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Este documento é cópia do original assinado digitalmente por JOAO LUIZ DE CARVALHO BOTEGA. Para conferir o original, acesse o site http://www.mpsc.mp.br, informe o processo 05.2018.00033608-2
CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

Pesquisa n. 0064/2018/CIJ
Solicitação de Apoio n. 05.2018.00033608-2
Órgão de Origem: 15ª Procuradoria de Justiça Criminal

DIREITO CIVIL. HIPÓTESE DE EXTINÇÃO DO PODER


FAMILIAR. ARTIGO 1.635, INCISO II, DO CÓDIGO
CIVIL. EMANCIPAÇÃO LEGAL EM RAZÃO DO
CASAMENTO. SITUAÇÃO CONCRETA DE UNIÃO
ESTÁVEL. IRRELEVÂNCIA DA EQUIPARAÇÃO DOS
INSTITUTOS. OBRIGAÇÃO DE MATRÍCULA EM
UNIDADE DE ENSINO. RESPONSABILIDADE DOS
GENITORES QUE PERMANECE HÍGIDA
INDEPENDENTEMENTE DA EMANCIPAÇÃO. NORMAS
PROTETIVAS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES.
PREVISÃO CONSTITUCIONAL. APLICAÇÃO A
INDIVÍDUOS LEGALMENTE EMANCIPADOS.
O emancipado não é adulto, tem apenas um rol
restrito de prerrogativas que o autorizam a praticar
alguns atos da vida civil, consoante preveem os
artigos 1.634 e 1635, II, do Código Civil. Entretanto,
permanecem preservados ao adolescente todos os
direitos prescritos na Constituição Federal e no
Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como as
garantias que são próprias de sua idade – e não de
sua condição civil.
Eventual emancipação do adolescente não desonera
os genitores da obrigação de matricular e
acompanhar a frequência de seus filhos no ensino
regular, conforme disciplina o artigo 55 do ECA.

Trata-se de solicitação de apoio encaminhada pela 15ª Procuradoria


de Justiça Criminal, na qual indaga, em apertada síntese, se a união estável
constitui causa de extinção de poder familiar pela via da emancipação legal, ou se o
rol do artigo 1.635 do Código Civil é taxativo e, por conseguinte, "não comporta a
equiparação do casamento com a união estável para fins de extinção do poder
familiar".
A principio, faz-se necessário tecer alguns esclarecimentos de suma
relevância ao estudo do caso narrado pelo consulente.
e o código 10E7D85.

Com efeito, impende ressaltar que os direitos fundamentais das


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crianças e dos adolescentes são resguardados não apenas pela Constituição


Federal, que concede a esse público, em seu artigo 227, prioridade absoluta na
efetivação das garantias que lhes foram conferidas, como por diploma próprio, qual
seja, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual foi construído com o ensejo de
consubstanciar efetiva e específica proteção a esse público.
Diante disso, cumpre esclarecer inicialmente que as normas
consignadas no Estatuto da Criança e do Adolescente devem preponderar sobre
aquelas trazidas pelo Código Civil, dada sua especialidade.
Ademais, cumpre frisar que coube ao Código Civil estipular as
hipóteses que configuram a extinção do poder familiar, como também aquelas que
ensejam a emancipação legal.
Nesse sentido, em consulta ao artigo 1.635 do diploma civil, denota-
se que ele elenca situações que justificam o ajuizamento de demanda judicial que
tenha por objetivo a extinção do poder familiar.
Dentre elas, o art. 1.635 do Código Civil enumera em seu inciso II a
emancipação legal como forma de extinção do poder familiar. Senão vejamos:

Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar:


I - pela morte dos pais ou do filho;
I - pela morte dos pais ou do filho;
II - pela emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único;
III - pela maioridade;
III - pela maioridade;
IV - pela adoção;
V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638 (Grifou-se).

Em continuidade ao presente estudo, faz-se necessário observar o


rol do artigo 5º, parágrafo único do Código Civil, que teve o condão de estabelecer
as hipóteses que caracterizam a emancipação legal:

Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa


fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante
instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por
sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
e o código 10E7D85.

V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de


emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos

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completos tenha economia própria (Grifou-se).

Tendo em vista as similitudes existentes entre o casamento e a


união estável, as quais tem ensejado equiparações em diversos ramos do direito, o
questionamento posto pelo consulente se alinha às inseguranças jurídicas que
orbitam o instituto da sociedade de fato.
Ocorre, contudo, que, em que pese as divergências jurisprudências
e doutrinárias que pairam sobre a equiparação no caso em apreço, a conclusão pela
sua possibilidade ou não e, por conseguinte, configuração de hipótese de
emancipação legal e extinção do poder familiar denota-se irrelevante para o seu
deslinde.
Isso porque, ainda que se conclua pelo amoldamento do instituto da
união estável à hipótese de emancipação legal elencada no artigo 1.635, inciso II,
do diploma civil, e, em consequência, de extinção do poder familiar, os efeitos
advindos desses fatos jurídicos não interferirão nos deveres de seus representantes
legais de matriculá-los na rede regular de ensino, bem como zelar por sua
frequência escolar.
E assim se afirma pois o instituto da emancipação motiva a
aquisição pela pessoa emancipada de capacidade civil plena. No entanto, os
deveres dos pais em relação aos filhos irão permanecer, pois aqueles não se
desoneram das obrigações derivadas de direito público subjetivo.
Tanto é assim que a Constituição Federal, em seu art. 227
estabelece que é dever da família assegurar ao adolescente os direitos previstos,
não havendo ressalva quanto à emancipação.
Infere-se ainda da norma citada que ela consubstancia o princípio
da proteção integral, coobriga família, sociedade e Estado no sentido de promover e
viabilizar o direito à educação.
Com efeito, é necessário compreender que a educação é direito
fundamental subjetivo previsto no art. 208, §1º, da Constituição Federal e regido
pelo princípio da dignidade humana, o que resulta em sua imprescritibilidade,
irrenunciabilidade, inviolabilidade, universalidade, efetividade, interdependência e
e o código 10E7D85.

complementaridade.

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O status constitucional conferido à educação significa atribuir-lhe um


maior grau de realização, conferindo a seu titular o poder de invocar a disposição
constitucional a seu favor, permitindo o ajuizamento de ação judicial em caso de
omissão.
A Constituição Federal ocupa o topo da hierarquia do ordenamento
jurídico, servindo como fundamento para todos os ramos do direito. Todas as regras
infraconstitucionais, portanto, devem se adequar à previsão constitucional que
consagra a proteção conferida às crianças, aos adolescentes e aos jovens.
Alinhado a essa premissa protetiva, o Estatuto da Criança e do
Adolescente dispõe, no que concerne às obrigações parentais:

Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e
fazer cumprir as determinações judiciais.
[...]
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou
pupilos na rede regular de ensino.

Infere-se das normas colacionadas que, tanto a Carta Magna, como


o Estatuto da Criança e do Adolescente, diplomas da mais alta relevância na
concessão de direitos protetivos ao público infantojuvenil, não realizaram, em
momento algum, ressalvas em relação a indivíduos emancipados
Desta feita, denota-se que, ainda que o poder familiar seja extinto
em razão da emancipação legal, os deveres dos pais perante seus filhos, como a
educação, na qual se inclui a matrícula em unidade escolar, não são afetados pela
sua emancipação.
Nesse sentido, entendem Josiane Petry Veronese e Mayra Silveira
ao afirmarem em sua obra:

É certo que o instituto da emancipação não possui forças para distanciar os


maiores de 16 anos e menores de 18 anos da proteção especial conferida
pelo Estatuto, todavia, nosso entendimento vai ainda mais longe.
Ao se emancipar um adolescente estar-se-ia abandonando-o civilmente,
deixando-o por si só nas questões relativas à vida civil? Evidentemente que
não. A Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente
garantiram aos menores de 18 anos o instituto da proteção integral, de modo
que, na nossa compreensão, os dispositivos do Código Civil referentes à
emancipação não pode estar desconectados da linha estatutária da proteção
e o código 10E7D85.

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integral.1

É de se ressaltar ainda que a emancipação consiste em instituto do


Direito Civil, previsto no artigo 5º do Código Civil, que se trata, em síntese, da
aquisição da capacidade civil antes da idade prevista na Lei, permitindo, portanto,
considerar a pessoa plenamente apta para a prática dos atos da vida civil, sem
necessidade de assistência ou representação.
Analisando a natureza jurídica das normas, não parece possível que
o direito público subjetivo à educação seja relativizado por interesse jurídico
puramente civil, como é o caso do ato de emancipação.
Soma-se ao argumento, diante do ordenamento jurídico vigente, a
impossibilidade de norma infraconstitucional afastar dever imposto pela Constituição
Federal.
Na doutrina encontramos orientação no mesmo sentido,
especificamente sobre o direito à educação, para o qual:

[...] não há possibilidade de ser transferido nem de a ele renunciar (a


educação obrigatória é dever do indivíduo, CF, art. 208, I); não pode
ser violado, sob pena de responsabilização administrativa, civil e
criminal (o não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público
ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade
competente, assim como é dever dos pais e responsáveis zelar pela
frequência à escola, CF, art. 208, §§ 1º e 2º) [...] é interdependente e
complementar a outras previsões constitucionais [...] desenvolvimento
da pessoa para o exercício dos demais direitos civis, políticos,
econômicos, sociais e culturais CF, 205; em relação à criança e ao
adolescente, a Educação é direito e dever de absoluta prioridade
CF, art. 227 etc.).
O direito à Educação, adicionalmente, é dever fundamental da família
e do Estado, mas, sobretudo, do indivíduo2.

[...] Naturalmente, o menor emancipado não perde a proteção integral


e a prioridade absoluta, reconhecidas pelo art. 227 da Constituição
Federal e pelos arts. 1º e 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente,
e que decorrem de critério fundamentalmente etário e absoluto,
consubstanciando uma garantia constitucional que não pode ser
afastada pela iniciativa privada. Pensar em sentido diferente, seria
permitir que os pais negassem ao filho a proteção deferida pelo Texto
Constitucional3.

1 VERONESE, Josiane Petry;SILVEIRA, Mayra. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: Doutrina e


Jurisprudência, Editora Modelo, 2011, p. 31.
2RANIERI, Nina Beatriz Stocco in Justiça pela qualidade na educação. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 76.
3FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Direito civil: teoria geral. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen
e o código 10E7D85.

Juris, 2010, p. 280.

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Em caso semelhante, a fim de ilustrar o confronto da norma


constitucional com o ato de emancipação, traz-se à colação, mutatis mutandis, o
seguinte julgado:

DIREITO CONSTITUCIONAL - DIREITO ADMINISTRATIVO -


APELAÇÃO - MANDADO DE SEGURANÇA - CONCURSO PÚBLICO
- POSSE - IDADE MÍNIMA - 18 ANOS - PREVISÃO NA LEI E NO
EDITAL - ARTIGO 37, INCISO I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL -
EMANCIPAÇÃO - MANUTENÇÃO DA EXIGÊNCIA - RECURSO
DESPROVIDO. Se está prevista no edital e na lei a exigência da
idade de 18 anos para a posse em cargo público, com amparo no
artigo 37, inciso I, da Constituição Federal, tal requisito não pode ser
reputado desarrazoado, já que se refere à idade mínima coincidente
com a maioridade civil, devendo ser mantida a denegação da
segurança. (TJMG - Apelação Cível nº 1.0394.11.002374-1/003,
Relator: Des. Moreira Diniz, 4ª Câmara Cível, julgamento em
05/07/2012, publicação da súmula em 17/07/2012).

Com efeito, a educação, além de se possibilitar a qualificação


profissional, aponta como um instrumento para alcançar outros valores, tais como a
dignidade da pessoa humana e a cidadania, os quais figuram como fundamentos e
objetivos da República Federativa do Brasil, e figuram nos artigos 1º e 3º da Carta
Magna.
Aliado a isso, a formação educacional se apresenta como um
processo, e como tal, se sujeita a etapas determinadas e ordenadas (no caso, a
cronológica) que, a não ser em situações excepcionais, devem ser respeitadas para
que o resultado final não seja comprometido.
Assim sendo, em caso de omissão dos pais, é cabível, no âmbito
penal, a propositura de ação judicial por abandono intelectual, conforme previsão do
artigo 246 do Código Penal.
Outra medida admitida nessa situação, mas na esfera cível, consiste
na responsabilização dos pais mediante a aplicação de medidas de proteção
elencadas no rol do art. 101 e no artigo 129, inciso V, do Estatuto da Criança e do
Adolescente.
No âmbito das infrações administrativas, é cabível ainda o
ajuizamento de ação judicial pelo Ministério Público com o objetivo de sancionar os
pais, nos termos do art. 249 do Diploma Estatutário.
e o código 10E7D85.

Em que pese a possibilidade de manejar ações judiciais, é de se

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destacar que constitui papel da rede de proteção, que envolve as Escolas,


Conselhos Tutelares, Ministério Público e outros órgãos garantir o direito à
educação básica preconizado no artigo 208, inciso I, da Constituição Federal, e
buscar, por todos os meios possíveis, resgatar o aluno infrequente, ainda que
emancipado ou casado, aplicando, se necessário, medidas protetivas previstas no
Estatuto da Criança e do Adolescente.
Como exemplo, caberia o encaminhamento do adolescente para
orientação, apoio e acompanhamento temporários, matrícula e frequência
obrigatórias em escolas, acompanhamento psicológico, solicitação para perdimento
do benefício da bolsa família (própria do adolescente maior de 16 anos), que não
cumpriu com condicionalidade prevista em lei, dentre outras.
E assim se entende pois há de se reconhecer a dificuldade de ações
judiciais individuais para garantir o resgate do aluno infrequente, quando não se
tratar de causa externa, mas do próprio emancipado que se nega a retornar à
escola. Ademais, deve-se questionar sempre quais os motivos reais que levaram o
aluno a abandonar os estudos, que geralmente estão atrelados a falta de um projeto
de vida, a práticas pedagógicas ultrapassadas do educandário, a sua situação
familiar e ao contexto socioeconônico, sociohistórico e sociopolítico em que está
inserido.
Logo, a lógica deve partir não da culpabilização de um sujeito ou de
uma família, mas da utilização do trabalho articulado de toda a rede de proteção
para a conscientização e a superação das dificuldades psicossociais e pedagógicas
que geraram o desestímulo e a desilusão com a educação formal, resguardando-se
a aplicação de multas e penalidades apenas para situações extremas e
excepcionais, quando efetivamente comprovada a negligência ou omissão concreta
dos genitores.
Em que pese sua irrelevância para as conclusões apresentadas,
impende por fim elucidar, apenas a título de esclarecimento acerca dos efeitos da
união estável, que, ao tratar das hipóteses de emancipação, o Código Civil é
taxativo, inexistindo a figura da emancipação do adolescente que vive em união
e o código 10E7D85.

estável.
No mesmo norte aponta a jurisprudência:
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APELAÇÃO CÍVEL. PEDIDO DE EMANCIPAÇÃO. DESCABIMENTO.


1. Se a jovem conta apenas 15 anos de idade, mostra-se descabido o
pedido de emancipação. Inteligência do art. 5º, parágrafo único, inc. I,
do Código Civil. 2. O fato da jovem conviver em união estável não
autoriza o deferimento do pedido, pois a união estável se equipara ao
casamento somente para o fim de constituir família, mas não pode ser
utilizada como motivo para o suprimento da idade para se obter a
emancipação. Recurso desprovido. (SEGREDO DE JUSTIÇA)
(Apelação Cível Nº 70042308163, Sétima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves,
Julgado em 29/06/2011).

Todavia, mesmo que se entenda pela possibilidade da emancipação


por meio da união estável, conforme discorrido acima, igualmente não estão os pais
desobrigados a zelarem pela frequência escolar dos filhos.
A capacidade civil adquirida pela emancipação ou pelo casamento
não elide a incidência do Estatuto da Criança e do Adolescente, conquanto tenha
interfaces com as disposições desta Lei.
O ato emancipatório e o casamento, por óbvio, não conferem
maturidade biopsicológica ao adolescente, ainda que possibilitem seja ele
plenamente capaz de exercer os atos da vida civil, excetuados alguns, em face de
sua condição etária (comprar armas, comprar bebida alcoólica, hospedar-se em
motel).
Portanto, o emancipado não é adulto, tem apenas um rol restrito de
prerrogativas que o autorizam aos atos da vida civil, consoante preveem os artigos
1.634 e 1635, II, do Código Civil.
Entretanto, permanecem preservados ao adolescente todos os
direitos prescritos no Estatuto, bem como as garantias que são próprias de sua
idade – e não de sua condição civil.
Assim, mantém-se a obrigação da sociedade e dos Órgãos Públicos
na efetivação de seus direitos, na proteção contra a negligência, discriminação,
violência e outras formas de atentado, bem como a obrigação de prevenção contra
ameaça ou violação de direitos.
O próprio artigo 2º do ECA, prevê que se considera adolescente
aquela pessoa entre doze e dezoito anos, não excepcionando nenhuma hipótese
e o código 10E7D85.

para restrição deste conceito.

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Conclui-se, portanto, que os adolescentes emancipados não devem


ser tratados de forma distinta daqueles que não o são, no que tange à
obrigatoriedade da frequência escolar, estabelecida no artigo 208, inciso I da Carta
Magna.
Assinala-se, por fim, que as informações técnico-jurídicas deste
Centro de Apoio Operacional, órgão auxiliar da atividade funcional do Ministério
Público, não possuem caráter vinculativo, conforme estabelece o art. 33, inc. II, da
Lei Federal n. 8.625/1993, e art. 54, inc. VI, da Lei Complementar Estadual n.
197/2000, incumbindo ao órgão de execução a análise quanto à pertinência e
aplicabilidade da resposta.

Florianópolis, 03 de julho de 2018.

[assinado digitalmente]
JOÃO LUIZ DE CARVALHO BOTEGA
Promotor de Justiça
Coordenador

e o código 10E7D85.

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