Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
“o enredo constitui o foco criador da narrativa” (Ricoeur, 2010, pg. 201) porque provem
dessa função de síntese da imaginação criadora que organiza a inteligibilidade da
narrativa como um todo.
“Cada obra é uma produção original, um novo existente no reino do discurso. Mas o
inverso não é menos verdadeiro: a inovação permanece uma conduta governada por
regras: a obra da imaginação não parte do nada Está ligada de uma maneira ou de outra
aos modelos recebidos pela tradição.” (Ricoeur, 2010a, pg. 202)
“Falar em mundo do texto significa insistir nesse traço de toda obra literária de abrir
diante de si um horizonte de experiência possível, um mundo no qual seria possível
habitar. Um texto não é uma entidade fechada sobre si mesma; é a projeção de um novo
universo distinto daquele em que vivemos. Apropriar-se de uma obra é desdobrar o
horizonte implícito de um mundo que envolve as ações, as personagens, os eventos da
história narrada. Disso resulta que o leitor pertence ao mesmo tempo em imaginação ao
horizonte de experiência da obra e ao de sua ação real. Horizonte de expectativa e
horizonte de experiência não cessam de se afrontar e de se fundir.” (Ricoeur, 2010b, pg.
204)
-“Direi aqui que a distinção entre exterior e interior é uma invenção do próprio método
de análise dos textos e não corresponde à experiência do leitor.” (p. 204)
-“Em minha opinião, tudo o que foi dito acima sobre o dinamismo de configuração
próprio à criação literária não passa de uma longa preparação própria à obra. Nesse
ponto, o enredo é a obra comum do texto e do leitor. É necessário seguir, acompanhar a
configuração, atualizar sua capacidade de ser seguida para que a obra tenha, no próprio
interior de suas próprias fronteiras, uma configuração; seguir uma narrativa é reatualizar
o ato configurante que lhe dá forma. É ainda o ato de leitura que acompanha o jogo
entre inovação e sedimentação, o jogo com os constrangimentos narrativos, com as
possibilidades de distanciamento, e mesmo a luta entre o romance e o antirromance.
Finalmente, é o ato de leitura que finaliza a obra, que a transforma num guia de leitura,
com suas zonas de indeterminação, sua riqueza latente de interpretação, seu poder de ser
reinterpretada de maneira sempre nova em contextos históricos sempre novos.” (p. 205)
- O segundo exemplo é o de um juiz que busca entender o que se passa com o suspeito
que se encontra “‘emaranhado em histórias’ que lhe acontecem antes que toda história
seja narrada. O emaranhamento aparece então como a pré-história da história narrada
cujo começo permanece escolhido pelo narrador. Essa pré-história da história é o que
liga esta última a um todo mais vasto e lhe proporciona um pano de fundo. Esse pano de
fundo é feito da imbricação viva de todas as histórias vividas. É preciso então que as
histórias narradas surjam desse pano de fundo. Com esse surgimento, o sujeito
implicado também surge. Pode-se então dizer: a história é responsável pelo homem. A
conseqüência principal dessa análise é esta: narrar é um processo secundário implantado
em nosso ‘ser emaranhado em histórias’. Narrar, seguir, compreender as histórias é tão
só a continuação dessas histórias não ditas.” (Ricoeur, 2010, pg. 208)
-“Resulta dessa dupla análise que a ficção, principalmente a ficção narrativa, é uma
dimensão irredutível da compreensão de si.” (p. 208)
“O ato da leitura é assim o operador que une mímesis III a mímesisII.” (Ricoeur, 2010a,
pg. 132)
3. Narratividade e referência
“Porque estamos no mundo e somos afetados por situações tentamos nos orientar nele
pela compreensão e temos algo a dizer, uma experiência para trazer para a linguagem e
para compartilhar.” (Ricoeur, 2010a, pg. 133)
“O que um leitor recebe é não só o sentido da obra, mas, através de seu sentido, sua
referência, isto é, a experiência que ela traz para a linguagem e, em última instância, o
mundo e sua temporalidade que ela estende diante de si.” (Ricoeur, 2010a, pg. 134)
2º pressuposição
“o mundo é o conjunto das referências abertas por todo tipo de textos descritivos ou
poéticos que li, interpretei e gostei.” (Ricoeur, 2010a, pg. 137)
“é o ato de leitura que finaliza a obra, que a transforma num guia de leitura, com suas
zonas de indeterminação, sua riqueza latente de interpretação, seu poder de ser
reinterpretada de maneira sempre nova em contextos históricos sempre novos.”
(Ricoeur, 2010, pg. 205)
“a leitura já é ela mesma uma maneira de viver no universo fictício da obra; nesse
sentido, já podemos que as histórias se narram, mas também se vivem no modo
imaginário.” (Ricoeur, 2010, pg. 205)
4. O tempo narrado