Sie sind auf Seite 1von 8

Encarte Clacso

Cadernos da
América Latina VI

Os Cadernos de Pensamento Crítico Latino-americano constituem uma iniciativa do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO). Destinados à divul-
gação de alguns dos principais autores do pensamento social crítico da América Latina e Caribe, os primeiros números incluíram textos de Ruy Mauro Marini (Brasil),
Agustín Cueva (Peru) e Álvaro García Linera (Bolívia). Proximamente se difundirão artigos de Pablo González Casanova (México), José Carlos Mariátegui (Peru),
Florestan Fernandes (Brasil), René Zavaleta Mercado (Bolívia), Rodolfo Stavenhagen (México), Milton Santos (Brasil), Silvio Frondizi (Argentina), Gerard Pierre-
Charles (Haiti), Aníbal Quijano (Peru), Juan Carlos Portantiero (Argentina) e Edelberto Torres Rivas (Guatemala), entre outros. Os Cadernos de Pensamento Crítico
Latino-americano são publicados no jornal La Jornada do México e nos Le Monde Diplomatique da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Peru e Uruguai.

CLACSO é uma rede de 228 instituições que realizam atividades de pesquisa, docência e formação no campo das ciências sociais em 25 países: www.clacso.org

Coordenação editorial: Emir Sader

Reflexões sobre as
“Revoluções Interrompidas”
(uma rotação de perspectivas)1
Florestan Fernandes 2

O
assunto das revoluções que são “paralisa- Prado Júnior e Sérgio Bagu. O meu objetivo é mais sagregação do antigo regime colonial com a desco-
das” ou “frustradas” voltou à ordem do dia. limitado. Ele consiste em indagar aonde poderia le- lonização como processo histórico social. Com isso,
Historiadores e sociólogos retomam os fi- var a transformação capitalista em países que não procede-se a uma mistificação, que se desenrola em
lões de uma reflexão que deita suas raízes no romperam por completo com formas coloniais de grau maior ou menor em todos os países, mas é prin-
século passado, embora as explicações sejam ou- exploração do trabalho e nos quais as classes domi- cipalmente acentuada nos vários países que ainda
tras e, por vezes, combinem a inquietação política, nantes se tornaram burguesas através e atrás do de- se acham no período de transição neocolonial. A
a insatisfação social e o refinamento teórico – como senvolvimento do capitalismo. Na luta interna para desmistificação tem sido feita, em termos científi-
sucede com as contribuições de Orlando Fals a submissão das classes subalternas – que não eram cos, através da teoria do colonialismo interno; no
Borda 3, que vem, de várias formas, focalizando o propriamente classes, mas estamentos e castas – plano da luta de classes e da oposição política arti-
tema ao longo sua carreira, em termos da evolução elas lutavam por converter formas coloniais de pro- culada, ela aparece sob as bandeiras do combate ao
histórica da Colômbia ou da situação global da priedade em formas capitalistas de propriedade e de “feudalismo”, às estruturas arcaicas da produção e,
América Latina. apropriação social. O seu êxito engendrou uma principalmente, do antiimperialismo. Alguma coi-
transformação capitalista peculiar, que não pode sa é melhor que nada! No entanto, a teoria do colo-
Não pretendo, nesta breve incursão, realizar um ba- ser esclarecida em função da desagregação do mun- nialismo interno concede uma vantagem estratégi-
lanço bibliográfico e, tampouco, marcar o que se lo- do feudal na Europa. A história não se “repetiu” por- ca às classes dominantes: ela negligencia demais a
grou descobrir em vários países da América Latina, que não havia razão para que ela se repetisse. Trata- necessidade de uma investigação rigorosa das for-
através da “investigação científica engajada”. É sur- va-se de uma outra história, a história do capitalismo mas de estratificação engrenada ao capitalismo neo-
preendente o quanto se avançou, do fim da década nos países de origem colonial. colonial e ao capitalismo dependente; e põe em se-
de 1940 em diante, em uma obra consistente de revi- gundo plano a luta de classes propriamente dita,
são da explicação na história, que não se “unificou” concentrando o impacto sobre os efeitos construti-
à luz de uma teoria mas levou a resultados franca- O Problema da Descolonização vos da mudança social espontânea, do desenvolvi-
mente convergentes e reforçou de modo considerá- mento e, em particular, da secularização e da racio-
vel uma linha de trabalho intelectual que teve seus A orientação predominante, nas classes privilegia- nalização inerentes à expansão do urbanismo e do
grandes pioneiros em José Carlos Mariátegui, Caio das na América Latina, consiste em confundir a de- industrialismo. Portanto, naquilo em que ela é uma
teoria crítica, ela se polariza como uma manifesta- existente pelos problemas e dilemas sociais as através do capitalismo neocolonial e do capitalismo
ção intelectual do radicalismo burguês e do nacio- burguesias não tentaram enfrentar e resolver, por dependente não foi um simples produto das corren-
nalismo reformista. O combate político aos resíduos não ser do seu interesse de classe nas formas de de- tes da história moderna. Os países europeus (e, mais
feudais ou ao feudalismo persistente e ao imperia- senvolvimento capitalista inerentes ao semicolo- tarde, os EUA) não impuseram nada que fosse inevi-
lismo tem um caráter de ruptura mais pronunciado. nialismo e à dependência. tável. As forças mobilizadas para lutar contra as
De fato, ele se vincula a uma tentativa de vanguar- duas metrópoles foram desmobilizadas, pelos seto-
das da esquerda de tomar pé na dinamização das O ponto crucial da questão, no que respeita a países res civis e militares; o que passou a preocupar aque-
transformações dentro da ordem vinculadas à revo- nos quais a vanguarda interna da luta contra o colo- las elites de maneira substancial, foi como impedir
lução burguesa (essas transformações foram des- nialismo era recrutada nos estratos mais privilegia- que a herança colonial se desagregasse, fugisse por
critas na Europa como “revoluções” e são elas que dos dos estamentos dominantes, vem a ser que estes entre seus dedos. Não se poderá dizer que tal opção
marcam o avanço da revolução burguesa: a revolu- estamentos e suas elites não possuíam interesse al- teria valor e vigência para sempre. No entanto, hoje
ção agrária, a revolução urbana, a revolução indus- gum em revolucionar as estruturas sociais e econô- é claro, sob o capitalismo monopolista e imperialis-
trial, a revolução nacional e a revolução democráti- micas vigentes – e, quanto às estruturas legais e po- ta, que o desenvolvimento capitalista não oferecerá,
ca). Em termos táticos, a tentativa pára no patamar líticas, só queriam modificá-las revolucionariamente por si mesmo, novas alternativas às nações latino-
dos conflitos no seio das classes dominantes: jogar de forma localizada: a independência perante a me- americanas que se encontram em situação neocolo-
frações da burguesia, estruturadas na produção la- trópole, de um lado, e a plenitude política de sua he- nial ou em situação de dependência. Elas poderão
tifundiária e no setor de exportação ou inseridas na gemonia no pano social interno, de outro. passar pelos estágios das economias centrais – e isso
dominação externa, contra as frações estruturadas está ocorrendo nas principais economias e socieda-
na expansão do mercado interno e da indústria. Em des da região – mas esses estágios não poderão re-
conseqüência, ela não contribuiu para adequar a Os Limites da “Transformação Capitalista” produzir os mesmos efeitos, porque o contexto his-
teoria das classes sociais e da luta de classes às con- tórico, a estrutura da economia, da sociedade e do
dições concretas dos países em situação neocolo- Durante muito tempo prevaleceu a idéia de que o Estado, são diversos sob a forma neocolonial ou de-
nial, ou de capitalismo dependente; e contribuiu desenvolvimento capitalista podia produzir resul- pendente de desenvolvimento capitalista. O Méxi-
muito mal para colocar as reivindicações dos traba- tados similares em qualquer parte, dependendo do co, a Argentina, o Brasil, o Uruguai e o Chile, sem
lhadores do campo e da cidade numa linguagem es- “estágio” em que ele estivesse e de sua “potenciali- falar dos países que não romperam as barreiras ne-
pecificamente socialista e revolucionária. Também dade de amadurecimento” ou de atingir uma forma ocoloniais até hoje, por exemplo, indicam clara-
desaguou, portanto, na órbita do reformismo bur- pura. Essa ilusão poderia ser mantida inquestiona- mente tudo isto. Quando a pressão de baixo para
guês, embora não se possa subestimar sua impor- velmente em alguns países da Europa e foi ampla- cima se intensificou de modo revolucionário pre-
tância quanto à mobilização política de setores da mente compartilhada nos EUA; a sua difusão foi maturamente, ela foi pulverizada, esmagada e ser-
população pobre e trabalhadora sistematicamente parte do processo de colonização, de transferência viu de pretexto para modalidades políticas de auto-
excluídos da cultura cívica e da sociedade civil, bem da ideologia dominante nas nações capitalistas he- defesa da burguesia que lembram a autocracia e o
como para a impregnação nacionalista e radical- gemônicas – e fortaleceu-se com o crescimento con- despotismo. De outro lado, na medida em que o es-
democrática de alguns setores das classes médias trolado de fora da modernização. tágio da formação do proletariado alcançou maior
ou mesmo das classes altas. maturação e este procurou organizar-se para de-
O dilema econômico da América Latina consiste em senvolver-se como classe independente, o processo
O grave é que o problema da descolonização não foi e que essa ótica burguesa não põe em questão históri- foi contido, interrompido ou interceptado pela vio-
continua a não ser colocado como e enquanto tal. ca a forma do desenvolvimento capitalista. Ela se lência organizada. Em conseqüência, as forças so-
Ele é diluído e pulverizado, como se não existisse e, volta para o modelo vigente em dado momento do ciais que poderiam funcionar como contrapeso e
substantivamente, o que importasse fossem apenas desenvolvimento capitalista (ou para um modelo colocar na cena histórica o problema da forma do
as debilidades congênitas do capitalismo neocolo- idealizado, pelo qual certas burguesias lograram o desenvolvimento capitalista, nem isto puderam fa-
nial e do capitalismo dependente. Sombart demons- seu arranque industrial e a constituição de uma so- zer. As tenazes da história se fecham pelas mãos dos
trou que o capitalismo pode transformar-se, esgo- ciedade de classes capaz de conter e regular o anta- homens: os homens que estão no poder, dentro das
tando épocas bem marcadas, mantendo não gonismo central entre o capital e o trabalho). Ora, a empresas, das instituições sociais e do Estado, e que
obstante espaço histórico e econômico para a so- forma do desenvolvimento permite pôr em questão não vêem outra coisa senão a parte que podem reti-
brevivência e a revitalização de formas superadas o que já List descobrira: o país ou os países mais for- rar do butim, em associação com parceiros de várias
de produção e de troca. Poder-se-ia pensar, a partir tes teriam um controle do mercado mundial e van- categorias sociais de dentro e de fora.
dos países centrais, que esses seriam “nichos” de tagens crescentes na acumulação capitalista. Os
formas arcaicas ou obsoletas de capitalismo, fun- países que não pretendem submeter-se a controles Por essa razão escolhi o conceito de “transformação
cionais para os arranjos modernos e mais avança- externos coloniais e semicoloniais ou que quises- capitalista”, com que trabalha Lukács, e pus ênfase
dos do desenvolvimento capitalista. Esse raciocínio sem fugir a uma dependência econômica ruinosa nos limites que ela sofre inevitavelmente. Não quero
não se aplica do mesmo modo à periferia, principal- teriam de lutar por sua autonomia de desenvolvi- dizer com isto, que a revolução burguesa foi para as
mente aos países que se acham em situações neoco- mento capitalista. Por sua vez, os modelos de desen- cucuias, como pensam inclusive alguns cientistas
loniais específicas ou aos que, estando em situações volvimento podiam ser compartilhados com as eco- sociais de méritos reconhecidos, liberais ou esquer-
de capitalismo dependente, não recebem das eco- nomias periféricas. Na verdade, para que a distas. O ponto mais grave, que se configurou nas
nomias centrais fortes dinamismos de crescimen- colonização se realizasse ou para que a situação ne- nações latino-americanas de maior envergadura
to econômico ou não podem compatibilizar tais ocolonial e a situação de dependência produzissem econômica, demográfica e política, é que a revolu-
dinamismos com o crescimento do mercado in- frutos tornava-se imperioso compartilhar o mode- ção burguesa acabou se definindo e se desatando
terno. Aí a descolonização constitui uma categoria lo, pelo menos na medida e nos limites em que as pela coordenação com o pólo externo e através de ini-
histórica mascarada pela dominação burguesa economias coloniais, neocoloniais e dependentes ciativas modernizadoras de monta, desencadeadas
(tanto a nacional, quanto a imperialista: ambas teriam de engrenar-se com as estruturas e os dina- pelo pólo externo. O Estado autocrático burguês (ou,
possuem interesses convergentes em criar ilusões mismos econômicos do centro ou centros domi- como outros preferem, o Estado neocolonial ou,
ou mitos sociais). Em vez de um ataque abstrato ao nantes. Isso não significava que, em determinado ainda, Estado de segurança nacional) acabou sendo
colonialismo interno, aos elementos feudais ou momento, alcançariam o desenvolvimento desses o elo mediador pelo qual uma revolução que deixou
globais e ao imperialismo, convinha dar ênfase à centros, o igualariam e superariam. Porque nas si- de ser feita por decisão histórica está caminhando
descolonização que não realiza (nem pode reali- tuações coloniais, neocoloniais e de dependência pela modernização dirigida e autocrática e por
zar-se) sob o capitalismo neocolonial e sob o capi- isto era impossível (e até hoje, segundo Baran, só transformação de estruturas previamente drenadas
talismo dependente. Esse é o busílis da questão. ocorreu nos EUA e no Japão; e por motivos que não ou esterilizadas. Na verdade, na medida em que a
Levar a descolonização às últimas conseqüências são intrínsecos a estas situações e têm que ver com a forma do desenvolvimento capitalista não foi toca-
é uma bandeira de luta análoga à revolução nacio- ruptura política contra elas e a sua desintegração da pelo interesses maiores, o novo modelo de desen-
nal e à revolução democrática – e essa reivindica- deliberada, como parte do “cálculo econômico ra- volvimento capitalista tinha que conduzir nessa di-
ção teria de ser feita em termos socialistas, ainda cional” e da “razão política nacional independen- reção. Ele é internacionalizador por contingência
que com vistas à “aceleração da revolução burgue- te”). O que aconteceu na América Latina, em escala histórica (a luta de vida e de morte com as nações
sa”. Parece patente que a descolonização não pode universal, foi que os estamentos dominantes e privi- socialistas) e por seu dinamismo interno (o capitalis-
ser contida nesses limites e que, na ação prática, legiados preferiram optar pela linha mais fácil de mo da era do imperialismo, que tende a unificar a
em vez de acelerar a revolução burguesa ela fo- seus interesses e vantagens, dando prioridade total autodefesa e a segurança da empresa mundial na
menta a “desestabilização” e a evolução de situa- às soluções econômicas montadas no período colo- esfera da produção, do mercado e das finanças).
ções revolucionárias até pontos críticos. Contudo, nial, com todas as suas aberrações. Portanto, a burguesia externa retirou a burguesia
na periferia o socialismo possui essa função de ca- neocolonial e dependente ou de sua apatia ou de su-
librar os dinamismos revolucionários da ordem Isto quer dizer que o dilema econômico expresso as ilusões de processo espontâneo, e a revolução
encarte CLACSO – Cadernos da América Latina VI

burguesa se aprofunda literalmente como uma ca- se argumento no contexto histórico. Através dos es- drão de civilização. Os portugueses, os espanhóis,
tástrofe histórica. A periferia verdadeira do capita- tratos das classes médias e altas, que encontraram os seus sucessores no condomínio do Estado capita-
lismo monopolista avançando está sendo montada resposta no movimento revolucionário, a burguesia lista “oligárquico” ou “autocrático” e os seus pode-
agora, em nossos dias. Ela será profundamente mo- teve a oportunidade, mas não a aproveitou. Por quê? rosos aliados imperiais não poderiam realizar essa
dernizadora, provocará transformações nunca so- Obviamente, porque não é uma classe revolucioná- missão. Modernizando, transferindo ou inovando,
nhadas da economia industrial e da sociedade de ria nas condições históricas da América Latina, por- eles estavam reproduzindo o passado no presente,
classes. Mas, para manter o desenvolvimento desi- que defende seus interesses de classe em termos de criando um futuro que não continha uma autêntica
gual e combinado em termos das vantagens estraté- sua vinculação com o capitalismo neocolonial e história própria, um genuíno processo civilizatório
gicas das classes burguesas, do centro e da periferia, com o capitalismo dependente, sendo sequer capaz original. Estes só poderiam brotar tardiamente, em
terá de despojar a revolução burguesa dos atributos de situar-se em uma posição de classe que permitis- função do aparecimento de classes dominantes re-
que definiram a sua grandeza histórica na evolução se conciliar aqueles interesses com a autonomia da volucionárias saídas da massa de toda a população e
da civilização moderna. Nação, a existência de uma democracia burguesa representantes de toda a população.
real e a extirpação de formas subcapitalistas de ex-
ploração humana.
As lições de Cuba Quem “Aproveita as Contradições” da Luta de
O terceiro aspecto coloca, de fato, o problema da re- Classes?
Nestas reflexões, Cuba nos coloca diante de três as- volução no contexto histórico atual da América Lati-
suntos fundamentais: nela, as orientações dos esta- na. É um erro pensar-se que a burguesia possa mo- A linguagem de O manifesto comunista é clara: nele
mentos dominantes, nas lutas pela independência, vimentar-se com certa liberdade através de uma não se diz que a “luta de classes” substitui os seus
seguiram as linhas comuns na América Latina; ne- possível “reforma do capitalismo”. A principal lição agentes e, tampouco, que as “contradições antagô-
la, se evidenciam melhor (ou de uma forma em que de Cuba é essa. Ela mostra, ao resto da América Lati- nicas” destruam, por si mesmas, o sistema capitalis-
não foi possível evidenciar-se no resto da América na, qual é o caminho que pode e deve ser seguido no ta de poder. Diante de uma classe operária que mal
Latina) as tendências centrífugas da burguesia, sua presente, presumivelmente em condições diversas e se estava convertendo em classe em si e principiando
incapacidade total de deslocar a “defesa do capita- muito mais difíceis. A “revolução burguesa em atra- a utilizar a luta de classes para lograr um desenvol-
lismo” em favor da descolonização completa, da re- so” possui três pólos distintos – um forte pólo eco- vimento independente diante da burguesia, o que
volução democrática e da revolução nacional, por nômico, financeiro e tecnológico internacional; um ganhava importância era a forma e o sentido dessa
fim, o caminho percorrido por Cuba demonstra que pólo burguês nacional disposto a correr o risco do luta, onde ela levava, o que ela reservava ao capita-
não é a pobreza, o subdesenvolvimento e a “apatia “aprofundamento da dependência” e suficiente- lismo e à evolução da humanidade. Os proletários
do povo” que convertem a miséria, a marginaliza- mente audacioso para explorar essa “última via” da tinham de organizar-se como classe em si, mas o de-
ção sistemática e a exclusão política das massas em transformação capitalista nas condições tão desu- senvolvimento independente desta, em escala na-
precondições do “desenvolvimento econômico”, manas da região; uma forma absolutista de Estado cional, dependia tanto do desenvolvimento das for-
mas a exploração capitalista dual, pela qual as clas- burguês, bastante flexível para falar várias lingua- ças produtivas, isto é, do capitalismo, quanto da
ses dominantes internas e as nações mais podero- gens políticas e bastante forte para oscilar rapida- vitalidade econômica, social e política da burguesia.
sas da terra se associam em uma brutal pilhagem mente, ao sabor das circunstâncias, da ditadura mi- Além disto, a condição proletária, produzida e re-
sem fim. Os que quiserem conhecer outros aspectos litar com respaldo civil para a “democracia ritual” produzida pela apropriação capitalista da riqueza
da evolução revolucionária de cuba e de seu desen- com respaldo militar. Esses três pólos têm de rela- gerada pelo trabalho, constituía um substrato, a ba-
volvimento socialista terão de recorrer a um livri- cionar-se de modo muito mais complexo que aquele se material da relação antagônica dos proletários
nho anterior, no qual procurei traçar as etapas de que se divorciou em Cuba sob a República títere. À com os donos do capital e com a sociedade capitalis-
aprofundamento histórico da Revolução Cubana.4 medida que a industrialização maciça, a moderni- ta como um todo. O fermento político revolucioná-
zação acelerada e o desenvolvimento concentrador rio procedia da consciência social que os proletários
O primeiro aspecto possui um interesse menor, mas se libertem dos controles rígidos dos períodos de adquirissem, coletivamente, de que tinham de de-
dado o fato de que em Cuba a página da história se implantação e de maturação, os seus efeitos, o seu senvolver-se como classe independente; enfrentar,
virou de modo completo, ele tem um significado di- significado global e todo o conjunto de políticas a reduzir e abater a supremacia burguesa; e conquis-
dático “conclusivo”. A posição dos estamentos domi- que eles respondem terão que ser postos em ques- tar o poder da burguesia. Essa vinha a ser a ótica co-
nantes nas revoluções de 1868 e 1895 e sua incapaci- tão. O “diálogo surdo” do diktat de ser substituído, às munista do socialismo. Ora, é obvio que não se pode
dade de corresponder à necessidade revolucionária vezes mais depressa do que as classes burguesas transferir para a periferia do mundo capitalista, sem
global ficam patentes de forma ostensiva. Na impos- gostariam que acima das possibilidades de “dissua- mais esta nem aquela, semelhante visão articulada
sibilidade de conter a revolução no plano político, nas são pacífica” do Estado, pelo diálogo verdadeiro. Por da luta de classes. Ela era o produto de uma longa
duas ocasiões aqueles estamentos se deslocaram pa- maior que seja a massificação da cultura política di- evolução social. E as primeiras manifestações da
ra posições contemporizadoras e, por fim, antinacio- rigida, as classes trabalhadoras tomarão conta dos condição revolucionária do proletariado como clas-
nais e reacionárias. canais do diálogo verdadeiro e o “capitalismo refor- se social ou foram absorvidas pela ordem social
mado” provará a sua insistência básica. A perspecti- competitiva, alargando-se assim concomitante-
O segundo aspecto é mais importante. Poder-se-ia va será de uma existência dolorosa, com a República mente o elemento político intrínseco à luta de clas-
perguntar: dadas as novas condições do desenvolvi- títere sujeita, de maneira permanente, a vários enri- ses, ou foram esmagadas impiedosamente pelas
mento capitalista e a transformação dos estamentos jecimentos sucessivos, numa escala ampliada do classes dominantes, demonstrando-se desse modo
senhoriais em classes burguesas, a história não te- que ocorreu em Cuba da ascensão de Machado à para onde caminharia o “terrorismo burguês”. A
ria, finalmente, mudado de eixo? Não seria, mais queda de Batista. Ao recorrer a mudanças de caráter questão não seria, como se poderia supor de uma
tarde, do interesse particular das classes burguesas revolucionário, sem ser uma classe revolucionária, a perspectiva não-marxista, que o mundo capitalista
corresponder ao interesse global das outras classes, burguesia aceita esse perigo extremo, mal avaliado da periferia teria de “ficar igual”, antes de mais nada,
de levar a revolução nacional ao fim e até ao fundo por falta de perspectiva política. O imediatismo é ao mundo capitalista “conquistador” e imperial. Is-
(e, com ela, soltar as outras revoluções concomitan- quase sempre cego. Ele leva ao cálculo de que “quem so seria, para sempre, impossível, pois a história ca-
tes)? Só em Cuba essa possibilidade histórica se de- pode mais chora menos”. Mas quem “pode mais” minha de modo incessante e o capitalismo teria de
lineou concretamente e só por essa experiência se por alguns anos ou mesmo por muito tempo acaba refazer-se continuamente, nos seus pólos centrais e
pode refletir também de forma concreta. Enquanto por “poder menos”. Quem não acreditar neste racio- mais dinâmicos. Portanto, como levar, para proletá-
foi, possível, as classes burguesas aproveitaram as cínio que retome o desastre sofrido pela burguesia rios dotados de baixa capacidade de organização de
oportunidades históricas, culturais e políticas do cubana e pelos EUA de 1959 a 1962, no rápido evol- classe e de fraco potencial de luta de classes em es-
capitalismo neocolonial, ficando com a parte mais ver da Revolução Cubana. cala nacional, uma forte consciência revolucionária
suja na produção do butim e do manejo da “Repúbli- e uma disposição imbatível de conduzir à prática as
ca mediada”. Sob Batista, as coisas foram longe de- Os requisitos da acumulação capitalista (e, portan- tarefas do proletariado? Apesar das desvantagens
mais e vários setores da burguesia se deslocaram de to, da aceleração do desenvolvimento econômico e históricas relativas, o proletariado poderia trans-
posição. A oportunidade alternativa de uma articu- da exploração dual) são também os requisitos da cender à burguesia, ser ele próprio um fator de ace-
lação mais profunda com as forças revolucionárias substituição das classes dominantes por classes ver- leração e aprofundamento da revolução burguesa,
da Nação surgiu concretamente. Parecia que, sob o dadeiramente revolucionárias ou, em outras pala- em países onde as classes dominantes sentem pou-
governo revolucionário, saído da vitória dos guerri- vras, pelo advento de uma Revolução que não se ex- co entusiasmo pelas garantias sociais e políticas
lheiros, iria se consumar esse tipo de avanço. No en- tinguirá ao nível político. A revolução Cubana revela inerentes à forma mais avançada e pura de domina-
tanto, ele não se deu! Muitos refletem sobre o assun- a natureza íntima da revolução em avanço, que tem ção burguesa, e lutar, simultaneamente, por uma
to sob uma perspectiva unilateral: os próprios de desagregar e destruir toda ordem preexistente nova transformação da ordem existente, pela revo-
guerrilheiros e a rapidez da radicalização popular até ao fundo e até ao fim, para lançar as bases da lução proletária? A resposta a essas perguntas per-
impediram essa evolução. Ora, é preciso colocar es- formação e da evolução históricas de um novo pa- mitia equacionar em novos termos a relação histó-
rica entre democracia burguesa e democracia dente entre a violência institucional e uma “posição tou para o apoio à formação da classe operária e ao
proletária; e implantava dentro do marxismo a con- invulnerável” na luta de classes, buscando assim, seu desenvolvimento independente, vacila em sua
vicção de que a periferia, antes de “ficar igual” ao monopolizar em seu proveito o uso deliberado das terminologia política e contemporiza diante das es-
mundo capitalista mais avançado, extrairia do seu contradições intrínsecas ao crescimento do capita- tratégias centrais da luta revolucionária. É preciso
atraso o fator do seu avanço revolucionário. Essa é a lismo e do regime de classes. Não pretendem, com tomar muito cuidado na discussão de tais assuntos.
lógica política de O que fazer? isso, “retardar a história”, mas proteger-se dentro da Seria absurdo não reconhecer o progresso eventual
“história possível”, pois precisam calibrar o terroris- de passar de um estágio de “apatia fomentada e di-
Essa condensação é demasiado sumária. Mas ela es- mo burguês, que não inventaram, para lidar com os rigida” e de “alianças” nocivas para um “patamar
clarece suficientemente o ponto fundamental. Pri- acidentes fatais e os riscos catastróficos do capitalis- de negociação” em que o consenso proletário se
meiro, as “contradições” não são só uma construção mo selvagem. manifesta tanto defensiva quanto agressivamente.
abstrata, elas fazem parte de relações sociais reais e Entretanto, o alvo político que merece ser persegui-
têm de emergir como tal na vinculação dos proletá- No diagnóstico sociológico do “conflito de classes do vai muito além. Ele consiste na conquista pelos
rios com sua sociedade. Segundo, as “contradições” na América Latina” não é preciso ir tão longe ... No proletários da capacidade de enfrentar a suprema-
não impedem que o capitalismo se expanda cons- entanto, um longo período de hegemonia quase to- cia de lutar pela conquista do poder nas condições
tantemente e que o poder da burguesia continue tal de uma burguesia neocolonial ou dependente fez existentes, de implantação do capitalismo monopo-
crescendo, pois é da lógica íntima do capitalismo e com que a “cauda” social e política das casses domi- lista dependente, nas quais é muito difícil combater
do regime de classes que eles tenham de desenvol- nantes refletisse mais a ideologia da burguesia he- simultaneamente o capital e seu regime autocráti-
ver-se nessas contradições. Terceiro, as “contradi- gemônica, dos países capitalistas centrais, que sua co-burguês e o capital estrangeiro e seu núcleo im-
ções” passam a contar como um fator de poder real própria situação de interesses de classe como prole- perialista de poder. Ora, esse combate não só tem
para os proletários a partir do momento em que se tários. O socialismo reformista e as táticas de apoio de existir – ele precisa ser simultâneo, se os proletá-
torne possível, para estes, engatar as condições de à burguesia nacional de certas correntes do socialis- rios quiserem alcançar um desenvolvimento de
constituição de classe com as condições de luta com mo revolucionário reforçam essa tendência. O risco classe independente, encontrar aliados nas classes
as classes dominantes; daí em diante, o desenvolvi- dramático que enfrentamos consiste em um reen- destituídas ou nas classes médias e ser uma alter-
mento do capitalismo exprime, de fato, a sua natu- golfamento. A incorporação ao espaço econômico, nativa pela transformação da sociedade e pela re-
reza antagônica e o poder relativo do capital e do social e político das sociedades capitalistas centrais volução social.
trabalho. Em suma, as contradições podem ser lon- renova o horizonte cultural das classes burguesas.
gamente aproveitadas pelas classes dominantes e,
1 A versão completa do texto publicado neste Caderno em espanhol
ao revés, a existência de uma grande massa de prole- Poderá ocorrer, sob o capitalismo monopolista de- é parte da antologia Dominación y desigualdad: el dilema social
tários, por si só, não impede que isso se mantenha pendente, o fenômeno que ocorreu sob o capitalis- latinoamericano, organizada e apresentada por Heloísa Fernandes,
editada por CLACSO Coediciones e PROMETEO editores
como uma espécie de rotina. A própria violência ins- mo competitivo dependente. Tanto internamente, (Buenos Aires, Julho 2008) e; com Siglo del Hombre editores
titucional, gerada para manter tal estado de coisas, quanto a partir de fora, o palco está preparado para (Colômbia, Julho 2008). A versão completa em português do texto
pode ser encontrada em Poder e contra-poder na América Latina
acaba sendo instrumental quer para multiplicar as compatibilizar o crescimento morfológico dos pro- (Zahar editores: Rio de Janeiro, 1981).
vantagens relativas das classes dominantes, inclusi- letários como classe em si com uma consciência de 2 Sociólogo brasileiro (1920-1995) Militante das causas públicas,
como a educação gratuita e universal, as políticas afirmativas, a
ve na esfera restrita da acumulação de capital, quer classe “esterilizada” e com dinamismos de “luta de reforma agrária. Sua obra está sendo redescoberta pelas novas
para atrofiar a luta de classes e a capacidade de luta classes” destituídos de elemento político e de um gerações de brasileiros nas universidades e nos movimentos
populares, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST)
política dos proletários, quer para criar orientações eixo verdadeiramente revolucionário. O sindicato e a organização Consulta Popular. Autor, entre outras muitas obras,
conformistas e de acomodação passiva, pelas quais “moderno” e “democrático”, que toma por padrão o de: A etnologia e a sociologia no Brasil (1958); Fundamentos
empíricos da explicação sociológica (1959); Mudanças sociais
os proletários se excluem do uso consciente e ativo sindicalismo norte-americano, por exemplo, entra no Brasil (1960); A integração do negro na sociedade de classes
das contradições em seu proveito coletivo (o que é nessa montagem. O mesmo se pode dizer de parti- (1964); Sociedade de classes e subdesenvolvimento (1968);
A investigação etnológica no Brasil e outros ensaios (1975); A
mistificadoramente designado, pelas classes domi- dos operários socialdemocratizados, que põem em revolução burguesa no Brasil (1975).
nantes, como apatia das massas”). As burguesias primeiro plano o combate ao marxismo e à revolu- 3 Orlando Fals Borda, La subversión en Colombia. Visión del cambio
social en la historia. Bogotá, Departamento de Sociologia da UN
“débeis”, da periferia, confrontadas simultanea- ção proletária, e coloca ênfase secundária na ótica e Ediciones Tercer Mundo, 1967; Las revoluciones inconclusas en
mente pela dominação do capital hegemônico ex- verdadeiramente socialista e comunista da luta de América Latina. 1809-1968, México, 1968.
4 Florestan Fernandes, Da guerrilha ao socialismo: A Revolução
terna e pela pressão do trabalho interna, tendem a classes. Mesmo a esquerda católica, que vem de- Cubana. São Paulo, T.A. Queiroz, 1979. No fim do livro encontra-se
dar o máximo de importância à relação interdepen- sempenhando o papel mais positivo, porque se vol- uma bibliografia selecionada sobre a revolução Cubana.

Globalização e segunda República1


Orlando Fals Borda 2

Nós os do Sul cidades desde alguns anos para aqueles governan- poucos sobre os demais. Foi então necessário per-
Vertentes da globalização tes surdos, com seus míopes acessores de cabeceira guntar-se sobre que classe de globalização se estava

Q
começassem a reconsiderar suas desagregadoras falando, pelas diferenças em seus efeitos sobre as
uando acentuam as tensões e conflitos pro- políticas de “abertura”. Não podiam seguir despre- sociedades. Por isto é significativo que agora exis-
duzidos pelo que alguns governantes batiza- zando o social, o cultural o humano para reduzi-lo tam tais resistências em setores insatisfeitos e aler-
ram como “globalização”, nós os do mundo homogeneamente ao econômico, como o deseja- tas do Primeiro Mundo, como as juventudes e os
comum – em especial os do Sul, os do Tercei- riam os neoliberais e os planejadores estatais, sem universitários. As revoltas de rua contra o Fundo
ro – começamos a descobrir que estávamos arris- gerar deslocamentos, injustiças e crises estruturais, Monetário Internacional (FMI) e os ricos em Gene-
cando uma parte essencial de nossa razão de ser: cujos maus efeitos se estenderam a todas as partes, bra e Lausana são sintomas positivos de protestos
aquela representada pela idiossincrasia e alimenta- afetando especialmente aos pobres e marginais. pela danosa transformação social que sofremos no
da pela cotidiana diversidade ambiente. O mundo Sul, os que buscamos um mundo melhor, mais jus-
havia crescido, fatalmente, como um gigantesco ca- A resistência inicial ao neoliberal dentro desta glo- to, democrático e participativo. Hoje muito poucos
leidoscópio móvel cujas diferentes peças brincando balização homogeneizante foi crescendo até encur- se declaram neoliberais: lhes dá vergonha. Apesar
livremente produziam efeitos, imagens, processos e ralar, em parte, aos poderes mundiais. Perseguidos disto, talvez por inércia, aspectos de sua orientação
objetos diversos de alcance infinitos, às vezes belos pelas massas inconformes, para os poderosos não seguem vigentes. Daí a necessidade de seguir
e positivos, às vezes deformados e perversos, mas houve outro lugar adequado para tornar a reunir-se combatendo.
que iam somando ondas de integração mais ou me- que o Emirado desértico e feudal do Qatar, lugar
nos ordenadas. simbolicamente significativo do tipo inerte e areno- De onde provém e como e quando se foi articulando
Foram necessárias as furiosas manifestações em al- so de mundo ao qual, nos querem levar para que só esta desigual e policefálica doutrina? Todos sabe-
gumas ruas de Seattle, Davos, Melbourne e outras fique a economia monopolizada, a da violência de mos: proveio das altas esferas do poder e do conhe-
encarte CLACSO – Cadernos da América Latina VI

cimento da Europa e Estados Unidos, ou seja, dos que remitem ou fomentam a globalização, especial- Hoje, assistimos a uma rebelião muito ampliada
nichos geradores da civilização ocidental. Muitos mente desde o ponto de vista das liberdades indivi- contra as influências e efeitos do euro-centrismo eli-
interpretaram a globalização como sucessora natu- duais e coletivas. Há o marco fundamental deste ti- tista e hegemônico nos campos cultural, econômico,
ral das idéias de progresso e livre comércio, introdu- po espacial / territorial: o dos Estados-nacionais que científico e tecnológico. É uma rebeldia por justiça e
zidas pelos filósofos da ilustração. Existe pouco de cederam, ao nível supranacional e, mais ou menos, se expressa na glocalização. Esta oferece um interes-
novo deste ponto de vista; mas seus aquiescentes voluntariamente, parte da sua soberania. sante enfoque alternativo para o que fazer, que tam-
conseguiram detectar, desde a década de 1970 pelo Desde o ponto de vista espacial – muitos disseram –, bém é mundial; mas desde o lado oposto na estrutu-
menos, que a profecia de Carlos Max sobre as ten- a globalização é um processo de mão-dupla, que vai ra social e territorial para buscar a emancipação dos
dências expansivas universais do capital estavam se e vem desde acima, nas altas esferas das sociedades, povos, algo que pode equilibrar as forças monopóli-
cumprindo. Para aqueles, alegria pelo livre mercado e de abaixo para acima, desde as localidades e regi- cas e opressoras do Ocidente.
e a acumulação infinita que já se desenham desde a ões com gente do comum e sua cultura ancestral. Os
época colonial. Para nós, os do comum, os do Sul, canais de acima para abaixo, têm sido dominantes e Sigamos, então, alterando dialeticamente o feroz
cabia apertar o cinto e sofrer as penúrias adicionais. vêm condicionados pelas oligarquias da civilização “b” pelo esperançoso “c” de glocalização. Isto se faz
Por sorte, podia-se descobrir o tendão de Aquiles da ocidental euro-cêntrica e euro-americana e pelas muitas vezes com práticas simples, mas eficazes.
obnubilante doutrina da globalização. Suas limita- suas contrapartes nacionais atuando como colonos Por exemplo, no caso da Costa Atlântica colombia-
ções em quanto à pobreza, ao desemprego e à fome, intelectuais. Aqui confirmamos que a ocidental é a na, isto requer reforçar políticas culturais e econô-
por exemplo, logo ficaram desveladas e em insolúvel civilização de origem que provê o sabor e o cimento micas dirigidas para defender as classes produtivas
escândalo. Agora, com o seguir da análise, só neces- para a expansão estrutural da globalização. É o seu e trabalhadoras, os grupos indígenas e afro-colom-
sitamos disparar em direção ao tendão. centro geopolítico. bianos; reviver raízes étnicas, costumes e línguas
autóctones; apoiar os concursos e festivais de músi-
Como inimigo das formas patológicas que a globali- Este sabor é tenaz e sumamente contagioso. Trans- ca popular; recuperar a história camponesa, regio-
zação adotou, em especial com as políticas anti-po- mite-se em formas culturais, educativas e até subli- nal e da vizinhança; honrar aos lutadores e soldados
pulares, quero recomendar que avancemos no estu- minares que têm usado ao máximo as vantagens da do povo e não apenas aos generais dos exércitos; es-
do de suas características, porque isto, obviamente tecnologia nos meios de comunicação; estes meios timular a pesquisa dos contextos próprios e a criati-
ajuda o necessário contra-ataque do que fazer. É o não perdoam diferenças geográficas, raciais ou lin- vidade científica e técnica; e principalmente ter au-
que me proponho esboçar agora. güísticas: afetam praticamente a todo mundo quase to-estima e atitudes de dignidade e respeito pelas
sem diferenças de idade ou sexo. É um efeito de con- características essenciais das regiões territoriais.
teúdo e forma sobre gostos e padrões psíquicos, que Tudo isto somado e defendido é imbatível. Ademais,
Tecido analítico-normativo do fenômeno se prestam a manipulação e são, de certa forma, sin- está pleno de vivências e satisfações incomparáveis.
tomas da opressão.
Já sabemos com maior certeza que a equivocada e
injusta globalização que temos conhecido, é como Outras alternativas do que fazer:
uma trama de dois fios: um analítico, para descrever Uma resposta: glocalização contra segundas repúblicas
seus principais fatores interventores, que são de na- o euro-centrismo
tureza econômica, política e cultural; e outro nor- O conflito está colocado e segue em curso, com
mativo, para destacar os valores subjacentes aos re- Esta referência-marco para as nações existentes co- erupções em diversas partes da terra. As alternati-
sultados que persegue no econômico, político e bre localidades e regiões específicas. A qualidade lo- vas geopolíticas sobre táticas e estratégias são pou-
cultural. Nem todos estes resultados são de recha- calista tem interesse para os oponentes, porque abre cas: ou desejamos que se estabilize o império neoli-
çar: os povos em sua sabedoria e com o sentido co- uma janela de esperança para combater os maus beral armado e unipolar, que bem estudaram Toni
mum – como o fizeram antes – podem escolher e efeitos parciais da globalização, determinar seus Negri e Michael Hardt em Império. Ou toleramos
adotar alguns deles; mas estes dever ser determina- flancos débeis e enfrentá-los com forças territoriais que se sigam deteriorando as estruturas em crise
dos com cuidado, em especial àqueles que benefi- de resistência. Estas forças, poucas vezes antecipa- das nações-Estados do modelo Westfaliano centra-
ciam ou prejudicam, em qual medida e a que custo. das e menos ainda apreciadas pelos economistas lista, como é o caso da Colômbia e de muitos outros
Daí que perece válido ver a globalização como uma que trabalham como acessores de governos, são as países. Ou propugnamos pela luta desde abaixo,
forma polivalente de chegar a prosperidade ou feli- que, uma vez articuladas, dão origem a uma realida- com a glocalização cultural, econômica e política
cidade geral, mas se bem executada. Qual é o seu al- de política contemporânea com um forte sentido como ponto de referência e digno de resistência.
cance real? Conforme as políticas públicas que se crítico, que é a da “glocalização”, que troca o “b” de
adotem. Aquelas inspiradas no neoliberalismo, têm “bárbaro” pelo “c” de “coração”. Parece-me que esta terceira opção é a que deve ser a
aumentado as desigualdades do mundo, mas em pa- de todos nós que estamos autenticamente preocu-
íses desafortunados como Colômbia, onde as maldi- Segundo Boaventura de Souza Santos em seu livro pados com a horrenda situação criada pelos defen-
ções desta escola seguem de maneira incrivelmente Hacia un nuevo sentido común (1995), se trata de “lo- sores do sistema dominante. Se esta opção se de-
atadas ao poder estatal, as misérias aumentam. calismos globalizados” e de “globalismos localiza- senvolve, parece inevitável que leve às alterações
dos”, que muitas vezes vão acompanhados por mo- fundamentais em matérias tais como a concepção
Ponhamos, então, as lentes da hermenêutica para vimentos sociais e políticos e outras expressões da da autoridade legítima e da política, a co-responsa-
criticar estes mesmo fenômenos. Qual é o resulta- sociedade civil. Esta hipótese feliz que favorece nos- bilidade de governados e governantes, o acompa-
do? Podemos interpretar a globalização de pelo me- so enfoque crítico. Coloca bases para novas práticas nhamento sócio-econômico comunal, e a econo-
nos três maneiras. Primeiro, como uma série de dis- de cidadania global que convergem no que batiza- mia solidária. Abriria as comportas para outra
cursos muito diversos, por exemplo, sobre capital mos como “glocalização”. grande revolução, invocadora das passadas, ainda
social, tecnologia comunicativa, impacto cultural, que talvez, sem os serviços de parteira da violência
etc.. Segundo, como um processo induzido por Todavia, aparece um fator analítico limitante de armada tradicional.
acordos e regras de desenvolvimento econômico, grande interesse para montar nossa defesa no mun-
como os do Banco Mundial (BM), a possível Área de do do Sul: este fator é a determinação contextual do Esta outra grande revolução se pode fundamentar
Livre Comércio das Américas (ALCA) e a Organiza- euro-centrismo nodal. Tal como foi definido por Sa- na acumulação organizada de experiências, lutas e
ção Mundial do Comércio (OMC). E, terceiro, como mir Amin em 1986, o euro-centrismo é a expressão saberes que fornecem as diversas frentes da glocali-
uma instituição macro ou conjunto de instituições culturalista das tendências expansivas do capitalis- zação. Se o processo local se reduz não mais que ao
macro, cujos exemplos mais notáveis são as corpo- mo. É o componente articulador da globalização re- local e conjuntural, e não se trata de coordenar suas
rações multinacionais, muitas Organizações Não cente que chega aos nossos campos e cidades, e que forças regional e nacionalmente, até chegar tam-
Governamentais (ONGs), os tratados regionais, socava nossos costumes, idiomas e visões cósmicas. bém ao nível mundial – onde repousa o inimigo gi-
igrejas universais, e outras entidades e burocracias Para entender o impacto deste outro fenômeno, é gante global –, pouco se terá ganhado. Portanto, a
sem cidadania fixa. necessário contextualizar os processos envolvidos. consigna resultante pode ser a seguinte: organizar-
se politicamente e combater pelo domínio do poder
O fato que nosso entorno seja o muito especial e ma- estatal em todas as partes, para arrancá-lo das mãos
Referências territoriais ravilhoso dos trópicos e sub-trópicos andinos e ama- daqueles que hoje o aproveitam, em prejuízo das
zônicos, condiciona e limita os efeitos enganadores e maiorias produtivas.
Se este tipo de análise resulta insuficiente, podería- prejudiciais da globalização capitalista. Aproveite-
mos entrar ainda mais fundo e estudar as relações mos ao máximo esta vantagem diferencial de origem Esta consigna, por suposto, não é nova: é cíclica, tal-
estabelecidas entre sociedades concretas e as práti- pelo saber local, a genética e a história. Existem mul- vez permanente. Para estes grandes propósitos ser-
cas que permitem e fomentam a globalização, espe- tinacionais farmacêuticas maravilhadas com nossa viram sempre os movimentos sociais e políticos
cialmente entre sociedades concretas e as práticas biodiversidade pelas velhas razões da exploração. abertos, pluralistas e participativos, assim como os
partidos da esquerda democrática e socialista que, Conclusão dem ao cuidado das comunidades afetadas, em es-
como os da América do Sul com o PT brasileiro na pecial as do Litoral do Pacífico. Graças estes passos
cabeça, nos têm dado frutíferas lições. Por eles te- Vemos que para fazer frente à globalização aos em- importantes, mas setoriais e às vezes declamatórios
nho o privilégio de permanecer, na Frente Social e bates da globalização desaforada e para defender os não nos sentimos ainda totalmente vulneráveis. Te-
Política de Colômbia que considero um sucessor de espaços populares que dramatizam a história e cul- mos adiantado na mecânica do que fazer conjunto,
similares e valiosos esforços. São experiências so- tura de nossas regiões, nações e repúblicas, deve- com alianças táticas e uma integração que alguns
matórias nas que, de uma forma ou outra, lograram mos nos comprometer ativamente com os esforços têm chamado de “com resultados”. A irmandade pa-
forjar o cimento programático ou ideológico neces- para reivindicar os valores fundamentais que pro- triótica e as muitas décadas de intercâmbio fami-
sário para conformar organizações de massas con- vêm de nossa diversidade étnica, cultural e natural, liar, pessoal, educativo e político entre nossos po-
seqüentes com nossos ideais. Os amigos das multi- em espaço e atributos biodiversos dos nossos trópi- vos, também deram frutos. Todavia, nos falta muito
nacionais e monopólios, os liberalistas que se cos. Este é um grande desafio. Ainda que possa ha- mais no campo geopolítico e no valorativo e cultu-
aproveitaram das privatizações de empresas esta- ver modernização congruente ou harmônica com ral para a construção de um só e grande ethos vin-
tais, também têm se organizado em sua própria di- estas políticas, é necessário seguir defendendo con- culante para os quatro países bolivarianos. São os
versidade, criando uma niveladora universal que cepções tradicionais inspiradas no socialismo hu- desafios que em termos gerais se podem designar
temos que deter. Nosso cimento constitucional, não manista e ecológico que têm caracterizado, desde como os de uma anti-globalização endógena e anti-
pode vir das vertentes dominantes atuais, mas sim tempos pré-colombinos, a nossa vida camponesa, hegemônica de sobrevivência – os processos de “glo-
da renovada ideologia do socialismo humanista, li- indígena, silvícola, pesqueira e mineira. São outras calização” postulados em outras partes – que lutam
bertário e ecológico que é o opositor dialético do ca- formas, mais humanas, de ser, pensar, criar e pro- antes de tudo pelo bem-estar, a vida e as expressões
pitalismo que está levando o mundo à destruição. duzir que as capitalistas não puderam contemplar, altruístas e democráticas de nossas gentes comuns.
mas que seguem vivas a pesar de todas as hecatom- Estas situações de estresse e angústias, vivenciais
Dentro do grande complexo repressivo, destaco o bes sofridas desde 1492. me levaram, a reviver publicamente o velho e clássi-
que vem ocorrendo com as classes trabalhadoras, co tema da Grande Colômbia, como assunto alta-
especialmente na América Latina. Os operários, Os elementos afetivos e emotivos da globalização – mente pertinente, em virtude do legado dos liberta-
camponeses, indígenas estão sujeitos a uma cruel os da vivência popular e cotidiana e sua mobiliza- dores venezuelanos, neo-grandinos e quitenhos,
ofensiva que mina seus sindicatos, comunidades, ção, que apenas esbocei aqui – representam uma que lutaram juntos pela independência de nossos
proteções, corta suas conquistas e ignora seus direi- força anti-hegemônica que neutraliza a razão ins- quatro países.
tos. As práticas opressoras dos governos neste cam- trumental dos processos de globalização, esse com-
po ficam bem ilustradas com o caso da Colômbia e o plexo frio e letal que transmitem os expertos euro-
recentemente decidido aqui, que está erodindo pe- cêntricos e seus colonos intelectuais, os meios de As periferias se centralizam
rigosamente o Estado Social de Direito consagrado comunicação e as agências internacionais. O cora-
na Constituição Nacional. Estas práticas opressoras ção, tanto mais que a razão, tem sido até hoje um As inovações da globalização têm levado não ape-
e persecutórias de sindicatos e direitos, devem ser eficaz defensor dos espaços dos povos que ainda nas à decomposição social em todas as partes, in-
corrigidas. O monopólio do poder, quando se ex- restam em atividade de raiz. Esta pode ser a nossa cluso no próprio Norte do mundo, mas também a
pressa unilateral e repressivamente como ocorreu força secreta, ainda latente, porque outro mundo é certos resultados inesperados. Um deles é o surgi-
aqui, se torna sinônimo de tirania. E a tirania leva à possível. Vale a pena ir lançando-a e mobilizando-a mento das periferias, em reação ao tradicional tra-
rebelião justa dos povos empobrecidos e persegui- com toda justiça, contra os poderosos da terra que tamento que têm recebido dos centros dominantes.
dos, desempregados, desterrados e explorados. não parecem ter alma. Os oprimidos e outras vítimas da história ocidental
tendem hoje a sacudir-se, deixar-se sentir e fazer-se
Este não deve ser o sentido, nem a justificação, nem ouvir, o que é inusitado. Neste contexto, as frontei-
o resultado da tão cacarejada globalização. Temos Pela Grande Colômbia Bolivariana: ras esquecidas e as zonas marginais nas que se loca-
que dar a volta e quanto mais rápido, melhor. Orga- bases para enfrentar ameaças internacionais lizaram, estão adquirindo um bom peso específico.
nização e ação, esta é a necessidade que provem da
crise de miséria e fome, e também de governabilida- Algumas estratégias de defesa Isto ocorre pela drástica e recente redução da di-
de, que busca paralisar pelo terror. A paciência e a mensão espaço / tempo e pelo aumento na velocida-
passividade devem terminar: por sorte ainda há O assunto que aqui nos une está claro: como nossos de da comunicação. Agora as fronteiras territoriais e
com que fazê-lo, e com quem fazê-lo. países de tradição bolivariana – Venezuela, Colôm- suas zonas tendem a extinguir-se e estão causando
bia, Equador, e Panamá – estão sujeitos a pressões efeitos distantes, como o da mariposa dos teóricos
Estes problemas de governabilidade e repressão em exógenas inconvenientes que decorrem da atual do caos, para desempenhar funções paralelas às dos
todos os níveis levam a propor, finalmente uma fór- globalização comandada do Norte, temos que orga- centros, e/ou tarefas que antes eram monopoliza-
mula macro que poderia sintetizar muitas, se não nizar mais e melhor nossas defesas. das pelos centros ou restritas só a eles. Refletem as-
todas, as metas e aspirações política que mencionei. sim, com dramatismo e claridade problemas estru-
Esta fórmula macro é o estabelecimento de novas ou De diversas fontes nos chegam advertências sobre o turais das sociedades respectivas, em especial as do
segundas repúblicas que inspiradas em lemas ideo- cuidado que devemos ter em nossas relações com os Estado-nação, convertendo-se em nascedouros de
lógicos alternativos como o socialismo de raiz, e im- nortenhos e seus agentes ou representantes em cada crítica e mudanças como laboratórios sociais espon-
pulsionadas por estes, subvertam e suplantem as país. Os últimos desenvolvimentos têm que ver com tâneos que refletem as contradições da grande so-
estruturas governamentais existentes que por defi- as propostas interessadas que nossos governos têm ciedade. Pois bem, este efeito de eco-refletor desde o
nição e convicção, devem ser transformadas. recebido: tratados de livre comércio, modernização marginal que chega ao Estado-nação, pode servir
de exércitos, céus abertos, guerras contra o pan-ter- também para defender certas tradições e identida-
Trata-se de um processo mais profundo e diferente rorismo, etc., que levam ao neoliberalismo, belicis- des substanciais, hoje ameaçadas pelo desequilibra-
que os que têm levado aos países como França e Ve- mo e neo-facismo. Em geral, estas propostas colo- do desenvolvimento globalizador.
nezuela a “quintas repúblicas”. Na Colômbia – e em camrestriçõesanossaviabilidadeeinterdependência
outros países americanos – se começa a afirmar po- como nações e nossas identidades como povos. Não Neste sentido, a aceleração cibernética da equação
vos originários, como são os indígenas, os palan- podemos, então, ficar quietos. espaço / tempo, leva a analisar os conhecidos com-
queros negros, os camponeses e artesãos anti-se- partimentos territoriais dos Estados sob outra luz e
nhoriais e os colonos-patriarcas internos, a tempo Uma óbvia reação vital de defesa tem sido a de unir mais além. Convido a prestar atenção nas dimen-
com valores fundamentais e universais como a soli- forças, recursos e conhecimentos. Por exemplo, sões que transbordam a região administrativa para
dariedade, a liberdade, a dignidade e a autonomia. existem iniciativas de agrupação regional de índole chegar às implicações do supra-regional e o supra-
econômica e comercial, como o Mercosul e a Comu- nacional: ou seja, para a integração funcional entre
Recobrar e reformar em termos atuais estes valores nidade Andina de Nações. Entre os países bolivaria- nações existentes. Esta tarefa deve ajudar a nos levar
e os povos que nos têm conservado apesar de catás- nos mencionados, se tem notado a ativação de pro- ao nascimento da nova Grande Colômbia, a do sé-
trofes seculares, com respeito ao neoliberalismo e a gramas de integração em campos culturais, culo XXI.
autocracia, e com a melhor consolidação dos pro- universitários, comerciais, agrícolas, etc., e alguns
cessos de glocalização. tratados e acordos binacionais, como os realizados Para alimentar estas possibilidades somatórias,
entre Venezuela e Colômbia desde 1941, tiveram convêm examinar apoios valorativos, como são as
Toda pessoa pode, por sua vez propor em outras ba- efeitos positivos. O caso mais recente constitui a raízes ancestrais e atitudes que conformam e im-
ses alianças multinacionais no nosso Sul, com a pa- reunião presidencial de El Tablazo (Zulia), onde pulsionam o progresso. São valores definidores das
radigmática República da Grande Colômbia Boliva- com uma cordialidade misteriosa e bem-vinda, que gentes dos trópicos e sub-trópicos que nos têm per-
riana. Seriam outras grandes repostas aos desafios não se via há alguns anos, se aprovaram grandes tencido desde que o mundo é mundo. Vale a pena
euro-cêntricos aqui revelados. projetos energéticos comuns, ainda que estes convi- cuidar, regar, abonar e multiplicar essas raízes neste
encarte CLACSO – Cadernos da América Latina VI

mundo espantoso que outros criaram em contextos que seguem com Nariño até o Oceano Pacífico. Ati- der para transformar as incoerências estruturais de
nortenhos e mediterrâneos, que temos herdado vidades pesqueiras, madeireiras e mineiras com co- nossos falíveis Estados-nacionais.
mais como imposição e não como um ato criador munidades negras, sem muito estímulo nem dire-
próprio. Nas fronteiras, periferias e outros lugares ção, nos recordam que os narinhenses, juntamente
relegados de nossos países, podem estar os exércitos com os equatorianos, são responsáveis pela defesa Sobre o que fazer: considerações políticas
de reserva humana e cultural das nossas nações em desta parte da maior riqueza biológica e ambiental
perigo. Por isso sinto que chegou o momento da ar- do planeta, que aí se encontra. Esta extraordinária tarefa de reconstrução sócio-
ticulação ativa das margens nacionais como parte política implica o recrutamento e preparação idô-
instigante da grande onda de vida pós-capitalista, Quanto ao projeto etno-cultural das fronteiras, en- nea em técnicas de pesquisa-ação participativa de
pós-desenvolvimentista e pós-moderna que nos contramos uma ocupação contínua, desde tempos cientistas sociais de alta motivação ética e política –
poupem das catástrofes anunciadas. pré-colombinos, de nações indígenas entrelaçadas em especial geógrafos humanos, economistas com
umas com as outras à margem dos limites formais, coração, antropólogos sociais, cientistas políticos,
com livre deslocamento entre os lados (Cunill Grau, sociólogos da participação ativa – capazes de enten-
Morfologia das fronteiras 1992). Estas comunidades aborígines pré-estatais der e transcender as nacionalidades e os contextos e
brindaram uma matriz social original na que se fo- realidades nos quais vivemos (De Sousa Santos,
Para realizar este grande objetivo de integração en- ram acomodando e aculturando-se outros povos 2003). Ademais, necessitaremos elaborar mais as
tre nações vizinhas e chegar à meta de uma Segun- imigrantes, tanto de um lado como do outro das propostas de integração econômica que viabilizem
da Grande Colômbia (não importa o nome) entre atuais fronteiras. Ai vem funcionando a todo vapor o o projeto geral.
nós, é necessário situar o assunto técnica e concei- fundidor racial e cultural “cósmico”, e a ocupação e
tualmente em pelo menos duas modalidades de tra- transformação de territórios, às vezes em paz, ou- Implica igualmente trabalhar nas frentes do protes-
balho: uma modalidade provém da geografia hu- tras com mútua destruição e conflito, como ocorreu to e proposta nos quatro países para criar, até com a
mana e a das ciências etno-culturais. Examinaremos com grupos de mineiros, pecuaristas, guerrilheiros, música, a literatura e outras artes, os movimentos
esta morfologia segundo os fatos e condições palpá- paramilitares, policiais, soldados e até missionários. sociais e políticos desde abaixo e desde as periferias,
veis das atuais zonas fronteiriças. Em todo caso, o processo deu como resultado a for- as redes de trabalho e as comunicações necessárias,
mação de uma sociedade híbrida, semi-autônoma e com o fim de seguir deslocando aos obsoletos parti-
O projeto geográfico é aquele que enfoca bacias flu- muito rica, que levou ao escritor venezuelano Artu- dos tradicionais e aos governantes centralizadores,
viais como eco-sistemas que ocupam porções de ro Uslar Pietri a defini-la como “um terceiro país”. verticais ou messiânicos aonde, todavia, restam ou
países vizinhos – Colômbia, Venezuela, Brasil, Peru, aspirem a ficar. E sigamos afirmando o avanço so-
Equador e Panamá – hoje ameaçadas por catástro- Neste “terceiro país”, os indígenas constituíram um cialista pela vida, a justiça e o progresso humanista
fes ambientais, guerras intestinas e tensões limítro- grupo originário receptor dos demais. São ainda os que chegam do Sul com movimentos e governos de
fes (Mendoza, 1992). guardiões e melhores conhecedores da biodiversi- novo tipo no Uruguai, Argentina, Chile, Brasil, Bolí-
dade tropical, e se lhes pode reconhecer como ETIS via e Equador.
Pelo lado colombiano-venezolano, há três bacias (entidades territoriais indígenas) segundo leis orgâ-
que são total ou parcialmente aptas para as políticas nicas, e como zonas de paz. Começam com a Nação Entre Venezuela, Equador, Panamá e Colômbia se-
de integração a que mencionei: as de Carraipía-Pa- Wayúu na Guajira colombiana, a maior de todas, ria relativamente fácil voltar a conceber e construir
raguachón, Catatumbo-Zulia e Arauca-Orinoco que se estende até o norte do Estado Zulia. Depois, a conjuntamente a Grande Colômbia dos nossos Li-
(Area e Márquez, 1994). Com a exceção da Carraipía Nação Motilona no Perijá por ambas vertentes, e os bertadores. Os limites entre nós me parecem secun-
na Guajira que melhorou graças a um acordo bina- U´Wa no Sarare; a Sudeste estão os Guajibos, Curri- dários, se examinamos os vaivens da história. Hou-
cional de 1989, as outras bacias compartilhadas pacos e Tukanos, todos binacionais, e por Leticia os ve momentos nos quais as fronteiras não existiam
com a Venezuela são problemáticas pela contami- Tikunas trinacionais (Colômbia, Brasil e Peru). Os entre nós, mas por curtos períodos nunca disputa-
nação das águas, a guerra e a ocupação desordena- Huitotos e Ingas ocupam o sul da Colômbia com o dos. Por exemplo, por convênio com generais cauca-
da e exploração ilegal da terra. Colômbia é culpada Peru. Pelo norte, existem as fortes relações ances- nos, o Equador se estendeu até Pasto e Buenaventu-
em boa parte porque todas essas águas se originam trais entre os Cunas das ilhas e costas panamenhas ra em 1830; Colômbia aceitou em 1848, sem
nos Andes colombianos. e o Darién colombiano: não esqueçamos que a Na- resultados práticos, que todos os Llanos até Villavi-
ção Cuna se expandiu durante o século XVII até as cencio fossem venezuelanos; com uma simples car-
Não seria difícil pensar em Corporações Ambientais ribeiras do rio Sinú. ta, o Barão do Rio Branco tirou da Colômbia a entra-
Binacionais Autônomas nestes lugares. Ainda que da até o grande porto de Manaus, no Amazonas; e
pareça mentira, esta boa idéia tem 183 anos e se de- No que corresponde à fronteira da Colômbia e Equa- por outro acordo, Colômbia cedeu em 1952 para Ve-
ve a Simón Bolívar. O Libertador demonstrou ter dor, acabo de apontar a bacia do Mira com o papel nezuela as ilhotas Monjes. Arauca se proclamou in-
uma correta visão sócio-geográfica das bacias mais das comunidades afro-descendentes costeiras que dependente por umas semanas em 1917; também
além das formalidades fronteiriças derivadas do uti se estendem desde Esmeraldas até Tumaco na costa Tumaco quis somar-se ao Equador em 1988. O Peru
possidetis juris de 1810, quando em Araure (Barinas) do Pacífico. Ao sudoeste reside a Nação AWA-Cuai- era o dono do Putumayo nos duros anos 20 da Casa
opinou, na carta de 18 de maio de 1821, que devia quer desde Ricaurte pelas colinas baixas até mais Arana. De modo que, com a exceção do absurdo mi-
conformar-se um quarto departamento (ademais além da fronteira equatoriana, e na micro-região do ni-conflito por Leticia no Amazonas, entre nós as
da Venezuela, Cundinamaraca e Quito) na nova re- Grande Cumbal que margeia a mesma fronteira, se fronteiras não têm sido cicatrizes da história, como
pública: a de Pamplona-Mérida-Maracaibo. Trata- encontra a comunidade dos Cabildos e grupos de em outros continentes. Nossos Mohanes vigilantes
va-se talvez da região mais rica do norte da América Pastos e Quillacingas. Estas nações constituem en- nos rios e montes não o permitiram.
do Sul, graças a uma combinação regional entre a tes binacionais de características similares às já des-
precoce promoção local do café, com a facilidade de critas para as fronteiras com os outros países. Essa fluidez brincalhona e pacífica de fronteiras po-
exportação pelos rios Catatumbo e Zulia até o lago de se retomar hoje, sem problemas e de maneira ge-
de Maracaibo. A mesma idéia desta bacia comparti- Todos estes grupos nativos (junto aos outros cha- ral, deixando atrás o modelo Westfaliano do Estado-
da foi acolhida por Agustín Codazzi nos seus estu- mados “originários”), são povos respeitáveis que nação belicista e outras definições forâneas de
dos setoriais de 1842; e pelo presidente do Estado nos ensinaram a resistir com dignidade os furiosos soberania e identidade nacional, já superadas. O
Soberano de Santander, o general Vicente Herrera, embates da chamada “civilização ocidental” que eterno e enredado “diferendo” entre Colômbia e Ve-
em 1858 (Pérez López 2003, 14, 19-20). hoje devemos pelo menos questionar parcialmen- nezuela não deve existir mais. Antes de tudo temos
te. Entre estes logros, nos mostraram uma alternati- que pensar no bem-estar dos povos nas suas regiões.
Para os outros grandes rios que mencionei: o Arauca, va própria de entender a nação, com a força da cul- Devemos juntar-nos nestas formas novas de convi-
Orinoco, Amazonas, Negro, Putumayo, existem tra- tura e o poder da solidariedade humana, em vência e resistir às tentações belicistas que às vezes
tados de livre navegação quase esquecidos, e pouco contraste com o modelo de Nação-Estado proposto se acercam. Por exemplo, Colômbia não pode pres-
mais, com Venezuela, Brasil e Peru. E com o Panamá como máquina de guerra, segundo o Tratado de tar-se a brincar, por determinações forâneas sobre
existe a zona comum com Colômbia do Tapón de Westfalia (1618), modelo potencialmente fatal (o pan-terrorismo, o papel de representante na Améri-
Darién e rios e riachos de parques compartilhados, demonstrou a história européia posterior) que nos ca do Sul, como aconteceu uma vez na Guerra das
que podem continuar e melhorar, aos que temos que trouxeram os espanhóis. Malvinas. Eu venho proclamando em todas as mi-
defender de mega-projetos perigosamente concebi- nhas apresentações deste tema a partir de 2003 em
dos, como o da rodovia Panamá-Puebla, que talvez Assim, já sabemos melhor como e por que podemos Lima: que seguramente nenhum colombiano com
se estenda à Colômbia por motivos exógenos. rechaçar, com argumentos justos, a existência das dignidade ou sensatez quererá levantar armas nem
fronteiras binacionais existentes a partir daquele dirigir tanques de guerra contra nossos vizinhos, e
Entre Equador e Colômbia concerne olhar a situa- descontextualizado modelo nortenho, confirmado menos contra Venezuela. Aplaudo que este princí-
ção das bacias irmãs dos rios Patía e Mira-Mataje, entre nós pelo uti possidetis. E também como proce- pio de harmonia internacional, tão antigo e respei-
encarte CLACSO – Cadernos da América Latina VI

tado até agora, tenha que ser reconhecido pu- fins convergentes com a colombiana. Se somarmos gria, como vivência lógica e espiritual, este desafio
blicamente pelo presidente Álvaro Uribe em El a isto, a força do movimento indígena equatoriano, crucial. Se também somos cuidadosos, como sugeri,
Tablazo. várias vezes próximo do poder e recém chegado ao com as formas altruístas do conhecimento popular,
Governo, e ainda a dos movimentos panamenhos a vida alterna e o trabalho produtivo para todos, po-
Então, me parece necessário e urgente lutar outra derivados do Torrijismo reconstrutor, mais os mo- deremos equilibrar as crises entrópicas do capitalis-
vez pela meta comum da Grande Colômbia, ou para vimentos de patriotas colombianos desde as regi- mo global que começam a nos afetar. Todavia temos
contrapô-la às inconveniências políticas hegemôni- ões, podemos verificar a potencialidade da idéia que aproveitar mais daquele singular tesouro ver-
cas e violentas da globalização neoliberal militaris- bolivariana gran-colombiana e libertária. Estas náculo próprio – o do sol radiante —, para que siga-
ta. Por sorte, como o reconheceram os presidentes metas se conseguiriam facilmente se conseguimos mos construindo, aqui e agora, um mundo melhor.
Chávez e Uribe em El Tablazo, as fronteiras formais irmanar todas estas forças, movimentos e partidos
entre nós são indefiníveis e porosas. Sempre tem si- dos quatro países, com o mesmo gancho ideológico
do assim, e temo que assim sigam sendo. Não neces- do socialismo ecológico, de raiz, humanista e de-
1 A versão completa deste texto encontra-se em Orlando Fals Borda
sitamos formalizá-las, demarcá-las, ou derramar mocrático, pelas razões históricas, sociais e cultu-
Hacia el socialismo raizal y otros escritos, Ediciones desde abajo,
sangue por elas, porque é a própria geografia quem rais comuns a todos que tentei expor. Capítulo III, pp.71-96, Bogotá, 2007.
2 Sociólogo colombiano. Ph. D. em Sociologia pela Universidade
as nega e apaga em nome dos povos habitantes. Res-
da Flórida(1955-2008). Co-fundador da primeira Faculdade de
peitemos, pois, a autoridade tropical das selvas plu- Compreendo também as dificuldades destas possí- Sociologia da América Latina América Latina na Universidade
Nacional da Colômbia (1959) e um dos fundadores de CLACSO.
viais e das bacias hidrográficas, assim como a von- veis transições. Começaram a ser vistas como peri-
Reconhecido pelo seu compromisso político em benefício dos
tade autônoma e livre dos nossos rios selvagens que gosas, daí a repressão que exercem os reacionários setores populares, pelo seu método de “pesquisa-ação participativa”
e pela sua vasta obra sociológica e teórico-política.
debocham quando querem das dragas oficiais, co- de sempre com apoio de globalizadores, grandes
mo ocorre no Arauca. empresários monopolistas, especuladores financei- Bibliografia
ros e outros traidores de ideais. Nossos esforços são
Area, Leandro e Márquez, Pompeyo. Venezuela y Colombia: política
Finalmente, como passos de transição ao novo Es- atacados pelo Império do Norte, o do Grande Explo- e integración. Caracas, Editorial Panapo, Comisión Presidencial
para Asuntos Fronterizos, 1994.
tado gran-colombiano e bolivariano, podem con- rador que é cada vez mais o Grande Irmão do profé-
Cunill Grau, Pedro. Política de organización territorial y ocupación
cretizar-se ao nível macro duas propostas geopolí- tico romance de Orwell, cuja fortuna por sorte pare- del espacio fronterizo occidental venezolano. Caracas, Comisión
Presidencial para Asuntos Fronterizos Colombo-Venezolanos, pp.
ticas existentes, que são anti-hegemônicas: uma é a ce estar declinando. Creio que não merecemos a
18-39, 1992.
República Regional de Colômbia, proposta há um triste sorte dos colonos e robôs desmiolados que nos Mendoza Morales, Alberto. El Ordenador. Bogotá, Universidad
Piloto de Colombia, 1992.
lustro decorrente da Constituição de 1991. A outra têm reservada.
Pérez López, Jaime. Colombia – Venezuela, economía, política,
proposta geopolítica corrente, juntamente a colom- sociedad en siglos XIX y XX, Cúcuta, Ed. La Opinión, 2003.
De Sousa Santos, Boaventura. La caída del Angelus Novus:
biana, é a consagrada pela República Bolivariana Para evitar tudo isto, proclamemos com orgulho
Ensayos para una nueva teoría social y una nueva práctica política.
da Venezuela, em sua atual Constituição, que tem que aqui todos somos tropicais e aceitemos com ale- ILSA y Universidad Nacional. Bogotá, 2003.

Novidades Editoriais Clacso


Sete ensaios de América Latina e Políticas de atenção à
interpretação da Caribe. Territórios pobreza e desigualda-
realidade peruana religiosos e desafios de. Examinando o
para o diálogo papel do Estado na
experiência cubana

José Carlos Mariátegui Aurelio Alonso [coordenador] Mayra Paula Espina Prieto

Cumprindo 80 anos de sua primeira edição, O conjunto dos trabalhos sobre estudos O tema da pobreza, na sua relação com os
Sete ensaios de interpretação da realidade perua- sócio-religiosos que integram esta publicação efeitos das reformas e as políticas para sua
na de José Carlos Mariátegui, constitui indubita- procuram expressar uma convergência na consta- condução, tiveram lugar central da preocupação
velmente uma das principais obras de referência tação da alteração na demografia religiosa no das ciências sociais latino-americanas desde a
do pensamento marxista latino-americano. continente, ocasionado pelo predomínio de uma década dos noventa. Com o propósito de recupe-
Diferentemente de outras obras que caem no forte e heterogênea corrente de reaparição deno- rar uma visão desnaturalizadora das desigualda-
esquecimento, Sete ensaios foi objeto de inúme- minacionalista, na segunda metade do século XX. des sociais, este livro oferece uma visão panorâ-
ros estudos e segue despertando o interesse dos Ademais, prioriza a análise do cruzamento mica deste campo de estudos, a partir da
estudiosos da realidade social peruana e latino- destas tendências com as que anunciam o experiência cubana, e uma releitura crítica das
americana, comprovando a sua originalidade e ordenamento mundial vigente e os extremos da maneiras nas quais a pobreza tem sido construí-
relevância contemporânea. concentração de poder. Os trabalhos tratam da como objeto de análise e de política pele
A presente edição, traduzida pelo antropólo- especialmente das questões da territorialidade conhecimento social. Desde esta perspectiva, a
go Felipe Lindoso, traz a apresentação do perua- material e espiritual, nos processos de busca e obra examina a experiência cubana, sua lógica
no Rodrigo Montoya Rojas, escritor e antropólo- sentido e nas interpretações e potencialidades de administração da crise e a reforma econômi-
go, professor da Universidade Maior de São do diálogo, em oposição ao auge dos fundamen- ca da década de noventa, seus avances e debili-
Marcos, Peru. talismos religiosos e não religiosos. dades no enfrentamento à pobreza.

Biblioteca virtual CLACSO


Com o objetivo de promover e facilitar o acesso aos resultados das pesquisas dos Centros Membros via Internet, o CLACSO oferece livre acesso à sua Biblioteca Virtual
de Ciências Sociais, que recebe por mês mais de 300.000 consultas de textos. Os serviços incluem acesso à Sala de Leitura com 9.000 textos completos de livros, artigos,
palestras e documentos de trabalhos publicados pela rede CLACSO e outras instituições; bases de dados sobre a produção acadêmica dos Centros Membros e registros
bibliográficos de suas publicações e pesquisas e também de seus pesquisadores, com e-mail disponível para contato; e links que dão acesso a outras bibliotecas vir-
tuais com mais de 100.000 textos completos de Ciências Sociais.
www.biblioteca.clacso.edu.ar

Das könnte Ihnen auch gefallen