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HISTÓRIA NA UNIVERSIDADE DO
DISTRITO FEDERAL (1935-1939)
Resumo
Este estudo tem por objetivo investigar a formação dos
professores secundários de História na Universidade do
Distrito Federal (UDF), instituição criada na cidade do
Rio de Janeiro por iniciativa de Anísio Teixeira, em abril de
1935, e extinta em janeiro de 1939. Reflete sobre o projeto
original de formação docente que defendia um modelo
integrado entre o curso de conteúdos específicos e a formação
profissional. Observa as mudanças curriculares implantadas
durante a breve existência dessa Universidade que acabaram
por privilegiar a formação de especialistas, ao apartar o
curso de conteúdos das disciplinas pedagógicas, e conclui
que este modelo permanece ainda hoje nas universidades
brasileiras. Apoia-se nos estudos de Ivor Goodson sobre
teoria do currículo e utiliza como fontes documentais atos
administrativos e matrizes curriculares do referido curso.
Palavras-chave: Universidade do Distrito Federal,
formação de professores secundários, curso de História
Abstract
This study aims to investigate the qualification process of
secondary education History teachers at the Universidade
do Distrito Federal (UDF), an institution founded in the
city of Rio de Janeiro, as a consequence of Anísio Teixeira’s
efforts, in April 1935, and closed down in January 1939. It
discussed the original teacher education and qualification
project, which argued for a syllabus model that integrated
specific contents to professional qualification. It also
discusses the changes that the curriculum went through
during the brief period in which this university operated,
highlighting the fact that such changes, however, led to
INTRODUÇÃO
Este estudo tem por objetivo investigar a formação dos
professores secundários de História na Universidade do Distrito
Federal2. Criada na cidade do Rio de Janeiro, em 1935, essa
universidade de professores, como a denominou Mendonça
(2002), propunha-se concretizar a ideia contida no Manifesto
dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, segundo a qual todos
os professores, de todos os graus de ensino deveriam realizar sua
formação em cursos superiores, no âmbito da universidade, em
contato íntimo com a pesquisa e produção do conhecimento.
A partir de minha própria trajetória como professora de
História e das reflexões sobre a prática desenvolvida em escolas de
educação básica e cursos de formação de professores, duas questões
me conduziram a essa investigação. A primeira diz respeito à
fragilidade teórico-metodológica que marcou a formação de toda
uma geração de professores, o que contribuiu consideravelmente
para afastá-los das atividades de pesquisa. A segunda se relaciona
à dicotomia ainda presente entre os cursos de bacharelado e
licenciatura, ou seja, uma formação pedagógica que, sobreposta
à formação cultural, tende a ser desqualificada, até mesmo pela
pequena possibilidade de diálogo entre esses dois campos de
conhecimento.
Tais questões me levaram a buscar vestígios que
esclarecessem a configuração do primeiro espaço institucional
de formação dos professores de História no Rio de Janeiro,
2
O presente texto resulta do projeto de pesquisa História da formação docente na cidade do
Educ. foco,
Juiz de Fora, Rio de Janeiro: A Escola de Educação da Universidade do Distrito Federal, desenvolvido
v. 15, n. 2, p. 111-134, no âmbito do Programa de Estudos e Documentação Educação e Sociedade (Proedes) da
set 2010/fev 2011 112 Faculdade de Educação da UFRJ com o patrocínio da Faperj.
que, com algumas alterações, acabou dando origem ao modelo A formação do
professor de história na
formativo desenvolvido na antiga Faculdade Nacional de Filosofia universidade do distrito
federal (1935-1939)
da Universidade do Brasil, já denominado por especialistas de
“esquema 3+1” e que, na verdade, pouco se alterou até hoje.
Tomar o curso de História como modelo para as reflexões
que procuro desenvolver significa não apenas levantar questões que
contribuem para apreender a complexidade deste campo disciplinar
no momento em que ele se constitui no espaço universitário, mas,
especialmente, para pensar as condições históricas que acabam por
possibilitar a hegemonia de determinados projetos educacionais
em detrimento de outros. Para tanto, tornou-se necessário
compreender o modelo inicial de formação docente pensado para a
UDF, bem como as mudanças instituídas durante o breve período
de sua existência. As fontes documentais que servem ao presente
estudo compõem-se fundamentalmente de atos administrativos
(Instruções) e matrizes curriculares do curso de História, nas quais
procurei observar transformações que constituíssem indícios de
concepções distintas acerca do processo de formação de professores.
Nesse sentido, foi de grande utilidade a leitura de Ivor
Goodson (1995) e suas observações sobre a importância de
compreender as lutas que precedem e acompanham a definição
dos currículos, vistos pelo autor como construções ou tradições
inventadas (Hobsbawm e Ranger, 1984) que sempre obedecem a
prioridades políticas e sociais.
[...] A elaboração do currículo pode ser considerada um
processo pelo qual se inventa tradição [...] o currículo
escrito é o exemplo perfeito de invenção de tradição. Não
é, porém, como acontece com toda tradição, algo pronto
de uma vez por todas; é, antes, algo a ser definido onde,
com o tempo, as mistificações tendem a se construir e
reconstruir. (Goodson, 1995, p. 27)
A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO
ESPAÇO UNIVERSITÁRIO
3
Decreto nº. 19.851 de 11 de abril de 1931.
4
Conforme artigo 3º do decreto de criação da Universidade do Distrito Federal: Decreto
Municipal nº.5.513, de 4 de abril de 1935. Esta organização se manteve até a reorganização
da Universidade pelo Decreto Municipal nº. 6.215, de 21 de maio de 1938, que modifica,
Educ. foco,
inclusive, a denominação das Escolas. A Escola de Economia e Direito, por exemplo, passa Juiz de Fora,
a chamar-se Faculdade de Política e Economia. Arquivo UDF. Série: Atos Administrativos. v. 15, n. 2, p. 111-134,
PROEDES/FE/UFRJ. 115 set 2010/fev 2011
Sonia de Castro Lopes objetivo estudar a organização econômica, política e social do país.
Apesar da previsão de implantação de diversos cursos - formação de
bacharéis em ciências sociais e jurídicas, administração, diplomacia,
economia e finanças –, esta Escola dedicou-se, fundamentalmente,
à formação de professores secundários de Geografia, História,
Sociologia e Ciências Sociais. Os currículos e programas de ensino
ali elaborados evidenciam a preocupação com a construção da
identidade nacional, bem como com a renovação dos quadros
político-administrativos que se daria pela ampliação de oferta da
escola secundária, com demanda social bastante expressiva na época.
Para atender aos objetivos a que se propunha, a Escola
de Economia e Direito constituía-se de cinco seções de estudos:
I) Ciências Econômicas; II) Ciências Sociais; III) Ciências
Geográficas e Históricas; IV) Ciências Jurídicas; V) Ciências
Políticas e da Administração5. Embora História e Geografia
pertencessem à mesma seção – Ciências Geográficas e Históricas
-, os dois cursos foram inicialmente desenvolvidos de forma
independente, ao contrário do que se processou nas Faculdades
de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo e,
mais tarde, na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade
do Brasil, onde a Geografia estava acoplada à História, formando
um só curso.
Localizada na Rua do Catete, nº. 147, onde funcionava
pela manhã a escola secundária Rodrigues Alves, as aulas da Escola
de Economia e Direito começavam às 15 horas, prosseguindo por
vezes até as 20 horas com algumas matérias ou cursos oferecidos em
outras localidades, como o de Antropologia, no Museu Nacional,
o de Geografia no Colégio Pedro II e o de Integração Profissional,
no Instituto de Educação - sede da Escola de Educação.
Para a inscrição no curso regular do magistério secundário de
História era exigida a conclusão do curso secundário fundamental6,
documento de identidade comprovando a idade mínima de
16 e máxima de 35 anos, atestado de idoneidade moral, taxa no
valor de 20$000 (vinte mil réis), além de exames vestibulares de
Português e Literatura, Geografia, História da Civilização, Inglês
5
Consoante o artigo 30 das Instruções nº.1, de 12 de junho de 1935. Boletim da Universidade
do Distrito Federal, 1935. Arquivo UDF. Série: Cursos (programas). PROEDES/FE/UFRJ.
Educ. foco, 6
Juiz de Fora, De acordo com a reforma do ensino do Ministro Francisco Campos que organizou o ensino
v. 15, n. 2, p. 111-134, secundário (Decreto nº. 19.890, de 18 de abril de 1931), este nível de ensino subdividia-se
set 2010/fev 2011 116 em dois ciclos: ciclo fundamental, de 5 anos, e ciclo complementar, com 2 anos de duração.
ou Francês7. Porém, seriam dispensados dos exames os candidatos A formação do
professor de história na
que apresentassem certificados de aprovação nas disciplinas universidade do distrito
federal (1935-1939)
correspondentes cursadas em escolas superiores, oficiais ou
equiparadas, ou que tivessem prestado exame dessas disciplinas para
o ingresso nessas escolas8.
Dos cursos oferecidos pela unidade, o de História foi o
que obteve maior procura, contando com um total de 23 alunos
matriculados. Além dos alunos regulares que se sujeitavam, no
ato da matrícula, à organização e à seriação dos cursos para os
quais tinham prestado vestibular, havia também a possibilidade de
inscrição de alunos avulsos que, embora satisfazendo as condições
exigidas para a matrícula, preferiam cursar disciplinas isoladas
e escolhidas livremente (até quatro por ano), sujeitando-se ao
regime didático, exceto quanto à seriação e a entrada de alunos
livres que se inscreviam apenas para assistir às aulas teóricas sem
quaisquer direitos e/ou obrigações. A inscrição como aluno livre,
em cadeiras isoladas, independia do concurso de habilitação e só
era admitida em cursos onde houvesse vaga.
7
Artigo 35 das Instruções nº.1, de 12 de junho de 1935. Centro de Memória Institucional do
Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (CEMI/ISERJ). Pasta Legislação.
8
Educ. foco,
Artigo 36 das mesmas Instruções. Juiz de Fora,
9
Conforme publicação da Escola de Economia e Direito sobre a organização dos cursos, v. 15, n. 2, p. 111-134,
programas e informações para admissão (Universidade do Distrito Federal, s.d.). 117 set 2010/fev 2011
Sonia de Castro Lopes
Curso de Formação de Professores de História / Escola de Economia e
Direito da UDF / 1935
Curso de Conteúdo 1º ano 2º ano 3º ano
História da Antiguidade 4h
História da Idade Média e Moderna 6h
História da Idade Contemporânea 2h 2h
História das Civilizações na América 3h
História da Civilização no Brasil 3h
Organização de Programas e Material Didático de
2h
História
Inquéritos e pesquisas 2h
Curso de Fundamentos
Inglês ou Alemão (facultativo para alunos com
3h 3h
domínio do idioma)
Antropologia 2h
Geografia Humana 2h
Desenho 2h 2h
Biologia Educacional 2h (1º per.)
Sociologia Educacional 2h (2º per.)
Curso de Integração profissional
Introdução ao Ensino 2h (1º per.)
Filosofia da Educação 2h (2º per.)
Psicologia do Adolescente 2h (1º per.)
Medidas Educacionais 2h (2º per.)
Organização e Programas do Ensino Secundário 2h
Filosofia das Ciências 1h
Prática de Ensino 6h
Carga horária semanal 19h 17h 17h
Fonte: Instruções nº 3, de 22 de junho de 1935 (Universidade do Distrito Federal, 1935b).
Educ. foco,
Juiz de Fora, Em janeiro de 1936, o ex-Ministro da Educação Francisco
v. 15, n. 2, p. 111-134,
set 2010/fev 2011 120 Campos passa a ocupar o cargo de Secretário de Educação do
Distrito Federal no lugar de Anísio Teixeira, que pedira demissão no A formação do
professor de história na
mês anterior. A reitoria da UDF também ficara vaga, uma vez que universidade do distrito
federal (1935-1939)
Afrânio Peixoto, em solidariedade ao amigo, deixara o cargo. Após
quatro meses de efetivo funcionamento, o projeto universitário
que ambicionava coroar o programa educacional imaginado para
a capital do país parecia estar seriamente comprometido.
No início do ano letivo de 1936 a situação da UDF era,
de fato, preocupante, devido ao baixo número de estudantes
inscritos para seus cursos. Na Escola de Economia e Direito,
por exemplo, a procura caíra consideravelmente, além de uma
evasão considerável de alunos, possivelmente em função do
momento político vivido pelo país e pela insegurança diante da
instabilidade que ameaçava o projeto.
A jovem Universidade enfrentava sua primeira grande
crise. Após a gestão interina de Francisco Campos e Miguel
Ozório, a reitoria foi ocupada por Affonso Penna Junior (março
de 1936 a setembro de 1937). Lourenço Filho, entretanto,
continuava à frente do Instituto de Educação, sede da Escola de
Educação da UDF, e, por meio de correspondência endereçada ao
novo Reitor, manifesta sua opinião acerca dos cursos de formação
de professores secundários, discordando inteiramente das normas
baixadas por Anísio Teixeira, na época de sua organização.
Educ. foco,
Juiz de Fora,
v. 15, n. 2, p. 111-134,
set 2010/fev 2011 122
Peixoto contratara para lecionar na UDF10. A atuação desses A formação do
professor de história na
docentes, especialmente na área da História e da Geografia, universidade do distrito
federal (1935-1939)
tornou-se conhecida devido a trabalhos já publicados sobre o
tema (Ferreira, 1999; Machado, 2002). Especificamente no
campo da História, Eugène Albertini e Henri Hauser ofereceram
importantes contribuições para a re-estruturação dos cursos,
sendo responsáveis por algumas mudanças na proposta original.
As análises elaboradas pelo professor Eugène Albertini
(s.d.a), do Collège de France, a respeito do plano de estudos
existente, sugeriram o desdobramento de História Antiga em
dois cursos: um com ênfase no Oriente e Grécia e outro sobre a
Civilização Romana, ambos com duração de três horas semanais,
ampliando assim a carga horária da disciplina. Responsável por
História Romana, introduziu no programa abordagens que
tendiam a privilegiar questões socioeconômicas e elementos da
vida cotidiana da população, em detrimento de uma história
factual e eminentemente política que se limitava às fontes oficiais.
Essa orientação, segundo ele, devia-se ao desenvolvimento das
ciências auxiliares da História, tais como a Epigrafia, Arqueologia
e Numismática, que possibilitavam a análise de um repertório
mais diversificado de fontes documentais. Em sua compreensão, as
atividades que envolviam a pesquisa histórica exigiam raciocínio,
desenvolvimento do senso crítico e gosto pela precisão (Albertini,
s.d.b).
Henri Hauser, membro do Institut de France e professor
da Sorbonne, participou do grupo fundador dos Annales, tendo
como companheiros Marc Bloch e Lucien Fèbvre. Professor
especialista em História Econômica da Idade Moderna, introduziu
a disciplina no curso de História da UDF, cujo programa
contemplava as transformações econômicas da sociedade europeia
desde o Renascimento até a Revolução Francesa. Além das aulas
teóricas, propunha exercícios práticos tais como leitura e crítica de
textos, investigações nos arquivos sobre a história econômica do
Brasil, apresentação oral e escrita dos trabalhos produzidos pelos
alunos.
10
Para compor o corpo docente da UDF Afrânio Peixoto, primeiro Reitor da UDF, segue
para a Europa a fim de contratar professores para algumas áreas nas quais não havia no
Educ. foco,
Brasil profissionais considerados competentes. De acordo com o trabalho de Marieta Ferreira Juiz de Fora,
(1999) havia interesse das autoridades francesas em atender a essas solicitações para garantir v. 15, n. 2, p. 111-134,
sua influência no processo de estruturação das universidades brasileiras. 123 set 2010/fev 2011
Sonia de Castro Lopes Sem dúvida, as contribuições trazidas por esses
professores alargaram a concepção de história que se tinha até
então. Familiarizados com as ideias inovadoras do movimento
dos Annales, que procurou renovar radicalmente o discurso
histórico, Albertini e Hauser, por meio de suas aulas,
possibilitaram a aproximação dos jovens estudantes brasileiros
com as mais modernas tendências historiográficas da época.
Vale lembrar que a revista Annales d’Histoire
Économique et Sociale fora criada recentemente (janeiro de
1929) e que Henri Hauser nela se destacava como o principal
colaborador para questões relativas ao período moderno
(século XVI ao XVIII). A produção da revista definiu-se em
direção contrária aos discursos e análises políticas, propondo o
alargamento do campo da História e orientando o interesse dos
historiadores para outros horizontes: a natureza, a paisagem,
a população e a demografia, as trocas, os costumes. Em
consequência dessas novas abordagens, ampliam-se as fontes e
métodos do historiador, os quais passam a incluir a Estatística,
a Demografia, a Linguística, a Psicologia, a Numismática e a
Arqueologia. Portanto, ao alimentar-se de conceitos, métodos
e hipóteses importados de outras ciências sociais, a Écolle
des Annales rompe com a história tradicional e realiza uma
verdadeira revolução historiográfica (Dosse, 1992).
As sugestões de Hauser para o curso de História Moderna
confirmavam as prescrições de Albertini para História Antiga e
indicavam uma ampliação de carga horária para as disciplinas
de conteúdo, em detrimento de certas matérias do programa
que não seriam “diretamente essenciais à formação do professor
de História”. Em sua opinião, a formação pedagógica deveria
ocorrer apenas no último ano (Hauser, s.d.).
Nessa perspectiva, a opinião dos professores franceses
parecia estar em sintonia com as ideias dos novos gestores
da universidade: um curso de conteúdo mais alargado e uma
formação pedagógica feita a posteriori, menos preocupada
em articular-se à formação cultural. De acordo com as novas
Instruções baixadas pelo reitor Affonso Penna Junior, em agosto
de 1936, o curso de História da UDF seria estruturado para os
Educ. foco, dois primeiros anos do seguinte modo:
Juiz de Fora,
v. 15, n. 2, p. 111-134,
set 2010/fev 2011 124
Curso de Formação de Professores de História / Escola de Economia e A formação do
professor de história na
Direito da UDF / 1936 universidade do distrito
federal (1935-1939)
Curso de Conteúdo 1º ano 2º ano
História Antiga (Oriente e Grécia) 2h
História da Civilização Romana 2h
História da Idade Média 3h
História Moderna e Econômica 3h 3h
História da Idade Contemporânea 3h
História da Civilização na América 3h
História da Civilização no Brasil 3h
Curso de Fundamentos
Inglês/Alemão 3h 2h
Antropologia 3h
Geografia Humana 2h
Desenho 1h 2h
Carga horária semanal 19h 17h
12
Consta também deste relatório o balanço feito pelo Diretor da Escola de Economia e Direito
no final de 1937 em relação ao número de alunos matriculados nos cursos oferecidos pela
Escola que indica um quantitativo de 32 alunos efetivamente matriculados no curso de
Educ. foco,
História, assim distribuídos pelos três anos letivos: 13 no primeiro ano, cinco no segundo e Juiz de Fora,
catorze no terceiro. Levando-se em conta os dados de 1935, que contabilizavam o ingresso v. 15, n. 2, p. 111-134,
de 23 alunos nesse curso, pode-se apontar uma evasão de quase 40% do corpo discente. 127 set 2010/fev 2011
Sonia de Castro Lopes esse material para os alunos se dedicarem à pesquisa das fontes
históricas.
As matérias pedagógicas só eram oferecidas ao final,
no 3º ano, com carga horária reduzida. Como o ano letivo da
Escola de Educação se organizava trimestralmente, cursava-se
por um trimestre apenas cada um dos componentes do bloco de
integração profissional, destacando-se nesses estudos a disciplina
Organização e Prática do Ensino Secundário que se desenvolvia
em seis horas semanais, num exemplo claro de valorização da
prática e das técnicas sobre o aparato teórico.
Quadro 3:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em janeiro de 1938, a UDF formou a primeira turma
do curso de História e, dos vinte e três alunos matriculados em
1935, apenas catorze foram diplomados13. Em maio do mesmo
ano, a Universidade foi reorganizada pelo Decreto Municipal
nº. 6.215, quando a Escola de Economia e Direito passou a se
denominar Faculdade de Política e Economia com o oferecimento
dos seguintes cursos: Ciências Sociais, Administração Superior,
Economia e Finanças e Jornalismo.
Os candidatos ao magistério secundário de História
deveriam ingressar no curso de Ciências Sociais (menção
História), onde estudariam por três anos os conteúdos específicos
do campo disciplinar e, posteriormente, fariam mais um ano de
integração profissional na Faculdade de Educação. A formação
de professores, portanto, ampliava-se em um ano, pois não era
13
Constam da relação dos formandos na primeira turma do curso de História da UDF os
seguintes alunos: Antonia Paca Lima Jobim, André Petrarca de Mesquita, Carlos Otávio
Flexa Ribeiro, Ciro Augusto Pinto, José Francisco Carvalhal, José Vieira Filho, Lucy Paula
Ramos, Maria do Carmo Clarck do Amaral, Maria da Glória Maia e Almeida, Maria
Educ. foco,
Nazareth Clarck do Amaral, Marta Leite de Rezende, Vicente Costa Tapajós, Guy José Juiz de Fora,
Paulo de Holanda, Meryam Benjamin de Viveiros. Arquivo UDF. Série Corpo Discente v. 15, n. 2, p. 111-134,
(diplomados). PROEDES/FE/UFRJ. 129 set 2010/fev 2011
Sonia de Castro Lopes permitida a concomitância das disciplinas pedagógicas com o
terceiro ano do curso básico.
Segundo as considerações do legislador, essa ampliação
do curso traria vantagens, seja pelo maior desenvolvimento dos
estudos científicos que deveriam ser ministrados especialmente
aos candidatos que desejassem prolongar os estudos para o
doutorado, seja pela necessidade de um estudo intenso das
questões pedagógicas que, se feito em conjunto com as matérias
do terceiro ano, acarretaria prejuízos para ambos os cursos.
A meu ver, o que de fato transparece nessa mudança é
a prioridade conferida à formação específica obtida no curso
de conteúdo em prejuízo de uma formação mais voltada para
o domínio dos saberes profissionais, conferindo à dimensão
pedagógica um caráter meramente complementar. Pelo artigo 2º,
inciso a, do novo decreto, o “desenvolvimento de uma cultura
superior e desinteressada” passa a figurar entre as finalidades da
UDF que se distancia, assim, de seus objetivos iniciais.
O exame de ingresso de alunos no curso de Ciências
Sociais, menção História, para o ano letivo de 1939, passará a exigir
provas escritas e orais de Latim, Geografia, História e Sociologia14,
conferindo ao curso um perfil humanístico, característica que irá
se refletir nos programas e currículos do curso secundário a partir
daquele momento.
Com a dissolução da UDF pelo Decreto-lei nº 1.063,
de 20 de janeiro de 1939, e a transferência da maioria de seus
cursos para a Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade
do Brasil, o curso de História acaba por perder sua autonomia,
sendo atrelado ao curso de Geografia15. Após três anos de estudos,
conferia-se ao egresso deste curso o título de bacharel em Geografia
e História e, com mais um ano do curso de Didática, realizado na
mesma Faculdade, obtinha-se o diploma de licenciado necessário
ao exercício do magistério do curso secundário.
14
Conforme Instruções nº. 22, de 15 de janeiro de 1939. Arquivo UDF. Série: Atos
administrativos (Instruções). PROEDES/FE/UFRJ.
15
O Decreto-lei nº 1.190, de 4 de abril de 1939, que organiza a Faculdade Nacional de
Filosofia, prevê para o curso de Geografia e História o seguinte currículo - 1º ano: Geografia
Física, Geografia Humana, Antropologia, História da Antiguidade e Idade Média; 2º ano:
Educ. foco,
Juiz de Fora, Geografia Física, Geografia Humana, História Moderna, História do Brasil, Etnografia; 3º
v. 15, n. 2, p. 111-134, ano: Geografia do Brasil, História Contemporânea, História do Brasil, História da América
set 2010/fev 2011 130 e Etnografia do Brasil (Brasil, 1939b, artigo 14).
Embora a realização de pesquisas constasse dos objetivos A formação do
professor de história na
declarados desta Faculdade16, não se constatou no currículo do universidade do distrito
federal (1935-1939)
novo curso de Geografia e História a presença de disciplinas que
favorecessem ou estimulassem qualquer atividade investigativa.
Ao que parece, a prática da pesquisa restringia-se ao bacharel que,
após dois anos de estudos sob a orientação do professor catedrático
da disciplina de seu interesse, fosse capaz de defender “tese original
de notável valor17.”
Essa matriz, que se tornou hegemônica, atravessou décadas,
e de certa forma a tensão permanece ainda hoje nos cursos de
formação docente. Ao examinar a breve trajetória da UDF, tendo
como foco de análise o curso de formação do professor de História,
foi possível verificar que o projeto original, mais comprometido
com a profissionalização e com a formação orgânica do professor, na
perspectiva de promover uma articulação estreita entre conteúdos
específicos e pedagógicos, perdeu sua especificidade em razão de
uma opção da Universidade pela formação de especialistas.
Após a incorporação de seus cursos pela Universidade
do Brasil, essas características tornam-se ainda mais evidentes
e, com apreciável margem de acerto, pode-se afirmar que até
os dias atuais os cursos de formação docente são marcados
pela clivagem existente entre os bacharelados, que ainda detêm
algum prestígio, e as licenciaturas oferecidas pelas Faculdades
de Educação, quase sempre desvalorizadas não apenas no espaço
acadêmico, mas também entre os próprios alunos.
Como se procurou demonstrar neste trabalho, a proposta
inicial que serviu de modelo à universidade de professores
ensejou ultrapassar essa dicotomia ao apostar na possibilidade
de uma formação integrada, na qual os conteúdos pudessem
ser pensados à luz do ensino e fertilizados pelas atividades de
pesquisa. A meu ver, enquanto os cursos que formam especialistas
não assumirem a responsabilidade de formar professores, esse
impasse permanecerá sem solução.
16
Artigo 1º do Decreto-lei nº 1.190/1939: a) preparar trabalhadores intelectuais para
o exercício das altas atividades culturais de ordem desinteressada ou técnica; b) preparar
Educ. foco,
candidatos ao magistério do ensino secundário e normal; c) realizar pesquisas nos vários Juiz de Fora,
domínios da cultura, que constituíam objeto de seu ensino. v. 15, n. 2, p. 111-134,
17
Parágrafo único do artigo 48 do Decreto-lei nº. 1.190. 131 set 2010/fev 2011
Sonia de Castro Lopes REFERÊNCIAS
ALBERTINI, Eugène. Cours de Formation des Professeurs d’Histoire.
Proposition de modification concernant l’histoire de l’antiquité, [s.d.a].
In: Arquivo UDF/PROEDES/FE/UFRJ.
______. L’etat présent des études sur la civilisation romaine, [s.d.b]. In:
Arquivo UDF/CEMIISERJ. Pasta de Programas.
HAUSER, Henri. Nature et sens des modifications proposés [s.d.]. In: Arquivo
UDF. Série: Cursos (programas). PROEDES/FE/UFRJ.