poluentes (pesticidas, gases) e social (nível, renda, ocupação);
Estilos de vida: conjunto das decisões que o individuo toma a respeito da sua saúde (atividades de lazer,
alimentação, comportamentos socioculturais); Organização da atenção à saúde: envolve disponibilidade,
quantidade e qualidade dos recursos destinados aos cuidados com saúde.
Objetivos da prevenção e controle das DANT: de acordo com Doll, são:
● Reduzir a incidência e a prevalência;
● Retardar o aparecimento de complicações e incapacidades delas advindas;
● Aliviar a gravidade;
● Prolongar a vida com qualidade.
Metodologias e instrumentos para vigilância de DANT
1. Monitoramento de doenças/agravos: o monitoramento da morbidade e mortalidade por dada
doença é essencial para o conhecimento de suas características epidemiológicas e tendências. Também é
necessária a estruturação de um sistema que realize a coleta e análise de dados de forma contínua e com
periodicidade definida.
2. Monitoramento de fatores de risco
a. Constitucionais: sexo, idade, raça e fatores hereditários. Não passíveis de modificação.
b. Comportamentais: tabagismo, dieta, sedentarismo, ingesta de álcool, uso de anticoncepcionais.
Comportamento e hábitos determinados pelo ambiente psicossocioeconômico do indivíduo. Passíveis de
modificação.
c. Patologias ou distúrbios metabólicos: hipertensão, obesidade, hiperlipidemias, diabetes melitus.
Fatores de risco para doenças cardiovasculares, por exemplo. Um fator de risco pode ser a própria doença,
como a obesidade, que é uma doença, mas também é fator de risco para a diabetes.
d. Características socioeconômicoculturais: condições de inserção social. Essas variáveis são
utilizadas para identificar, por exemplo, os grupos sob maior risco de adoecer.
INTERVENÇÕES PARA PREVENÇÃO DE DANT E PROMOÇÃO DA SAÚDE
Estratégias de prevenção Prevenção Primária Prevenção Secundária Prevenção Terciária
Situação das pessoas Suscetíveis Assintomáticos Sintomáticos
Efeitos Diminuir incidência Reduzir prevalência Reduzir complicações
Prevenção primária (mudança de estilo de vida, educação para a saúde, saneamento ambiental e
saúde operacional): dirigida às pessoas suscetíveis, antes que desenvolvam uma doença em particular. A
divulgação de recomendações para mudanças no estilo de vida é um exemplo. Para que seja eficaz, é preciso
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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que haja articulação do setor saúde com os outros (esportes, educação, poder legislativo etc.); Secundária
(diagnóstico precoce, autoobservação, rastreamento em massa, exame periódico de saúde, recuperação da
saúde): “controle das doenças. As ações são dirigidas às pessoas assintomáticas. O objetivo é evitar que se
tornem doentes ou, caso adoeçam, que ocorra a detecção precoce; Terciária (reabilitação motora): ações
dirigidas às pessoas que já se apresentam doentes, prevenindo a ocorrência de complicações e de
incapacidade, por meio de assistência com qualidade à saúde.
Estratégias para implementação de programas de prevenção para as doenças nãotransmissíveis:
● Reorientar o sistema de saúde incorporando a prevenção da doença, por intermédio de: alocação de
recursos humanos nas atividades de prevenção; treinamento e atualização de profissionais de saúde e
demais funcionários em prevenção; incorporação das atividades educativas na programação, dentro e fora
dos serviços de saúde.
● Participação da comunidade através de suas organizações, por meio de: envolvimento das
organizações no diagnostico, na analise, no planejamento e na execução do programa; capacitação das
lideranças e os voluntários no conhecimento teórico e no encaminhamento pratico; análise e divulgação dos
resultados das ações desenvolvidas na comunidade.
● Aumentar o nível de informação, na rede de ensino formal e informal, por meio de: envolvimento da
rede de ensino, capacitando professores de diversas disciplinas; busca da participação de setores informais,
futebol, capoeira e outros; proposição de condições que facilitem a prevenção nas escolas.
● Desenvolver programas de prevenção nos locais de trabalho com as seguintes ações: envolvimento
dos trabalhadores, dos empresários, dos sindicatos e dos serviços de medicina do trabalho; abordagem
integrada através da prevenção, reduzindo os fatores de risco ambientais e individuais e da reabilitação dos
já acometidos; monitoramento através de indicadores econômicos e de saúde.
● Trabalhar com outros setores e buscar a adesão de parceiros: líderes comunitários, representantes
religiosos e de vários setores – educação, mídia, serviço social, direito, esportes, agricultura, comercio e
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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indústria e outros membros da comunidade cientifica e cultural; instituições governamentais e
não‐governamentais, setor publico, setor privado e voluntariado; administradores, políticos, artistas,
esportistas religiosos e voluntários em geral.
● Monitorar os riscos e avaliar os resultados das ações: envolver as organizações em geral na
elaboração do diagnostico epidemiológico; monitorar os riscos ambientais e individuais bem como os
agravos; avaliar a eficácia de programas e de campanhas especiais; buscas apoio da universidade e da rede
de ensino para essas atividades.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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ETIOLOGIA – ESCLARECIMENTOS
1. Fatores causais
● Agentes: para algumas doenças não‐infecciosas, existe agente etiológico conhecido, como o
mercúrio e o chumbo, responsáveis por intoxicações, e o silício, além do vírus da hepatite B, associado ao
hepatocarcinoma. Também há fumo, álcool, pesticidas, fertilizantes, CO, SO2, e as radiações. A maioria DCNT,
no entanto, não tem agente responsabilizado como etiológico – o que não quer dizer que este não exista.
● Exposição a fatores de risco: a
ausência de agente conhecido dificulta
bastante as pesquisas sobre o assunto.
Assim, o objetivo é a identificação dos
fatores de risco associados ao
aparecimento das doenças.
Estes são as circunstâncias do
ambiente ou as características das pessoas,
herdadas ou adquiridas, que lhes conferem
uma maior probabilidade de acometimento,
imediato ou futuro.
A intensidade da exposição aos fatores de risco pode variar, desde um único contato (radiação por Cs)
até reiteradas doses (beber e fumar; inalação de substâncias químicas por trabalhadores industriais).
● Predisposição do organismo: a hereditariedade tem importante papel na explicação de diferenças
na frequência de danos à saúde na população. As pessoas variam na carga genética recebidas dos
antepassados, tornando‐as mais ou menos suscetíveis. Isto vale tanto para doenças infecciosas quanto para
DANT.
● Exposição x predisposição: as pessoas se expõem de maneira desigual aos riscos e respondem
também de maneira não‐uniforme às agressões. Um misto de “exposição” ambiental e “predisposição” do
organismo, em complexa interação, é o que explica o aparecimento da doença.
Fatores de risco Doenças
1. História familiar de doença crônica
2. Estresse/tipo de personalidade
3. Vida sedentária/falta de exercício A – Coronariana
4. Dieta inadequada B – Cerebrovascular
Excesso de colesterol C – Câncer
Excesso de gordura saturada D – Diabetes
Excesso de determinados nutrientes E – DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica)
5. Hipercolesterolemia F – Cirrose
6. Obesidade
7. Hábito de fumar
8. Hipertensão arterial
9. Exposição a agentes específicos
● Múltiplas causa x múltiplos efeitos: embora a rede de causas seja útil para refletir a etiologia das
doenças crônicas, ela também é uma simplificação da realidade. Os fatores de risco são associados a mais de
uma doença crônica. A obesidade, por exemplo, é fator de risco tanto para a afecção coronária como para o
diabetes. A situação de dupla vinculação – tripla, ou mais – é comum aos fatores de risco. Assim, o modelo de
múltiplas causas e efeitos reproduz a situação da doença com maior exatidão, quando comparado à rede de
causas. As relações múltiplas entre fatores de risco e doenças têm uma importância prática na prevenção: a
eliminação ou atenuação de um fator de risco tem repercussão positiva em mais de uma doença crônica.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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CASO 06 – VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
BASES HISTÓRICAS E CONCEITUAIS
Conceito: conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer
mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de
recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos. É, portanto, um
importante instrumento para o planejamento e a organização dos serviços de saúde.
PROPÓSITOS E FUNÇÕES
Propósito: elaborar uma orientação técnica permanente para os profissionais de saúde, pois, estes, têm a
responsabilidade de decidir sobre as ações de controle de doenças e agravos a partir das informações
colhidas. Função da vigilância epidemiológica: coletar e processar dados para analisa‐los e promover
recomendações de medidas de controle e planejamento adequado das ações governamentais.
Posteriormente, avaliar a eficácia e a efetividade das medidas adotadas, divulgando as informações
pertinentes.
COLETA DE DADOS E INFORMAÇÕES
A coleta de dados é feita periodicamente e ocorre em todos os níveis do sistema de saúde. O valor da
informação depende da precisão com que os dados são gerados.
Tipos de dados:
Dados demográficos, ambientais e socioeconômicos:
o Demográficos: usados para quantificar os grupos populacionais, através do cálculo de taxas
(nascimentos, óbitos, por exemplo);
o Ambientais: aspectos climáticos e ecológicos;
o Socioeconômicos: caracterização da dinâmica da população;
Dados de morbidade: permitem a detecção de problemas sanitários, distribuição de casos. São
oriundos da notificação de casos e surtos, da produção de serviços ambulatoriais e hospitalares, de
investigação epidemiológica, da busca ativa de casos, de estudos amostrais e inquéritos;
Dados de mortalidade: indicam a gravidade do fenômeno analisado;
Notificação de surtos e epidemias: a detecção precoce possibilita a constatação de qualquer início de
elevação do número de casos.
a. Fontes de dados
Notificação: é a comunicação da ocorrência de determinada doença ou agravo à saúde feita à
autoridade sanitária responsável por profissionais da saúde ou qualquer cidadão, para fins de adoção de
medidas de intervenção pertinentes. A notificação compulsória é a principal fonte da vigilância
epidemiológica (informação‐decisão‐ação). O Ministério da Saúde estabelece a lista das doenças de
notificação nacional, mas os estados e municípios podem acrescentar a ela patologias de interesse regional
ou local, desde que justificada a sua necessidade. A simples suspeita da doença dever ser notificada; a
notificação tem que ser sigilosa; o envio de notificações deve ser feito mesmo na ausência de casos
(notificação negativa).
▪ Magnitude: elevada frequência de uma determinada doença, traduz‐se por altas taxas de
incidência, prevalência, mortalidade e anos potenciais de vida perdidos;
▪ Potencial de disseminação: poder de transmissão da doença;
▪ Transcendência: expressa‐se por características subsidiárias, como: severidade (medida pelas
taxas de letalidade, hospitalização, sequelas); relevância social (valor imputado pela sociedade,
o medo que as pessoas tem de serem acometidas pela doença); relevância econômica (o
prejuízo social trazido pela redução da força de trabalho, gastos previdenciários);
▪ Vulnerabilidade: disponibilidade de instrumentos de prevenção e controle da doença
▪ Compromissos internacionais: cumprimento de metas internacionais de controle, eliminação
ou erradicação de doenças;
▪ Ocorrência de epidemias, surtos e agravos inusitados à saúde: situações emergenciais
Tais critérios devem ser considerados em conjunto, mas a existência de apenas um deles já é
suficiente para incluir determinada doença na lista de notificação.
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EPIDEMIOLOGIA GERAL
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b. Outras bases de dados
Laboratórios: complementam e confirmam o diagnóstico de confirmação de casos;
Investigação epidemiológica: trabalho de campo realizado a partir de casos notificados e que
objetiva identificar os modos de transmissão, a fonte de infecção, as características epidemiológicas
da doença. O objetivo final é orientar medidas de controle para impedir a ocorrência de novos casos.
Imprensa e população: muitas vezes o primeiro alerta sobre a ocorrência de uma epidemia;
c.Fontes especiais de dados
Estudos epidemiológicos: inquérito: estudo seccional, geralmente amostral realizado quando as
informações existentes são inadequadas ou insuficientes devido à: notificação imprópria ou deficiente,
mudança no comportamento epidemiológico da doença, dificuldade na avaliação de coberturas vacinais ou
eficácia de vacinas, etc.; levantamento epidemiológico: Levantamento epidemiológico: Não é um estudo
amostral, mas sim um estudo realizado com base nos dados existentes nos registros dos serviços de saúde ou
de outras instituições. Destina‐se a complementar informações já existentes;
Sistemas sentinelas são constituídos por indicadores que não necessariamente representam a
totalidade do evento, mas servem de alerta precoce da vigilância". Vi que tais sistemas são mais utilizados
como uma alternativa de vigilância focada numa determinada população, sobretudo para fins de
acompanhamento de tendências de doenças e monitoramento da prevalência de resistência a antibióticos.
Desse modo, não há preocupação com estimativas precisas de incidência ou prevalência na população geral.
Evento sentinela: detecção de doença prevenível, incapacidade, ou morte inesperada, cuja ocorrência serve
como um sinal de alerta de que a qualidade da terapêutica ou prevenção de ser questionada. Toda vez que
ocorre um evento dessa natureza a vigilância deve ser acionada para que as medidas indicadas sejam
instituídas. Unidades de saúde sentinela: Refere‐se, na grande maioria, aos hospitais que internam doenças
infecciosas e parasitárias e informam, diariamente, aos órgãos de vigilância, os seus internamentos.
Vigilância de áreas sentinelas: delimitação de áreas específicas para monitorar a ocorrência de certas
doenças ou alterações na situação de saúde.
UTILIZAÇÃO DO ROTEIRO DE INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
De investigação de caso:
1. Coleta de dados: identificação, anamnese, condições sociais, etc.
2. Pistas: fonte de contagio, ag. Etiológico...
3. Busca ativa de casos: tratamento da doença e verificação da magnitude local
4. Processamento e análises parciais dos casos: diagnosticar e planejar de que maneira deve seguir
5. Encerramento de casos: fichas epidemiológicas, diagnostico final
6. Etapa final: medidas de prevenção e alerta a órgãos hierárquicos superiores
De epidemia:
1. Trata‐se realmente de uma epidemia?
2. O que pode tê‐la causado?
3. O que pode ser feito para comprovar suas causa?
4. Como a epidemia pode ser detida e outras similares podem ser prevenidas?
NORMATIZAÇÃO
Definição de normas técnicas para a uniformização e a comparação de dados e informações
produzidos pelo sistema de vigilância. Também é importante a definição de caso de cada doença ou agravo,
visando a padronizar critérios diagnósticos para a entrada e a classificação final dos casos no sistema. Em
geral, os casos são classificados em suspeitos, compatíveis ou confirmados. As definições de caso devem ser
modificadas ao longo do tempo, por alterações na epidemiologia da própria doença, para atender
necessidades de ampliar ou reduzir a sensibilidade ou especificidade do sistema.
RETROALIMENTAÇÃO DO SISTEMA
Retorno regular de informações às fontes produtoras através da disseminação periódica de
informes epidemiológicos sobre a situação local, regional, estadual, macrorregional e nacional. Isso motiva os
notificantes e propicia a coleta de subsídios para reformular normas e ações nos seus diversos níveis.
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AVALIAÇÃO DOS SISTEMAS DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
Informa com precisão a situação epidemiológica de determinada doença ou agravo, o impacto das
ações de controle e indicação de outras medidas necessárias. Também demonstra os resultados obtidos para
justificar os recursos investidos.
Medidas quantitativas:
Sensibilidade: capacidade de detectar os casos;
Especificidade: capacidade de excluir os não casos;
Representatividade: identificar os subgrupos da população atingidos pelo caso (subgrupos que
“representam” a doença);
Oportunidade: agilidade do sistema de informações.
Medidas qualitativas:
Simplicidade: facilitar as ações do sistema e reduzir os custos;
Flexibilidade: capacidade de adaptação do sistema a novos casos epidemiológicos ou operacionais;
Aceitabilidade: disposição dos profissionais, organizações e indivíduos de participarem e utilizarem o
sistema.
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CASO 07 – VIGILÂNCIA SANITÁRIA
A VIGILÂNCIA SANITÁRIA
É o conjunto integrado de ações legais, técnicas educacionais, informativas, de pesquisa e de
fiscalização, capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários
vindos do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde.
A Vigilância Sanitária visa a proteger a saúde dos consumidores, do ambiente e da população em
geral. Porem, ela também tem papel de mediar os interesses econômicos e os interesses de saúde. O que
significa que ela não somente protege o consumidor, como também o produtor. Isso porque ela permite que
haja uma relação entre esses dois com um mínimo de segurança, que garante a proteção a saúde do
consumidor em relação aos serviços/medicamentos consumidos, e ao produtor por exigir um nível de
qualidade que faz com que ele tenha credibilidade no mercado.
LOCAIS DE ATUAÇÃO
• Locais de produção e comercialização de alimentos: fábricas, restaurantes, bares, produtores de
laticínios, mercados, frutaria, açougue, peixaria, matadouro, frigorífico, etc.;
• Lojas e áreas de lazer: shoppings, cinemas, clubes, ginásios, óticas, postos de gasolina, estádios, etc.;
• Saneamento básico: redes de esgoto, fornecimento de água, etc.;
• Locais públicos: escolas, cemitérios, presídios, hospitais, clínicas, farmácias, salões de beleza, asilos,
rodoviárias, portos, aeroportos, área de fronteira, etc.;
• Fábricas: de medicamentos, de produtos químicos, de agrotóxicos, de cosméticos, de perfumes, etc.
OBJETIVOS, NOÇÕES e FUNÇÕES
Qualidade, segurança, eficácia e nocividade constituem categorias operacionais nas ações de
proteção à saúde da vigilância sanitária. Qualidade e segurança são requisitos imprescindíveis de todos os
objetos relacionados com a saúde, sejam produtos ou serviços. Já a eficácia está vinculada à finalidade e à
natureza destes. A nocividade é algo que deve ser evitado e, muitas vezes, punido. Pode ser positiva, quando
se reporta de fato à ação criminosa capaz de causar prejuízo direto à saúde, ou negativa, quando a ação
suprime ou diminui a eficácia conservadora/restauradora da saúde ou reduz o valor nutritivo/terapêutico,
mesmo que não haja prejuízo direto à saúde. A nocividade também pode não decorrer de delinquência
sanitária, quando há eventos naturais sobre os produtos ou quando a evolução do conhecimento científico é
o que a reconhece. Em todos os casos, o produtor/comerciante é responsabilizado.
Riscos e danos à saúde relacionados ao consumo de produtos/tecnologias/serviços podem ser
decorrentes de defeitos ou falhas, como também podem ser intrínsecos ao próprio “produto”. No Brasil, as
funções da vigilância sanitária são a normatização e o controle sanitário de:
Produtos de interesse da saúde (bens, da produção, armazenamento, guarda, circulação, transporte,
comercialização e consumo de substâncias e suas matérias‐primas, processos, equipamentos e
embalagens.
Tecnologias médicas (sangue, tecidos, órgãos, procedimentos, equipamentos e pesquisa);
Serviços direta ou indiretamente relacionados com a saúde, públicos ou privados;
Portos, aeroportos e fronteiras, incluindo meios de transporte, cargas e pessoas;
Aspectos do meio ambiente, processos de trabalho e saúde do trabalhador.
INSTRUMENTOS PARA AÇÃO
A atuação da vigilância sanitária se dá com base em legislação especifica, cujo cumprimento é
assegurado pelo poder público. Neste âmbito, as liberdades individuais são condicionadas aos interesses
coletivos (sociedade > indivíduo/instituição).
A intervenção da vigilância sanitária, diante da complexidade e da natureza dos riscos que deve
prevenir, eliminar ou diminuir, requer o uso concomitante de vários instrumentos que se complementam em
um conjunto organizado de praticas a serem desenvolvidas nas distintas instancias do Sistema Nacional de
Vigilância Sanitária (SNVS). Aqui, a legislação constitui um instrumento imprescindível para a ação. A
legislação sanitária contém os fundamentos jurídicos e técnico‐científicos das práticas, sendo o apoio e a
legitimação das intervenções. Os mecanismos de ação da Vigilância Sanitária são:
Fiscalização sanitária: aceita ou recusa produtos/serviços e intervém em situações de risco à
saúde. Verifica o cumprimento das normas estabelecidas para garantir a proteção à saúde, como requisitos
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legais e técnicos para o exercício da atividade (serviços). Também identifica, no caso de produtos, por meio da
inspeção, falhas técnicas no processo de produção e inclusive fraudes, que podem alterar as características
do produto e modificar os efeitos benéficos esperados. A inspeção é uma prática de observação sistemática
destinada a examinar as condições sanitárias e a conformidade com padrões e requisitos da Saúde Pública
que visam a proteger a saúde individual e coletiva.
Laboratório: a fiscalização apoia‐se no laboratório, que verifica a conformidade dos produtos com
padrões estabelecidos e as características averbadas nos respectivos registros.
Tendo em vista sua finalidade, os principais tipos de análises laboratoriais são denominadas:
• Análises fiscais – Visam verificar a conformidade do produto com seus padrões técnico‐sanitários. Devem
ser realizados periodicamente;
• Análise de controle – Realizada imediatamente após a fabricação de um determinado produto em processo
de registro, e está destinada a avaliar a capacidade que o produtor tem de produzir segundo os termos de
registro;
• Análise prévia – Requisito para o registro de um determinado produto ou uma substância a ser utilizada em
um produto ou embalagem. É o caso de um aditivo novo que ainda não consta nas listas de substâncias
permitidas.
O laboratório central de referência no país é o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde
(INCQS) e tem o papel de fornecer padrões de referência e métodos de análise de produtos, bem como
procedimentos amostrais para servir de parâmetro aos demais laboratórios oficiais que integram a rede
laboratorial de apoio às ações de Vigilância Sanitária.
Estudos epidemiológicos: fundamentais para elucidar associações entre fatores de risco
relacionados aos elementos sob vigilância sanitária e determinadas doenças. Apresentam evidência de
relação da substância com uma doença ou agravo.
Pesquisas de laboratório: têm base em experimentos com modelos animais. São fundamentais
para o estudo de associações e para o estabelecimento de níveis de tolerância de determinadas substâncias
incorporadas a produtos de consumo humano, como aditivos em alimentos e níveis de exposição no
ambiente de trabalho.
Monitorização: objetiva acompanhar, avaliar e controlar mediante acompanhamento, de maneira a
garantir a efetividade. Em laboratórios, por exemplo, a monitorização atua em integração na medida que
identifica riscos de agravos e garante a qualidade de produtos, serviços e ambientes. Muito utilizada, por
exemplo, na rotina dos serviços públicos de abastecimento de água, para acompanhar a qualidade da água
fornecida.
Vigilância epidemiológica: A vigilância epidemiológica é um instrumento de primordial
importância nas ações do campo da vigilância sanitária, permitindo acompanhar doenças veiculadas por
alimentos, pelo sangue e derivados, intoxicações, infecções hospitalares, efeitos adversos de medicamentos,
agravos inusitados relacionados com tecnologias médicas, a exemplo de próteses e órteses, fornecendo
informações valiosas para subsidiar ações de controle sanitário.
Marketing social, informação e educação para a saúde: técnica de comunicação destinada a
modificar atitudes e comportamentos de "mercados‐alvo", segundo artifícios específicos. Diferente do
marketing comercial, cujo objetivo é satisfazer supostas necessidades e carências do público‐alvo.
SISTEMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (SNVS)
Estrutura Políticoinstitucional: A lei orgânica da Saúde 8080/90 determina como uma das
competências da direção nacional do Sistema Único de Saúde definir e coordenar o Sistema de Vigilância
Sanitária.
Integram o SNVS a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Conselho Nacional de Secretários
Estaduais de Saúde (CONASS), o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS), os
órgãos de vigilância sanitária estaduais, do Distrito Federal e dos municípios, os Laboratórios Centrais de
Saúde Pública (LACENS), o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), a Fundação
Oswaldo Cruz e os Conselhos de Saúde.
O Sistema engloba unidades nos três níveis de governo – federal, estadual e municipal – com
responsabilidades compartilhadas. No nível federal, estão a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
e o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz). No nível estadual, estão o órgão
de vigilância sanitária e o Laboratório Central de Saúde Pública (LACENS) de cada uma das 27 Unidades da
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Federação. No nível municipal, estão os serviços de VISA dos 5561 municípios brasileiros, muitos dos quais
ainda em fase de organização.
Anvisa – função: “Promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da
produção e comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive dos
ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle de portos,
aeroportos e fronteiras” (Lei 9782).
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A Anvisa é caracterizada como uma entidade administrativa independente, uma autarquia especial
vinculada ao Ministério da Saúde. A natureza de autarquia especial é caracterizada pela independência
administrativa, autonomia financeira e estabilidade de seus dirigentes. A autarquia é dirigida por uma
diretoria colegiada, composta de cinco membros, um dos quais é o diretor‐presidente. Esses membros são
indicados e nomeados pelo presidente da república.
A Anvisa conta, no seu corpo administrativo, com um Ouvidor, para receber e responder as queixas,
denúncias e interrogações da população, e um Conselho Consultivo do qual participam entidades
representativas dos interesses de diversos grupos sociais, setor produtivo, comunidade científica, Conselho
Nacional de Saúde, entidades de defesa do consumidor etc.
De um modo em geral, pode‐se dizer que as atividades de regulamentação, de registro e de
autorização e a atuação na área de portos, aeroportos e fronteiras ficam sob a competência do órgão Federal.
Obs.: Vale lembrar que além de todas aquelas funções da vigilância sanitária, ela também é atuante na
intervenção Estatal para garantir o atendimento a necessidades de saúde ou resolução de problemas que
dificultam a integralidade da atenção. Um exemplo seria a política dos medicamentos genéricos como um
meio de maior acesso aos remédios à população (diminuição do preço).
Práticas de Vigilância sanitária: os serviços de vigilância sanitária em geral organizam suas práticas em
função das distintas categorias de objetos, como produtos, serviços direta e indiretamente relacionados com
a saúde, meio ambiente e, na área federal, portos, aeroportos, fronteiras e relações internacionais.
Vigilância e controle sanitário de produtos de interesse da saúde.
Medicamentos, drogas, insumos farmacêuticos e correlatos;
Controle sanitário de produtos zoosanitários, fitossanitários e agrotóxicos;
Vigilância sanitária de alimentos, bebidas e águas minerais;
Controle sanitário de produtos de origem animal.
Vigilância sanitária de serviços direta ou indiretamente relacionados com a saúde: as ações de
vigilância sanitária nos serviços direta ou indiretamente relacionados com a saúde devem proteger a saúde
das pessoas contra iatrogenias – doenças relacionadas com os serviços de saúde – que podem atingir não só
usuários e trabalhadores de saúde, com os circunstantes. Também devem proteger o ambiente e a saúde
humana de externalidades de produção de serviços, relacionada aos resíduos dos serviços de saúde, os quais
necessitam de gerenciamento e deposição adequados.
Vigilância nos portos, aeroportos e fronteiras e relações internacionais no âmbito da vigilância
sanitária: objetiva impedir que doenças infectocontagiosas e outros agravos se disseminem pelo país através
das fronteiras; também visa preservar as condições sanitárias nos meios de transporte, sendo importante à
circulação de mercadorias e pessoas. Nas imigrações, preserva a capacidade de trabalho das pessoas que
pretendem ingressar no país.
Vigilância sanitária do meio ambiente e ambiente de trabalho.
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