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Fichamento Interpretação e ideologias.

A função hermenêutica do distanciamento


(1990)

- “O texto é, para mim, muito mais que um caso particular de comunicação inter-
humana: é o paradigma do distanciamento na comunicação. Por esta razão, revela um
caráter fundamental da própria historicidade da experiência humana, a saber, que ela é
uma comunicação na e pela distância.” (p. 44)

- Ricoeur elaborará “a noção de texto em vista daquilo mesmo de que ela é a


testemunha, a saber, da função positiva e produtora do distanciamento, no cerne da
historicidade da experiência humana.” (p. 44)

- Ricoeur utilizará cinco temas para essa problemática:

- 1“A efetuação da linguagem como discurso; [2] a efetuação do discurso como obra
estruturada; [3] a relação da fala com a escrita no discurso e nas obras de discurso; [4]
a obra de discurso como projeção de um mundo; [5] o discurso e a obra de discurso
como mediação da compreensão de si.” (´. 44)

- “Todos esses traços, tomados conjuntamente, constituem os critérios da textualidade.”


(p.44)

-“Toda a discussão anterior servirá apenas para preparar o deslocamento do problema


do texto em direção ao do mundo que ele abre.” (p. 45)

-“[...] o discurso possui, não somente um mundo, mas o outro, outra pessoa, um
interlocutor ao qual se dirige. Neste último sentido, o evento é o fenômeno temporal da
troca, o estabelecimento do diálogo, que pode travar-se, prolongar-se ou interromper-
se.” (p. 46)

-“O que pretendemos compreender não é o evento, na medida em que é fugidio, mas sua
significação que permanece.” (p. 47)

-“[...] o primeiro distanciamento é o distanciamento do dizer no dito.” (p. 47)

- “[...] a obra literária é o resultado de um trabalho que organiza a linguagem.” (p. 50)

- “Em primeiro lugar, a escrita torna o texto autônomo relativamente à intenção do


autor. O que o texto significa, não coincide mais com aquilo que o autor quis dizer.” (p.
53)
- “[...] graças à escrita, o ‘mundo’ do texto pode fazer explodir o mundo do autor.” (p.
53)

-“É essencial a uma obra literária, a uma obra de arte em geral, que ela transcenda suas
próprias condições psicossociológicas de produção e que se abra, assim, a uma
sequência ilimitada de leituras, elas mesmas situadas em contextos socioculturais
diferentes. Em suma, o texto deve poder, tanto do ponto de vista sociológico quanto do
psicológico, descontextualizar-se de maneira a deixar-se recontextualizar numa nova
situação: é o que justamente faz o ato de ler.” (p. 53)

- “Essa libertação em relação ao autor possui seu equivalente por parte daquele que
recebe o texto. [...] o discurso escrito suscita para si um público que, virtualmente, se
estende a todo aquele que sabe ler.” (p. 53)

- “Seu sentido é o objeto real que visa; este sentido é puramente imanente ao discurso.
Sua referência é seu valor de verdade, sua pretensão de atingir a realidade. [...] Somente
o discurso, dizíamos, visa às coisas, aplica-se à realidade, exprime o mundo.” (p. 55)

- “Com a escrita, as coisas já começam a mudar. Não há mais, com efeito, situação
comum ao escritor e ao leitor. Ao mesmo tempo, as condições concretas do ato de
mostrar não existem mais. Sem dúvida, é essa abolição do caráter mostrativo ou
ostensivo da referência que torna possível o fenômeno que denominamos de ‘literatura’,
onde toda referência à realidade dada pode ser abolida.” (p. 55)

- “No entanto, não há discurso de tal forma fictício que não vá ao encontro da realidade,
embora em outro nível, mais fundamental que aquele que atinge o discurso descritivo,
constatativo, didático, que chamamos linguagem ordinária. Minha tese consiste em
dizer que a abolição de uma referência de primeiro nível, abolição operada pela ficção e
pela poesia, é a condição de possibilidade para que seja liberada uma referência de
segundo nível, que atinge o mundo, não mais somente no plano dos objetos
manipuláveis, mas no plano que Husserl designava pela expressão de Lebenswelt, e
Heidegger pela de ‘ser-no-mundo’.” (p. 56)

-“[...] interpretar é explicitar o tipo de ser-no-mundo manifestado diante do texto.” (p.


56)
-“De fato, o que deve ser interpretado, num texto, é uma proposição de mundo, de um
mundo tal como posso habitá-lo para nele projetar um de meus possíveis mais próprios.
É o que chamo de mundo do texto, o mundo próprio a este texto único.” (p. 56)

-“O mundo do texto de que falamos não é, pois, o da linguagem quotidiana. Neste
sentido, ele constitui uma nova espécie de distanciamento que se poderia dizer entre o
real e si mesmo. Trata-se do distanciamento que a ficção introduz em nossa apreensão
do real. Como vimos, um relato, um conto ou um poema não existem sem referente.
Mas esse referente estabelece uma ruptura com o da linguagem cotidiana. Pela ficção,
pela poesia, abrem-se novas possibilidades de ser-no-mundo na realidade quotidiana.
Ficção e poesia visam ao ser, mas não mais sob o modo do ser-dado, mas sob a maneira
do poder-ser. Sendo assim, a realidade quotidiana se metamorfoseia em favor daquilo
que poderíamos chamar de variações imaginativas que a literatura opera sobre o real.”
(p. 56-57)

- “[...] a ficção é o caminho privilegiado da descrição da realidade [...]” (p. 57)

Compreender-se diante da obra

- “[...] o texto é a mediação pela qual nos compreendemos a nós mesmos.” (p. 57)

-“Graças ao distanciamento pela escrita, a apropriação não possui mais nenhum dos
caracteres da afinidade afetiva com a intenção de um autor. A apropriação é exatamente
o contrário da contemporaneidade e da congenitalidade: é compreensão pela distância,
compreensão a distância.” (p. 58)

- “[...] devemos dizer que só nos compreendemos pelo grande atalho dos sinais de
humanidade depositados nas obras de cultura.” (p. 58)

-“Aquilo de que finalmente me aproprio é uma proposição de mundo. Esta proposição


não se encontra atrás do texto, como uma espécie de intenção oculta, mas diante dele,
como aquilo que a obra desvenda, descobre, revela. Por conseguinte, compreender é
compreender-se diante do texto. Não se trata de impor ao texto sua própria capacidade
finita de compreender, mas de expor-se ao texto e receber dele um si mais amplo, que
seria a proposição de existência respondendo, da maneira mais apropriada possível, à
proposição de mundo.” (p. 58)

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