Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
TÃO
E EDU
CAÇÃ
OA
MB
IEN
TAL
-V
OL
UM
E2
Relatos de
experiências
sobre
a questão
ambiental.
RELATOS DE EXPERIÊNCIAS SOBRE
A QUESTÃO AMBIENTAL
2001
Apoio:
Coordenação: Cheila Aparecida Gomes Bailão
Diretora do Departamento de Resíduos Sólidos do Semasa
CDD - 363.728
- 628.442
- 628.445
GESTÃO E EDUCAÇÃO
AMBIENTAL
VOLUME 2
Trechos da carta escrita em 1854 pelo chefe índio SEATTLE ao então presidente dos Estados
Unidos, Franklin Pierce, “ o grande chefe branco de Washington”, que pretendia comprar uma
imensa faixa territorial de sua tribo prometendo em troca uma “reserva”.
7
Índice
Apresentação 9
Introdução 10
A Vovó e a Floresta 11
O Bicho Homem 13
Agenda 21 Global - uma agenda positiva 23
De Olhos Bem Fechados 38
Santo André Recicla e o Projeto Brincarte 39
Usina de Triagem e Reciclagem de Papel 45
Projeto Oficinas de Arte - Educação em Litografia e Gravura 56
Projeto Atlas Ambiental do Município de São Bernardo do Campo 60
Projeto Ação Cultural Wickbold sobre Preservação do Meio Ambiente 62
Projeto Máquina da Vida 65
Relato de um Programa-Piloto: Educação Ambiental, Escola e Tamanduateí 67
Creche Profª Marina Gonçalves Ulbrich 78
Escola Rural e Urbana: Comparações entre o Aprendizado de Alunos
do Ciclo Básico Sobre Educação Ambiental 86
Santo André e Takasaki - cidades irmãs, em cada lado do mundo 101
Condomínio Urbano 103
Graffiti Nossa Parte 105
Internacionalização da Amazônia 110
Dados da Equipe - 2001-2004 112
8
Apresentação
Sistematizar, produzir e reproduzir o conhecimento é tarefa essencialmente humana.
Com esta tarefa é possível o aperfeiçoamento da capacidade generosa que tem um homem de
ajudar outro homem.
A perspectiva desse aperfeiçoamento nos leva a contribuir, embora em pequena escala,
com mais este livro para a divulgação das práticas de Gestão e Educação Ambiental vividas
por diferentes grupos em Santo André e em outros municípios.
As práticas aqui apresentadas apontam caminhos da preservação do ambiente para as
gerações futuras, principalmente mostram a necessidade de ampliarmos a rede de relações
pela qual as pessoas, multiplicadoras dessas idéias, possam estabelecer uma troca sistemática
de informações. Troca onde reciprocidade e solidariedade, tanto entre homens quanto com a
natureza, sejam princípios.
Princípios estes que estão registrados no artigo primeiro da Declaração Universal dos
Direitos Humanos: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São
dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de frater-
nidade”. E é com este espírito que, temos certeza, garantiremos a eternidade da vida em nosso
planeta Terra.
MAURICIO M. MINDRISZ
Diretor Superintendente
Semasa - Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André
9
Introdução
Em 1998 o Programa ReciproCidade Agradável/Coleta Seletiva e Reciclagem lançou
o livro “Gestão e Educação Ambiental – Reflexões sobre a questão ambiental e sugestões de
atividades pedagógicas”. Um livro para servir de apoio ao trabalho pedagógico na rede de
educação de Santo André, procurando envolver professores, alunos e a comunidade em geral
no processo de reflexão sobre a questão ambiental.
Dando continuidade apresentamos neste livro relatos de experiências de educação e
gestão ambiental, que envolvem as questões de inclusão social, resgate cultural e o combate
à violência urbana. Os projetos apresentados buscam soluções para questões que são,
hoje, problemas sócio-ambientais graves para as cidades e, também, determinantes para o
“desenvolvimento sustentável”.
Através de coleta seletiva e reciclagem visando à inclusão social e geração de renda
podemos envolver pessoas carentes, desempregados, dependentes químicos, moradores de
rua e adolescentes que vivem em situação de vulnerabilidade pessoal e social.
Cada experiência tem sua característica própria, e poderá servir como exemplo e
também como parâmetro para outras experiências enfocando problemas similares. As atividades
culturais e educacionais que envolvem arte-recicladores, arte-educadores e renomados
artistas da região, que têm a generosidade de contribuir voluntariamente, enriquecem ainda
mais as experiências.
O Poder Público, na busca de soluções concretas, com a participação dos diversos
atores sociais, poderá construir uma Santo André Cidade Futuro cada vez mais agradável para
se viver.
10
A Vovó e a Floresta
– Olha, que lindo: ali tem ecologia!
Esta expressão foi utilizada pela avó de um amigo meu quando, em viagem pelo Estado de
São Paulo, avistou uma pequena área florestada no meio de um pasto a perder de vista.
De uma simples frase como esta podemos tirar algumas conclusões interessantes a respeito
de como as pessoas encaram a temática ambiental. Em primeiro lugar observamos que as pessoas
têm admiração pela natureza (pelo menos a avó de meu amigo tem); o ser humano sempre
admirou o que é belo, embora ainda não saiba definir objetivamente o que é beleza (em algumas
tribos africanas, quanto mais obesas forem as mulheres, mais bonitas estas serão consideradas). A
segunda conclusão decorre do trecho “ali tem ecologia”. Encarar uma área de floresta como algo
que tem ecologia é uma atitude completamente equivocada, visto que ecologia é uma ciência que
estuda a relação entre os seres vivos, e entre estes e o ambiente físico (solo, temperatura, lumi-
nosidade, umidade etc.) no qual estão inseridos. A ecologia é uma ferramenta para compreen-
dermos estas relações existentes dentro de um ambiente, mas não faz parte do próprio ambiente.
O que, no fundo, a avó de meu amigo queria expressar, é que aquele local (a floresta) era
bem diferente do local em que ela (a avó) vivia (a cidade): enquanto na floresta predominam o ar
gostosamente respirado, as árvores, cantos de aves, sons de bichos se remexendo nos arbustos, na
cidade predominam o ar malcheiroso (pense num passeio pela Marginal numa tarde ensolarada
de verão), os prédios, as buzinas dos carros e o medo da violência. É um confronto entre um ambi-
ente natural e um outro completamente moldado pelo homem. Desta forma é compreensível que
ela tenha atribuído à floresta o título de ecologia, pois esta palavra comumente nos invoca essas
imagens e sensações agradáveis relacionadas à natureza.
A conclusão final, e que me parece a mais importante, que podemos tirar da frase citada é
que as pessoas não se sentem inseridas dentro de um meio ambiente. Esta é outra confusão
comum, pois normalmente as pessoas acham que meio ambiente é o lugar onde existem animais,
plantas e todas as outras formas que atribuímos como pertencentes à natureza, e que se traduzem
em uma imagem um tanto quanto idealizada, como um paraíso.
O que todos precisam entender é que meio ambiente compreende tudo que existe no local
onde vivemos, e não algo que está localizado aqui ou ali. A casa onde cada um mora, o local de
trabalho, as ruas em que caminhamos: tudo o que está inserido nestes espaços constitui o nosso
meio ambiente. O fato de não encararmos que possuímos um ambiente próprio e que nossas
relações com ele afetam a todos que dele compartilham nos torna alienados e menos cidadãos.
As relações ecológicas também existem dentro da cidade e até mesmo dentro de nosso corpo:
pense nos parasitas que todos temos ou já tivemos.
Nas cidades nos relacionamos com todo o ambiente construído e com a flora e fauna
também, embora estas sejam bem diferentes daquelas encontradas na floresta. Além disso, tudo o
que consumimos afeta direta ou indiretamente os ambientes naturais. A picanha que comemos
11
veio do animal que, para se sustentar, necessitou de uma grande área de pastagem. Desta forma,
a floresta vista pela vovó, cedeu grande parte de seu território para que as vaquinhas pudessem
pastar e desfrutar de sua gramínea refeição.
Todos nossos hábitos cotidianos provocam um impacto no ambiente. Assim somos os
responsáveis pela nossa qualidade de vida. Infelizmente, parece que percebemos isto apenas no
que diz respeito aos nossos lares. O lixo deve sair da minha casa, pois cheira mal. Depois que sair
da nossa frente ele não mais existe. E eis que o lixo ressuscita na tela da TV com a imagem de crianças
miseráveis pastando nos lixões de nosso país. Triste, mas parece que já nos acostumamos. Nossa
comoção perante estas cenas talvez seja uma forma de expurgar nossos pecados, ou seja, nossa
parcela de culpa em todo o processo. Infelizmente, é muito menos doloroso conviver com este
peso na consciência do que nutrir-se do lixo.
Embora muitos digam o contrário, penso que nossa índole humana é extremamente egoísta,
e tem se tornado cada vez mais materialista. Se não, como explicar por que atearam fogo em um
índio que dormia ao relento, e justamente no dia do índio? E a destruição brutal da Mata Atlântica,
que hoje possui apenas 7% de sua cobertura original? Embora a avó de Cabral não estivesse na
esquadra para expressar o que ela sentiria naquele momento, esta foi a primeira paisagem avistada
pelos portugueses. É bastante incômoda esta observação no momento em que celebramos
recentemente os 500 anos do Brasil. Quando estudamos História, ficamos chocados ao ver que
tiranos como Átila e Hitler invadiram com seus exércitos os territórios alheios. Usando da força
bruta, submetiam as nações invadidas (e riquezas inclusas) ao seu poder. Horrível, mas por que
não sentimos tanta indignação ao perceber que foi o que ocorreu neste país? Os “descobridores”
(invasores é o mais correto) e aqueles que o sucederam (nossos ancestrais e nossa própria geração)
reduziram uma população indígena de, aproximadamente (segundo a FUNAI), cinco milhões de
índios a pouco mais de trezentos mil. E ainda tem gente que acha que eles já possuem muita terra.
Soma-se hipocrisia ao egoísmo e cobre-se tudo com o véu da ignorância.
Só nos resta tornarmo-nos menos ignorantes e alienados e modificarmo-nos para mudar os
rumos deste dito mundo globalizado, em que as pessoas são vistas apenas como produtos para o
mercado de trabalho. Esta transformação, que é a verdadeira alquimia, é muito difícil, porém é
vital e tem que ocorrer. Caso contrário será um suicídio lento e coletivo, e a avó de meu amigo
não vai “ver ecologia” em mais lugar nenhum.
a roda
a bússola
o papel
o navio
a tipografia
a máquina a vapor
14
Esta revolução redefiniu completamente as formas de apropriação dos recursos naturais
e a ocupação do ambiente natural.
A partir daí, nos últimos 150 anos, acentua-se a divisão social do trabalho com a
separação radical entre quem “pensa” e quem “faz”. A terra passa efetivamente a ser consi-
derada uma mercadoria, desenvolve-se o Capital, o Mercado e surge o trabalho assalariado.
O homem passa a fazer de sua força de trabalho também uma mercadoria. Surgem os sem-
terra, sem-teto, sem-trabalho...
Inicia-se o processo de migração do campo para as cidades, de uma região para outra
e os centros urbanos passam a se constituir em reservatórios de mão-de-obra.
Esta era de grande miséria e opulência é analisada por Eric Hobsbawm, historiador
inglês, no livro A Era dos Extremos - Breve século XX, 1914-1991. (Ed. Companhia das Letras.
1995).
Ele divide a história do século em três “eras”. A primeira, “da catástrofe”, época das
grandes guerras, da revolução russa, do nazismo e do fascismo, da crise econômica de 1929.
A segunda era corresponde aos “anos dourados” das décadas de 50 e 60, que trouxeram, a
partir da extraordinária expansão econômica e das profundas transformações sociais geradas
pelo capitalismo, a ilusão da melhoria da qualidade de vida.
Entre 1990 e 1991 acontece a era do “Desmoronamento”, época da brutalização da
política e de irresponsabilidades teóricas da Economia mundial, abrindo, segundo ele, as por-
tas para um futuro incerto, caso a humanidade não mude a sua trajetória.
Élio Gaspari escreveu em 1995: “neste século mataram mais seres humanos que em
qualquer outra época e nele se chegou a níveis de bem-estar e a transformações jamais
vistas na experiência humana”. (O Estado de São Paulo).
Nesse intervalo da história a produção industrial cresceu mais de cem vezes nos últimos
cem anos, beneficiando cada vez mais um número menor de pessoas.
Os habitantes das cidades estão ameaçados de não ter água limpa para beber, e a vida
nos mares, rios e florestas está ameaçada pela poluição e extinção das espécies, inclusive de
alguns humanos, como exemplo os índios brasileiros. Em 1500 eram 5 milhões de índios.
Hoje, são 250.000, com diversos grupos em extinção.
A poluição do ar nas cidades, onde vive mais da metade da população mundial, mata
milhares de pessoas anualmente; ameaça a camada de ozônio provocando o aquecimento da
atmosfera e o derretimento do gelo polar.
A terra está doente com tanta destruição e principalmente porque 75% dos seus
habitantes vivem na pobreza, muitos deles na miséria absoluta.
15
O BICHO HOMEM E O PLANETA TERRA
•Será o garimpeiro o principal responsável pela contaminação dos rios, quando usa o
mercúrio no processo de obtenção do ouro, ou quem compra e usa jóia de ouro, ou quem explo-
ra o mercado do ouro?
Como e onde vão morar essas pessoas? Do novo bilhão a nascer, 100 milhões nascerão
em países desenvolvidos e 900 milhões em países do chamado terceiro mundo, onde se inclui
o Brasil. Nesses países a maior parte da população mora na pobreza e na miséria, carente de ali-
mentação, saúde, educação, emprego e habitação.
Até 50 anos atrás, a maior parte da população brasileira vivia dispersa no campo. Em 20
anos, de 1970 a 90, 16 milhões de brasileiros deixaram as áreas rurais rumo às cidades.
Atualmente, 75 em cada 100 brasileiros vivem em áreas urbanas. (década de 90)
O Dilema: Explosão demográfica ou concentração de pessoas em determinados locais em
busca de melhores condições de vida?
No Rio de Janeiro, de cada 3 habitantes, um mora em favela, como em São Vicente - SP.
Em Belo Horizonte, de cada 4, um mora em favela.
As Regiões Metropolitanas podem ser comparadas a uma gigantesca máquina de moer
recursos naturais: ar, água, solo, petróleo e derivados, minérios, gás, vegetais etc.
Outro Dilema: O estoque de recursos naturais é limitado. A concentração de pessoas provoca:
O Consumo dos 20% de pessoas mais ricas comparado com o consumo das 20% pessoas
mais pobres é:
19
ÍNDICES DE CONSUMO ENTRE PAÍSES
fonte - STRAHN, R.H. - Subdesenvolvimento - Por que somos tão pobres? Petrópolis - RJ, Ed. Vozes - 1991
“Qualidade de vida, hoje, é o acesso às condições da vida moderna para todos, com a
conservação e preservação da natureza para as gerações futuras”.
Objetivos
• Resgatar a importância da História do homem e sua responsabilidade em relação às
gerações futuras;
• Discutir as diferenças dos níveis de desenvolvimento das sociedades, suas diferenças de
classes e as relações do homem com o homem e com a natureza;
• Discutir a sociedade de consumo, seus valores e conseqüências para o ser humano e a
vida na Terra;
• Discutir o mundo de referências das pessoas – o individual e o coletivo;
• Garantir o direito de participação, de eleição e seleção de critérios;
21
• Estimular o trabalho em grupo, em equipe, coletivo;
• Estimular a investigação e a produção de conhecimento;
• Fazer das atividades um prazer, uma atividade lúdica;
• Garantir a formação do cidadão – reconhecer os direitos e deveres.
Estratégias
• Construir e Reconstruir, num processo de ação e reflexão, o conhecimento sobre a
realidade, superando a visão fragmentada sobre a mesma. Visão Holística / Interdisciplinar.
• Fortalecer a ação coletiva, a organização social que proporciona a compreensão indi-
vidual e coletiva da problemática ambiental em toda a sua complexidade.
• Estimular a Vida em comunidade. Valorização do Grupo, da Equipe e da Tribo.
• Agir em conjunto com a sociedade civil organizada construindo novas relações dos
homens, entre si e deles com a natureza. Resgatando a solidariedade entre os homens e o
respeito à natureza.
Bibliografia
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos - O Breve Século XX - 1914-1991. Ed. Companhia das
Letras, São Paulo, 1995.
ATLAS DO MEIO AMBIENTE DO BRASIL - EMBRAPA. Ed. Terra Viva. Brasília, 1994.
QUINTAS, José Silva. A Questão Ambiental – um pouco de história não faz mal a ninguém.
Cópia. IBAMA. Brasília, 1995.
22
Agenda 21 Global - uma agenda positiva
Um compromisso de todos com um mundo mais saudável
Em 1992, no Rio de Janeiro, aconteceu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento – ECO/92. Representantes de 178 países assinaram um acordo, a
Agenda 21. O principal objetivo deste acordo é a prática de um novo modelo de desenvolvi-
mento: O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
• Economicamente viável
• Socialmente justo, e
• Ambientalmente equilibrado
Surgia assim, um novo conceito de desenvolvimento. O mundo passou a pensar que além
da preservação do verde e animais em extinção, as questões ambientais estão diretamente ligadas
ao consumo, habitação, pobreza, saúde, transporte...
E é com essa visão ampliada que a Agenda 21 propõe ações de planejamento integrado.
O documento busca o equilíbrio entre desenvolvimento econômico, social, ambiental e tec-
nológico, garantindo assim a qualidade de vida e a sobrevivência do planeta no século XXI.
Economia, Reaproveitamento, Criatividade, Trabalho em Equipe e Solidariedade são valores
que devem ser estimulados para atingir as mudanças éticas e de comportamento que possam
preservar a Natureza para as gerações futuras e garantir a eternidade da vida no Planeta Terra.
A humanidade encontra-se em um momento de definição histórica. Defrontamo-nos com
a perpetuação das disparidades existentes entre as nações e no interior delas, o agravamento da
pobreza, da fome, das doenças e do analfabetismo, e com a deterioração contínua dos ecossis-
temas de que depende nosso bem-estar. Caso se integrem as preocupações relativas a ambiente e
desenvolvimento e a elas se dedique mais atenção, será possível satisfazer às necessidades bási-
cas, elevar o nível de vida de todos, obter ecossistemas melhor protegidos e gerenciados e
construir um futuro mais próspero e seguro.
A Agenda 21 reflete um consenso mundial e um compromisso político no que diz respeito
a desenvolvimento e cooperação. O êxito de sua execução é responsabilidade, antes de tudo, dos
Governos. Para concretizá-la, são cruciais as estratégias, os planos, as políticas e os processos
nacionais. Nesse contexto, o sistema das Nações Unidas tem um papel fundamental a desem-
penhar. Outras organizações internacionais, regionais e sub-regionais também são convidadas a
contribuir para tal esforço. A mais ampla participação e o envolvimento ativo das organizações
não-governamentais e de outros grupos também devem ser estimulados.
23
CAPÍTULO 21
MANEJO AMBIENTALMENTE SAUDÁVEL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS E QUESTÕES
RELACIONADAS COM OS ESGOTOS
INTRODUÇÃO
Capítulo 4
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 18
25
CAPÍTULO 4
MUDANÇA DOS PADRÕES DE CONSUMO
CAPÍTULO 6
PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DAS CONDIÇÕES DA SAÚDE HUMANA
26
a) Satisfação das necessidades de atendimento primário da saúde, especialmente na zonas rurais
A saúde depende, em última instância, da capacidade de gerenciar eficazmente a interação
entre os meios físicos, espiritual, biológico e econômico/social. É impossível haver desenvolvi-
mento saudável sem uma população saudável; não obstante, quase todas as atividades voltadas
para o desenvolvimento afetam o ambiente em maior ou menor grau e isso, por sua vez, ocasiona
ou acirra muitos problemas de saúde. Por outro lado, justamente a ausência de desenvolvimento
tem uma ação daninha sobre a saúde de muitas pessoas, fato que apenas o desenvolvimento tem
condições de mitigar. Por si própria, a área de saúde não tem como satisfazer suas necessidades e
atender seus objetivos; ela depende do desenvolvimento social, econômico e espiritual, ao mesmo
tempo em que contribui diretamente para tal desenvolvimento. A área de saúde também depende
de um ambiente saudável, inclusive da existência de um abastecimento seguro de água, de
serviços de saneamento e da disponibilidade de um abastecimento seguro de alimentos e de
nutrição adequada.
CAPÍTULO 7
PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DOS ASSENTAMENTOS
HUMANOS
Nos países industrializados, os padrões de consumo das cidades representam uma pressão
muito séria sobre o ecossistema global, ao passo que no mundo em desenvolvimento os assenta-
mentos humanos necessitam de mais matéria-prima, energia e desenvolvimento econômico sim-
plesmente para superar seus problemas econômicos e sociais básicos. Em muitas regiões do
mundo, em especial nos países em desenvolvimento, as condições dos assentamentos humanos
vêm se deteriorando, sobretudo em decorrência do baixo volume de investimentos, imputável às
restrições relativas a recursos com que esses países se deparam em todas as áreas.
O objetivo geral é melhorar a qualidade social, econômica e ambiental dos assentamentos
humanos e as condições de vida e de trabalho de todas as pessoas, em especial dos mais pobres
de áreas urbanas e rurais.
CAPÍTULO 18
PROTEÇÃO DA QUALIDADE E DO ABASTECIMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS:
APLICAÇÃO DE CRÉDITOS INTEGRADOS NO DESENVOLVIMENTO, MANEJO E USO DOS
RECURSOS HÍDRICOS
AGENDA 21 BRASILEIRA
A Agenda 21 Brasileira tem por objetivo definir uma estratégia de desenvolvimento sus-
tentável, a partir de um processo de articulação e parceria entre o governo e a sociedade. Nesse
sentido, o processo de elaboração da Agenda 21 Brasileira vem sendo conduzido pela Comissão
de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 (CPDS), a partir de critérios e premis-
sas específicas, que privilegiam uma abordagem multissetorial da realidade brasileira e um plane-
jamento a longo prazo do desenvolvimento.
A metodologia de trabalho para a Agenda 21 Brasileira selecionou as áreas temáticas que
refletem a nossa problemática sócio-ambiental e definiu a necessidade de proposição de novos instru-
mentos de coordenação e acompanhamento de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável.
A escolha dos seis temas centrais da Agenda 21 Brasileira foi feita de forma a abarcar a
complexidade do país, dos Estados, municípios e regiões dentro do conceito da sustentabilidade
ampliada permitindo planejar os sistemas e modelos ideais para o campo, através do tema
32
Agricultura Sustentável, e para o meio urbano, com as Cidades Sustentáveis; para os setores
estratégicos de transportes, energia e comunicações, questões-chave do tema Infra-estrutura e
Integração Regional; para a proteção e uso sustentável dos recursos naturais, o tema Gestão
dos Recursos Naturais; para reduzir as disparidades sociais, o tema Redução das
Desigualdades Sociais; e para a Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável.
A necessidade de ampliar a participação dos diversos setores da sociedade brasileira no
processo de construção da Agenda 21 Brasileira gerou um documento básico, para subsidiar
uma rodada de debates estaduais, deflagrada em setembro de 2000. Esse documento-síntese,
denominado Bases para Discussão, foi publicado e distribuído pelas Secretarias de Estado de
Meio Ambiente das vinte e sete unidades da federação às entidades e instituições dos setores
governamental, civil organizado e produtivo.
No período de setembro/2000 a maio/2001, o Ministério do Meio Ambiente e a CPDS
promoveram vinte e seis debates estaduais, durante os quais foram apresentadas e consen-
suadas 5.839 propostas referentes aos seis eixos temáticos da Agenda 21 Brasileira.
Participaram dos debates estaduais da agenda, 3.880 representantes de instituições e entidades
dos setores citados.
Após a conclusão da rodada dos debates estaduais, está prevista a realização dos cinco
Encontros Regionais da Agenda 21 Brasileira, durante os quais serão consolidadas as propostas
por região. Consultores e especialistas renomados participarão dessa etapa auxiliando nos tra-
balhos de consolidação. Os encontros regionais serão reuniões de trabalho fechadas, com
duração de dois dias por região, e deverão ser realizados no período de junho a agosto/01.
Serão convidadas cerca de dez entidades e instituições por Estado para participar dos encon-
tros, cabendo a definição dos participantes às secretarias de Estado de Meio Ambiente e dos
apoiadores do processo de elaboração da Agenda 21 Brasileira, sendo eles: Banco do Brasil,
Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia, Banco Regional de
Desenvolvimento do Extremo Sul, Sudene e Sudam. Ao final dos cinco encontros regionais,
será concluído o processo de elaboração da agenda.
AGENDA 21 LOCAL
*Principais conferências realizadas pela ONU: Infância, em Genebra (1990); Meio Ambiente e
Desenvolvimento Humano - ECO/92, no Rio de Janeiro (1992); População e Desenvolvimento, no Cairo (1994);
Pobreza e Desenvolvimento Social, em Copenhague (1995); Assentamentos Humanos - Habitat II, em Istambul (1996);
Mulheres, em Beijing, China (1997)
34
COMO DAR INÍCIO À AGENDA 21 LOCAL
O Projeto Cidade Futuro é uma proposta de planejamento para Santo André, com par-
ticipação ativa da comunidade, para os próximos 20 anos – Agenda 21 Local – visando a atin-
gir um desenvolvimento integrado e sustentável (econômico, social e ambiental). Este planeja-
mento trabalha com nove eixos fundamentais de discussão: Desenvolvimento Econômico,
Desenvolvimento Urbano, Qualidade Ambiental, Inclusão Social, Educação, Identidade
Cultural, Reforma do Estado, Saúde e Combate à Violência Urbana. Cada um destes eixos é
tratado por um Grupo de Trabalho (GT) que reúne técnicos do governo municipal e os cidadãos
35
interessados (os grupos são permanentemente abertos à participação). A coordenação dos
Grupos é composta por um(a) Secretário(a) Municipal e por uma pessoa da sociedade civil.
Além disso, a estrutura do projeto é composta por um Grupo Coordenador (fórum
consultivo) composto por aproximadamente 85 pessoas, do governo e de diferentes segmentos
da sociedade civil, de diferentes partidos políticos (representantes da comunidade,
empresários de diferentes segmentos, sindicalistas, artistas, educadores, ambientalistas etc.);
por uma Executiva composta pelas coordenações dos Grupos de Trabalho(GT’s) mais um
grupo de cidadãos indicados pelo Grupo Coordenador. Para dar suporte operacional ao
Projeto foi constituída uma Coordenadoria no âmbito da administração pública, ligada ao
Gabinete do Prefeito.
A instância deliberativa do Cidade Futuro é a Conferência da Cidade realizada uma vez
por ano, onde votam os delegados do Projeto (integrantes dos GT’s, do Grupo Coordenador,
da Executiva).
De setembro de 1999 até abril de 2000, os GT’s produziram diretrizes e metas para cada
eixo; com base nesses relatórios, uma Comissão de Sistematização elaborou um único docu-
mento que foi enviado para aproximadamente 720 delegados que, individualmente, puderam
fazer emendas. Foram propostas 120 emendas. O documento e as emendas foram votados na
Conferência da Cidade, em abril de 2000 e os resultados constituiram o documento Cenário
para um Futuro Desejado, que estabelece as principais diretrizes e metas para a cidade.
A partir de 2001, a tarefa dos GT’s será estabelecer as ações de curto prazo e os
indicadores que permitam aferir as metas estabelecidas (cabe assinalar que várias ações do
governo municipal já foram realizadas considerando o contexto de discussões do Cidade
Futuro). Também a partir de agora, o Cidade Futuro e o Orçamento Participativo passarão por
um processo de articulação.
Além destas formas de participação, o projeto investe em vários outros e diversificados
mecanismos de participação da comunidade: consultas, reuniões nas comunidades, oficinas
nas redes escolares, Mostra Universitária. As propostas apresentadas são sistematizadas e
repassadas aos Grupos de Trabalho.
36
OS NÚMEROS DO PROJETO
Capacitação de Professores da
Rede Municipal
(oficinas de teatro de fantoches) 114 professores
37
De Olhos Bem Fechados
As conseqüências das atividades humanas são inúmeras, no entanto, duas manifestações
decorrentes dessas atividades não encontraram, ainda, soluções sócio-ambientais politicamente
corretas na grande maioria dos países em desenvolvimento: a fome e o lixo.
A diferença entre elas é que o homem, com capacidade de adaptar-se a todas as
condições, não consegue viver com fome e sobreviver a ela, porém, é capaz de viver no lixo e
sobreviver dele.
Hoje, no Brasil, na maioria das cidades, milhares de pessoas, homens, mulheres, adultos,
crianças, matam sua fome a partir da catação nos lixões e nas ruas. Trata-se de um grande e per-
verso sistema de coleta seletiva, tanto nos lixões como nas ruas, ancorado no setor informal do
trabalho por meio da exploração da miséria.
A cadeia informal de sucateiros e catadores abastece o mercado de resíduos no Brasil, um
negócio de sucesso em nossa economia, uma vez que estamos entre os maiores países reci-
cladores de latas de alumínio do mundo e de metal ferroso da América Latina.
Parcela significativa da sociedade brasileira encontra-se de olhos bem fechados para isso
que tem sido a principal temática do Fórum Nacional Lixo e Cidadania que, aqui no ABC, tem
como meta principal o tema “Criança no lixo nunca mais!”.
Além desse grande desafio, outros deverão ser enfrentados: o desconhecimento acerca do
que acontece com o lixo após ser depositado na nossa porta; o equívoco de atribuir a respon-
sabilidade da destinação de resíduos apenas ao poder público municipal, enquanto Governo do
Estado, grandes geradores como indústrias, hipermercados e shopping-centers ou geradores de
resíduos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, também são responsáveis pelo tratamento e
destino final de seus resíduos.
Felizmente, a nova legislação ambiental, políticas integradas de gestão de resíduos sóli-
dos, programas de coleta seletiva e participação popular conseqüentes com a nossa realidade
são instrumentos para atingirmos outras perspectivas para o novo milênio, com a co-respon-
sabilidade de todos sobre a geração e destinação dos resíduos.
Aos poucos, a sociedade do Grande ABC está se empenhando em viabilizar atividades
humanas que, necessariamente, deixam de gerar fome e resíduos que não tenham condições de
serem tratados de forma social e ambientalmente segura, o que já se percebe na adesão às ações
municipais de promoção da inclusão social e cidadania, para que no futuro próximo não feche
os olhos para a fome, nem jogue o nosso lixo para debaixo dos viadutos ou ao longo dos rios e
córregos da cidade.
O projeto Brincarte, desenvolvido no ano de 1998 pela Prefeitura de Santo André, foi
coordenado pela Secretaria de Serviços Municipais - Programa ReciproCidade Agradável –
Coleta Seletiva/Reciclagem, em parceria com a Secretaria de Cultura, Esportes e Lazer e asses-
sorado pela brinquedista Roselene Crepaldi, acompanhada pela estagiária Viviani Aparecida
Zornetta.
O projeto teve por objetivo discutir, propor e fazer com multiplicadores o resgate da
arte de brincar fazendo brinquedos.
As oficinas ocorreram na EMIA - Escola Municipal de Iniciação Artística Aron Feldman –
Parque Regional da Criança (Av. Itamarati, s/nº-) todas as quintas-feiras pela manhã. Além disso
foi possível atender também docentes (PEB I) da 2ª- Delegacia de Ensino de Santo André,
moradores da comunidade onde situa-se a Estação Bosque na Vila Guiomar, monitores e coor-
denadores dos centros comunitário vinculados ao Departamento de Cultura, Esporte e Lazer
– Departamento de Lazer e moradores da associação Centreville em Santo André.
Os multiplicadores, educadores em geral, tornaram-se com este trabalho agentes, em
seus setores de atuação, da Secretaria da Educação e Formação Profissional, da Cidadania e
Ação Social, da Secretaria de Cultura, Esportes e Lazer; arte-recicladores, representantes de
associações comunitárias, podendo desenvolver atividades junto aos centros comunitários,
escolas de samba, instituições assistenciais ou religiosas e outros locais onde a arte de brincar
e fazer brinquedos pudesse ser proporcionada.
No decorrer do processo, estimulou-se a criação de brinquedotecas em locais onde
são desenvolvidas atividades por meio dos projetos coordenados pela Prefeitura ou pela
comunidade, desde que o responsável tivesse participado do processo de instrumentação do
presente projeto.
Tal proposta contou com a orientação pedagógica da brinquedista que criava, a partir
de um trabalho interdisciplinar e integrador, um espaço para expressão cultural infantil. Um
dos projetos concretizados foi a brinquedoteca implantada no Educandário Espírita Cristão
Simão Pedro (Rua Timor, 331 – Parque Novo Oratório – Santo André) que atende semanal-
mente crianças e adultos integrados ao programa de coleta e construção de brinquedos.
39
PROJETO BRINCARTE
AVALIAÇÃO
41
O projeto teve a oportunidade de promover, ainda, uma mudança de postura dos multi-
plicadores envolvidos, que passaram a adotar comportamentos domésticos diferenciados, ou
seja, iniciaram um trabalho de separação e limpeza do material coletado em suas próprias
residências, além de se tornarem divulgadores de tais concepções.
A ausência de um local fixo para exposição e utilização dos brinquedos produzidos
durante o projeto, a falta de integração com as escolas municipais e a impossibilidade de implantar
efetivamente uma brinquedoteca municipal, foram alguns do elementos que cercearam uma
maior irradiação do projeto.
A brincadeira é o alimento da personalidade que está se formando, contudo, faltam opor-
tunidades. O projeto Brincarte trouxe-nos novas perspectivas. A brinquedoteca tornou-se para
estes multiplicadores, espaço onde todas as crianças vão chegando para brincar, para resgatar
brincadeiras, para compartilhar momentos de alegria.
Criar brinquedotecas permite a todas as crianças o acesso ao brinquedo, possibilitando
sobretudo aos de baixa renda o contato com o brinquedo. Esta foi uma oportunidade que também
se apresentou ao adulto consciente, desde o educador de rua até os lideres da sociedade, que
puderam trazer de volta um dos direitos de ser criança: brincar.
Elaboração do Projeto
CHEILA APARECIDA GOMES BAILÃO
ROSELENE CREPALDI
VIVIANI APARECIDA ZORNETTA
43
Bibliografia
BROUGERE, G. Brinquedo e cultura, São Paulo: Cortez, 1995
BRUNER, J.S. Juego. Pensamiento y lenguaje. Perspectivas, [S.L.] v. 16, n.1,p.79-86.1986.
CUNHA, N.H. Brinquedo, desafio e descoberta,[S.L.], MEC,1986.
FRIEDMANN, A et al. O direito de brincar: a brinquedoteca. São Paulo: Scritta,1992.
KISHIMOTO,T.M. Jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 1994.
________(org) Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez,1996.
MARQUES, F. Carretel de Invenções, [S.L.]: AMEPPE, [entre 1990-2001].
MACHADO,M.M. O brinquedo: a sucata e a criança. São Paulo: Loyola, 1995.
SANTOS, S.M.P. Brinquedoteca: sucata vira brinquedo. São Paulo: Artes Médicas, 1994.
________(org.) Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. Petrópolis: Vozes, 1997.
WEISS, L. Brinquedos & engenhoca: atividades lúdicas com sucata. 2.ed. São Paulo: Scipione,
1997.
Aspectos gerais da limpeza urbana em São Paulo. Cadernos Limpurb. PMSP, 1997.
CEMPRE. O sucateiro e a coleta seletiva, (Cadernos de reciclagem), Rio de Janeiro,1996.
A coleta seletiva na escola (Cadernos de reciclagem),Rio de Janeiro,1997.
PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANDRÉ. Reciprocidade Agradável: coleta seletiva/reciclagem.
Santo André, 1998.
44
Usina de Triagem e Reciclagem de Papel
A crise ambiental em todo o mundo, os valores de desperdício da sociedade de consumo
e a degradação do meio ambiente em nossa região requerem a implementação de processos
de Educação Ambiental, não somente para crianças em idade escolar, mas para toda a comu-
nidade.
Economia, Reaproveitamento, Criatividade, Trabalho em Equipe e Solidariedade são
valores que devem ser estimulados para que possamos atingir as mudanças éticas e de
comportamento que possam preservar a Natureza para as gerações futuras. Isso significa
garantir a eternidade da vida no Planeta Terra.
Com estes princípios foi desenvolvida a proposta de implantação da Usina de Triagem e
Reciclagem de Papel para a preparação de multiplicadores da idéia e organização preliminar
de grupos de trabalhadores autônomos para início do processo de sensibilização, reaproveita-
mento e reciclagem de papel resgatando o projeto Salva Papel implementado pelo Consórcio
Intermunicipal do Grande ABC no período de 1989-1992.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
•Estimular a criação e aprendizado de técnicas de reciclagem de papel interagindo arte
e economia como princípios para a vida cotidiana.
•Sensibilizar e capacitar recursos humanos, como agentes multiplicadores dos princípios
de reaproveitamento e reciclagem de papel, de modo a estimular a preservação e conservação
dos recursos naturais.
•Auxiliar, com o desenvolvimento da criatividade e educação ambiental, melhoria de
condições socioeconômicas das pessoas envolvidas.
47
Nessas oficinas, na conversa informal, semidirigida, pode-se trabalhar questões impor-
tantes como sexualidade, drogas, AIDS, auto-estima, desenvolvimento global e cidadania, de
forma a contribuir para um novo projeto de vida, para a volta à escola e para a escolha do
primeiro emprego.
Através das oficinas, os adultos e crianças atendidos no CAPS buscam estreitar a
amizade e a solidariedade, fortalecendo o laço social com seus familiares e a comunidade.
Benefícios Alcançados
• Auxiliar, com o desenvolvimento da criatividade e da educação ambiental, a melhoria
de condições socioeconômicas das pessoas envolvidas;
• Proporcionar condições para uma atitude permanente de criatividade, economia,
reaproveitamento, reciclagem de objetos e/ou matéria-prima e fabricação de papéis de modo a
estimular a preservação e/ou conservação dos recursos naturais;
• Reabilitar pessoas à sociedade, resgatando a auto-estima de segmentos da sociedade
como os dependentes químicos, as mulheres vitimadas e pessoas de rua, bem como o forta-
lecimento do ego dessas pessoas, a fim de que possam se auto-afirmar como membros da
comunidade, criando alternativas de trabalho e possibilidade de fontes de renda.
Transferência
• A experiência foi absorvida e implementada em outros municípios da região, desta-
cando-se, principalmente, o apoio ao Projeto Araçari em São Bernardo do Campo, que também
trabalha com adolescentes.
• A cidade de Ferraz de Vasconcelos implementou, com nosso apoio, um programa que
recebeu recursos do Governo Federal, através do Programa “Comunidade Solidária”.
• O serviço funerário da cidade de São Paulo quer implementar um trabalho similar e
poderá contar com o apoio da Usina.
50
Participação em diversos eventos, como segue:
• Bloco de Carnaval – Criança 2000, fantasias e carro alegórico com adereços produzidos
em papel reciclado (Fevereiro/2000)
• Atividades de relações humanas: “Há tempo para tudo” – música “Aquarela” de
Toquinho e Vinícius de Moraes (Fevereiro/2000)
• Oficina de Litografia Pedra e Arte com o mestre impressor Roberto Gyarfi no Salão de
Exposição do Teatro Municipal, na qual produziram uma gravura de Aldemir Martins em papel
reciclado. O trabalho foi doado ao Acervo Cultural de Santo André (Março/2000)
• Oficina Brasil 500 anos, com o artista reciclador João do Lixo, produção de caravelas
com papel reciclado (Abril/2000)
• Oficinas de percussão – produção de instrumentos com o artista reciclador e músico
Jefferson Sooma (Abril e Julho/2000)
• Visita ao Senai Artes Gráficas – Mooca, SP (Abril/2000)
• Participação na Feira Cultural, na EMEI Vila Sá (Abril/2000)
• Atividades de preparação para as comemorações do Mês do Ambiente (Maio/2000).
• Participação no evento “Revolucionarte” na Casa da Palavra – recepção e venda de
produtos à filósofa e professora Marilena Chauí (Maio/2000)
• Visita a trabalhos de artes plásticas do Colégio Objetivo (Maio/2000)
• Atividades de inauguração do Corredor Cultural, expondo objetos produzidos na Usina
e a obra de arte realizada em parceria com Roberto Gyarfi e Aldemir Martins (Maio/2000)
• Comemoração do Dia Internacional do Meio Ambiente com a doação ao Acervo
Cultural da cidade da obra de arte realizada em papel reciclado por aprendizes da Usina,
Roberto Gyarfi e Aldemir Martins. Ato solene de entrega da obra ao Prefeito Municipal no Salão
Nobre do Gabinete do Paço Municipal (Junho/2000)
• Participação na Santo André-Expo, no Pavilhão De Nadai (Julho/2000)
• Exposição de trabalhos produzidos na Usina no Seminário Internacional do Mercosul,
realizado pela ABDL – Assoc. Brasileira Desenvolvimento de Liderança (Julho/2000)
• Abertura oficial das oficinas do Projeto de Reciclagem de Papel Artesanal com o apoio
da Fundação Alcoa, com apresentação de Rap feito pelos adolescentes e dança (Julho/2000)
• Produção de papel para o Projeto Registros Cartográficos, conduzido pela Secretaria
de Cultura, Esportes e Lazer com a coordenação do mestre impressor Roberto Gyarfi
(Agosto/2000)
• Recepção das TV Cultura e Globo SAT para filmagens e entrevistas sobre as ações que
envolvem o Projeto Alcoa (Agosto/2000)
• Participação no Projeto Revolucionarte – Casa da Palavra, com apresentação de
51
dança e canto coral de Rap composto por dois adolescentes da Usina (Agosto/2000)
• Produção de produtos e participação com stand de comercialização na 2ª- Feira do
Verde de Santo André – “ABC Verde” (Agosto/2000)
• Projeto Arte Educação em Litografia e Gravura para os adolescentes e outros interessa-
dos com o acompanhamento do mestre impressor Roberto Gyarfi (Setembro a Dezembro/2000)
• Visita à exposição de artes plásticas e artes aplicadas em papel artesanal – Fundação
Mokiyi Pkada, projeto KAMORI (Outubro/2000)
• Participação na feira cultural do Colégio Cidade dos Meninos de Santo André
(Outubro/2000)
• Participação na filmagem do vídeo – SEMASA – Programa de Coleta Seletiva apresen-
tado na premiação “Governos Locais Ajudando a Construir um País mais Justo – Histórias de
um Brasil que funciona” e relacionado dentre 950 programas e projetos, como uma das 20 me-
lhores práticas de Política Pública do Brasil, pela Fundação Ford e Fundação Getúlio Vargas
(Outubro/2000)
• Programação de workshop com a empresa Wheaton do Brasil – SBC/SP
(Outubro/2000)
• Produção de papel para o Projeto Registros Cartográficos da Prefeitura de São Bernardo
com a coordenação do mestre impressor Roberto Gyarfi (Outubro/2000)
• Recepção de novas gravuras para o Projeto Aldemir Martins, cedidas generosamente
pelo artista plástico (Outubro/2000)
• Preparação do Evento “Acorda Amor – o despertar para o novo milênio”, a ser anun-
ciado com uma obra de arte do artista plástico Aldemir Martins e executado pelo mestre impres-
sor Roberto Gyarfi, pelo artista plástico Marbé e os adolescentes aprendizes da Usina e Oficinas
de Reciclagem de Papel (Novembro e Dezembro/2000)
• Projeto e preparação de sacolas para as lojas do Projeto Tamar, Shopping ABC – Santo
André, com a coordenação do artista plástico Garcia Filho. (Dezembro/2000)
• Produção de papel e cartões de Natal com silk screen coordenado pelo artista Rubens
Antelmo (Novembro e Dezembro/2000)
• Participação na Feira Cultural do Calçadão da Rua Cel. Oliveira Lima – domingo das
10h às 18h (Novembro e Dezembro/2000)
• Recepção de 14 jovens e assistentes do Projeto Araçari de São Bernardo do Campo
(Dezembro/2000)
• Recepção do artista plástico Evandro Jardim – Projeto Registros Cartográficos
(Novembro/2000)
• Participação da Exposição “Brincadeiras de Papel” realizada pelo SESC Belenzinho/São
Paulo (Maio a Agosto/2001)
52
EQUIPES RESPONSÁVEIS:
53
PARCERIAS
54
Crianças e Jovens
Crianças e jovens numa má companhia
nas ruas da cidade de noite e de dia
começam com vício de fumar, cheirar cola
Que são oferecidas por um homem gravatinha
A jogada ensaiada pela maconha e farinha
Hoje é de graça, amanhã já paga cem,
o ciclo vicioso que não acaba bem
Ele na erva começou, e no pó se acabou
O relógio, ele teve que vender
para comprar a maldita erva do poder
OFICINA DE LITOGRAFIA
Em encontro de “Alemão” com
jovens da Usina de Triagem e Reciclagem de
Papel, que tiveram a oportunidade de fazer
uma oficina de litografia em papel reciclado
(por eles confeccionado), com uma gravura
do artista Aldemir Martins, durante
exposição realizada no Salão de Exposições
da Prefeitura de Santo André no mês de
fevereiro 2000. A referida obra foi doada
pelos adolescentes para o Acervo Cultural
de Santo André. foto: Maria Cristina Borges
56
A partir desse encontro percebeu-se que os adolescentes tinham um potencial de tra-
balho e criatividade que necessita de novas oportunidades, então desenvolveram na Usina de
Triagem e Reciclagem de Papel trabalhos de arte-educação, em especial, técnicas de Litografia
e Gravura. O trabalho visou ensinar aos adolescentes e multiplicadores o conhecimento e
domínio das técnicas, incluindo pesquisa na área.
Os trabalhos foram desenvolvidos de setembro a dezembro de 2000 para os jovens ado-
lescentes e monitores atendidos na Usina de Triagem e Reciclagem de Papel e também para
jovens artistas que queriam ampliar seu conhecimento na Arte de Litografia.
O LITÓGRAFO
É curioso que
um homem tenha amor
à técnica da grava-
ção e dedique as suas
horas de trabalho e os
seus anos de maior
vigor a pesquisar
maneiras de realizar
gravações e cópias com
fidelidade e caráter
interpretativo exem-
plar. Um homem como
Roberto Alemão, de-
vido a esta paixão,
é naturalmente inte-
ressante.
57
Ele é uma dessas pessoas voltadas para esta espécie de técnica, mistura de tradição
e amor, e transformou a sua vida numa longa e coerente linha de impressões, pesquisas,
diálogos com artistas, sugestões sobre o modo de proceder e admiração pelos resultados.
Certamente imprimir é mais do que uma simples técnica. O impressor deve entender o
trabalho do artista de uma maneira muito particular, alguma coisa mediúnica, pois deve
perceber as intenções, o que está oculto, o que se pretende dizer no gesto, na abordagem, na
indicação. Não deve julgar, pois esta não é a sua função. E nem deve fazer prevalecer os seus
conhecimentos técnicos da pedra, do papel, das tintas, das cópias, pois isto seria inibidor.
Deve se unir ao artista e perceber em cada um de seus procedimentos a intenção expressiva
e procurar, com seu conhecimento e vigor físico, traduzir este procedimento em resultado
gráfico. É uma tarefa maiúscula.
Roberto Alemão tem este tipo de simbiose criativa com o artista e com a imagem. Ele
a faz surgir como se fosse parte de si mesmo. Dedicado, vibrante, delicado, participante,
intuitivo, amoroso. Um parceiro do artista, da imagem e do processo criativo. É esse jeito um
pouco alucinado que um impressor deve ter no Brasil: os pés na terra, como cabe a um
técnico; visionário, como cabe a quem se dedica à atividade artística entre nós. É esta mistura
de monge franciscano e de alquimista o que confere ao Roberto Alemão o seu encanto. E é a
tradição de tantos anos de absoluta dedicação em trabalhos de parceria com tantos artistas que
o torna respeitado e respeitável. Ainda que ele não fale muito neste passado e respeitabilidade
e prefira conversar sobre as coisas que fará em futuro próximo ou distante.
Sempre com este ar meio espantado, onde entrevemos a sua eterna dedicação e gesto
amoroso.
58
Equipe
Realização
Apoio
MARIA BONOMI
Artista Plástica
61
Projeto Ação Cultural Wickbold sobre Preservação do Meio Ambiente
A Wickbold & Nosso Pão Ltda. patrocinou uma ação cultural com o tema de preservação
ambiental dirigida para crianças de 1ª- a 4ª- séries do Ensino Fundamental (nos períodos de abril
a junho de 1999 e outubro de 2000, 3.000 crianças distribuídas em 20 colégios da Grande São
Paulo foram atendidas.)
Metodologia
Obetivos Educacionais
Descrição da Ação
Esclarecidos os con-
ceitos, dava-se início à realiza-
ção das oficinas de reutiliza-
ção da embalagem do produto
patrocinador. A partir de mode-
los, em que a embalagem era
associada a alguns elementos
descartáveis como canudos,
rolhas, linha, caixa de fósforo
etc., as crianças construíam
pequenos brinquedos.
62
• Exemplos de brinquedos: mini-bonés, pára-quedas, leque, marcadores de livros, trave
de futebol com o jacaré de goleiro e bolinha para jogos de botão, bandeirinhas para festa junina,
bandeira do Brasil, esconde-esconde com vários filtros de café sobrepostos, entre outros.
• No primeiro semestre do ano, foi incentivada a construção de bandeirinhas para as
festas juninas, pois, além de coloridas, as embalagens são também plásticas e impermeáveis.
Já no segundo semestre, foi incentivada a construção de marcadores de livros para estimular
o hábito de leitura.
Depois das oficinas, era demonstrada uma analogia entre o produto (bolinho recheado)
e o Planeta Terra, com o objetivo de demonstrar visualmente os 1/32 correspondentes à capa
útil da Terra – parte do Planeta Terra da qual conseguimos extrair nossa subsistência.
• O planeta é formado por 3 partes de água e 1 parte de Terra. Como na água não con-
seguiríamos sobreviver, vamos descartar as 3 partes de água e ficar com toda a extensão de
terra do planeta (1/4).
• Descontando as regiões que em função do clima seriam impróprias para moradia –
desertos e calotas polares – devemos descartar mais 3/4 desta porção de terra, ficando então
com 1/16 do planeta nas mãos.
• Considerando que podemos aproveitar apenas 40 quilômetros de profundidade da
superfície, devemos descartar todo o miolo do planeta que representa 1/2 desta fração.
• Isto significa que a fração que nos resta para extrair nossa subsistência representa
apenas 1/32 de todo o Planeta Terra.
Momentos de Reflexão
• O que
acontecerá com
todos os seres
vivos que depen-
dem dessa peque-
na porção de terra
se não soubermos
preservá-la?
• E se esse
pedacinho ficasse
cada vez menor? Foto: Academia de Brinquedos
63
• Dá pra entender por que é tão importante preservar o meio ambiente?
Depois da reflexão, todas as crianças recebiam um produto para degustação.
Essa degustação deveria acontecer de forma programada, com mordidas que repro-
duzissem a analogia realizada. Isso significava:
Mensagem
Vamos comer o pedacinho de “Bolinho” que sobrou, mas vamos preservar o meio
ambiente!!!
Uma oficina sempre era iniciada com embalagens que haviam sido abertas e limpas
pela turma anterior. Cada criança gerava matéria-prima para a próxima oficina (uma em-
balagem) ao degustar o produto.
Entrega de brindes: uma régua contendo a frase “Aprenda com o jacaré: Lugar de lixo
não é no chão, na rua ou na praia. É no lixo.”, e um folheto promocional que reforçava os
conceitos dos 3 R’s.
Conclusão
64
Projeto Máquina da Vida
Ato Pela Vida, Não à Violência
65
Essa oficina teve a participação de 10 monitores que foram anteriormente
Continuidade
Em março de 2000 uma nova Máquina da Vida foi construída na
praça de eventos do Shopping ABC. A Máquina da Vida se transformou,
então, em uma locomotiva a vapor, movida por armas de brinquedo. Ao
lado da máquina foi construída (com material reciclável) uma árvore, bati-
zada de Árvore da Vida. A árvore fornecia saquinhos com sementes de
árvore frutífera para as crianças que participavam do evento. Ao longo de
Dicas
• Todo trabalho que envolve corte de garrafas plásticas deve ser feito sobre uma superfí-
cie plana com o auxílio de estiletes e tesouras, sempre por adultos. Cabe às crianças apenas a
criatividade para decoração.
• Na construção de brinquedos com sucata, faz-se necessária a utilização de materiais
decorativos como fita adesiva colorida, fita crepe e cola colorida, mas sempre em quantidade
menor que os recicláveis.
Conclusões
Acreditamos que o objetivo da campanha e das
Máquinas da Vida – “valorizar a vida, através da solidariedade
e interação entre as crianças” – foi atingido, tamanha a eufo-
ria e integração das crianças durante as oficinas.
Atividade no Shopping ABC
66
Relato de um Programa-Piloto:
Educação Ambiental, Escola e Tamanduateí
Introdução
As maneiras de enxergar o meio ambiente determinam as formas de seu uso e sua con-
servação. Desta forma, uma educação voltada para o ambiente, seja ele natural ou artificial,
imprime uma dinâmica de aprendizado contínua que define, através do conhecimento, atitudes
e habilidades, práticas sociais exeqüíveis para gerir uma melhor qualidade de vida.
A educação ambiental, sobretudo no universo escolar, mostra-se como um meio de pos-
sibilitar a realização de atividades voltadas ao aprendizado e ao resgate da cidadania, inserindo-
se nos temas transversais (meio ambiente e saúde). Entretanto, a realização de tais programas,
principalmente na rede pública de ensino, necessita de parcerias com instituições públicas ou
privadas para que esses se desenvolvam. O caminho viável para a continuidade de tais progra-
mas, na atual conjuntura, aponta para uma atitude coerente e solidária dos órgãos e de todos os
educadores, para que, em conjunto, criem uma rede interdependente de ações voltadas às
questões sócio-ambientais.
A Pau-Brasil Assessoria Ambiental, por acreditar na viabilidade da construção dessa rede
interdependente, colocou-a em prática ao buscar o apoio logístico de uma instituição pública e
outra privada. Essa fusão de interesses comuns nas questões sócio-ambientais resultou na elabo-
ração do programa de educação ambiental “Tamanduateí – O caminho de um rio”, que foi coor-
denado, operacionalizado e concluído pela Pau-Brasil.
Objetivo
O objetivo do programa foi diagnosticar a qualidade ambiental do rio em pontos da área
natural e desenvolver junto com os professores/formadores de opinião, de maneira interdiscipli-
nar, crítica e participativa, formas de minimizar os problemas ambientais do local e avaliar o
conhecimento dos alunos envolvidos.
Método e Desenvolvimento
O programa teve início em julho de 99 e durou quatro meses. As escolas envolvidas
foram: Escola Municipal Cora Coralina, Escola Estadual Antônio Prado Júnior e Escola Estadual
Jardim Canadá, totalizando a participação de 90 alunos do ensino fundamental e cerca de 21
professores, dentre eles professores de matemática, língua portuguesa, inglês, arte-educação,
geografia, ciências e história, além da participação de um coordenador pedagógico de cada
escola.
O trabalho desenvolveu-se através de uma oficina pedagógica de capacitação para os
professores, aplicação de questionário aos alunos, estudo do meio e exposição dos resultados.
A oficina pedagógica de capacitação para os professores buscou o entendimento do pro-
fessor sobre o programa e o instrumentalizou através de uma apostila preparada especificamente
para esse fim. Essa apostila apresentou, em seu conteúdo, conceitos de meio ambiente e edu-
cação ambiental, superpopulação e meio ambiente, água, floresta (Mata Atlântica), uso e ocu-
pação do solo, resíduos sólidos, papel, plástico, vidro, metal e composto orgânico, e descreveu
as etapas do estudo do meio e deu sugestões do que levar e anotar no dia da saída a campo. Um
conjunto de atividades e jogos também constituiu parte da apostila, juntamente com um mapa
hidrográfico do município e do local específico onde cada escola faria a observação do rio.
Sendo a arte um meio de aprimorar nossa atenção ao mundo físico, durante a capacitação
dos professores foi realizada uma oficina de arte-educação, durante a qual novos objetos foram
criados a partir de materiais descartáveis.
Uma questão fundamental a ser considerada em trabalhos de educação ambiental é o
grau de conhecimento dos alunos envolvidos. Quando ocorre uma avaliação prévia dos alunos,
são estabelecidos pontos a serem abordados com maior ou menor ênfase. Desta forma, na saída
a campo, podemos trabalhar as informações com os alunos, estabelecendo o mesmo grau de
informação com relação à temática abordada no programa. Diante disso, no início do programa
os alunos foram avaliados através de perguntas abertas e fechadas. Essas perguntas geraram
dados preliminares que possibilitaram esclarecer aos alunos conceitos sobre meio ambiente e as
causas e as consequências das relações da ação antrópica sobre a qualidade ambiental do rio
Tamanduateí e de todo o seu entorno.
O trabalho de capacitação possibilitou um melhor envolvimento pedagógico dos profes-
sores e resultou numa melhor preparação dos alunos para terem um bom rendimento na saída a
68
campo. Isso ocorreu através de atividades curriculares em sala de aula e pesquisas sobre o tema
abordado.
O estudo do meio, uma das etapas do programa, foi de extrema importância para o tra-
balho, pois mostrou as condições reais em que vivem os alunos. O slogan “pense globalmente,
atue localmente” aqui deve ser ressaltado porque as ações que foram desenvolvidas para
melhorar as condições do rio e seus entornos irradiam-se por todo o seu curso e se propagam
entre as populações que se fixaram às suas margens.
O rio Tamanduateí foi observado em três pontos distintos: 1) O Parque da Gruta de Santa
Luzia, onde encontramos sua nascente; 2) Um ponto próximo à escola delimitado por mapas,
com locais específicos para cada uma das escolas; 3) Uma porção do rio dentro da Petrobras,
onde estão a Estação de Tratamento de Água (ETA) e a Estação de Despejos de Efluentes
Industriais (ETDI) da empresa.
Podemos ainda dividir o estudo do meio em duas partes, sendo uma natural e a outra
urbana. Na área natural, onde se encontra a nascente do rio Tamanduateí, foram desenvolvidas
atividades lúdicas e uma interpretação ambiental do local, através de uma trilha interpretativa.
Na área urbana, os alunos observaram as formas de uso e ocupação das margens do rio e sua
qualidade ambiental. Essa etapa do programa levantou os dados da qualidade do rio e seu
entorno e levou os alunos, por meio da prática, a criar uma nova concepção e forma de enxergar
os problemas ambientais do município.
Após o estudo do meio, foi iniciado o processo de elaboração das atividades para a
exposição final do programa.
69
Diagnóstico do conhecimento dos alunos sobre
meio ambiente e algumas questões ambientais
INFORMAÇÃO DOS ALUNOS QUANTO À QUALIDADE AMBIENTAL
DO RIO TAMANDUATEÍ E SEUS ENTORNOS
70
PROBLEMAS AMBIENTAIS DA REGIÃO
71
RESPONSÁVEIS PELOS PROBLEMAS AMBIENTAIS
72
COMO CONTRIBUIR PARA MINIMIZAR OS PROBLEMAS AMBIENTAIS
73
Com relação às informações dos alunos referentes ao rio Tamanduateí e seus entornos,
houve um aumento de 28% na coluna “muito bem informado”, o que demonstra que o méto-
do utilizado foi satisfatório, porém, deve ser melhor trabalhado para que um valor mais expres-
sivo seja alcançado.
Quanto à expressão “meio ambiente”, o acréscimo de 26% que corresponde à correta
interpretação de seu conceito, em parte deriva do decréscimo de 15% na coluna que rela-
ciona meio ambiente com natureza e 13% daqueles que vêem meio ambiente diretamente
como meio urbano.
No que se refere aos problemas ambientais da região, a poluição dos rios, do ar, sono-
ra e visual estão em primeiro plano com 31%. Cabe lembrar que o lixo, 27%, está relaciona-
do diretamente com a poluição, pois confere ao ambiente o aspecto de sujeira e, para muitos,
sujeira é sinônimo de poluição. O esgoto domiciliar e industrial (8%) notadamente surgiu ape-
nas na avaliação posterior ao trabalho de campo. Isso mostra que, apesar de os alunos
morarem na região, o fator saneamento teve peso na concepção dos estudantes apenas quan-
do eles tiveram um contato próximo com o sistema de esgoto a céu aberto, o que demonstra
a importância do trabalho de campo (prática) para se ter uma nova visão do ambiente.
Verificou-se que 3% dos alunos confundem problemas socioeconômicos, como fome,
desemprego, violência, etc., com problemas ambientais. Esse dado ressalta as condições a que
parte dos alunos está submetida no seu dia-a-dia, gerando diretamente um comprometimento
no seu aprendizado que, às vezes, vê na escola um lugar de abrigo em relação ao “lá fora”.
Em geral, os problemas ambientais do município estão inseridos nos problemas
regionais. Entretanto, o lixo (18%) e a enchente (3%) aparecem somente na segunda avaliação.
Esses itens surgiram por meio de entrevistas que os alunos fizeram com os moradores que
estão suscetíveis a tais problemas, por residirem nas margens do rio.
São indicados como responsáveis pelos problemas ambientais e como principais
agentes causadores de danos ao rio Tamanduateí: 87%, a população da região; 7%, os gover-
nos Estadual e Municipal; e 6%, as indústrias. Esta ordem foi a mesma encontrada por
Pelicione (1998) na Escola SESI – 425 de Osasco (SP).
Quando os alunos são abordados sobre quem pode resolver os problemas ambientais,
manteve-se a mesma ordem, sendo 73% “nós e toda a população”, 20% Governo Estadual e
Prefeitura e 1% as indústrias; 6% não responderam. Para essa mesma abordagem, Pelicione
(1998) obteve dados na ordem inversa em relação aos responsáveis, sendo que as indústrias
não foram mencionadas. As indústrias não aparecem em evidência como agentes que podem
resolver os problemas porque, para o programa Tamanduateí, apenas uma única empresa foi
visitada pelos alunos e a mesma apresenta-se de acordo com a legislação ambiental vigente,
não causando danos ao rio. Entretanto, o município de Mauá abriga um número razoável de
74
empresas que, provavelmente, não são de conhecimento dos alunos.
Os meios de minimizar os problemas ambientais mostram que a mudança de atitude de
toda a sociedade contribuiria para a melhoria da qualidade ambiental da região. O hábito de
não jogar lixo em qualquer lugar obteve o valor mais expressivo (49%), não desmatar e
impedir as queimadas, 20%, e a reciclagem, 13%. O tratamento de esgotos surgiu somente na
segunda avaliação, pois os 2% que mencionaram esse tratamento não o conheciam.
No que se refere aos meios de informação sobre meio ambiente, a comunicação de
massa representada aqui pela Televisão e pelas Rádios se sobressaíram com 33%; jornais,
revistas, livros e bibliotecas, 32%; professores e escolas, 28%. É importante ressaltar que
a televisão e o rádio transmitem as informações de forma superficial, não sendo, por isso,
a melhor fonte de consulta quando nos referimos à temática ambiental.
Apesar do papel do professor como meio de informação ter alcançado apenas 28%, sua
participação e atuação no programa foi extremamente importante. O desafio de trabalhar com
os professores de maneira interdisciplinar obteve um resultado satisfatório e esse fato tornou-se
concreto com a exposição dos resultados que os alunos e professores prepararam. Partindo-se
do princípio de que trabalhar de forma interdisciplinar é trabalhar com o conhecimento
fragmentado, formando-se assim um novo paradigma em relação às questões ambientais e
rompendo-se a visão restrita e limitada que cada área do conhecimento confere ao educador.
Dentro desse padrão de trabalho, as exposições referentes ao programa não apresentaram
apenas possíveis soluções aos problemas do rio, mas foram além das explanações teóricas e
tornaram-se ações concretas. Uma dessas ações originou uma campanha educativa desenvolvida
pelos alunos e professores, que distribuíram pelo bairro da escola panfletos informativos sobre a
coleta seletiva e os 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar). Ao mesmo tempo, os alunos entrevistaram
moradores de 48 residências que se localizam nas margens do rio Tamanduateí. Essa entrevista
gerou os seguintes dados: 42% das pessoas separam os materiais recicláveis; 34% não recebem
nenhum tipo de informação sobre coleta seletiva; 15% não dispõem seu lixo em sacos plásticos
ou latas fechadas; 94% observam na superfície do rio restos de comida, materiais recicláveis,
blocos, pneus e animais mortos; 56% dos moradores estão em áreas de risco, como barrancos ou
muito próximos ao rio; 15% não têm saneamento básico; 48% não têm pavimentação; 83% não
têm áreas de lazer, e os 17% restantes referem-se à quadra da escola como único meio de lazer;
21% dos moradores já contraíram doenças da água do rio.
Outra ação ocorreu como uma recomposição da vegetação ciliar. Apesar de simbólica, essa
foi uma maneira de reconstituir o aspecto natural das margens do rio. O município de Mauá, embora
envie todo seu esgoto domiciliar/industrial para o rio, não o canalizou em nenhum ponto. Isso
demonstra a viabilidade de se restaurar sua vegetação ciliar e, o que é mais importante, o rio apre-
senta quatro grandes fragmentos de vegetação que servem como modelo para sua recomposição.
75
A exposição dos resultados já mencionados incluiu também uma esquete didática com
o título “Saúde é o que interessa”, idealizada por professores de inglês, português e matemáti-
ca e apresentada pelos alunos. A esquete enfocou higiene pessoal, cuidados com o lixo e
doenças vinculadas à água. Outros trabalhos, como reutilização de materiais descartáveis,
maquetes com as condições atual e ideal do rio, elaboração de gibis, cartazes e painéis rela-
tando a história da nascente do rio Tamanduateí e reciclagem também foram expostas, bem
como uma representação natural do Tamanduateí demonstrando a importância da vegetação
ciliar.
Conclusão
Conforme mencionado no início deste capítulo, as escolas públicas, em geral, passam
por momentos de carência de materiais para desenvolver qualquer trabalho que esteja fora
daqueles que a escola normalmente desenvolve. Esse é apenas um dos fatores que dificultam
a realização de trabalhos extracurriculares. Um outro está ligado diretamente com a condição
socioeconômica dos alunos. Essas dificuldades influenciam o trabalho de maneira bem signi-
ficativa: para que a elaboração de trabalhos a serem expostos no final do programa se con-
cretize, uma demanda por recursos para materiais de papelaria deve ser ofertada pela escola
ou pelo grupo de educadores. Porém, esta nem sempre existe, o que leva o problema para os
alunos, os quais, por sua vez, na sua maioria pertencentes à classe menos privilegiada e ori-
undos em grande parte das periferias e bairros de baixa renda, devem enfrentar todas as difi-
culdades e, através de criatividade e adaptação, alcançar os resultados. Tais trabalhos, quan-
do desenvolvidos com recursos de patrocinadores ou em escolas particulares, obviamente não
encontram tais dificuldades. Infelizmente, só uma pequena parcela da sociedade se beneficia
dessa educação. Essa diferença socioeconômica marca cruelmente o ensino público, dificul-
ta o trabalho do educador, gera uma enorme falta de estímulo por parte dos alunos no proces-
so de aprendizado e reflete a falta de atenção que o Estado confere a esse segmento social.
Apesar dos entraves encontrados durante o desenvolvimento do programa, verificaram-
se a abrangência da temática ambiental e a possibilidade de se realizarem trabalhos nesse seg-
mento. Além disso, há necessidade de se realizarem mais trabalhos interdisciplinares que con-
siderem a História, os processos que sustentam a sociedade moderna, o entorno, as relações
humanas com o ambiente, as causas e as conseqüências que regem a existência do local e do
próprio ser humano.
Cabe a nós lutar por uma nova forma de encarar e tratar o meio ambiente de maneira
coerente com todo o ciclo natural do planeta, utilizando somente o suficiente para termos
uma vida com dignidade, respeito e saúde.
76
Está em nossas próprias mãos o futuro e o direito de viver de todas as espécies vivas do
planeta.
PAU-BRASIL
Educação e Gestão Ambiental
Bibliografia
CASCINO, F. Educação Ambiental: Eixos Teóricos para uma reflexão curricular. In: EDUCAÇÃO
MEIO AMBIENTE E CIDADANIA, Reflexões e Experiências. São Paulo: SMA/CEAM, 1998. p. 15-22.
MEAD, M. Crescimento Populacional e Capacidade Suporte. In: Conceitos para se fazer edu-
cação ambiental. 2ª- ed. São Paulo: SMA, 1997. p. 59-69.
PELICIONI, A. F. Subsídios teóricos e práticos para a educação ambiental na escola. In: DEBATES
SÓCIO AMBIENTAIS. São Paulo, nº- 10, 1998, p. 23-24.
SÃO PAULO (ESTADO), SMA. Educação Ambiental Gestão 95/98. São Paulo: SMA/CEAM,
1998. p. 16-23.
77
Creche Profª Marina Gonçalves Ulbrich
Introdução
O trabalho com lixo reciclado começou através do projeto “Coleta Seletiva de Lixo”.
No início estudamos com os pais o folheto informativo do projeto e realizamos palestras infor-
mando a importância de reciclar o lixo e como reutilizá-lo, posteriormente iniciando a reci-
clagem. A receptividade dos pais, crianças e funcionários foi excelente, dando margem à cria-
tividade do grupo, reaproveitando o lixo de forma que o resultado pode ser constatado através
das fotos.
A participação no projeto foi de todos os pais da creche (através das oficinas de brin-
quedos com lixo) e funcionários.
Thiago – Eu acho muito legal as coisas que a gente faz. É impressionante fazer bananas
de pijama, fazer carrinho com garrafas.
Pedro – É legal trazer garrafas de refrigerante pra gente fazer flor, porquinho, banana de
pijama.
Miriã – Não pode jogar bagaço de laranja no chão. Estou gostando da reciclagem.
Pedro – 300 latinhas dá uma cesta básica na igrejinha. Minha mãe está juntando.
Thiago e Pedro – O lixo não se pode jogar na rua porque é muita falta de educação.
Se a gente jogar lixo na rua, vai tudo pro bueiro e vai entupir todos os canos.
Este é o espaço denominado “O cantinho da fantasia” (foto), onde tudo foi confec-
cionado com materiais reciclados e materiais já prontos, reaproveitados (as crianças adoram,
pois neste momento soltam a imaginação).
Monitoras:
Gislaine
Cida
Mara
Vanda
80
Depoimentos
“É muito bom, porque à medida que há uma grande demanda no recolhimento do lixo, é pos-
sível ser vendido e também a criança acaba participando e sendo responsável pela coleta.”
“Eu conheci o Programa há pouco tempo e achei muito interessante. É um ponto positivo para
a limpeza das ruas, porque à medida que se recolhe o lixo para reciclar as vias ficam menos
sujas.”
“O programa é muito positivo, além de ser útil para alguém, está educando o povo. O país é
muito consumista, você paga o produto e a embalagem. É uma forma de pensar, de valorizar
o que pode ser aproveitado. É uma pena o programa não ser generalizado em outros locais,
outras instituições!.”
“É nota dez, porque você joga o lixo da sua casa para ser reaproveitado de forma positiva.”
“Se dá resultado é muito bom e deve continuar. É bom, não custa nada colaborar e melhorar
a natureza.”
“É muito bom, é excelente, porque as crianças pegam até os papéis de balas encontrados na
rua para levarem para a Coleta Seletiva.”
“É bom, mas seria melhor que tivesse a Coleta Seletiva nas casas. Na escola a gente acaba sele-
cionando o que trazer, em casa tudo seria colocado. Mas não deixa de ser importante. Ainda
é pouco, mas estamos ajudando no meio ambiente.”
“Tá sendo ótimo! Está aproveitando muita coisa que a gente jogava e incentivando as
crianças!”
82
“O programa é ótimo, diminuiu o lixo, e se tudo fosse reaproveitado os preços dos produtos
poderiam ser mais baratos.”
“Hoje as pessoas estão se conscientizando mais, estão deixando de jogar tantas coisas fora. É
importante mostrar o que está sendo feito com os materiais e, para que a população tenha
certeza do trabalho, temos o exemplo dos brinquedos feitos com sucatas.”
“Eu nunca trouxe nada! Quando lembro o lixeiro já levou! Algumas coisas meu filho tira do
lixo e faz brinquedos.”
83
“Eu acho legal e bom. Nas casas as pessoas compram muitas coisas, ajuntam muitas coisas
para a criança levar.”
Letícia Saori Takeda Alonso (6 anos)
“Eu acho legal! Porque não suja a rua, porque dá para fazer brinquedo, porque não tem que
pegar mais da natureza. Também quando a fábrica trabalha ela polui e se recicla não polui.”
“Meu pai está juntando um monte de coisas. Quando ele terminar eu trago. Tenho que trazer
esses materiais para fazer coisas novas.”
“É legal porque ajuda na nossa saúde, não joga lixo na cidade e recicla”
“Eu acho que a Coleta Seletiva é muito boa. A gente não precisa jogar lixo fora, pode mandar
para a reciclagem. Dá pra fazer muitas coisas, brinquedos de garrafa, bonequinho, ‘hominho’
e avião.”
“Acho que é bom pra nós fazermos coisas legais. Os meninos só querem ‘hominho’, mas nós
meninas queremos bolsinhas, roupas, bonecas, brinco, colar, coisas de meninas.”
84
“É bom, sabe por quê? Dá pra levar garrafas no parque. O parque fica cheio de potes para
brincar.”
Lucas Ferreira Rovaron (4 anos)
“É bom, dá pra cortar e brincar na areia, dá pra fazer brinquedos e carteira de homem.”
“Legal, é bom pra brinquedos para as crianças. Esse lixo serve para fazer umas coisas novas
com eles. Até folha que amassa dá pra aproveitar. Desamassa e faz uma folha nova com ela.
Com garrafa dá pra fazer umas bolsinhas, um bilboquê, sabe? ”
“Legal, dá pra fazer um monte de coisas, carrinho, bolsa, dá pra fazer papel novo, dá pra fazer
bilboquê.”
“É bom, dá pra fazer garrafa nova, folha nova e dá pra fazer bilboquê e bolsinha.”
“Eu acho legal, a gente faz brinquedo. O lixo não entope os bueiros.”
“A gente faz um papel novo. Pega um papel velho, amassa e põe na caixa. Rasga, pega um
montão de água, coloca numa tábua e põe pra secar.”
85
Escola Rural e Urbana: Comparações entre o Aprendizado
de Alunos do Ciclo Básico Sobre Educação Ambiental
A Educação Ambiental recebeu várias definições desde seu surgimento nos anos 70
para explicar a atuação educativa que exerce sobre os diversos setores que a envolvem (Taylor
e Topalian, 1995; Porto, 1996; Dias, 1998). Segundo Mergulhão e Vazaki (1998), a Educação
Ambiental refere-se à busca de qualidade de vida, que implica na convivência harmoniosa do
homem com o meio ambiente, natural ou não. Para Weid (1997), implica em uma consciên-
cia que, sensibilizada com os problemas socioambientais, se volta para uma nova lógica
social: a de uma sociedade sustentável que compreende a interdependência dos fenômenos
socionaturais.
As formas de atuação para realizar um programa de Educação Ambiental definem-se
em: a)Formal: desenvolve-se no sistema educacional, tem caráter interdisciplinar; b) Informal:
utiliza meios de comunicação, como jornais, revistas, rádio, entre outros, para a conscienti-
zação pública; c) Não-formal: processos pedagógicos destinados à formação ambiental dos
indivíduos e grupos sociais fora do sistema de ensino, destina-se a todos os segmentos da
sociedade (Porto, 1996).
A avaliação é uma fase crucial de um programa de Educação Ambiental (Dietz e
Nagagata, 1997). Uma avaliação periódica mostra a eficácia dos métodos empregados con-
tribuindo para a melhoria, troca e/ou o abandono de atividade, otimizando os esforços, tempo
e recursos dispensados (Padua e Padua, 1997; Tabanez et al., 1997). Padua (1997) cita que um
modelo de avaliação contínua pode ser executado em três etapas: I) Planejamento, II) Processo
e III) Produto, denominado de modelo PPP proposto por Jacobson (1991) e adaptado por
Padua (1995).
A eficácia de um programa de Educação Ambiental está intimamente relacionada com
a escolha do público-alvo, para que por meio deste, se consiga a conscientização de toda a
comunidade sobre os problemas ambientais. As crianças constituem uma importante platéia,
porque em geral possuem valores menos rígidos e são mais sensíveis às mudanças que os
adultos (Toili, 1996; Meller, 1997), facilitando o entendimento dos problemas relacionados
ao meio ambiente. Podendo sensibilizá-los na preservação e conservação da natureza para
melhoria da qualidade de vida. A longo prazo, essas crianças se tornarão adultos conscientes
sobre as questões ambientais.
Este trabalho teve como objetivos analisar a interferência do ambiente rural e urbano
no entendimento da relação homem e meio ambiente; e verificar a efetividade da Educação
Ambiental Não-formal entre esses dois contextos (rural e urbano).
86
Material e Métodos
Público-alvo: Constituído por alunos da terceira série do segundo ciclo básico, da
Escola Municipal “Emílio Ribas” (Grupo Rural), localizada em área rural, e da Escola Estadual
“Amador Naves” (Grupo Urbano), na área urbana, ambas no município de Uberlândia, MG.
Foram realizadas duas visitas mensais por escola. Em cada visita, com duração de
noventa minutos, foi efetuada uma prática e aplicado o Teste (ver Avaliação) relativo ao tema
abordado. A coleta de dados ocorreu no período de março a junho e agosto a 1º quinzena de
outubro de 1999, totalizando treze visitas, incluindo as destinadas à Avaliação.
Temas e estratégias
A estratégia adotada para realização deste trabalho foi Não-formal. Os mesmos temas e
práticas foram aplicados aos dois Grupos. Não houve fusão dos grupos. Os recursos didáticos
utilizados e os temas abordados foram os seguintes:
1) Higiene pessoal: Houve a abordagem de doenças causadas pela falta de higiene cor-
poral e ambiental e as formas de contágio dessas doenças. Foram observados vermes fixados
(Taenia solium, Schistosoma mansoni e Ascaris lumbricoides) e exemplificadas algumas
doenças. Em seguida foram abordados os cuidados com a água (para beber, nadar, cozinhar
etc.), utilizando-se duas amostras de água, uma filtrada e outra com cultivo de protozoários,
observadas ao microscópio.
3) Lixo Reaproveitável: Foi demonstrado aos Grupos que objetos descartados diaria-
mente podem ser reutilizados. Os alunos foram divididos em equipes para realização de uma
oficina onde confeccionaram jogos utilizando objetos como garrafas plásticas, caixa de fós-
foro, caixa de papelão, chapinhas de lata. Cada equipe confeccionou um jogo.
87
5) Meio Ambiente: Foi abordado de forma que os Grupos reconhecessem o meio em
que vivem, a importância e dependência das relações e interações entre os seres vivos e
fatores abióticos, todos como parte integrante do meio ambiente. As práticas aplicadas foram
a leitura do texto “O que entendemos por Meio Ambiente” (Matsushima, 1987), e a exposição
de um vídeo sobre a Floresta Amazônica, que trata das interações e interdependência entre a
fauna e a floresta.
7) Ambiente Rural versus Ambiente Urbano: Como sugerido por Dias (1998), uma
forma para comparar vantagens e desvantagens do ambiente rural e do ambiente urbano é a
prática do júri simulado. Os alunos foram divididos em duas equipes. As equipes ficaram
encarregadas de listar as vantagens e desvantagens de se morar no meio rural e no meio
urbano.
Avaliação
Os resultados obtidos antes e depois do processo de Educação Ambiental foram
analisados e os dois Grupos (Rural e Urbano), comparados. Esta estrutura de avaliação teve a
finalidade de acompanhar o desenvolvimento de consciência do público-alvo. A avaliação do
público-alvo consistiu de quatro etapas:
O critério de correção adotado para as questões foi de acordo com as seguintes cate-
gorias: a)Satisfatória: resposta coerente com o que foi solicitado; b) Aceitável: noção sobre o
que foi solicitado, mas a idéia não foi desenvolvida; c) Não-aceitável: resposta incoerente com
o que foi solicitado; c) Não-respondida: questões que não foram respondidas.
Os desenhos foram avaliados sob os seguintes aspectos: número de cores utilizadas,
número de objetos que compõem o desenho e coerência com o que foi solicitado. As
questões referentes aos desenhos (Fábrica e Aldeia) foram analisadas conjuntamente.
Análises Estatísticas
Fez-se a análise do Qui-quadrado entre o Pré-teste e os Pós-testes e entre o Pré-teste e
Teste de retenção. A análise do Qui-quadrado possibilita testar a hipótese de que os desvios
entre as proporções submetidas à comparação podem ser consideradas casuais, contra a de
que tais desvios são significativos.
Resultados
Público-alvo: A média de alunos que participaram do processo foi 34,5 na escola rural
e 26,5 na escola urbana. A média de idade do público-alvo, no início do programa, foi maior
na escola rural (9,8 anos) em relação à urbana (8,9 anos).
4) Lixo reciclável: O Grupo Rural foi mais participativo que o Urbano na confecção do
papel. A oficina de reciclagem estimulou os alunos do Grupo Rural a confeccionarem cartões,
envelopes, papéis decorativos, dentre outros.
90
7) Ambiente Rural e Ambiente Urbano: O Grupo Rural participou do júri simulado
debatendo o tema argumentando e defendendo as suas diversas posições perante o júri:
“... não é só o ar da cidade que é poluído, aqui na fazenda nós também poluímos o ar quan-
do queimamos o lixo” (DM, 10 anos).
O Grupo Urbano apresentou inicialmente dificuldade de participar da atividade:
“...morar em ambiente Urbano às vezes é ruim por causa da poluição dos carros e indústrias
e não podemos respirar direito, mas às vezes é bom porque tem supermercados para fazer
compras e outras coisas” (FA, 9 anos).
Avaliação
O desempenho dos alunos do Grupo Rural foi significativamente diferente do Grupo
Urbano no Pré-teste (X2=14,25; gl=3; P<0,05). O Grupo Rural apresentou 50,39% de resposta
satisfatória superando o Grupo Urbano em 16,91%. Nas categorias aceitável, não-aceitável e
não-respondida o Grupo Urbano superou o Rural (Figura 1).
No 1º- Pós-teste houve uma tendência ao equilíbrio entre os Grupos, visto que não
permaneceu a diferença significativa (X2=4; gl=3; P<0,05). O desempenho entre os Grupos no
1º- Pós-teste foi similar (Figura 2).
O desempenho do Grupo Urbano no 1º- Pós-teste, em relação às questões que com-
punham o Pré-teste, melhorou significativamente (X2=19,78; gl=3; P<0,05). A diferença foi
pressionada pelo aumento de 19,7% nas respostas satisfatórias e a redução de questões não-
respondidas no 1º- Pós-teste (Figura 3 A). Similar ao Grupo Urbano, o Rural apresentou dife-
rença significativa entre Pré-teste e 1º- Pós-teste (X2=19,74; gl=3; P<0,05). Houve um aumento
de 4,65% nas respostas satisfatórias no 1º- Pós-teste e redução de 14,84% da categoria não-
respondida (Figura 3 B).
No 2º- Pós-teste permaneceu a tendência ao equilíbrio, pois não houve diferença signi-
ficativa entre os Grupos Rural e Urbano (X2=1,8; gl=3; P<0,05). O Grupo Urbano apresentou
maior freqüência de respostas satisfatórias, enquanto o Grupo Rural, de respostas aceitáveis e
não-aceitáveis (Figura 4).
A diferença de desempenho do Grupo Urbano permaneceu no 2º- Pós-teste em relação
ao Pré-teste (X2=28,49; gl=3; P<0,05). Na categoria satisfatória houve um aumento
de 48,61%, redução de 6,95% na categoria não-respondida e a não-aceitável foi nula no
2º- Pós-teste (Figura 5 A). O Grupo Rural, similar ao Urbano, apresentou diferença significa-
tiva entre o 2º- Pós-teste e o Pré-teste (X2=16,16; gl=3; P<0,05). Houve aumento de 20,72%
nas categorias satisfatórias e redução de 12,33% nas questões não-respondidas no 2º- Pós-teste
(Figura 5 B).
91
A diferença observada no Pré-teste entre os Grupos Rural e Urbano não permanece no
Teste de retenção (X2=5,8; gl=3; P<0,05). O Grupo Rural apresentou mais respostas satis-
fatórias em relação ao Urbano, tanto no Pré-teste quanto no Teste de retenção. No entanto,
essa diferença diminuiu no final do programa de 16,91% no Pré-teste para 7,58% no Teste de
retenção (Figura 6).
O Grupo Urbano teve um progresso significativo no Teste de retenção em relação ao
Pré-teste (X2=43,73; gl=3; P<0,05). O desempenho do grupo, nas categorias de respostas, foi
melhor no Teste de retenção. Isto devido ao aumento de 29,58% de resposta satisfatória e
redução nas demais categorias, indicando que as respostas que não foram satisfatórias no Pré-
teste tornaram-se satisfatórias no Teste de retenção (Figura 7 A).
Igualmente ao Urbano, houve diferença significativa entre o Pré-teste e o Teste de
retenção do Grupo Rural (X2=24,5; gl=3; P<0,05). O Grupo Rural apresentou, no Teste de
retenção quando comparado ao Pré-teste, um aumento de 20,25% nas respostas satisfatórias
e redução nas demais categorias (Figura 7 B).
A maioria do Grupo Rural não manifestou vontade de morar na cidade, tanto no Pré-
teste (75,86%; n=29) quanto no Teste de retenção (96,55%; n=29). O Grupo Urbano, em
maioria, gostaria de morar na fazenda (80,95%; n=17); essa preferência aumentou em 14,29%
no Teste de retenção. A preferência em residir no ambiente Rural foi justificada pelos seguintes
motivos: menor índice de violência, menor poluição, maior disponibilidade de espaço para
brincar com segurança e tranqüilidade.
Os Grupos Rural e Urbano reduziram o número de componentes nos desenhos no Teste
de retenção em comparação ao Pré-teste. Em relação ao número de cores utilizadas houve um
aumento em ambos os Grupos, do Pré-teste para o Teste de retenção (Figura 8).
Não houve diferença significativa entre a coerência dos desenhos no Pré-teste e Teste
de retenção do Grupo Urbano (X2=5,01; gl=2; P<0,05). Similar ao Grupo Urbano, os desenhos
do Grupo Rural não diferiram significativamente em relação à coerência entre Pré-teste e Teste
de retenção (X2=1,51; gl=2; P<0,05).
No entanto, quando comparados os Grupos Rural e Urbano, foi observada diferença
significativa no Pré-teste (X2=9,31; gl=2; P<0,05). No Teste de retenção, ambos apresentaram
níveis similares de coerência (X2=2,38; gl=2; P<0,05).
Discussão
A resistência demonstrada pelo Grupo Urbano nas práticas realizadas em equipe pode
ter ocorrido devido aos alunos não serem expostos a atividades similares no cotidiano da escola.
Dias (1998) citou que a educação transformadora deixou de existir e o ensino atual, devido aos
92
conteúdos programáticos, forma cidadãos conformados com a sua realidade social e econômica.
A dificuldade demonstrada pelos Grupos em iniciar o debate e a discussão do tema
abordado pode ter ocorrido devido à carência de atividades, nas escolas públicas, que
envolvam o exercício da reflexão e análise pelos alunos. Teoria e prática precisam estar rela-
cionadas pois, dissociadas, não contemplam o contexto e dificultam a compreensão e a expli-
cação do fato (Sepel, 1996).
A assimilação do conteúdo trabalhado, pelos Grupos, deve-se em parte à utilização de
atividades que reuniram tanto a teoria do tema quanto a prática ou sua vivência, por meio
de experiências diretas, uma vez que os Grupos obtiveram progresso no desenvolvimento
das respostas e nivelamento no desempenho a partir do 1º Pós-teste. Segundo Piletti (1991)
(apud Dias, 1998), o aprendizado ocorre por meio dos sentidos e a maior taxa de retenção
(90%) é obtida quando o que se ouve é logo realizado.
O entendimento da interdependência do homem com a natureza, pelos Grupos, foi
atingido com práticas como o depoimento do índio, pois como preconizado anteriormente
(Padua e Padua, 1997; Dias, 1998, Mergulhão e Vasaki ,1998), a sensibilização do público-
alvo por meio do resgate cultural e a valorização da vivência e das tradições é uma eficiente
estratégia para se atingir os objetivos de um programa de Educação Ambiental.
Outro fator que possivelmente colaborou para a retenção dos conteúdos abordados foi
as práticas que proporcionaram o questionamento do poder e responsabilidade na transfor-
mação do ambiente. A confecção de jogos e a oficina de reciclagem de papel permitiram ao
público-alvo gerenciar e transformar o lixo produzido. Segundo Belinasso e Almeida (1994),
faz-se necessário questionar a capacidade de construção histórica, pois a possibilidade de
transformar o meio em que vive, na construção do presente, não autoriza o homem a com-
prometer a sobrevivência das gerações futuras, da sua e de outras espécies.
A compreensão dos temas deve-se também às práticas com aspecto lúdico, que
estimulavam a imaginação e a criatividade do público-alvo. Guimarães (1995) destacou a
importância do aspecto lúdico e criativo na Educação Ambiental, assim como procedimentos
que envolvem integralmente o lado racional e emocional do educando. Segundo Ferreira e
Terrazzan (1998), o jogo tem as funções lúdica, na qual a criança encontraria prazer ao jogar,
e a educativa, por meio da qual ensina algo que auxilia na construção do conhecimento pela
criança e sua apreensão do mundo.
As diferenças observadas entre os Grupos no início do trabalho podem ser explicadas
pela vivência e contexto a que cada grupo estava exposto. Dados similares foram encontrados
por Padua (1997). O melhor desempenho do Grupo Rural no início do programa pode estar
relacionado ao contato direto com a natureza, contrariamente ao Grupo Urbano. Outros
fatores podem ter influenciado o desempenho inicial dos Grupos, como a diferença do
93
sistema de ensino municipal e estadual e a idade média dos alunos.
Neste programa de Educação Ambiental, o Grupo Urbano nivelou-se ao Grupo Rural no
1° Pós-teste, no 2° Pós-teste e também no Teste de retenção. Isto indica que a vivência interfere
no entendimento das questões ambientais, pois as diferenças observadas inicialmente entre os
Grupos foram superadas com a exposição, de ambos, às mesmas situações. Mergulhão e Vasaki
(1998) constataram que, por meio da vivência e do contato direto com um zoológico, o apren-
dizado sobre questões relacionadas ao ambiente torna-se mais efetivo.
O melhor desempenho geral do Grupo Urbano no 1° e 2° Pós-testes pode estar rela-
cionado ao fato do grupo ter sido exposto a situações novas fora de sua realidade, ao contrário
do Grupo Rural, que mantinha contato direto com o meio natural. O ambiente externo é um
fator de influência no comportamento, onde as atitudes se manifestam em experiências. Num
processo dinâmico, as condições externas podem influenciar a atitude das pessoas com relação
ao meio ambiente, deste modo, a exposição a um ambiente natural possibilita o aprendizado e
sensibilização (Bennet, 1989 apud Padua, 1997).
A vivência prática permitiu aos Grupos melhor concretização do assunto e expressão de
idéias, uma vez que a diferença entre a coerência dos desenhos do Grupo Rural e Urbano no
Pré-teste não permaneceu no Teste de retenção. A diminuição no número de componentes nos
desenhos de ambos os Grupos, permanecendo a coerência, permite inferir que a exposição do
público-alvo à vivência prática concretizou a idéia do aluno sobre o tema abordado, tendo em
vista que com menos elementos elaborou o desenho satisfatoriamente.
Possivelmente, as práticas e os temas trabalhados foram efetivos no desenvolvimento e
sensibilização do público-alvo, pois ambos os Grupos melhoraram o desempenho com o decor-
rer do programa de Educação Ambiental. Entretanto, outros fatores podem ter colaborado com
o maior conhecimento do público-alvo sobre as questões ambientais, como por exemplo o
desenvolvimento psico-pedagógico dos alunos durante o período letivo.
Conclusão
O ambiente interfere no entendimento das questões ambientais, visto que antes do pro-
grama de Educação Ambiental o público-alvo apresentava diferenças no conhecimento e após
o programa houve nivelamento dos Grupos.
A Educação Ambiental Não-formal aparentemente foi efetiva nos dois contextos (Rural
e Urbano), pois ambos os Grupos apresentaram progresso significativo no desempenho
durante o programa de Educação Ambiental.
FIGURA 2
Desempenho dos Grupos Rural e Urbano no 1º- Pós-teste (temas: higiene, povos indígenas e
lixo). Categorias de respostas: S=satisfatória; A=aceitável; NA=não-aceitável; NR=não-
respondida.
95
FIGURA 3
Comparação entre Pré-teste e 1º- Pós-teste, referente aos temas higiene, povos indígenas e lixo:
A) Grupos Urbano e B) Grupo Rural. Categorias de respostas: S=satisfatória; A=aceitável;
NA=não-aceitável; NR=não-respondida.
FIGURA 4
Desempenho dos Grupos Rural e Urbano no 2º- Pós-teste (temas: desmatamento, extinção e
meio ambiente). Categorias de respostas: S=satisfatória; A=aceitável; NA=não-aceitável;
NR=não-respondida.
96
FIGURA 5
Comparação entre Pré-teste e 2º- Pós-teste, referente aos temas desmatamento, extinção e meio
ambiente: A)Grupos Urbano e B)Grupo Rural. Categorias de respostas: S=satisfatória;
A=aceitável; NA=não-aceitável; NR=não-respondida.
FIGURA 6
FIGURA 8
DIAS, G. F. 1998. Educação Ambiental: princípios e práticas. 5ª- edição. Ed. Gaia. São Paulo.
JACOBSON, S. 1991. Evaluation model for developing implemating and assessing conser-
vation education programmes: examples from Belize and Costa Rica. Environmental
Management. 15(2):143-150.
MATSUSHIMA, K. 1987. Guia do professor de 1º- e 2º- Graus. CETESB - Série Educação
Ambiental. São Paulo.
99
PADUA, S. 1995. Environmental education programes for natural areas in underdeveloped
countries: a case study in the Brazilian Atlantic Forest. Planning Education to Care for the
Planet. IUCN, 51-56.
PILLETTI, C. 1991. Didática Geral. 12º- edição. Ed. Ática. São Paulo.
100
Santo André e Takasaki –
cidades irmãs, em cada lado do mundo
Cora Coralina, poetisa, brasileira, nasceu em Goiás Velho, cidade colonial brasileira,
hoje patrimônio histórico da humanidade, escrevia poemas com raízes profundas na memória
de seu povo: “em qualquer parte da terra, um homem estará sempre plantando. Recriando a
vida. Recomeçando o mundo”, escreveu quando a ruptura cidade x campo ou rural x urbano
ainda não era tão violenta como atualmente. Plantar, recriar a vida, recomeçar o mundo –
exercícios coletivos cotidianos estavam na memória de nossos antepassados e nós não os con-
servamos.
Há cem anos, pouco depois do nascimento da poetisa, Takasaki também surgia: uma
cidade japonesa, irmã de Santo André desde 1992, fruto dos laços entre a comunidade japonesa
aqui instalada, tanto com os cidadãos andreenses como com os de Takasaki.
Em visita recente a Takasaki, no outro lado do mundo, pudemos entender o que Cora
Coralina aprendeu com seu povo e para ele escrevia. Com 250.000 habitantes em seu
centenário, busca a qualificação ambiental de seu espaço e será em breve uma cidade com
ISO 14.000, o certificado dessa qualidade. Situada a aproximadamente 200 Km da moderna
capital do Japão, Tókio, Takasaki e suas vizinhas cidades apresentam na estrutura físico/
espacial, rural/urbana alguns conceitos que nossos antepassados, assim como os deles
também conheciam. A diferença é que lá conservaram e modernizaram os conceitos. Aqui
ainda não conseguimos.
Dentre eles destacamos: a preservação das várzeas dos rios e córregos, garantindo por
meio de ocupação adequada a liberdade dos cursos d’água nas diferentes estações do ano.
Esta medida, praticada por nossos indígenas, caiçaras e antepassados, evita enchentes e
garante o exercício pleno das forças da natureza sem agredir o meio construído pelo homem.
Nas margens dos cursos d’água, presenciamos plantações adequadas ao solo, parques,
áreas de esportes e atividades diversas adaptadas e preparadas para o avanço das águas em
casos emergenciais.
O segundo conceito, que se mostra também com evidência ao nosso olhar, é a harmo-
niosa convivência entre o antigo e o moderno, descortinando a seqüência histórica sem a
destruição inconseqüente do passado. No bojo dessa harmonia encontramos o equilíbrio na
convivência entre as diversas atividades da vida humana e entre seus espaços, sem a rigidez
do zoneamento urbano e a imposição do sistema viário para o automóvel como em nossas
cidades.
Em Takasaki, como em outras cidades japonesas, o carro, instrumento de locomoção
fundamental à vida moderna, está sob o domínio do homem, circulando nas áreas urbanas
com uma velocidade de 30 km, exemplarmente controlada por todos os cidadãos.
Lá também convivem, com harmonia e eficiência, as atividades urbanas e rurais: a
101
horta, a fábrica, o plantio do arroz, as residências, os parques, a escola, a plantação de flores
ou de chá, o teatro e demais espaços. À exceção do centro comercial com densidade mais
acentuada, as demais áreas da cidade compartilham sem discriminação ou barreiras suas
funções diversas para alimentar a vida humana, seja a comida, o trabalho, o estudo, o lazer
ou quaisquer outras funções.
Mas é principalmente o conceito de vida comunitária que mais nos impressiona:
o respeito às regras da convivência coletiva, a honestidade em relação a todos os valores
da vida social e a efetiva participação popular, participação que traça diretrizes, fiscaliza,
desenvolve serviços de limpeza urbana e observa as metas, as regras, fazendo junto com o
poder municipal a gestão das políticas públicas. Participação que faz de Takasaki, uma cidade
no outro lado do mundo, uma referência para nós que queremos construir uma cidade
agradável, mais saudável, a Santo André Cidade Futuro, onde será possível cotidianamente
plantar, recriar a vida e recomeçar o mundo.
Cartão-Postal com vista aérea da cidade de Takasaki – Japão, onde podemos observar a interação
da cidade com as margens do rio
Há que se deixar isso bem claro: graffiti não é pichação! Tanto o pichador quanto o
grafiteiro querem se expressar, encontrar seu espaço na metrópole, que mais exclui que
inclui. Mas o grafiteiro canaliza seu talento, suas idéias estéticas e políticas por meio da
arte. Dificilmente se verá um graffiti sobre um monumento público. O grafiteiro quer
expressar sua arte e vê-la reconhecida como tal.
106
O pichador é o responsável (mas não o único) pela sujeira visual da cidade. Imprime
sua “marca” em lugares inacessíveis, em prédios mais altos e em lugares proibidos. Está em
busca de status e reconhecimento dos outros pichadores. Mas não liga se a cidade fica mais
feia pelo que faz. Pelo contrário, corre os riscos da noite e das alturas, está na ilegalidade,
dentro do delito e do risco de vida.
A grande sacada é que tanto o pichador quanto o grafiteiro estão em busca de
expressão. Mas um faz sujeira e o outro faz arte. Transformar o pichador em artista é o
desafio. Dar espaço para o graffiti pode ser uma solução. Ou, pelo menos, dar ao jovem
uma outra opção que não a marginalidade, e sim o diálogo.
A Continuidade
A Prefeitura de Santo André, desde 1997, desenvolve atividades com os grupos de
grafiteiros da cidade e da região. Dos primeiros contatos até hoje, muitos resultados foram
alcançados: criação de uma Comissão de Graffiti, ligada à Secretaria de Cultura, Esporte e
Lazer (SCEL), para promoção dessa expressão artística; realização da Mostra de Graffiti, com
participação de artistas de todo o país.
Em agosto de 2001 foi realizada a 4ª Mostra de Graffiti na cidade de Santo André.
Dentro das comemorações do “Dia Metropolitano de Prevenção à Violência, Álcool
e Drogas”, idealizado pelo Fórum Metropolitano, onde realizaram-se ações simultâneas
nos 39 municípios da região metropolitana de São Paulo, com o objetivo de chamar a
atenção para a relação entre álcool, drogas e violência e dar circulação a informações que
podem ser úteis a quem sofre com as causas da violência.
Trata-se de uma mobilização sem precedentes no combate à violência, capaz de
mostrar o alcance e o sentido das medidas que podem ser tomadas no âmbito do Fórum
Metropolitano de Segurança Pública.
Através da Secretaria de Combate à Violência Urbana foi desenvolvido um trabalho
de grafitagem no muro lateral da Guarda Municipal, onde 12 equipes de graffiti dividiram
150 metros quadrados do muro e expressaram suas visões do tema “Prevenção à Violência”.
GRAFFITI NOSSA PARTE no Dia Metropolitano de Prevenção a Violência, Álcool e Drogas
colocou novamente a expressão artística coletiva para apreciação de todos aqueles que
transitam diariamente pelo local.
107
A Mostra Mundial
108
Equipe:
ALBERTO KLEIMAN
Secretaria de Relações Internacionais e Captação de Recursos
JEFFERSON SOOMA
Assessoria da Juventude – Secretaria de Participação e Cidadania
ELIENE MORAES
Departamento de Resíduos Sólidos/ Semasa
IVANA MARSON
Gerência de Varrição e Limpeza Manual/ DRS/ Semasa
Comissão de Graffiti:
CABEÇA
TOTA
CHORÃO
Realização:
Apoio:
Cristovam Buarque
ex-governador do Distrito Federal, professor e ex-reitor da UnB-Universidade de Brasília,
Presidente da ONG Missão Criança - Brasília - DF
111
Prefeitura Municipal de Santo André (2001-2004)
ENGº CELSO DANIEL
Prefeito
JOÃO AVAMILENO
Vice-Prefeito
MAURICIO MINDRISZ
Diretor Superintendente do Semasa
Equipe DRS
2001
Apoio: