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Relatos de
experiências
sobre
a questão
ambiental.
RELATOS DE EXPERIÊNCIAS SOBRE
A QUESTÃO AMBIENTAL

2001

Apoio:
Coordenação: Cheila Aparecida Gomes Bailão
Diretora do Departamento de Resíduos Sólidos do Semasa

Colaboração: Garcia Filho


Eliene Moraes

Planejamento Gráfico: Isabela A. T. Veras/Octopus Comunicações

Revisão: Fátima Alves Nascimento/Octopus Comunicações

Desenho da Capa: Octopus Comunicações

Ilustrações: Octopus Comunicações

Arte-Final: Octopus Comunicações

Fotolito: JC Criações Fotos e Fotolitos Ltda.

Apoio: CRAISA - Cia. Regional de Abastecimento Integrado de Santo André

BAILÃO, Cheila Aparecida Gomes (Coord.).


Gestão e educação ambiental: relatos de experiências
sobre a questão ambiental / Cheila Aparecida Gomes
Bailão. -- Vol. 2 -- 1. ed. -- Santo André: Semasa, 2001.
112 p. ; 21cm.

Bibliografia: p. 22, 44, 77, 99


1. Reciclagem. 2. Lixo. 3. Meio Ambiente.
I. Semasa. II. Título.

CDD - 363.728
- 628.442
- 628.445
GESTÃO E EDUCAÇÃO
AMBIENTAL

VOLUME 2

Relatos de experiências sobre


a questão ambiental
T udo o que Acontecer à Terra Acontecerá aos Filhos da Terra.
“Como podereis vós comprar ou vender o céu, o calor, a terra?
Se nós possuíssemos a frescura do ar e a frescura da água, de que maneira poderia V. Exa. com-
prá-los? Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada espinho do pinheiro, cada rio
murmurante, cada bruma nos bosques, clareira, cada zumbido de insetos é sagrado na lembrança
e na vivência de meu povo.
A seiva que corre nas árvores lembra meu povo. Nós somos uma parte da terra e ela faz parte de
nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos.
As rochas escarpadas, o aroma das padarias, o ímpeto de nossos cavalos e o homem – todos são
da mesma família.
Assim, o Grande Chefe de Washington, mandando dizer que quer comprar nossa terra, está pedin-
do demais a nós índios. Manda o Grande Chefe dizer que nos reservará lugares onde poderemos
viver, confortavelmente entre nós. Ele será nosso pai e nós, seus filhos. Prometemos pensar na
vossa idéia de comprar nossa terra.
Mas não será fácil, pois esta terra, para nós, é sagrada.
A água cintilante que corre nos riachos e rios não é só água, mas, também, o sangue de nossos
ancestrais. Os rios são nossos irmãos.
Eles saciam nossa sede, levam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se nós vendermos nossa
terra, vós deveis vos lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e também vos-
sos, e vós deveis doravante dar aos rios a ternura que mostrais para um irmão.
Sabemos que o homem branco não entende nossos costumes. Um pedaço de terra, para ele, é
igual ao pedaço de terra vizinha, pois é um estranho que chega, às escuras, e se apossa da terra
de que tem necessidade.
A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e, uma vez conquistada, o homem branco vai mais longe.
Seu apetite arrasará a terra e não deixará nela mais que um deserto.
Não sei, nossos costumes são diferentes dos vossos. A imagem de vossas cidades, faz mal aos
olhos do homem vermelho. Mas isso talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não
entende.
Não há mais lugar calmo nas cidades do homem branco; a barulheira parece estourar os ouvidos.
O índio prefere o doce assovio do vento, lançando-se como uma flexa sobre o espelho de um
lago, e o aroma do vento, molhado pela chuva do dia, perfumado pelo pinheiro.
O ar é precioso ao homem vermelho, pois todas as coisas participam do mesmo sopro – o ani-
mal, a árvore, o homem, eles dividem todos o mesmo sopro. O homem branco parece não lem-
brar do ar que respira. O vento, que deu a nosso avô seu primeiro fôlego, recebeu, também, seu
último suspiro.
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Pensaremos, portanto, na vossa oferta de comprar as nossas terras.
Mas, se decidirmos aceitá-la, eu porei uma condição: o homem branco deverá tratar os animais
selvagens como irmãos. Vi mais de mil bizontes apodrecendo nos campos, abandonados pelo
homem branco, que os abateu de um trem que passava.
O que é o homem sem os animais? Se os animais desaparecem, o homem morrerá dentro de uma
grande solidão.
Ensinai também a vossos filhos aquilo que ensinamos aos nossos: que a terra é nossa mãe. Dizei
a eles, que a respeitem, pois tudo que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os
homens cospem no chão, eles cospem sobre eles mesmos. Ao menos sabemos isto: a terra não é
do homem; o homem pertence à terra. Todas as coisas são dependentes. Não foi o homem que
teceu a teia de sua vida; não passa de um fio dessa teia. Tudo que ele fizer para essa teia estará
fazendo para si mesmo.
Há uma coisa que sabemos, e que o homem branco descobrirá, talvez um dia: que nosso Deus
é o mesmo Deus e sua piedade é igual para o homem vermelho e para o branco. Esta terra lhe é
preciosa e danificá-la é cumular de desprezo seu Criador.

Trechos da carta escrita em 1854 pelo chefe índio SEATTLE ao então presidente dos Estados
Unidos, Franklin Pierce, “ o grande chefe branco de Washington”, que pretendia comprar uma
imensa faixa territorial de sua tribo prometendo em troca uma “reserva”.
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Índice

Apresentação 9
Introdução 10
A Vovó e a Floresta 11
O Bicho Homem 13
Agenda 21 Global - uma agenda positiva 23
De Olhos Bem Fechados 38
Santo André Recicla e o Projeto Brincarte 39
Usina de Triagem e Reciclagem de Papel 45
Projeto Oficinas de Arte - Educação em Litografia e Gravura 56
Projeto Atlas Ambiental do Município de São Bernardo do Campo 60
Projeto Ação Cultural Wickbold sobre Preservação do Meio Ambiente 62
Projeto Máquina da Vida 65
Relato de um Programa-Piloto: Educação Ambiental, Escola e Tamanduateí 67
Creche Profª Marina Gonçalves Ulbrich 78
Escola Rural e Urbana: Comparações entre o Aprendizado de Alunos
do Ciclo Básico Sobre Educação Ambiental 86
Santo André e Takasaki - cidades irmãs, em cada lado do mundo 101
Condomínio Urbano 103
Graffiti Nossa Parte 105
Internacionalização da Amazônia 110
Dados da Equipe - 2001-2004 112

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Apresentação
Sistematizar, produzir e reproduzir o conhecimento é tarefa essencialmente humana.
Com esta tarefa é possível o aperfeiçoamento da capacidade generosa que tem um homem de
ajudar outro homem.
A perspectiva desse aperfeiçoamento nos leva a contribuir, embora em pequena escala,
com mais este livro para a divulgação das práticas de Gestão e Educação Ambiental vividas
por diferentes grupos em Santo André e em outros municípios.
As práticas aqui apresentadas apontam caminhos da preservação do ambiente para as
gerações futuras, principalmente mostram a necessidade de ampliarmos a rede de relações
pela qual as pessoas, multiplicadoras dessas idéias, possam estabelecer uma troca sistemática
de informações. Troca onde reciprocidade e solidariedade, tanto entre homens quanto com a
natureza, sejam princípios.
Princípios estes que estão registrados no artigo primeiro da Declaração Universal dos
Direitos Humanos: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São
dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de frater-
nidade”. E é com este espírito que, temos certeza, garantiremos a eternidade da vida em nosso
planeta Terra.

MAURICIO M. MINDRISZ
Diretor Superintendente
Semasa - Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André

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Introdução
Em 1998 o Programa ReciproCidade Agradável/Coleta Seletiva e Reciclagem lançou
o livro “Gestão e Educação Ambiental – Reflexões sobre a questão ambiental e sugestões de
atividades pedagógicas”. Um livro para servir de apoio ao trabalho pedagógico na rede de
educação de Santo André, procurando envolver professores, alunos e a comunidade em geral
no processo de reflexão sobre a questão ambiental.
Dando continuidade apresentamos neste livro relatos de experiências de educação e
gestão ambiental, que envolvem as questões de inclusão social, resgate cultural e o combate
à violência urbana. Os projetos apresentados buscam soluções para questões que são,
hoje, problemas sócio-ambientais graves para as cidades e, também, determinantes para o
“desenvolvimento sustentável”.
Através de coleta seletiva e reciclagem visando à inclusão social e geração de renda
podemos envolver pessoas carentes, desempregados, dependentes químicos, moradores de
rua e adolescentes que vivem em situação de vulnerabilidade pessoal e social.
Cada experiência tem sua característica própria, e poderá servir como exemplo e
também como parâmetro para outras experiências enfocando problemas similares. As atividades
culturais e educacionais que envolvem arte-recicladores, arte-educadores e renomados
artistas da região, que têm a generosidade de contribuir voluntariamente, enriquecem ainda
mais as experiências.
O Poder Público, na busca de soluções concretas, com a participação dos diversos
atores sociais, poderá construir uma Santo André Cidade Futuro cada vez mais agradável para
se viver.

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A Vovó e a Floresta
– Olha, que lindo: ali tem ecologia!
Esta expressão foi utilizada pela avó de um amigo meu quando, em viagem pelo Estado de
São Paulo, avistou uma pequena área florestada no meio de um pasto a perder de vista.
De uma simples frase como esta podemos tirar algumas conclusões interessantes a respeito
de como as pessoas encaram a temática ambiental. Em primeiro lugar observamos que as pessoas
têm admiração pela natureza (pelo menos a avó de meu amigo tem); o ser humano sempre
admirou o que é belo, embora ainda não saiba definir objetivamente o que é beleza (em algumas
tribos africanas, quanto mais obesas forem as mulheres, mais bonitas estas serão consideradas). A
segunda conclusão decorre do trecho “ali tem ecologia”. Encarar uma área de floresta como algo
que tem ecologia é uma atitude completamente equivocada, visto que ecologia é uma ciência que
estuda a relação entre os seres vivos, e entre estes e o ambiente físico (solo, temperatura, lumi-
nosidade, umidade etc.) no qual estão inseridos. A ecologia é uma ferramenta para compreen-
dermos estas relações existentes dentro de um ambiente, mas não faz parte do próprio ambiente.
O que, no fundo, a avó de meu amigo queria expressar, é que aquele local (a floresta) era
bem diferente do local em que ela (a avó) vivia (a cidade): enquanto na floresta predominam o ar
gostosamente respirado, as árvores, cantos de aves, sons de bichos se remexendo nos arbustos, na
cidade predominam o ar malcheiroso (pense num passeio pela Marginal numa tarde ensolarada
de verão), os prédios, as buzinas dos carros e o medo da violência. É um confronto entre um ambi-
ente natural e um outro completamente moldado pelo homem. Desta forma é compreensível que
ela tenha atribuído à floresta o título de ecologia, pois esta palavra comumente nos invoca essas
imagens e sensações agradáveis relacionadas à natureza.
A conclusão final, e que me parece a mais importante, que podemos tirar da frase citada é
que as pessoas não se sentem inseridas dentro de um meio ambiente. Esta é outra confusão
comum, pois normalmente as pessoas acham que meio ambiente é o lugar onde existem animais,
plantas e todas as outras formas que atribuímos como pertencentes à natureza, e que se traduzem
em uma imagem um tanto quanto idealizada, como um paraíso.
O que todos precisam entender é que meio ambiente compreende tudo que existe no local
onde vivemos, e não algo que está localizado aqui ou ali. A casa onde cada um mora, o local de
trabalho, as ruas em que caminhamos: tudo o que está inserido nestes espaços constitui o nosso
meio ambiente. O fato de não encararmos que possuímos um ambiente próprio e que nossas
relações com ele afetam a todos que dele compartilham nos torna alienados e menos cidadãos.
As relações ecológicas também existem dentro da cidade e até mesmo dentro de nosso corpo:
pense nos parasitas que todos temos ou já tivemos.
Nas cidades nos relacionamos com todo o ambiente construído e com a flora e fauna
também, embora estas sejam bem diferentes daquelas encontradas na floresta. Além disso, tudo o
que consumimos afeta direta ou indiretamente os ambientes naturais. A picanha que comemos
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veio do animal que, para se sustentar, necessitou de uma grande área de pastagem. Desta forma,
a floresta vista pela vovó, cedeu grande parte de seu território para que as vaquinhas pudessem
pastar e desfrutar de sua gramínea refeição.
Todos nossos hábitos cotidianos provocam um impacto no ambiente. Assim somos os
responsáveis pela nossa qualidade de vida. Infelizmente, parece que percebemos isto apenas no
que diz respeito aos nossos lares. O lixo deve sair da minha casa, pois cheira mal. Depois que sair
da nossa frente ele não mais existe. E eis que o lixo ressuscita na tela da TV com a imagem de crianças
miseráveis pastando nos lixões de nosso país. Triste, mas parece que já nos acostumamos. Nossa
comoção perante estas cenas talvez seja uma forma de expurgar nossos pecados, ou seja, nossa
parcela de culpa em todo o processo. Infelizmente, é muito menos doloroso conviver com este
peso na consciência do que nutrir-se do lixo.
Embora muitos digam o contrário, penso que nossa índole humana é extremamente egoísta,
e tem se tornado cada vez mais materialista. Se não, como explicar por que atearam fogo em um
índio que dormia ao relento, e justamente no dia do índio? E a destruição brutal da Mata Atlântica,
que hoje possui apenas 7% de sua cobertura original? Embora a avó de Cabral não estivesse na
esquadra para expressar o que ela sentiria naquele momento, esta foi a primeira paisagem avistada
pelos portugueses. É bastante incômoda esta observação no momento em que celebramos
recentemente os 500 anos do Brasil. Quando estudamos História, ficamos chocados ao ver que
tiranos como Átila e Hitler invadiram com seus exércitos os territórios alheios. Usando da força
bruta, submetiam as nações invadidas (e riquezas inclusas) ao seu poder. Horrível, mas por que
não sentimos tanta indignação ao perceber que foi o que ocorreu neste país? Os “descobridores”
(invasores é o mais correto) e aqueles que o sucederam (nossos ancestrais e nossa própria geração)
reduziram uma população indígena de, aproximadamente (segundo a FUNAI), cinco milhões de
índios a pouco mais de trezentos mil. E ainda tem gente que acha que eles já possuem muita terra.
Soma-se hipocrisia ao egoísmo e cobre-se tudo com o véu da ignorância.
Só nos resta tornarmo-nos menos ignorantes e alienados e modificarmo-nos para mudar os
rumos deste dito mundo globalizado, em que as pessoas são vistas apenas como produtos para o
mercado de trabalho. Esta transformação, que é a verdadeira alquimia, é muito difícil, porém é
vital e tem que ocorrer. Caso contrário será um suicídio lento e coletivo, e a avó de meu amigo
não vai “ver ecologia” em mais lugar nenhum.

ISAAC SIMÃO NETO


Diretor do Parque Nacional da Serra da Capivara – Piauí.
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O Bicho Homem
BICHO qualquer animal terrestre;
indivíduo que sabe, sabedor;
pessoa de grande valor;
indivíduo valente.

VIRAR BICHO enfurecer-se, mostrar-se agressivo.

HOMEM qualquer indivíduo da espécie animal que apresenta maior grau de


complexidade na escala evolutiva - o Ser Humano.

fonte: Médio Dicionário do AURÉLIO.

A QUESTÃO AMBIENTAL E A EDUCAÇÃO


Dentro de nossa abordagem procuraremos discutir a educação como processo de aprender
a pensar e de criar o novo – tarefas essenciais do ser humano, além do processo de construção
da identidade e cidadania de cada indivíduo dentro da sociedade e do grupo.
Para refletirmos acerca da questão ambiental e educacional é necessário resgatar um
pouco da história do desenvolvimento da humanidade.
Após a descoberta do fogo, primeiro domínio do homem ao domesticar esta energia, ela
foi colocada a serviço da transformação dos materiais fornecidos pela natureza.
Surge aí o primeiro dilema na História da humanidade: a perturbação do equilíbrio da
natureza – o solo, o ar, a água dos rios e dos mares, o clima, os animais, as plantas e os homens
são afetados pela ação do fogo.
Depois do fogo, as invenções mais importantes na história do homem até hoje, segundo
o historiador Toynbee, foram a agricultura e a criação de animais.
Neste processo histórico, entre doze ou dez mil anos antes de Cristo, no período
Neolítico, estabeleceu-se novas relações entre os seres humanos e o meio natural, com profundas
implicações para o futuro da humanidade.
Antes nômade, o homem agricultor passou a fixar-se em locais, derrubando em alguns
casos florestas, onde construía pequenas aldeias, lavrava os campos e formava pastos para garantir
sua existência.
Isto produzia uma intervenção profunda na estrutura dos recursos naturais. Iniciava aí o
processo de ameaça à biodiversidade pela via da ação humana.
Pastagens, rebanhos e lavouras substituíam espécies vegetais nativas, que desapareciam
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para assegurar as safras e o crescimento dos rebanhos, garantias à existência do homem.
A mudança do modo de vida nômade para sedentário gerou outro fato marcante na história da
humanidade – a criação das Cidades ou a concentração de pessoas num determinado lugar.
Começa no período de 3000 a 2500 a.C. um dos maiores problemas na relação homem
x natureza – a necessidade de saneamento básico. “A natureza recicla, por conta própria, tudo
o que produz... não se pode dizer que a natureza produz lixo. Somente o homem, que também
vem da natureza, não cuida dos resíduos que produz”.
A reorganização social, criando espaços onde alguns produziam o alimento e outros se
apropriavam do excedente, favoreceu o surgimento do Mercado.
A partir do aparecimento das classes dirigentes, aqueles que planejam, dirigem, dis-
tribuem os frutos do esforço social, ou ainda, os responsáveis pela defesa ou outras ações
necessárias à vida coletiva, surge a atividade política, que junto à Cidade, Mercado e Estado pas-
sam a ser os definidores da relação homem x natureza.
A divisão social do trabalho e os conflitos gerados a partir das conquistas, invasões de
regiões e o desenvolvimento tecnológico, passam a definir os rumos do desenvolvimento da
Humanidade.
Surge outro dilema: quais os caminhos desse desenvolvimento?
Aumentar o progresso material ou preservar o paraíso terrestre? Entre uma e outra opção
escolheram a primeira e surgiram:

a roda
a bússola
o papel
o navio
a tipografia
a máquina a vapor

descobertas que modificaram completamente a forma de viver de nossos antepassados à


medida que eram aperfeiçoados os inventos.
Torqueville escreveu em 1835: “aqui a civilização faz milagres e o homem civilizado
torna-se selvagem”.
No séc. XVIII, a partir da invenção da máquina a vapor, a Revolução Industrial foi outro
marco histórico na alteração das relações entre homens e também nas relações entre homem e
natureza.

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Esta revolução redefiniu completamente as formas de apropriação dos recursos naturais
e a ocupação do ambiente natural.
A partir daí, nos últimos 150 anos, acentua-se a divisão social do trabalho com a
separação radical entre quem “pensa” e quem “faz”. A terra passa efetivamente a ser consi-
derada uma mercadoria, desenvolve-se o Capital, o Mercado e surge o trabalho assalariado.
O homem passa a fazer de sua força de trabalho também uma mercadoria. Surgem os sem-
terra, sem-teto, sem-trabalho...
Inicia-se o processo de migração do campo para as cidades, de uma região para outra
e os centros urbanos passam a se constituir em reservatórios de mão-de-obra.
Esta era de grande miséria e opulência é analisada por Eric Hobsbawm, historiador
inglês, no livro A Era dos Extremos - Breve século XX, 1914-1991. (Ed. Companhia das Letras.
1995).
Ele divide a história do século em três “eras”. A primeira, “da catástrofe”, época das
grandes guerras, da revolução russa, do nazismo e do fascismo, da crise econômica de 1929.
A segunda era corresponde aos “anos dourados” das décadas de 50 e 60, que trouxeram, a
partir da extraordinária expansão econômica e das profundas transformações sociais geradas
pelo capitalismo, a ilusão da melhoria da qualidade de vida.
Entre 1990 e 1991 acontece a era do “Desmoronamento”, época da brutalização da
política e de irresponsabilidades teóricas da Economia mundial, abrindo, segundo ele, as por-
tas para um futuro incerto, caso a humanidade não mude a sua trajetória.
Élio Gaspari escreveu em 1995: “neste século mataram mais seres humanos que em
qualquer outra época e nele se chegou a níveis de bem-estar e a transformações jamais
vistas na experiência humana”. (O Estado de São Paulo).
Nesse intervalo da história a produção industrial cresceu mais de cem vezes nos últimos
cem anos, beneficiando cada vez mais um número menor de pessoas.
Os habitantes das cidades estão ameaçados de não ter água limpa para beber, e a vida
nos mares, rios e florestas está ameaçada pela poluição e extinção das espécies, inclusive de
alguns humanos, como exemplo os índios brasileiros. Em 1500 eram 5 milhões de índios.
Hoje, são 250.000, com diversos grupos em extinção.
A poluição do ar nas cidades, onde vive mais da metade da população mundial, mata
milhares de pessoas anualmente; ameaça a camada de ozônio provocando o aquecimento da
atmosfera e o derretimento do gelo polar.
A terra está doente com tanta destruição e principalmente porque 75% dos seus
habitantes vivem na pobreza, muitos deles na miséria absoluta.

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O BICHO HOMEM E O PLANETA TERRA

Discutir a questão ambiental significa aprender com clareza como se dá a relação


sociedade x natureza. É necessário entender qual homem está destruindo a natureza
e seus semelhantes. Aqueles que podem mais ou aqueles que podem menos?

•Será o garimpeiro o principal responsável pela contaminação dos rios, quando usa o
mercúrio no processo de obtenção do ouro, ou quem compra e usa jóia de ouro, ou quem explo-
ra o mercado do ouro?

•Será o trabalhador que derruba as árvores utilizando seus próprios músculos, ou os


grandes grupos multinacionais que estão por trás da degradação de nossas florestas para a pro-
dução do papel, da celulose, do alumínio, das siderúrgicas, da exportação da madeira?

•Será o Produtor, o Comerciante ou o Consumidor? Ou será quem tudo vê e se cala?

Entramos no século XX com a idéia de que os recursos naturais estavam à disposição em


quantidades ilimitadas.
“Uma vez construída a obra jogávamos fora sem preocupações o resto do material nela
utilizado.”
Descoberta das últimas décadas: “Não existe o FORA, nem o RESTO”.
A água é sempre a mesma, e podemos ficar sem água no ano 2.020. Há previsões de con-
flitos entre povos na próxima década pela disputa da água. Descobrimos então que o homem
pode ficar FORA, junto com o RESTO, caso não mude seu comportamento com relação ao con-
sumo dos recursos naturais.
Desde a Revolução Industrial, a população mundial aumentou 8 vezes, enquanto a
demanda por água aumentou 35 vezes.
Somente os brasileiros despejam nos rios diariamente 10 bilhões de litros de água poluída
dos esgotos domésticos. Oito bilhões sem nenhum tipo de tratamento. E toda essa água suja não
sai para FORA, fica dentro do planeta Terra.
Outra descoberta: “São os seres vivos que provêm e mantêm a vida na Terra.
A natureza e o homem vivem um processo de recriação contínua.
A Terra não é uma casca, como a Arca de Noé, mas uma concha, como um caracol.
Ambos, unidos e indissociáveis, constituem e sustentam a vida.”
A vida na Terra, como conhecemos, vai agüentar?
16
A QUESTÃO AMBIENTAL E DEMOGRÁFICA
Início da Era Cristã 200 milhões de habitantes na Terra
1650 500 milhões
1850 1 bilhão
1930 2 bilhões
Em 80 anos a população da Terra duplicou.
1975 4 bilhões

Novamente a duplicação, em apenas 45 anos. Não só aumentou o tamanho da popu-


lação, como a velocidade de seu crescimento. A previsão para nova duplicação se dará em 36
anos, o que significa que aumentará a velocidade de crescimento.
2011 (previsão) 8 bilhões

Como e onde vão morar essas pessoas? Do novo bilhão a nascer, 100 milhões nascerão
em países desenvolvidos e 900 milhões em países do chamado terceiro mundo, onde se inclui
o Brasil. Nesses países a maior parte da população mora na pobreza e na miséria, carente de ali-
mentação, saúde, educação, emprego e habitação.
Até 50 anos atrás, a maior parte da população brasileira vivia dispersa no campo. Em 20
anos, de 1970 a 90, 16 milhões de brasileiros deixaram as áreas rurais rumo às cidades.
Atualmente, 75 em cada 100 brasileiros vivem em áreas urbanas. (década de 90)
O Dilema: Explosão demográfica ou concentração de pessoas em determinados locais em
busca de melhores condições de vida?
No Rio de Janeiro, de cada 3 habitantes, um mora em favela, como em São Vicente - SP.
Em Belo Horizonte, de cada 4, um mora em favela.
As Regiões Metropolitanas podem ser comparadas a uma gigantesca máquina de moer
recursos naturais: ar, água, solo, petróleo e derivados, minérios, gás, vegetais etc.
Outro Dilema: O estoque de recursos naturais é limitado. A concentração de pessoas provoca:

• poluição das águas


• do solo
• do ar
• o efeito estufa
• as ilhas de calor
resultado: 70 em cada 100 pessoas atendidas na rede pública são vítimas da falta de
saneamento.
17
Sem ar e água limpos e sem verde, como manter o equilíbrio ecológico?
“A natureza como um todo é solidária; uns dependem dos outros – e a grande ameaça
aos centros urbanos é o rompimento dessa cadeia”.

A QUESTÃO AMBIENTAL E ALIMENTAR


Até o final do século XVIII, a maior parte dos habitantes da Terra se ocupava da produção
de alimentos.
Nos últimos 50 anos, o crescimento da produção mundial de grãos superou o aumento
da população. De 1970 aos dias atuais, a produção de grãos nos EUA aumentou em 50%, sem
necessidade de mais terra para plantar.
A alta produtividade gerada pelo uso intensivo dos agrotóxicos aumentou a contaminação
das águas, a degradação acelerada do solo, a extinção de animais e plantas silvestres. A revo-
lução agrícola e a degradação dos recursos naturais é um dos grandes problemas do século.
A questão ambiental pode ser traduzida em todo o mundo através de alguns indicadores
básicos da degradação social do homem.
A FOME: 340 milhões de pessoas em 87 países em desenvolvimento tem graves proble-
mas de saúde por não consumirem a quantidade mínima de calorias necessárias. Este quadro
tende a se agravar.
A disponibilidade de calorias produzidas em 1992 permitiam o consumo médio diário de
3.140 calorias/habitante do planeta. Esse número é superior em quase 31% às necessidades ali-
mentares médias no mundo: 2.400 calorias.
A maior devastação de florestas no mundo está relacionada à produção de alimentos ou
à ocupação da terra para esta finalidade, incluindo a pecuária extensiva. Acrescente-se a isso a
poluição dos solos e águas com agrotóxicos.
O Brasil, um dos maiores importadores de agrotóxicos, é um dos principais exportadores
de alimentos do mundo.
No Brasil, também, uma família em cada quatro não tem comida em casa. E uma família,
em cada quatro que têm acesso a comida, come menos do que deveria (década de 90).
O modelo de desenvolvimento excludente, que gera desemprego, pobreza e miséria, fez
do negócio agrícola, o maior negócio do Brasil, e disso surgiram:

•a degradação acelerada dos solos com processos de desertificação;


•perda de fertilidade natural em várias regiões;
•contaminação das águas e do ambiente com agrotóxicos e fertilizantes;
•envenenamento dos alimentos;
18
•extinção de animais e plantas silvestres;
•agricultura para exportação: trigo, soja, laranja, café etc.

A QUESTÃO AMBIENTAL E ENERGÉTICA


“A exploração de qualquer fonte de energia, renovável ou não, acarreta impactos
ambientais. As renováveis, porém, são menos prejudiciais”. Sendo elas: energia solar, eólica,
das ondas do mar, energia térmica oceânica, e da cana-de-açúcar.
O domínio do uso do fogo pelo homem representou uma grande descoberta e criou um
grande problema. Era preciso tirar lenha da floresta: aí começou o problema.
Depois da lenha, vieram, para gerar energia, os animais de tração; a roda d’água; os
moinhos de vento; as máquinas a vapor; o carvão mineral; as hidrelétricas; o petróleo; a energia
nuclear...
O homem de hoje consome, em média, 70 vezes mais energia que seu ancestral da
descoberta do fogo.
Os países desenvolvidos, onde vivem cerca de 23 em cada cem pessoas do mundo,
consomem 80% do total. Se todos tivessem o mesmo acesso a energia e consumo, o que parece
justo, será que o planeta Terra como conhecemos agüentaria?

PARÂMETROS DO CONSUMO DE ENERGIA (DÉCADA DE 80)


Cidadão Americano consome
2 vezes mais que o cidadão europeu
5 vezes mais que o cidadão indiano
168 vezes mais que o cidadão tanzaniano
900 vezes mais que o cidadão nepalense

O Consumo dos 20% de pessoas mais ricas comparado com o consumo das 20% pessoas
mais pobres é:

8 vezes maior na Índia


20 vezes maior no México
22 vezes maior no Quênia
33 vezes maior no Brasil
(Na França, a relação é de 9 para 1!)

19
ÍNDICES DE CONSUMO ENTRE PAÍSES

Países Industrializados Não Industrializados

População 26% 74%


Consumo de Energia 80% 20%
Consumo de Aço 79% 21%
Outros metais 86% 14%
Papel 85% 15%
Gorduras 53% 47%
Proteínas 38% 62%
Calorias 34% 66%

fonte - STRAHN, R.H. - Subdesenvolvimento - Por que somos tão pobres? Petrópolis - RJ, Ed. Vozes - 1991

QUESTÃO AMBIENTAL E QUALIDADE DE VIDA

“Qualidade de vida, hoje, é o acesso às condições da vida moderna para todos, com a
conservação e preservação da natureza para as gerações futuras”.

Segundo o Banco Mundial, em relatório de julho de 1995, o Brasil é o país onde há a


maior desigualdade social e de renda em todo o mundo.
Segundo este relatório, 51,3% de toda a renda do país está concentrada nas mãos de 10%
da população.
Os 20% mais pobres ficam com apenas 2,1% da renda nacional.
No Brasil 48% da produção de bens de consumo - carro, aparelhos domésticos, vestuário,
serviços de lazer etc. – destinam-se a 12% da população.
São Paulo é uma das 20 cidades do mundo mais poluídas em todos os aspectos: ar, água
e solo.
86% dos casos de internação hospitalar no Brasil são causados por doenças de veiculação
hídrica, ou seja, pela água – sua captação ou falta de tratamento.

Problemas ambientais de maior impacto na Região Metropolitana da Baixada Santista -


última década
• poluição do estuário – pólo industrial de Cubatão e porto de Santos;
20
• falta de saneamento;
• falta de condições adequadas para destino final dos resíduos sólidos;
• poluição ambiental – água, solo, ar. Indústrias, tráfego nas rodovias, metais pesados, lixo
químico, fumaça e gases;
• ocupação das áreas de risco e de preservação – morros, serra do mar, mata atlântica,
mangues. Maior desmatamento de restingas nos últimos 10 anos verificou-se na região;
• urbanização acelerada, verticalização acentuada.

42 milhões de brasileiros morrem de fome, 20 milhões de brasileiros não têm acesso à


terra.
As florestas brasileiras reduzem-se em escala vertiginosa, sendo que restam apenas de 3 a
5 % da Mata Atlântica.
Dentro deste quadro é necessário, então, resgatar o papel da educação numa concepção
totalizadora de conformação da cidadania.

QUESTÃO AMBIENTAL / EDUCAÇÃO


É necessário perceber que “qualidade de vida depende das novas relações de produção,
que coloquem os bens da terra e os frutos do trabalho ao alcance de todos”, segundo Frei Betto.
É necessário, através da educação, resgatar a criatividade, a capacidade de produzir o
novo, tarefa essencial do homem.
É necessário, principalmente, resgatar a capacidade generosa que tem o homem de aju-
dar outro homem.
Neste caminho é fundamental resgatar os valores de vida das populações tradicionais:

COMUNIDADE, SOLIDARIEDADE E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA.

Objetivos
• Resgatar a importância da História do homem e sua responsabilidade em relação às
gerações futuras;
• Discutir as diferenças dos níveis de desenvolvimento das sociedades, suas diferenças de
classes e as relações do homem com o homem e com a natureza;
• Discutir a sociedade de consumo, seus valores e conseqüências para o ser humano e a
vida na Terra;
• Discutir o mundo de referências das pessoas – o individual e o coletivo;
• Garantir o direito de participação, de eleição e seleção de critérios;
21
• Estimular o trabalho em grupo, em equipe, coletivo;
• Estimular a investigação e a produção de conhecimento;
• Fazer das atividades um prazer, uma atividade lúdica;
• Garantir a formação do cidadão – reconhecer os direitos e deveres.

Estratégias
• Construir e Reconstruir, num processo de ação e reflexão, o conhecimento sobre a
realidade, superando a visão fragmentada sobre a mesma. Visão Holística / Interdisciplinar.
• Fortalecer a ação coletiva, a organização social que proporciona a compreensão indi-
vidual e coletiva da problemática ambiental em toda a sua complexidade.
• Estimular a Vida em comunidade. Valorização do Grupo, da Equipe e da Tribo.
• Agir em conjunto com a sociedade civil organizada construindo novas relações dos
homens, entre si e deles com a natureza. Resgatando a solidariedade entre os homens e o
respeito à natureza.

Bibliografia
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos - O Breve Século XX - 1914-1991. Ed. Companhia das
Letras, São Paulo, 1995.

ATLAS DO MEIO AMBIENTE DO BRASIL - EMBRAPA. Ed. Terra Viva. Brasília, 1994.

QUINTAS, José Silva. A Questão Ambiental – um pouco de história não faz mal a ninguém.
Cópia. IBAMA. Brasília, 1995.

Cheila Aparecida Gomes Bailão


é arquiteta, urbanista, especialista em Planejamento Urbano e Mestre em Construções para
Países Tropicais, Diretora do Departamento de Resíduos Sólidos do Semasa

22
Agenda 21 Global - uma agenda positiva
Um compromisso de todos com um mundo mais saudável

Em 1992, no Rio de Janeiro, aconteceu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento – ECO/92. Representantes de 178 países assinaram um acordo, a
Agenda 21. O principal objetivo deste acordo é a prática de um novo modelo de desenvolvi-
mento: O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:

• Economicamente viável
• Socialmente justo, e
• Ambientalmente equilibrado

Surgia assim, um novo conceito de desenvolvimento. O mundo passou a pensar que além
da preservação do verde e animais em extinção, as questões ambientais estão diretamente ligadas
ao consumo, habitação, pobreza, saúde, transporte...
E é com essa visão ampliada que a Agenda 21 propõe ações de planejamento integrado.
O documento busca o equilíbrio entre desenvolvimento econômico, social, ambiental e tec-
nológico, garantindo assim a qualidade de vida e a sobrevivência do planeta no século XXI.
Economia, Reaproveitamento, Criatividade, Trabalho em Equipe e Solidariedade são valores
que devem ser estimulados para atingir as mudanças éticas e de comportamento que possam
preservar a Natureza para as gerações futuras e garantir a eternidade da vida no Planeta Terra.
A humanidade encontra-se em um momento de definição histórica. Defrontamo-nos com
a perpetuação das disparidades existentes entre as nações e no interior delas, o agravamento da
pobreza, da fome, das doenças e do analfabetismo, e com a deterioração contínua dos ecossis-
temas de que depende nosso bem-estar. Caso se integrem as preocupações relativas a ambiente e
desenvolvimento e a elas se dedique mais atenção, será possível satisfazer às necessidades bási-
cas, elevar o nível de vida de todos, obter ecossistemas melhor protegidos e gerenciados e
construir um futuro mais próspero e seguro.
A Agenda 21 reflete um consenso mundial e um compromisso político no que diz respeito
a desenvolvimento e cooperação. O êxito de sua execução é responsabilidade, antes de tudo, dos
Governos. Para concretizá-la, são cruciais as estratégias, os planos, as políticas e os processos
nacionais. Nesse contexto, o sistema das Nações Unidas tem um papel fundamental a desem-
penhar. Outras organizações internacionais, regionais e sub-regionais também são convidadas a
contribuir para tal esforço. A mais ampla participação e o envolvimento ativo das organizações
não-governamentais e de outros grupos também devem ser estimulados.

23
CAPÍTULO 21
MANEJO AMBIENTALMENTE SAUDÁVEL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS E QUESTÕES
RELACIONADAS COM OS ESGOTOS

O presente capítulo foi incorporado à Agenda 21 para deter e inverter os efeitos da


degradação do meio ambiente no contexto da intensificação dos esforços nacionais e interna-
cionais para promover o desenvolvimento sustentável e ambientalmente saudável em todos os
países.

INTRODUÇÃO

O manejo ambientalmente saudável dos resíduos se encontra entre as questões do cotidi-


ano mais importantes para a manutenção da qualidade do meio ambiente da Terra.
Os resíduos sólidos compreendem todos os restos domésticos e resíduos não perigosos. Se
manifestarem características perigosas, esses resíduos devem ser tratados como resíduos perigosos.
O manejo ambientalmente saudável desses resíduos deve ir além do simples depósito ou
aproveitamento por métodos seguros dos resíduos gerados e buscar resolver a causa do problema,
procurando mudar os padrões não sustentáveis de produção e consumo. Isso implica a utilização
do conceito de manejo integrado do ciclo vital, o qual apresenta oportunidade única de conciliar
o desenvolvimento com a proteção do meio ambiente.

Principais áreas de programas relacionados com os resíduos

a - Redução ao mínimo dos resíduos;


b - Aumento ao máximo da reutilização e reciclagem ambientalmente saudáveis dos resíduos;
c -Promoção do depósito e tratamento ambientalmente saudáveis dos resíduos;
d - Ampliação do alcance dos serviços que se ocupam dos resíduos.

a) Redução ao mínimo dos resíduos


A existência de padrões de produção e consumo não-sustentável está aumentando a quan-
tidade e variedade dos resíduos persistentes no ambiente, em ritmo sem precedente. Uma abor-
dagem preventiva do manejo dos resíduos, centrada na transformação do estilo de vida e dos
padrões de produção e consumo, oferece as maiores possibilidades de inverter o sentido das
tendências atuais.
24
b) Maximização ambientalmente saudável do reaproveitamento e da reciclagem
dos resíduos.
O esgotamento dos locais de despejo tradicionais, a ampliação de controles ambientais
mais estritos no depósito de resíduos e o aumento da quantidade de resíduos de maior persistên-
cia, especialmente nos países industrializados, contribuíram em conjunto para o rápido aumento
dos custos dos serviços de depósito dos resíduos. Algumas das práticas atuais de depósito
ameaçam o ambiente. Na medida em que se modifica a economia dos serviços de depósito de
resíduos, a reciclagem deles e a recuperação dos recursos ficam cada dia mais rentáveis. Os
futuros programas de manejo de resíduos devem aproveitar ao máximo as abordagens do controle
de resíduos baseadas no rendimento dos recursos. Essas atividades devem realizar-se em conjunto
com programas de educação. É importante que se identifiquem os mercados para os produtos
procedentes de materiais reaproveitados ao elaborar os produtos de reutilização e reciclagem.

c) Promoção do depósito e tratamento ambientalmente saudáveis dos resíduos


Mesmo quando os resíduos são minimizados, algum resíduo sempre resta. Mesmo depois
de tratadas, todas as descargas de resíduos produzem algum impacto residual no ambiente que as
recebe. Conseqüentemente, existe uma margem para melhorar as práticas de tratamento e depósi-
tos dos resíduos. Nos países em desenvolvimento, menos de 10% dos resíduos urbanos são obje-
tos de algum tratamento e apenas em pequena proporção tal tratamento responde a uma norma
de qualidade aceitável. Deve-se conceder a devida prioridade ao tratamento e depósito de
matérias fecais devido à ameaça que representam para a saúde humana.

d) Ampliação do alcance dos serviços que se ocupam de resíduos


As conseqüências para a saúde são especialmente graves no caso da população urbana
pobre. As conseqüências de um manejo pouco adequado para a saúde e o ambiente ultrapassam
o âmbito dos estabelecimentos carentes de serviços e se fazem sentir na contaminação e poluição
da água, da terra e do ar. A ampliação e o melhoramento dos serviços de coleta e depósito de resí-
duos com segurança são decisivos para alcançar o controle dessa forma de contaminação.

As áreas de programas incluídas no presente capítulo da Agenda 21 estão estreitamente


relacionadas com as seguintes áreas de programas de outros capítulos da Agenda 21.

Capítulo 4
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 18
25
CAPÍTULO 4
MUDANÇA DOS PADRÕES DE CONSUMO

a) Exame dos padrões insustentáveis de produção e consumo


A pobreza e a degradação do ambiente estão estreitamente relacionadas. Enquanto a
pobreza tem como resultado determinados tipos de pressão ambiental, as principais causas da
deterioração ininterrupta do ambiente mundial são os padrões insustentáveis de consumo e pro-
dução, especialmente nos países industrializados. Motivo de séria preocupação, tais padrões de
consumo e produção provocam o agravamento da pobreza e dos desequilíbrios.
Convém ainda considerar os atuais conceitos de crescimento econômico e a necessidade
de que se criem novos conceitos de riqueza e prosperidade, capazes de permitir melhoria nos
níveis de vida por meio de modificações em seus estilos de vida que sejam menos dependentes
dos recursos finitos da Terra e mais harmônicos com sua capacidade produtiva. Isso deve refletir-
se na elaboração de novos sistemas de contabilidade nacional e em outros indicadores do desen-
volvimento sustentável.

b) Desenvolvimento de políticas e estratégias nacionais de estímulos à mudança nos


padrões insustentáveis de consumo.
A fim de que se atinja os objetivos de qualidade ambiental e desenvolvimento sustentável,
será necessária eficiência na produção e mudanças nos padrões de consumo para dar prioridade
ao uso ótimo dos recursos e à redução do desperdício ao mínimo. Em muitos casos, isso irá exi-
gir uma reorientação dos atuais padrões de produção e consumo, desenvolvidos pelas sociedades
industriais e, por sua vez, imitados em boa parte do mundo.

CAPÍTULO 6
PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DAS CONDIÇÕES DA SAÚDE HUMANA

A saúde e o desenvolvimento estão intimamente relacionados. Tanto um desenvolvimento


insuficiente que conduza à pobreza como um desenvolvimento inadequado que resulte em con-
sumo excessivo, associados a uma população mundial em expansão, podem resultar em sérios
problemas para a saúde relacionados ao ambiente, tanto nos países em desenvolvimento como
nos desenvolvidos.

26
a) Satisfação das necessidades de atendimento primário da saúde, especialmente na zonas rurais
A saúde depende, em última instância, da capacidade de gerenciar eficazmente a interação
entre os meios físicos, espiritual, biológico e econômico/social. É impossível haver desenvolvi-
mento saudável sem uma população saudável; não obstante, quase todas as atividades voltadas
para o desenvolvimento afetam o ambiente em maior ou menor grau e isso, por sua vez, ocasiona
ou acirra muitos problemas de saúde. Por outro lado, justamente a ausência de desenvolvimento
tem uma ação daninha sobre a saúde de muitas pessoas, fato que apenas o desenvolvimento tem
condições de mitigar. Por si própria, a área de saúde não tem como satisfazer suas necessidades e
atender seus objetivos; ela depende do desenvolvimento social, econômico e espiritual, ao mesmo
tempo em que contribui diretamente para tal desenvolvimento. A área de saúde também depende
de um ambiente saudável, inclusive da existência de um abastecimento seguro de água, de
serviços de saneamento e da disponibilidade de um abastecimento seguro de alimentos e de
nutrição adequada.

b) Controle de moléstias contagiosas


Os avanços no desenvolvimento de vacinas e agentes quimioterápicos possibilitaram o con-
trole de muitas moléstias contagiosas. Persistem, no entanto, muitas moléstias contagiosas impor-
tantes; essas moléstias requerem medidas de controle ambiental, sobretudo no campo do abasteci-
mento de água e do saneamento. Elas incluem a cólera, as moléstias diarréicas, a leishmaniose, a
malária e a esquistossomose. Em todos esses casos as medidas saneadoras ambientais, sejam como
parte integrante do atendimento primário da saúde, sejam empreendidas externamente à área de
saúde, são componentes indispensáveis das estratégias de controle total da moléstia, juntamente
com a educação sanitária. Às vezes essas medidas são os únicos componentes de tais estratégias.

c) Proteção dos grupos vulneráveis


Além de atender às necessidades sanitárias básicas, é preciso dar ênfase especial à proteção
e educação dos grupos vulneráveis, especialmente crianças, jovens, mulheres, população indíge-
na e os muitos pobres, como pré-requisito para o desenvolvimento sustentável. Também se deve
dedicar especial atenção às necessidades de saúde dos idosos e dos deficientes.

d) O desafio da saúde urbana


Para centenas de milhões de pessoas, as condições de vida sofríveis das zonas urbanas e
suas periferias estão destruindo vidas, saúde e valores sociais e morais. O crescimento urbano
deixou para trás a capacidade da sociedade de atender às necessidades humanas, deixando cen-
tenas de milhões de pessoas com rendimentos, dietas, moradias e serviços inadequados. Além de
expor as populações a sérios riscos ambientais, o crescimento urbano deixou as autoridades
27
municipais e locais sem condições de proporcionar às pessoas os serviços de saúde ambiental
necessários. Deve-se melhorar a saúde e o bem-estar de todos os habitantes urbanos para que eles
possam contribuir para o desenvolvimento econômico e social.

CAPÍTULO 7
PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DOS ASSENTAMENTOS
HUMANOS

Nos países industrializados, os padrões de consumo das cidades representam uma pressão
muito séria sobre o ecossistema global, ao passo que no mundo em desenvolvimento os assenta-
mentos humanos necessitam de mais matéria-prima, energia e desenvolvimento econômico sim-
plesmente para superar seus problemas econômicos e sociais básicos. Em muitas regiões do
mundo, em especial nos países em desenvolvimento, as condições dos assentamentos humanos
vêm se deteriorando, sobretudo em decorrência do baixo volume de investimentos, imputável às
restrições relativas a recursos com que esses países se deparam em todas as áreas.
O objetivo geral é melhorar a qualidade social, econômica e ambiental dos assentamentos
humanos e as condições de vida e de trabalho de todas as pessoas, em especial dos mais pobres
de áreas urbanas e rurais.

a) Oferecer a todos habitação adequada


O acesso à habitação segura e saudável é essencial para o bem-estar físico, psicológico,
social e econômico das pessoas, devendo ser parte fundamental das atividades nacionais e inter-
nacionais. O direito a habitação adequada enquanto direito humano fundamental está consagra-
do na Declaração Universal dos Direitos Humanos e no Pacto Internacional dos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais.

b) Aperfeiçoar o manejo dos assentamentos humanos


O objetivo é proporcionar um manejo sustentável a todos os assentamentos humanos,
sobretudo nos países em desenvolvimento, a fim de aprofundar sua capacidade de melhorar as
condições de vida de seus habitantes, especialmente os marginalizados e não-representados, con-
tribuindo assim para a realização de metas nacionais de desenvolvimento econômico.

c) Promover o planejamento e o manejo sustentável do uso da terra


O acesso aos recursos terrestres é um componente essencial dos estilos de vida sustentá-
vel de baixo impacto sobre o ambiente. Os recursos terrestres são a base para os sistemas de vida
28
(humanos) e proporcionam solo, energia, água e possibilidade de realização para todos os tipos
de atividade humana. O objetivo é atender às necessidades de terra para o desenvolvimento dos
assentamentos humanos mediante um planejamento físico e um uso da terra ambientalmente
saudável.

d) Promover a existência integrada de infra-estrutura ambiental: água, saneamento,


drenagem e manejo de resíduos sólidos
A sustentabilidade do desenvolvimento urbano é definida por muitos parâmetros relativos
à disponibilidade de suprimento de água, qualidade do ar e existência de uma infra-estrutura
ambiental de saneamento e manejo dos resíduos. Como resultado da densidade dos usuários, a
urbanização, caso adequadamente gerenciada, oferece oportunidades únicas para a criação de
uma infra-estrutura ambiental sustentável por meio de uma política adequada de preços, progra-
mas educativos e mecanismos eqüitativos de acesso, saudáveis tanto do ponto de vista econômi-
co como ambiental.

e) Promover sistemas sustentáveis de energia e transporte nos assentamentos humanos


O objetivo é ampliar o fornecimento aos assentamentos humanos de uma tecnologia mais
eficiente quanto ao uso da energia, bem como de fontes alternativas/renováveis de energia, e
reduzir os efeitos negativos da produção e do uso da energia sobre a saúde humana e sobre o
ambiente.
O transporte responde por cerca de 30% do consumo comercial de energia e por cerca de
60% do consumo total mundial de petróleo.

f) Promover o planejamento e o manejo dos assentamentos humanos localizados em


áreas sujeitas a desastres
Os desastres naturais causam perdas de vida, perpetuação das atividades econômicas e da
produtividade urbana, especialmente para os grupos de baixa renda, altamente suscetíveis, e dano
ambiental, como perda de terra fértil e contaminação dos recursos hídricos, e podem provocar
grandes reassentamentos populacionais.
O objetivo é capacitar todos os países, em especial os que apresentem propensão a desas-
tres, a mitigar o impacto negativo dos desastres naturais e provocados pelo homem sobre os assen-
tamentos humanos, as economias nacionais e o ambiente.

g) Promover atividades sustentáveis na indústria da construção


Adotar políticas e tecnologias e sobre elas trocar informações, para desse modo permitir
que o setor da construção atenda às metas de desenvolvimento dos assentamentos humanos e ao
29
mesmo tempo evite efeitos colaterais daninhos a saúde humana e a bioesfera e, em segundo lugar,
aumentar a capacidade de geração de empregos do setor da construção.

h) Promover o desenvolvimento dos recursos humanos e da capacitação institucional e


técnica para o avanço dos assentamentos humanos
A maioria dos países, além de carecerem de conhecimentos especializados nas áreas de
habitação, manejo de assentamentos, manejo de terra, infra-estrutura, construção, energia, trans-
portes, planejamento pré-desastres e reconstrução pós-desastres, enfrenta três carências interse-
toriais relativas ao desenvolvimento dos recursos humanos e a capacitação institucional e técni-
ca. A primeira é a ausência de um ambiente propício à introdução de políticas integradas de
recursos e atividades do setor público, do setor privado e da comunidade – ou setor social; a
segunda é a carência de instituições especializadas de treinamento e pesquisa; e a terceira é a
insuficiência da capacidade de treinamento e assistência para as comunidades de baixa renda,
tanto urbanas como rurais.

CAPÍTULO 18
PROTEÇÃO DA QUALIDADE E DO ABASTECIMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS:
APLICAÇÃO DE CRÉDITOS INTEGRADOS NO DESENVOLVIMENTO, MANEJO E USO DOS
RECURSOS HÍDRICOS

Os recursos de água doce constituem um comportamento essencial da hidrosfera da Terra


e parte indispensável de todos os ecossistemas terrestres. O meio de água doce caracteriza-se
pelo ciclo hidrológico, que inclui enchentes e secas, cujas conseqüências se tornaram mais
extremas e dramáticas em algumas regiões. A mudança climática global e a poluição atmosféri-
ca também podem ter um impacto sobre os recursos de água doce e sua disponibilidade e, com
a elevação do nível do mar, ameaçar áreas costeiras de baixa altitude e ecossistemas de peque-
nas ilhas.
A água é necessária em todos os aspectos da vida. O objetivo geral é assegurar que se
mantenha uma oferta adequada de água de boa qualidade para toda a população do planeta, ao
mesmo tempo em que se preserve a função hidrológica, biológica e química dos ecossistemas,
adaptando as atividades humanas aos limites da capacidade da natureza e combatendo vetores
de moléstias relacionadas com a água. Tecnologias inovadoras, inclusive o aperfeiçoamento de
tecnologias nativas, são necessárias para aproveitar plenamente os recursos hídricos limitados e
protegê-los da poluição.
30
a) Desenvolvimento e manejo integrado dos recursos hídricos
O objetivo global é satisfazer as necessidades hídricas de todos os países para o desen-
volvimento sustentável.
O manejo integrado dos recursos hídricos baseia-se na percepção da água como parte
integrante do ecossistema, um recurso natural e bem econômico e social cujas quantidade e
qualidade determinam a natureza de sua utilização. Com esse objetivo, os recursos hídricos
devem ser protegidos, levando-se em conta o funcionamento dos ecossistemas aquáticos e a
perenidade do recurso, a fim de satisfazer e conciliar as necessidades de água nas atividades
humanas.

b) Avaliação dos recursos hídricos


A avaliação dos recursos hídricos, incluindo a identificação de fontes potenciais de água
doce, compreende a determinação contínua de fontes, extensão, confiabilidade e qualidade
desses recursos e das atividades humanas que os afetam. Essa avaliação constitui a base prática
para o manejo sustentável e o pré-requisito para a avaliação das possibilidades de seu desen-
volvimento.

c) Proteção dos recursos hídricos, da qualidade da água e dos ecossistemas aquáticos


A água doce é um recurso indivisível. O desenvolvimento a longo prazo dos recursos
mundiais de água doce requer um manejo holístico dos recursos e o reconhecimento da interli-
gação dos elementos relacionados à água doce e à sua qualidade. Os problemas mais graves que
afetam a qualidade da água de rios e lagos ocorrem, em ordem variável de importância, segun-
do as diferentes situações, de esgotos domésticos tratados de forma inadequada, controles inade-
quados dos efluentes industriais, desmatamento, agricultura migratória sem controle e práticas
agrícolas deficientes. Tudo isso dá margem à lixiviação de nutrientes e pesticidas. Os ecossis-
temas aquáticos são perturbados e as fontes vivas de água doce estão ameaçadas.

d) Abastecimento de água potável e saneamento


Uma oferta de água confiável e o saneamento ambiental são vitais para proteger o ambi-
ente, melhorando a saúde e mitigando a pobreza. A água salubre é também crucial para muitas
atividades tradicionais e culturais.

e) Água e desenvolvimento urbano sustentável


O objetivo deste programa, no que se refere ao desenvolvimento, é apoiar as possibili-
dades e esforços dos Governos para sustentar a produtividade e o desenvolvimento nacional por
meio de um manejo ambientalmente saudável dos recursos hídricos para uso urbano. Em apoio
31
desse objetivo é preciso identificar e implementar estratégias e medidas que assegurem o abaste-
cimento contínuo de água a preço exeqüível para as necessidades presentes e futuras e que inver-
tam as tendências atuais de degradação e esgotamento dos recursos.

f) Água para a produção sustentável de alimentos e desenvolvimento rural sustentável


A sustentabilidade da produção de alimentos depende cada vez mais de práticas saudáveis
e eficazes de uso e conservação da água, entre as quais se destacam o desenvolvimento e o mane-
jo da irrigação, inclusive o manejo das águas em zonas de agricultura pluvial, o suprimento de
água para a criação de animais, pesqueiros de águas interiores e agrossilvicultura.

g) Impactos da mudança do clima sobre os recursos hídricos


Os prognósticos sobre a mudança do clima em nível mundial são incertos. Embora a
incerteza aumente muito nos planos regional, nacional e local, é no plano nacional que se pre-
cisaria tomar as decisões mais importantes. Temperaturas mais altas e precipitações menores
levariam a uma diminuição da oferta de água e um aumento de sua demanda; nessas condições,
a qualidade da água doce poderia se deteriorar, o que afetaria o já frágil equilíbrio entre oferta e
demanda em muitos países. Mesmo onde a precipitação possa aumentar, não há garantia de que
isso ocorreria na época do ano em que essa água poderia ser usada; ademais, as enchentes pode-
riam aumentar. Qualquer elevação do nível do mar provocará a invasão de água salgada nos
estuários, pequenas ilhas e aqüíferes costeiros e o alagamento de zonas litorâneas baixas; isso
apresenta grandes riscos para os países de baixa altitude.

AGENDA 21 BRASILEIRA
A Agenda 21 Brasileira tem por objetivo definir uma estratégia de desenvolvimento sus-
tentável, a partir de um processo de articulação e parceria entre o governo e a sociedade. Nesse
sentido, o processo de elaboração da Agenda 21 Brasileira vem sendo conduzido pela Comissão
de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 (CPDS), a partir de critérios e premis-
sas específicas, que privilegiam uma abordagem multissetorial da realidade brasileira e um plane-
jamento a longo prazo do desenvolvimento.
A metodologia de trabalho para a Agenda 21 Brasileira selecionou as áreas temáticas que
refletem a nossa problemática sócio-ambiental e definiu a necessidade de proposição de novos instru-
mentos de coordenação e acompanhamento de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável.
A escolha dos seis temas centrais da Agenda 21 Brasileira foi feita de forma a abarcar a
complexidade do país, dos Estados, municípios e regiões dentro do conceito da sustentabilidade
ampliada permitindo planejar os sistemas e modelos ideais para o campo, através do tema
32
Agricultura Sustentável, e para o meio urbano, com as Cidades Sustentáveis; para os setores
estratégicos de transportes, energia e comunicações, questões-chave do tema Infra-estrutura e
Integração Regional; para a proteção e uso sustentável dos recursos naturais, o tema Gestão
dos Recursos Naturais; para reduzir as disparidades sociais, o tema Redução das
Desigualdades Sociais; e para a Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável.
A necessidade de ampliar a participação dos diversos setores da sociedade brasileira no
processo de construção da Agenda 21 Brasileira gerou um documento básico, para subsidiar
uma rodada de debates estaduais, deflagrada em setembro de 2000. Esse documento-síntese,
denominado Bases para Discussão, foi publicado e distribuído pelas Secretarias de Estado de
Meio Ambiente das vinte e sete unidades da federação às entidades e instituições dos setores
governamental, civil organizado e produtivo.
No período de setembro/2000 a maio/2001, o Ministério do Meio Ambiente e a CPDS
promoveram vinte e seis debates estaduais, durante os quais foram apresentadas e consen-
suadas 5.839 propostas referentes aos seis eixos temáticos da Agenda 21 Brasileira.
Participaram dos debates estaduais da agenda, 3.880 representantes de instituições e entidades
dos setores citados.
Após a conclusão da rodada dos debates estaduais, está prevista a realização dos cinco
Encontros Regionais da Agenda 21 Brasileira, durante os quais serão consolidadas as propostas
por região. Consultores e especialistas renomados participarão dessa etapa auxiliando nos tra-
balhos de consolidação. Os encontros regionais serão reuniões de trabalho fechadas, com
duração de dois dias por região, e deverão ser realizados no período de junho a agosto/01.
Serão convidadas cerca de dez entidades e instituições por Estado para participar dos encon-
tros, cabendo a definição dos participantes às secretarias de Estado de Meio Ambiente e dos
apoiadores do processo de elaboração da Agenda 21 Brasileira, sendo eles: Banco do Brasil,
Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia, Banco Regional de
Desenvolvimento do Extremo Sul, Sudene e Sudam. Ao final dos cinco encontros regionais,
será concluído o processo de elaboração da agenda.

AGENDA 21 LOCAL

Sendo a Agenda 21 um processo de planejamento estratégico que visa a atingir o desen-


volvimento sustentável, o que se verifica é que a Agenda 21 é um instrumento que pode ser
utilizado por qualquer instância de governo, seja ele nacional, estadual ou municipal, e
mesmo em empresas e instituições. O que importa não é a escala territorial, mas o envolvi-
mento dos diferentes fatores sociais num planejamento estratégico fundamentado no marco da
sustentabilidade: que aborde os aspectos econômicos, sociais e ambientais.
33
A AGENDA 21 LOCAL é um processo participativo multissetorial de construção de um
programa de ação estratégico dirigido às questões prioritárias para o desenvolvimento
sustentável local. Como tal deve aglutinar os vários grupos sociais na promoção de uma série
de atividades no nível local, que impliquem mudanças no atual padrão de desenvolvimento,
integrando as dimensões sócio-econômicas, político-institucionais, culturais e ambientais da
sustentabilidade.
Uma análise cuidadosa da Agenda 21 Global mostra que grande parte das ações ali
propostas só poderá viabilizar-se com a participação ativa dos governos e das comunidades
locais.
Todavia, pesquisa realizada pelo Ministério do Meio Ambiente, em 1999, revela que um
número expressivo de comunidades e governos locais desconhece, completamente, os
compromissos assumidos pelo Brasil nos fóruns internacionais pertinentes à implantação do
desenvolvimento sustentável no país. A falta de informações sobre conceitos básicos e
metodologias de planejamento para esse tipo de desenvolvimento aparece, de modo evidente,
como o maior obstáculo à preparação das Agendas 21 Locais.
A gestão apropriada do ambiente em cada município depende das opções econômicas,
tecnológicas, sociais e políticas. Se uma comunidade opta por orientar seu futuro de forma
sustentável, por meio da construção de sua Agenda 21 Local, mais que privilegiar a si mesma,
ela estará possibilitando também melhoria da qualidade ambiental de seu Estado, de seu País,
de seu Planeta, que nada mais é que o reflexo das escolhas feitas em cada um dos lugares. Para
que esse processo se multiplique por todo o País, basta que se dê início, em sua localidade, ao
passo que conduzem ao desenvolvimento sustentável.
A noção de sustentabilidade tem-se firmado como novo paradigma do desenvolvimento
humano. Os países signatários dos documentos e declarações resultantes das conferências
mundiais ocorridas na década de 1990* assumiram o compromisso e o desafio de internalizar,
em suas políticas públicas, as noções de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável.
A ECO/92 aprovou um documento com os compromissos para mudança do padrão de
desenvolvimento, Agenda 21. Fica resgatado, assim, o termo “agenda” no seu sentido de
intenção, desígnio, desejo de mudanças para um modelo de civilização em que predomine o
equilíbrio ambiental e a justiça social entre as nações.

*Principais conferências realizadas pela ONU: Infância, em Genebra (1990); Meio Ambiente e
Desenvolvimento Humano - ECO/92, no Rio de Janeiro (1992); População e Desenvolvimento, no Cairo (1994);
Pobreza e Desenvolvimento Social, em Copenhague (1995); Assentamentos Humanos - Habitat II, em Istambul (1996);
Mulheres, em Beijing, China (1997)

34
COMO DAR INÍCIO À AGENDA 21 LOCAL

Para que a Agenda 21 se transforme em importante instrumento de mobilização social,


é preciso promover, num primeiro momento, a difusão de seu conceito e pressupostos junto às
comunidades, associações de moradores, escolas e setor produtivo rural e urbano. Essa iniciativa
pode ser desempenhada por um grupo de trabalho, cujo esforço se constituirá em aperfeiçoar
a capacidade de participação nos processos decisórios e de gestão, facilitando o entendimento
da população sobre o que é e como se inicia o processo de construção de uma Agenda 21
Local.
Essa iniciativa de constituir um grupo de trabalho para o começo do processo de elabo-
ração da Agenda 21 pode ter a liderança de qualquer segmento da comunidade (governo local,
universidade, organizações não-governamentais, por exemplo). Embora, em muitos casos, o
primeiro passo no estabelecimento de um processo de Agenda 21 Local tenha origem na comu-
nidade, é fundamental obter o apoio da Prefeitura e da Câmara de Vereadores, com vistas a
posterior instituição do processo
O grupo de trabalho deve: (1) estabelecer metodologia de trabalho; (2) reunir infor-
mações sobre algumas questões básicas para o município; (3) examinar as possibilidades de
financiamento para elaboração da Agenda 21 Local; (4) iniciar negociações sobre a forma de
institucionalizar o processo junto às autoridades locais; (5) identificar os setores da sociedade
que devem estar representados, em função das particularidades locais.
Apesar de não ser um plano governamental, mas da sociedade como um todo, o com-
promisso dos órgãos da Administração Pública e de seus funcionários é fundamental para o
sucesso de uma iniciativa de Agenda 21 Local. Além de buscar ajustar seus programas e projetos
à Agenda 21, é importante que todos conheçam os princípios do desenvolvimento sustentável,
e tentem incorporá-los.

PROJETO CIDADE FUTURO – AGENDA 21 LOCAL DE SANTO ANDRÉ

O Projeto Cidade Futuro é uma proposta de planejamento para Santo André, com par-
ticipação ativa da comunidade, para os próximos 20 anos – Agenda 21 Local – visando a atin-
gir um desenvolvimento integrado e sustentável (econômico, social e ambiental). Este planeja-
mento trabalha com nove eixos fundamentais de discussão: Desenvolvimento Econômico,
Desenvolvimento Urbano, Qualidade Ambiental, Inclusão Social, Educação, Identidade
Cultural, Reforma do Estado, Saúde e Combate à Violência Urbana. Cada um destes eixos é
tratado por um Grupo de Trabalho (GT) que reúne técnicos do governo municipal e os cidadãos

35
interessados (os grupos são permanentemente abertos à participação). A coordenação dos
Grupos é composta por um(a) Secretário(a) Municipal e por uma pessoa da sociedade civil.
Além disso, a estrutura do projeto é composta por um Grupo Coordenador (fórum
consultivo) composto por aproximadamente 85 pessoas, do governo e de diferentes segmentos
da sociedade civil, de diferentes partidos políticos (representantes da comunidade,
empresários de diferentes segmentos, sindicalistas, artistas, educadores, ambientalistas etc.);
por uma Executiva composta pelas coordenações dos Grupos de Trabalho(GT’s) mais um
grupo de cidadãos indicados pelo Grupo Coordenador. Para dar suporte operacional ao
Projeto foi constituída uma Coordenadoria no âmbito da administração pública, ligada ao
Gabinete do Prefeito.
A instância deliberativa do Cidade Futuro é a Conferência da Cidade realizada uma vez
por ano, onde votam os delegados do Projeto (integrantes dos GT’s, do Grupo Coordenador,
da Executiva).
De setembro de 1999 até abril de 2000, os GT’s produziram diretrizes e metas para cada
eixo; com base nesses relatórios, uma Comissão de Sistematização elaborou um único docu-
mento que foi enviado para aproximadamente 720 delegados que, individualmente, puderam
fazer emendas. Foram propostas 120 emendas. O documento e as emendas foram votados na
Conferência da Cidade, em abril de 2000 e os resultados constituiram o documento Cenário
para um Futuro Desejado, que estabelece as principais diretrizes e metas para a cidade.
A partir de 2001, a tarefa dos GT’s será estabelecer as ações de curto prazo e os
indicadores que permitam aferir as metas estabelecidas (cabe assinalar que várias ações do
governo municipal já foram realizadas considerando o contexto de discussões do Cidade
Futuro). Também a partir de agora, o Cidade Futuro e o Orçamento Participativo passarão por
um processo de articulação.
Além destas formas de participação, o projeto investe em vários outros e diversificados
mecanismos de participação da comunidade: consultas, reuniões nas comunidades, oficinas
nas redes escolares, Mostra Universitária. As propostas apresentadas são sistematizadas e
repassadas aos Grupos de Trabalho.

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OS NÚMEROS DO PROJETO

Evento de Lançamento Set / 1999 180 pessoas


1ª- Pré-Conferência (socialização de Informações) Dez /1999 351 pessoas
1ª- Conferência da Cidade (deliberativa) Abr / 2000 472 pessoas
2ª- Pré-Conferência Dez / 2000 450 pessoas

Integrantes dos GT’s, Grupo Coordenador


e Executiva 800 pessoas

Consultas (quebra-cabeças, mapa da cidade Distribuídos Retornaram


e cupons para envio de propostas) 100.000 6.858 cupons
31.205 propostas

Reuniões na Comunidade 99 reuniões 1.961 propostas 3.460 pessoas

Palestras e Oficinas de grafite, vídeo,


fotografia e reciclagem
(na rede escolar estadual) 1.600 alunos

Capacitação de Professores da
Rede Municipal
(oficinas de teatro de fantoches) 114 professores

Teresa Santos - Coordenadoria do Projeto Cidade Futuro – Agenda 21 Local

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De Olhos Bem Fechados
As conseqüências das atividades humanas são inúmeras, no entanto, duas manifestações
decorrentes dessas atividades não encontraram, ainda, soluções sócio-ambientais politicamente
corretas na grande maioria dos países em desenvolvimento: a fome e o lixo.
A diferença entre elas é que o homem, com capacidade de adaptar-se a todas as
condições, não consegue viver com fome e sobreviver a ela, porém, é capaz de viver no lixo e
sobreviver dele.
Hoje, no Brasil, na maioria das cidades, milhares de pessoas, homens, mulheres, adultos,
crianças, matam sua fome a partir da catação nos lixões e nas ruas. Trata-se de um grande e per-
verso sistema de coleta seletiva, tanto nos lixões como nas ruas, ancorado no setor informal do
trabalho por meio da exploração da miséria.
A cadeia informal de sucateiros e catadores abastece o mercado de resíduos no Brasil, um
negócio de sucesso em nossa economia, uma vez que estamos entre os maiores países reci-
cladores de latas de alumínio do mundo e de metal ferroso da América Latina.
Parcela significativa da sociedade brasileira encontra-se de olhos bem fechados para isso
que tem sido a principal temática do Fórum Nacional Lixo e Cidadania que, aqui no ABC, tem
como meta principal o tema “Criança no lixo nunca mais!”.
Além desse grande desafio, outros deverão ser enfrentados: o desconhecimento acerca do
que acontece com o lixo após ser depositado na nossa porta; o equívoco de atribuir a respon-
sabilidade da destinação de resíduos apenas ao poder público municipal, enquanto Governo do
Estado, grandes geradores como indústrias, hipermercados e shopping-centers ou geradores de
resíduos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, também são responsáveis pelo tratamento e
destino final de seus resíduos.
Felizmente, a nova legislação ambiental, políticas integradas de gestão de resíduos sóli-
dos, programas de coleta seletiva e participação popular conseqüentes com a nossa realidade
são instrumentos para atingirmos outras perspectivas para o novo milênio, com a co-respon-
sabilidade de todos sobre a geração e destinação dos resíduos.
Aos poucos, a sociedade do Grande ABC está se empenhando em viabilizar atividades
humanas que, necessariamente, deixam de gerar fome e resíduos que não tenham condições de
serem tratados de forma social e ambientalmente segura, o que já se percebe na adesão às ações
municipais de promoção da inclusão social e cidadania, para que no futuro próximo não feche
os olhos para a fome, nem jogue o nosso lixo para debaixo dos viadutos ou ao longo dos rios e
córregos da cidade.

Cheila Aparecida Gomes Bailão


é arquiteta, urbanista, especialista em Planejamento Urbano e Mestre em Construções para
Países Tropicais, Diretora do Departamento de Resíduos Sólidos do Semasa
38
Santo André Recicla e o Projeto Brincarte
APRESENTAÇÃO

O projeto Brincarte, desenvolvido no ano de 1998 pela Prefeitura de Santo André, foi
coordenado pela Secretaria de Serviços Municipais - Programa ReciproCidade Agradável –
Coleta Seletiva/Reciclagem, em parceria com a Secretaria de Cultura, Esportes e Lazer e asses-
sorado pela brinquedista Roselene Crepaldi, acompanhada pela estagiária Viviani Aparecida
Zornetta.
O projeto teve por objetivo discutir, propor e fazer com multiplicadores o resgate da
arte de brincar fazendo brinquedos.
As oficinas ocorreram na EMIA - Escola Municipal de Iniciação Artística Aron Feldman –
Parque Regional da Criança (Av. Itamarati, s/nº-) todas as quintas-feiras pela manhã. Além disso
foi possível atender também docentes (PEB I) da 2ª- Delegacia de Ensino de Santo André,
moradores da comunidade onde situa-se a Estação Bosque na Vila Guiomar, monitores e coor-
denadores dos centros comunitário vinculados ao Departamento de Cultura, Esporte e Lazer
– Departamento de Lazer e moradores da associação Centreville em Santo André.
Os multiplicadores, educadores em geral, tornaram-se com este trabalho agentes, em
seus setores de atuação, da Secretaria da Educação e Formação Profissional, da Cidadania e
Ação Social, da Secretaria de Cultura, Esportes e Lazer; arte-recicladores, representantes de
associações comunitárias, podendo desenvolver atividades junto aos centros comunitários,
escolas de samba, instituições assistenciais ou religiosas e outros locais onde a arte de brincar
e fazer brinquedos pudesse ser proporcionada.
No decorrer do processo, estimulou-se a criação de brinquedotecas em locais onde
são desenvolvidas atividades por meio dos projetos coordenados pela Prefeitura ou pela
comunidade, desde que o responsável tivesse participado do processo de instrumentação do
presente projeto.
Tal proposta contou com a orientação pedagógica da brinquedista que criava, a partir
de um trabalho interdisciplinar e integrador, um espaço para expressão cultural infantil. Um
dos projetos concretizados foi a brinquedoteca implantada no Educandário Espírita Cristão
Simão Pedro (Rua Timor, 331 – Parque Novo Oratório – Santo André) que atende semanal-
mente crianças e adultos integrados ao programa de coleta e construção de brinquedos.

39
PROJETO BRINCARTE

“Nunca se deve tirar o brinquedo de uma criança”


Mário Quintana

Brincar, brinquedo é Arte!


Arte de brincar, fazer arte e brinquedo.
Brincar reutilizando e reciclando matéria-prima, reduzindo a quantidade de resíduos a serem
encaminhados aos aterros, é uma proposta de CIDADANIA.
Crianças, adolescentes, adultos, portadores de necessidades especiais, artistas, arte-edu-
cadores e arte-recicladores são agentes que comporão o universo de atividades propostas por
este projeto.
Reaprender a brincar e fazer brinquedos de materiais que iriam para o lixo é uma arte.
Arte de criar, de evitar desperdícios, de inventar, de reaproveitar, de construir relações e
resgatar nossa cultura popular.
Educadores têm um papel fundamental na vida das crianças: criar oportunidades e espaços
para que elas brinquem.
Partindo do pressuposto de que toda criança tem o direito de brincar e, mais ainda, precisa
brincar para ter um desenvolvimento adequado do ponto de vista sócio-afetivo, cognitivo e
motor, a Brinquedoteca se torna num dos locais onde essas possibilidades possam estar
reunidas.
Brincar é importante na socialização da criança, pois é brincando que o ser humano se torna
apto a viver numa sociedade e num mundo culturalmente simbólico.
Brincar exige concentração durante grande quantidade de tempo, desenvolve a imaginação
e o interesse. É o mais completo dos processos mentais, pois influencia o intelecto, a emoção
e o corpo da criança.
Brincando, a criança aprende que não está sozinha no mundo.
Na brincadeira há espaço para a partilha, cooperação e também competição; surgem atitudes
que são negociadas naturalmente durante a atividade lúdica.
Os brinquedos e outros objetos que estão disponíveis tornam-se “meios”, instrumentos com
os quais a criança poderá descobrir o mundo e construir seu conhecimento a respeito dele.
Assim, propomos que esse espaço contemple momentos para brincar, possibilidades para a
produção e construção de brinquedos e jogos, e também oportunidades para preparação de
pessoas que possam multiplicar essa idéia.
40
METODOLOGIA

A implementação do projeto ocorreu em três módulos, interagindo conhecimento e troca


de experiências entre os participantes.

1. O BRINCAR Fases do desenvolvimento da criança


Brincar é coisa séria

2. ORGANIZANDO Brinquedoteca, um espaço a ser conquistado


O ESPAÇO LÚDICO Organização do espaço
Conhecendo e escolhendo brinquedos
Outras atividades

3. PRODUZINDO Criatividade e material alternativo


BRINQUEDOS E Novos conceitos: redução, reutilização, reciclagem
POSSIBILIDADES Organizando uma sucatoteca

AVALIAÇÃO

A avaliação do projeto foi realizada ao término de cada módulo, a partir da auto-


avaliação dos participantes com o exercício de buscar condições para efetivar propostas de
atuação em seus locais de trabalho ou convivência.
Partindo do pressuposto de que toda criança tem o direito de brincar e, mais ainda,
precisa brincar para ter um desenvolvimento adequado do ponto de vista sócio-afetivo,
cognitivo e motor, o projeto Brincarte orientou pedagogicamente profissionais da educação e
munícipes no sentido de fornecer-lhes os elementos necessários para uma mudança de postura
diante de brinquedos e brincadeiras, podendo colaborar para a melhoria das relações adulto-
criança e professor-aluno.
Os brinquedos e outros objetos produzidos durante as oficinas tornaram-se meios com
os quais educadores e demais participantes descobriram a importância e a riqueza do
reaproveitamento de materiais recicláveis enquanto atividade lúdico-educativa e construiram
seu conhecimento a respeito da viabilidade do programa de coleta seletiva e reciclagem.

41
O projeto teve a oportunidade de promover, ainda, uma mudança de postura dos multi-
plicadores envolvidos, que passaram a adotar comportamentos domésticos diferenciados, ou
seja, iniciaram um trabalho de separação e limpeza do material coletado em suas próprias
residências, além de se tornarem divulgadores de tais concepções.
A ausência de um local fixo para exposição e utilização dos brinquedos produzidos
durante o projeto, a falta de integração com as escolas municipais e a impossibilidade de implantar
efetivamente uma brinquedoteca municipal, foram alguns do elementos que cercearam uma
maior irradiação do projeto.
A brincadeira é o alimento da personalidade que está se formando, contudo, faltam opor-
tunidades. O projeto Brincarte trouxe-nos novas perspectivas. A brinquedoteca tornou-se para
estes multiplicadores, espaço onde todas as crianças vão chegando para brincar, para resgatar
brincadeiras, para compartilhar momentos de alegria.
Criar brinquedotecas permite a todas as crianças o acesso ao brinquedo, possibilitando
sobretudo aos de baixa renda o contato com o brinquedo. Esta foi uma oportunidade que também
se apresentou ao adulto consciente, desde o educador de rua até os lideres da sociedade, que
puderam trazer de volta um dos direitos de ser criança: brincar.

PROJETO BRINCARTE – 1998

Elaboração do Projeto
CHEILA APARECIDA GOMES BAILÃO
ROSELENE CREPALDI
VIVIANI APARECIDA ZORNETTA

Assessoria para Experimentação


ROSELENE CREPALDI
VIVIANI APARECIDA ZORNETTA

Projeto Gráfico/ Logoarte Brincarte


ISABELA A. T. VERAS

EMIA ARON FELDMAN


Equipe:
SONIA AMADEI – Gerente
SILVIO NERIS – Encarregado
ZECA CAPELLINI – Coordenador
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Atividades do Projeto Brincarte - Parque Regional da Criança

Atividades do Projeto Brincarte - Parque Regional da Criança

43
Bibliografia
BROUGERE, G. Brinquedo e cultura, São Paulo: Cortez, 1995
BRUNER, J.S. Juego. Pensamiento y lenguaje. Perspectivas, [S.L.] v. 16, n.1,p.79-86.1986.
CUNHA, N.H. Brinquedo, desafio e descoberta,[S.L.], MEC,1986.
FRIEDMANN, A et al. O direito de brincar: a brinquedoteca. São Paulo: Scritta,1992.
KISHIMOTO,T.M. Jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 1994.
________(org) Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez,1996.
MARQUES, F. Carretel de Invenções, [S.L.]: AMEPPE, [entre 1990-2001].
MACHADO,M.M. O brinquedo: a sucata e a criança. São Paulo: Loyola, 1995.
SANTOS, S.M.P. Brinquedoteca: sucata vira brinquedo. São Paulo: Artes Médicas, 1994.
________(org.) Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. Petrópolis: Vozes, 1997.
WEISS, L. Brinquedos & engenhoca: atividades lúdicas com sucata. 2.ed. São Paulo: Scipione,
1997.
Aspectos gerais da limpeza urbana em São Paulo. Cadernos Limpurb. PMSP, 1997.
CEMPRE. O sucateiro e a coleta seletiva, (Cadernos de reciclagem), Rio de Janeiro,1996.
A coleta seletiva na escola (Cadernos de reciclagem),Rio de Janeiro,1997.
PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANDRÉ. Reciprocidade Agradável: coleta seletiva/reciclagem.
Santo André, 1998.

44
Usina de Triagem e Reciclagem de Papel
A crise ambiental em todo o mundo, os valores de desperdício da sociedade de consumo
e a degradação do meio ambiente em nossa região requerem a implementação de processos
de Educação Ambiental, não somente para crianças em idade escolar, mas para toda a comu-
nidade.
Economia, Reaproveitamento, Criatividade, Trabalho em Equipe e Solidariedade são
valores que devem ser estimulados para que possamos atingir as mudanças éticas e de
comportamento que possam preservar a Natureza para as gerações futuras. Isso significa
garantir a eternidade da vida no Planeta Terra.
Com estes princípios foi desenvolvida a proposta de implantação da Usina de Triagem e
Reciclagem de Papel para a preparação de multiplicadores da idéia e organização preliminar
de grupos de trabalhadores autônomos para início do processo de sensibilização, reaproveita-
mento e reciclagem de papel resgatando o projeto Salva Papel implementado pelo Consórcio
Intermunicipal do Grande ABC no período de 1989-1992.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
•Estimular a criação e aprendizado de técnicas de reciclagem de papel interagindo arte
e economia como princípios para a vida cotidiana.
•Sensibilizar e capacitar recursos humanos, como agentes multiplicadores dos princípios
de reaproveitamento e reciclagem de papel, de modo a estimular a preservação e conservação
dos recursos naturais.
•Auxiliar, com o desenvolvimento da criatividade e educação ambiental, melhoria de
condições socioeconômicas das pessoas envolvidas.

Imagem externa da Usina de Triagem e Reciclagem de Papel


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•Resgatar a auto-estima de segmentos da comunidade, a fim de que possam se valorizar
desenvolvendo possibilidades de criar, produzir arte e fontes de renda.
Nas etapas preliminares, trabalhou-se com artistas plásticos e arte-educadores da cidade,
para que, além do aprendizado das técnicas de reciclagem, desenvolvam a criatividade artística
no reaproveitamento do papel.
A oficina foi ampliada para participação e parceria com a comunidade e passou a
atender três linhas de ação:

1) Atividades Pedagógicas: Promovendo o envolvimento de grupos interessados em


obter conhecimento da reciclagem e confecção do papel (escolas, empresas, entidades etc.) por
meio de visitas ou atividades previamente agendadas. As atividades monitoradas abrangem
práticas, como a confecção do papel, e teóricas, com a visão global do processo que envolve
a reciclagem ambiental e comportamental.

2) Atividades Socioculturais: Oferecer oficinas gratuitas de reciclagem de papel, voltadas


para grupos de pessoas carentes assistidas por entidades e associações, como forma de inte-
gração social, sensibilização e perspectiva de geração de renda. Para as entidades particulares,
como escolas, empresas e outras, foram desenvolvidos cursos de papel artesanal, pelos quais
era cobrada uma taxa por pessoa interessada, com o fim de gerar fundos para a sustentação das
oficinas gratuitas para jovens carentes.

3) Atividades Produtivas: Essas atividades foram desenvolvidas de modo a viabilizar a


comercialização do papel artesanal como forma de geração de renda para as pessoas envolvi-
das e auto-sustentação da Usina. O produto da comercialização dividido em partes sustentou
algumas despesas da usina e o trabalho das pessoas envolvidas. Uma outra parte foi encami-
nhada para o fundo de sustentação dessas pessoas no período em que houve produção sem
comercialização. Inicialmente foram treinados jovens pré-selecionados, trabalhando três em
cada um dos períodos (manhã e tarde). A partir daí, a seleção para o trabalho de produção
aconteceu naturalmente, com o aproveitamento de pessoas que passaram pelas atividades
pedagógicas e socioculturais e que mostraram habilidade e interesse em compor a equipe.

SENSIBILIZAÇÃO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL


Em setembro de 1998 inicia-se na usina o trabalho com dez adolescentes pré-sele-
cionados junto ao coordenador das casas de meninos e meninas da Obra Kolping (casas de
acolhidas para meninos de rua) que num processo natural de seleção, resultou em um grupo
46
fixo. O grupo passou a contar com seis adolescentes com idade entre 14 e 17 anos.
Nesta experiência, que durou três meses (até dezembro/98), os meninos se espe-
cializaram na confecção do papel artesanal, enquanto era trabalhada a valorização pessoal,
buscando reintegrá-los na sociedade como cidadãos.
O período de aprendizado de três horas diárias funcionava de segunda a sexta-feira. Em
meados de novembro daquele ano, a CRAISA viabilizou almoço para todos, que passaram a
permanecer mais três horas diárias. Foi analisado o interesse e necessidade deste grupo em per-
manecer mais tempo na usina, com o intuito de ampliar o desenvolvimento do trabalho obje-
tivando afastar alguns deles das drogas e de furtos. No final do ano, com a comercialização dos
papéis confeccionados por eles, foi viabilizado o início da geração de renda para o grupo.
No ano de 1999, o grupo foi ampliado para quinze adolescentes, a pedido da Assessoria
da Criança e do Adolescente através do Programa Andrezinho Cidadão. Foram estabelecidos
critérios para o acesso dos adolescentes: estar freqüentando regularmente a escola e ter entre
14 e 21 anos. O grupo foi dividido em dois turnos: matutino e vespertino.
Nessa nova etapa, com a participação dos adolescentes em situação de vulnerabilidade
pessoal e social, houve a adesão de diversos parceiros que viabilizaram e potencializaram
a produtividade; ampliando as condições para a realização de inúmeras atividades; enrique-
cendo o processo sociocultural e criativo na usina; e possibilitando o desenvolvimento dos
projetos descritos a seguir.

PROJETO DE OFICINAS DE RECICLAGEM DE PAPEL


Para a implantação deste projeto, em parceria com a Alcoa Foundation, com o intuito de
recuperação de pessoas à sociedade e educação ambiental, foram necessários aquisição de
equipamentos, assessoria de oficineiros e monitores. Durante a implantação da etapa preliminar,
que durou nove meses, foram preparados os monitores. Dentre os adolescentes aprendizes foram
escolhidos seis. Para cada oficina foram definidos dois monitores e um oficineiro. Com isto, o pro-
jeto esteve em condições técnicas de prosseguir e ampliar a atuação em outras áreas mantendo a
assessoria, as monitorias e os serviços de assistência social, médica e terapêutica, além de outros
serviços conduzidos em parceria por outras Secretarias Municipais envolvidas no processo.

1ª Oficina – Centro de Apoio Psicossocial – Prevenção, Tratamento e Reabilitação do


Alcoolismo – CAPS/DQ – Atende e reabilita clinicamente dependentes químicos de todas as
faixas etárias e seus familiares. A proposta de utilizar as oficinas de arte em um centro de atendi-
mento, como o CAPS, visa a criar dentro do tratamento outras saídas para a ansiedade devido
ao uso e abuso de drogas.

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Nessas oficinas, na conversa informal, semidirigida, pode-se trabalhar questões impor-
tantes como sexualidade, drogas, AIDS, auto-estima, desenvolvimento global e cidadania, de
forma a contribuir para um novo projeto de vida, para a volta à escola e para a escolha do
primeiro emprego.
Através das oficinas, os adultos e crianças atendidos no CAPS buscam estreitar a
amizade e a solidariedade, fortalecendo o laço social com seus familiares e a comunidade.

2ª Oficina – “Vem Maria” Centro de Apoio à Mulher em Situação de Violência –


Assessoria dos Direitos da Mulher – Atua com o objetivo principal de proporcionar subsídios
e tratamento psicológico, assistencial e amparo legal a fim de melhorar a qualidade de vida das
mulheres que estão em situação de violência de gênero (doméstica e sexual).
A equipe do “Vem Maria” traça estratégias de trabalho que tratam, além dos casos de
urgência, do resgate das noções de cidadania e da recuperação da auto-estima das vítimas da
violência doméstica, proporcionando condições de revisão de sua situação no espaço social
cotidiano.
Com a implantação da oficina de reciclagem de papel no “Vem Maria”, pretende-se
desenvolver um trabalho sócio-educativo a fim de que essas mulheres extravasem suas angús-
tias, medos e ansiedades e sintam-se fortalecidas para retornar ao convívio social pleno.

3ª Oficina – Casa da Reciprocidade – A Casa da Reciprocidade nasceu da necessidade


de descentralizar as atividades de arte-reciclagem. A instalação do espaço combina oficinas
diversas, atendendo a diferentes grupos da população: jovens, professores, estudantes, terceira
idade, etc.
Com a intenção de estimular a preservação e a conservação dos recursos naturais, pro-
porcionando condições para uma atividade permanente de criatividade, economia, reaproveita-
mento, reciclagem e fabricação artesanal do papel, foram desenvolvidas atividades práticas com
uma visão global do processo que envolve a reciclagem ambiental e comportamental.

PROJETO ALDEMIR MARTINS


A partir da impressão em papel reciclado elaborado na Usina pelo processo de litografia
de uma gravura do renomado artista, criou-se a oportunidade de desenvolver o “Projeto
Aldemir Martins”. Com a doação desta obra de arte ao acervo cultural da cidade e a generosa
oferta do artista em ceder a “grife” e mais gravuras aos aprendizes da Usina, viabilizou-se a
perspectiva de criar agendas, camisetas e outros produtos com a parceria das marcas da Usina
e do artista.
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Para anunciar a entrada do novo milênio, o
artista cedeu uma belíssima obra, intitulada “Acorda
Amor” que poderá também viabilizar outros produtos e
esculturas urbanas de modo a divulgar o trabalho e a
arte produzida na Usina com o apoio deste artista e
outros que já estão envolvidos no processo, conforme
se pode observar na relação de atividades.

Cartões de natal feitos em papel reciclado com imagem criada


exclusivamente para uso da Usina pelo artista Aldemir Martins.

PROJETO LITOGRAFIA - ARTE E GRAVURA


“Arte-Educação em Litografia e Gravura” é um projeto que foi desenvolvido pelo SEMASA
na Usina de Triagem e Reciclagem de Papel no período de setembro a dezembro de 2000.
O projeto trabalhou com os adolescentes aprendizes da Usina, multiplicadores, arte-
recicladores e outros interessados na busca do conhecimento e domínio das técnicas, incluindo
pesquisa na área da Litografia e Gravura.
Este trabalho, em parceria com um mestre-impressor, o litógrafo Roberto Gyarfi (ou
“Roberto Alemão”, como é conhecido), já havia viabilizado em junho/2000 a doação ao
Acervo Cultural da Cidade de uma obra de arte assinada por Aldemir Martins e gravada pelo
litógrafo em papel reciclado produzido pelos adolescentes aprendizes.
As oficinas foram realizadas três vezes por semana, às segundas, terças e quintas, no
horário das 9h às 15h, com intervalo para refeições no horário das 11h30 às 12h30, incluindo
atividades no ateliê do mestre impressor.
As oficinas articulam um grupo de artistas plásticos que produzem peças em papel reci-
clado dentro do processo de aprendizado, pesquisa e produção do conhecimento nesta arte
(que transpõe a gravura da pedra para o papel) dando suporte, dentre as ações, ao projeto
Registros Cartográficos, que comemorou o aniversário de 447 anos do município de São
Bernardo do Campo – SP.
O projeto realizado pelo SEMASA, Prefeitura de Santo André e CRAISA contou com o
apoio das empresas ROTEDALI Serviços e Limpeza Urbana Ltda. e SINALRONDA Sinalização
Viária e Serviços Ltda.
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Projeto Produção de Objetos com Papel Reciclado e Serigrafia
Coordenado por Maria Cristina Borges e com a contribuição voluntária dos artistas
Helena Mazarro, Rubens Antelmo e José Garcia, foi possível aos adolescentes aprendizes
criar uma linha de produtos disponibilizados para venda na Usina, na barraca instalada aos
domingos na Feira Cultural do Calçadão Oliveira Lima e em pontos transitórios de venda como
seminários, workshops ou shoppings, tudo com assessoria da equipe do SEMASA que acom-
panha o projeto.
Esse projeto viabilizou a produção de inúmeros produtos, incluindo brindes para a
Prefeitura Municipal de Santo André, os quais foram doados a outras prefeituras, inclusive no
encontro das cidades irmãs no 3º- Environmental Takasaki Summit; brindes de Natal para as
empresas Ericsson e Wheaton e, além disso, possibilitou a produção dos cartões de natal com
a grife Aldemir Martins e outros, com desenhos feitos pelos próprios adolescentes envolvidos
no processo, e ainda sacolas para a loja Projeto Tamar (Shopping ABC).

Benefícios Alcançados
• Auxiliar, com o desenvolvimento da criatividade e da educação ambiental, a melhoria
de condições socioeconômicas das pessoas envolvidas;
• Proporcionar condições para uma atitude permanente de criatividade, economia,
reaproveitamento, reciclagem de objetos e/ou matéria-prima e fabricação de papéis de modo a
estimular a preservação e/ou conservação dos recursos naturais;
• Reabilitar pessoas à sociedade, resgatando a auto-estima de segmentos da sociedade
como os dependentes químicos, as mulheres vitimadas e pessoas de rua, bem como o forta-
lecimento do ego dessas pessoas, a fim de que possam se auto-afirmar como membros da
comunidade, criando alternativas de trabalho e possibilidade de fontes de renda.

Transferência
• A experiência foi absorvida e implementada em outros municípios da região, desta-
cando-se, principalmente, o apoio ao Projeto Araçari em São Bernardo do Campo, que também
trabalha com adolescentes.
• A cidade de Ferraz de Vasconcelos implementou, com nosso apoio, um programa que
recebeu recursos do Governo Federal, através do Programa “Comunidade Solidária”.
• O serviço funerário da cidade de São Paulo quer implementar um trabalho similar e
poderá contar com o apoio da Usina.
50
Participação em diversos eventos, como segue:

• Bloco de Carnaval – Criança 2000, fantasias e carro alegórico com adereços produzidos
em papel reciclado (Fevereiro/2000)
• Atividades de relações humanas: “Há tempo para tudo” – música “Aquarela” de
Toquinho e Vinícius de Moraes (Fevereiro/2000)
• Oficina de Litografia Pedra e Arte com o mestre impressor Roberto Gyarfi no Salão de
Exposição do Teatro Municipal, na qual produziram uma gravura de Aldemir Martins em papel
reciclado. O trabalho foi doado ao Acervo Cultural de Santo André (Março/2000)
• Oficina Brasil 500 anos, com o artista reciclador João do Lixo, produção de caravelas
com papel reciclado (Abril/2000)
• Oficinas de percussão – produção de instrumentos com o artista reciclador e músico
Jefferson Sooma (Abril e Julho/2000)
• Visita ao Senai Artes Gráficas – Mooca, SP (Abril/2000)
• Participação na Feira Cultural, na EMEI Vila Sá (Abril/2000)
• Atividades de preparação para as comemorações do Mês do Ambiente (Maio/2000).
• Participação no evento “Revolucionarte” na Casa da Palavra – recepção e venda de
produtos à filósofa e professora Marilena Chauí (Maio/2000)
• Visita a trabalhos de artes plásticas do Colégio Objetivo (Maio/2000)
• Atividades de inauguração do Corredor Cultural, expondo objetos produzidos na Usina
e a obra de arte realizada em parceria com Roberto Gyarfi e Aldemir Martins (Maio/2000)
• Comemoração do Dia Internacional do Meio Ambiente com a doação ao Acervo
Cultural da cidade da obra de arte realizada em papel reciclado por aprendizes da Usina,
Roberto Gyarfi e Aldemir Martins. Ato solene de entrega da obra ao Prefeito Municipal no Salão
Nobre do Gabinete do Paço Municipal (Junho/2000)
• Participação na Santo André-Expo, no Pavilhão De Nadai (Julho/2000)
• Exposição de trabalhos produzidos na Usina no Seminário Internacional do Mercosul,
realizado pela ABDL – Assoc. Brasileira Desenvolvimento de Liderança (Julho/2000)
• Abertura oficial das oficinas do Projeto de Reciclagem de Papel Artesanal com o apoio
da Fundação Alcoa, com apresentação de Rap feito pelos adolescentes e dança (Julho/2000)
• Produção de papel para o Projeto Registros Cartográficos, conduzido pela Secretaria
de Cultura, Esportes e Lazer com a coordenação do mestre impressor Roberto Gyarfi
(Agosto/2000)
• Recepção das TV Cultura e Globo SAT para filmagens e entrevistas sobre as ações que
envolvem o Projeto Alcoa (Agosto/2000)
• Participação no Projeto Revolucionarte – Casa da Palavra, com apresentação de

51
dança e canto coral de Rap composto por dois adolescentes da Usina (Agosto/2000)
• Produção de produtos e participação com stand de comercialização na 2ª- Feira do
Verde de Santo André – “ABC Verde” (Agosto/2000)
• Projeto Arte Educação em Litografia e Gravura para os adolescentes e outros interessa-
dos com o acompanhamento do mestre impressor Roberto Gyarfi (Setembro a Dezembro/2000)
• Visita à exposição de artes plásticas e artes aplicadas em papel artesanal – Fundação
Mokiyi Pkada, projeto KAMORI (Outubro/2000)
• Participação na feira cultural do Colégio Cidade dos Meninos de Santo André
(Outubro/2000)
• Participação na filmagem do vídeo – SEMASA – Programa de Coleta Seletiva apresen-
tado na premiação “Governos Locais Ajudando a Construir um País mais Justo – Histórias de
um Brasil que funciona” e relacionado dentre 950 programas e projetos, como uma das 20 me-
lhores práticas de Política Pública do Brasil, pela Fundação Ford e Fundação Getúlio Vargas
(Outubro/2000)
• Programação de workshop com a empresa Wheaton do Brasil – SBC/SP
(Outubro/2000)
• Produção de papel para o Projeto Registros Cartográficos da Prefeitura de São Bernardo
com a coordenação do mestre impressor Roberto Gyarfi (Outubro/2000)
• Recepção de novas gravuras para o Projeto Aldemir Martins, cedidas generosamente
pelo artista plástico (Outubro/2000)
• Preparação do Evento “Acorda Amor – o despertar para o novo milênio”, a ser anun-
ciado com uma obra de arte do artista plástico Aldemir Martins e executado pelo mestre impres-
sor Roberto Gyarfi, pelo artista plástico Marbé e os adolescentes aprendizes da Usina e Oficinas
de Reciclagem de Papel (Novembro e Dezembro/2000)
• Projeto e preparação de sacolas para as lojas do Projeto Tamar, Shopping ABC – Santo
André, com a coordenação do artista plástico Garcia Filho. (Dezembro/2000)
• Produção de papel e cartões de Natal com silk screen coordenado pelo artista Rubens
Antelmo (Novembro e Dezembro/2000)
• Participação na Feira Cultural do Calçadão da Rua Cel. Oliveira Lima – domingo das
10h às 18h (Novembro e Dezembro/2000)
• Recepção de 14 jovens e assistentes do Projeto Araçari de São Bernardo do Campo
(Dezembro/2000)
• Recepção do artista plástico Evandro Jardim – Projeto Registros Cartográficos
(Novembro/2000)
• Participação da Exposição “Brincadeiras de Papel” realizada pelo SESC Belenzinho/São
Paulo (Maio a Agosto/2001)
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EQUIPES RESPONSÁVEIS:

ETAPA I Coordenadores Oficineiros


Marcelo Bispo David Abdo Benetti
Garcia Filho Rogério Márcio Simões

ETAPA II Coordenadores Oficineiros


Delaine Romano Delaine Romano
Maria Cristina Borges Maria Cristina Borges
Kael Escorb Kael Escorb

ETAPA III Coordenadores/Oficineiros Oficineiros


Maria Cristina Borges Maria de Fátima Borges
Rosana Ribeiro
Helena Mazzaro

EQUIPE SEMASA Coordenação Geral


Cheila Aparecida Gomes Bailão
Eliene Moraes
Marcelo Bispo

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PARCERIAS

ALCOA E ALCOA FOUNDATION Recursos Financeiros:


Projeto Alcoa em parceira com Doações de papel, papelão e plásticos
a Secretaria de Cidadania e Ação Social Doação de um computador e uma impressora
Aquisição de cartões, papéis reciclados e brindes

CRAISA – Cia. Regional de Abastecimento Doação da alimentação


Integrado de Santo André Cessão da infra-estrutura e manutenção

Secretaria de Serviços Municipais Recursos Humanos (técnicos)


Manutenção de equipamentos
Manutenção da infra-estrutura física
Transporte dos passageiros e materiais recicláveis
Linhas telefônicas

Secretaria da Cidadania Educadores do Programa Andrezinho Cidadão


e Ação Social Veículo para deslocamento dos adolescentes aprendizes
Vale-transporte para os adolescentes aprendizes

Hospital Maternidade Brasil Doação de papel para reciclagem

Hospital Santos Dumont / Doação de recursos financeiros


Prima Saúde Doação de cestas de Natal

Escolas Visitantes com Doação de alimentos para composição de cestas


atenção monitorada básicas para os aprendizes

Projeto Aldemir Martins Doação de obras/gravuras litografadas pelos artistas


Aldemir Martins e Roberto Gyarfi

Projeto Litografia Arte e Gravura Sinalronda – recursos financeiros


Rotedali Serviços – recursos financeiros
Mestre-impressor Roberto Gyarfi

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Crianças e Jovens
Crianças e jovens numa má companhia
nas ruas da cidade de noite e de dia
começam com vício de fumar, cheirar cola
Que são oferecidas por um homem gravatinha
A jogada ensaiada pela maconha e farinha
Hoje é de graça, amanhã já paga cem,
o ciclo vicioso que não acaba bem
Ele na erva começou, e no pó se acabou
O relógio, ele teve que vender
para comprar a maldita erva do poder

Suas casas são a rua


Suas camas são o chão

Resto de comida são a sua alimentação.


No primeiro assalto você leva sorte,
escapa da polícia e também da morte.
No segundo assalto as coisas não vão bem,
não escapa da polícia mas escapa da Febem
No terceiro assalto seu destino está selado
pela polícia acaba sendo baleado.
Com um tiro na cabeça, o outro no coração.
É mais um fim de um bom ladrão
O remédio do vício está dentro de você
Tenha fé na vida e na vontade de viver.
O remédio do vício está dentro de você.
Tenha fé em Deus e na vontade de viver ...

Suas casas são a rua


Suas camas são o chão ...

RAP de autoria de Manoel Mendes Francisco e Anderson Pereira


(adolescentes aprendizes da Usina de Triagem e Reciclagem de Papel)
55
Projeto Oficinas de Arte-Educação em Litografia e Gravura
Quando se fala em Litografia – uma técnica de gravação de desenhos sobre pedra ou
placa de alumínio, inventada em 1796 por Aloys Senefelder e introduzida no Brasil em 1819 –
não há ninguém melhor do que Roberto “Alemão” Gyarfi para se pensar. O mestre-impressor
que trabalha há aproximadamente 30 anos neste processo e já realizou diversos projetos com
renomados artistas plásticos como Antonio Peticov, Takashi Fukushima, Arcângelo Ianelli,
Ivald Granato, Aldemir Martins, Maria Bonomi, Carybé, Livio Abramo, Carlos Scliar, Volpi,
Renina Kats, Evandro Jardim, Darel, Emanoel Araújo, além de dar espaço também a jovens
gravadores. Algumas das obras desenvolvidas junto a estes artistas estão em acervos de impor-
tantes instituições culturais do mundo.
Na década de 90 o mestre impressor foi contemplado com uma bolsa da Fulbright,
comissão para intercâmbio educacional entre Brasil e Estados Unidos.
A função de “Alemão” vai além do preparo da pedra. Pedras, matrizes muito antigas,
materiais de gravação sobre pedra calcária, prensas, tintas de impressão, rolos de entintagem
e transporte, ácidos, goma arábica, breu moído e talco são todos os detalhes de um processo
litográfico.
Com o próprio gesto e movimento, o artista fixa o trabalho na pedra, é isso que faz da
litografia uma técnica formadora de obras de arte. O trabalho tem início com o registro,
em lápis preto, bastão ou pincel e tinta gordurosa, da imagem na pedra, depois do desenho
realizado, leva-se a pedra para a prensa e executa-se a impressão de múltiplos originais, com
tiragens que variam de acordo com a escolha do artista. A litografia traduz impecavelmente a
imagem da pedra para o papel, tornando-se uma gravura original.

OFICINA DE LITOGRAFIA
Em encontro de “Alemão” com
jovens da Usina de Triagem e Reciclagem de
Papel, que tiveram a oportunidade de fazer
uma oficina de litografia em papel reciclado
(por eles confeccionado), com uma gravura
do artista Aldemir Martins, durante
exposição realizada no Salão de Exposições
da Prefeitura de Santo André no mês de
fevereiro 2000. A referida obra foi doada
pelos adolescentes para o Acervo Cultural
de Santo André. foto: Maria Cristina Borges

56
A partir desse encontro percebeu-se que os adolescentes tinham um potencial de tra-
balho e criatividade que necessita de novas oportunidades, então desenvolveram na Usina de
Triagem e Reciclagem de Papel trabalhos de arte-educação, em especial, técnicas de Litografia
e Gravura. O trabalho visou ensinar aos adolescentes e multiplicadores o conhecimento e
domínio das técnicas, incluindo pesquisa na área.
Os trabalhos foram desenvolvidos de setembro a dezembro de 2000 para os jovens ado-
lescentes e monitores atendidos na Usina de Triagem e Reciclagem de Papel e também para
jovens artistas que queriam ampliar seu conhecimento na Arte de Litografia.

Cenas do trabalho do mestre-impressor Roberto “Alemão” Gyarfi, 2000

O LITÓGRAFO

É curioso que
um homem tenha amor
à técnica da grava-
ção e dedique as suas
horas de trabalho e os
seus anos de maior
vigor a pesquisar
maneiras de realizar
gravações e cópias com
fidelidade e caráter
interpretativo exem-
plar. Um homem como
Roberto Alemão, de-
vido a esta paixão,
é naturalmente inte-
ressante.
57
Ele é uma dessas pessoas voltadas para esta espécie de técnica, mistura de tradição
e amor, e transformou a sua vida numa longa e coerente linha de impressões, pesquisas,
diálogos com artistas, sugestões sobre o modo de proceder e admiração pelos resultados.
Certamente imprimir é mais do que uma simples técnica. O impressor deve entender o
trabalho do artista de uma maneira muito particular, alguma coisa mediúnica, pois deve
perceber as intenções, o que está oculto, o que se pretende dizer no gesto, na abordagem, na
indicação. Não deve julgar, pois esta não é a sua função. E nem deve fazer prevalecer os seus
conhecimentos técnicos da pedra, do papel, das tintas, das cópias, pois isto seria inibidor.
Deve se unir ao artista e perceber em cada um de seus procedimentos a intenção expressiva
e procurar, com seu conhecimento e vigor físico, traduzir este procedimento em resultado
gráfico. É uma tarefa maiúscula.
Roberto Alemão tem este tipo de simbiose criativa com o artista e com a imagem. Ele
a faz surgir como se fosse parte de si mesmo. Dedicado, vibrante, delicado, participante,
intuitivo, amoroso. Um parceiro do artista, da imagem e do processo criativo. É esse jeito um
pouco alucinado que um impressor deve ter no Brasil: os pés na terra, como cabe a um
técnico; visionário, como cabe a quem se dedica à atividade artística entre nós. É esta mistura
de monge franciscano e de alquimista o que confere ao Roberto Alemão o seu encanto. E é a
tradição de tantos anos de absoluta dedicação em trabalhos de parceria com tantos artistas que
o torna respeitado e respeitável. Ainda que ele não fale muito neste passado e respeitabilidade
e prefira conversar sobre as coisas que fará em futuro próximo ou distante.
Sempre com este ar meio espantado, onde entrevemos a sua eterna dedicação e gesto
amoroso.

JACOB KLINTOWITZ – 1992

58
Equipe

JOÃO ROBERTO ROCHA MORAES


Diretor Superintendente – Semasa
CHEILA APARECIDA GOMES BAILÃO
Diretora do Depto. de Resíduos Sólidos – Semasa
SILVIA HELENA PASSARELLI
Assistente de Diretora – DRS – Semasa
LUIS CARLOS FERNANDES AFONSO
Diretor Superintendente – CRAISA
NEWTON NARCISO GOMES JUNIOR
Diretor de Operações – CRAISA
MARCELO BISPO
Coordenador do Projeto
ROBERTO GYARFI
Mestre-Impressor
MARIA CRISTINA BORGES
Arte-Recicladora / Artesã
MANOEL MENDES FRANCISCO
Monitor / Adolescente aprendiz
KARINA FERNANDA DE JESUS
Monitora / Adolescente aprendiz
ELIENE MORAES
Apoio Administrativo

Realização

Prefeitura Municipal de Santo André


Semasa Saneamento Ambiental
CRAISA Companhia de Abastecimento Integrado de Santo André

Apoio

Rotedali Serviços e Limpeza Urbana Ltda.


Sinalronda Sinalização Viária e Serviços Ltda.
59
Projeto Atlas Ambiental
do Município de São Bernardo do Campo
Bons Ventos ...

A gestão política do município de São Bernardo do Campo, pelos números gerados na


mão dupla de seu comando, é impressionante dentro do Brasil hoje. Principalmente se proje-
tarmos os últimos quatro anos, quando os defeitos decresceram e as qualidades ampliaram-se.
Não basta gerar e arrecadar riquezas se não tivermos como objetivo comum o equilíbrio
humano e ambiental, que muitas vezes decai diante da coexistência dos interesses conflitantes
que o crescimento envolve.
Dentro do que sabemos através de áreas especializadas, focalizamos uma saudável
dinâmica massiva regida por atuações brilhantes, mesmo quando modestas e abnegadas.
Estamos nos referindo ao Projeto Atlas Ambiental do Município de São Bernardo do Campo,
que foi inserido no cotidiano pela Secretaria de Habitação e Meio Ambiente e de
Desenvolvimento Social e Cidadania em parceira com a Diretoria Regional de Ensino através
de presenças, também não locais e até polêmicas, como o mestre-impressor Roberto Gyarfi e
inúmeros criadores da região. Eles contribuíram para algo insólito e a longo prazo.
Implantou-se um modelo de “modernização de interesses” para desenvolver caracterís-
ticas e produtos através da prática de um novo ofício, coordenando um programa alternativo
de sensibilização pelo trabalho da arte. Visando também à educação, ao fazer papel reciclado,
numa veiculação remunerada fabricando produtos de alta qualidade e objetivando reverter
e recuperar tudo quanto é prejudicado pelas forças estabelecidas da economia predatória e
pelas tradicionais GANÂNCIAS AUTORITÁRIAS. Combinou-se o uso de materiais subestima-
dos com o estímulo da mão-de-obra marginalizada que se estruturou num plano didático.
Reciclaram-se vidas e resgatou-se o meio ambiente onde estas vidas seriam consumidas deplo-
ravelmente. Criou-se um objetivo de vida diferenciado para uma camada de pessoas dentro da
cidade e na periferia, seja para privilegiados pelo ensino regular como para aqueles a deriva
de tudo.
A combinação do fazer com as mãos, com o cérebro e com o coração resultou mais
uma vez em Arte. Arte por excelência transformatória e seminal. Não no sentido do contem-
plativo, mas sim do civilizatório.
Corresponder ao apelo do meio ambiente e de pessoas para serem requalificadas e sus-
tentadas permanentemente por um trabalho digno, faz parte do destino ético de uma nação.
Para atendê-lo, fundiu-se experiência artística com autorias e percepção.
Entre os objetivos do artista contemporâneo está a prática da Arte Pública e de Arte
60
Multiplicada. Como preconizou Walter Benjamin: a função da arte não se baseia mais no
ritual, mas se fundamenta sobre outra forma de práxis: a política.
No caso específico das oficinas de São Bernardo do Campo, a Arte agora existe com
conteúdo social, de libertação e de crescimento.
Parabéns!

MARIA BONOMI
Artista Plástica

61
Projeto Ação Cultural Wickbold sobre Preservação do Meio Ambiente

A Wickbold & Nosso Pão Ltda. patrocinou uma ação cultural com o tema de preservação
ambiental dirigida para crianças de 1ª- a 4ª- séries do Ensino Fundamental (nos períodos de abril
a junho de 1999 e outubro de 2000, 3.000 crianças distribuídas em 20 colégios da Grande São
Paulo foram atendidas.)

Metodologia

Através do patrocínio da empresa, que pretendia divulgar um determinado item de sua


linha de produtos infantis, foi desenvolvida uma atividade que oferecia conceitos teóricos,
oficinas práticas sobre o tema e degustação contextualizada.

Obetivos Educacionais

Explicar os conceitos de “Reciclar, Reutilizar e Reduzir”.


Descobrir novos usos para embalagens de produtos industrializados.
Demonstrar a importância da reutilização de diversos tipos de embalagem.

Descrição da Ação

O tema da preservação foi explorado através da associação direta à imagem do “jacaré”


já utilizada nas embalagens dos produtos infantis da empresa (como animal que corre risco de
extinção).
A partir dessa relação, os “3 R’s” (reciclar, reutilizar e reduzir) eram conceituados, exem-
plificados e diferenciados.

Esclarecidos os con-
ceitos, dava-se início à realiza-
ção das oficinas de reutiliza-
ção da embalagem do produto
patrocinador. A partir de mode-
los, em que a embalagem era
associada a alguns elementos
descartáveis como canudos,
rolhas, linha, caixa de fósforo
etc., as crianças construíam
pequenos brinquedos.
62
• Exemplos de brinquedos: mini-bonés, pára-quedas, leque, marcadores de livros, trave
de futebol com o jacaré de goleiro e bolinha para jogos de botão, bandeirinhas para festa junina,
bandeira do Brasil, esconde-esconde com vários filtros de café sobrepostos, entre outros.
• No primeiro semestre do ano, foi incentivada a construção de bandeirinhas para as
festas juninas, pois, além de coloridas, as embalagens são também plásticas e impermeáveis.
Já no segundo semestre, foi incentivada a construção de marcadores de livros para estimular
o hábito de leitura.

Depois das oficinas, era demonstrada uma analogia entre o produto (bolinho recheado)
e o Planeta Terra, com o objetivo de demonstrar visualmente os 1/32 correspondentes à capa
útil da Terra – parte do Planeta Terra da qual conseguimos extrair nossa subsistência.

• O planeta é formado por 3 partes de água e 1 parte de Terra. Como na água não con-
seguiríamos sobreviver, vamos descartar as 3 partes de água e ficar com toda a extensão de
terra do planeta (1/4).
• Descontando as regiões que em função do clima seriam impróprias para moradia –
desertos e calotas polares – devemos descartar mais 3/4 desta porção de terra, ficando então
com 1/16 do planeta nas mãos.
• Considerando que podemos aproveitar apenas 40 quilômetros de profundidade da
superfície, devemos descartar todo o miolo do planeta que representa 1/2 desta fração.
• Isto significa que a fração que nos resta para extrair nossa subsistência representa
apenas 1/32 de todo o Planeta Terra.

Momentos de Reflexão

• O que
acontecerá com
todos os seres
vivos que depen-
dem dessa peque-
na porção de terra
se não soubermos
preservá-la?
• E se esse
pedacinho ficasse
cada vez menor? Foto: Academia de Brinquedos

63
• Dá pra entender por que é tão importante preservar o meio ambiente?
Depois da reflexão, todas as crianças recebiam um produto para degustação.
Essa degustação deveria acontecer de forma programada, com mordidas que repro-
duzissem a analogia realizada. Isso significava:

• dividir o bolinho, em 4 partes iguais e comer 3 delas...


• dividir a parte de terra em 4 partes iguais e comer 3 delas ...
• dividir em mais 2 partes iguais e comer uma delas...
• restava um pedacinho de bolinho (1/32) correspondente à capa útil da Terra

Mensagem

Vamos comer o pedacinho de “Bolinho” que sobrou, mas vamos preservar o meio
ambiente!!!

Uma oficina sempre era iniciada com embalagens que haviam sido abertas e limpas
pela turma anterior. Cada criança gerava matéria-prima para a próxima oficina (uma em-
balagem) ao degustar o produto.

Entrega de brindes: uma régua contendo a frase “Aprenda com o jacaré: Lugar de lixo
não é no chão, na rua ou na praia. É no lixo.”, e um folheto promocional que reforçava os
conceitos dos 3 R’s.

Conclusão

Reaproveitamos aproximadamente 3.000 embalagens descartáveis e não recicláveis


(papel plastificado) na construção de aproximadamente 6.000 bandeirinhas para as festas
juninas das próprias escolas e na construção de 700 marcadores de livros para os alunos.

Responsáveis pelo Projeto

Ângela R. Madeira e Roselene Crepaldi – Academia de Brinquedos (brinquedoteca


circulante que presta serviços para escolas públicas e particulares e realiza ações de marketing
cultural para empresas).

64
Projeto Máquina da Vida
Ato Pela Vida, Não à Violência

Campanha de Desarmamento Infantil

No mês de julho de 1999, a Pau-Brasil Assessoria


Ambiental e a Academia de Brinquedos foram con-
tratadas pela Secretaria de Educação e Formação
Profissional da PMSA, para assessorar a organização e
operacionalização de um ato contra à violência. Um ano
depois, foram também contratadas pelo Shopping ABC
para reproduzir o mesmo ato nas instalações do shopping.
As duas empresas propuseram, então, a cons- Convite do Evento
trução de uma instalação batizada de Máquina da Vida.
A máquina, que era movida a armas de brinquedo, gerava vida.
A partir daí, a Pau-Brasil e a Academia de Brinquedos participaram de reuniões na
Secretaria de Educação e Formação Profissional, a fim de elaborar um convite para a divulgação
do “Ato”, que seria distribuído aos alunos das EMEIEFs - Escolas Municipais de Educação Infantil e
Ensino Fundamental, os quais deveriam levar suas armas de brinquedo para participar do evento.
Durante quatro dias antes do evento a equipe da Pau-Brasil confeccionou a Máquina da
Vida. Uma instalação obtida a partir de uma armação de barraca de camping, revestida de caixas
de papelão e materiais descartados (recicláveis).
No dia 6 de agosto de 1999, a Máquina da Vida foi armada no Paço Municipal de Santo
André. Nesse dia compareceram aproximadamente 600 alunos de diversas EMEIEFs da cidade,
superando significativamente o número previsto de crianças.

Descrição das atividades


Em uma das extremidades da máquina, encontrava-se

Foto: Pau-Brasil Assessoria Ambiental


um grande tubo que representava uma entrada por onde as
crianças colocavam suas armas. Na extremidade oposta, onde
foi pintado um rosto de criança sorrindo, elas retiravam uma
muda de árvore frutífera que simbolizava a vida e um kit de
sucata (recicláveis) para participar de uma oficina para a cons-
trução de um novo brinquedo.
Primeira máquina da vida

65
Essa oficina teve a participação de 10 monitores que foram anteriormente

Foto: Pau-Brasil Assessoria Ambiental


treinados pela Pau-Brasil e Academia de Brinquedos para auxiliarem os professores e
alunos na confecção de novos brinquedos que substituiriam as armas de brinquedo.
Além da muda de árvore, cada criança recebeu um certificado por parti-
cipar do ato contendo a inscrição “A minha era de brinquedo e eu já entreguei.
Quando você vai entregar a sua que é de verdade?”, incentivando a campanha
pelo desarmamento promovida pela OAB, que se iniciou no mesmo dia.

Continuidade
Em março de 2000 uma nova Máquina da Vida foi construída na
praça de eventos do Shopping ABC. A Máquina da Vida se transformou,
então, em uma locomotiva a vapor, movida por armas de brinquedo. Ao
lado da máquina foi construída (com material reciclável) uma árvore, bati-
zada de Árvore da Vida. A árvore fornecia saquinhos com sementes de
árvore frutífera para as crianças que participavam do evento. Ao longo de

foto: Cheila Bailão


10 dias, mais 2.500 crianças de escolas públicas e particulares partici-
param do ato. Nessa fase foram arrecadadas 400 armas de brinquedos e
por volta de 300 cartazes foram produzidos pelas crianças. Segunda Máquina da Vida

Dicas
• Todo trabalho que envolve corte de garrafas plásticas deve ser feito sobre uma superfí-
cie plana com o auxílio de estiletes e tesouras, sempre por adultos. Cabe às crianças apenas a
criatividade para decoração.
• Na construção de brinquedos com sucata, faz-se necessária a utilização de materiais
decorativos como fita adesiva colorida, fita crepe e cola colorida, mas sempre em quantidade
menor que os recicláveis.

Conclusões
Acreditamos que o objetivo da campanha e das
Máquinas da Vida – “valorizar a vida, através da solidariedade
e interação entre as crianças” – foi atingido, tamanha a eufo-
ria e integração das crianças durante as oficinas.
Atividade no Shopping ABC

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Relato de um Programa-Piloto:
Educação Ambiental, Escola e Tamanduateí
Introdução
As maneiras de enxergar o meio ambiente determinam as formas de seu uso e sua con-
servação. Desta forma, uma educação voltada para o ambiente, seja ele natural ou artificial,
imprime uma dinâmica de aprendizado contínua que define, através do conhecimento, atitudes
e habilidades, práticas sociais exeqüíveis para gerir uma melhor qualidade de vida.
A educação ambiental, sobretudo no universo escolar, mostra-se como um meio de pos-
sibilitar a realização de atividades voltadas ao aprendizado e ao resgate da cidadania, inserindo-
se nos temas transversais (meio ambiente e saúde). Entretanto, a realização de tais programas,
principalmente na rede pública de ensino, necessita de parcerias com instituições públicas ou
privadas para que esses se desenvolvam. O caminho viável para a continuidade de tais progra-
mas, na atual conjuntura, aponta para uma atitude coerente e solidária dos órgãos e de todos os
educadores, para que, em conjunto, criem uma rede interdependente de ações voltadas às
questões sócio-ambientais.
A Pau-Brasil Assessoria Ambiental, por acreditar na viabilidade da construção dessa rede
interdependente, colocou-a em prática ao buscar o apoio logístico de uma instituição pública e
outra privada. Essa fusão de interesses comuns nas questões sócio-ambientais resultou na elabo-
ração do programa de educação ambiental “Tamanduateí – O caminho de um rio”, que foi coor-
denado, operacionalizado e concluído pela Pau-Brasil.

Objetivo
O objetivo do programa foi diagnosticar a qualidade ambiental do rio em pontos da área
natural e desenvolver junto com os professores/formadores de opinião, de maneira interdiscipli-
nar, crítica e participativa, formas de minimizar os problemas ambientais do local e avaliar o
conhecimento dos alunos envolvidos.

Estudo Prévio e Seleção das Escolas


Optou-se pela realização do programa em Mauá, por estar nesse município a nascente do
Tamanduateí, o qual não se apresenta ainda canalizado e conserva alguns remanescentes de
vegetação próximos às suas margens.
As escolas foram escolhidas dentro de critérios como proximidade ao rio e distância entre
uma escola e outra. Para que os alunos pudessem observar a realidade fora de suas respectivas
escolas, locais próximos a cada uma delas foram selecionados. Essa visita prévia a tais locais per-
67
mitiu verificar sua condição de segurança para os alunos, viabilidade de acesso com um ônibus
e características que retratassem o objetivo proposto no programa. Esse estudo prévio do local
possibilitou a elaboração de mapas temáticos que orientaram os professores na saída a campo.

Método e Desenvolvimento
O programa teve início em julho de 99 e durou quatro meses. As escolas envolvidas
foram: Escola Municipal Cora Coralina, Escola Estadual Antônio Prado Júnior e Escola Estadual
Jardim Canadá, totalizando a participação de 90 alunos do ensino fundamental e cerca de 21
professores, dentre eles professores de matemática, língua portuguesa, inglês, arte-educação,
geografia, ciências e história, além da participação de um coordenador pedagógico de cada
escola.
O trabalho desenvolveu-se através de uma oficina pedagógica de capacitação para os
professores, aplicação de questionário aos alunos, estudo do meio e exposição dos resultados.
A oficina pedagógica de capacitação para os professores buscou o entendimento do pro-
fessor sobre o programa e o instrumentalizou através de uma apostila preparada especificamente
para esse fim. Essa apostila apresentou, em seu conteúdo, conceitos de meio ambiente e edu-
cação ambiental, superpopulação e meio ambiente, água, floresta (Mata Atlântica), uso e ocu-
pação do solo, resíduos sólidos, papel, plástico, vidro, metal e composto orgânico, e descreveu
as etapas do estudo do meio e deu sugestões do que levar e anotar no dia da saída a campo. Um
conjunto de atividades e jogos também constituiu parte da apostila, juntamente com um mapa
hidrográfico do município e do local específico onde cada escola faria a observação do rio.
Sendo a arte um meio de aprimorar nossa atenção ao mundo físico, durante a capacitação
dos professores foi realizada uma oficina de arte-educação, durante a qual novos objetos foram
criados a partir de materiais descartáveis.
Uma questão fundamental a ser considerada em trabalhos de educação ambiental é o
grau de conhecimento dos alunos envolvidos. Quando ocorre uma avaliação prévia dos alunos,
são estabelecidos pontos a serem abordados com maior ou menor ênfase. Desta forma, na saída
a campo, podemos trabalhar as informações com os alunos, estabelecendo o mesmo grau de
informação com relação à temática abordada no programa. Diante disso, no início do programa
os alunos foram avaliados através de perguntas abertas e fechadas. Essas perguntas geraram
dados preliminares que possibilitaram esclarecer aos alunos conceitos sobre meio ambiente e as
causas e as consequências das relações da ação antrópica sobre a qualidade ambiental do rio
Tamanduateí e de todo o seu entorno.
O trabalho de capacitação possibilitou um melhor envolvimento pedagógico dos profes-
sores e resultou numa melhor preparação dos alunos para terem um bom rendimento na saída a
68
campo. Isso ocorreu através de atividades curriculares em sala de aula e pesquisas sobre o tema
abordado.
O estudo do meio, uma das etapas do programa, foi de extrema importância para o tra-
balho, pois mostrou as condições reais em que vivem os alunos. O slogan “pense globalmente,
atue localmente” aqui deve ser ressaltado porque as ações que foram desenvolvidas para
melhorar as condições do rio e seus entornos irradiam-se por todo o seu curso e se propagam
entre as populações que se fixaram às suas margens.
O rio Tamanduateí foi observado em três pontos distintos: 1) O Parque da Gruta de Santa
Luzia, onde encontramos sua nascente; 2) Um ponto próximo à escola delimitado por mapas,
com locais específicos para cada uma das escolas; 3) Uma porção do rio dentro da Petrobras,
onde estão a Estação de Tratamento de Água (ETA) e a Estação de Despejos de Efluentes
Industriais (ETDI) da empresa.
Podemos ainda dividir o estudo do meio em duas partes, sendo uma natural e a outra
urbana. Na área natural, onde se encontra a nascente do rio Tamanduateí, foram desenvolvidas
atividades lúdicas e uma interpretação ambiental do local, através de uma trilha interpretativa.
Na área urbana, os alunos observaram as formas de uso e ocupação das margens do rio e sua
qualidade ambiental. Essa etapa do programa levantou os dados da qualidade do rio e seu
entorno e levou os alunos, por meio da prática, a criar uma nova concepção e forma de enxergar
os problemas ambientais do município.
Após o estudo do meio, foi iniciado o processo de elaboração das atividades para a
exposição final do programa.

Resultados Obtidos Junto aos Participantes e Discussão


No que se refere à incursão na área do Parque da Gruta de Santa Luzia, nascente do
Tamanduateí, conforme afirma Vasconcelos (1997), nesses locais as pessoas buscam uma forma
de relaxamento e beleza. Esse fato pôde ser confirmado através de uma atividade em que os
alunos expressaram e descreveram a impressão que o local transmitiu a eles. No geral, os alunos
vêem nas áreas naturais um lugar de refúgio, longe da poluição, onde o bem-estar, a paz, a tran-
qüilidade, a água limpa, o cheiro agradável da floresta e a emoção são características que pre-
dominam. Apesar dos atributos conferidos ao ambiente natural, apenas uma pequena parcela
dos alunos relacionou a questão água/floresta, esta última sendo de vital importância para garan-
tir o suprimento contínuo de água para as cidades.
A avaliação do conhecimento dos alunos antes e depois do programa mostrou-se satis-
fatória e está representada nos gráficos a seguir.

69
Diagnóstico do conhecimento dos alunos sobre
meio ambiente e algumas questões ambientais
INFORMAÇÃO DOS ALUNOS QUANTO À QUALIDADE AMBIENTAL
DO RIO TAMANDUATEÍ E SEUS ENTORNOS

QUANTO À EXPRESSÃO MEIO AMBIENTE

70
PROBLEMAS AMBIENTAIS DA REGIÃO

PROBLEMAS AMBIENTAIS DO MUNICÍPIO

71
RESPONSÁVEIS PELOS PROBLEMAS AMBIENTAIS

QUEM PODE RESOLVER OS PROBLEMAS AMBIENTAIS

72
COMO CONTRIBUIR PARA MINIMIZAR OS PROBLEMAS AMBIENTAIS

MEIOS DE INFORMAÇÃO SOBRE MEIO AMBIENTE

73
Com relação às informações dos alunos referentes ao rio Tamanduateí e seus entornos,
houve um aumento de 28% na coluna “muito bem informado”, o que demonstra que o méto-
do utilizado foi satisfatório, porém, deve ser melhor trabalhado para que um valor mais expres-
sivo seja alcançado.
Quanto à expressão “meio ambiente”, o acréscimo de 26% que corresponde à correta
interpretação de seu conceito, em parte deriva do decréscimo de 15% na coluna que rela-
ciona meio ambiente com natureza e 13% daqueles que vêem meio ambiente diretamente
como meio urbano.
No que se refere aos problemas ambientais da região, a poluição dos rios, do ar, sono-
ra e visual estão em primeiro plano com 31%. Cabe lembrar que o lixo, 27%, está relaciona-
do diretamente com a poluição, pois confere ao ambiente o aspecto de sujeira e, para muitos,
sujeira é sinônimo de poluição. O esgoto domiciliar e industrial (8%) notadamente surgiu ape-
nas na avaliação posterior ao trabalho de campo. Isso mostra que, apesar de os alunos
morarem na região, o fator saneamento teve peso na concepção dos estudantes apenas quan-
do eles tiveram um contato próximo com o sistema de esgoto a céu aberto, o que demonstra
a importância do trabalho de campo (prática) para se ter uma nova visão do ambiente.
Verificou-se que 3% dos alunos confundem problemas socioeconômicos, como fome,
desemprego, violência, etc., com problemas ambientais. Esse dado ressalta as condições a que
parte dos alunos está submetida no seu dia-a-dia, gerando diretamente um comprometimento
no seu aprendizado que, às vezes, vê na escola um lugar de abrigo em relação ao “lá fora”.
Em geral, os problemas ambientais do município estão inseridos nos problemas
regionais. Entretanto, o lixo (18%) e a enchente (3%) aparecem somente na segunda avaliação.
Esses itens surgiram por meio de entrevistas que os alunos fizeram com os moradores que
estão suscetíveis a tais problemas, por residirem nas margens do rio.
São indicados como responsáveis pelos problemas ambientais e como principais
agentes causadores de danos ao rio Tamanduateí: 87%, a população da região; 7%, os gover-
nos Estadual e Municipal; e 6%, as indústrias. Esta ordem foi a mesma encontrada por
Pelicione (1998) na Escola SESI – 425 de Osasco (SP).
Quando os alunos são abordados sobre quem pode resolver os problemas ambientais,
manteve-se a mesma ordem, sendo 73% “nós e toda a população”, 20% Governo Estadual e
Prefeitura e 1% as indústrias; 6% não responderam. Para essa mesma abordagem, Pelicione
(1998) obteve dados na ordem inversa em relação aos responsáveis, sendo que as indústrias
não foram mencionadas. As indústrias não aparecem em evidência como agentes que podem
resolver os problemas porque, para o programa Tamanduateí, apenas uma única empresa foi
visitada pelos alunos e a mesma apresenta-se de acordo com a legislação ambiental vigente,
não causando danos ao rio. Entretanto, o município de Mauá abriga um número razoável de
74
empresas que, provavelmente, não são de conhecimento dos alunos.
Os meios de minimizar os problemas ambientais mostram que a mudança de atitude de
toda a sociedade contribuiria para a melhoria da qualidade ambiental da região. O hábito de
não jogar lixo em qualquer lugar obteve o valor mais expressivo (49%), não desmatar e
impedir as queimadas, 20%, e a reciclagem, 13%. O tratamento de esgotos surgiu somente na
segunda avaliação, pois os 2% que mencionaram esse tratamento não o conheciam.
No que se refere aos meios de informação sobre meio ambiente, a comunicação de
massa representada aqui pela Televisão e pelas Rádios se sobressaíram com 33%; jornais,
revistas, livros e bibliotecas, 32%; professores e escolas, 28%. É importante ressaltar que
a televisão e o rádio transmitem as informações de forma superficial, não sendo, por isso,
a melhor fonte de consulta quando nos referimos à temática ambiental.
Apesar do papel do professor como meio de informação ter alcançado apenas 28%, sua
participação e atuação no programa foi extremamente importante. O desafio de trabalhar com
os professores de maneira interdisciplinar obteve um resultado satisfatório e esse fato tornou-se
concreto com a exposição dos resultados que os alunos e professores prepararam. Partindo-se
do princípio de que trabalhar de forma interdisciplinar é trabalhar com o conhecimento
fragmentado, formando-se assim um novo paradigma em relação às questões ambientais e
rompendo-se a visão restrita e limitada que cada área do conhecimento confere ao educador.
Dentro desse padrão de trabalho, as exposições referentes ao programa não apresentaram
apenas possíveis soluções aos problemas do rio, mas foram além das explanações teóricas e
tornaram-se ações concretas. Uma dessas ações originou uma campanha educativa desenvolvida
pelos alunos e professores, que distribuíram pelo bairro da escola panfletos informativos sobre a
coleta seletiva e os 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar). Ao mesmo tempo, os alunos entrevistaram
moradores de 48 residências que se localizam nas margens do rio Tamanduateí. Essa entrevista
gerou os seguintes dados: 42% das pessoas separam os materiais recicláveis; 34% não recebem
nenhum tipo de informação sobre coleta seletiva; 15% não dispõem seu lixo em sacos plásticos
ou latas fechadas; 94% observam na superfície do rio restos de comida, materiais recicláveis,
blocos, pneus e animais mortos; 56% dos moradores estão em áreas de risco, como barrancos ou
muito próximos ao rio; 15% não têm saneamento básico; 48% não têm pavimentação; 83% não
têm áreas de lazer, e os 17% restantes referem-se à quadra da escola como único meio de lazer;
21% dos moradores já contraíram doenças da água do rio.
Outra ação ocorreu como uma recomposição da vegetação ciliar. Apesar de simbólica, essa
foi uma maneira de reconstituir o aspecto natural das margens do rio. O município de Mauá, embora
envie todo seu esgoto domiciliar/industrial para o rio, não o canalizou em nenhum ponto. Isso
demonstra a viabilidade de se restaurar sua vegetação ciliar e, o que é mais importante, o rio apre-
senta quatro grandes fragmentos de vegetação que servem como modelo para sua recomposição.
75
A exposição dos resultados já mencionados incluiu também uma esquete didática com
o título “Saúde é o que interessa”, idealizada por professores de inglês, português e matemáti-
ca e apresentada pelos alunos. A esquete enfocou higiene pessoal, cuidados com o lixo e
doenças vinculadas à água. Outros trabalhos, como reutilização de materiais descartáveis,
maquetes com as condições atual e ideal do rio, elaboração de gibis, cartazes e painéis rela-
tando a história da nascente do rio Tamanduateí e reciclagem também foram expostas, bem
como uma representação natural do Tamanduateí demonstrando a importância da vegetação
ciliar.

Conclusão
Conforme mencionado no início deste capítulo, as escolas públicas, em geral, passam
por momentos de carência de materiais para desenvolver qualquer trabalho que esteja fora
daqueles que a escola normalmente desenvolve. Esse é apenas um dos fatores que dificultam
a realização de trabalhos extracurriculares. Um outro está ligado diretamente com a condição
socioeconômica dos alunos. Essas dificuldades influenciam o trabalho de maneira bem signi-
ficativa: para que a elaboração de trabalhos a serem expostos no final do programa se con-
cretize, uma demanda por recursos para materiais de papelaria deve ser ofertada pela escola
ou pelo grupo de educadores. Porém, esta nem sempre existe, o que leva o problema para os
alunos, os quais, por sua vez, na sua maioria pertencentes à classe menos privilegiada e ori-
undos em grande parte das periferias e bairros de baixa renda, devem enfrentar todas as difi-
culdades e, através de criatividade e adaptação, alcançar os resultados. Tais trabalhos, quan-
do desenvolvidos com recursos de patrocinadores ou em escolas particulares, obviamente não
encontram tais dificuldades. Infelizmente, só uma pequena parcela da sociedade se beneficia
dessa educação. Essa diferença socioeconômica marca cruelmente o ensino público, dificul-
ta o trabalho do educador, gera uma enorme falta de estímulo por parte dos alunos no proces-
so de aprendizado e reflete a falta de atenção que o Estado confere a esse segmento social.
Apesar dos entraves encontrados durante o desenvolvimento do programa, verificaram-
se a abrangência da temática ambiental e a possibilidade de se realizarem trabalhos nesse seg-
mento. Além disso, há necessidade de se realizarem mais trabalhos interdisciplinares que con-
siderem a História, os processos que sustentam a sociedade moderna, o entorno, as relações
humanas com o ambiente, as causas e as conseqüências que regem a existência do local e do
próprio ser humano.
Cabe a nós lutar por uma nova forma de encarar e tratar o meio ambiente de maneira
coerente com todo o ciclo natural do planeta, utilizando somente o suficiente para termos
uma vida com dignidade, respeito e saúde.
76
Está em nossas próprias mãos o futuro e o direito de viver de todas as espécies vivas do
planeta.

PAU-BRASIL
Educação e Gestão Ambiental

Coordenação: Anderson Pagoto


Daniel Cywinski
Fabiane Emílio
Leonardo Mello

Bibliografia
CASCINO, F. Educação Ambiental: Eixos Teóricos para uma reflexão curricular. In: EDUCAÇÃO
MEIO AMBIENTE E CIDADANIA, Reflexões e Experiências. São Paulo: SMA/CEAM, 1998. p. 15-22.

CARLA DIAS, A. & QUEIROZ, M. H. Elaboração de Trilha Interpretativa na Unidade de


Conservação Desterro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO,
2. Curitiba, 1997. Anais. Paraná: IAP-UNILIVRE, 1997. p. 429- 438.

MERGULÃO, M.C. Educando para a conservação da Natureza: sugestão de atividades em


educação ambiental. São Paulo: EDUC, 1998. Cap. 3 – Pensando no todo, mas agindo no local

MEAD, M. Crescimento Populacional e Capacidade Suporte. In: Conceitos para se fazer edu-
cação ambiental. 2ª- ed. São Paulo: SMA, 1997. p. 59-69.

PELICIONI, A. F. Subsídios teóricos e práticos para a educação ambiental na escola. In: DEBATES
SÓCIO AMBIENTAIS. São Paulo, nº- 10, 1998, p. 23-24.

SÃO PAULO (ESTADO), SMA. Educação Ambiental Gestão 95/98. São Paulo: SMA/CEAM,
1998. p. 16-23.

VASCONCELOS, J. Trilhas interpretativas: Aliando educação e recreação. In: CONGRESSO


BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 2, Curitiba, 1997. Anais. Paraná: IAP –
UNILIVRE, 1997. p. 465-476.

77
Creche Profª Marina Gonçalves Ulbrich

Introdução
O trabalho com lixo reciclado começou através do projeto “Coleta Seletiva de Lixo”.
No início estudamos com os pais o folheto informativo do projeto e realizamos palestras infor-
mando a importância de reciclar o lixo e como reutilizá-lo, posteriormente iniciando a reci-
clagem. A receptividade dos pais, crianças e funcionários foi excelente, dando margem à cria-
tividade do grupo, reaproveitando o lixo de forma que o resultado pode ser constatado através
das fotos.
A participação no projeto foi de todos os pais da creche (através das oficinas de brin-
quedos com lixo) e funcionários.

Relato das crianças sobre o trabalho com material reciclado I


Criança também entende de reciclagem e de preservação do meio ambiente.
Comentários feitos por alguns alunos do Grupo 5 (6 anos) da Creche Profª Marina
Gonçalves Ulbrich, quando questionados sobre o que achavam de coleta seletiva.

Victor – Estou gostando de reciclar.

Thiago – Eu acho muito legal as coisas que a gente faz. É impressionante fazer bananas
de pijama, fazer carrinho com garrafas.

Marcela – Trazer latinhas pra Creche é legal.

Pedro – É legal trazer garrafas de refrigerante pra gente fazer flor, porquinho, banana de
pijama.

Miriã – Não pode jogar bagaço de laranja no chão. Estou gostando da reciclagem.

Pedro – 300 latinhas dá uma cesta básica na igrejinha. Minha mãe está juntando.

Thiago e Pedro – O lixo não se pode jogar na rua porque é muita falta de educação.
Se a gente jogar lixo na rua, vai tudo pro bueiro e vai entupir todos os canos.

Crianças do Grupo 5 finalizando o trabalho feito sobre o Projeto Tamar e a preservação


das tartarugas marinhas. O trabalho foi executado em 3 etapas:
78
1. Explicações sobre o Projeto Tamar com exibição de um vídeo do Tamar e a história
“A Viagem de Tamar”.
2. Desenho livre sobre a história.
3. Confecção de tartarugas utilizando embalagem de maçã (papelão)

Alunos que participaram do “PROJETO TAMAR”– Idade: 7 anos

Andréia Lima Martins


Alan Andrade Domingues
Arthur Aubin Lazzari
Carolina Neri Gonçalves
Diego Santos de Amorin
Gabriel Marques de Moraes
Gustavo da Silva
Ian Porcé Fonseca
Maraisa Marinho da Silva
Marcela Soares Silveira Lima
Michael Ramos Machado
Miriã Daiane Gomes
Nayara Ingrid Machado
Nivaldo Monteiro Silva
Paloma Arruda de Medeiros
Pedro Fernando Ramos Molina
Renan Evangelista Almeida Pires
Thiago de Jesus Silva
Vitor Freitas Silva Ferreira
Victor Pereira de Souza
Wellington da Silva Rodrigues
Fabiano Soares Viana

monitora responsável: Sônia Isaura Gomes


79
Relato de experiências com materiais reciclados II
Em 1998 fizemos uma Oficina de Pais no mês de dezembro e confeccionamos uma
bolsinha e um carrinho. Os materiais usados foram garrafas de plástico, cabo de vassoura,
tampinha, sisal, cordão e papéis variados.
Foi gratificante ver os pais empenhados em construir os brinquedos que seriam dados
aos seus filhos, no Natal.
A experiência foi tão boa que, neste ano, fizemos a Oficina em outubro, na Semana
da Criança. Os pais confeccionaram o boneco Banana de Pijama. Os materiais usados foram
garrafas de plástico pintadas, fita adesiva, barbante e papéis variados.
Foi um sucesso e as fotos falam por si só.
O mais importante foi descobrir o quanto é rico e útil o nosso lixo, o quanto é impor-
tante reciclar para preservar e como é importante passar essa experiência para as crianças.

Este é o espaço denominado “O cantinho da fantasia” (foto), onde tudo foi confec-
cionado com materiais reciclados e materiais já prontos, reaproveitados (as crianças adoram,
pois neste momento soltam a imaginação).

Monitoras:
Gislaine
Cida
Mara
Vanda

Produtos confeccionados com


caixinhas de leite, jornal e outros
materiais recicláveis.
Trabalho feito pelas monitoras
do berçário.

80
Depoimentos

“É muito bom, porque à medida que há uma grande demanda no recolhimento do lixo, é pos-
sível ser vendido e também a criança acaba participando e sendo responsável pela coleta.”

Mãe: Roseli Marins Carrasco da Silva


Aluna: Tamires Carrasco da Silva (Nível I)

“Eu conheci o Programa há pouco tempo e achei muito interessante. É um ponto positivo para
a limpeza das ruas, porque à medida que se recolhe o lixo para reciclar as vias ficam menos
sujas.”

Mãe: Gislene Maria de Souza Luque


Aluna: Amanda de Souza Luque (Nível I)

“O programa é muito positivo, além de ser útil para alguém, está educando o povo. O país é
muito consumista, você paga o produto e a embalagem. É uma forma de pensar, de valorizar
o que pode ser aproveitado. É uma pena o programa não ser generalizado em outros locais,
outras instituições!.”

Mãe: Rosenil S. G. Beraldo


Aluno: Breno S. Beraldo (Nível III)

“É nota dez, porque você joga o lixo da sua casa para ser reaproveitado de forma positiva.”

Mãe: Marinalva Fernandes Lima Vieira


Aluna: Ligia Lima Vieira (Nível II)

“Se dá resultado é muito bom e deve continuar. É bom, não custa nada colaborar e melhorar
a natureza.”

Mãe: Regina de Cássia C. de Amourim


Aluno: Thomas Jefferson C. de Amourim (Nível I)
81
“O programa é necessário, se não houver a renovação do programa para reciclagem de mate-
rial, daqui a pouco não teremos onde por lixo. As pessoas não têm consciência.”

Mãe: Rita de Cássia Oliveira Petris


Aluna: Raíssa Oliveira Petris (Nível II)

“É muito bom, é excelente, porque as crianças pegam até os papéis de balas encontrados na
rua para levarem para a Coleta Seletiva.”

Mãe: Elineide O. da Silva Alves


Aluna: Priscilla Medeiros Alves (1ª série)

“É bom, mas seria melhor que tivesse a Coleta Seletiva nas casas. Na escola a gente acaba sele-
cionando o que trazer, em casa tudo seria colocado. Mas não deixa de ser importante. Ainda
é pouco, mas estamos ajudando no meio ambiente.”

Mãe: Elisabete Vargas Ribeiro da Silva


Aluno: Henrique Vargas Ribeiro da Silva (Nível II)

“Tá sendo ótimo! Está aproveitando muita coisa que a gente jogava e incentivando as
crianças!”

Mãe: Maria Conceição Porto Santos


Aluna: Juliana Porto Santos (Nível II)

“É bom! Deveria ter o programa para todos!


Aqui na escola o material é separado e pode ser reciclado, com esta iniciativa estamos incen-
tivando as crianças e elas vão se educando.”

Mãe: Regina Suelene Gomes Biscio


Aluno: Lucas Biscio (Nível II)

82
“O programa é ótimo, diminuiu o lixo, e se tudo fosse reaproveitado os preços dos produtos
poderiam ser mais baratos.”

Mãe: Maria Lucivania A. A. Mendonça


Aluna: Bianca Alves Mendonça (Nível III)

“Hoje as pessoas estão se conscientizando mais, estão deixando de jogar tantas coisas fora. É
importante mostrar o que está sendo feito com os materiais e, para que a população tenha
certeza do trabalho, temos o exemplo dos brinquedos feitos com sucatas.”

Mãe: Ivete Julia da Silva Balbuglio


Aluna: Viviane Balbuglio (Nível I)

“Eu nunca trouxe nada! Quando lembro o lixeiro já levou! Algumas coisas meu filho tira do
lixo e faz brinquedos.”

Mãe: Aparecida dos Santos de Oliveira


Aluno: Marcelo Augusto A. de Oliveira (1ª série)

“O programa é importante! Eu colaboro bastante! Se o meu marido vê alguém jogando lixo


fora ele recolhe para trazer à escola. Peço para os vizinhos guardarem o material para eu trazer
para a Coleta Seletiva.
Quando o meu filho vê alguém jogando algo na rua ele comenta:
– A rua fica feia! Já que dá para aproveitar tudo, por que jogar na rua?”

Mãe: Nair Aparecida P. Fernandes


Aluno: Guilherme Fernandes (1ªsérie)

“É legal! Transforma em outras coisas o que não prestava mais!”

Mayara Bueno Costa Nogueira (7 anos)

83
“Eu acho legal e bom. Nas casas as pessoas compram muitas coisas, ajuntam muitas coisas
para a criança levar.”
Letícia Saori Takeda Alonso (6 anos)

“Eu acho legal! Porque não suja a rua, porque dá para fazer brinquedo, porque não tem que
pegar mais da natureza. Também quando a fábrica trabalha ela polui e se recicla não polui.”

Breno Santana Beraldo (6 anos)

“Meu pai está juntando um monte de coisas. Quando ele terminar eu trago. Tenho que trazer
esses materiais para fazer coisas novas.”

Paula de Sant Souza (6 anos)

“É legal porque ajuda na nossa saúde, não joga lixo na cidade e recicla”

Letícia Correia de Souza (5 anos)

“Eu acho que a Coleta Seletiva é muito boa. A gente não precisa jogar lixo fora, pode mandar
para a reciclagem. Dá pra fazer muitas coisas, brinquedos de garrafa, bonequinho, ‘hominho’
e avião.”

Marcos Vinícius Rodrigues Alves (5 anos)

“Acho que é bom pra nós fazermos coisas legais. Os meninos só querem ‘hominho’, mas nós
meninas queremos bolsinhas, roupas, bonecas, brinco, colar, coisas de meninas.”

Jéssica dos Santos Castro (5 anos)

84
“É bom, sabe por quê? Dá pra levar garrafas no parque. O parque fica cheio de potes para
brincar.”
Lucas Ferreira Rovaron (4 anos)

“É bom, dá pra cortar e brincar na areia, dá pra fazer brinquedos e carteira de homem.”

Rafael Vasques (5 anos)

“Legal, é bom pra brinquedos para as crianças. Esse lixo serve para fazer umas coisas novas
com eles. Até folha que amassa dá pra aproveitar. Desamassa e faz uma folha nova com ela.
Com garrafa dá pra fazer umas bolsinhas, um bilboquê, sabe? ”

Gustavo Parravano Barbosa (6 anos)

“Legal, dá pra fazer um monte de coisas, carrinho, bolsa, dá pra fazer papel novo, dá pra fazer
bilboquê.”

Vítor Biscio (6 anos)

“É bom, dá pra fazer garrafa nova, folha nova e dá pra fazer bilboquê e bolsinha.”

Karla Lorena Cezzolino (6 anos)

“Eu acho legal, a gente faz brinquedo. O lixo não entope os bueiros.”

César Montini Pereira (6 anos)

“A gente faz um papel novo. Pega um papel velho, amassa e põe na caixa. Rasga, pega um
montão de água, coloca numa tábua e põe pra secar.”

Carolina Palma (5 anos)

85
Escola Rural e Urbana: Comparações entre o Aprendizado
de Alunos do Ciclo Básico Sobre Educação Ambiental

Uberlândia - Minas Gerais

A Educação Ambiental recebeu várias definições desde seu surgimento nos anos 70
para explicar a atuação educativa que exerce sobre os diversos setores que a envolvem (Taylor
e Topalian, 1995; Porto, 1996; Dias, 1998). Segundo Mergulhão e Vazaki (1998), a Educação
Ambiental refere-se à busca de qualidade de vida, que implica na convivência harmoniosa do
homem com o meio ambiente, natural ou não. Para Weid (1997), implica em uma consciên-
cia que, sensibilizada com os problemas socioambientais, se volta para uma nova lógica
social: a de uma sociedade sustentável que compreende a interdependência dos fenômenos
socionaturais.
As formas de atuação para realizar um programa de Educação Ambiental definem-se
em: a)Formal: desenvolve-se no sistema educacional, tem caráter interdisciplinar; b) Informal:
utiliza meios de comunicação, como jornais, revistas, rádio, entre outros, para a conscienti-
zação pública; c) Não-formal: processos pedagógicos destinados à formação ambiental dos
indivíduos e grupos sociais fora do sistema de ensino, destina-se a todos os segmentos da
sociedade (Porto, 1996).
A avaliação é uma fase crucial de um programa de Educação Ambiental (Dietz e
Nagagata, 1997). Uma avaliação periódica mostra a eficácia dos métodos empregados con-
tribuindo para a melhoria, troca e/ou o abandono de atividade, otimizando os esforços, tempo
e recursos dispensados (Padua e Padua, 1997; Tabanez et al., 1997). Padua (1997) cita que um
modelo de avaliação contínua pode ser executado em três etapas: I) Planejamento, II) Processo
e III) Produto, denominado de modelo PPP proposto por Jacobson (1991) e adaptado por
Padua (1995).
A eficácia de um programa de Educação Ambiental está intimamente relacionada com
a escolha do público-alvo, para que por meio deste, se consiga a conscientização de toda a
comunidade sobre os problemas ambientais. As crianças constituem uma importante platéia,
porque em geral possuem valores menos rígidos e são mais sensíveis às mudanças que os
adultos (Toili, 1996; Meller, 1997), facilitando o entendimento dos problemas relacionados
ao meio ambiente. Podendo sensibilizá-los na preservação e conservação da natureza para
melhoria da qualidade de vida. A longo prazo, essas crianças se tornarão adultos conscientes
sobre as questões ambientais.
Este trabalho teve como objetivos analisar a interferência do ambiente rural e urbano
no entendimento da relação homem e meio ambiente; e verificar a efetividade da Educação
Ambiental Não-formal entre esses dois contextos (rural e urbano).
86
Material e Métodos
Público-alvo: Constituído por alunos da terceira série do segundo ciclo básico, da
Escola Municipal “Emílio Ribas” (Grupo Rural), localizada em área rural, e da Escola Estadual
“Amador Naves” (Grupo Urbano), na área urbana, ambas no município de Uberlândia, MG.
Foram realizadas duas visitas mensais por escola. Em cada visita, com duração de
noventa minutos, foi efetuada uma prática e aplicado o Teste (ver Avaliação) relativo ao tema
abordado. A coleta de dados ocorreu no período de março a junho e agosto a 1º quinzena de
outubro de 1999, totalizando treze visitas, incluindo as destinadas à Avaliação.

Temas e estratégias
A estratégia adotada para realização deste trabalho foi Não-formal. Os mesmos temas e
práticas foram aplicados aos dois Grupos. Não houve fusão dos grupos. Os recursos didáticos
utilizados e os temas abordados foram os seguintes:

1) Higiene pessoal: Houve a abordagem de doenças causadas pela falta de higiene cor-
poral e ambiental e as formas de contágio dessas doenças. Foram observados vermes fixados
(Taenia solium, Schistosoma mansoni e Ascaris lumbricoides) e exemplificadas algumas
doenças. Em seguida foram abordados os cuidados com a água (para beber, nadar, cozinhar
etc.), utilizando-se duas amostras de água, uma filtrada e outra com cultivo de protozoários,
observadas ao microscópio.

2) Povos indígenas: A finalidade foi mostrar a convivência, a relação com a natureza e


os costumes dos povos indígenas. Os recursos didáticos utilizados foram slides, objetos indí-
genas e o depoimento de um índio Xavante, MS.

3) Lixo Reaproveitável: Foi demonstrado aos Grupos que objetos descartados diaria-
mente podem ser reutilizados. Os alunos foram divididos em equipes para realização de uma
oficina onde confeccionaram jogos utilizando objetos como garrafas plásticas, caixa de fós-
foro, caixa de papelão, chapinhas de lata. Cada equipe confeccionou um jogo.

4) Lixo Reciclável: Para demonstrar outra forma de utilização de material descartado no


lixo, foi discutida a definição e finalidade da reciclagem e coleta seletiva do lixo. Os alunos
aprenderam a reciclar papel.

87
5) Meio Ambiente: Foi abordado de forma que os Grupos reconhecessem o meio em
que vivem, a importância e dependência das relações e interações entre os seres vivos e
fatores abióticos, todos como parte integrante do meio ambiente. As práticas aplicadas foram
a leitura do texto “O que entendemos por Meio Ambiente” (Matsushima, 1987), e a exposição
de um vídeo sobre a Floresta Amazônica, que trata das interações e interdependência entre a
fauna e a floresta.

6) Desmatamento e Extinção: Foram abordadas as causas e conseqüências do des-


matamento e extinção. A prática aplicada foi a “Brincadeira do Desmatamento” de Mergulhão
e Vasaki (1998), que mostra a importância das árvores como recurso para a fauna e conse-
qüências da destruição de habitats. Para complementação, o livro “O esquilo esquecido”
(Machado, 1994), que mostra a importância dos animais na recuperação de florestas foi lido
e discutido.

7) Ambiente Rural versus Ambiente Urbano: Como sugerido por Dias (1998), uma
forma para comparar vantagens e desvantagens do ambiente rural e do ambiente urbano é a
prática do júri simulado. Os alunos foram divididos em duas equipes. As equipes ficaram
encarregadas de listar as vantagens e desvantagens de se morar no meio rural e no meio
urbano.

Avaliação
Os resultados obtidos antes e depois do processo de Educação Ambiental foram
analisados e os dois Grupos (Rural e Urbano), comparados. Esta estrutura de avaliação teve a
finalidade de acompanhar o desenvolvimento de consciência do público-alvo. A avaliação do
público-alvo consistiu de quatro etapas:

• Pré-teste: questionário aplicado no 1º- contato, contendo perguntas subjetivas e obje-


tivas, sobre todos os temas a serem trabalhados durante o processo;
• Teste: aplicado após a abordagem de um tema, para reafirmar o conteúdo, utilizando
formas variadas de avaliação (redações, cartas, desenhos, entre outros). Os testes não foram
utilizados para comparar as escolas;
• Pós-teste: questionários que abordaram os dois ou três últimos temas trabalhados,
utilizando questões novas e aquelas, relacionadas ao tema, que compunham o Pré-teste. Na
correção e análises foram consideradas somente as questões referentes à prática de que cada
aluno participou.
88
• Teste de retenção: aplicado no último contato, sendo idêntico ao questionário do
Pré-teste.

O critério de correção adotado para as questões foi de acordo com as seguintes cate-
gorias: a)Satisfatória: resposta coerente com o que foi solicitado; b) Aceitável: noção sobre o
que foi solicitado, mas a idéia não foi desenvolvida; c) Não-aceitável: resposta incoerente com
o que foi solicitado; c) Não-respondida: questões que não foram respondidas.
Os desenhos foram avaliados sob os seguintes aspectos: número de cores utilizadas,
número de objetos que compõem o desenho e coerência com o que foi solicitado. As
questões referentes aos desenhos (Fábrica e Aldeia) foram analisadas conjuntamente.

Análises Estatísticas
Fez-se a análise do Qui-quadrado entre o Pré-teste e os Pós-testes e entre o Pré-teste e
Teste de retenção. A análise do Qui-quadrado possibilita testar a hipótese de que os desvios
entre as proporções submetidas à comparação podem ser consideradas casuais, contra a de
que tais desvios são significativos.

Resultados
Público-alvo: A média de alunos que participaram do processo foi 34,5 na escola rural
e 26,5 na escola urbana. A média de idade do público-alvo, no início do programa, foi maior
na escola rural (9,8 anos) em relação à urbana (8,9 anos).

Respostas comportamentais aos temas e práticas: o Grupo Rural respondeu mais


positivamente a trabalhos em equipe que o Grupo Urbano.

1) Higiene pessoal: O Grupo Rural inicialmente evitou envolver-se na discussão do


assunto, posteriormente participou de maneira ativa.
O Grupo Urbano demostrou interesse durante toda a atividade. Os alunos visualizaram
e compararam o tamanho, movimentação e agilidade entre os protozoários que estavam
observando. “Se em uma gota d’água tem esse tanto de bichinho imagine no rio” (DMA, 9
anos).

2) Povos indígenas: A presença do índio da tribo Xavantes causou, em ambos os


Grupos, curiosidade. Os Grupos ficaram sensibilizados com o depoimento sobre natureza e
89
preservação: “...o mais importante é que vocês precisam de mais respeito pelo homem branco,
o branco tem vocês como exemplo e continua desmatando sem plantar, matando sem criar... ”
(DA, 9 anos). Com essa atividade os alunos conheceram outros costumes: “...os índios têm
suas diferenças, outras cores, gestos, crenças, cantos, outra língua e outros sonhos; muitas
diferenças e muito por se aprender” (JV, 8 anos).

3) Lixo reutilizável: O Grupo Rural confeccionou os jogos e disponibilizou para que


outros alunos da escola os utilizassem. O Grupo Urbano optou por dividir os jogos confec-
cionados entre os integrantes das equipes e sugeriu outros tipos de jogos e objetos que podi-
am ser confeccionados com o material.

4) Lixo reciclável: O Grupo Rural foi mais participativo que o Urbano na confecção do
papel. A oficina de reciclagem estimulou os alunos do Grupo Rural a confeccionarem cartões,
envelopes, papéis decorativos, dentre outros.

5) Meio Ambiente: O Grupo Urbano questionou as relações entre os animais e a


floresta durante a apresentação do filme, relatando experiências: “... a gente pode preservar a
natureza sem matar, caçar por prazer e pelo esporte. Se o seu pai ou a sua mãe criam animais
silvestres em cativeiro chame o Ibama, assim você vai estar contribuindo para o bem estar
do meio ambiente” (DAM, 9 anos). O Grupo Rural demonstrou interesse no filme e nas
interações entre fauna e flora: “... o meio ambiente deve ser preservado, tem o direito de não
ser poluído, de não ser desmatado, de não matar os animais. Tem que ser preservado por
todos os humanos e quando cortar uma árvore planta outra, e de não caçar animais em época
de reprodução ou quando correm perigo de extinção” (RRR, 10 anos).

6) Desmatamento e Extinção: Durante a atividade o Grupo Rural questionou e fez


comentários sobre o tema: “... se eu desmatar a natureza eu posso matar muitos animais e eu
posso me prejudicar. Os animais podem entrar em extinção, e os meus filhos vão ser pais e
eu vou ser avó e os meus netos não vão ver os animais que estão em extinção. Então eu
decidi não desmatar a natureza, pois assim eu vou ter uma vida melhor e os meus netos vão
conhecer os animais” (MRC, 9 anos).
O Grupo Urbano participou fazendo perguntas e relacionando fatos da estória com os
que conheciam sobre outros animais: “... se a gente matar as árvores e os animais nós estamos
matando nós mesmos” (FA, 8 anos). Na “Brincadeira do Desmatamento” não houve envolvi-
mento do Grupo com o tema.

90
7) Ambiente Rural e Ambiente Urbano: O Grupo Rural participou do júri simulado
debatendo o tema argumentando e defendendo as suas diversas posições perante o júri:
“... não é só o ar da cidade que é poluído, aqui na fazenda nós também poluímos o ar quan-
do queimamos o lixo” (DM, 10 anos).
O Grupo Urbano apresentou inicialmente dificuldade de participar da atividade:
“...morar em ambiente Urbano às vezes é ruim por causa da poluição dos carros e indústrias
e não podemos respirar direito, mas às vezes é bom porque tem supermercados para fazer
compras e outras coisas” (FA, 9 anos).

Avaliação
O desempenho dos alunos do Grupo Rural foi significativamente diferente do Grupo
Urbano no Pré-teste (X2=14,25; gl=3; P<0,05). O Grupo Rural apresentou 50,39% de resposta
satisfatória superando o Grupo Urbano em 16,91%. Nas categorias aceitável, não-aceitável e
não-respondida o Grupo Urbano superou o Rural (Figura 1).
No 1º- Pós-teste houve uma tendência ao equilíbrio entre os Grupos, visto que não
permaneceu a diferença significativa (X2=4; gl=3; P<0,05). O desempenho entre os Grupos no
1º- Pós-teste foi similar (Figura 2).
O desempenho do Grupo Urbano no 1º- Pós-teste, em relação às questões que com-
punham o Pré-teste, melhorou significativamente (X2=19,78; gl=3; P<0,05). A diferença foi
pressionada pelo aumento de 19,7% nas respostas satisfatórias e a redução de questões não-
respondidas no 1º- Pós-teste (Figura 3 A). Similar ao Grupo Urbano, o Rural apresentou dife-
rença significativa entre Pré-teste e 1º- Pós-teste (X2=19,74; gl=3; P<0,05). Houve um aumento
de 4,65% nas respostas satisfatórias no 1º- Pós-teste e redução de 14,84% da categoria não-
respondida (Figura 3 B).
No 2º- Pós-teste permaneceu a tendência ao equilíbrio, pois não houve diferença signi-
ficativa entre os Grupos Rural e Urbano (X2=1,8; gl=3; P<0,05). O Grupo Urbano apresentou
maior freqüência de respostas satisfatórias, enquanto o Grupo Rural, de respostas aceitáveis e
não-aceitáveis (Figura 4).
A diferença de desempenho do Grupo Urbano permaneceu no 2º- Pós-teste em relação
ao Pré-teste (X2=28,49; gl=3; P<0,05). Na categoria satisfatória houve um aumento
de 48,61%, redução de 6,95% na categoria não-respondida e a não-aceitável foi nula no
2º- Pós-teste (Figura 5 A). O Grupo Rural, similar ao Urbano, apresentou diferença significa-
tiva entre o 2º- Pós-teste e o Pré-teste (X2=16,16; gl=3; P<0,05). Houve aumento de 20,72%
nas categorias satisfatórias e redução de 12,33% nas questões não-respondidas no 2º- Pós-teste
(Figura 5 B).
91
A diferença observada no Pré-teste entre os Grupos Rural e Urbano não permanece no
Teste de retenção (X2=5,8; gl=3; P<0,05). O Grupo Rural apresentou mais respostas satis-
fatórias em relação ao Urbano, tanto no Pré-teste quanto no Teste de retenção. No entanto,
essa diferença diminuiu no final do programa de 16,91% no Pré-teste para 7,58% no Teste de
retenção (Figura 6).
O Grupo Urbano teve um progresso significativo no Teste de retenção em relação ao
Pré-teste (X2=43,73; gl=3; P<0,05). O desempenho do grupo, nas categorias de respostas, foi
melhor no Teste de retenção. Isto devido ao aumento de 29,58% de resposta satisfatória e
redução nas demais categorias, indicando que as respostas que não foram satisfatórias no Pré-
teste tornaram-se satisfatórias no Teste de retenção (Figura 7 A).
Igualmente ao Urbano, houve diferença significativa entre o Pré-teste e o Teste de
retenção do Grupo Rural (X2=24,5; gl=3; P<0,05). O Grupo Rural apresentou, no Teste de
retenção quando comparado ao Pré-teste, um aumento de 20,25% nas respostas satisfatórias
e redução nas demais categorias (Figura 7 B).
A maioria do Grupo Rural não manifestou vontade de morar na cidade, tanto no Pré-
teste (75,86%; n=29) quanto no Teste de retenção (96,55%; n=29). O Grupo Urbano, em
maioria, gostaria de morar na fazenda (80,95%; n=17); essa preferência aumentou em 14,29%
no Teste de retenção. A preferência em residir no ambiente Rural foi justificada pelos seguintes
motivos: menor índice de violência, menor poluição, maior disponibilidade de espaço para
brincar com segurança e tranqüilidade.
Os Grupos Rural e Urbano reduziram o número de componentes nos desenhos no Teste
de retenção em comparação ao Pré-teste. Em relação ao número de cores utilizadas houve um
aumento em ambos os Grupos, do Pré-teste para o Teste de retenção (Figura 8).
Não houve diferença significativa entre a coerência dos desenhos no Pré-teste e Teste
de retenção do Grupo Urbano (X2=5,01; gl=2; P<0,05). Similar ao Grupo Urbano, os desenhos
do Grupo Rural não diferiram significativamente em relação à coerência entre Pré-teste e Teste
de retenção (X2=1,51; gl=2; P<0,05).
No entanto, quando comparados os Grupos Rural e Urbano, foi observada diferença
significativa no Pré-teste (X2=9,31; gl=2; P<0,05). No Teste de retenção, ambos apresentaram
níveis similares de coerência (X2=2,38; gl=2; P<0,05).

Discussão
A resistência demonstrada pelo Grupo Urbano nas práticas realizadas em equipe pode
ter ocorrido devido aos alunos não serem expostos a atividades similares no cotidiano da escola.
Dias (1998) citou que a educação transformadora deixou de existir e o ensino atual, devido aos
92
conteúdos programáticos, forma cidadãos conformados com a sua realidade social e econômica.
A dificuldade demonstrada pelos Grupos em iniciar o debate e a discussão do tema
abordado pode ter ocorrido devido à carência de atividades, nas escolas públicas, que
envolvam o exercício da reflexão e análise pelos alunos. Teoria e prática precisam estar rela-
cionadas pois, dissociadas, não contemplam o contexto e dificultam a compreensão e a expli-
cação do fato (Sepel, 1996).
A assimilação do conteúdo trabalhado, pelos Grupos, deve-se em parte à utilização de
atividades que reuniram tanto a teoria do tema quanto a prática ou sua vivência, por meio
de experiências diretas, uma vez que os Grupos obtiveram progresso no desenvolvimento
das respostas e nivelamento no desempenho a partir do 1º Pós-teste. Segundo Piletti (1991)
(apud Dias, 1998), o aprendizado ocorre por meio dos sentidos e a maior taxa de retenção
(90%) é obtida quando o que se ouve é logo realizado.
O entendimento da interdependência do homem com a natureza, pelos Grupos, foi
atingido com práticas como o depoimento do índio, pois como preconizado anteriormente
(Padua e Padua, 1997; Dias, 1998, Mergulhão e Vasaki ,1998), a sensibilização do público-
alvo por meio do resgate cultural e a valorização da vivência e das tradições é uma eficiente
estratégia para se atingir os objetivos de um programa de Educação Ambiental.
Outro fator que possivelmente colaborou para a retenção dos conteúdos abordados foi
as práticas que proporcionaram o questionamento do poder e responsabilidade na transfor-
mação do ambiente. A confecção de jogos e a oficina de reciclagem de papel permitiram ao
público-alvo gerenciar e transformar o lixo produzido. Segundo Belinasso e Almeida (1994),
faz-se necessário questionar a capacidade de construção histórica, pois a possibilidade de
transformar o meio em que vive, na construção do presente, não autoriza o homem a com-
prometer a sobrevivência das gerações futuras, da sua e de outras espécies.
A compreensão dos temas deve-se também às práticas com aspecto lúdico, que
estimulavam a imaginação e a criatividade do público-alvo. Guimarães (1995) destacou a
importância do aspecto lúdico e criativo na Educação Ambiental, assim como procedimentos
que envolvem integralmente o lado racional e emocional do educando. Segundo Ferreira e
Terrazzan (1998), o jogo tem as funções lúdica, na qual a criança encontraria prazer ao jogar,
e a educativa, por meio da qual ensina algo que auxilia na construção do conhecimento pela
criança e sua apreensão do mundo.
As diferenças observadas entre os Grupos no início do trabalho podem ser explicadas
pela vivência e contexto a que cada grupo estava exposto. Dados similares foram encontrados
por Padua (1997). O melhor desempenho do Grupo Rural no início do programa pode estar
relacionado ao contato direto com a natureza, contrariamente ao Grupo Urbano. Outros
fatores podem ter influenciado o desempenho inicial dos Grupos, como a diferença do

93
sistema de ensino municipal e estadual e a idade média dos alunos.
Neste programa de Educação Ambiental, o Grupo Urbano nivelou-se ao Grupo Rural no
1° Pós-teste, no 2° Pós-teste e também no Teste de retenção. Isto indica que a vivência interfere
no entendimento das questões ambientais, pois as diferenças observadas inicialmente entre os
Grupos foram superadas com a exposição, de ambos, às mesmas situações. Mergulhão e Vasaki
(1998) constataram que, por meio da vivência e do contato direto com um zoológico, o apren-
dizado sobre questões relacionadas ao ambiente torna-se mais efetivo.
O melhor desempenho geral do Grupo Urbano no 1° e 2° Pós-testes pode estar rela-
cionado ao fato do grupo ter sido exposto a situações novas fora de sua realidade, ao contrário
do Grupo Rural, que mantinha contato direto com o meio natural. O ambiente externo é um
fator de influência no comportamento, onde as atitudes se manifestam em experiências. Num
processo dinâmico, as condições externas podem influenciar a atitude das pessoas com relação
ao meio ambiente, deste modo, a exposição a um ambiente natural possibilita o aprendizado e
sensibilização (Bennet, 1989 apud Padua, 1997).
A vivência prática permitiu aos Grupos melhor concretização do assunto e expressão de
idéias, uma vez que a diferença entre a coerência dos desenhos do Grupo Rural e Urbano no
Pré-teste não permaneceu no Teste de retenção. A diminuição no número de componentes nos
desenhos de ambos os Grupos, permanecendo a coerência, permite inferir que a exposição do
público-alvo à vivência prática concretizou a idéia do aluno sobre o tema abordado, tendo em
vista que com menos elementos elaborou o desenho satisfatoriamente.
Possivelmente, as práticas e os temas trabalhados foram efetivos no desenvolvimento e
sensibilização do público-alvo, pois ambos os Grupos melhoraram o desempenho com o decor-
rer do programa de Educação Ambiental. Entretanto, outros fatores podem ter colaborado com
o maior conhecimento do público-alvo sobre as questões ambientais, como por exemplo o
desenvolvimento psico-pedagógico dos alunos durante o período letivo.

Conclusão
O ambiente interfere no entendimento das questões ambientais, visto que antes do pro-
grama de Educação Ambiental o público-alvo apresentava diferenças no conhecimento e após
o programa houve nivelamento dos Grupos.
A Educação Ambiental Não-formal aparentemente foi efetiva nos dois contextos (Rural
e Urbano), pois ambos os Grupos apresentaram progresso significativo no desempenho
durante o programa de Educação Ambiental.

Ana Cláudia Fandi


Celine de Melo
94
FIGURA 1

Freqüência de respostas ao Pré-teste entre os Grupos Rural e Urbano. Categorias de respostas:


S=satisfatória; A=aceitável; NA=não-aceitável; NR=não-respondida.

FIGURA 2

Desempenho dos Grupos Rural e Urbano no 1º- Pós-teste (temas: higiene, povos indígenas e
lixo). Categorias de respostas: S=satisfatória; A=aceitável; NA=não-aceitável; NR=não-
respondida.

95
FIGURA 3

Comparação entre Pré-teste e 1º- Pós-teste, referente aos temas higiene, povos indígenas e lixo:
A) Grupos Urbano e B) Grupo Rural. Categorias de respostas: S=satisfatória; A=aceitável;
NA=não-aceitável; NR=não-respondida.

FIGURA 4

Desempenho dos Grupos Rural e Urbano no 2º- Pós-teste (temas: desmatamento, extinção e
meio ambiente). Categorias de respostas: S=satisfatória; A=aceitável; NA=não-aceitável;
NR=não-respondida.
96
FIGURA 5

Comparação entre Pré-teste e 2º- Pós-teste, referente aos temas desmatamento, extinção e meio
ambiente: A)Grupos Urbano e B)Grupo Rural. Categorias de respostas: S=satisfatória;
A=aceitável; NA=não-aceitável; NR=não-respondida.

FIGURA 6

Freqüência de respostas ao Teste de Retenção entre os Grupos Rural e Urbano. Categorias de


respostas: S=satisfatória; A=aceitável; NA=não-aceitável; NR=não-respondida.
97
FIGURA 7

Comparação entre Pré-teste e o Teste de Retenção: A)Grupo Urbano e B)Grupo Rural.


Categorias de respostas: S=satisfatória; A=aceitável; NA=não-aceitável; NR=não-respondida.
(a)(b)

FIGURA 8

Média de cores e de componentes utilizados nos desenhos entre os Pré-teste e Teste de


Retenção, dos Grupos Rural e Urbano. UCm=componentes Grupo Urbano; UCr=cores Grupo
Urbano; RCm=componentes Grupo Rural; RCr=cores Grupo Rural.
98
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100
Santo André e Takasaki –
cidades irmãs, em cada lado do mundo
Cora Coralina, poetisa, brasileira, nasceu em Goiás Velho, cidade colonial brasileira,
hoje patrimônio histórico da humanidade, escrevia poemas com raízes profundas na memória
de seu povo: “em qualquer parte da terra, um homem estará sempre plantando. Recriando a
vida. Recomeçando o mundo”, escreveu quando a ruptura cidade x campo ou rural x urbano
ainda não era tão violenta como atualmente. Plantar, recriar a vida, recomeçar o mundo –
exercícios coletivos cotidianos estavam na memória de nossos antepassados e nós não os con-
servamos.
Há cem anos, pouco depois do nascimento da poetisa, Takasaki também surgia: uma
cidade japonesa, irmã de Santo André desde 1992, fruto dos laços entre a comunidade japonesa
aqui instalada, tanto com os cidadãos andreenses como com os de Takasaki.
Em visita recente a Takasaki, no outro lado do mundo, pudemos entender o que Cora
Coralina aprendeu com seu povo e para ele escrevia. Com 250.000 habitantes em seu
centenário, busca a qualificação ambiental de seu espaço e será em breve uma cidade com
ISO 14.000, o certificado dessa qualidade. Situada a aproximadamente 200 Km da moderna
capital do Japão, Tókio, Takasaki e suas vizinhas cidades apresentam na estrutura físico/
espacial, rural/urbana alguns conceitos que nossos antepassados, assim como os deles
também conheciam. A diferença é que lá conservaram e modernizaram os conceitos. Aqui
ainda não conseguimos.
Dentre eles destacamos: a preservação das várzeas dos rios e córregos, garantindo por
meio de ocupação adequada a liberdade dos cursos d’água nas diferentes estações do ano.
Esta medida, praticada por nossos indígenas, caiçaras e antepassados, evita enchentes e
garante o exercício pleno das forças da natureza sem agredir o meio construído pelo homem.
Nas margens dos cursos d’água, presenciamos plantações adequadas ao solo, parques,
áreas de esportes e atividades diversas adaptadas e preparadas para o avanço das águas em
casos emergenciais.
O segundo conceito, que se mostra também com evidência ao nosso olhar, é a harmo-
niosa convivência entre o antigo e o moderno, descortinando a seqüência histórica sem a
destruição inconseqüente do passado. No bojo dessa harmonia encontramos o equilíbrio na
convivência entre as diversas atividades da vida humana e entre seus espaços, sem a rigidez
do zoneamento urbano e a imposição do sistema viário para o automóvel como em nossas
cidades.
Em Takasaki, como em outras cidades japonesas, o carro, instrumento de locomoção
fundamental à vida moderna, está sob o domínio do homem, circulando nas áreas urbanas
com uma velocidade de 30 km, exemplarmente controlada por todos os cidadãos.
Lá também convivem, com harmonia e eficiência, as atividades urbanas e rurais: a
101
horta, a fábrica, o plantio do arroz, as residências, os parques, a escola, a plantação de flores
ou de chá, o teatro e demais espaços. À exceção do centro comercial com densidade mais
acentuada, as demais áreas da cidade compartilham sem discriminação ou barreiras suas
funções diversas para alimentar a vida humana, seja a comida, o trabalho, o estudo, o lazer
ou quaisquer outras funções.
Mas é principalmente o conceito de vida comunitária que mais nos impressiona:
o respeito às regras da convivência coletiva, a honestidade em relação a todos os valores
da vida social e a efetiva participação popular, participação que traça diretrizes, fiscaliza,
desenvolve serviços de limpeza urbana e observa as metas, as regras, fazendo junto com o
poder municipal a gestão das políticas públicas. Participação que faz de Takasaki, uma cidade
no outro lado do mundo, uma referência para nós que queremos construir uma cidade
agradável, mais saudável, a Santo André Cidade Futuro, onde será possível cotidianamente
plantar, recriar a vida e recomeçar o mundo.

Cartão-Postal com vista aérea da cidade de Takasaki – Japão, onde podemos observar a interação
da cidade com as margens do rio

Cheila Aparecida Gomes Bailão


é arquiteta, urbanista, especialista em Planejamento Urbano e Mestre em Construções para
Países Tropicais, Diretora do Departamento de Resíduos Sólidos do Semasa
102
Condomínio Urbano
Desde a década de 50 no ABC, pouco antes na Capital, assistimos a construção de con-
domínios residenciais, a maior parte deles edifícios verticais, reunindo muitas famílias em um
único edifício.
Nos últimos vinte anos, a Região do Grande ABC tem visto a verticalização de seus cen-
tros urbanos e dos bairros vizinhos: são edifícios de quinze a vinte andares que reúnem num
único lote inúmeras famílias que, até então, viviam em casas com seus quintais, jardins e
entradas independentes. No lugar de dois vizinhos, passamos a ter 20, 50, 100 ou mais, depen-
dendo do condomínio em que fomos morar.
É uma nova forma de morar: segurança, praticidade, menor custo, modernidade, falta de
tempo para manter os jardins... inúmeras são as justificativas que nos levam a mudar de hábitos
e deixar os antigos quintais, as hortas e os pomares das infâncias de nossos pais e avós.
Novos comportamentos são exigidos de toda a família nessas mudanças: falta espaço para
todas as coisas guardadas no quartinho dos fundos e na garagem. Tudo deve ser encaixado ou
descartado, tudo passa a ter lugar e, mais importante, não há mais o quintal para deixar a bici-
cleta, o brinquedo, a bola ou a boneca, ou o patinete e o skate.
Um primeiro aprendizado quando passamos a morar nos apartamentos é que as entradas de
nossas residências passam a ser espaço de todos os condôminos, espaço de circulação ou espaço
comum onde não podemos mais realizar o concerto de uma cadeira, a pintura de um móvel.
Desaparece o espaço de lavar o carro, de consertar móveis e motores aos finais de semana; não
podemos pôr as roupas e toalhas nas janelas para tomar sol ou bater os tapetes nos quintais.
Não vemos nas áreas de circulação de nossos condomínios residenciais móveis velhos,
restos de reformas, latinhas e garrafas plásticas lançadas pelas janelas: passamos a cuidar do
espaço comum como cuidamos dos nossos quintais. Não fazemos barulho depois das 22 horas,
nem em festas. Os jardins são mantidos limpos e bem cuidados, as árvores (poucas, é verdade),
crescem sem riscos de serem destruídas.
Ou seja, dentro de nossos condomínios, sabemos viver em sociedade, respeitamos as
regras do grupo. E, sendo isso uma verdade, por que não conseguimos fazer o mesmo nas nos-
sas cidades? Por que temos que assistir a deposição de móveis em terrenos ou a exibição de mer-
cadorias nas calçadas, em nossos jardins públicos e espaços comuns de circulação?
Enquanto isso, nas ruas da cidade, em frente a uma rotisserie, um forno a gás é colocado na calça-
da para melhor assar carnes e, além de dificultar a circulação dos pedestres, põe em risco de
queimaduras aqueles que insistem em caminhar no espaço destinado aos pedestres – isso sem contar
que as carnes vendidas são “temperadas” com a poluição dos ônibus e caminhões que percorrem a rua.
Em frente à escola, local destinado à formação da cidadania, material de construção de
alguma reforma ocupa toda a largura da calçada e mães e alunos caminham na rua numa dis-
puta desleal com os automóveis.
103
Na frente do restaurante, grande quantidade de sacos de lixo é colocada na calçada aos
domingos ou mesmo durante o dia, embora a coleta de lixo só ocorra durante a semana e nos
períodos noturnos.
Na esquina, placas anunciando as ofertas de um açougue; caixas vazias empilhadas em
frente da quitanda; revistas, cartões postais, chaveiros e brinquedos presos em varais e araras
ocupam toda a calçada ampliando o espaço da banca de jornal.
São práticas de uma cidade qualquer do Brasil, grande ou pequena, seja na área central
ou nos bairros periféricos. Hábitos que mostram que o espaço público é o lugar de ninguém,
quando deveria ser o espaço de todos.
São pequenas transgressões às regras de convivência que precisamos reaprender. As mes-
mas regras que, dentro de condomínios residenciais (os prédios e as vilas) ou comerciais (como
os shoppings center), todos cumprem sem reclamar, no espaço público, insistimos em ignorar,
fingir desconhecimento, ou qualquer outra coisa para nos livrar da falta de espaço.
Leis para proibir estas práticas existem: seria necessário um fiscal em cada esquina para
coibir tantos abusos, isso sem falar nas imprudências no trânsito de veículos que assistimos
todos os dias.
São regras de convivência bastante simples que deveríamos aprender em casa, na escola,
nas igrejas e clubes, fazendo alterar toda a nossa rotina cotidiana em busca de uma melhor quali-
dade de vida. No entanto, é em nossas casas e em nossas escolas que estas regras são constante-
mente afrontadas no simples ato de jogar um papel, uma embalagem, uns cigarros no chão,
arremessados pela janela do carro.
Tratar a cidade como um imenso condomínio de múltiplas atividades, com muitos vizinhos,
pode ser uma alternativa para adotarmos novas rotinas que nos tornarão mais responsáveis por
nossos espaços de convívio, mais seguros ao caminhar pelas calçadas, resgatando o lugar do
pedestre, do reencontro com os amigos.
Precisamos reaprender antigos hábitos do viver em sociedade para melhorar a qualidade
de nossas cidades: aprender a não jogar objetos pelas janelas dos carros, a não realizar consertos
de móveis e veículos nas calçadas, a não utilizar os espaços de uso coletivo como local de
exibição e venda de mercadorias, a não maltratar a vegetação de nossos jardins e praças.
Respeitar os espaços públicos, os espaços de uso coletivo, as regras de convivência comum
é, sem dúvida, uma forma de cuidar de um grande quintal de todos nós, o espaço de uso público,
e melhorar a qualidade deste imenso condomínio urbano que podem ser as nossas cidades.

Silvia Helena Passarelli


é Arquiteta e Urbanista, Mestre em Estruturas Ambientais
e Urbanas pela FAU USP, professora da UniABC.
104
Graffiti Nossa Parte
Em razão das comemorações do Mês do Meio Ambiente, o SEMASA, a Assessoria da
Juventude e uma Comissão de Grafiteiros organizaram a grafitagem dos muros do Centro de
Varrição do SEMASA, localizado à Rua Queiroz dos Santos, Centro de Santo André.
Simultaneamente a este evento, as Secretarias de Combate à Violência e Relações
Internacionais participaram na elaboração de uma proposta de Cooperação Técnica para um
plano de segurança global para a cidade, em conjunto com o Programa “Cidades mais
Seguras” da ONU.
O coordenador geral desse Programa, Franz Vanderschueren, há muito vem elogiando
a experiência de Santo André com os grupos de graffiti, como prática de destaque de inclusão
social e de prevenção à violência juvenil.
Devido à importância do evento, por congregar atividades artísticas, de inclusão social e par-
ticipação cívica, seis secretarias da Prefeitura de Santo André estiveram diretamente envolvidas em
sua organização: Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer, Secretaria de Educação e Formação Profis-
sional, Secretaria de Relações Internacionais e Captação de Recursos, Secretaria de Combate
à Violência, Secretaria de Comunicação, Secretaria de Participação e Cidadania e SEMASA.
Durante a organização do evento, o grupo de tra-
balho envolvido formou uma comissão, firmando um
compromisso de ser responsável por outros eventos onde
estariam incluindo o graffiti, abordando temas diversos e
movimentos jovens. GRAFFITI NOSSA PARTE passou a
ser a marca que será usada em outros eventos.
O evento foi registrado para exibição, repro-
dução e publicação no veículo informativo do
Programa “Cidades mais Seguras”/ONU, de circulação
internacional, e pelas Secretarias envolvidas.
Doze grupos de graffiti expressaram suas visões
sobre o tema Meio Ambiente, tornando sua arte
acessível para toda população que por ali transita
diariamente e para todos aqueles que apreciam esta
expressão artística coletiva. Grupos de música e dança
do movimento Hip Hop e outros fizeram apresen-
tações durante a grafitagem. Autoridades dos poderes
municipais e da sociedade civil também estiveram
presentes, transformando, assim, o evento GRAFFITI
NOSSA PARTE, em uma grande confraternização
artística, participativa e cidadã.
105
Por que o “Graffiti”?
O graffiti é a expressão artística autêntica da periferia. Mas não se limita a ela.
Quando um muro é grafitado, toda a cidade está, direta ou indiretamente, participando de
um episódio de expressão de idéias e arte. Por quê? Porque graffiti é arte exposta, urbana
e democrática. Todos que passarem em frente àquele muro estarão interagindo com ele.
Estarão diante de uma mensagem, de um poema visual, deixado por alguém que tem algo
importante a dizer.

Graffiti versus Pichação

Há que se deixar isso bem claro: graffiti não é pichação! Tanto o pichador quanto o
grafiteiro querem se expressar, encontrar seu espaço na metrópole, que mais exclui que
inclui. Mas o grafiteiro canaliza seu talento, suas idéias estéticas e políticas por meio da
arte. Dificilmente se verá um graffiti sobre um monumento público. O grafiteiro quer
expressar sua arte e vê-la reconhecida como tal.

106
O pichador é o responsável (mas não o único) pela sujeira visual da cidade. Imprime
sua “marca” em lugares inacessíveis, em prédios mais altos e em lugares proibidos. Está em
busca de status e reconhecimento dos outros pichadores. Mas não liga se a cidade fica mais
feia pelo que faz. Pelo contrário, corre os riscos da noite e das alturas, está na ilegalidade,
dentro do delito e do risco de vida.
A grande sacada é que tanto o pichador quanto o grafiteiro estão em busca de
expressão. Mas um faz sujeira e o outro faz arte. Transformar o pichador em artista é o
desafio. Dar espaço para o graffiti pode ser uma solução. Ou, pelo menos, dar ao jovem
uma outra opção que não a marginalidade, e sim o diálogo.

A Continuidade
A Prefeitura de Santo André, desde 1997, desenvolve atividades com os grupos de
grafiteiros da cidade e da região. Dos primeiros contatos até hoje, muitos resultados foram
alcançados: criação de uma Comissão de Graffiti, ligada à Secretaria de Cultura, Esporte e
Lazer (SCEL), para promoção dessa expressão artística; realização da Mostra de Graffiti, com
participação de artistas de todo o país.
Em agosto de 2001 foi realizada a 4ª Mostra de Graffiti na cidade de Santo André.
Dentro das comemorações do “Dia Metropolitano de Prevenção à Violência, Álcool
e Drogas”, idealizado pelo Fórum Metropolitano, onde realizaram-se ações simultâneas
nos 39 municípios da região metropolitana de São Paulo, com o objetivo de chamar a
atenção para a relação entre álcool, drogas e violência e dar circulação a informações que
podem ser úteis a quem sofre com as causas da violência.
Trata-se de uma mobilização sem precedentes no combate à violência, capaz de
mostrar o alcance e o sentido das medidas que podem ser tomadas no âmbito do Fórum
Metropolitano de Segurança Pública.
Através da Secretaria de Combate à Violência Urbana foi desenvolvido um trabalho
de grafitagem no muro lateral da Guarda Municipal, onde 12 equipes de graffiti dividiram
150 metros quadrados do muro e expressaram suas visões do tema “Prevenção à Violência”.
GRAFFITI NOSSA PARTE no Dia Metropolitano de Prevenção a Violência, Álcool e Drogas
colocou novamente a expressão artística coletiva para apreciação de todos aqueles que
transitam diariamente pelo local.

107
A Mostra Mundial

Santo André, hoje uma referência de qualidade na afirmação e valorização do graffiti


não apenas como expressão e arte, mas também como uma maneira do jovem protagonizar
suas idéias e canalizar seus potenciais de maneira positiva. Em consequência de todas essas
iniciativas, Santo André estará sediando a I Mostra Mundial de Graffiti, em julho de 2002.
Vários países já confirmaram sua participação, destacando México, Panamá, Colômbia,
Portugal, Espanha e Equador que se colocaram à disposição para ajudar na organização do
evento. A idéia inicial é incentivar a participação de famílias voluntárias para termos aloja-
mentos solidários e também abrir inscrições para que todo cidadão possa colocar seu muro
à disposição para receber um graffiti, pensamos também em incrementar a atividade com
debates, seminários e workshops para as diversas delegações mostrarem suas técnicas e para
que contem suas experiências.
Com certeza, depois desta Mostra nem Santo André e nem o graffiti serão os mesmos.

108
Equipe:

ALBERTO KLEIMAN
Secretaria de Relações Internacionais e Captação de Recursos

JEFFERSON SOOMA
Assessoria da Juventude – Secretaria de Participação e Cidadania

ELIENE MORAES
Departamento de Resíduos Sólidos/ Semasa

IVANA MARSON
Gerência de Varrição e Limpeza Manual/ DRS/ Semasa

SHIRLEI BARBOSA DE ARAÚJO


Projetos Sociais – Secretaria de Combate a Violência Urbana

ANA CRISTINA DEZOTI


Gerência de Ação e Difusão Cultural
Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer

Comissão de Graffiti:

CABEÇA
TOTA
CHORÃO

Realização:

Prefeitura Municipal de Santo André


Semasa Saneamento Ambiental

Apoio:

Craisa – Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André


Rotedali Serviços e Limpeza Urbana Ltda.
Wal Mart Supercenter
109
Internacionalização da Amazônia
DURANTE DEBATE RECENTE EM UMA UNIVERSIDADE, NOS ESTADOS UNIDOS,
O EX-GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL, CRISTOVAM BUARQUE (PT), FOI
QUESTIONADO SOBRE O QUE PENSAVA DA INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA.

O jovem americano introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um


humanista e não de um brasileiro.
Segundo Cristovam, foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista,
como o ponto de partida, para a sua resposta: “De fato, como brasileiro eu simplesmente falar-
ia contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o
devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da
degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como
também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade.
Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internaciona-
lizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para
o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro.
Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a
extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos
países ricos deveria ser internacionalizado.
Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queima-
da pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o
desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais.
Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na
volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização
de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas a França. Cada
museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano.
Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazôni-
co, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito,
um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso,
aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas
alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na
fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser
internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a Humanidade, assim
como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife. Cada cidade, com sua
beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de
110
brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já
demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de
vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de
internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando
essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola.
Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde
nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que
merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um
patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar,
que morram quando deveriam viver.
Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo.
Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja
nossa. Só nossa.”

Cristovam Buarque
ex-governador do Distrito Federal, professor e ex-reitor da UnB-Universidade de Brasília,
Presidente da ONG Missão Criança - Brasília - DF
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Prefeitura Municipal de Santo André (2001-2004)
ENGº CELSO DANIEL
Prefeito

JOÃO AVAMILENO
Vice-Prefeito

MAURICIO MINDRISZ
Diretor Superintendente do Semasa

CHEILA APARECIDA GOMES BAILÃO


Diretora do Departamento de Resíduos Sólidos

FERNANDO PORTELLA ROSA


Diretor do Departamento de Gestão Ambiental

CLEUZA RODRIGUES REPULHO


Secretária de Educação e Formação Profissional

Equipe DRS

IVANA MARSON • HUMBERTO DUGINI DE OLIVEIRA • ROBSON OLIVEIRA LOPES


PEDRO HENRIQUE MILANI • MARCELO BISPO • EDILENE PEREIRA DE MORAES •ELIENE
MORAES • LUCIANA ARTIGIANI •ADEVANIR PAIOLA •IRACELIS IMACULADA DOS SANTOS
• MAGNO ULISSES DE ALMEIDA E SILVA • FLAVIO JOSÉ LOPES DA COSTA • JOSÉ CARLOS
MOSCHIN • EUDES FARINA GRANDOLPHO • LUIZ FERNANDO BONATO GARCEZ
• JUCÉLIA GONZAGA • WANDERLUCIA VIANNA BELAZI • NAIR MITIKO K.V. MEMBRIVE
• MARCOS AURÉLIO DE MENDONÇA • ROSANGELA RODRIGUES DE OLIVEIRA
• REIDNNÊ MENEZES MONTALVÃO • DOUGLAS GUSMÃO • FERNANDO ARLEI CRUSEIRO
• MARCOS ANTONIO LUZ • LEANA RAUDAIMER APEZZATO • VILMA LUCIA DA ROSA
• FABIO VICENTE DE SOUZA • FABIANO JANJOPPI • MOISES FRANCISCO DA SILVA
• PATRICIA HERTEL • DANILO GENTILI JUNIOR • AGNES CRISTINA DE FREITAS • PAULO
APARECIDO MARIANO • LAERCIO BORGES PINTO • JONAS PASTOR SOUTO •RIBERTO
ROMANO • VERA LUCIA DE MORAES • VENICIUS DE SOUZA • MAURA ROSA DE SOUZA
• EDILEUSA ARAUJO SANTOS • MARIA APARECIDA LACERDA DE SOUZA • ARTUR PAULO
PEDROSO • IVO RODRIGUES DA CRUZ • JOSÉ DE PRETI • LUIZ FERREIRA DA CRUZ
• GENILDO ANTONIO DA SILVA • MARIA DAS GRAÇAS SANTANA DA SILVA • CONCEIÇÃO
APARECIDA DOS SANTOS CARVALHO.
112
Não use drogas.

2001

Apoio:

GESTÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL Relatos de experiências sobre a questão ambiental - VOLUME 2

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