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Antonio F. Costella, artista, escritor e professor, apresenta a proposta de um roteiro básico para a
leitura de obra de arte, tendo como foco principal o conteúdo, o assunto, ideia materializado na obra. O
autor organiza dez importantes pontos de vista para serem apreciados. O roteiro pode ser aplicado a
leitura de qualquer imagem.
A apreensão do conteúdo factual se concretiza simples e tão somente pela identificação, em nível
meramente descritivo, dos elementos que compõem a obra.
Quando muitas vezes, o que se vê na obra pode não ser facilmente identificado pelo observador que
não possui familiaridade com o período na qual a obra foi executada, é necessário recorrer a
informações externas à obra. E essa compreensão de todo o conteúdo factual da obra favorecerá uma
melhor compreensão da obra.
" Do mesmo modo que a Arte sempre ensinou História aos homens, de sua parte a História também nos
auxilia a compreender a Arte" (p. 20).
No caso de obras não figurativas, o conteúdo factual refere-se aos elementos constitutivos do quadro,
ou seja, tudo o que pode ser descrito como as formas e cores.
Esse conteúdo, ao contrário do que possa parecer, é atributo da obra, e não do observador, pois as
reações do observador não são fruto do acaso. A escolha do tema, das cores, os traços, as linhas e
formas, a composição, tudo é pensado e elegido de forma a transmitir exatamente o sentimento
proposto pelo artista. Ou seja, ele induz no observador um determinado sentimento que é habilmente
desencadeado.
Portanto o conteúdo expressivo da obra é absorvido pelo espectador, quando somos tomados por
algum tipo de sentimento ao observarmos um quadro. Podemos dizer que esse conteúdo foi
compreendido quando analisamos o tipo de sentimento que nos provocou e podemos explicar suas
causas, o que exatamente foi feito para criar esse efeito.
A adaptação de um mesmo tema de acordo ao seu tempo, e ou ao seu lugar, cria um estilo desse
momento cultural. Porém a análise desse ponto de vista não se detém na identificação da corrente
artística à qual a obra pertence. Pois além desse conteúdo estilístico coletivo, devemos considerar
também o conteúdo estilístico individual, resultante da personalidade do artista criador. Mas devemos
lembrar que a manifestação de um estilo individual foi suprimido em várias antigas civilizações como a
egípcias, bizantina, além de outras civilizações teocráticas onde as obras deviam ser executadas
seguindo rígidos padrões e regras. Somente passou a ser fortemente apreciado depois do renascimento.
Somente o aprofundamento no estudo da história da arte nos fornecerá o conhecimento sobre as
diversas correntes artísticas e também informações bibliográficas que nos informará sobre a
contribuição de cada artista em especial.
Este item diz respeito à contribuição do observador neste processo de apreciação da obra, pois a fruição
artística pressupõe sempre, além da obra em si, a presença de um observador.
A atualização decorre do deslocamento no tempo ou de lugar da obra de arte, pois esta é percebida
diferentemente por um novo observador que pertencerá a um outro universo cultural. Dessa forma a
noção da existência desse conteúdo atualizado da obra nos permite compreender o porquê do valor
artístico das obras variarem no tempo e no espaço.
Cabe ressaltar que quando analisamos as obras sobre o ponto de vista atualizado estamos trazendo-as
para a nossa óptica cultural, e a atualização costuma ser generalizada e coerente, ou seja, tende a ser
feita igual por todos de um mesmo ambiente cultural.
Para começar, o valor estético da obra é algo distinto de seu valor expressional que apenas toca ou
desperta nossos sentimentos comuns, pois uma obra com forte valor artístico vai além; extasia, enleva e
enobrece nosso espírito.
Segundo Osborne (1984, p. 206), " a experiência estética é um modo de cognição através da apreensão
direta (...) é uma ampliação e uma intensificação da percepção sensorial" É uma forma de conhecimento
através dos sentidos, mas que opera antes de atingir à razão.
Além disso, uma obra de arte de grande valor consegue sustentar longamente o interesse do
observador que após absorver o conteúdo estético, parte para a reflexão desse conteúdo que pode
ainda gerar novas apreensões num ir e vir constante e interminável.
Dessa forma, a capacidade de apreensão do conteúdo estético é aguçada principalmente através da
contemplação/fruição reiterada, não necessariamente da mesma obra.
COSTELLA, Antonio F. Para Apreciar A Arte: Roteiro Didático. Editora: Senac. São Paulo, 1984.
OSBORNE, Harold. Apreciação da arte, São Paulo: Cultrix, 1984