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O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO NO MARCO DO PENSAMENTO DE

HABERMAS

Ivonaldo da Silva Mesquita*1

Resumo: Neste trabalho busca-se desenvolver noções


preambulares acerca do Estado Democrático de Direito no marco
do pensamento filosófico de Jürgen Habermas, desde sua
evolução conceitual de Direito e Democracia, passando pela sua
Teoria Discursiva e relação co-originária entre Direito e moral,
sobretudo, analisando a sua obra “Direito e Democracia, entre
facticidade e validade”. Em decorrência desses estudos, pretende-
se demonstrar qual a concepção da relação emblemática
binominal direito-democracia que, para Habermas, legitima o
Estado Democrático de Direito, e, a partir daí compreender a sua
acomodação em uma ética do discurso em que direitos liberais e
direitos políticos são co-originários.

Palavras-chave: Estado. Democracia. Sociedade. Direito.


Filosofia. Política deliberativa. Método. Discurso.

O filósofo alemão Jürgen Habermas, principal representante


daquela que ficou conhecida como a “segunda geração” da Escola de
Frankfurt, resgatando a tradição racionalista, propõe uma autocompreensão
do Estado Democrático de Direito pelo processo comunicativo, deslocando a
construção da normatividade jurídica do idealismo teleológico ou finalístico
(filosofia da subjetividade) para uma materialidade de ações comunicativas
(filosofia intersubjetiva). E, nessa esteira de entendimento, concebe um
modelo de democracia a legitimar o Estado Democrático de Direito numa
visão procedimentalista, fundado numa política deliberativa, colocando-o
como um modelo inovador no mundo “pós-convencional”, ao lado dos outros
dois modelos clássicos – modelo republicano e o modelo liberal.

1
*Pós-graduado em Direito Processual pela UESPI. Advogado e Ex-Procurador Jurídico (Chefe)
da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Piauí - ADAPI. Ex-Professor Substituto de
Direito da UESPI. Professor do Curso de Direito da FAETE.

1
Insista-se em dizer que a filosofia habermasiana é tida pela crítica
como o momento mais alto do pensamento liberal depois do advento da
democracia de massas, em que ele desenvolve e aprofunda os diversos
conceitos como “esfera pública”, “mundo da vida”, “sociedade civil” e
“sistema”, que permanecem exercendo enorme influência nas ciências
sociais e no debate político presente. Tanto é verdade que, neste sentido, o
professor PhD José Eisenberg, evoca a importância da obra de Habermas
para o pensamento político contemporâneo afirmando que

Habermas, em minha visão, representa o momento mais alto do


pensamento liberal depois do advento da democracia de massas.
Sua obra, desde o seminal estudo sobre a esfera pública na
década de 50 até Facticidade e Validade, obra de suma
importância para a filosofia e para o direito, publicada na década
de 90, é norteada pelo anseio de acomodar, de um lado, as
exigentes demandas que a concepção de direitos liberais precisou
abarcar depois da ampliação da cidadania política ao longo do
século vinte e, de outro lado, uma concepção republicana de
participação política, de inspiração iluminista, em que cidadãos
portadores de direitos políticos são a verdadeira fonte de
legitimação do público. Habermas encontrou solução para esta
acomodação em uma ética do discurso em que direitos liberais e
direitos políticos são ou cooriginários. Trata-se de uma solução
retoricamente sofisticada, mas que ofusca o tamanho do desafio
que ele buscou enfrentar. Como legitimar a democracia e o
liberalismo sem abrir mão de uma agenda crítica? (EISENBERG,
2009)

Para compreender seu pensamento é importante entender que


Habermas, diferentemente dos modelos clássicos, sustenta sua teoria numa
nova roupagem de visão de “mundo da vida”, como sendo este

... uma rede ramificada de ações comunicativas que se difundem


em espaços sociais e épocas históricas; e as ações
comunicativas, não somente se alimentam das fontes das
tradições culturais e das ordens legítimas, como também
dependem das identidades dos indivíduos socializados. Por isso,
o mundo da vida não pode ser tido como uma organização
superdimensionada, a qual os membros se filiam, nem como uma
associação ou liga, na qual os indivíduos se inscrevem, nem como
uma coletividade que se compõe de membros. Os indivíduos
socializados não conseguiram afirmar-se na qualidade de sujeitos,
se não encontrassem apoio nas condições de reconhecimento

2
recíproco, articuladas nas tradições culturais e estabilizadas em
ordens legítimas e vice-versa. A prática comunicativa cotidiana, na
qual o mundo da vida certamente está centrado, resulta, com a
mesma originalidade, do jogo entre reprodução cultural,
integração social e socialização. (HABERMAS, 1997, vol. I, p.
111)

Mister também que se identifique a conceituação habermasiana


de esfera pública dentro da formulação do processo de participação política
coletiva, entendendo que

A esfera pública pode ser descrita como uma rede adequada para
comunicação de conteúdos, tomadas de posição e opiniões; nela
os fluxos comunicacionais são filtrados e sintetizados, a ponto de
se condensarem em opiniões públicas enfeixadas em temas
específicos. Do mesmo modo que o mundo da vida tomado
globalmente, a esfera pública se reproduz através do agir
comunicativo, implicando apenas o domínio de uma linguagem
natural; ela está em sintonia com a compreensibilidade geral da
prática comunicativa cotidiana. (HABERMAS, 1997, vol. II, p. 92)

Preparado o panorama da sua teoria na sua concepção de


“mundo da vida”, a filosofia habermasiana coloca a democracia como o
próprio ambiente de gestão do sistema jurídico, e não apenas como modelo
procedimental. Tanto é verdade que argumenta que “o princípio da
democracia refere-se ao nível da institucionalização externa e eficaz da
participação simétrica numa formação discursiva da opinião e da vontade, a
qual se realiza em formas de comunicação garantidas pelo direito”
(HABERMAS, 1997, vol. I, p. 146). Em outras palavras, no Estado de Direito
habermasiano, tem-se uma via de mão dupla em que o sistema jurídico,
enquanto sistema de poder e de saber, gera e controla o sistema político, e,
este, por sua vez, pari passu, gera e controla o sistema jurídico. Assim, tem-
se que

A idéia do Estado de direito pode ser interpretado então como a


exigência de ligar o sistema administrativo, comandado pelo
código do poder, ao poder comunicativo estatuidor do direito, e de
mantê-lo longe das influências do poder social, portanto da
implantação fáctica de interesses privilegiados. (Idem, p. 190)
(...)

3
O direito constitui poder político e vice-versa; isso cria entre
ambos um nexo que abre e perpetua a possibilidade latente de
uma instrumentalização do direito para o emprego estratégico do
poder. A idéia do Estado de direito exige em contrapartida uma
organização do poder público que obriga o poder político,
constituído conforme o direito, a se legitimar, por seu turno, pelo
direito legitimamente instituído. (Ibidem, p.212)

Em Habermas2, o Direito moderno caracteriza-se por ser um


direito positivo, isto é, por um lado, um Direito escrito que é histórico,
contingente, modificável e coercitivo e, por outro, um Direito garantidor da
liberdade, havendo uma relação entre o caráter coercitivo e a
modificabilidade do direito positivo e um viés de positivação ou de
estabelecimento do Direito que é capaz de gerar legitimidade. E, nesse
contexto, estabelece-se uma ligação conceitual ou interna entre Direito e
democracia, mas não apenas historicamente casual, já que, segundo o
autor, um processo legislativo democrático deve ser suficiente para atender
à exigência de legitimação, segundo a qual, o Direito positivo escrito deve
garantir equitativamente a autonomia de todos os sujeitos de direito.

Ressalte-se que, antes mesmo dessa sua idéia de Estado de


direito, o filósofo alemão de Düsseldorf, evidencia dentro da sua visão de
que “não há Estado de Direito sem Democracia” e vice-versa, que

O Estado é necessário como poder de organização, de sanção e


de execução, porque a comunidade de direito necessita de uma
jurisdição organizada e de uma força para estabilizar a identidade,
e porque a formação da vontade política cria programas que têm
que ser implementados. (Ibidem, p. 171)

As democracias preenchem o mínimo procedimentalista quando


garantem, segundo Habermas:

a) a participação política do maior número possível de pessoas


privadas; b) aregra da maioria para decisões políticas; c) os
direitos comunicativos usuais e com isso escolha de diferentes
programas e grupos dirigentes; d) a proteção da esfera privada.
(HABERMAS, 1997, vol. II, p. 27)

2
HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro. p. 286-287.

4
Para Habermas, da “interligação conceitual entre direito e poder”,
que fundamenta as características do seu modelo institucional democrático
discursivo, extraem-se princípios necessários para a garantia da equidade
dialógica. Estes princípios são enumerados por ele:

a) direito à maior medida possível de iguais liberdades subjetivas;


b) direito ao status de membro de uma associação voluntária de
parceiros do direito; c) possibilidade de postulação judicial de
direitos e da configuração politicamente autônoma da proteção
jurídica individual; d) Direitos fundamentais à participação, em
igualdade de chances em processos de formação de opinião e da
vontade, nos quais os civis exercitam sua autonomia política e por
meio dos quais eles criam o direito legítimo; e) Direitos
fundamentais a condição de vida garantidas de forma social
técnica e ecológica. (HABERMAS, 1997, vol. I p. 159-160)

O professor Dr. Paulo Roberto Azevedo, em artigo intitulado de A


Democracia Comunicativa: uma exposição da idéia de democracia em
Jürgen Habermas a partir da análise dos volumes da obra “Direito e
Democracia, entre facticidade e a validade”, analisando os princípios
norteadores do novel aparelho institucional proposto por Habermas, em
sábias palavras, sentenciou

O que ficaria resguardado por essa instituição seria a formação


democrática da vontade. (...) a primeira questão a ser apontada
como princípio de democracia seria a ampla e livre participação de
todos os membros de uma sociedade nos processos
comunicativos norteadores dos acordos normativos nos quais se
dá a formação democrática da vontade. Assim, um primeiro
princípio a ser resguardado é o de que: a) todo poder emana do
„poder comunicativo dos cidadãos”. Na prática esse princípio
remete a poderes parlamentares representativos e deliberativos.
Uma segunda questão importante, imediatamente ligada à
primeira, é o resgate legal dos direitos do indivíduo a
equanimidade argumentativa. Para tanto faz-se necessário que a
instância jurídica resguarde-se da instrumentalização política. Tal
aspecto é garantido por meio de uma: b) justiça independente. É
fundamental a garantia contra a instrumentalização do sistema
jurídico. Em contrapartida, deve se evitar a interferência do
sistema nos processos comunicativos de formação da vontade.
Ou seja, o poder normativo/administrativo não pode interferir nos

5
princípios que fundamentam a orientação de sua formação. Esse
princípio traduz-se pela: c) legalidade da administração, bem
como controle judicial e parlamentar da administração. Por fim,
faz-se necessário um controle dos processos argumentativos,
buscando lhes resguardar interferências sociais não constantes no
acordo comunicativo realizado entre os membros da sociedade de
direito. Isso é necessário para evitar que “o poder social se
transforme em poder administrativo antes de passar pelo filtro
comunicativo”. Segundo Habermas: “A sociedade precisa
amortecer e neutralizar a divisão desigual de posições sociais de
poder”(...). Este princípio traduz-se como: d) separação entre
Estado e sociedade. (AZEVEDO, 2007, Revista “Tempo da
Ciência”, p. 141-142)

Entende-se que dentro da obra filosófica de Habermas, por


conseguinte, tenha-se como escopo balizar uma reconciliação, por meio de
uma Teoria do Discurso desenvolvido na perspectiva de um política
deliberativa, entre o ponto de vista da concepção liberal, em que a política é
essencialmente a luta de acesso ao poder, e o ponto de vista da concepção
republicana, em que a política não obedece ao modelo de ação estratégica,
mas ao diálogo e a deliberação. Embora, a filosofia habermasiana esteja
mais próxima da concepção republicana, ela se desenha numa síntese das
duas, tendo como limite a necessária coerência interna entre Estado de
direito e democracia, assim como por uma relação complementar entre
direito e moral.

Por fim, com a filosofia intersubjetiva de Habermas, pode-se


pensar o Brasil, enquanto Estado Democrático de Direito, pois é certo que
qualquer cientista ou pesquisador que estuda democracia, liberdade, justiça
e direito com o nível de sofisticação habermasiana é capaz de intervir no
mundo das democracias contemporâneas pela simples razão de se tornar
parte da bibliografia. Certamente, na atualidade, a obra de Habermas é
referência no mundo todo, inclusive no Brasil, para debates sobre estes
temas entre juristas, cientistas sociais e filósofos.

Referências Bibliográficas

6
AZEVEDO, Paulo Roberto. A democracia comunicativa: uma exposição da
idéia de democracia em Jürgen Habermas a partir da análise dos volumes
da obra “Direito Democracia, entre facticidade e a validade”. Tempo da
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7
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