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Homem-Aranha , um herói (quase) como a gente

O sucesso do filme Homem-Aranha fez o mundo redescobrir os heróis. Mas quem são
eles?

A seqüência toda é deliciosamente sádica: correndo como se tivesse que tirar o pai da forca,
Peter Parker persegue o ônibus escolar – um daqueles típicos veículos barulhentos e
amarelos que Hollywood eternizou – por uma rua do Queens, em Nova York. Dentro do
coletivo, garotas e rapazes caçoam da prosaica odisséia do estudante. Debocham, gritam
para o motorista não encostar no meio-fio, fazem o alarido habitual para o loser (perdedor).
Então, o ônibus pára. Peter consegue entrar, mas ninguém quer dividir o lugar com ele no
assento. É quase compreensível. Ele está com a testa empapada de suor, os olhos
esbugalhados por trás dos óculos fundo de garrafa, um fio de baba pode ser entrevisto
quando ele se depara com a ruiva (e que ruiva!) Mary Jane, sua secreta paixão.

A cena ocupa os primeiros minutos do filme Homem-Aranha, do diretor Sam Raimi. Pouco
depois, Peter será picado por uma aranha geneticamente modificada e se transformará num
super-herói, o Homem-Aranha que todos conhecemos dos gibis. Desajeitado como um
lavador de pratos com mal de Parkinson, Peter continuará sendo um nerd – o anti-herói
clássico da mitologia adolescente americana, o tímido desajustado que costuma levar
lambada por todos os lados. Uma pessoa completamente desprovida de charme. Mas que,
ao menos na tela do cinema, faz um sucesso tremendo.

E que sucesso. Nos Estados Unidos, Homem-Aranha conseguiu faturar 115 milhões de
dólares apenas em seu primeiro final de semana. (Essa bolada formidável corresponde ao
faturamento anual da Panasonic brasileira, que, em 2001, contabilizou 118 milhões de
dólares.) Cerca de 20 milhões de americanos assistiram ao filme em seus três primeiros dias
de exibição, o equivalente à população inteira da Austrália. E o fato de um site como
Movie-mistake.com, especializado em garimpar babadas nos filmes, ter contado 123 erros
de continuidade, não parece aplacar o apetite cinematográfico dos fãs do herói.

Não foi diferente no Brasil. A fita, estrelada por Tobey Maguire – provavelmente a melhor
interpretação de um nerd desde The Freshman (1925), filme-mudo do comediante Harold
Lloyd –, Kirsten Dunst – a mais formosa encarnação em celulóide da namorada de um
herói – e William Dafoe, que faz um Duende Verde apenas burocrático, foi assistida por
nada menos que 1,3 milhão de espectadores em seu primeiro final de semana. É quase o
mesmo público que outro filme produzido milimetricamente para fazer sucesso, Parque dos
Dinossauros III, conseguiu atrair durante seus vários meses de exibição no Brasil em 2001.

Em termos de mercado, Homem-Aranha é o amadurecimento de uma mudança que vinha


sendo gestada desde os anos 70, quando George Lucas transformou Guerra nas Estrelas
(1977) num evento extra-cinematográfico: o filme era um trampolim para a venda de
bonequinhos, biscoitos, cadernos, jogos e pipoca. Com o mercado de games, CDs e DVDs
que explodiu a partir do final da década de 90, grande parte dos filmes saídos de
Hollywood atravessou o mesmo e lucrativo percurso. Poucos meses antes da estréia, o
mercado é invadido por uma enxurrada de produtos ligados ao filme. Uma agressiva e cara
campanha de marketing – a Sony Columbia Tristar gastou 140 milhões de dólares para
produzir o filme e nada menos que 50 milhões para promovê-lo –, agora turbinada pela
internet, martela em todos os corações e mentes a absoluta necessidade de não ficar de fora
de um evento como esse.

Porque antes de ser apenas mais uma obra cinematográfica, o blockbuster (arrasa-
quarteirão) da temporada é um lucrativo parque de diversões sediado no multiplex mais
próximo de você.
Ok. Mas essa receita milionária dá certo para qualquer tipo de filme de super-herói? É
pouco provável. Fosse outra figura da mitologia dos quadrinhos (o Homem de Ferro, por
exemplo), o resultado acachapante não seria o mesmo. O que há de incomum com o
personagem Homem-Aranha, criado há 40 anos pela legendária trinca da Marvel, Stan Lee,
Steve Ditko e Jack Kirby? O que faz de um adolescente que se transforma num aracnídeo
justiceiro um dos maiores heróis da cultura pop do século XX? Aliás, o que são e para que
servem os heróis?

Antes, à maneira de toda narrativa sobre uma dessas figuras mitológicas que insistem em
nos tirar, nós mortais, de apuros, retrocedamos algumas décadas para conhecer suas
origens, os primórdios da sua existência e a difusão da sua lenda. Tudo começou no início
dos anos 60, quando a Marvel, editora de quadrinhos que praticamente divide o mercado
americano com a DC (produtora do Batman e do Super-Homem, entre outros), estava à
procura de um herói que fizesse tanto sucesso quanto os da sua arquirrival.

Foi então que Stan Lee (“o Homero dos Quadrinhos”, segundo o diretor de cinema italiano
Federico Fellini, ele próprio um roteirista de HQs), um nova-iorquino safra 1922, teve a
idéia de criar um personagem que se identificasse com seus leitores. E bota identificação
nisso: adolescente, com acne despontando no rosto ainda imberbe, inseguro, crivado de
dúvidas e – suprema inovação urbanística – vivendo não em Metropolis ou Gothan City,
cidades de mentirinha, mas na fervilhante Nova York da década de 60. Gente como a gente.
Ou quase.

Foi uma revolução. Era a primeira vez na história dos quadrinhos que um personagem
ganhava o coração dos leitores não apenas pelos feitos heróicos – mas por também amargar
os mesmos problemas que o público vive todos os dias. “O Homem-Aranha é o primeiro
herói a ter a mesma idade do seu fã”, afirma Álvaro de Moya, professor aposentado da
Escola de Comunicação e Artes da USP e autor de História das Histórias em Quadrinhos.

E olha que o Homem-Aranha quase foi abortado pela Marvel antes de aparecer no mundo.
Quando Lee apresentou o personagem a Martin Goodman, o chefão da companhia na época
(e marido da tia do criador de Peter Parker), esse não se entusiasmou muito. “As pessoas
detestam aranhas”, teria dito Goodman. Pior: o patrão de Lee ainda disse que super-heróis
não poderiam ter problemas pessoais. Mesmo assim, Stan Lee o convenceu a incluir uma
história do herói no derradeiro número de Amazing Fantasy. E o resto é lenda.

Mas também história. O fascínio imenso do Homem-Aranha reside em seu caráter humano,
demasiado humano. Ele não é um homem extraordinário. Ele não é o Super-Homem (como
tia May faz questão de frisar numa seqüência do filme), nem o Batman, protetores
imbatíveis da raça humana. Tanto o Homem de Aço quanto o Morcegão são homens feitos,
adultos, maduros. O Homem-Aranha não. Ele tem a mesma idade de seus milhões de
admiradores adolescentes. O roteiro do filme que está em cartaz nos cinemas apresenta
poucas diferenças das histórias dos gibis. Uma coisa – fundamental – que não foi mexida
pelos roteiristas e produtores foi o fato de Peter Parker ser um adolescente comum.

A identificação é tão grande que o estudioso americano de cinema Neal Gabler (autor de
Vida: O Filme) encontra no sucesso instantâneo de Homem-Aranha uma espécie de catarse
adolescente em tempos pós-Columbine (escola em que dois adolescentes considerados
“esquisitos” pelos colegas fuzilaram 13 alunos, em 1999, e depois se suicidaram). Para
Gabler, Peter Parker seria o exemplo do nerd que não se vinga, mas ajuda.

“Os jovens levam a sério o mundo dos super-heróis, mas não completamente”, diz Bradford
Wright, professor de Cultura Americana na Universidade de Maryland, no Estado
americano de Baltimore. Wright, que é autor de Comic Book Nation: The Transformation
of Youth Culture in America (Nação de gibi: a transformação da cultura jovem na América,
sem tradução no Brasil), afirma que o Homem-Aranha é uma das maiores influências na
forma menos séria com que os jovens encaram o mundo. “Vivemos numa época de ironia”,
diz. E Homem-Aranha é auto-ironia pura.

Já foi bem diferente. Antes da era iniciada por Stan Lee, os super-heróis se levavam a sério
demais. Afinal, eram os benfeitores da humanidade. Rebento típico dos anos 60, década da
Guerra Fria e da contracultura, da decadência de antigos valores, o Homem-Aranha reflete
o seu tempo assim como o Capitão América, também da Marvel, o fez no início dos anos
40, quando os Estados Unidos estavam prestes a entrar na Segunda Guerra Mundial. “Cada
super-herói representa a ideologia americana do seu tempo”, diz Waldomiro Vergueiro,
coordenador do Núcleo de Pesquisa em História em Quadrinhos da USP.

Essa sintonia entre quadrinhos e história não é acidental. Como toda produção cultural, os
quadrinhos estão permeados pelo ar do seu tempo. Nove entre dez personagens do passado
eram resultado de alguma mutação nuclear. Sinal de uma época em que Estados Unidos e
União Soviética investiam na corrida armamentista. Hoje, a genética é a grande arma. No
filme Homem-Aranha, Peter Parker é picado por uma aranha geneticamente modificada. O
original de Stan Lee contava outra história: a aranha havia sido exposta a radiações.

A “vida privada” e as lutas dos heróis refletem esse livre-trânsito entre os personagens e o
tempo em que foram criados. Batman pode ser um bom exemplo disso. Surgido pouco
antes da Segunda Guerra, num período bastante duro da vida americana – a Grande
Depressão, iniciada com o crack da Bolsa de Nova York, ainda debilitava a economia dos
Estados Unidos –, o personagem é fruto de tempos sombrios. Daí a origem do herói: Bruce
Wayne, revoltado com o assassinato dos pais, torna-se um vingador impiedoso. Bem
diferente do Homem-Aranha, surgido nos coloridos anos 60, quando os Estados Unidos
disputavam a hegemonia mundial com a finada União Soviética, cujos traumas pessoais –
morte dos pais e assassinato do tio Ben – incutiram em sua personalidade um inabalável
senso de justiça. Em tempos menos ambíguos como o nosso, o Homem-Aranha (pelo
menos no filme que está nos cinemas) parece reavivar o patriotismo dos americanos.

Os tempos mudam – e os objetivos dos super-heróis também. “Durante a Segunda Guerra,


os heróis de quadrinhos se alistaram. Depois do atentado às Torres Gêmeas, a indústria dos
gibis não irá ignorar a guerra contra o terrorismo. Até porque grande parte das aventuras
ocorrem em Nova York”, diz Bradford Wright. O estudioso vai além: “Uma organização
terrorista como a Al-Qaeda parece ter sido antecipada pelos gibis. Há inúmeras histórias em
que vilões destroem edifícios, realizam ataques nucleares e fomentam o caos
internacional”. (De fato, na saga A Morte de Robin, o aiatolá Khomeini, chefe político e
religioso do Irã, então adversário mortal dos Estados Unidos, aparece cooptando o Coringa,
arquiinimigo do Batman, para seus planos terroristas.)

A metamorfose dos super-heróis é previsível. Como todo herói, os benfeitores do mundo


dos quadrinhos passam por percursos bastante semelhantes. Do grego Aquiles, personagem
da Ilíada, de Homero, o primeiro grande poema do Ocidente (e uma aventura digna de
cinema), às figuras de gibis, a vida e a morte dos heróis têm origens e papéis semelhantes
na história. Em seu livro El Mito del Héroe (O mito do herói, sem edição brasileira), o
crítico literário argentino Hugo Bauzá define o herói como alguém metade homem metade
deus, valorizado pelos objetivos éticos da sua ação.

Otto Rank (1884-1939), um dos discípulos de Sigmund Freud, afirma que a característica
do herói é triunfar sobre todos os obstáculos, “anestesiando” o fracasso daqueles que
tentam repetir suas façanhas. Rank mostra uma narrativa semelhante entre muitos mitos
heróicos: geralmente, ele é filho de uma família nobre, seu nascimento é antevisto por
sonhos e oráculos que prevêem conflitos, e, depois de várias aventuras distantes da sua terra
natal, volta para ser reconhecido pelos seus feitos. “Todas as narrativas sobre heróis
apresentam similaridades explícitas”, afirma o historiador Francisco Marshall, coordenador
do núcleo de História Antiga da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
“Em todas elas, o herói é uma figura incompreendida e deslocada socialmente.” (Qualquer
semelhança com Peter Parker não é mera coincidência.)

Alguns estudiosos fizeram sínteses dessas narrativas heróicas. O britânico E.M. Butler
escreveu, em The Myth of the Magus (O mito do mago, sem edição brasileira) que
percebeu que todos os heróis são a mesma pessoa com máscaras diferentes. É o caso,
também, do hoje clássico O Herói de Mil Faces, do estudioso de mitos americanos Joseph
Campbell (1904-1987), que codificou o sistema dos heróis. “Sempre foi função primordial
da mitologia e dos rituais fornecer os símbolos que levam o espírito humano adiante”,
escreve. O herói, portanto, tem a função de ser um exemplo. “A figura heróica é uma
estrutura básica, fundamental, na formação e no desenvolvimento da personalidade de
todos nós”, afirma a psiquiatra Maria Zélia de Alvarenga.

“Toda origem do herói apresenta um fator de tragédia”, afirma o psiquiatra Cândido Pinto
Vallada, diretor da Associação Junguiana do Brasil. Seja a morte dos pais (como no caso,
veja só, de Batman e do próprio Homem-Aranha), seja na inadequação com a sociedade.
Para Vallada, a importância do herói (e mesmo desse nascimento traumático) é primordial
na adolescência, período de definição da personalidade em que o jovem precisa se guiar por
grandes exemplos. “O herói é uma ferramenta de ousadia para o adolescente”, diz.

E ousadia é o que não falta a Peter Parker, correndo atrás do ônibus escolar ou escalando
prédios para fazer triunfar a justiça em Nova York. Porque ele é um herói. E também um
adolescente que poderia ser você ou seu filho. Comum, prosaico, inconstante – mas, a seu
modo, extraordinário.

Galeria de heróis

Saiba como surgiram os salvadores da humanidade

Super-Homem

Nascimento - Criado por Joe Schuster e Jerry Siegel, o Super-Homem nasceu em 1934. A
DC Comics lançou a primeira história do herói em 1938.Características - Para proteger seu
filho da explosão do planeta Kripton, Jor-el resolve enviá-lo para a Terra. O E.T. aterrissa
em Smalville, onde é resgatado por um casal. Adulto, vai viver na cidade de Metropolis e
trabalhar como repórter do Planeta Diário. Superpoderes - Visão de raio-X, força quase
infinita e capacidade de voar. Inimigos - Lex Luthor, Bizarro.Curiosidade - O Super-
Homem desembarcou no Brasil pela primeira vez em 1940. Clark Kent recebeu o nome de
Edu, e Lois Lane ficou com pinta de vedete: Míriam Lane.

Batman

Nascimento - Criado por Bob Kane, o Batman estreou no mundo em 1939.Características -


Depois de testemunhar o assassinato de seus pais, o menino Bruce Wayne decide orientar
toda sua vida para a vingança. Sombrio, o milionário Wayne transforma-se em Batman, o
justiceiro de Gothan City. Superpoderes - Agilidade e apetrechos Inimigos - Coringa,
Pingüim, Charada, entre outros. Curiosidade - Para abrir a passagem da Bat-Caverna, Bruce
Wayne acerta os ponteiros do relógio para a hora exata em que seus pais foram
assassinados. Robin, o ex-trapezista de circo e “garoto prodígio” surgiu em 1940. Também
tem um drama familiar: seus pais foram mortos por Duas Faces.
Fantasma

Nascimento - O Fantasma foi criado em 1936 por Lee Falk (1911-1999), que, anos antes,
havia se celebrizado com o mágico Mandrake. Características - Há quase 500 anos, um
primeiro Fantasma foi morar na Caverna da Caveira, na Floresta Negra. A aventura do
Fantasma que todos conhecemos começou quando, durante uma viagem de mar, seu pai foi
assassinado por piratas chineses. Houve apenas um sobrevivente, o Fantasma, que foi
levado pelas ondas até o Golfo de Bangala (país africano que só existe na geopolítica dos
quadrinhos). Torna-se uma espécie de monarca dos pigmeus. Superpoderes - Não tem.
Inimigos - General Bababu, Hidra, Gooroo, Quadrilha T.Curiosidade - Pioneiro, o
Fantasma é considerado o primeiro herói de quadrinhos a usar máscara e uniforme. Depois
dele, o uniforme virou norma.

Capitão América

Nascimento - Criado para lutar pelos Estados Unidos na Segunda Guerra, o Capitão
América surgiu em 1941, por obra de Joe Simon e Jack Kirby. Características - Steve
Rogers nasceu nos tempos da Grande Depressão. Em 1940, alistou-se no Exército
americano, mas não preencheu os requisitos necessários para pegar em armas. É convidado
para um experimento, a Operação Renascer, que pretendia criar um soldado com poderes
fenomenais. Bombardeado por raios vita, Steve sofre uma mutação e se transforma num
poderoso guardião da liberdade. Superpoderes - Força descomunal (ajudada por um escudo
indestrutível, formado por uma liga de vibranium e adamantium). Inimigos - Caveira
Vermelha e Barão Zemo. Curiosidade - No número 1, o marmanjo aparecia dando uma
sova em Adolf Hitler.

Homem-Aranha

Nascimento - Criado por Stan Lee, Steve Ditko e Jack Kirby, o Homem-Aranha veio ao
mundo em 1962. O resultado foi tão bom que motivou a criação de uma revista própria para
o novo herói. Características - O adolescente Peter Parker vive com seus tios May e Ben
Parker. Picado por uma aranha radiativa, o rapaz desenvolve atributos do inseto.
Superpoderes - Força capaz de suportar até 10 toneladas, capacidade para escalar prédios,
Sentido da Aranha (para alertá-lo em face do perigo iminente). Inimigos - Duende Verde,
Escorpião, Dr. Octopus, Abutre, Lagarto e Electro. Curiosidade - Ao contrário de outras
histórias em quadrinhos, as aventuras do Homem-Aranha têm como palco uma cidade real,
Nova York.

Incrível Hulk

Nascimento - Criado em 1962 por Stan Lee e Jack Kirby. Características - Exposto à
radiação gama durante experiências, o dr. Bruce Banner transformou-se num assustador
monstro verde. Superpoderes - Bruto como um Sansão feroz, Hulk é capaz de levantar até
100 toneladas, além de saltar quilômetros como um canguru. Inimigos - Bate em todo
mundo. Curiosidade - A primeira revista do Hulk não vingou e só foi publicada até o
número 6. O filme The Hulk, dirigido por Ang Lee, promete ser o grande sucesso da
temporada de 2003.

Wolverine

Nascimento - Criação de Len Wein e Herb Trimpe, Wolverine apareceu pela primeira vez
em 1975, como rival do verdão Hulk. Características - Logan (o nome do herói) tem um
passado remoto como samurai no Japão medieval de ter participado da Segunda Guerra –
só que grande parte dessas memórias podem ser falsas, resultado de implantes no projeto
Arma X, onde foi construído seu esqueleto de adamantium. Superpoderes -
Sentidosaguçados e um grande fator de cura.Inimigos - Dentes de Sabre, Tentáculo e Lady
Letal.Curiosidade - Wolverine é um herói de pavio curto, ranheta e violento.

Mulher Maravilha

Nascimento - A Mulher Maravilha foi criada em 1941, por William Moulton Marston
.Características - Diana, princesa amazona, é criada a partir do barro, pois sua mãe não
dispunha de um homem para concebê-la. Nos Estados Unidos, torna-se a Mulher
Maravilha. Superpoderes - Capacidade de voar, o “laço da verdade” e o avião
transparente.Inimigos - Mulher-Leopardo e bandidos. Curiosidade - Marston é o inventor
do polígrafo, o popular detector de mentira.

A cidade vitimada

Nem Gothan City, nem Metropolis. O palco para as aventuras do Homem-Aranha é Nova
York. É na grande cidade que o vilão Duende Verde promove o escarcéu e tenta cooptar o
herói para suas fileiras criminosas, enquanto destrói prédios e bagunça a vida já bastante
conturbada da metrópole. Curiosidade: os produtores do filme tiveram que remover
digitalmente as Torres Gêmeas do World Trade Center de algumas cenas. Tudo para não
provocar desconforto e para não ofender a memória das vítimas dos atentados de 11 de
setembro de 2001.

A renúncia necessária

Pouco antes de morrer, tio Ben trava um curioso diálogo com Peter Parker. Como se de
alguma forma desconfiasse dos incríveis poderes do seu jovem sobrinho, Ben diz-lhe que
um grande poder envolve grandes responsabilidades. Peter vai descobrir isso de forma
bastante amarga. Como todo herói, terá que fazer escolhas que irão afastá-lo de quem ele
mais gosta. A justiça deve vir antes do coração. Nada mais arquetípico. A renúncia à vida
pessoal é um dos traços mais permanentes da mitologia do herói.

Uma análise dialética dos heróis e super-heróis dos quadrinhos

Esse texto tem como objetivo analisar algumas questões da obra “Heróis e Super-heróis no Mundo
dos Quadrinhos” de Nildo Viana, publicado recentemente pela editora Achiamé do Rio de Janeiro.
Um estudo que, acreditamos, ter sido sistematizado com maestria, evidenciando de forma clara e
bem fundamentada as características essenciais dos heróis e super-heróis no mundo dos
quadrinhos, os quais têm como determinação essencial o inconsciente coletivo. Um pequeno livro
de setenta e sete páginas, porém, com uma análise profícua, organizado em quatro capítulos. Na
primeira parte do livro trata da era da aventura no mundo dos quadrinhos; no segundo capítulo
discorre sobre os super-heróis e axiologia; no terceiro tópico analisa os “super-heróis” e
inconsciente coletivo e, finalmente, no quarto capítulo o autor discute a axiologia e inconsciente
coletivo no mundo dos quadrinhos.
O que dizer deste gênero literário quando nos deparamos com uma infinidade de bibliografias
produzidas com finalidades específicas, a exemplo das diversas ciências existentes no âmbito
acadêmico? Bem, as histórias em quadrinhos receberam um tratamento diferente daquele dirigido
à ciência evidenciando o caráter lúdico, o lazer, etc., e na atualidade vem ganhando espaço nas
prateleiras escolares e mesmo como leitura indispensável em colos familiares. A partir destas
histórias veio se sistematizando uma consciência de que desempenham um papel fundamental na
constituição e formação do indivíduo. Os profissionais da pedagogia que o digam com mais
afinidade, por estarem engajados nesta crença e, em grande maioria, utilizam das HQ como meio
de estimular seus alunos à leitura. Com a mercantilização e burocratização das HQ ocorre uma
distribuição em massa, e envolta da massificação das HQ, a idéia de que representam um poço de
positividade foi se formando e, por sua massificada distribuição na sociedade, despertaram
atenção, até mesmo de estudiosos, emergindo daí, inúmeras análises e discussões derivadas
destas histórias.
Analisar as histórias em quadrinhos chega a desperta a atenção, num sentido de levar alguns a
pensar que nada poderia ser falado de forma mais sistemática desta “coisa”, gibis, pelo simples
fato de serem direcionados a crianças e jovens e não conter nenhum conteúdo que possa ser
levado a sério, percebe que está contido aí uma idéia paternalista e coercitiva, a crença de que os
adultos representam a seriedade. É esse, um valor propagado nas relações sociais de classe. Por
outro lado, quando se fala em seriedade se refere a conteúdo que seja utilizado como material
informativo ou mesmo de orientação sobre questões que envolvem o indivíduo na sociedade. Bom,
aparentemente, as HQ podem ser interpretadas desta forma, e é no sentido de esclarecer essas
questões e outras determinações das histórias em quadrinhos que vemos a grande contribuição
deste estudo realizado por Nildo Viana. Até o presente momento não se tem conhecimento de
interpretações que tenham atingido a profundidade alcançada por esta análise sobre as HQ, neste
caso dos heróis e super-heróis. Assim, enquanto criações do homem e elemento presente na
sociedade, as HQ representam um instrumento fundamental para a configuração e estruturação da
sociedade no moldes desejados pelos capitalistas.
Além disso, não estranharia o leitor se disséssemos que a seriedade é uma das características,
bem analisada por Viana, que está presente nas produções atuais do mundo dos quadrinhos, e
ainda, que vem sendo leitura degustada por muitos adultos. As HQ que em seu alvor tinham como
característica a comicidade passam a se distinguir pela seriedade. Bom, poderia se questionar
onde está o caráter sério nessas histórias? Podemos citar a seriedade presente na mudança de
conteúdo das próprias histórias, que não é uma mudança que ocorre por si só, de forma
independente do contexto social, mas, uma mudança conseqüente do processo de
desenvolvimento do regime de acumulação capitalista. Está aqui, em si tratando de sua relação
com a sociedade, o caráter fundamentalmente sério dessas histórias, pois, sua existência tem
finalidades bem definidas, para agirem politicamente na configuração e reprodução das relações
sociais. Por outro lado, vê se a seriedade sendo expressa na própria mudança formal na
apresentação de seus personagens. Essa mudança pode ser notada a partir do conhecimento das
etapas históricas em que foi passando as HQ. No início, por exemplo, as histórias eram contadas
em tiras de jornais e não permitia o seu desenrolar em períodos longos. Nesse primeiro período,
final do século XIX e início do XX, as histórias eram curtas e tinham um caráter voltado para a
comicidade, baseadas em figuras caricaturais. Portanto, a razão de ser das mudanças ocorridas
nas HQ está no desenvolvimento do capitalismo o qual, segundo o autor, “provoca uma valoração
cada vez maior do indivíduo” (Pág. 21). “E o individualismo é uma das idéias-força da ideologia
dominante e das construções fictícias da classe dominante” (pág. 22).
Nesta variedade de leituras em quadrinhos podemos, então, encontrar uma variedade de histórias.
Essa variedade é que vai trazer conseqüências para a ótica da sociedade em relação às HQ.
Diante dessa vasta produção, Viana analisa apenas dois gêneros, isto é, os heróis e super-heróis,
uma boa estratégia para não cair numa generalização interpretativa, no sentido de analisar “todo”
gênero existente e não se chegar à essência das HQ. Além disso, é através desses gêneros que
ocorre, de forma mais explícita, a expressão do inconsciente coletivo, questão que será analisada
posteriormente.
O gênero aventura vem então para legitimar a característica individualista do capitalismo, e uma
das peculiaridades fundamentais do gênero aventura é a transposição que realiza do
individualismo para o mundo da ficção” (pág. 22), uma necessidade que a crise de 29 faz brotar,
tendo a “necessidade de um indivíduo forte, resistente, um verdadeiro ‘herói’” (pág. 22), e, assim, a
necessidade de reforçar a idéia individualista. Veja que as HQ têm um papel político importante a
desempenhar em direção à reprodução do capitalismo. Várias questões poderiam ser citadas
quando da sua existência. Uma delas está presente na produção e distribuição de tais histórias.
Enquanto mercadoria são meios de enriquecimento dos proprietários de agências que estão em
volta de sua produção. Por outro, a sua produção se dá envolta de determinações jurídicas e
institucionais, o que delimita o conteúdo e a forma dos personagens. Conseqüentemente, aqueles
artistas que as produzem, as fazem de acordo com determinadas leis.
Portanto, a principal característica do gênero aventura é o maniqueísmo, a oposição entre o bem e
o mal. A necessidade do maniqueísmo pode ser explicada a partir da visão burguesa de não poder
dizer tudo nem revelar tudo. Daí recorrem à oposição entre o bem e o mal ficando apenas na
superficialidade das questões que envolvem a sociedade, ou seja, mostrando apenas a causa e
não o causador, a luta de classe, o modo de produção capitalista. Essa idéia é reforçada pelo
papel do herói no mundo dos quadrinhos. Existe ainda o herói conservador o qual busca manter a
ordem em busca da justiça. Ele não contesta o capitalismo, daí seu caráter conservador, e se
baseia na dualidade ordem e justiça.
Tarzan, criado em 1912 por Edgar Rice Burroughs, é o exemplo de herói que luta pela ordem. O
mesmo ganha um novo perfil com a crise de 1929. Esse contexto histórico marcado por profundas
contradições e fortes repressões vai dar às HQ um novo perfil aos seus personagens bem como
inaugurar uma nova forma de produção. Com a crise do regime de acumulação intensivo surge
uma necessidade de inspirar a ação humana para se adequar às novas relações sociais que
emergiam. É com essa necessidade de se criar um herói para compensar a imaginação que o novo
gênero vai se caracterizar. Com o fim da Primeira Guerra os EUA iniciam uma política de expansão
política e econômica e cria estratégias para fortalecer e legitimar essa sua ação. Tarzan, então, é o
herói que vai ter como missão a colonização. Ao se deparar com a civilização antiga e exótica vai
promover a justiça e a ordem. Muitos outros heróis são criados com essa finalidade política, os
quais vêm para dar força ao novo regime de acumulação que surgia, como o príncipe valente, Dick
Tracy, Flash Gordon, Zorro entre outros.
No capítulo que trata da Guerra e a Visibilidade do Significado Social dos Heróis, Viana coloca
como determinação fundamental dos heróis, a sua ligação com os interesses dominantes e esta
concepção é questionada pela maioria dos estudiosos do mundo dos quadrinhos. Essa
discordância está intimamente ligada aos valores de tais pensadores. Discordam que as HQ têm
uma proximidade com interesses dominantes por defenderam os valores da classe minoritária da
sociedade, e é por isso que se faz de extrema importância essa análise de Nildo Viana, do nosso
ponto de vista, por defender os interesses da classe que representa a parte majoritária da
sociedade. É engajado numa perspectiva de ruptura que Viana retrata a mudança formal e de
conteúdo das HQ que seguia o ritmo das mudanças do regime de acumulação. Com o advento da
segunda guerra mundial a aventura dá lugar à superaventura. Os Heróis, com suas características
terrenas, destarte, com habilidades fantásticas, são substituídos pelos super-heróis com poderes
sobre humanos.
Heróis e super heróis, portanto, são utilizados como estratégias políticas pelos países mais
desenvolvidos economicamente envolvidos em conflitos e disputas políticas e econômicas, e isso
pode ser facilmente notado no envolvimento dos personagens com a guerra é o que marca esse
seu caráter político. Essa relação das HQ com o contexto social em que foram criadas, retratada
por Viana, é fundamental para entender a configuração de tais histórias. A maioria dos teóricos dos
quadrinhos toma as histórias com fins em si mesmo, isto é, que as histórias mudam a si próprias
como se elas fossem dotadas de vida e pudessem escolher o caminho a seguir. Não interpretam
as histórias em quadrinhos como sendo essas, produtos e criações do próprio homem. Apesar do
gênero aventura e superaventura, analisados por Nildo Viana, serem produzidos dentro de
parâmetros institucionais, são expressões de necessidades-potencialidades reprimidas em todos
os indivíduos da coletividade, naturalmente, expressão daquele que lhe produziu.
O mundo dos quadrinhos, portanto, são “expressões das mudanças sociais” (pág 37). O processo
de burocratização e mercantilização das relações sociais, uma determinação do capitalismo, cria a
necessidade, através da fantasia, de superar a prisão que se tornou a vida social e conquistar uma
liberdade imaginária para compensar a falta de liberdade real (pág. 41). Os heróis e super-heróis,
nesse contexto, mantêm uma relação íntima com os valores dominantes. Nesse sentido,
acreditamos, uma das principais contribuições oferecida por Nildo Viana é quando trata do sentido
axiológico e do inconsciente coletivo presente nas histórias em quadrinhos.
“Axiologia” é um conceito por ele desenvolvido para substituir o de “ideologia” utilizado pela maioria
dos estudiosos das HQ. Numa visão dialética, esse conceito, axiologia, contribui profundamente
para o esclarecimento de algumas dúvidas, provenientes de confusões que os positivistas,
especificamente, criaram na utilização do conceito de ideologia. Marx ao tratar a “ideologia” se
referia à falsa consciência sistematizada a partir da ação da classe dominante sobre as classes
dominadas. Porém, com o tempo esse conceito foi deixando de corresponder à realidade e foi
justamente isso que fizeram os estudiosos dos quadrinhos utilizarem o conceito de “ideologia” para
expressar os valores culturais que as HQ reproduziam. O termo “valor cultural”, por sua vez, não
consegue explicar as determinações intrínsecas nessas produções, pois, deve-se especificar qual
valor estão tratando. Daí a contribuição de Viana com a criação do conceito “axiologia”. Com esse
conceito os valores podem ser expressos de forma correspondente à sua especificidade, ou seja,
como valor proveniente da cultura dominante, portanto, como padrão dominante.
Conseqüentemente, abre-se espaço e instiga os estudiosos a voltarem sua atenção para o que
representa de fato o termo “ideologia”.
Agora podemos falar da relação dos super-heróis com o inconsciente coletivo, sendo esse de
fundamental importância para explicar a existência e o gosto pelos super-heróis. Um conceito já
citado por Freud e Jung mas que não foi tratado em sua devida concretude. Segundo Viana o
inconsciente coletivo é “o conjunto de necessidades/potencialidades, reprimidas em todos os
indivíduos que formam uma coletividade (grupo, classe, etc)” (pág. 59). Essa é a principal
contribuição deste autor, pois, até o presente momento nenhum pensador conseguiu retratar com
tamanha precisão essa característica das HQ. E qual seria então a relação das HQ com o
inconsciente coletivo? Bom. No inconsciente coletivo estão contidas as
necessidades/potencialidades reprimidas, as quais criam o desejo efetivo de liberdade, isto é, a
sua busca na realidade concreta.
Aí o sentido de ser dos heróis e super-heróis no mundo dos quadrinhos, mais especificamente da
superaventura, pois, expressam de forma fictícia os desejos reais, porém reprimidos, que o
indivíduo almeja que se efetivem. Um exemplo disso é o desejo de liberdade. Na sociedade
capitalista o indivíduo não vive a liberdade plena e sim uma repressão convertida formalmente em
liberdade. Mesmo criando estratégias para ocultar a repressão que os indivíduos sofrem na
sociedade, o capitalismo não consegue banir por completo o desejo de liberdade e, além disso, o
desejo da transformação que pode ser percebido na luta brutal existentes entre proletários e
capitalistas. Esse é um exemplo de que mais cedo ou mais tarde, as relações sociais do
capitalismo serão superadas. No mundo dos quadrinhos essa liberdade se manifesta, por exemplo,
no super-herói que voa. O voar, “é um símbolo de liberdade, de superação de limites” (pág. 61). E
o modo que os heróis e super-heróis do mundo dos quadrinhos contribuem na reprodução das
relações sociais capitalistas é a transposição que realizam, do desejo real de transformação, para
o mundo da ficção. A necessidade de efetivação do inconsciente coletivo é real, e efetivando-se
coloca abaixo toda a estrutura baseada na repressão e na exploração, e, junto, os privilégios
daqueles que dominam. Os heróis e super-heróis no mundo dos quadrinhos, por sua vez, alimenta
esse desejo de superação da exploração de forma ficcional. Assim, sendo a aventura e a
superaventura a expressão do inconsciente coletivo, essas produções satisfazem parte do desejo
de efetivação do inconsciente coletivo, daí, ocorrer a reprodução do capitalismo, pois, não
contribuem para que o inconsciente coletivo transponha-se para a realidade e sim para o mundo da
ficção.
Nesse sentido, “a superaventura é, em parte, manifestação do inconsciente coletivo e é por isso
que ela (e não só ela como também os heróis comuns) tem um público tão grande” (pág. 61).
Nesse contexto paradoxal das HQ, vivem aqueles indivíduos que produzem tais histórias. Apesar
de produzirem de forma consciente, o conteúdo que elaboram é a expressão do inconsciente
coletivo. Além disso, o produto de suas habilidades não é produto de uma produção baseada na
liberdade de produção. As HQ são produzidas dentro de parâmetros institucionais e devem
corresponder às exigências daqueles que lhes financia. O artista estando sob o controle
institucional, se torna impotente frente à burocracia que lhe impossibilita agir da forma que desejar,
mas se transforma no todo poderoso nas HQ, o mundo da ficção, vencendo barreiras, expressando
sua vontade na ação de seus personagens, vontade essa que na realidade recebe suas limitações.
Um exemplo disso é o de Clark Kent que mesmo disfarçado de um executivo, que trabalha, é
reprimido, e respeita as imposições do trabalho burocrático, em determinado momento se
transforma no super homem, aquele que luta pela justiça, o indivíduo salvador da pátria e a quem
cabe a missão de restituir a ordem abalada ou colocada em risco por um determinado vilão. Nesse
sentido que Nildo Viana afirma que “a superaventura significa a carta de alforria imaginária do ser
humano escravizado no mundo da burocracia e da mercadoria” (pág. 63).
Pode-se perceber, portanto, que assim como o artista torna consciente ficcionalmente o
inconsciente coletivo, ou seja, expressa seus desejos nas HQ, o inconsciente coletivo pode se
tornar consciente coletivo de forma prática. E o estudo do inconsciente coletivo através do mundo
dos quadrinhos se faz necessário para levá-lo á consciência, contribuindo, conseqüentemente,
para a transformação social. Essa é uma necessidade fundamental para a libertação da
humanidade, e do nosso ponto de vista, a principal contribuição de Nildo Viana nesta obra.
É, portanto, na última parte do texto que o autor analisa a axiologia e o inconsciente coletivo no
mundo dos super-heróis. A axiologia, portanto, expressa o lado conservador enquanto o
inconsciente coletivo o contestador. Isso é um paradoxo em si tratando dos valores almejados pela
classe dominante, no sentido de que os criadores destas histórias ao produzi-la é submetido ao
controle institucional, de reprodução da ordem, porém, ao projetar a história ele expressa seu lado
contestador, de superação da ordem, na ação dos super-heróis.
Uma outra questão analisada é que “essas histórias exercem um grau de influência ao leitor muito
menor do que se pensa, pois, ao fazer a leitura de tais produções o leitor não se prende aos
detalhes da narrativa que expressam seu caráter ideológico e sim nos aspectos fantásticos da
história (os combates, a luta pelo poder, os tipos de poderes, os mundos estranhos e maravilhosos
etc)” (pág. 65). Isso demonstra o quão desejosos estão os leitores dessas produções, e a maior
parte da sociedade, da busca efetiva da liberdade, bem como da superação das relações sociais
baseadas no capitalismo, que tem como determinação fundamental a exploração. Além disso, um
dos fundamentos desta sociedade em relação à sua sociabilidade é a competição. Essa
competição pode ser encontrada em várias HQ assim como em alguns desenhos de televisão. Um
exemplo dado pelo autor de programa televisivo, cuja origem deve-se ao mundo dos quadrinhos,
que enfatiza essa competição é Dragon Ball onde seus personagens (Goku, Vendita etc) “vivem
numa luta eterna e infinita por possuir mais força, em ficar com mais poderes do que os outros. O
objetivo é ganhar a competição... (pág. 66)”.
Nesse sentido, a maioria dos super-heróis criados são conservadores, conseqüência dos valores
que aqueles que os produzem possuem, e são poucos que expressam a contestação. A ação
estatal com a criação de leis, proibindo ou mesmo determinando valores a serem respeitados e
não contestados nas produções, reforça esse conservadorismo. Namor, o Príncipe Submarino, é
um exemplo de herói contestador. Namor, no entanto, com o tempo foi sofrendo alterações formais
e de conteúdo, tornando-se “calmo e controlado como qualquer outro super-herói conservador”
(pág. 67). O mundo da superaventura é, no entanto, o gênero dos quadrinhos que se manifesta de
forma mais clara o inconsciente coletivo, mas é também aquele em que a axiologia se faz presente
e exerce certo controle em sua produção.
Na conclusão desta obra o autor retoma algumas questões analisadas nos quatro tópicos do livro,
tais como: o surgimento do herói em 1929, o herói como figura axiológica, o herói na guerra, e isso
demonstra sua ligação ao poder, o surgimento dos super-heróis em 1938 através do super-homem,
o super-herói como reprodutor dos valores dominantes e do inconsciente coletivo na ação dos
heróis. Por fim, ressalta a importância deste estudo tirando dele “uma lição da percepção dos
limites da divisão do trabalho intelectual, que pode deixar de lado aspectos importantes da
realidade que não corresponde à lente produzida por determinada disciplina científica” (pág. 73).
Finaliza ressaltando o seu propósito que é o de perceber “tanto o sofrimento quanto sua negação,
e ao fazê-lo contribuir com a luta pela superação do sofrimento” (pág. 74).
Como já dissemos em momentos anteriores, esta obra representa um instrumento de fundamental
importância para a compreensão dos aspectos axiológicas presentes nas histórias em quadrinhos,
bem como, oferece uma importante contribuição para a efetivação prática do inconsciente coletivo.
É claro que sua leitura pode receber diferentes interpretações, porém, podemos ressaltar que uma
das principais contribuições deste autor, ao escrever esta obra, foi a tamanha habilidade em
evidenciar com precisão, segundo suas próprias palavras, o caráter axiológico, já tratado por
outros pensadores, porém de forma superficial, e, fundamentalmente, o inconsciente coletivo
presente nas histórias em quadrinhos. O prazer estimulado por este gênero literário tem sua lógica
de ser cuja essência está estampada na dinâmica mercantil do capitalismo e esta análise
demonstra de forma idílica essa determinação das HQ. Por fim, ressaltamos que nosso objetivo
aqui foi de oferecer ao leitor uma análise dialética dos pormenores que compõe essa obra,
analisando os pontos principais da análise traçada por Nildo Viana. E para que o leitor possa
rejubilar com suas próprias interpretações o conteúdo desta obra, faz-se necessário que faça sua
própria interpretação na fonte direta que representa esta obra.

Quadrinhos: Super-heróis, ativar!

A história americana se refletenos quadrinhos

Desde Superman, criado na década de 30 para levantar o moral do povo americano durante
a Grande Depressão, os super-heróis povoam os quadrinhos. Separados por eras, de acordo
com sua criação (da Era de Ouro, nos anos 30, à Era Image, nos anos 90), eles refletem, em
maior ou menor grau, o mundo real.

1938 – Superman Primeiro super-herói dos quadrinhos, ele inaugurou a chamada Era de
Ouro das HQs. O desemprego e a fome que atingiram os Estados Unidos nesse período
fizeram a violência crescer a níveis assustadores. Oriundo do extinto planeta Krypton, o
Homem de Aço combate o crime usando seus poderes (entre os quais não se inclui o de
voar, que só apareceria tempos depois).

1939 - Batman

Também seguindo a onda de combate à violência, o primeiro herói mascarado, Batman,


surge para aterrorizar os criminosos. No entanto, ele é humano, e suas únicas armas são um
arsenal de apetrechos e a inteligência excepcional. Nas primeiras histórias, usava armas e
matava.

Março/1941 - Capitão América

O mundo mergulha no caos da Segunda Guerra. Mesmo antes de seu país ingressar no
conflito, o Capitão América combatia os nazistas com um escudo em forma de diamante
(depois ele ficou redondo), um uniforme bandeiroso e a vontade férrea de dar fim aos
inimigos da democracia. Embora datada de março de 1941, sua primeira edição foi
distribuída em dezembro de 1940.

Dezembro/1941 - Mulher-Maravilha

A primeira super-heroína fez sua estréia no mesmo mês em que os japoneses atacaram a
base naval americana de Pearl Harbor, no Havaí – evento decisivo para a entrada dos
Estados Unidos na guerra. A Mulher-Maravilha é uma princesa amazona dotada de poderes
mitológicos e do laço da verdade. Ela já dava surra em vilões muito antes de o feminismo
dar sinal de vida.

1956 - Flash

Começa a Era de Prata (década de 50), e a criação da bomba atômica desperta o temor de
um conflito. É a hora dos heróis tecnológicos. Banhado por produtos químicos e atingido
por uma descarga elétrica, Barry Allen se transforma em Flash (este, na verdade, é o
segundo Flash. O primeiro é de 1940).

1961 - Quarteto Fantástico

O Quarteto Fantástico inaugura a Era Marvel, na qual, em vez de aliens ou justiceiros


mascarados, os heróis eram seres humanos comuns que adquirem superpoderes. No caso do
Quarteto, eles vieram após exposição a raios cósmicos ocorrida num vôo espacial. No
mundo real, Estados Unidos e União Soviética, em plena Guerra Fria, davam início à
corrida espacial.

1962 - Homem-Aranha

Cheio de crises de consciência, o herói dispara suas teias em meio aos arranha-céus de
Nova York. O Homem-Aranha, que ganhou poderes após ser picado por um aracnídeo
radioativo, combate o mal armado do mesmo estoicismo com que atura as broncas do chefe
ranzinza.

1963 - X-Men

Aqui, a nova geração de heróis já nasce superpoderosa, dotada de um fator mutante em seus
genes que os torna odiados e perseguidos pela humanidade. São os X-Men, que sofrem na
pele o preconceito racial que então dividia os americanos entre brancos e negros. É a época
de Martin Luther King e Malcolm X, líderes negros que polarizaram a cruzada pela
tolerância racial nos anos 60.

1974 - Wolverine

A Guerra do Vietnã estraçalha o sonho de paz do mundo, enquanto a crise do petróleo e o


escândalo de Watergate lançam os americanos num período de descrédito em relação aos
políticos. Nasce um herói cínico e violento, como convém a esses tempos de crise:
Wolverine, o mutante politicamente incorreto dotado de um fator de cura que o torna
invulnerável a qualquer tipo de ferimento.

1992 - Spawn
A queda do Muro de Berlim e o fim do comunismo na União Soviética dão início à
globalização. Perto do novo milênio, as profecias apocalípticas e o misticismo explodem.
Surge Spawn. O ex-agente da CIA Al Simmons morre e, no inferno, é recrutado para lutar
no exército de Lúcifer contra as forças celestiais. Apanhado entre dois mundos, Simmons
age como um herói atormentado.

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