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Cap. 4. Transístor de efeito de campo ................................................................................ 4.1
4.1 Introdução
É constituído por um cristal único no qual a zona do meio, o canal, tem impurezas de
substituição de tipo diferente ao das zonas extremas muito mais dopadas.
- 4.1 -
A Fig.4.1 representa um transístor JFET de canal n com estrutura simétrica. Neste caso
existem duas portas iguais, que estarão ligadas ao mesmo potencial. Na hipótese de depleção
total e em equilíbrio termodinâmico tem-se
2εVc 0 N A 1
xn = (4.1)
q ND ( N A + ND )
G1
IG1
UGS1
UDS
p+
xp
xn
IS ID
n
S 2a p
p+
- Fig.4.1 -
Representação esquemática de um JFET
Quando U DS = 0 e U GS < 0, a largura da região de transição aumenta, uma vez que a junção
pn fica polarizada inversamente. A largura da zona de transição será constante ao longo do
canal e dada por
xn = A VC1 = A VC 0 − U GS (4.2)
Quando U DS > 0 , os pontos do canal junto ao dreno ficam mais inversamente polarizados, o
que faz com que a largura do canal deixe de ser uniforme. A influência de U DS > 0 pode ser
descrita por um aumento da resistência do canal. Assim enquanto a inclinação das
- 4.2 -
características para U DS U GS for independente de U DS , o valor da resistência equivalente
depende apenas da tensão na porta, diminuindo com o aumento desta. Para elevados valores
de U DS , torna-se dependente também da tensão de dreno, aumentando à medida que esta
aumenta. Uma vez que a largura do canal não é constante (Fig.4.2), a densidade de corrente
tem, tal como E , duas componentes, uma segundo x e outra segundo y. As equipotenciais
passam a ser função de x e de y, também. Na medida em que as equipotenciais possam ser
consideradas planos perpendiculares a y, a análise que temos vindo a fazer pode tomar-se
como uma boa aproximação. Embora seja na aproximação unidimensional que nos iremos
situar, deveremos ter sempre presente que essa não é seguramente uma boa aproximação
quando o canal se aproxima do estrangulamento do lado do dreno.
UDS IG
y
xn (y)
IS a n ID
S D
L
(a)
y
V = const. xn(y)
Vn . . .
V4
V3
J V2
V1
(b)
- Fig.4.2 –
U DS < 0 e U GS < 0
(a) O canal no JFET (b) Superfícies equipotenciais no JFET
- 4.3 -
Num tratamento unidimensional
Vc1 ( y ) xn ( y )
= (4.3)
VCP a
dVc1 ( y )
J D ≅ −σ E y = σ (4.4)
dy
ID = JDS ( y) (4.5)
S ( y ) = 2 ⎡⎣ a − xn ( y ) ⎤⎦ b (4.6)
sendo b a dimensão do canal na direcção normal à figura. Substituindo (4.4) e (4.6) em (4.5)
⎡ x ( y ) ⎤ dVc1 ( y )
I D = 2abσ ⎢1 − n (4.7)
⎣ a ⎥⎦ dy
Tendo em conta (4.3) obtém-se
⎡ V ( y ) ⎤ dVc1 ( y )
I D = 2abσ ⎢1 − c1 ⎥ (4.8)
⎢⎣ VCP ⎥⎦ dy
Integrando entre y = 0 e y = L
ab ⎡V + U − U VC 0 − U GS 2 ⎛ VC 0 + U DS − U GS ⎞
3/ 2
2 ⎛ VC 0 − U GS ⎞ ⎤
3/ 2
I D = 2σ VCP ⎢ C0 DS GS
− − ⎜ ⎟ + ⎜ ⎟ ⎥ (4.11)
L ⎢⎣ VCP VCP 3⎝ VCP ⎠ 3 ⎝ VCP ⎠ ⎥⎦
- 4.4 -
Usando (4.11) para a situação de estrangulamento, o que, contudo, sabemos não ser uma boa
aproximação, tem-se para corrente de saturação
ab ⎡ V −U 1 2 ⎛ VC 0 − U GS ⎞ ⎤
3/ 2
I Dsat = 2σ VCP ⎢ − C0 GS
+ + ⎜ ⎟ ⎥ (4.12)
L ⎢⎣ VCP 3 3 ⎝ VCP ⎠ ⎥⎦
A corrente de saturação representa assim o valor máximo que se pode obter para a corrente,
fixado um valor para a tensão U GS . Corresponde a uma saturação de corrente. Verifica-se na
pratica que, para um dado valor de U GS , a corrente aumenta para além do valor de I Dsat . A
análise desta zona não pode ser unidimensional, uma vez que as equipotenciais se afastam
muito de planos perpendiculares a y. O ponto onde se dá o estrangulamento aproxima-se da
fonte à medida que aumenta U DS . É este encurtamento do canal que é responsável pelo
aumento da corrente nessa zona, designada por zona de saturação. O início desta zona
corresponde a VC 0 − U GS + U DS = VCP , o que substituído em (4.12) conduz a
ab ⎡U 2 2 ⎛ U DS ⎞ ⎤
3/ 2
I Dsat = 2σ VCP ⎢ DS
− + ⎜1 − ⎟ ⎥ (4.13)
L ⎢⎣ VCP 3 3 ⎝ VCP ⎠ ⎥⎦
transístores bipolares a designação de saturação não tem qualquer equivalência com aquela
que nos FET é designada por saturação. Aqui trata-se de uma saturação em corrente. Nos
transístores bipolares tratava-se de uma saturação em tensão.
ID
UGS1
UGS2
UGS3
ΔU GS = U GS 1 − U GS 2 = U GS 2 − U GS 3
= U GS 3 − U GS 4 = …
ΔU GS > 0
UDS
- Fig.4.3 -
Características estacionárias I D = I D (U DS , U GS ) .
- 4.5 -
Na Fig.4.3 é visível a zona de disrupção, resultante do aumento do campo eléctrico junto do
dreno, que é onde a polarização inversa é mais intensa. Dá-se para valores de U DS tanto
menores quanto mais negativo for U GS . Na característica pode verificar-se também que para
igual variação ΔU GS entre as características, as variações ΔI Dsat são tanto maiores quanto
menor U GS . Para U DS < 0 a junção do lado do dreno fica cada vez mais positiva, não
O que foi dito para um JFET de canal n é válido par um JFET de canal p, se trocarmos os
electrões por buracos. As equações serão igualmente válidas se trocarmos os sentidos à
corrente e os sentidos às tensões, ou, o que é equivalente, se nas equações substituirmos
U GS e U DS , respectivamente, por U SG e U SD . Os símbolos dos transístores JFET estão
representados na Fig.4.4. O sentido da seta no terminal da porta corresponde ao sentido de p
para n.
D D D
G G G1 G2
S S S
- Fig.4.4 -
Simbologia
(a) canal n (b) canal p (c) dupla porta, canal n
N AND W
VC 0 = U T ln 2
= U T ( ln N A N D − ln N C NV ) + G (4.14)
ni q
- 4.6 -
• Variação das mobilidades com a temperatura
O aumento da temperatura conduz a uma diminuição da mobilidade e, portanto, da
condutividade do canal.
• Variação da geração e da recombinação na zona de transição
Os efeitos (i) e (ii) compensam-se. É possível por escolha adequada da polarização fazer
com que os três efeitos se cancelem, ou que sejam minimizados, de modo a ter uma
estabilidade térmica elevada para os transístores JFET.
Num dispositivo de canal n o MOSFET é formado por um monocristal, no qual existe uma
zona de tipo p, o substrato, e duas zonas dopadas com dadores, de tal modo que N D NA ,
separadas por parte do substrato. Sobre cada zona de tipo n são estabelecidos os contactos
óhmicos. São os terminais do dreno e da fonte. Sobre o cristal entre essas duas zonas é
depositado um isolante, ao qual está também ligado um contacto metálico, designado por
porta. A primeira diferença com o JFET é que, devido à presença do isolante, a corrente de
gate é sempre desprezável, independentemente da polaridade da tensão U GS . A estrutura
básica está representada na Fig.4.5. A espessura do óxido d pode variar de centenas de Å a
alguns microns, a distância do dreno à fonte L é da ordem da dezena de mícron e o
comprimento dos eléctrodos é da ordem do milímetro. Existe um quarto terminal designado
por substrato (bulk, na designação anglo-saxónica), que na maioria dos casos está ligado à
fonte, mas que noutros casos permite que se estabeleça uma diferença de potencial entre esses
dois terminais. Analogamente ao JFET, o que for dito para um MOS de canal n é válido par
um MOS de canal p, se trocarmos os electrões por buracos. As equações serão igualmente
válidas se nas equações substituirmos U GS e U DS , respectivamente, por U SG e U SD .
Com o terminal da gate em aberto, não haverá condução entre os terminais do dreno e da
fonte. Com efeito, qualquer que seja a polaridade de U DS , existe sempre no percurso uma
junção inversamente polarizada. De salientar que não se trata da mesma situação que no
transístor bipolar, uma vez que para estes a base é estreita e no FET a zona entre o dreno e a
fonte é suficientemente extensa para que a interacção entre as junções pn seja desprezável.
- 4.7 -
UDS
UGS G
metal
IG
S D
IS ID
Isolante d
n+ n+
2n xp
L
UBS
p
- Fig.4.5 -
Representação esquemática de um MOSFET
Quando a porta se torna positiva, haverá um campo eléctrico dirigido do metal para o
semicondutor, dando origem à acumulação de carga negativa no semicondutor que se estende
junto à superfície de separação óxido-semicondutor, mas que penetra em profundidade pelo
semicondutor. A carga associada é da responsabilidade de electrões e de impurezas
aceitadoras ionizadas que ocupam uma zona depleta muito maior que a associada à camada de
electrões. Os electrões acumulados podem dar origem a uma zona com condutividade
elevada. Diz-se então que existe um canal de tipo n. A aplicação de uma tensão entre o dreno
e a fonte faz agora aparecer uma corrente no circuito exterior. Tal como no caso do JFET, a
corrente de dreno está associada à presença de uma tensão aplicada à porta. No caso do JFET
a tensão de porta faz aparecer um campo eléctrico que de certa forma modela a geometria do
canal. No MOSFET o campo eléctrico faz variar a condutividade do canal. Consideremos
duas situações
• U DS U GS
inverso da resistência do canal. Esta é no entanto modelada pela tensão U GS , sendo tanto
menor quanto mais positiva for a tensão U GS . A situação está representada na Fig.4.6.
- 4.8 -
UDS
UGS ID
ID
n+ n+
UGS = const.
UDS
- Fig.4.6 -
Canal e característica estacionária tensão-corrente para U DS U GS
• U DS ≈ U GS
UGS
ID
ID
n+ n+
UGS = const.
UDS
- Fig.4.7 -
Canal e característica estacionária tensão-corrente para U DS ≅ U GS
À medida que U DS aumenta, a inclinação da curva diminui, até que o canal estrangula no lado
do dreno fazendo com que a corrente de dreno se mantenha praticamente constante com
sucessivos aumentos de U DS . Na realidade, e tal como se viu para o JFET, a corrente continua
a aumentar com a tensão aplicada entre o dreno e a fonte mas de forma muito menos
acentuada. De realçar que o estrangulamento do canal não deve ser entendido como o
anulamento da corrente, como uma imagem clássica poderia fazer supor, mas antes a entrada
- 4.9 -
na saturação. Significa que a condutividade do canal desde o ponto de estrangulamento até ao
dreno é muito baixa e que, por isso mesmo, para que se possa garantir uma corrente finita
( J = σ E ) , o campo eléctrico deve ser muito intenso na vizinhança do dreno. A situação está
representada esquematicamente na Fig.4.8.
UDS
UGS
ID
ID
UGS = const.
n+ n+
UDS
- Fig.4.8 -
Canal e característica estacionária tensão-corrente para U DS > U DSmin = U GS − U GSlim
Se designarmos por tensão de limiar U GSlim a tensão mínima a aplicar à porta para fazer
aparecer o canal e se admitirmos que o canal desaparece no dreno, então para que a corrente
de dreno iguale a corrente de saturação deverá ser superior a U DS , tal que min
uma vez que nessa situação se tem U GD = U GSlim . Na literatura anglo-saxónica é usual designar
a tensão de limiar por VT , do termo anglo-saxónico threshold, que significa limiar. Deste
- 4.10 -
Os valores de U DS > 0 estão usualmente limitados pelos fenómenos de disrupção. Estes
podem ser de três tipos:
• U DS < 0
No caso do canal existir, ou seja se U GS > VT , ter-se-á sempre U GD > VT , ou seja o canal
nunca estrangula no lado do dreno. A situação está representada de forma esquemática na
Fig.4.9.
UDS
UGS
ID
ID
UDS
n+ n+
p
UGS
- Fig.4.9 -
Canal e característica estacionária tensão-corrente para U DS < 0 e U GS > U GSlim
- 4.11 -
A corrente tem assim uma variação monotónica com a tensão, ou seja, I D cresce sempre
com U DS . A corrente deverá ser assim limitada pelo circuito exterior para que não seja
ID
U GS 0 ≤ VT
U GS 4 > U GS 3 > U GS 2 > U GS1 > VT
UGS4
UGS3
UGS1
UGS2
UDS
UGS0
UGS0
UGS4
- Fig.4.10 -
Características estacionárias tensão-corrente num MOSFET
- 4.12 -
-semicondutor. O campo eléctrico é inerente ao dispositivo, como em qualquer junção, mas
pode também ser imposto exteriormente. A influência da formação do canal pelo campo
exterior é dada através de U GS . O campo inerente ao dispositivo tem a ver com as cargas
existentes na superfície de separação entre os vários materiais, ou dito de outra forma, está
associado às diferenças de potencial de contacto das heterojunções metal-óxido e óxido-
semicondutor. Analisemos duas situações: U GS = 0 e U GS ≠ 0.
• Equilíbrio termodinâmico (U GS = 0 )
Vamos admitir que além desta condição, se verifica que a diferença de potencial de contacto
metal-semicondutor é nula (VMS = 0) , que a carga no óxido é nula (Qox = 0) e que as cargas
W
Óxido
Metal Semicondutor
≈ ≈
WC0
Wi0
WF WF0
WV0
WCM
-a 0
x
- Fig.4.11 -
Diagrama de bandas na situação de equilíbrio termodinâmico com VMS = 0; QOX = 0; QOS = 0
O diagrama de bandas de energia é o representado na Fig.4.11, onde se pode ver que não
existem encurvamentos, uma vez que não existem cargas localizadas. O nível de Fermi é o
mesmo para todos os materiais, uma vez que é apenas função da temperatura.
- 4.13 -
ρ
Metal Óxido Semicondutor
+Q
-Q
d
x
-a
−qN A−
- Fig.4.12 -
Distribuição da densidade de carga em equilíbrio termodinâmico com VMS > 0
qN A
E S = E S0 − x (4.16)
εS
onde ES0 , representa o campo eléctrico na superfície de separação entre o óxido e o
ES 0
x
-a d
- Fig.4.13 -
Distribuição do campo eléctrico equilíbrio termodinâmico com VMS > 0
ε OX
ES 0 = E (4.19)
ε S OX
de (4.17) e (4.19) obtém-se
- 4.14 -
EOX
d= ε OX (4.20)
qN A
• x ≥ 0:
qN A 2 qN A 2
VS ( x) = ES0 (d − x) − d + x (4.21)
2ε S 2ε S
donde se obtém VS (d ) = 0 e
qN A 2 d
φS = VS (0) = d = ES 0 (4.22)
2ε S 2
• −a ≤ x ≤ 0 :
• x ≤ −a :
VMS
V0X
φS
x
-a d
- Fig.4.14 -
Distribuição do potencial em equilíbrio termodinâmico com VMS > 0
- 4.15 -
N A = 1020 m −3 ; VMS = 0,85 V ; a = 1μ m; ε OX = 3,95ε 0 ; ε S = 12ε 0
qN A qN A 2
VMS = da + d (4.26)
ε OX 2ε S
A Fig.4.15 traduz o andamento das bandas de energia para a situação estudada, utilizando as
relações (4.21) a (4.26) e tendo em conta que
WC ( x) = WC0 − qV ( x) (4.27a)
WV ( x) = WV0 − qV ( x) (4.27b)
Óxido
Metal Semicondutor
≈ ≈
WC0
Wi0
WF0
WV0
-a
x
0 d
- Fig.4.15 -
Bandas de energia no metal-óxido-semicondutor em equilíbrio termodinâmico com VMS > 0
Juntando à condição VMS ≠ 0, as condições QOX ≠ 0 e QOS ≠ 0, obtêm-se, por via análoga,
resultados idênticos aos descritos. O sentido do campo associado às cargas pode no entanto
- 4.16 -
conduzir a um encurvamento oposto ao representado na Fig.4.15, o que traduziria uma
acumulação de buracos na zona do substrato próximo do óxido. É uma situação que não
interessa, uma vez que como vimos essa situação levaria à existência de uma junção sempre
inversamente polarizada qualquer que fosse a polaridade da tensão aplicada entre o dreno e a
fonte e, consequentemente, a uma corrente de dreno desprezável. A estatística clássica (como
aproximação da estatística de FD) dá-nos o valor da densidade de electrões (buracos) em
termos da distância da banda de condução (valência) ao nível de Fermi
( )
− WC −WF0 / kT
n = NC e (4.28a)
(WV −WF0 ) / kT
p = NV e (4.28b)
φS = =
(
2ΔW 2 Wi0 − WF0 p)
= 2U T ln 0 (4.29)
inv
q q ni
Admitamos que VMS = 0, QOS = QOX = 0. A tensão aplicada distribui-se pelo óxido e pelo
semicondutor de tal modo que
U GS = VOX + φS (4.30)
Sendo QS a carga induzida no substrato semicondutor pela tensão U GS . É dada pela soma da
carga móvel associada aos electrões, Qn , com a carga fixa associada às impurezas ionizadas,
QB .
QS = Qn + QB (4.31)
- 4.17 -
As cargas Qn , QB e QS são definidas por unidade de área. A relação (4.31) pressupõe que já
exista carga móvel, isto é canal, caso contrário, QS = QB . Sendo COX a capacidade do óxido
por unidade de área , tem-se
QS
VOX = − (4.32)
COX
sendo COX = ε OX / a. Se admitirmos que essa heterojunção pode ser assumida como
2ε S φS
d= (4.33)
qN A−
Se adicionalmente admitirmos que, para φS < φSinv , toda a carga induzida por U GS contribui
para a carga depleta QB e que, para φS > φSinv , a tensão contribui para a carga no canal Qn
2ε S φSinv
d max (4.34)
qN A−
A tensão U GS associada ao aparecimento do canal, por definição U GSlim , é assim dada por
QB
U GSlim = − + φSinv (4.35)
COX
onde QB = −qN A− d max . A partir de U GSlim , admitiremos que toda a carga induzida pertence ao
QB Q
U GS = − + φSinv − n (4.36)
COX COX
- 4.18 -
ρ
+Q Qn + Q B + Q = 0
QB
x
-a dmax
Qn
-Fig.4.16-
Distribuição de carga para U GS > U GS
lim
direitas U GSBD , como a tensão que é necessário aplicar para colocar as bandas direitas, ou seja,
QOS QOX
U GSBD = −VMS − − (4.37)
COX COX
A tensão porta-fonte de limiar, ou seja, a tensão porta-fonte necessária para que o canal se
forme, será assim dada por
QB Q Q Q
U GSlim = U GSBD − + φSinv = −VMS − OS − OX − B + φSinv (4.38)
COX COX COX COX
enriquecimento ou reforço. Os MOSFET de canal n com U GSlim < 0 são de depleção e os com
U GSlim > 0 são de reforço. Nos MOSFET de canal p define-se U SGlim . Os transístores com
U SGlim < 0 são de depleção e os com U SGlim > 0 são de reforço. Os símbolos utilizados para os
- 4.19 -
vários MOSFET estão representados na Fig.4.17. No caso de existir um terminal de substrato
(B) é possível criar uma tensão entre a fonte e o substrato (U SB ) . Esta tensão deve ter a
polaridade tal que a junção pn que lhe está associada esteja polarizada inversamente, caso
contrário existe uma corrente transversal ao canal que é importante e deixa de se poder
considerar que I D = I S . A tensão U GSlim é ainda dada por (4.38), mas a carga fixa no canal é
2ε S qN A−
QB = −
COX2 (
U SB + φSinv )
(4.39)
Em (4.39) verifica-se que se U SB > 0 , a carga fixa na zona de depleção aumenta, atrasando a
formação do canal. O seu efeito é portanto aumentar o valor da tensão U GSlim . Inverter a
polaridade desta tensão conduz ao problema atrás referido (polarização directa da junção pn
associada), além do facto de uma tensão directa numa junção poder assumir um leque de
valores muito restrito. O controlo da tensão de limiar seria desse modo desprezável.
D D D D
reforço depleção reforço depleção
G G G G
S S S S
Canal n Canal p
-Fig.4.17-
Simbologia
S ( y ) = xC ( y )b (4.40)
sendo b a dimensão segundo z.
- 4.20 -
A corrente de dreno é dada por
∫ ( J , −uˆ ) dS = ∫
xC ( y )
ID = y qbn( x, y ) μn ( x, y ) dV dy
( x, y )
dx (4.41)
0
S ( y)
xC ( y )
I D = b dVdy( y ) ∫ qn( x, y ) μn ( x, y )dx = −bμn*Qn ( y ) dVdy( y ) (4.42)
0
onde se considerou
xC ( y )
∫
0
qn( x, y ) μ n ( x, y )dx = − μ n*Qn ( y ) (4.43)
Qn ( y ) em (4.42) e (4.43) representa a carga por unidade de área no canal, que é função da
μn* U DS
I D = −b
L ∫
0
Qn ( y )dV ( y ) (4.44)
De (4.31) tem-se
Qn ( y ) = QS ( y ) − QB ( y ) (4.45)
Sendo QS ( y ) e QB ( y ) a carga móvel e a carga fixa no canal, respectivamente. São dadas por
- 4.21 -
COX ⎡ ⎤
( )
2
U DS
I D = bμn* ⎢ GS
U − U GSlim U DS − ⎥ (4.49)
L ⎣ 2 ⎦
I D = bμn*
COX
L
(
U GS − U GSlim U DS ) (4.50)
A situação descrita por (4.50) corresponde a um canal de largura constante e associado a uma
resistência dada por
L
Rcanal = (4.51)
(
bμ COX U GS − U GSlim
*
n )
A entrada na saturação corresponde ao estrangulamento do canal junto ao dreno, ou seja para
bμn*COX
( )
2
I D = I Dsat = U GS − U GSlim (4.53)
2L
Para U GS < U DS1 + U GSlim o transistor está na saturação, sendo a relação quadrática e dada por
A
( )
2
ID = U GS − U GSlim (4.54)
2
Quando U GS > U DS1 + U GSlim o transistor está na não saturação, sendo a relação linear e dada
por:
⎡ 2
⎤
( )
U DS
I D = A ⎢ U GS − U GSlim U DS1 − 1
⎥ (4.55)
⎢⎣ 2 ⎥⎦
- 4.22 -
U DS1 U DS1
ID ID
Não
Saturação
Saturação
Saturação
corte corte
Vamos admitir que as variações das grandezas envolvidas são suficientemente lentas para que
possam ser consideradas como uma sucessão de estados estacionários. Usando o
desenvolvimento em série em torno do ponto de funcionamento em repouso I D0 , U DS0 e U GS0
⎛ ∂I D ⎞ ⎛ ∂I D ⎞
I D = I D0 + ⎜ ⎟ ( U GS − U GS0 + ⎜) ⎟ (
U DS − U DS0 + ... ) (4.56)
⎝ ∂U GS ⎠ PFR ⎝ ∂U DS ⎠ PFR
A não consideração dos restantes termos do desenvolvimento impõe que as variações tenham
amplitudes muito pequenas centradas em torno do ponto de funcionamento em repouso.
Dizem-se por isso incrementais. Designa-se por transcondutância o parâmetro que representa
a variação da corrente com a tensão porta-fonte. É dada por
⎛ ∂I D ⎞
gm = ⎜ ⎟ (4.57)
⎝ ∂U GS ⎠ PFR
⎛ ∂I D ⎞
g DS = ⎜ ⎟ (4.58)
⎝ ∂U DS ⎠ PFR
- 4.23 -
ΔI D = g m ΔU GS + g DS ΔU DS (4.59)
O esquema incremental do transístor MOSFET pressupõe como atrás foi referido que as
grandezas variáveis sejam de pequena amplitude para que as relações entre as grandezas
envolvidas sejam lineares. Representando as grandezas variáveis por letras e índices
minúsculos, a equação (4.59) tomará o aspecto seguinte
id = g mu gs + g ds uds (4.60)
Apliquemos essas equações ao MOSFET em cada uma das zonas de funcionamento. Assim
para a zona de não saturação tem-se
b *
gm = μnCOX U DS (4.61)
L
g ds =
b *
L
(
μnCOX U GS − U GSlim − U DS ) (4.62)
A equação (4.61) mostra que a transcondutância na zona de não saturação cresce linearmente
com a tensão dreno-fonte. Na zona de saturação tem-se
gm =
b *
L
(
μnCOX U GS − U GSlim ) (4.63)
g ds = 0 (4.64)
I Dsat
gm = (4.65)
(U GS − U GSlim )
Se compararmos a transcondutância do TBJ, dada por (3.49), com a do MOSFET, dada por
(4.65), vemos que os valores assumidos para as mesmas correntes, isto é para I C ≅ I Dsat , são
Volt, verifica-se que g m TBJ g m MOS . Esta é uma vantagem dos transístores bipolares face aos
- 4.24 -
id
G D
gmugs
ugs
uds
S
-Fig.4.19-
Modelo incremental do MOSFET na zona de saturação
Num transístor real a corrente na zona de saturação depende no entanto da tensão U DS . Com
efeito, o aumento desta tensão faz com que o ponto de estrangulamento do canal se aproxime
da fonte, levando a uma diminuição do comprimento efectivo do canal. É essa diminuição que
é responsável pelo aumento da corrente. O efeito pode ser modelizado, tal como o efeito de
Early nos bipolares, por uma resistência rds em paralelo com a fonte de corrente controlada
I D = I Dsat (1 + λU DS ) (4.66)
g ds = I DS λ = rds−1 (4.67)
Em muitas aplicações o terminal do substrato ou corpo está ligado à fonte. Nessas condições o
substrato não tem função nenhuma e pode ser ignorado. Nos circuitos integrados, o substrato
é geralmente comum para vários transístores e liga-se por isso ao pólo negativo da bateria (ou
ao pólo positivo da bateria no caso dos transístores de canal p). Estabelece-se, como referido
em 4.3.2, uma diferença de potencial entre a fonte e o substrato que altera a tensão gate-fonte
de limiar. Qualquer variação de U BS provocará uma variação em I D . Ou seja, a tensão de
substrato passa a controlar a corrente de dreno. Este efeito designa-se por efeito de corpo. No
modelo incremental este efeito é tido em linha de conta considerando uma fonte de corrente
controlada g msb usb em paralelo com a fonte de corrente g mu gs . O modelo incremental do
MOSFET na zona de saturação entrando em conta com estes efeitos está representado na
Fig.4.20.
- 4.25 -
G D
-Fig.4.20-
Modelo incremental do MOSFET na zona de saturação
(efeito do encurtamento do canal e efeito de corpo)
G Cgd
D
gmugs
Cgs
-Fig.4.21-
Modelo incremental do MOSFET na zona de saturação (altas frequências)
As capacidades diferenciais podem ser obtidas a partir da carga por unidade de área no canal
Qn ( y )
Qn ( y ) = COX ⎡U GS − U GS − V ( y ) ⎤ (4.68)
⎣ lim ⎦
A equação (4.68) é equivalente a (4.45), admitindo que até ao limiar a tensão U GS contribui
para a carga fixa e a partir daí contribui apenas para a carga móvel. A corrente de dreno é
dada por
dV ( y )
I D = −bμn*Qn ( y ) (4.69)
dy
De (4.69) resulta
- 4.26 -
y V ( y)
2
V ( y ) = U GSE ± U GS
2
− ID y (4.71)
E
A
sendo A = COX bμn* e U GSE = U GS − U GSlim . A carga total por unidade de comprimento é dada por
y=L
Qtotal = ∫ Q ( y)dy
y =0
n (4.72)
A ⎡⎛ 2 2 LI D ⎞
3/ 2
⎤
Qtotal =− COX ⎢⎜ U GSE − ⎟ − U GSE ⎥
3
(4.73)
3I D ⎢⎣⎝ A ⎠ ⎥⎦
Qtotal
2
= COX L 2
3
U GDE
3
(
− U GS E
) (4.74)
3 (
U GDE − U GS E
2
)
onde U GDE = U GSE − U DS . A carga por unidade de área é dada por Qtotal / L , pelo que as
Cgs =
1 ∂Qtotal 1 ∂Qtotal 2
= = COX
U GSE U GSE + 2U GDE ( ) (4.75)
L ∂U GS L ∂U GSE 3 ( )
2
U GSE + U GDE
Cgd =
1 ∂Qtotal 1 ∂Qtotal 2
= = COX
U GDE U GDE + 2U GSE ( ) (4.76)
L ∂U GD L ∂U GDE 3 ( )
2
U GSE + U GDE
Na zona de saturação a corrente e a carga total por unidade de comprimento são dadas por
I D = I DS = AU GS
2
E
/(2 L) (4.77)
2
Qtotal = COX LU GSE (4.78)
3
- 4.27 -