Sie sind auf Seite 1von 8

EDMUND BURKE, REFLEXÕES SOBRE A REVOLUÇÃO FRANCESA E O

CONSERVADORISMO BRITÂNICO DO SÉCULO XVIII


Eraldo da Silva Duarte1

Edmund Burke (1729-1797), foi um filósofo político, membro da câmara dos comuns
e cidadão do império britânico que alcançou uma grande reputação, sendo reconhecido como
o principal mentor do conservadorismo anglo-americano e uma voz dissonante contra a
revolução francesa, cuja carta à um nobre francês, tornou-se obra necessária àqueles cuja
compreensão do fenômeno conservador buscam.
Burke foi irlandês, nasceu em Dublin, era membro do partido Whig e foi filho de um
próspero advogado. Sua obra de maior destaque, Reflexões sobre a revolução na França, é
uma carta em resposta aos questionamentos de um jovem aristocrata francês2, cuja opinião de
Burke ele “solicita novamente, e com alguma insistência, o que penso sobre os últimos
acontecimentos na França” (BURKE,2016,P.26.). Burke não se furta a responder o seu nobre
interlocutor, dando-lhe uma resposta que foi considerada não sistemática, até mesmo prática,
aos eventos ocorridos na França. Sua forma foi demonstrada nessa passagem
“As velhas instituições são julgadas por seus efeitos. Se o povo é feliz,
unido, rico e poderoso, isso é o que conta. Concluímos que as instituições
são boas quando produzem o bem. Se elas se distanciam da teoria, isso é
compensado pelas vantagens que trazem” (BURKE,1982, P.169)
onde, à sua moda, não estabelece um sistema político tão claro. Este estilo fez com
que ele fosse compreendido como “essentially a practical politician and a propagandist rather
than a thinker with a systematic philosophy to expound”3(O’GORMAN,2004,P.9)
Seu estilo assistemático e empiricista também pode ser notado em outra passagem,
onde afirma que “São as circunstâncias (as quais para alguns cavalheiros não contam) que, na
realidade, dão a todo princípio político sua cor própria e seu efeito particular. São as
circunstâncias que fazem com que qualquer sistema civil e político seja benéfico ou nocivo à
humanidade” (BURKE,2016,P.29-30).

1
Graduando em licenciatura em ciências sociais da Universidade Federal Fluminense.Bolsista de
desenvolvimento acadêmico uff sob a orientação da Profª.Drª Márcia Carneiro
2
Charles-Jean-François Depont é o autor da carta, datada de 4.11.1789, cuja resposta por Burke
tornou-se o livro Reflexões sobre a revolução na França
3
Essencialmente um político experiente e um propagandista, em vez de um pensador com uma
filosofia sistemática para expor.
Burke também adverte ao seu interlocutor que, por conta da comunicação se dar por
carta, seus pensamentos e sentimentos seriam expressos à maneira que surgem em sua mente,
abandonando o estilo que ele julga ser formal.
Todavia, Burke não é um remetente que deixa o seu interlocutor sem a devida
apreciação de seu posicionamento sobre a revolução,e é da competência deste trabalho
apresentar algumas análises de relevância ao pensamento conservador; ainda que afirme que
estamos sujeito as circunstâncias, o filósofo Irlandês concede ferramentas que possibilitam
interpretar quais reações são adequadas, de modo que sua análise se firmará sobre elementos
que,segundo ele, torna-o apto para tal empreitada.
Inicialmente, ele se posiciona listando alguns fatores nos quais a revolução francesa
deve ser harmonizar, de maneira que sem a constatação dessa harmonia ele se abstém de
felicitar à França, até mesmo por considerar que nessas condições tal felicitação constituiria
adulação, que ele não considera útil ao povo. Ao que Burke julga essencial à harmonia com a
liberdade está:
“o governo, com o poder público, com a disciplina e a obediência dos
exércitos, com o recolhimento e a boa distribuição dos impostos, com a
moralidade e a religião, com a solidez da propriedade, com a paz e a
ordem,com os usos civis e sociais.Todas essas coisas são(à sua
maneira)bens,e se vierem a faltar,a liberdade deixa de ser um benefício e tem
pouca chance de durar muito tempo”(BURKE,2016,P.30,)
Surge uma questão de primeira ordem, pois qual seria a fundamentação que Burke
utiliza para aquilatar e nomear o que seria fundamental para que o novo regime mantivesse
sua liberdade.A essa questão convém esclarecer que o autor se baseia em valores como a
conservação e a correção, partindo da ideia de que a revolução não seria “uma imensa
subversão local, a ruína de um edifício plurissecular e a afirmação de novas relações de
classe.”(VOVELLE,2007,P.1), faz sentido que o autor condicione suas felicitações ao fato do
novo estado francês poder no futuro harmonizar-se com elementos que o antigo estado, em
sua análise,harmonizava e, como ele afirmou mais a frente, buscar a correção dos erros
utilizando a vasta experiência inglesa circunscrita em sua constituição.Sendo assim, Burke
situa seu pensamento historicamente, sem a pretensão de conceder uma receita atemporal; sua
análise fala a respeito de um País vizinho, cujas circunstâncias ele demonstra conhecer bem e,
quanto ao seu prognóstico, acontecimentos e dados mostram os efeitos deletérios da revolução
francesa, tendo como base, os elementos que Burke condiciona para saudar este movimento.
“O Diretório cobre quase a metade da Revolução Francesa (de abril de 1795
a outubro de 1799) e, no entanto, até reavaliações recentes, essa época, que
poderia ter sido a das consolidações vitoriosas, deixou para a história uma
lembrança medíocre ou simplesmente ruim. Tempo de facilidades e
corrupção, mas também de miséria e violência; tempo de instabilidade
sobretudo, classicamente resumido na imagem dos golpes de Estado”
(VOVELLE,2007,P.55)
é importante mencionar que Burke faleceu em 1797, de modo que não tomou
conhecimento de outros eventos decorrentes da revolução francesa assim como não teve
acesso a dados exatos sobre o impacto da revolução no continente europeu.
Burke tem plena ciência das implicações e do espraiamento do pensamento
revolucionário—tendo ele chamado o fato de grande crise europeia —, em sua carta, ele
mostra que a crise não estava circunscrita à França pelo fato não só da proximidade
geográfica entre os Países,mas, por conta do deslumbramento que aqueles eventos estavam
causando em cidadãos britânicos, que por sua vez sugeriam que a constituição da ilha deveria
ser revista com base nos pressupostos que orientavam os revolucionários. Esta possibilidade,
que os eventos franceses sirvam de exemplo aos britânicos, é rechaçado por Burke, cujas
considerações é que “a revolução Francesa é a mais espantosa que aconteceu até agora no
mundo” (BURKE,2016,P.32). O autor, que prezava sua constituição, o estado inglês e a
monarquia, percebia que os valores da revolução eram antípodas ao que se via em sua ilha e,
preocupado com a paz em seu País, ele põe-se a analisar as afirmações de um pastor
dissidente chamado Richard Price, analisando suas falas com a intenção de refutar suas
afirmações.
Sabendo a profissão e a origem dos discursos de Price, Burke tece críticas a utilização
de púlpitos de igrejas para finalidades políticas, especialmente revolucionárias, afirmando que
“Nenhum som deve ser ouvido na igreja além da voz curadora da caridade Cristã. A causa de
liberdade civil e governo civil ganha tão pouco quanto a de religião por essa confusão de
deveres” (BURKE,2012,P.9), novamente ele ampara sua fala na experiência histórica da
Inglaterra, fazendo um paralelo entre de Price e Hugh Peters, pastor puritano cuja associação
com Cromwell4 e participação no processo de Carlos I da Inglaterra, lhe rendeu a pena de
morte por regicídio. Essa associação mostra a percepção de Burke sobre Price, um “teólogo
político” subversivo, que mistificava a revolução gloriosa e a constituição inglesa e, com suas

4
Oliver Cromwell foi um político e militar inglês que governou a commonwealth da Inglaterra, Escócia
e Irlanda como lorde protetor (1653–1658), em um curto período também chamado de Interregnum.
interpretações falsas, buscava inaugurar novidades que não estavam de acordo com os atos
praticados pelo parlamento e povo britânico no momento da revolução gloriosa.Estes supostos
novos direitos ganhos com a revolução gloriosa e que Burke busca refutar são três e, aqui,
buscarei reproduzir as refutações dadas por Burke a cada uma delas. Antes de prosseguir nas
refutações de Burke, convém reforçar que o mesmo afirma que havia uma confusão por parte
de Price, que confundia a revolução na frança e a gloriosa, cujos princípios eram diferentes,
sendo a revolução gloriosa baseada na bill of rights5 e fruto do trabalho de notáveis juristas e
grandes estadistas, enquanto a revolução francesa seria feito por homens de letras 6, pessoas
desconhecidas,sem grande conhecimento nos assuntos do estado, clérigos obscuros de regiões
remotas e financistas, pessoas ávidas por poder e dinheiro, no que Burke lança a sentença:
”Quando quer que a autoridade suprema seja investida em um corpo assim
composto, ela precisa evidentemente produzir as consequências de
autoridade suprema colocada nas mãos de homens não ensinados
habitualmente a respeitar-se a si mesmos; que não tinham fortuna anterior de
caráter em risco; que não poderiam ser esperados a carregar com moderação,
ou a conduzir com discrição, um poder que eles mesmos, mais que quaisquer
outros, precisam estar surpresos de encontrar em suas
mãos.”(BURKE,2012,P.25-26).
Cabe ressaltar que Burke traça um paralelo com o parlamento inglês, em especial com a casa
dos comuns, que apresentaria,segundo Burke, uma composição de qualidade superior ao
Tiers État7Francês, no que ele afirma que ela é “enchida com toda coisa ilustre em posto, em
descendência, em opulência hereditária e em adquirida, em talentos cultivados, em distinção
militar, civil, naval e política, que o país pode fornecer” (BURKE,2012,P.26). Burke também
afirma é necessário que o indivíduo que almeja uma posição parlamentar não esteja apenas
atento a sua posição profissional, ele afirma que a composição da casa dos comuns não pode
ser restringir a uma composição estritamente profissional e de faculdade, antes, é preciso ter
pessoas com conhecimento de humanidade, com experiência em assuntos variados e uma
visão compreensiva da ampla gama de interesses que contribuem para a formação do estado.
Entretanto, ainda que a câmara dos comuns possa ser preenchida por indivíduos com esse
perfil que Burke julga prejudicial ao País, os malefícios dessa composição ficariam contidos
graças ao intricado sistema político inglês, onde o sistema bicameral, a instituição da
monarquia e a constituição serviriam como contrapesos e controles externos, fazendo com que

5
Declaração de direitos.
6
Ou filósofos, teóricos e metafísicos em acepção prática.
7
Terceiro estado.
haja harmonia entre os poderes do estado de modo que nenhum dos tais,tenham tanto poder
quanto a assembleia nacional, cujo ausência de controle possibilitou que eles fizessem uma
nova constituição segundo a sua vontade. Os checks and ballances8 evitariam que em
determinado momento, um grupo ou indivíduo detivesse tanto poder a ponto de reordenar
totalmente o sistema político e social, agindo como árbitro sem nenhuma restrição ao seu
poder; acerca disto, Burke diz que, na revolução gloriosa, a nação gozou de tamanha liberdade
que era possível até mesmo abolir a monarquia e toda a constituição,todavia, essas alterações
não aconteceram. Ele também afirma sobre a impossibilidade de estabelecer os limites do
poder em meio a situações como a vivenciada nesta revolução, dizendo, contudo:
“mas os limites de uma competência moral, sujeitando, mesmo em poderes
mais indisputavelmente soberanos, vontade ocasional a razão permanente, e
às máximas estáveis de fé, justiça, e política fundamental fixa, são
perfeitamente inteligíveis, e perfeitamente vinculantes sobre aqueles que
exercem qualquer autoridade, sob qualquer nome, ou sob qualquer título, no
estado.” (BURKE,2012, P.15).
Após expor essa crítica à Price por conta da falsa alegação de similaridades entre as
duas revoluções, analisarei os argumentos utilizados contra a alegação que a revolução
gloriosa concedeu três direitos: "1. De escolher nossos governantes. 2. De demiti-los por má
conduta. 3. De estruturar um governo por nós mesmos.” (BURKE.2012,P.11).
Sobre a primeira alegação, há ainda a questão levantada por Price e que está
intrinsecamente ligada, que o Rei da Inglaterra “é quase o único rei legítimo no mundo,
porque o único que deve sua coroa à escolha de seu povo." (BURKE,2012,P.10).A esta
alegação Burke respondeu jocosamente dizendo que Price arroga poderes que não possui, pois
não compete ao mesmo definir a legitimidade dos Reis, ainda afirma que o atual soberano
inglês não recebeu sua coroa por conta da escolha do seu povo e, que esse direito não está
ancorado nos documentos constitucionais ingleses e também não foi vontade do parlamento
quando de fato podia ter inaugurado isto, antes, sendo apenas uma mera invenção de Price que
colocaria a legitimidade do monarca britânico sob bases duvidosas, trazendo insegurança a
coroa que na verdade seria obtida por sucessão hereditária garantida a linhagem protestante
do Rei Jaime.
Quanto à segunda alegação, a justificação deste direito está no processo parlamentar
que levou o Rei James II a abdicar; porém há, na análise de Burke, não um caso indefinido e
abstrato de má-conduta, mas, uma acumulação de circunstância que possibilitaram a

8
Sistema de freios e contrapesos
declaração de vacância do trono. Burke concede argumentos que impossibilita fazer um juízo
sistemático de quando é legítimo depor um Rei, pois ao analisar o caso inglês, ele afirma que
o processo contra Jaime II foi justo, porém, ele não cria regras, afirmando isso:
A linha especulativa de demarcação, onde obediência deveria acabar, e
resistência precisa começar, é fraca, obscura, e não facilmente definível. Não
é um ato singular, ou um evento singular, que a determina. Governos
precisam ser abusados e desarranjados de fato, antes que se possa pensar
nela; e o prospecto do futuro precisa ser tão ruim como a experiência do
passado. Quando as coisas estão nessa lamentável condição, a natureza da
doença é para indicar o remédio para aqueles a quem a natureza qualificou a
administrar em extremidades essa crítica, ambígua, amarga porção para um
estado destemperado. Tempos e ocasiões, e provocações, ensinarão suas
próprias lições” (BURKE,2012, P.19).

Sobre o terceiro direito, Burke se limita a dizer que não encontra nenhum fundamento
legal e se exime de traçar mais comentários que busquem mostrar que Price cometeu um mal-
entendido.
Burke também atacará a metafísica como projeto político, a noção de direitos abstratos
e a possibilidade de reordenação controlada de toda sociedade. Suas críticas se baseiam no
fato de que o seu projeto político deve estar baseado na tradição nacional, nos valores e
instituições que chegam pelos antepassados, como podemos perceber com essa afirmação:
“Nós desejamos ao período da Revolução, e desejamos agora, derivar tudo
que possuímos como uma herança de nossos antepassados. Sobre esse corpo
e estoque de herança nós temos tomado cuidado para não inocular qualquer
broto alienígena à natureza da planta original. Todas as reformas que
fizemos até hoje, têm procedido sobre o princípio de referência a
antiguidade; e eu espero, não eu sou persuadido, que todas as que
possivelmente sejam feitas doravante, serão cuidadosamente formadas sobre
precedente, autoridade e exemplo analógicos.” (BURKE,2012,P.22)
Esta inspiração no passado também deveria ter auxiliado os franceses, pois ainda que a
nação carecesse de pessoas capazes de exercer um papel de grandeza no Estado, havia na
história francesa, segundo Burke, grandes ancestrais que serviriam de referência, entretanto, a
tentativa de reordenação total da sociedade por abstrações metafísicas imperou em detrimento
das instituições e tradições do povo Francês.
Por fim chegamos aos dois conceitos centrais da teoria política conservadora, a saber,
conservar e corrigir. Partindo da ideia de Burke que a sociedade é um contrato entre os nossos
ancestrais, nós que estamos vivos e nossa descendência, compete a nós a recepção e
manutenção da herança que recebemos, aplicando as devidas correções e transmitindo-a com
os devidos melhoramentos a geração seguinte que por sua vez fará o mesmo ad infinitum.
Burke afirma que o Estado não deve ser estático, haverá necessidade de mudanças e elas serão
fundamentais para a continuação da sociedade, entretanto, tais mudanças não podem ocorrer
sem consulta a memória dos veneráveis ancestrais e a todo momento, é preciso que haja
estabilidade,constância e que valores fundamentais herdados sejam preservados, é necessário
prudência e sabedoria, todavia, não há uma definição precisa para ambas pelo fato do autor
considerar que cada situação estará cercada por uma tradição e circunstância que exigirão uma
compreensão particular, não existindo uma definição atemporal do que são sabedoria e
prudência.
Burke também comenta sobre o continente europeu, creditando as heranças e as coisas
que julga como boas como decorrentes de dois princípios: O espírito da religião e o espírito
do cavalheiro.
“Nada é mais certo, que que nossas maneiras, nossa civilização, e todas as
coisas boas que são conectadas com maneiras, e com civilização, têm, nesse
mundo Europeu nosso, dependido por eras sobre dois princípios; e foram de
fato o resultado de ambos combinados; eu quero dizer o espírito de um
cavalheiro, e o espírito de religião. A nobreza e o clero”
(BURKE,2012,P.46)
O papel dessas duas instituições é deveras importante, de modo que Burke afirma que
prescindir delas é tornar a nação um lar de “grossos, estúpidos e ferozes” (BURKE.2012,P.46)
Na opinião de Burke a França abandonou ambos os valores e se entregou a
experimentação metafísica, seu prognóstico de que as mudanças no novo estado francês se
espraiariam pela Europa se concretizaram e o século XIX foi, de acordo com o pensamento de
Burke, ainda mais atribulado que o anterior.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
VOVELLE, Michel. A revolução francesa: 1789-1799. Edições 70, 2007.
O'GORMAN, Frank. Edmund Burke. Routledge, 2004.
BURKE, Edmund. Reflexões sobre a Revolução na França. Tradução de
Herculano de Lima Einloft Neto,2013
BURKE, Edmund. Reflexões sobre a Revolução na França. Edipro,2016

Das könnte Ihnen auch gefallen