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0027
RECLAMANTE: JOSÉ AILTON DE SOUZA
RECLAMADO: ITAPUI BARBALHENSE INDÚSTRIA DE CIMENTOS S/A
SENTENÇA
1. RELATÓRIO
Dispensado, nos termos do artigo 852-I da CLT (Lei nº 9.957/2000).
2. FUNDAMENTAÇÃO
2.1. DA JUSTIÇA GRATUITA
Segundo o disposto no art. 790 da CLT, com as inovações trazidas pela Lei n° 13.467/17, a
justiça gratuita pode ser concedida, a requerimento ou ex officio, aos que perceberem salário igual
ou inferior a 40% do limite máximo dos benefícios da Previdência Social (§ 3º), ou, ainda, de forma
mais ampla, "à parte que comprovar insuficiência de recursos para o pagamento das custas do
processo" (§ 4º).
O que se extrai do citado dispositivo legal, é que, quando o trabalhador perceber salário
igual ou inferior a 40% do limite máximo do RPPS, o benefício da justiça gratuita será concedido,
sem necessidade de prova, a requerimento ou de ofício pelo juiz; quando o salário do empregado for
superior àquele limite, deverá ser comprovada a insuficiência de recursos para o pagamento das
custas processuais.
Na 2ª hipótese citada, entendo ser suficiente para a concessão do benefício a declaração de
hipossuficiência firmada pelo trabalhador ou por seu procurador, conforme estabelecido pelo
próprio CPC/15 (“presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por
pessoa natural” - art. 99, § 3º). É que, entender que o novel § 4º exige prova, por parte do
trabalhador, da insuficiência de recursos, seria aceitar a existência injustificada de regramentos
totalmente díspares, imprimindo um nível de rigor probatório exatamente contra quem não têm
condições de arcar com os custos do processo. Deveras, seria irrazoável exigir tal comprovação,
mormente por ser a Justiça do Trabalho o ramo do Poder Judiciário frequentado,
majoritariamente, por trabalhadores de poucos recursos, em regra desempregados. Nessa direção,
leciona Maurício Godinho Delgado, in verbis:
"O art. 790, § 3º, da CLT alterou o parâmetro numérico, no tocante à presunção de
hipossuficiência econômico financeira, para o seguinte nível: "salário igual ou inferior a
40% (quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência
Social".
Acima desse nível, torna-se necessária a comprovação da hipossuficiência.
(...)
Essa comprovação pode se fazer, em princípio, pela declaração de próprio punho da pessoa
natural do autor da ação, bem como pela declaração de seu procurador no processo (art.
15, in fine, CPC-2015), (...) Entretanto tais declarações podem não bastar, caso exista nos
autos prova em sentido contrário juntada pela parte adversa ou não. Mesmo assim, antes de
indeferir o pedido, deve o Magistrado "determinar à parte a comprovação do
preenchimento dos referidos pressupostos"(§ 2º, in fine, do art. 99 do CPC-2015)" (A
reforma trabalhista no Brasil : com os comentários à Lei nº 13.467/17, 2ª ed. rev., atualiz. e
ampl. - LTr, 2018, p. 358/359).
In casu, em que pese o autor alegue que auferia remuneração superior ao limite estabelecido
no § 3º, do art. 790, da CLT, apresentou ela declaração de hipossuficiência (id 11fc91b – fls. 10).
Tal declaração evidencia a sua presumida impossibilidade de arcar com os ônus da lide, sem
prejuízo do sustento próprio e/ou do de sua família, principalmente se considerada a ausência de
prova em contrário nos autos.
Desta feita, defiro ao reclamante o benefício da justiça gratuita, na forma do art. 790, §
4º, da CLT , considerada a declaração de pobreza juntada aos autos.
2.2. DA PRESCRIÇÃO QUINQUENAL
Tendo em vista que a presente demanda foi ajuizada em 31/12/18 e considerando o que
dispõe o art. 7º, XXIX, da CF/88, acolho a prejudicial de prescrição quinquenal alegada pela
reclamada, para declarar prescrita a pretensão autoral quanto aos créditos anteriores a 31/12/13, nos
termos do art. 487, II, do CPC/2015.
2.3. DA IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA
No processo do trabalho o valor da causa tem dupla finalidade: fixar alçada e servir de base
para cálculo das custas judiciais, não vinculando o Magistrado no momento de eventual
condenação. Considerando o teor dos pedidos formulados pelo autor, tenho que o importe dado à
causa não parece excessivo. Ademais, não se há de confundir o valor dado a causa (montante
patrimonial perseguido pelo obreiro) com a prosperidade dele, esta sem índole preliminar, mas
eminentemente meritória. Rejeito.
2.4. DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE
O autor assevera que laborou de 03/05/04 a 30/10/17 para reclamada e exercia na data de
demissão a função de mecânico especializado; que trabalhava em ambiente nocivo à sua saúde,
cuja insalubridade restou constatada por meio de perícia realizada nos autos de ação coletiva
aforada pelo Sindicato da categoria, processo nº 0000472-17.2011.5.0.0027.
Esclareceu ainda o acionante que “Durante o vínculo laboral não percebeu adicional de
insalubridade e, por equívoco na ação coletiva autuada sob o nº 0000472-17.2011.5.07.0027, que
tramitou na 1ª Vara do Trabalho da Região do Cariri, não foi inserido no rol de substituídos
beneficiados com a ação coletiva.”
Postula pagamento de “Adicional de Insalubridade grau máximo 40% - 10/2017 - 11/2013”
e reflexos.
A reclamada pugna pela improcedência do pleito aduzindo haver “manifestos erros
constantes no laudo pericial utilizado como prova emprestada no presente feito, posto que
diferentemente do aduzido no referido laudo, o Reclamante recebeu os EPI`s, fichas ora acostados,
necessários para exclusão dos efeitos dos agentes insalubres de acordo com PPRA`s, em
anexo ....”.
Acerca da prova emprestada (documento ID 5c4d162 – fls. 96/166), consubstanciada na
perícia técnica realizada para avaliar as condições e meio ambiente laboral dos substituídos no
processo 0000472-17.2011.5.0.0027, resta certo que a reclamada Itapuí Barbalhense Indústria de
Cimento S/A (1ª reclamada naquele feito) foi condenada a pagamento de diferenças do adicional de
insalubridade tendo o perito nomeado, o Engenheiro Civil e de Segurança do Trabalho, Daniel
Walker Almeida Marques Junior, CREA/CE nº 14.378 – D, realizado inspeção nas dependências da
reclamada por setores, assim justificando o expert:
“Com o objetivo de facilitar a aplicação dos conceitos para elaboração desse Laudo no
que diz tange às diferentes atividades existentes nas empresas, os cargos foram divididos
em Grupo Homogêneo de Exposição (GHE), que poderão conter na sua composição um
único cargo ou mais de um, desde que expostos aos mesmos agentes agressivos. Os locais
avaliados encontram-se todos localizados nas dependências da 1ª e 2ª Reclamadas e são
compostos pelos seguintes ambientes”.
Infiro da prova documental coligida aos autos e materializada pelo contrato de trabalho,
demonstrativos de pagamentos, ficha funcional do obreiro, cartões de ponto e CTPS obreira que o
demandante foi inicialmente contratado como mecânico, sendo promovido à função de mecânico
especializado em 01/09/07, permanecendo nessa condição até a sua dispensa, ocorrida em
01/12/17. Mostrou-se ainda incontroverso que o acionante sempre laborou na área de mecânica.
Acerca das condições ambientais de labor, o senhor perito classificou as funções
desempenhadas pelo acionante no setor de Manutenção/Mecânica (fls. 125/127), assim dispondo:
MANUTENÇÃO/MECÂNICA
DESCRIÇÃO DO AMBIENTE DE TRABALHO:
A área da Manutenção Mecânica está situada em galpão próprio, dotado de piso
cimentado, provido de cobertura em telhas de fibrocimento e paredes em alvenaria. Há
iluminação natural, através de aberturas, complementada por iluminação artificial, através
de lâmpadas fluorescentes, inadequadamente espaçadas. A ventilação é exclusivamente
natural. O prédio é equipado com sistema de combate a incêndio (extintores).
Lubrificador Industrial
Movimentar/armazenar lubrificantes industriais; Serviços de limpeza / lubrificação de
equipamentos industriais; Preencher documentos e relatórios da área; Zelar e manter os
recursos disponíveis; Limpeza de equipamentos / áreas.
Acerca dos fatores insalubres, o profissional concluiu que a submissão do reclamante aos
riscos físicos (ruído, vibração, calor, óleos e graxas) excediam os limites toleráveis, não sendo
completamente eliminados mesmo com o uso de EPI's que, inclusive, em algumas situações
estavam com certificado de aprovação(CA) vencidos, para assim concluir:
“Considerando-se a função, local e condições de trabalho, as atividades desenvolvidas,
pelo(s) ocupante(s) desse GHE, mantém contato cutâneo sistemático com óleos minerais e
estão enquadradas como INSALUBRES EM GRAU MÁXIMO, nos termos da legislação
em vigor.”
O PPRA acostado pela reclamada (fls. 198/298) evidencia que apenas com relação à função
de lubrificador industrial havia reconhecimento de insalubridade em grau máximo (fls. 248),
ficando descaracterizada insalubridade para as demais funções que atuavam na área de mecânica.
Assim, incontroverso nos autos que o autor em nenhum momento recebeu qualquer
adicional a título de insalubridade no exercício da função de mecânico especializado e em que pese
o laudo tenha sido confeccionado em 27/11/16, é importante destacar que a prova técnica envolveu
o período de dezembro/14 a abril/16, ou seja, período em que o reclamante ainda laborava para a
reclamada, sendo igualmente certo que o demandante não se encontra listado no rol de substituídos
do processo nº 0000472-17.2011.5.07.0027.
Não se olvida que o Juiz não está adstrito ao laudo pericial, nos termos do art. 479 do
CPC/15, sendo o perito apenas seu auxiliar, na apreciação de matéria que exija conhecimentos
técnicos especiais. Entretanto, não infirmada a prova técnica por outros elementos de prova,
prevalece a conclusão pericial, mormente quando conclusiva. Deveras, a matéria reveste-se de
cunho técnico, para o qual o perito está habilitado, reputando-se válidas as conclusões por ele
apresentadas, vez que o laudo técnico foi elaborado em conformidade com a legislação e inexiste
nos autos elementos de prova que infirmem tais conclusões.
Por outro lado, a tentativa da reclamada em descaracterizar a insalubridade afirmando haver
erros no laudo, bem como no fato de ter fornecido EPI's eficientes ao autor não encontra lastro na
prova dos autos uma vez que os equipamentos fornecidos eram ineficazes para neutralizar a
nocividade presente no ambiente laboral do obreiro.
Quanto à base de cálculo do adicional de insalubridade, continua ela sendo o salário
mínimo. Tal definição não afronta a Súmula Vinculante n°4 do STF, porquanto aquela E. Corte, em
decisão liminar proferida na Reclamação n° 6.266, da lavra do Exmo. Sr. Ministro Gilmar Mendes,
assentou que no julgamento do RE 565.714/SP ficou decidido que o salário mínimo continuaria
sendo usado como base de cálculo para o adicional em tela, ante a inexistência de norma que fixe
em patamar diverso. Nessa direção, vem se posicionando o TST: