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FICHAMENTO

LUNA, Carolina Gosch Figner de. A poética da Compagnie Dos à Deux: história, construção
do gesto e princípios do treinamento (vivências, notas e entrevistas com André Curti e Artur
Ribeiro). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Teatro do Centro de Artes,
da Universidade do Estado de Santa Catarina – 2015.

INTRODUÇÃO
“ [...] A companhia é franco-brasileira e foi fundada em Paris no ano de 1998. Desde o ano de
2010, possui mais uma sede, localizada no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro – RJ. Em sua
formação artística mais recente, há oito atores-dançarinos, contando com os diretores, e um ator
convidado. Há também duas equipes técnicas: a brasileira e a francesa.” (LUNA, 2015, p. 23)

“[...]Frequentemente, se apresenta como ​convidada de importantes eventos nacionais e


internacionais de teatro e de dança​, que, por sua vez, são ​as duas linguagens artísticas utilizadas
pelos diretores tanto em seu treinamento diário como em cada processo de criação das suas
produções artísticas.” (LUNA, 2015, p.23)

“Atualmente, constam no repertório da companhia dez espetáculos: Dos à deux (1997), Je suis
bien moi...? (2000), Fulyo (2000), Aux pieds de la lettre (2001), La nuit des cercles (2003),
Saudade em terras d’água (2005), Fragmentos do desejo (2009), Ausência (2012), Dos à deux –
segundo ato (2013) e Irmãos de sangue (2013). As tramas destes abordam temas socioculturais e
políticos polêmicos como: preconceito, gênero, identidade, classe, incesto, deficiência física,
deficiência mental, solidão, entre outros.” (LUNA, 2015, p.23)

“Sob a orientação da Professora Doutora Nara Keiserman5, apresentei cronologicamente a partir


do século XVIII, as investigações sobre o gesto realizadas por alguns artistas, pesquisadores e
pedagogos das artes cênicas, destacando as suas definições sobre o mesmo. ​Este estudo foi
fundamental para tentar ​compreender o que era ​o gesto ​para ​Curti e Ribeiro​, visto que estes o
definiram em entrevista realizada por mim no dia vinte e cinco de abril de 2012, via celular
(LUNA, 2012, p. 40 – 46), como “algo abrangente” e que mudava conforme a dramaturgia
criada. Também, na mesma entrevista, os diretores definiram o que o gesto não era na
teatralidade da companhia: pantomima, gesticulação cotidiana que acompanha a linguagem
verbal, muito menos gestualidade abstrata.” (LUNA, 2015, p. 24-25)

“[...] Foi justamente nesse instante que emergi ali, do ​cotidiano cronológico para o ​cotidiano
poético (FONSECA, 1999), cujo saber não se aprende intelectualmente. Pelo contrário,
aprende-se vivendo a continuidade de ser (FONSECA, 1999). (p.32)
“Na segunda etapa do Segundo Capítulo, evoco as primeiras imagens que possuo da época em
que fui aluna da FAV. Lá, recebi um conselho para ler o livro Tocar: o significado humano da
pele19, de Ashley Montagu20, que li somente após experimentar o conceito-vivência
corpo-desonho (FONSECA, 1999) durante o encontro realizado no CCBB – BH com os diretores
Curti e Ribeiro.” (p.32)

“A obra de Montagu (1988) tornou-se essencial para a presente pesquisa, pois nela há diversos
dados e estudos apresentados pelo antropólogo que possibilitam que este afirme o quanto o tocar
e o ser tocado modificam as dimensões de uma realidade. O quanto o contato físico e o contato
físico imaginativo (MONTAGU, 1988) são imprescindíveis nas relações humanas tornando-as
mais generosas, amorosas e mais afetivas. E o quanto as experiências táteis determinam a
maneira como o indivíduo passa a ter impressões e expressões de si, do outro e do mundo.”
(p.33)

“Também por meio de outras obras que dialogam produtivamente com o livro recomendado,
como a do psicanalista Didieu Anzieu21 (2000), a do filósofo José Gil22 (1997), a da
neurologista Cristina B. Pereira23 (2014), a da fisioterapeuta Maria Luiza Sales Rangel24
(2010), etc., passei a constatar o quanto a pele, os seus sentidos e a sua poética estão imbricados
em cada frase, lembrança, atitude, partes do corpo e, consequentemente, em cada gesto
executado pelos diretores. O que me levou a crer que é exatamente em tal lugar, ou espaço de
afetividade (TUAN, 2013), que se encontra a poética ou tear incomensurável da Compagnie.”
(p.33)

“Com o interesse voltado sobre a pele, os seus sentidos e a sua poética como um espaço de
afetividade, acabei aproximando dois estudos que viabilizaram para mim, um melhor
entendimento sobre o que é o gesto para Curti e Ribeiro. Não mais de uma maneira ampla, geral
como antes. Aqui, procuro entrelaçar duas linhas de pesquisas: a de Damásio (2009) sobre o
organismo humano, e a de Godard (2001; 2010) sobre o gesto. [...]” (p.33)

“Para Damásio (2009), a estabilidade do organismo é efêmera. Ou seja, ininterruptamente o


organismo vive ciclos de vida e morte. Porém, por mais que o organismo mude continuamente,
paradoxalmente, há nele características que são preservadas. O neurocientista usa a expressão
“construção” para fazer uma comparação do que seria isso. Se o leitor comparar o organismo a
uma casa, seria o mesmo que dizer que os seus tijolos são mudados, mas as linhas arquitetônicas
da casa são mantidas. É desta ideia que surge o termo “construção do gesto” da presente
dissertação.” (p.34)

“Godard (2001; 2010), por sua vez, afirma que o gesto está ligado à história pessoal de cada
indivíduo, às suas experiências socioculturais, políticas, ambientais, etc., mas também ao seu
organismo. Este inclusive, ponderado de modo bastante semelhante à concepção de organismo
de Damásio (2009). Ambos argumentam, por exemplo, que os afetos interferem nas ações dos
músculos tônico-gravitacionais ou antigravitacionais tônicos.[...]” (p.34)

“Godard (2001; 2010) afirma que tais músculos promovem o que ele chama de pré-movimento
do corpo. Assim, o gesto é aquele que confere a expressividade individual humana, pois ele
surge na distância que existe entre o pré-movimento e o movimento corporal propriamente dito.
O gesto, para o pesquisador (2001; 2010) e para esta pesquisa, é aquele que faz com que haja
diferenças, mesmo que sutis, na execução de um mesmo movimento realizado por duas pessoas.
No entanto, ao mesmo tempo em que o gesto é singular, único em cada indivíduo, ele também,
paradoxalmente, transforma-se a cada experiência vivida por esse mesmo indivíduo.” (p.34)

“do que é o gesto para Curti e Ribeiro. Estes acreditam que cada pessoa possui uma estética
gestual própria e que deve ser respeitada, mas também creem na singularidade que cada instante
gestual possui. Na capacidade de transformação do gesto a cada experiência vivida pelo
indivíduo. (p.35)

“Ao compreender que o gesto surge como uma consequência de tudo o que se vivencia e que o
organismo humano é formado e moldado pelas diferentes características e funções da pele e dos
seus sentidos, que estão em relação com o outro e o meio a cada instante, passei a associar o
gesto como uma extensão da pele e a crer que os diretores da Dos à Deux, intuitivamente,
estabelecem essa relação entre o gesto e a pele. Por isso ele “é abrangente e muda conforme a
dramaturgia criada”. Assim, passei a considerar a construção do gesto da companhia como uma
das incontáveis tessituras do seu tear incomensurável.” (p.35)

“Considero, com Damásio (2009), que qualquer gesto é construído a partir dessas inúmeras
sinalizações, e por isso mesmo, possui incontáveis qualidades e características como formas,
texturas, cores, perfumes, sabores, enfim, saberes únicos. Consideração esta que me fez querer
saber como Curti e Ribeiro criam, tecem, entrelaçam e costuram cada tessitura gestual cênica?”
(p.35)

“[...] Portanto, a sua organização foi orientada principalmente pela minha observação
participante (FORTIN, 2009) no workshop da Dos à Deux, mas também pelas duas entrevistas
que realizei com os diretores e por outras formas de dados, como caderno de notas e conversas
informais. Além também de algumas referências bibliográficas.” (p.36)

“Na primeira parte de tal Capítulo, por meio de uma escrita poética, convido o leitor para criar as
suas imagens perceptivas sobre o dia em que o conheci Casarão ou a sede da Dos à Deux – RJ,
onde ocorreu o workshop de que participei, em dezembro de 2013. Trago algumas curiosidades
sobre o mesmo, além de informações técnicas e estrutura metodológica. Apresento as técnicas
que os diretores utilizam em seu treinamento diário e as que eles usaram no workshop. Analiso
brevemente, de maneira comparativa não qualitativa, as vivências que tive no workshop da
companhia com outras vivências que tive em cursos de outros artistas, em que estes trabalharam
as mesmas técnicas utilizadas por Curti e Ribeiro. A ideia é destacar como a abordagem
metodológica dos diretores colaborou para que eu percebesse que existem alguns
elementos-chave, que chamo de princípios, na metodologia do treinamento da companhia.”
(p.36)

“Apresento então para o leitor três desses princípios, que estão ligados diretamente ao sistema
sômato-sensitivo. São eles: a “escuta”, a “tonicidade do microgesto” e o “contato”. Estes estão
entrelaçados entre si, mas são apresentados separadamente. Assim, finalizo o Terceiro Capítulo
denominado Mergulhar na poesia e fazer surgir sentido. [...]” (p.36)

2 SOMOS DUAS CRIANÇAS VESTIDAS EM PELES DE ADULTOS


2.1
“Neste primeiro subcapítulo apresento para o leitor um pouco da história da Dos à Deux a partir
das informações organizadas na página oficial da companhia: COMPAGNIE DOS À DEUX
THÉÂTRE GESTUEL. Disponível em: <http://www.dosadeux.com/?lang=fr>. Acesso em: 03
abr. 2013 a 10 fev. 2015. Esta possui três versões: na língua inglesa, na francesa e na portuguesa
(Brasil), com diferenças entre si.[...] Por isso, já adianto para o leitor que, nas próximas páginas,
existem também informações que não aparecem em nenhuma das três versões. Quando faço
referência a tais notas, estas serão apresentadas para o leitor no seguinte formato: [NOTAS,
2015]. Isto porque os materiais de pesquisa de campo que constam nesta dissertação não foram
publicados. Esses materiais são inéditos.” (p.37-38)

“Em meu primeiro trabalho (LUNA, 2012), pude verificar que a Compagnie Dos à Deux foi
fundada por Curti e Ribeiro em colaboração com a produtora francesa Nathalie Redant. A sua
fundação surgiu como uma consequência da parceria profissional iniciada entre os diretores, no
ano de 1997. Essa parceria culminou no espetáculo denominado Dos à deux, que definiu o nome
da companhia. Constatei também que a teatralidade desta une as linguagens da dança e do teatro
em todos os seus projetos artísticos – desde o momento em que os diretores iniciam as pesquisas
dos temas que geram as tramas das estórias que levarão para a cena, passando pela execução do
seu treinamento diário, até a execução dos seus espetáculos.” (p.38-39)

SOBRE ARTHUR RIBEIRO


“Ribeiro [NOTAS, 2015] diz que a imbricação dessas duas linguagens possui relação direta com
os próprios percursos profissionais individuais dele e de Curti, antes mesmo de se conhecerem.
Ambos formaram-se, concomitantemente, nas duas artes. Ele é angolano naturalizado brasileiro.
Ingressou no curso de Artes Cênicas e Interpretação da UNIRIO, em 1990. Além da graduação,
fez curso técnico em dança contemporânea na Escola de Dança Angel Vianna e sapateado na
academia do TAP, de Flávio Salles. Estudou com Silvia Pasello, do Centro Per la
Sperimentazione Teatrale di Pontedera. E também com Maria Pia, Judith Malina, Sérgio
Melgaço e Ariane Mnouchkine. Trabalhou com Márcio Vianna, Susanna Kruger, Daniel Herz,
Herval Rossano, Fernando Guerreiro, Tizuka Yamasaki e JeanLuc Courcoult. Mudou-se para a
França, em 1993. Formou-se em Estudos Teatrais na Université de la Sorbonne Nouvelle Paris –
III e na Escola de Mímica Corporal Dramática de Paris. Também na França, participou de
oficinas de Steven Wasson e Corine Soum, Denise Namura, Michel Bugdhan, Georges Roiron,
Serge Poncelet, Fabrice Dugeid e na companhia Enfin le jour – Théâtre Danse Buto. Foi ator e
preparador corporal da companhia Théâtre Yunké, de Serge Poncelet, ator e bailarino da Les
Odes Bleues, de Mercedes Chanquia-Aguirre. Atuou sob a direção de Eric Bouvoun, Catherine
Dubois, Annie Schildler e Josef Nadj.” (p.39)

ANDRÉ CURTI
“Já Curti é brasileiro. Formou-se como ator e bailarino nas escolas paulistas Jogo Estúdio e
Vento Forte, entre os anos de 1983 e 1990. Trabalhou no teatro sob a direção de Eugênia Teresa
e no cinema com Hilda Machado e Renato Tapajós. Mudou-se para a França em 1990, onde
realizou parcerias no cinema com Olivier Fornut e Jöel Daguerre. Atuou na companhia de teatro
Le G.R.A.L., dirigidos por Odile Michel e Patrick Olivier e trabalhou em todas as criações da
companhia de dança-teatro À Fleur de Peau, de Denise Namura e Michel Bugdhan, de 1992 a
1998. Curti também teve experiência com o teatro de rua da companhia norueguesa Cirka Teatar,
com direção de Anne Marit Saether. Criou e interpretou o espetáculo Plusieurs Essais sur la
Solitude.” (p. 39-40)

“Os diretores [NOTAS, 2015] afirmam que ​as motivações que os levaram a criar cada um dos
dez espetáculos do repertório da companhia foram as mais diversas, mas que todos os processos
criativos ​possuem como gênese um texto escrito por eles mesmos. ​É a partir deste que constroem
os outros elementos cênicos. Afirmam também que, desde o Dos à deux, ​possuem uma
preocupação estética e lúdica com relação aos objetos cênicos dos seus cenários​. Os objetos são
manipulados pelos personagens ao longo de cada peça e assim, transformados em novos objetos.
Esta característica animada, que brinca com o imaginário do público​, é preocupação constante
em cada trabalho de criação dos dois artistas.” (p.40)

“Atualmente, segundo a página oficial da Compagnie Dos à Deux (COMPAGNIE DOS À


DEUX THÉÂTRE GESTUEL. Disponível em:
<http://www.dosadeux.com/spip.php?page=page_actu&lang=p t_br>. Acesso em: 10 fev. 2015),
três espetáculos estão em cartaz em diferentes lugares do mundo: Ausência, que tem se
apresentado no Brasil e na França, o Dos à deux – segundo ato, que tem circulado entre alguns
países da América Latina, da Ásia e da Europa, e Irmãos de sangue, que realiza apresentações no
Brasil e em alguns países da Europa. [...]” (p.40)

“De acordo com a página da companhia (COMPAGNIE DOS À DEUX THÉÂTRE GESTUEL.
Disponível em: <http://www.dosadeux.com/spip.php?rubrique6&lang=pt_br >. Acesso em: 30
set. 2014), a trama de Dos à deux desvela a relação existente entre dois homens que vivem à
espera de Godot, que nunca chega. Enquanto esperam, eles se protegem, tentam se divertir e
criam embates, “se portam, se suportam, ... para dar a impressão que o tempo passa”. O fato é
que eles dependem um do outro para realizar qualquer ação.” (p.41)

“Os diretores [NOTAS, 2015] contam que o Dos à deux26 fez mais de 450 apresentações em
diversos países e em festivais27 de grande importância como o Festival d’Avignon, na França,
em 1999, e o Festival Mindelact, na República do Cabo Verde, em 2000.” (p.42)

“Ribeiro [NOTAS, 2015] afirma que, no ano de 1999, ele e Curti começaram a se interessar e a
pesquisar sobre a loucura e o confinamento de pessoas. Ainda apresentavam-se com o Dos à
deux, mas desejavam um novo espetáculo. Em uma de suas apresentações, realizada em Paris
daquele ano, conheceram Madeleine Abassade, responsável pelos eventos culturais do Instituto
Psiquiátrico Marcel Rivière, localizado na região de Yvelines (França).” (p. 43)

“[...] consta que a pesquisa colaborativa existente entre Curti, Ribeiro e Abassade culminou em
uma associação artística entre a Dos à Deux e o Instituto por meio de um programa
interministerial chamado Cultura no Hospital.” (p.43)

“Conforme afirma a página da companhia (COMPAGNIE DOS À DEUX THÉÂTRE


GESTUEL. Disponível em: <http://www.dosadeux.com/spip.php?article163&lang=pt_br>.
Acesso em: 30 set. 2014), Aux pieds de la lettre retrata dois homens que são escravos de suas
próprias imaginações. Um deles possui delírios místicos e jamais desiste da ideia de que o
mundo necessita da carta que ele precisa escrever. O outro é vítima de obsessões que o levam a
crer que os seus pés estão sempre sujos de poeira e que ele é responsável pelo nascer e pelo pôr
do sol. Através do contato existente entre eles, “o corpo de um serve à loucura do outro. Um pé,
três pés, cinco mãos, uma cabeça”.” (p.44-45)

“Ribeiro [ENTREVISTA, 2013] diz:

Tudo o que fizemos com essa mesa nos dois anos de pesquisa foi quase infinito. No espetáculo,
usamos concretamente apenas dez por cento do que pesquisamos com esse objeto. Ele se tornou
um instrumento musical, de tanta coisa que nos dava. Aliás, esta é uma característica nossa: os
nossos objetos cênicos viram prolongamentos dos nossos corpos.” (p.46)

“Ao ver o vídeo de Aux pieds de la lettre, percebi que a mesa, tomada como um prolongamento
dos corpos dos personagens, quando reconfigurada, acabava criando novas possibilidades de
contato entre eles que transformava as suas movimentações, ritmos corporais e emoções. Tais
mudanças oscilavam as cenas do espetáculo “entre a tragédia e a comédia, (...) entre a ternura e
os risos inesperados”. (COMPAGNIE DOS À DEUX THÉÂTRE GESTUEL. Disponível em:
<http://www.dosadeux.com/spip.php?article163&lang=pt_br> . Acesso em: 30 set. 2014)” (p.46)

“Ribeiro [NOTAS, 2015] diz que Aux pieds de la lettre ficou em cartaz até 2010 e, assim como o
Dos à deux, também se apresentou em diversos países. Foi premiado como Melhor espetáculo no
Festival Mindelact e recebeu o Prêmio do júri no Kosovo in Fest, em Prístina, ambos em 2005. “
(p.47)

“Os diretores [NOTAS, 2015] ​apontam que a partir desse espetáculo, a companhia passou a
receber a coprodução e parcerias de diversos teatros franceses que possibilitaram que a mesma
conseguisse desenvolver o seu universo artístico com infraestrutura espacial e aporte técnico​.”
(p.48)

“A página da companhia (COMPAGNIE DOS À DEUX THÉÂTRE GESTUEL. Disponível em:


<http://www.dosadeux.com/spip.php?article35&lang=pt_br>. Acesso em: 02 out. 2014)
menciona que o projeto seguinte de Curti e Ribeiro foi aberto para artistas de outras áreas​, que
não apenas do teatro e da dança, e teve como referência basal o texto Le cercle, de Matéi
Visniec. ​O trabalho final resultou em um espetáculo itinerante teatral e plástico. Ribeiro
[NOTAS, 2015] diz que este foi denominado ​La nuit des cercles.​ Diz também que as fotos e
vídeos deste espetáculo foram todas perdidas por acidente.” (p.48)

“O diretor [ENTREVISTA, 2013] relata que ele e Curti trabalharam em La nuit des cercles

com nove intérpretes: circenses, músicos, etc. Era uma instalação em que o público percorria o
teatro inteiro. Ocupamos o teatro todo. Era um espetáculo criado para aquele teatro, para aquele
banheiro, escada, camarim, etc. Não transportamos esse espetáculo para outro teatro. (...). Foi
nessa época, acho, que começou a surgir a nossa vontade de companhia. Não queríamos mais
trabalhar os corpos para um espetáculo específico, mas para simplesmente trabalharmos.” (p.48)
“Disponível em: <http://www.dosadeux.com/spip.php?article81&lang=pt_br>. Acesso em: 10
out. 2014), que as inúmeras turnês que fizeram para países como Japão, Indonésia, Brasil,
Tailândia, Rússia, países africanos e europeus com os espetáculos criados até aquele momento,
trouxeram diferentes tipos de experiências. Estas permitiram intercâmbios culturais e
possibilitaram que Curti e Ribeiro tivessem novas percepções sobre indivíduos imigrantes como
eles. Tais experiências e percepções transformaram os seus corpos, as suas memórias, e
desencadearam questionamentos sobre a identidade e reflexões sobre a saudade. Esta, que, para
os diretores, traduz perfeitamente o sentimento da falta, “uma vez que tudo foi deixado para trás”
(COMPAGNIE DOS À DEUX THÉÂTRE GESTUEL. Disponível em:
<http://www.dosadeux.com/spip.php?article81&lang=pt_br>. Acesso em: 10 out. 2014).” (p.49)

“Assim, ambos desenvolveram o novo espetáculo da Dos à Deux, cujo tema voltava-se para as
pessoas que vivem em outro país que não o seu de origem. Pessoas que imigram pela aventura ou
por conflitos ambientais e sociopolíticos como o exílio, por exemplo. Para realizar tal intenção,
decidiram abandonar a estrutura do duo “para explorar um trio ou, mais exatamente, um quarteto
– peça gestual para três atores físicos e uma marionete” (COMPAGNIE DOS À DEUX
THÉÂTRE GESTUEL. Disponível em:
<http://www.dosadeux.com/spip.php?article81&lang=pt_br>. Acesso em: 10 out. 2014).” (p.49)

“Para criarmos a arquitetura triangular, sentimos que precisaríamos de uma conexão costurada
entre os três corpos o tempo inteiro [a dependência física], mesmo que os corpos não estivessem
em contato fisicamente. E, principalmente porque a terceira pessoa, a Lakko, quando entrou na
companhia já havia entre mim e o André, seis anos de trabalho juntos. Para ela, foi um trabalho
de titã. Especialmente também, porque ela não falava francês, inglês nem português para
podermos nos comunicar verbalmente com ela. (...). Foi uma experiência muito louca porque
nada do que fizemos e construímos passou pelo intelectual. A própria chegada da Lakko [na
audição] foi uma metáfora da trama do espetáculo. Isso fez com que nós não tivéssemos dúvidas
de que seria ela a atriz escolhida para fazer o nosso espetáculo, nos apaixonamos por ela
cenicamente. O fato de ela não falar nenhuma das línguas que nós falamos, de não possuir ponte,
qualquer ponto de equilíbrio, qualquer link cultural com a nossa cultura e com a cultura francesa
fez com que nos apaixonássemos também pelo jogo corporal dessa atriz. A Lakko foi cavando o
seu próprio espaço. Nós não falávamos em nenhuma língua com ela, inventamos códigos, e nos
conectamos tanto, que quando ela falava uma palavra, nós já sabíamos o que ela estava querendo
dizer.” (49-50)

“Os diretores [NOTAS, 2015] afirmam que, no mesmo ano de sua estreia, em 2005, Saudade em
terras d’água32 ganhou o Prêmio Adami no Festival d’Avignon. O sucesso do espetáculo
percorreu diversos países, inclusive o Brasil33 , ficando em cartaz até o ano de 2008. A
atriz-dançarina Lakko Okino não permaneceu na companhia.” (p.52)

“Na pesquisa que realizei sobre Fragmentos do desejo (LUNA, 2012) descrevi que a estória da
peça retrata as relações diretas e indiretas que quatro personagens mantém entre si: Angelo, o seu
pai34, Olga – a governanta da casa do pai – e Orlando, um homem cego. Angelo é órfão de mãe
desde o seu nascimento e possui grandes dificuldades de relacionamento com o pai. Mesmo
assim, visita-o habitualmente para jantar e jogar xadrez com ele. Olga somente observa a relação
delicada que existe entre os dois. (p.55-56)

“No folder de Fragmentos do desejo, consta que a Dos à Deux foi contemplada pelo Programa
Petrobrás Distribuidora de Cultura 2011/2012. Como resultado, a companhia realizou uma turnê
que percorreu as cidades de Salvador (Bahia), Recife (Pernambuco), Natal (Rio Grande do
Norte), Fortaleza (Ceará), Santa Maria (Rio Grande do Sul), Florianópolis (Santa Catarina) e
Porto Alegre (Rio Grande do Sul).” (p. 57-58)

“Segundo Ribeiro [NOTAS, 2015], um ano após a estreia de Fragmentos do desejo, ele e Curti
adquiriram um espaço no Brasil onde fundaram a sede brasileira da Compagnie Dos à Deux.” (p.
58)

“O Casarão fica localizado no bairro da Glória – RJ. Está em constante atividade, mas ainda não
foi oficialmente inaugurado. Funciona, assim como a sede francesa, localizada na região de Paris
conhecida como Quartier de la Gare, como um espaço cultural voltado para as artes gestuais e
possibilita o intercâmbio entre os países França e Brasil. Serve também de residência para os
artistas da Cie (Compagnie) Dos à Deux e de outros grupos e companhias de teatro e de dança.
Possui sala para a realização de ensaios e cursos. Alguns destes são oferecidos por Curti e
Ribeiro, como o de que eu pude participar, e outros, que são oferecidos por artistas convidados
pelos diretores.” (p.59)

“Ainda no Brasil, na mesma época, os diretores [NOTAS, 2015] contam que iniciaram a
elaboração do primeiro trabalho artístico solo da companhia, em que nenhum dos dois estaria em
cena. Ambos queriam vivenciar um pouco apenas a direção. Convidaram o ator brasileiro Luis
Melo para atuar em tal espetáculo, denominado Ausência, que possui como tema principal a
solidão humana. Melo, segundo Ribeiro [NOTAS, 2015], também foi o primeiro artista a atuar
na Dos à Deux que não possui em sua formação relação com a dança.” (p. 60)

“Além disso, Ribeiro [ENTREVISTA, 2013] relata que esse foi o primeiro espetáculo em que ele
e Curti tiveram que trabalhar muito a repetição das partituras gestuais com o ator convidado, pois
o diretor afirma que não há no trabalho da Dos à Deux qualquer brecha para a improvisação
cênica. Ribeiro também afirma que Ausência

fez com que eu e o André assumíssemos que somos contadores de estórias. E isto fez com que
entrássemos no universo do conto. E assumirmos também toda a estética do conto. Buscamos
trabalhar com outro cenógrafo, também. Pois até o Ausência, sempre fomos, eu e o André, os
autores dos cenários das nossas peças.” (p. 60-61)

“Conforme o folder deste espetáculo, a estória se passa no ano de 2036, na cidade de New York
– EUA, e retrata a solidão de um homem dentro da sua própria casa, visto que está quase que
impedido de sair às ruas. A sua única companhia é o seu peixe. Sem água e sem comida, além de
necessitar de uma máscara de oxigênio para conseguir respirar melhor, o homem trava uma
batalha interna para não acabar com a única fonte de vida do seu animal de estimação. Além
disso, ratos começam a invadir a sua casa. O seu desespero acaba possibilitando que ele crie um
mundo imaginário para tentar sobreviver em meio ao caos.” (p. 62)

“No ano seguinte da estreia de Ausência38, em 2013, a Dos à Deux completou quinze anos de
existência. [...]” (p. 62)

“Ribeiro [NOTAS, 2015] comenta que, como parte da comemoração, ele e Curti decidiram
remontar o seu primeiro espetáculo e convidaram outros dois artistas para atuarem em seus
lugares: os franceses Guillaume Le Pape e Clémont Chaboche. A remontagem de Dos à deux
ganhou um subtítulo: segundo ato.” (p. 63)

“O diretor [ENTREVISTA, 2013] diz ainda que


Nesse espetáculo queríamos ter corpos que chegassem muito próximo dos corpos naturalistas.
Começamos a pesquisa sobre a família e ficamos por dois meses e meio, cinco a seis horas por
dia, improvisando sem falar. Se alguém quisesse sair, ir no banheiro, por exemplo, ia, mas não
falávamos um com o outro. E um conflito tinha que levar a outro. Se um parasse para comer, o
outro tinha que gerar um novo conflito com aquela nova situação. Embora eu não acredite em
improvisação na cena, eu não quero me sentir preso a isso. Pois, acho também que as coisas
mudam. Porque pode ser que em um próximo encontro nosso eu te diga: “Carol, agora mudou
tudo, (Risos), agora há espaço para a improvisação, sim. Eu mudei. (Risos)”. (...). Acho que esse
espetáculo, por exemplo, ele já tem algumas brechas para isso, mas não é uma brecha como
quando você abre a porta do curral e sai um cavalo correndo adoidado. Não. A porta foi aberta, e
o cavalo pode querer sair ou não. Ou seja, existem pequenas brechas no espetáculo, mas não há
ansiedade em querer atropelar tudo, toda a estrutura criada. Não. A porta está aberta e você pode
sair ou não da estrutura. Você não sente ansiedade porque tem controle.” (p. 66)
“[...] Para as apresentações realizadas no Brasil, após a temporada no CCBB/BH, em abril de
2014, Curti e Ribeiro [NOTAS, 2015] contam que convidaram os artistas brasileiros Raquel
Iantas e Daniel Leuback para substituírem Givernet e Chebel, respectivamente.” (p. 67)

“De acordo com o folder, o tema central do espetáculo Irmãos de sangue é a família: os laços
fraternos que unem e separam as vidas de três irmãos e sua mãe. Esta, sozinha, cria os seus filhos
entre as dificuldades da realidade do dia a dia e a poesia permitida pelos seus sonhos. A sua
presença e a sua ausência vão, aos poucos, revelando as relações afetivas estabelecidas entre os
irmãos. As brincadeiras, as brigas, os ciúmes, os beijos, os abraços, as conversas, os segredos, as
confidências, as risadas, os choros os tornam cúmplices uns dos outros. A trama dessa família
equilibra-se entre a alegria do reencontro após uma separação e a dor da ausência de um ser
amado que morreu.” (p. 67-68)

“Todo o material recolhido em minha investigação sobre a Compagnie Dos à Deux, aqui
apresentados, como: as matérias realizadas na imprensa, os apoios e financiamento da
companhia, estrutura de produção e agenda, me levam a afirmar que esta companhia destaca-se
com importância no cenário teatral em terras brasileiras e estrangeiras ao longo dos anos.
Contudo, acredito que a longevidade da sua história e o reconhecimento do seu trabalho se deve
não apenas ao profissionalismo e engajamento de Curti e Ribeiro em cada projeto artístico que
idealizam e realizam, mas à cumplicidade e aos laços afetivos que existem entre eles.” (69-70)

2.2 UM DOIS EM UM: A CUMPLICIDADE ENTRE ANDRÉ CURTI E ARTUR


RIBEIRO

“A Compagnie Dos à Deux nasce a partir do encontro, do contato, do amor, amizade e


cumplicidade pessoal e profissional entre Curti e Ribeiro. Ao descobrir, nas entrevistas que
realizei com os diretores como estes se conheceram, qual a primeira imagem que tiveram e
guardam um do outro, como surgiu a sua primeira parceria profissional, a criação da linguagem
da companhia e a elaboração do seu treinamento, desejei apresentar para o leitor quais eram as
impressões deles em relação às suas próprias histórias.” (p. 71)

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