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XI Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XI ENPEC

Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC – 3 a 6 de julho de 2017

Consumismo e cosméticos no ensino de química:


avaliação das contribuições da abordagem CTS

Consumerism and cosmetics in chemical education:


assessment of the STS approach

Ana Carolina Dias de Oliveira


Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática
Universidade Federal de São Carlos, campus Araras
oliveiradiasac@gmail.com

Tathiane Milaré
Universidade Federal de São Carlos, campus Araras
tmilare@cca.ufscar.br

Resumo
O objetivo deste trabalho é descrever e avaliar o desenvolvimento de uma oficina temática
sobre o consumismo de cosméticos com abordagem CTS. Buscou-se investigar quais foram
as contribuições dessa abordagem para o ensino de química e para instigar os participantes a
refletirem e analisarem suas práticas de consumo. As oficinas foram gravadas em áudio e
vídeo e, posteriormente, analisadas. Conclui-se que, durante a realização das atividades, os
participantes demonstraram ações compatíveis com os pressupostos CTS, indicando
potencialidades da oficina para o ensino de química nesta perspectiva.

Palavras chave: oficina temática, CTS, ensino de química.

Abstract
The aim of this paper is to describe and evaluate the development of a thematic workshop on
consumerism of cosmetics with STS approach. We sought to investigate the contributions of
this approach to chemical education and to instigate participants to reflect and analyze their
consumption practices. The workshops were recorded in audio and video and later analyzed.
It was concluded that, during the activities, the participants demonstrated actions compatible
with the STS assumptions, indicating the potential of the workshop for teaching chemistry in
this perspective.

Key words: workshop, STS, chemical education.

Introdução
O consumo é considerado uma condição à sobrevivência da espécie humana e de todos os
outros seres vivos na Terra (Bauman, 2008). No entanto, quando o consumo é realizado para
além da sobrevivência e passa a ser uma necessidade vinculada a desejos e anseios, que

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sustentam a economia capitalista, tem-se o consumismo. Para Bauman (2008), o consumismo


é concebido como uma forma de organização social, oriunda dos desejos dos seres humanos,
está relacionado com a manipulação das pessoas e influencia diretamente o modo de ser e
estar no mundo.
No contexto mundial, o Brasil ocupa a quarta posição como consumidor de cosméticos
(ABIHPEC, 2016). O crescimento do consumo de cosméticos é influenciado por alguns
fatores como o aumento da expectativa de vida, a participação crescente da mulher no
mercado de trabalho, entre outros (ABIHPEC, 2016). A grande maioria dos consumidores de
cosméticos é considerada consumidor compensatório, que estão preocupados com suas
aparências e autoestima e sempre compram para estarem atualizados e dentro da tendência
(ABIHPEC, 2013).
Dentre os recursos utilizados para estimular o consumismo, pode-se destacar a ação agressiva
e intensa das propagandas, que na atualidade são encontradas em todos os veículos de
comunicação. Segundo Brito (2012), a relação existente entre linguagem, comunicação e
economia está intimamente ligada ao consumismo. O autor afirma que a publicidade em uma
sociedade capitalista busca estratégias para criar necessidades entre as pessoas e assim
influenciar a prática do consumismo, o que ocasiona muitos impactos, dentre eles, os
ambientais. Toda forma de consumo gera resíduos e utiliza recursos naturais, assim, uma
alternativa para este problema seria o consumo sustentável (Furriela, 2001).
No entanto, é um grande desafio a mudança de postura de uma sociedade que é estimulada, a
todo o momento, pelas mídias e pelo poder do consumismo. Para Furriela (2001) isso se
relaciona com o fato de as pessoas possuírem dificuldades em compreender e relacionar o seu
consumo com os impactos ambientais. A necessidade de mudanças de atitudes, não só em
relação às práticas de consumo, mas, também em relação a outras ações, poderia ser mais bem
analisada e realizada se as pessoas possuíssem também conhecimentos científicos, quando
necessário, que possibilitassem uma melhor compreensão da situação em questão e das
consequências de suas ações. Nesse contexto, a educação desempenha um papel fundamental.
Por um lado, a educação tem se mostrado como um processo importante para a formação de
cidadãos críticos, capazes de tomar decisões conscientes. Por outro lado, ainda são
necessárias mudanças no ensino de ciências, no que se refere às metodologias de ensino,
materiais didáticos, formação e condições de trabalho dos professores. Uma formação crítica
somente será possível com a aproximação de temas de relevância social com os conteúdos
específicos abordados em aula, deixando o ensino mais significativo.
Um ensino na perspectiva Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) desenvolve o processo de
ensino-aprendizagem baseado nas inter-relações de explicações científicas, planejamentos
tecnológicos e soluções de problemas com tomadas de decisão sobre assuntos de importância
social (Santos; Mortimer, 2001), contemplando as necessidades de formação para as
transformações sociais apontadas anteriormente. Por meio da abordagem CTS, busca-se
desenvolver a tomada de decisões das pessoas, envolvendo valores relacionados às
necessidades humanas como, por exemplo, o questionamento do sistema capitalista que
coloca seus interesses acima dos demais (Santos, 2007). No que se refere à temática
cosméticos, a formação crítica pode proporcionar às pessoas embasamento para discutir,
analisar e exigir leis que gerenciam as produções e resíduos das indústrias de cosméticos. Para
isso, é necessário desenvolver um ensino contextualizado e comprometido com os
pressupostos dessa abordagem.
Três objetivos são apontados por Santos (2007, s/p) para a contextualização na abordagem
CTS: i) “desenvolver atitudes e valores em uma perspectiva humanística diante das questões
sociais relativas à ciência e à tecnologia”; ii) “auxiliar na aprendizagem de conceitos

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científicos e de aspectos relativos à natureza da ciência” e iii) “encorajar os alunos a


relacionar suas experiências escolares em ciências com problemas do cotidiano”. Assim,
observa-se a importância do planejamento na abordagem CTS para que contemple seus
aspectos. Santos e Schnetzler (2015) afirmam que é difícil encontrar uma proposta que
contemple todos os aspectos e objetivos da abordagem CTS, no entanto, a escolha de
determinadas temáticas pode auxiliar nesse processo.
O tema consumismo de cosméticos parece possuir potencialidade para desenvolver a
abordagem CTS no ensino de química, com o objetivo de contribuir para a formação de
cidadãos críticos capazes de tomar de decisões, uma vez que se trata de uma questão que
envolve aspectos políticos, ambientais, científicos e sociais. No entanto, não há muitos
trabalhos que abordam este tema. Em levantamento bibliográfico realizado nos periódicos
Ciência & Educação; Química Nova na Escola; Revista Brasileira de Pesquisa em Educação
de Ciências e Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências, do ano de 2010 até a última
publicação de outubro de 2016, e nas atas do VII ao X Encontros Nacionais de Pesquisa em
Educação em Ciências (ENPEC) foram poucos os trabalhos (Bencze; Lyn; Krstovic, 2014;
Martins; Souza, 2015) encontrados sobre o tema.
Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é descrever e avaliar o desenvolvimento de uma
oficina temática sobre o consumismo de cosméticos com abordagem CTS. Buscou-se
investigar as seguintes questões de pesquisa: como o ensino de química pode contribuir para a
reflexão sobre a prática do consumo das pessoas? Quais são as contribuições da abordagem
CTS realizada para instigar os participantes a refletirem e analisarem suas práticas de
consumo?
Com o intuito de contribuir para a construção da cidadania, do pensamento crítico e para a
tomada de decisão dos cidadãos, a oficina temática é considerada com grande potencial de
atingir tais objetivos, no sentido de possuir características pedagógicas importantes, tais
como: levar em consideração os conhecimentos dos participantes; abordar conteúdos
específicos através de contextualização; relacionar conhecimentos químicos com outros
campos do conhecimento e fazer dos participantes agentes ativo na construção do seu
conhecimento (Marcondes, 2008). Além disso, possibilita o diálogo entre professor e
participantes, fator importante no processo de ensino–aprendizagem, pois os participantes
manifestam suas dúvidas e opiniões, e o professor atua como um mediador no processo na
construção do seu conhecimento (Marcondes, 2008).
Tendo seu tempo de duração planejado e sendo um ambiente não-formal de ensino, as
oficinas não limitam o desenvolvimento do processo de construção do conhecimento, como
muitas vezes ocorre na escola, devido ao tempo de duração das aulas. A divulgação científica
e a divulgação da universidade também podem ser exploradas como aspectos positivos das
oficinas. Por meio dela, é possível desmitificar a ideia de ciência presente somente em
laboratórios e abordar questões importantes e curiosas do dia-a-dia ou que não são cotidianas,
mas possuem grande relevância social. As oficinas oferecidas no ambiente universitário
trazem a comunidade para a universidade e constituem um oportuno momento de divulgação
científica e do ensino superior.

Aspectos Metodológicos
Levando em consideração o potencial da oficina temática para atingir o objetivo de formação
crítica e tomada de decisão, reflexão, argumentação, entre outras, optou-se em desenvolver
uma oficina temática com o intuito de abordar conteúdos específicos da química de forma
contextualizada, problematizada e interativa, tornando a aprendizagem mais significativa. O

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desenvolvimento da oficina intitulada “Além da Beleza: consumismo, química cosmético”,


com 3 turmas e 29 participantes no total, ocorreu no âmbito de um projeto de extensão
“Oficinas Temáticas sobre Química e Cidadania” da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar).
As oficinas foram filmadas e os participantes elaboraram textos e responderam questionários.
Os vídeos, textos e respostas aos questionários constituíram as informações e dados para o
trabalho de investigação, que foram analisados por meio de categorias de acordo com a
Análise de Conteúdo (Bardin, 2009). A oficina foi desenvolvida em nove etapas descritas a
seguir.
Inscrição – A inscrição ocorreu por meio virtual e através da mesma foi possível coletar
informações para caracterizar os participantes e levantar suas ideias inicias a respeito dos
conceitos principais que seriam abordados na oficina. A maioria dos participantes era
estudantes de nível superior ou do médio, possuía idade entre 17 a 27 anos e morava na
mesma cidade da universidade.
Indo às compras – Com o objetivo de estimular a participação ativa e a interação entre os
inscritos, foi montada uma loja fictícia com cartas com imagens de cosméticos com
diversas finalidades, e os participantes poderiam realizar suas “compras”. Os produtos
que os participantes adquiriram nessa etapa da oficina foram guardados pelos próprios
participantes para discussão em um momento posterior.
Propagandas - Levando em consideração a influência que a propaganda pode provocar na
prática do consumismo, buscou-se na internet comerciais que divulgassem produtos
cosméticos e que apresentassem a ideia de poder, fama e sucesso associados ao seu uso.
Essas propagandas foram apresentadas aos participantes nesse momento da oficina, com
a intenção de abordar a influência das propagandas em relação à prática do consumismo.
História dos cosméticos - Esse momento da oficina foi elaborado com o objetivo de
proporcionar uma visão histórica da utilização e desenvolvimento dos cosméticos. Foi
feita uma apresentação de forma dialogada com os participantes e com uso de slides.
Atividades práticas - Para as atividades práticas, buscou-se experimentos que utilizassem
materiais alternativos e de fácil acesso, de forma que os participantes tivessem autonomia
na realização das práticas. Desta forma, foram estabelecidas quatro atividades práticas: i)
Perfumes e seus óleos essenciais; ii) Sal no xampu! Leitura de rótulos; iii) Por que o
sabonete limpa? e iv) Protetor Solar protege do que? Para todas as atividades práticas
foram elaboradas fichas que foram dispostas nas bancadas e continham informações
necessárias para o desenvolvimento da atividade.
Vídeo - Com o intuito de buscar um instrumento de problematização para a questão do
consumismo de cosméticos foi apresentado aos participantes o vídeo “A história dos
Cosméticos” do projeto intitulado “The Story of Stuff”.
O que você realmente está comprando - Momento de discussão e retomado os produtos que
foram adquiridos na loja fictícia no início da oficina, e disponibilizado fichas presentes
no guia ambiental da ABIHPEC que apresentam alguns dos resíduos gerados pela
produção de diferentes cosméticos. Essa análise e discussão teve a intenção de promover
questionamentos em relação ao conhecimento prévio do que mais está sendo consumido
e produzido ao comprar um produto.
Questões relevantes - A elaboração desta etapa foi feita com o propósito de enfatizar alguns
pontos polêmicos envolvidos com a temática de cosméticos e que poderiam contribuir
para a reflexão, além de promover o debate para que seja possível a construção de

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tomada de decisão e atitude crítica pleiteada pela abordagem CTS. Desta forma, foram
escolhidas matérias sobre o alto consumo de água para produção de cosméticos, a
biopirataria, os testes em animais e o consumismo.
Propaganda na real - A atividade para conclusão da oficina visou possibilitar um debate nos
grupos. Foi proposto aos grupos que elaborassem uma propaganda em forma de cartaz,
levando em consideração tudo o que foi discutido durante a oficina e o que mais eles
considerassem importante em uma propaganda “ideal” de cosméticos.

Analisando a oficina
Considerando os nove aspectos da abordagem CTS apresentados por McKavanag e Maher
apud Santos e Schnetzler (2015) como categorias de análise, verifica-se que a oficina
contemplou todos eles em diversos momentos, conforme apresentado no Quadro 1.

Aspectos de CTS Esclarecimentos Como foi contemplado na oficina

História dos cosméticos.


Atividades Práticas.
Ciência é uma busca de
1. Natureza da
conhecimentos dentro de uma O que você “realmente” está comprando?
Ciência
perspectiva social.
Questões relevantes.
Propaganda na real.

Tecnologia envolve o uso do História dos cosméticos.


conhecimento científico e de outros
2. Natureza da Atividades Práticas.
conhecimentos para resolver
Tecnologia
problemas práticos. A humanidade Questões relevantes.
sempre teve tecnologia.

A sociedade é uma instituição História dos cosméticos.


3. Natureza da
humana na qual ocorrem mudanças
Sociedade Questões relevantes.
científicas e tecnológicas.

História dos cosméticos.


4. Efeitos da A produção de novos conhecimentos O que você “realmente” está comprando?
Ciência sobre a tem estimulado mudanças
Tecnologia tecnológicas. Questões relevantes.
Propaganda na real.

Indo às compras.
Propagandas.
5. Efeitos da A tecnologia disponível a um grupo
Tecnologia sobre a humano influencia grandemente o História dos cosméticos.
Sociedade estilo de vida do grupo.
O que você “realmente” está comprando?
Questões relevantes.

Vídeo a história dos cosméticos.


6. Efeitos da Através de investimentos e outras História dos cosméticos.
Sociedade sobre a pressões, a sociedade influencia a
Ciência direção da pesquisa científica. O que você “realmente” está comprando?
Questões relevantes.

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Aspectos de CTS Esclarecimentos Como foi contemplado na oficina


Propaganda na real.

História dos cosméticos.


Os desenvolvimentos de teorias Atividades Práticas.
7. Efeitos da
científicas podem influenciar o
Ciência sobre a O que você “realmente” está comprando?
pensamento das pessoas e as soluções
Sociedade
de problemas. Questões relevantes.
Propaganda na real.

Pressões dos órgãos públicos e de História dos cosméticos.


8. Efeitos da empresas privadas podem influenciar
Questões relevantes.
Sociedade sobre a a direção da solução do problema e,
Tecnologia em consequência, promover
mudanças tecnológicas.

Vídeo a história dos cosméticos.


9. Efeitos da A disponibilidade dos recursos História dos cosméticos.
Tecnologia sobre a tecnológicos limitará ou ampliará os
Ciência progressos científicos. O que você “realmente” está comprando?
Questões relevantes.

Quadro 1 - Nove aspectos da abordagem de CTS na oficina temática (Fonte: Mckavanag e Maher apud Santos e
Schnetzler, 2015, p.69 (adaptado)).

Santos e Schnetzler (2015, p.95) apontam a escassez de trabalhos que avaliam os cursos de
CTS, mas apresentam as seguintes áreas de domínio de ciência para avaliação de uma
abordagem CTS propostos por Yager e McCormack (1989): i) Conhecimento e compreensão
(domínio da informação); ii) Exploração e descoberta (domínio do processo da ciência); iii)
Imaginação e criação (domínio da criatividade); iv) Sensibilização e valorização (domínio de
opiniões) e v) Uso e aplicação (domínio de aplicações e conexões). Considerando estas áreas,
foram elaborados os seguintes indicadores para a análise dos vídeos das oficinas:
1) Conhecimento, compreensão, uso e aplicação – exemplos compartilhados pelos
participantes, gesticulações, expressões e falas que indicam o domínio de
conhecimento e o estabelecimento de relações entre os conhecimentos discutidos e as
suas vivências.
2) Exploração e descoberta – momentos de exploração por parte dos participantes,
levantamento e teste de hipóteses, observação e análise de resultados.
3) Imaginação e criação – momentos de expressão de criatividade.
4) Sensibilização e reflexão – falas, opiniões e discussões diante das problemáticas
levantadas, que tiveram como objetivo promover a reflexão.
Ao analisar as filmagens da oficina, foi possível identificar episódios em todos os quatro
indicadores estabelecidos. Os participantes demonstraram compreensão e envolvimento
(indicador 1) quando interagiram a todo o momento com gesticulações frente aos
questionamentos feitos como, por exemplo, se eles acreditavam que a utilização de
cosméticos sempre foi da maneira que é atualmente eles se pronunciaram com frases como
“Ah, acho que deveria existir perfume, sabonete, aromas, alguns produtos assim”. Em muitos
momentos durante a apresentação da parte histórica dos cosméticos foi possível notar
gesticulações dos participantes como se estivessem concordando com o que estava sendo
apresentado. Alguns questionamentos foram levantados, como uma participante que

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questionou os efeitos para a saúde da utilização de pó faciais com metais pesados. A


elaboração de questões remete à reflexão sobre o que está sendo abordado, desta forma,
constitui indício de que conhecimentos estavam sendo construídos ou que relações estavam
sendo estabelecidas. Também se verificou o indicador 1 nos questionamentos sobre o motivo
das diferenças entre os perfumes e respostas como “É por causa da matéria-prima, quanto
mais matéria-prima mais caro”, revelando a interpretação feita pelos participantes da tabela
com composição dos perfumes exibida em um dos slides.
Analisando as atividades práticas das oficinas, a fim de identificar aspetos que as
enquadrariam no indicador (2) exploração e descoberta, verificou-se o envolvimento dos
participantes com as práticas realizadas e como estavam compenetrados em compreender as
informações oferecidas nas fichas para poderem desenvolver as atividades. Além disso,
notou-se a contínua discussão entre os grupos durante as práticas. A análise indica que foi um
momento que possibilitou liberdade aos participantes para explorarem os materiais e testes
realizados e discutirem entre si, formando opiniões e levantando debates a respeito dos
resultados obtidos. O momento de descoberta, por exemplo, foi identificado quando
realizaram o teste de pH do xampu, concluindo que as informações apresentadas nos rótulos
são inadequadas. A avaliação desse momento de prática indica a contribuição das atividades
experimentais para estimular a percepção investigativa e de curiosidade dos participantes em
buscarem maneiras de saberem o que consomem e utilizam como cosméticos.
Indicadores de sensibilização e reflexão (4) foram identificados nos momentos entre a
exibição do vídeo “A história dos cosméticos” e o final da oficina. Os participantes não
conheciam o vídeo e permaneceram concentrados durante sua exibição. Nesse contexto, o
quanto o uso vídeo foi efetivo na problematização da questão da utilização e consumismo de
cosméticos. Em momentos posteriores, quando foram questionados sobre o teste de
cosméticos em animais, diversos participantes gesticularam indicando que parariam de
utilizar uma marca se descobrissem que faziam testes em animais.
Outro momento em que o indicador 4 foi verificado refere-se à apresentação de reportagens
sobre beleza e produção sustentável de cosméticos. Os participantes foram questionados sobre
até que ponto uma legislação, que facilita os estudos de matérias-primas da Amazônia, é
sustentável. Segundo a resposta de uma das participantes: “Não. E provavelmente só acharam
essa opção porque a matéria-prima deles acabou, porque se encontrassem outra opção não
se importariam com a extinção da espécie”. Essa resposta é um exemplo da reflexão e o senso
crítico da participante sobre o conteúdo apresentado.
Os cartazes produzidos pelos grupos no final da oficina foram os objetos de análise para o
indicador (3) de imaginação e criação. Todos os cartazes expressaram a preocupação dos
grupos com os testes em animais, com a apresentação de informações claras e objetivas sobre
o cosmético que seria consumido, indicando rótulos com informações que eles consideravam
importantes, e com as questões ambientais como, por exemplo, quando indicaram qual o tipo
de matéria-prima utilizada. Durante a explicação, alguns participantes mencionaram que seria
necessário saber se a empresa possui projetos de sustentabilidade em relação a essa matéria-
prima. Essa associação de problemas ambientais com o consumo de cosméticos foi afirmada
em outros momentos da oficina como algo que era desconsiderado pelos participantes
inicialmente, indicando a reflexão realizada e, talvez, uma possível mudança de pensamento.

Contribuições para a reflexão sobre práticas e atitude de consumo


Os dados analisados foram obtidos por meio das respostas dadas por 27 participantes ao
questionário final. Todos os participantes afirmaram terem gostado da oficina que os fez

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repensarem o uso dos cosméticos. Em relação aos motivos que levaram os participantes a
gostarem da oficina, 60% vincularam suas respostas à mudança em relação à prática de
consumo de cosmético, como percebemos nas respostas “A Oficina nos ajuda a ampliar o
campo de visão de determinados produtos, nos proporcionando pensar antes de consumir.”;
“Trouxe novas informações, foi uma oficina muito crítica, fazendo com que os alunos
refletissem sobre o tema.”; “Achei super informativa nos trouxe vários questionamentos que
não nos atentamos.”. Essas respostas demostram as contribuições que a oficina com a
abordagem CTS proporcionou aos participantes. Eles refletiram sobre suas práticas de
consumo e os impactos das suas atitudes para toda a sociedade, ou seja, foi estimulada a
formação do senso crítico para a tomada de decisão dos participantes, características que são
objetivos em uma abordagem CTS. Considera-se, portanto, a mudança e reflexão sobre o
consumo uma das categorias de análise dessas respostas.
A criatividade e didática foi outra categoria para as respostas dadas por aproximadamente
22% dos participantes, como é possível observar nas respostas: “Foi bastante didática,
atividades práticas criativas.”, “Dinâmica, informativa, interage c/todos.”. Essas respostas
indicam que os participantes apreciam esse tipo de abordagem e gostam das interações que
são desenvolvidas durante uma atividade mais dinâmica. Cerca de 18% dos participantes
relataram a contribuição em relação aos conhecimentos específicos de química abordados
durante a oficina, fato que comprova que a oficina, além da questão social, contemplou as
questões científicas e tecnológicas.
Quando questionados se a oficina contribuiu para repensarem o uso de cosméticos, três
categorias foram estabelecidas para análise das respostas. A primeira categoria está
relacionada com o consumo consciente, na qual foram enquadradas 33% das respostas que
apresentavam declarações dos participantes sobre como não pensavam sobre a prática de
consumo e que, após a oficina, mudariam essa atitude. É um exemplo de resposta com este
conteúdo: “Agora vou pensar melhor na hora de comprar os produtos, ver suas composições
e comprar só o necessário.” Os participantes conseguiram refletir sobre o consumismo e
pode-se perceber a sensibilização para a mudança de atitude em relação a sua prática, que
antes era feita de maneira impulsiva.
Pelo fato de serem questões discursivas, algumas respostas foram enquadradas em mais de
uma categoria como, por exemplo, “Pelos impactos ambientais e o consumismo”, que
apresenta tanto a preocupação em relação à mudança sobre a prática do consumismo,
categoria anteriormente apresentada, como a segunda categoria que são os impactos
ambientais.
Em relação à reflexão sobre os impactos ambientais relacionados ao uso de cosméticos 56%
das respostas apontaram essa preocupação, sendo que quatro respostas se enquadravam na
categoria de impactos e consumo sustentável, e duas respostas se enquadraram, também, na
categoria de impactos e conhecimento do que se consome. Respostas como “Me fez pensar o
que utilizo e como isso gera algum impacto”, evidenciam que os participantes associaram os
cosméticos que consomem com impactos ambientais e à saúde que ocorrem a todo o
momento. Vale destacar que, na análise das respostas dadas ao questionário inicial, foi
verificada a dificuldade dos participantes em relacionar os impactos ambientais, portanto a
oficina contribuiu para que essas associações fossem criadas.
Conhecer melhor os produtos que está consumindo foi apontado por cerca de nove respostas,
o que representa aproximadamente 33%. Das nove respostas, duas se enquadravam na
categoria de impactos e conhecer melhor os produtos, e duas em consumo sustentável e
conhecer melhor os produtos. A identificação dessas categorias de análise evidenciou a
importância do conhecimento científico para desenvolver a capacidade das pessoas

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“enxergarem com outros olhos” o que significam os compostos e informações dos cosméticos
que consomem e o que isso significa em relação a impactos e o consumo sustentável.

Considerações finais
As abordagens temáticas mostram-se importantes para a abordagem CTS, no entanto, o
estudo de muitos temas que são considerados importantes para a sociedade ainda é incipiente
e o desenvolvimento de materiais para utilização nesse contexto é escasso, como é o caso da
temática desse trabalho, o consumismo. A elaboração de uma oficina temática se mostrou um
trabalho que exige bastante organização e planejamento para que o foco na abordagem CTS
não seja perdido e que todos os aspectos que caracterizam essa abordagem sejam atendidos.
Através da análise dos vídeos e questionários, foram identificadas evidências de que a oficina
contribuiu para a reflexão dos participantes sobre suas práticas de consumo e sobre como a
atitude de cada um gera consequências para toda a sociedade. Além disso, todos os
indicadores utilizados como avaliação da abordagem CTS também foram identificados. Desta
forma, a abordagem CTS por meio da oficina temática mostrou-se ferramenta satisfatória na
contribuição em relação à reflexão sobre práticas de consumo e sobre as consequências que
essas atitudes podem gerar para toda a sociedade, pois através da construção de
conhecimentos científicos, mais especificamente os químicos, foi possível apesentar diversas
informações e proporcionar aos participantes reflexões sobre a questão do consumismo e seus
impactos. Com isso, os participantes puderam ter mais embasamento para poderem construir
suas opiniões e tomar decisões, seja em relação à maneira de consumir um cosmético, como
também no que se refere à necessidade de leis e fiscalização do setor cosmético visando um
desenvolvimento sustentável.

Referências
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<https://www.abihpec.org.br/novo/wp-content/uploads/PANOMARA-DO-SETOR-2016.pdf
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