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Review: Retratos de Família – Leitura da fotografia histórica. Leite, Miriam


Moreira

Article  in  Horizontes Antropológicos · July 1995

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Andrea Cardarello

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Retratos de família 243

LEITE, Miriam Moreira. Retratos de família: leitura da fotografia histórica. São


Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1993. (Texto e Arte, v. 9).

Andrea Cardarello
Universidade Federal do Rio Grande do Sul* – Brasil

Retratos de Família, de Miriam Moreira Leite, é uma coletânea de arti-


gos da autora, publicados desde 1981. O livro é resultado de uma reflexão de
dez anos sobre as potencialidades e limitações da leitura da imagem, em parti-
cular, sobre a fotografia histórica. Recorrendo com grande erudição ao traba-
lho de inúmeros autores, cineastas e fotógrafos, ela explora a interface da foto-
grafia com diversos campos intelectuais. Da sociologia e da antropologia visu-
al, ela cita Pierre Bourdieu, Margaret Mead e John Collier; sobre a percepção
visual e da memória, ela evoca a teoria da Gestalt; e para refletir sobre proble-
mas da criação, deformação e multiplicação de imagens, ela consulta Erwin
Panofsky e John Berger. Faz, ainda, indagações sobre a preocupação literária
com as imagens, lembrando obras de Julio Cortázar e Adolfo Bioy Casares.
Ainda que grande parte dos comentários de Retratos de Família se refira
à documentação histórica, o tipo de enfoque da autora a faz sair da análise
desse tipo específico de documentação para realizar um estudo da fotografia
nas ciências humanas, tornando suas reflexões úteis a todos aqueles pesquisa-
dores interessados nas possibilidades da leitura da imagem.
“Até que ponto ‘uma imagem vale mais de mil palavras’? É possível esta-
belecer essa correspondência?” Segundo Leite, a partir da década de 70, a
entusiástica adesão à técnica da história de vida e de fotografias na pesquisa
das ciências humanas responderia a uma nova ilusão: a de que ambas dariam
acesso direto à realidade. A autora nos acautela então contra o “realismo fo-
tográfico”: “a fotografia pode ser uma reprodução de um recorte de alguma
coisa existente, mas freqüentemente é mais a reprodução do que o retratado e

*
Mestranda em Antropologia Social.

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o fotógrafo quiseram que ela fosse” (p. 143-144). Portanto, recomenda-se que,
da mesma forma como se avaliam os documentos verbais, as fotos sejam com-
preendidas através da apreciação crítica de suas mensagens.
Embora as imagens sejam excelentes recursos para a descrição de deter-
minadas coisas (por exemplo, formas geométricas, gestos e expressões faciais
e corporais), as idéias, teorias, sentimentos e deduções não são transponíveis
para a imagem fixa e isolada. A natureza polissêmica da imagem suscita leitu-
ras diferentes de acordo com a variabilidade da recepção e interpretação do
leitor. Essas leituras diferenciadas são introduzidas por aspectos como a idade,
sexo e nível social. É por isso que “[…] não olhamos apenas para uma foto,
sempre olhamos para a relação entre nós e ela” (p. 145). itando Arnheim: “o
que se vê, depende de quem olha […]” (p. 130).
Dessa forma, raramente a imagem prescinde do código escrito. As legen-
das são geralmente indispensáveis, podendo, inclusive, transformar o conteúdo
observado. A autora nos lembra que foi nos trabalhos de antropologia visual,
particularmente com as contribuições de Margaret Mead, que se tomou cons-
ciência de que as imagens precisam ser descritas por palavras para serem
incorporadas ao trabalho científico. “Não é possível utilizar apenas o texto não-
verbal, cuja ambigüidade de um lado e mutismo de outro abrem demais as
questões apresentadas, deixando-as indefinidas e inadequadas a uma sistema-
tização científica.” (p. 152-153).
No entanto, essa transposição verbal nem sempre dá conta de todas as
contribuições da fotografia: a transposição da imagem para palavras dificil-
mente se completa, sendo freqüentemente empobrecedora. Com isso Leite
observa que cada uma das diferentes fontes tem vieses específicos e exprime,
na maior parte das vezes, um aspecto limitado da questão focalizada pelo pes-
quisador.
Para fazer todos estes comentários, a autora se baseia, fundamentalmen-
te, em uma coleção de retratos de família de álbuns cedidos por descendentes
de imigrantes de várias origens. São famílias italianas, alemãs, portuguesas,
judias russas, espanholas, marroquinas, suecas, libanesas e japonesas que aca-
baram por se reunir na cidade de São Paulo no início do século. Abrangendo o
período de 1890 a 1930, esta coleção de fotografias compreende três gerações.
A esses retratos foram acrescentadas fotografias de família de acervos públi-
cos e os publicados em revistas ou almanaques. Por fim, a autora incluiu na sua
coleção fotos de famílias tradicionais brasileiras, das camadas dominantes e de
camadas médias. Um dos capítulos do livro também aborda a família do século

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XIX no Rio de Janeiro, através registros deixados por viajantes estrangeiros


sob a forma de livros de viagem, esboços e desenhos.
Como recriar a vida das famílias em São Paulo, seus valores, através dos
retratos desse período? O que levou aquelas personagens a estarem ali, assim,
daquele jeito e naquele momento? Para responder a essas perguntas, a autora
sugere que, em primeiro lugar, é importante levarmos em conta as condições
técnicas em que foram tirados os retratos. A história da fotografia e o conheci-
mento da técnica fotográfica – como as condições em que foi produzida a
fotografia e o tempo provável de sua produção –, embora não sejam indispen-
sáveis, podem fornecer dados ao pesquisador. Isto evitaria equívocos de inter-
pretação. O exemplo dado por Leite é a ausência de flash até aproximada-
mente 1917 em São Paulo, o que fez com que as fotos anteriores a essa data
precisassem ser sempre externas, ou contassem com clarabóias nos estúdios
para tomadas internas. A ausência de flash tornava quase impossíveis as ce-
nas noturnas. Também a posição estática, a pose,

não pode ser atribuída inteiramente à imagem que a família queria transmitir de si
mesma, se quando foi produzida a imagem fotográfica exigia um longo tempo de
exposição e a atenção dos retratados precisava ser atraída por um “vai sair um
passarinho” do fotógrafo. (p. 75-76).

Munido dessa informação técnica, o analista está em melhores condições


para avaliar as mudanças através das gerações. Por exemplo, a solenidade das
atitudes e a posição frontal ereta atribuídas freqüentemente às máquinas anti-
gas vão sendo substituídas na década de 20 por uma atitude sonhadora, nas
mulheres mais jovens, ou compadecida, na mãe de filhos pequenos. “No caso
das mulheres, […] as fisionomias vão ganhando uma rigidez e uma grande
severidade com o avançar da idade.” (p. 97).
Em segundo lugar, já que as fotos em si “mal permitem a transmissão da
construção de significados culturais” (p. 46), é importante completar a infor-
mação imagética com textos verbalizados (escritos ou falados) que permitam
contextualizar de onde sai a fotografia: “o conhecimento prévio do todo, da
cultura, ou de seu aspecto estudado, não pode ser negligenciado” (p. 44).
É exatamente onde Leite dá esta contextualização, no seu texto escrito,
que Retratos de Família tem seus capítulos mais interessantes. Através das
respostas aos questionários aplicados aos descendentes das famílias retrata-
das, além de trabalhos já realizados sobre o assunto por outros historiadores, a

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autora chega, no sexto capítulo, ao imaginário do imigrante que desembarca no


Brasil na virada do século XX. À primeira vista, existe uma aparente
homogeneidade e padronização na coleção de fotografias do período, apesar
da diversidade de origens sociais e geográficas das famílias retratadas. Essa
homogeneidade seria causada, em parte, pelas condições técnicas do aparelho
fotográfico e pela difusão da prática fotográfica em diferentes camadas sociais
e diferentes países. No entanto, é pelos depoimentos dos filhos e netos dos
imigrantes que Leite aprende a ver uma distinção entre estas famílias e as da
alta burguesia. Para os dois grupos, o retrato era objeto de exibição. No entan-
to, no caso dos imigrantes, as roupas domingueiras e de festa que aparecem
nos retratos tinham como objetivo transmitir a impressão de prosperidade e
bem-estar. Para eles, a ostentação de progresso material e ambição econômica
eram ainda maiores. Já que a volta a seus países de origem ficava cada vez
mais fora de alcance, as fotografias serviam como isca para trazer parentes e
vizinhos que tinham ficado na terra natal.
A autora indica múltiplas pistas a seguir para fazer uma leitura aprofundada
da documentação fotográfica. A distinção entre camadas sociais pode ser re-
conhecida pela qualidade da fotografia e também pelo papel em que é produzi-
da. O período do retratos pode ser descoberto na indumentária, nos arranjos de
cabelo, bigodes e barbas, nos objetos, lugares escolhidos e até nas expressões
faciais e corporais.
Porém Leite não ilustra essas dicas com a análise das fotos que nos estão
sendo apresentadas ao longo dos capítulos. Só temos um comentário, foto a
foto, no último capítulo. E só encontramos a história do cotidiano no artigo que
trata sobre os viajantes estrangeiros, quando aí sim vemos esboços e desenhos
contextualizados, onde o olhar às gravuras se enriquece e é direcionado pelo
texto escrito.
Ficamos, graças ao livro Retratos de Família, tão alertas a todas as pos-
síveis análises da imagem que temos vontade de logo nos debruçar sobre algum
material concreto. Mas as informações verbalizadas nem sempre permitem
integrar as fotografias que ilustram o texto na reflexão analítica. Faltam dados
básicos, que vão além do nome da família, a data e o local do acontecimento
apresentados, como sua condição social, por exemplo. Com a justificativa de
que seu objeto de estudo não são as famílias, mas sim as fotografias, a autora
não se alonga na descrição das pessoas retratadas, nem do relacionamento
entre elas.

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Aprendemos do livro que, nas fotografias da época, a persistente presen-


ça do modelo burguês de vida ocultava as diferenças de classe,
descaracterizando o grupo social representado (p. 178) As pessoas sendo re-
tratadas procuravam ostentar atitudes distintas e socialmente aprovadas. Quando
trabalhava no seu próprio estúdio, o fotógrafo provia o cenário da sala próspe-
ra, com cortinas, colunas e parapeitos iluminados por uma clarabóia. Pergunta-
se então: de que maneira podemos compreender as fotografias incluídas nesse
volume? Se “a roupa de ‘ver a Deus’ na fotografia em branco-e-preto dá ares
de nobreza à filha do moleiro russo, e dignidade de príncipe ao casal de marce-
neiros alemães” (p. 137), ficamos querendo saber quem é a filha do moleiro
russo ou o casal de marceneiros alemães, assim como quais fotografias foram
tiradas em estúdio ou não. Assim, ficamos esperando, com impaciência, o se-
gundo volume desta pesquisa pioneira da professora Leite, para aprender mais
com ela sobre a aplicação das brilhantes reflexões teóricas elaboradas em Re-
tratos de Família.

Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 1, n. 2, p. 243-247, jul./set. 1995

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