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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

JAIME ELIAS NETO


JOSÉ ADELCIO DE OLIVEIRA JR.
RODOLFO RODRIGUES
VITÓRIA MOURA

Terceiro exercício avaliativo:


Instituições totais

São João del Rei


2017
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JAIME ELIAS NETO


JOSÉ ADELCIO DE OLIVEIRA JR.
RODOLFO RODRIGUES
VITÓRIA MOURA

Terceiro exercício avaliativo:


Instituições totais

Trabalho apresentado como requisito


parcial para obtenção de créditos referentes
à unidade curricular Psicologia Social II,
ministrada pela Profa. Dra. Kety Valéria
Simões Franciscatti (DPSIC/UFSJ).

São João del Rei


2017
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A tentativa de uma compreensão da realidade social pode ser mediada por diferentes
constelações, processo que contribui para o entendimento das partes constituintes dessa
realidade social. Nesse sentido, autores como Mark Poster, Hebert Marcuse, Hannah Arendt,
Paulo Freire, Erving Goffman e Michel Foucault, possibilitam uma melhor compreensão do
complexo processo pelo qual as mediações político-institucionais permeiam a formação da
subjetividade, fenômeno que se dá em diferentes instâncias, como a família, a escola e as
instituições totais. A disciplina de Psicologia Social II possibilitou um olhar no movimento das
instâncias mediadoras que proporcionam a formação de subjetividade e a problematização do
conteúdo dessas mediações. O problema que concerne todos esses âmbitos relaciona-se com a
questão da autoridade. Após esse movimento, os grupos investigaram problemas específicos
que trouxessem a discussão sobre a qualidade das mediações e dos funcionamentos das
instituições analisadas. Entre os temas, nosso grupo procurou problematizar o papel do saber
psicológico como legitimador e produtor de mediações deformadoras, usando como exemplo a
análise da instituição total APAC.

Nossa constituição se dá na relação com a cultura, quando interiorizamos o elemento


objetivo desta. Somos constituídos por mediações. Dessa forma, é crucial refletir sobre a
qualidade das mediações as quais estamos sujeitos, uma vez que estas nos constituem. Elas
deveriam nos levar a um processo de individuação. Contudo, dependendo de suas qualidades,
podem levar a um processo de individualização, criando sujeitos alienados a uma base material
e que nega sua constituição histórica. Nesse sentido, ela passa a agir de acordo com cada camada
social, segregando as possibilidades da apropriação individual. É importante salientar que em
uma sociedade que subverte a lógica do vivo, aderindo-se à morte, em função de uma razão
aniquiladora imposta por ideologias capitalistas, a cultura que deveria ser o meio pelo qual cada
indivíduo possa se formar. Esses meios, entretanto, tornam-se fins. Os homens acabam servindo
a essa razão, entregando-se ao desenvolvimento tecnológico, em um movimento no qual a
cultura e segregada da possibilidade de apropriação de indivíduos. Desse modo, o
desenvolvimento cultural, que deveria ser um meio, sofre uma inversão e torna-se fim. A
cultura, portanto, fracassa na formação do indivíduo. O movimento da disciplina permitiu
identificar, em diversos autores de perspectivas críticas, pontos de problematização na
qualidade das mediações presentes em nossa sociedade. A disciplina passou pela instância
familiar, com Poster e Marcuse, pela educacional, com Arendt e Freire, e pelas instituições
totais, com Goffman e Foucault. Em todas foi possível notar o movimento de fracasso da cultura
enquanto formação do indivíduo.
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Mark Poster (1978/1979) afirma que a família não resigna apenas como mediadora entre
a sociedade e indivíduo, sendo responsável, também, pela formação da estrutura psíquica. É
nessa instituição que o indivíduo faz seu primeiro contanto de afeto e emoções. Nesse
ambiente, os sexos definem suas diferenças em relação ao poder, sendo esta uma questão que
se faz presente no modo com que as sociedades se estruturam. Isso nos permite perceber como
a realidade social permeia a instituição família. Poster (1978/1979) argumenta que essa questão
do embate entre diferentes idades e sexo é negligenciada por estudiosos sociais, mas, em sua
concepção, além da relação com o poder, esse embate estrutura uma hierarquia que determina
a sujeição das crianças à autoridade adulta. Para o autor, os adultos deveriam constituir um
padrão de autoridade e amor, no intuito de fornecer um contexto emocional que ultrapasse
estratégias de limitações e punições das condutas infantis. Deve-se ressaltar a relação
ambivalente para com a autoridade, tal como Freud coloca a ambivalência entre amor e o ódio
(Poster, 1978/1979).

Para Marcuse (1969/1972), as instituições são responsáveis por perpetuar a cultura e


promover a manutenção dos ideais sociais por meio da subjetivação, por parte do sujeito, do
elemento objetivo constituído na sociedade. A família tem o papel de mediar o contato do
indivíduo com o todo social, sendo esta, então, um grupo primário no desenvolvimento do
indivíduo (Marcuse, 1969/1972). O autor argumenta que a família está sujeita à regras e valores
ditados por imperativos sociais, o que explica como os papeis socais se determinam pelos
padrões vigentes, criando, dessa forma, uma certa dinâmica desses papeis no seio familiar de
acordo com cada época (Marcuse, 1969/1972). A família interioriza no individuo a noção de
autoridade imposta pela figura do pai. Essa autoridade atua de modo que o indivíduo se
identifique e aceite a autoridade imposta por chefes de estados ou outras figuras hierárquicas
do meio social (Marcuse, 1969/1972), um processo de movimento de identificação entre micro
grupo e macro grupo.

Hannah Arendt (1954/2014) faz importantes observações em seu texto “O que é


autoridade?” referentes ao problema da crise da autoridade. A autora argumenta que a
autoridade exige uma obediência, mas que as concepções modernas subvertem essa obediência
em poder e violência. Tal distorção deposita na autoridade dois termos que vão contra seu
princípio: o primeiro é a coerção, enquanto o segundo a persuasão. Para ela, recorrer a
elementos de força coercitiva ou imposições persuasivas significa o próprio fracasso da
autoridade (Arendt, 1954/2014). A autoridade possui um papel fundamental na formação, ela
se faz necessário, o que pode ser problematizado é a qualidade da mediação efetuada por essa
autoridade. A modernidade, que se pauta numa razão irrefletida, subvertendo a lógica daquilo
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que é mais humano por uma lógica pautada na técnica e em elementos não humanos, transforma
a autoridade em uma mera força coercitiva. Para Arendt (1954/2014), a escola tem a função de
preparar a criança para o mundo, apresentando-o à criança e fazendo com que ela passe a
respeita-lo, ao mesmo tempo que desperte o sentimento de muda-lo.

No âmbito da educação, Paulo Freire (1970/1987) fez importantes problematizações


acerca das mediações no processo de aprendizado. Na análise do autor, o conhecimento é usado
como poder ideológico para alienação. O educador coloca-se num grau superior ao educando,
no qual ele detém todo o conteúdo e nega qualquer possibilidade de conhecimento vinda do
educando. O indivíduo recebe a educação é visto como vazio de conteúdo, absolutamente
ignorante, cabendo a ele somente o papel de receptor de conhecimento. Essa relação
impossibilita o educando de constituir-se como sujeito interativo do processo educativo. Resta,
como alternativa, buscar a posição ocupada pelo próprio educador, num movimento onde o
oprimido anseia tornar-se opressor. Para que a educação pudesse proporcionar uma libertação
da opressão interna, então, como afirma Freire (1970/1987), seria necessário a presença de
mediações que buscassem um posicionamento crítico de sua realidade, tomando consciência de
sua determinação histórica enquanto indivíduo e da importância das mediações como
constituidoras do indivíduo.

Erving Goffman (1961/2015) realizou uma investigação etnográfica, mediante suas


observações, desenvolveu o conceito de mortificação do eu, um processo que consiste na
dissolução da imagem que o indivíduo possui de si mesmo, que é construída lentamente ao
longa da vida, fruto de interações e mediações com a realidade social a qual esse indivíduo se
encontra inserido. O nome próprio é subvertido. O institucionalizado recebe um apelido que
pode ser pejorativo, ou mesmo um número, minando qualquer possibilidade de subjetividade,
de uma identificação com si mesmo. Goffman (1961/2015) evidencia, também a constituição
estigmas entre os indivíduos. Os estigmas são compreendidos como atributos altamente
depreciativos que se formam na relação de um atributo associado a um estereótipo. O estigma
marca esse indivíduo, subjugando suas qualidades, evidenciando apenas o estigma, ou seja,
aquilo que é visto como uma deformidade. Nesse sentido, a instituição é responsável por um
esvaziamento da subjetividade, criando um sujeito constituído por formas sem conteúdo
humano (Goffman, 1961/2015).

No âmbito das instituições totais, Michel Foucault (1975/2014) faz uma análise sobre o
poder disciplinar e a constituição de um modelo carcerário de dominação. O autor afirma que
a prisão tem como objetivo o controle, a segmentação e a modelagem do indivíduo, sendo o
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fracasso da instituição inerente ao seu objetivo. A prisão desempenharia uma elaborada função
política, no qual ocorre a fabricação de uma delinquência que atenda às necessidades de uma
classe que ocupa o domínio político. Esse papel político da prisão fez com que os sistemas
carcerários ganhassem mecanismos mais complexos, acumulassem um saber advindo das
observações constantes e transmitissem a forma disciplinar de dominação a diversas outras
instituições. O saber adquirido no regime carcerário é usado como poder para legitimar a
ideologia dominante e readaptar os indivíduos a esse sistema. Foucault (1975/2014) descreve
como o intercâmbio entre áreas diversas do conhecimento e a instituição carcerária permitiu
uma economia e distribuição de poder na qual a violência disciplinar seria respaldada pelo
conhecimento produzido na vigilância panóptica.

Procuramos problematizar, então, como foco do problema trabalhado no segundo


seminário da disciplina, o papel que a psicologia desempenha no movimento descrito por
Foucault (1975/2014) no qual o saber das ciências humanas é utilizado como dispositivo de
poder que legitima e produz mecanismos de deformação do indivíduo, tendo como foco a
presença do psicólogo nas instituições totais. Nesse sentido, exploramos, em um primeiro
momento o percurso histórico da psicologia e sua afiliação aos interesses das elites brasileiras.
Depois, movimentamos a problematização para um contexto atual, propondo uma análise
crítica da instituição APAC, sua fundamentação terapêutica e seus métodos de controle e
exercício de poder.

No movimento de problematizar a atuação da psicologia como exercício de poder a


serviço da ideologia das classes dominantes, encontramos como suporte o texto de Ana Bock
"Psicologia e sua ideologia: 40 anos de compromisso com as elites" (2003). Bock (2003)
descreve como a psicologia no Brasil, desde suas origens, passando por sua regulamentação,
até os dias atuais, aliou-se aos interesses das elites brasileiras. Aqui, Lacerda (2013) também
contribui na afirmação de que a psicologia brasileira efetua um movimento de reproduzir o
saber produzido e predominante nos grandes centros capitalistas. Na análise de Bock (2003), a
psicologia teria naturalizado o fenômeno psicológico, ao mesmo tempo que concebe os sujeitos
como responsáveis e capazes de promover seu próprio desenvolvimentos. Dessa forma, a
psicologia concebe um "verdadeiro eu", mais real e natural do que aquele revelado em meio às
mediações sociais. Essa ideologia faz com que a psicologia ignore a realidade social e
desconsidere a importância da determinação histórica e das mediações sociais que constituem
o indivíduo. O sujeito seria capaz de constituir a si próprio, sob a luz de sua verdadeira essência,
cabendo ao psicólogo apenas readaptar o sujeito em frente aos possíveis desvios e atuando como
medida corretiva de patologias.
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O movimento de nosso problema procura identificar as problematizações trazidas por


Bock, Foucault, e outros conteúdos estudados na disciplina, dentro de um contexto atual,
investigando como a psicologia continua cumprindo o papel de legitimar o poder de dominação
e produzir mecanismos de manutenção da ideologia vigente nas instituições totais. Para isso,
realizamos uma análise crítica das fundamentações terapêuticas e dos métodos de
funcionamento da instituição APAC (Associação de Proteção e Assistência ao Condenado).
Como suporte de nossa análise, utilizamos como apoio o trabalho de Laura Jimena Ordónez
Vargas "É possível humanizar a vida através das grades? Uma Etnografia do Método de
Gestão Carcerária APAC" (2011), tese de doutorado aprovada pelo instituto de ciências sociais
da Universidade de Brasília.

Como uma iniciativa de Mário Ottoboni, a Associação de Proteção e Assistência ao


Condenado surgiu em 1972 dentro da Cadeia Pública de São José dos Campos. Em 1975 torna-
se uma entidade civil de direito privado oficializada pelo judiciário. Sua proposta é de criar um
sistema humanizado de recuperação para os prisioneiros do sistema penitenciário comum do
país. A APAC coloca-se como uma alternativa aos modelos clássicos de prisão. A investigação
de Vargas (2011), entretanto, revela como os mecanismos de ação da APAC, assim como sua
fundamentação, encaixam-se nas problematizações trazidas por Foucault a respeito do poder
disciplinar, do processo de tornar os corpos dóceis e da vigilância do panoptismo. Nesse
sentido, a APAC não se apresenta como alternativa às prisões, mas sim como uma elaboração
específica da objetivação da violência institucionalizada.

Em seus métodos terapêuticos, elaborados por Ottoboni, a APAC se utiliza de teorias


psicológicas tais como a psicanálise freudiana e a logoterapia de Victor Frankl. Vargas (2011)
afirma que o método apaqueano realiza um híbrido entre as teorias que são vistas e interpretadas
sob uma ótica cristã. Nesse movimento de instrumentalização do saber, os autores perdem sua
radicalidade e os aspectos críticos de suas teorias. As teorias psicanalíticas de Freud são
utilizadas na produção de um sistema conceitual próprio da APAC, misturando o conceito de
livre-arbítrio cristão com a ideia de inconsciente. O discurso terapêutico apaqueano propõe uma
divisão do cérebro em 4 áreas: consciência/alma, inconsciente, força da mente e livre arbítrio.
O foco da "recuperação" terapêutica seria, portanto, fornecer a assistência necessária para que,
através do livre arbítrio, o indivíduo consiga obter a força de vontade necessária para mudar
seu comportamento (Vargas, 2011). Segundo os idealizadores do método, enquanto os
prisioneiros continuarem a culpar terceiros, a colocarem a responsabilidade da prática de seus
crimes no social, será impossível qualquer mudança de comportamento e pensamento. O
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indivíduo deve assumir sua responsabilidade, e, enquanto sua vontade interior não se manifestar
de maneira forte o suficiente, a instituição nada poderá fazer na recuperação do prisioneiro.

Podemos observar, aqui, como a ideologia hegemônica explorada por Bock (2003)
continua na fundamentação terapêutica da APAC. O indivíduo é concebido como responsável
do próprio desenvolvimento, enquanto as determinações históricas, as mediações
constituidoras, são colocadas de lado, até mesmo como obstáculos do destino do indivíduo. O
movimento realizado permite revelar como a ideologia da lógica capitalista estabelece um
indivíduo alienado de sua constituição social, o que possibilita a exclusão da importância das
instituições como mediadoras. O papel do psicólogo, também, como aponta Bock (2003), perde
seu caráter de atuação como mediador e de problematização das mediações deformadoras,
passando a atuar como forma de poder que legitima e produz essas deformações. O prisioneiro
da APAC é tratado como o barão de Munchhausen descrito por Bock (2003), uma vez que a
instituição é impossibilitada de ação até que ele consiga adquirir a vontade necessária para se
erguer puxando o próprio cabelo. Vargas (2011) revela, também, o rigoroso regime disciplinar
com a qual a APAC trabalha. Os recuperandos possuem uma rotina de horários, normas,
atividades e compromissos extremamente rígida, sendo discrepante das rotinas nos sistemas
carcerários comuns. Dentre as obrigações, grande parte delas se referem a atividades religiosas,
como orações e jornadas de libertação com Cristo (Vargas, 2011). A rigidez disciplinar e o
controle do tempo do prisioneiro são apontados por Foucault como mecanismos disciplinares
aperfeiçoados com a produção de saber advinda da observação nas instituições panópticas e
exportados para todo o arquipélago carcerário (Foucault, 1975/2014). Vargas também ressalta
o funcionamento do mérito e do sistema progressivo da pena na escala de recuperação da
APAC. Tal sistema progressivo introduz os recuperandos em uma lógica de castigos e méritos,
premiando os indivíduos que se encontram mais adaptados à subjetividade desviante constituída
pela instituição (Vargas, 2011). Foucault denúncia os mesmos mecanismos de controle na
formação do sistema carcerário disciplinar, no qual, quanto mais o prisioneiro der indícios de
que internalizou a submissão a autoridade, de que está se adaptando à lógica desejada e que seu
corpo está se tornando dócil, mais ele será recompensado no sistema de progressão da pena
(Foucault, 1975/2014).

Dando continuidade na investigação, Vargas (2011) explora o sistema de vigilância


utilizado na APAC. A instituição instaura o método onde os próprios recuperandos são
responsáveis pela vigilância uns dos outros. O chamado CSS, Conselho de sinceridade e
solidariedade, constitui-se pelos internos que trabalham junto aos plantonistas no intuito de
cumprir as regras e normas do controle institucional (Vargas, 2011). Os recuperandos
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pertencentes ao CSS são encarregados de aplicar as advertências correspondentes às infrações


na instituição, como também possuem a função de trancar as celas a noite e abri-las de manhã.
Ao mesmo tempo, a vigilância constante é performada pelos recuperandos de maneira geral,
sendo membros do CSS ou não. Na análise de Vargas (2011), tal sistema de vigilância revela
em maior intensidade o caráter panóptico da instituição do que qualquer outro mecanismo de
controle. Outro ponto ressaltado por Vargas (2011), é que o sistema de vigilância realizado
pelos próprios recuperandos representa uma economia de poder. As relações binárias das
instituições totais, que estruturam as prisões entre o grupo de internos e a equipe dirigente,
continuam tendo sua violência objetivada em meio à vigilância e disciplina da instituição,
porém as possibilidades de resistência tornam-se mais difusas, uma vez que o poder
aparentemente está distribuído entre a população dos recuperandos. Vargas afirma que "o novo
recuperando ingressa dentro de um contexto de relações menos binárias, antagônicas e
impessoais entre todos os seus membros, porém, não menos coercitivas e eficazes" (Vargas,
2011, p. 162).

Vargas (2011) irá descrever, ainda, o processo de reestigmatização religiosa realizado


na instituição. A inserção do indivíduo na APAC reflete em um processo de no qual, ao mesmo
tempo que se procura retirar o estigma da prisão do recuperando, voltando a tratá-lo pelo nome,
institui um estigma religioso, realizado pela imposição de práticas religiosas e da adoção de um
vocabulário cristão (Vargas, 2011). O não cumprimento dessas normas resulta em infração e,
consequentemente, punição. Os instrumentos disciplinares da instituição atuam, portanto, além
da internalização da submissão, como mecanismos de produção de uma subjetividade
específica que atenda às necessidades da instituição. A concepção do indivíduo que se auto
constitui, desconsiderando as mediações das instituições e o papel da determinação histórica na
constituição desse sujeito, a mesma concepção explorada e criticada por Adorno no texto
indivíduo e por Bock (2003), continua vigente na fundamentação do método APAC. Essa
concepção faz com que a importância das mediações dentro da APAC seja desconsiderada, e
possibilita a existência de mediações portadoras de formas desprovidas de conteúdo humano.
O saber psicológico é usado para legitimar o método terapêutico da instituição, além de produzir
mecanismos que contribuam na dominação, deformação, e adaptação desses indivíduos à uma
subjetividade específica. (Vargas, 2011). Um dos lemas da APAC, "Matar o bandido e salvar o
homem", revela como a instituição está preocupada em produzir sujeitos dóceis, adaptados à
ideologia vigente na instituição, e retirar do indivíduo sua resistência à violência que marca o
processo de socialização. As mediações e instituições em si não são o problema, mas sim a
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inversão que ocorre nesse processo, no qual somos deformados pelo único meio que dispomos
para nos constituir.

Em nossa perspectiva, a disciplina cumpriu objetiva a qual se propôs, seguindo um


movimento dos processos históricos de constituições de subjetividades, assim como
terapêuticas constituídas para lidar com subjetividades desviantes em relação ao ideal do
homem preconizada em seus contextos históricos. O movimento da disciplina permitiu refletir
sobre como as subjetividades são constituídas dentro de mediações politicas institucionais, sob
diferentes perspectivas de autores distintos. O âmbito família foi constelado por pensadores
como Mark Poster e Hebert Marcuse; as escolas sob a perspectivas de autores como Hannah
Arendt e Paulo Freire; e as instituições totais sobre tudo as prisões pelo olhar de Erving
Goffman e Michel Foucault. Isso permitiu a constatação de que há um problema na qualidade
das mediações que se estende em todas em todas instituições do enfoque da disciplina. Cabe a
nós, frente a tais observações, refletir e elaborar estratégias para minimização do sofrimento
psíquico na perspectiva da cidadania e da emancipação.

Referências Bibliográficas

Arendt, H. (1961/2014). Entre o passado e o futuro (7a ed.). São Paulo: Perspectiva.

Bock, A. M. B. (2003). Psicologia e sua ideologia: 40 anos de compromisso com as elites. Em


A. M. B. Bock (Org.), Psicologia e compromisso social. São Paulo: Cortez.

Foucault, M. (1975/2014). Vigiar e punir: o nascimento da prisão (42a ed.). Rio de Janeiro:
Vozes.

Freire, P. (1970/1987). Pedagogia do oprimido (17a ed.). Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Goffman, E. (1961/2015). Manicômios, prisões e conventos (9a ed.). São Paulo: Perspectiva.

Goffman, E. (1963/2017) Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada (4a


ed.). Rio de Janeiro: LTC.

Horkheimer, M., & Adorno, T. W. (1956/1973). Temas básicos da sociologia. São Paulo: USP

Lacerda, F. Jr. (2013). Capitalismo dependente e a psicologia no Brasil: das alternativas à


psicologia crítica. Em Teoría y crítica de la psicología.

Marcuse, H. (1969/1981). Ideias sobre uma teoria crítica da sociedade (2a ed.). Rio de Janeiro:
Zahar.

Poster, M. (1978/1979). Teoria crítica da família. Rio de Janeiro: Zahar

Vargas, L. J. O. (2011). É possível humanizar a vida atrás das grades? Uma etnografia do
método de gestão carcerária APAC. 2011. 252 f., il. Tese (Doutorado em Antropologia
Social)-Universidade de Brasília, Brasília.
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Anexo

Referências utilizadas na elaboração do segundo exercício avaliativo

Bock, A. M. B. (2003). Psicologia e sua ideologia: 40 anos de compromisso com as elites. Em


A. M. B. Bock (Org.), Psicologia e compromisso social. São Paulo: Cortez.

Foucault, M. (1975/2014). Vigiar e punir: o nascimento da prisão (42a ed.). Rio de Janeiro:
Vozes.

Lacerda, F. Jr. (2013). Capitalismo dependente e a psicologia no Brasil: das alternativas à


psicologia crítica. Em Teoría y crítica de la psicología.

Vargas, L. J. O. (2011). É possível humanizar a vida atrás das grades? Uma etnografia do
método de gestão carcerária APAC. 2011. 252 f., il. Tese (Doutorado em Antropologia
Social)-Universidade de Brasília, Brasília.

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