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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE BELAS-ARTES

RELATÓRIO INTERCALAR

Eduardo Augusto Perissatto Meneghin 11605


Mestrado em PINTURA

Prof. Dr. Manuel Botelho e Prof.ª Dra. Margarida Penetra Prieto


2018
A princípio, fiz algumas pinturas sem saber exatamente o que estava realizando,
deixando apenas que minhas ideias fluíssem e que no próprio ato de pintar algo me
tocasse a ponto de gerar uma percepção. Fazendo anotações e trabalhando em telas de
pequenas dimensões, senti que a cada dia me aproximava de algo, e que isso estava
mais ligado ao ato da pintura e ao que isso evocava do que necessariamente a uma
temática ou a uma série. De certo modo, o que quero dizer é que meu interesse central é
realizar a pintura enquanto prática reflexiva ou meditativa, em oposição a uma pintura
que tem como fundamento a técnica pela técnica, a reprodução exclusiva de uma
fotografia, de um modelo, etc.

Meu ponto de partida, portanto, não se encontra em um tema ou um “estilo”


propriamente dito, mas em uma condição existencial que torna a pintura uma
necessidade. Mas o que isso significa? Significa que pinto para encontrar um ponto de
gravidade para o tempo. Pinto imagens que me atem ao mundo na busca de um sentido.
Pinto também para encontrar silêncio na dissincronia do tempo.

Sendo assim, encontrei na preparação das telas e tintas um início de caminho


que, ao me colocar frente a frente com a manualidade, revela-me o aspecto material da
pintura desde o seu começo. Preparar cuidadosamente a base das telas com cola de pele
de coelho, gesso, fazer a imprimatura, misturar os pigmentos para se obter a tinta a óleo
– tudo isso é parte de minha postura para fazer da pintura uma via capaz de superar a
ausência de ser e sentido que caracterizam o tempo contemporâneo. Minha pintura se
inicia, portanto, a partir das mãos e do contacto com a matéria que utilizo e com a
compreensão de suas qualidades e limitações.

Camadas sobre camadas, empastos, lixamentos, cores que coloco e que depois
são encobertas: tudo isso é parte de meu processo. Não há nele nenhuma pretensão, até
o momento, de produzir uma quantidade excessiva de obras ou de dimensões muito
grandes (exceto se a obra mesma o exigir em algum aspecto). O que me interessa é que
a prática da pintura seja capaz de me revelar aquilo que, por algum motivo, esteja
encoberto. Nesse sentido, acredito que meu trabalho tenha alguma relação com os
processos da fenomenologia e que essa poderá ser um campo fértil para o meu
desenvolvimento.
O quadro sem título e inacabado que reproduzo abaixo surgiu de uma percepção
espontânea ao me deparar com algo de insólito no esquentador da casa que estou
morando. Ao acendê-lo percebi que havia algo de pictórico naquele fogo criado de
modo artificial e que eu gostaria de pintá-lo.

Após a preparação da tela, suas primeiras camadas foram realizadas em tinta a


óleo preparada a partir do pigmento Caput Mortuum, acrescido de gesso e óleo de
linhaça. Vários dias depois, após a secagem, realizei uma cobertura em Azul ultramar.
Após a secagem, fiz camadas mais pastosas de misturas em Amarelo Ocre, Chrome
Yellow, Branco de Titânio, Ivory Black e Vermilion. Esse é o estado atual da pintura,
que depois receberá outras camadas para que ganhe cada vez mais profundidade.
Em meus escritos pessoais ela aparece como uma meditação sobre a natureza do
fogo, acrescida de um sonho que tive algumas noites após iniciar a pintura e que
reproduzo na íntegra:

“Havia uma caixa magnetizada com imagens dentro e um olho em sua


escuridão. De algum modo eu sabia que ela era feita pelos „magos da terra‟
para ferir alguém. Estava encoberta, próxima a um lago, quando chegaram
alguns vigilantes para verificar do que se tratava.
Somente uma criança podia comer o que estava nela sem morrer.
Um animal rastejante, escuro, como uma espécie de serpente me disse: „Sou
tanto bom quanto mau. O que tu procuras não tem fim.”

Sem cair em divagações psicanalíticas, tomei a frase desta serpente como a


própria natureza do que estou pintando. Camada sobre camada sem que exista um fim
previamente estabelecido. De fato, a pintura nunca termina, ela é abandonada em algum
ponto que nunca sei precisamente determinar.
Outras duas pinturas, também inacabadas e não intituladas, surgiram a partir de
fotografias antigas de minha família que possuem um significado pessoal atrelado à
busca por minhas origens, pela maternidade e pela melancolia associada ao inevitável
desaparecimento de tudo.
O procedimento é o mesmo relatado na pintura anterior, utilizando-me apenas de
cores relativamente diferentes como Magenta, Burnt Umber, Raw Umber, etc. Continuo
acrescentando camadas e empastos para que a pintura, a partir de sua própria matéria,
me revele ainda mais aquilo que não sei.

Paralelamente a isso, realizei uma pintura em que reproduzi a página de um de


meus cadernos, como um exercício de mise en abyme. Ela consiste na colagem de uma
pintura feita em óleo sobre papel montada sobre uma tela em que tracei linhas em
grafite e escrevi de tal modo a que as palavras se tornassem elementos pictóricos e
parcialmente ilegíveis. Esse quadro permanece também inacabado e constitui, até o
momento, um caminho ainda enigmático.

Pesquisando referências de artistas que possivelmente trabalharam com


procedimentos semelhantes, cheguei a alguns nomes essenciais para minha pesquisa:
Giorgio Morandi, Michaël Borremans, Cristof Yvoré e Cézanne. Todos eles
trabalharam a partir de dimensões pequenas (à exceção de Cézanne em algumas obras) e
com a utilização de diversas camadas, sempre buscando nas imagens algo que superasse
a mera visualidade (Cézanne), quase metafísico (no caso de Morandi), insólito
(Borremans), ou mnemônico (Yvoré).

Com isso, pretendo prosseguir nessa linha de investigação sempre aberto ao que,
eventualmente, poderá surgir.

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