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Bernadete Campello*
Literatura – Volume 20
gem é necessário, inicialmente, falar dela como espaço físico e enten-
der de que maneira os professores a veem. A experiência que cada
professor tem de uma biblioteca escolar é muito variada. Poucos
conhecem uma boa biblioteca, que reúne livros e outros materiais de
qualidade (incluindo acesso à internet), adequados ao ensino e orga-
nizados para facilitar a consulta e o uso, com local para atividades
de leitura coletiva e individual, para ações culturais e recreativas.
A biblioteca é um setor da escola cuidado por um profissional que,
além de administrá-lo e de organizar e conservar atualizada sua
coleção, desempenha papel de mediador, orientando os estudantes
na escolha dos materiais, dando apoio ao trabalho dos professores e
mantendo ambiências de leitura, enfim, criando um espaço acolhe-
dor para que os usuários explorem com segurança o conhecimento
disponibilizado nas fontes de informação1.
Para outros professores, essa visão pode ser utópica; muitos
convivem com uma biblioteca improvisada, com livros recebidos por
doação, desatualizados, amontoados, sem qualquer organização. São
“quartos de despejo”, onde se armazenam materiais sem serventia
Literatura – Volume 20
a biblioteca oferece.
ida à biblioteca para ler livros de sua escolha e estudar para pro-
vas, exames, ou para preparar tarefas escolares, pelo fato de que
ali encontram ambiente silencioso e confortável, com almofadas,
pufs e poltronas, por exemplo. Nessa dimensão, não há influência
de mediadores e a biblioteca se assemelha à quadra de esportes ou
à cantina da escola.
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mações, refúgio/lazer e espaço para manifestações culturais) re-
presentam características importantes e necessárias da biblioteca
escolar. Entretanto, o predomínio exagerado de uma dessas di-
mensões traz dificuldades para se fazer da biblioteca um espaço
efetivo de aprendizagem.
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Ouvir atentamente uma história ou apresentação oral.
Pesquisar fontes eletrônicas de informação.
Saber o que é a bibliografia de um livro e sua finalidade.
Participar de discussões, seguindo regras.
Conhecer os diferentes livros de referência.
Distinguir as diferentes categorias de sites na internet.
Reconhecer sites confiáveis na internet.
Interpretar um texto.
Recordar, resumir, parafrasear e complementar o que ouve e lê.
Usar os instrumentos de busca de informação da biblioteca (ca-
tálogos, índices etc.).
Familiarizar-se com diferentes autores.
Usar diferentes tipos de dicionários.
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Esses exemplos foram retirados do livro Como usar a biblioteca na escola, que cons-
titui uma metodologia para ensino de habilidades informacionais, de forma pla-
nejada e gradual, desde a educação infantil até o fim do ensino fundamental. 133
e a preparação para utilizar outras instituições de informação. Essas
habilidades estão geralmente na esfera de competência do bibliotecá-
rio. As habilidades de interpretação dizem respeito a conteúdos e es-
tão relacionadas com o entendimento e o uso da informação localizada
(KUHLTHAU, 2002). Mais do que categorizar minuciosamente essas
habilidades, é necessário entender que elas não podem ser ensinadas
isoladamente. Aprender a localizar, selecionar, interpretar e usar infor-
mações exige o trabalho conjunto do professor e do bibliotecário, que
colaboram para planejar estratégias de aprendizagem que levem os
estudantes a explorar e a compreender informações, familiarizando-os
com o universo informacional e produzindo conhecimento.
A ênfase no processo
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de aprendizagem e aprimorá-las continuamente. Esse movimento
baseia-se na noção de currículo espiral, que enfatiza a importância
de se introduzirem, desde cedo, ideias e estilos de aprendizagem
que serão utilizados na vida adulta; assim, os alunos, ao longo de
sua escolarização, são estimulados a desenvolver paulatinamente
capacidades de pensamento abstrato e aprendizagem independente.
Então, se apoiamos o conceito de currículo espiral, devemos dar aos
estudantes muitas oportunidades de experimentar o processo de
pesquisa escolar orientado. A variedade de habilidades que o aluno
pode assimilar nessas ocasiões é vista no quadro a seguir.
A orientação
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de informação) trabalham juntos para dar aos alunos condições de
escolher os tópicos de que irão tratar e de estruturar a pesquisa,
ordenando os tópicos em ordem lógica.
A seguir, os alunos começam a coletar informações pertinentes
sobre os tópicos que escolheram. É o momento de ler mais inten-
samente, interpretar, refletir sobre as ideias e os fatos que encon-
traram. É também o momento de fazer anotações. As intervenções
são tanto da esfera do professor – que orienta nos aspectos de
leitura e interpretação – como do bibliotecário, que pode ensinar
como fazer citações de autores e textos utilizados, como elaborar
referências bibliográficas e como estruturar as partes do trabalho
escrito, que geralmente é a forma solicitada pelos professores para
apresentação dos resultados.
O processo de pesquisa não deve terminar com a apresentação
e o compartilhamento dos conhecimentos. O passo seguinte é a
avaliação. A avaliação do trabalho, do produto final, mostra aos alu-
nos como foi seu desempenho em relação ao conteúdo. Mas o mais
importante, na perspectiva da aprendizagem que aqui propomos, é
a avaliação do processo. Para os alunos, é o momento de refletir so-
bre sua aprendizagem, sobre os passos dados, sobre as dificuldades
encontradas. Para os professores e para o bibliotecário, a avaliação
indicará onde e como a orientação precisa ser aperfeiçoada.
Assim, a aprendizagem que aqui propomos, que enfatiza o do-
mínio de habilidades informacionais, coloca a biblioteca no centro do 137
processo educativo. Rompe com “uma prática pautada exclusivamente
no texto contido no livro didático e nos recursos da aula expositiva
– simplesmente auxiliada por um quadro negro e um giz branco”
(SILVA, 2001, p. 130). Dá aos alunos oportunidade de aprender a
pensar, de se preparar para aprender com autonomia, o que significa
não só aprender com independência mas, principalmente, gostar de
aprender, apreciar a aventura de reconstruir seu conhecimento.
Quanto aos professores, ao se esforçarem para romper com prá-
ticas pedagógicas tradicionais (o que não é feito de uma hora para
outra) e passarem a usar a biblioteca como espaço de aprendizagem,
estarão dando o primeiro passo para “construir” a verdadeira biblio-
teca escolar. Ao integrarem a biblioteca à sua prática e entenderem,
na prática, o que é a biblioteca como espaço de aprendizagem, eles
terão condições de “considerar a potência geradora de conheci-
Coleção Explorando o Ensino
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Esta pesquisa investigou o processo de busca e uso de informações por alunos
138 dos ensinos fundamental e médio que iam à biblioteca para cumprir tarefas de
pesquisa solicitadas por seus professores.
3. As funções do bibliotecário
Tendo em vista que a aprendizagem de habilidades informacio-
nais demanda a existência de uma boa biblioteca na escola e que a
aprendizagem proposta exige orientação de mediadores que entendam
o aparato informacional do universo letrado, ao se construir essa
biblioteca a ênfase deverá recair sobre a equipe que a administrará.
O bibliotecário, com graduação em biblioteconomia, é o profis-
sional em condições de exercer adequadamente as inúmeras funções
exigidas para uma biblioteca que se quer como espaço de aprendiza-
gem. Como um organismo que cresce e se modifica constantemente,
a biblioteca exige ação permanente, sob o risco de se transformar
em um simples depósito de livros. O bibliotecário preparado para
gerenciar uma biblioteca escolar exercerá suas funções em estreita
colaboração com a equipe pedagógica e com os professores.
Literatura – Volume 20
3.1. O bibliotecário na seleção de materiais da biblioteca
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pessoas que também entendam a biblioteca como um espaço de
aprendizagem e não como um setor burocrático da escola. Dessa
forma, os dirigentes estarão possibilitando aos professores usá-la
para promover constantemente novas experiências pedagógicas.
No fim, a comunidade escolar constrói coletivamente a biblioteca,
que é um espaço de aprendizagem.
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