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antropológico contemporâneo
6.1 Campos de investigação
A antropologia não apenas tende a progredir por disjunção em relação à filosofia,
sociologia, psicologia, história... (podendo manter paralelamente canais e espaços de
articulação e confronto), mas avança, dentro de sua própria prática, especializando-se
e instaurando.
Consideramos que uma disciplina científica (ou que pretende sê-lo) não deva ser
caracterizada por objetos empíricos já constituídos, mas, pelo contrário, pela
constituição de objetos formais. Ou seja, a única coisa passível, a nosso ver, de definir
uma disciplina (qualquer que seja), não é de forma alguma um campo de investigação
dado (a tecnologia, o parentesco, a arte, a religião...), muito menos uma área geográfica
ou um período da história, e sim a especificidade da abordagem utilizada que transforma
esse campo, essa área, esse período em objeto científico.
A antropologia americana
Impulsionada principalmente pelo evolucionismo de Lewis Morgan, pode ser
caracterizada da seguinte maneira:
1) Trata-se de uma pesquisa que destaca a diversidade das culturas, as variações
praticamente ilimitadas que aparecem quando se comparam as sociedades entre si.
Esse estudo, conduzido mais a partir da observação dos comportamentos individuais
do que do funcionamento das instituições, visa evidenciar a especificidade das
personalidades culturais de má etnia ou nação;
2) Não se interessa apenas pelos processos de interação entre os indivíduos e sua
cultura, mas também entre as próprias culturas: forjou o conceito de "aculturação";
3). Nunca foi confrontado com problemas de colonização e descolonização, em
contrapartida, aos problemas colocados por suas próprias minorias (negra, índia e porto-
riquenha)
4) Contribuiu desde muito cedo (Boas) para pôr fim a arrogância das reconstituições
históricas especulativas, reatualizou e renovou a abordagem evolucionista, no chamado
neoevolucionismo.
A antropologia britânica
Seu crescimento deve ser relacionado a seu vasto império colonial. Pode ser
caracterizada:
1) É uma antropologia ante evolucionista, dedica-se preferencialmente à investigação
do presente a partir de métodos funcionais (Malinowski) , e, em seguida, estruturais
(Radcliffe Brown): uma sociedade deve ser estudada em si, independentemente de seu
passado, tal como se apresenta no momento no qual a observamos;
2) É anti-ilusionista, o que a opõe à antropologia americana, a qual se preocupa em
compreender o processo de transmissão dos elementos de uma cultura para outra. Para
a maioria dos pesquisadores ingleses uma sociedade não deve ser estudada nem pelo
seu passado, nem pelo que empresta a seus vizinhos;
3) É uma antropologia de campo. Esse caráter empírico se deve a tradição britânica: o
empirismo dos filósofos desse país, que se pode opor ao racionalismo e idealismo
francês;
4) É uma antropologia social, que, ao contrário da antropologia americana privilegia o
estudo da organização dos sistemas sociais em detrimento do estudo dos
comportamentos culturais dos indivíduos.
Antropologia francesa
A preocupação da antropologia francesa estava voltada para a antropologia física
ilustrados pelos trabalhos de Broca, Quatrefages ou Topinard. Esse cenário só vai se
alterar no século XX.
As preocupações francesas estão voltadas para outros aspectos: trata-se desta vez de
preocupações teóricas de filósofos e sociólogos que, sem dúvida, exercerão uma
influência decisiva na constituição científica da etnologia, mas não sustentadas por
nenhuma prática etnográfica.
4) Antropologia estrutural e sistêmica - estudaremos aqui não uma, mas várias correntes
do pensamento antropológico. Uns utilizam um modelo psicanalítico; outros um modelo
proveniente do que Foucault designa como o campo epistemológico da economia;
outros finalmente, os mais numerosos. Escolhem um modelo linguístico, matemático,
cibernético (Lévi- Stauss, Bateson). Mas qualquer que seja o modelo adotado, ele
realiza uma passagem do consciente para o inconsciente: passagem da função para a
norma (Róheim), do conflito para a regra (Mauss), do sentido para o sistema (Lévi-
Strauss).
Para o conjunto dos etnólogos, e para Griaule em especial, esse pensamento simbólico
e as práticas rituais a ele relacionados e que constituem com ele o patrimônio do grupo,
não se caracterizam apenas por sua profunda coerência - os sistemas de
correspondência extremamente precisos entre os vivos e os mortos, o homem e o
animal, a natureza e a cultura.
Críticas não faltaram a essa antropologia que tem de fato tendência a apreender as
representações (religiosas, narrativas, artísticas...) como uma área "à parte". Dedicando
exclusivamente sua atenção ao "sótão", deixando de se interessar pelo que acontece
na "adega", ela efetua a reconstituição dos sistemas de pensamento e conhecimento
em si próprios. As relações que este mantém com as relações sociais, políticas,
econômicas da sociedade em um determinado momento de sua história são
consideradas secundárias, quando não são pura e simplesmente ocultadas.
O que convém destacar também é que essa tendência da etnologia clássica inscreve-
se num projeto de reabilitação das formas de pensamento e expressão que não são as
nossas. Mostra que, fora o saber científico, o único a beneficiar de uma plena
legitimação no Ocidente do século XX, existem outras formas de conhecimento também
autênticas.
Capítulo 8: Antropologia social
A antropologia cultural insiste ao mesmo tempo sobre a diferença das culturas umas em
relação às outras, e sobre a unidade de cada uma delas. A antropologia que
qualificamos de simbólica abre, notadamente através de sua reivindicação
antietnocentrista, uma perspectiva muito próxima da anterior, mas que se empenha em
explorar particularmente um certo número de conteúdos materiais (os mitos, os ritos) e
de estruturas formais (a especificidade das lógicas do conhecimento expressando-se
notadamente através das línguas). A antropologia estrutural, por sua vez, faz aparecer,
como acabamos de ver, uma identidade formal (um inconsciente universal) informando
uma multiplicidade de conteúdos materiais diferentes. O último polo do pensamento e
da prática antropológicos que estudaremos agora aparece como ao mesmo tempo
próximo e diferente da antropologia social clássica. Próximo, porque evidencia a
articulação de diferentes níveis do social dentro de uma determinada cultura. Diferente,
porque opera uma ruptura total com a concepção de Malinowski ou de Durkheim, mas
também de Lévi-Strauss, de sociedades (”primitivas”, ”selvagens” ou ”tradicionais”)
harmoniosas e integradas, em proveito do estudo dos processos de mudança, ligados
tanto ao dinamismo interno que é característico de toda sociedade, quanto às relações
que mantêm necessariamente as sociedades entre si.
Referência: