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47 Introdução
Técnica
Circular
Bagé, RS
Vários fatores devem ser observados para que a eficiência da proteção
Agosto, 2015
(imunização) desencadeada pela aplicação da vacina não seja prejudicada. Esses
fatores podem estar relacionados ao transporte, conservação, manuseio das
vacinas e execução da vacinação.
Autores
Deve-se considerar também que a proteção induzida por vacinas é individual e
Emanuelle Baldo Gaspar
Pesquisadora da influenciada também por fatores como idade, competência do sistema imunológico,
Embrapa Pecuária Sul presença de anticorpos colostrais e tipo de vacina administrada.
Alessandro Pelegrine Minho
Pesquisador da De um modo geral, os principais objetivos da vacinação são:
Embrapa Pecuária Sul
Proteger o animal de doenças infecciosas associadas à mortalidade e evitar
Lenita Ramires dos Santos sequelas de longo prazo que possam interferir no desempenho ou, até mesmo,
Pesquisadora da
Embrapa Gado de Corte interromper o período de vida produtiva/reprodutiva de um animal ou de todo
um rebanho;
Proteger o rebanho e evitar surtos de doenças infecciosas;
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Antígeno é qualquer substância (molécula ou parte dela) que pode ser reconhecida por componentes do
sistema imunológico, entre eles os anticorpos, e com isso desencadear uma resposta imune.
2 Manual de Boas Práticas de Vacinação e Imunização de Bovinos
As vacinas podem ser produzidas de diferentes formas (figura 1), como demonstrado abaixo:
Bactérias, vírus ou parasitos vivos atenuados;
Componentes (subunidades) das bactérias (polissacarídeos da cápsula, pili, flagelo, toxinas), vírus ou
parasitos (principalmente antígenos de superfície);
Proteínas recombinantes;
DNA.
Arte: Manuela Bergamim de Oliveira
Bactéria
Fator de
virulência Antígeno
Vacina viva atenuada
Ribossomos
Membrana
Material Parede
genético celular
Vacina inativada
Vacina de subunidade
Vacina de DNA
plasmídeo
DNA codificante
do antígeno
Figura 1. Principais tipos de vacinas que podem ser obtidos a partir de uma bactéria (GASPAR; SANTOS,
2014).
Manual de Boas Práticas de Vacinação e Imunização de Bovinos 3
Além do antígeno, outro componente de uma grande Com relação à vacinação contra brucelose, que
quantidade de vacinas é o adjuvante, que é um também é obrigatória, não é definido um calendário
composto que atua não especificamente para de vacinação, entretanto o que fica definido são o
aumentar/favorecer a resposta imune específica para sexo e a idade do animal em que a vacina deve ser
um antígeno, maximizando a resposta imunológica administrada (vacinar apenas fêmeas entre três e
do animal contra o patógeno a ser combatido. oito meses de idade). A vacina contra raiva também
Saponina, hidróxido de alumínio e óleo tipo emulsão pode se tornar obrigatória no caso de ocorrência de
são adjuvantes comuns em vacinas de bovinos. focos da doença. Os Estados podem legislar
complementarmente sobre a necessidade de
A despeito da enorme diversidade de informações vacinação compulsória da raiva em áreas de risco.
disponíveis sobre este tema, é importante que o
produtor rural esteja apto a realizar o procedimento Além das vacinas obrigatórias, o produtor deve
de vacinação de forma adequada, visando minimizar também considerar a real necessidade da utilização
fatores que possam levar a falhas no processo de de outras vacinas para proteger os animais contra
imunização2. Esse manual visa auxiliar o produtor determinadas doenças, utilizando uma ou mais das
rural no processo de vacinação do rebanho e dezenas de vacinas disponíveis no mercado.
apresentar as técnicas mais adequadas envolvidas
neste processo, que visam à proteção dos animais Aquisição
contra várias doenças de alto impacto econômico na Definida a fase de planejamento chega a hora da
agropecuária. aquisição. Várias são as opções de vacinas
disponíveis no mercado. Deve-se prestar atenção se
Planejamento os produtos disponíveis à venda atendem à
A escolha por induzir proteção ao rebanho pelo uso necessidade do programa sanitário definido
da vacinação deve levar em conta a manifestação de anteriormente. As vacinas a serem utilizadas devem
doenças na propriedade, relatos de casos de ser aprovadas pelo MAPA e adquiridas em lojas
doenças na região e relatórios informativos sobre o registradas, e na quantidade compatível com o
diagnóstico e a prevalência de doenças contagiosas número de animais a serem vacinados. O produtor
publicados por órgãos oficiais de vigilância sanitária, sempre deve exigir a nota fiscal e conferir os rótulos
extensão agropecuária, ou ainda, por instituições de do frasco para verificar o número de partida, data de
pesquisa e ensino. Em seguida, deve ser criado um fabricação e prazo de validade.
calendário de vacinação, no qual estarão definidas
as vacinas a serem utilizadas e a melhor época para Conservação de vacinas
a aplicação de cada uma delas. Este calendário É fundamental que a cadeia de frio seja preservada
deverá ser definido juntamente com o médico desde a produção da vacina até o destino final
veterinário responsável pelo rebanho. (produtor). Por isso, definida a compra, o próximo
passo é cuidar do estado de conservação das
Algumas vacinas são obrigatórias em bovinos e, vacinas durante o transporte e permanência das
portanto, devem ser incluídas no calendário anual de mesmas na propriedade rural. O ideal é que fiquem
vacinação. O Ministério da Agricultura, Pecuária e acondicionadas em temperatura entre 2°C a 8°C,
Abastecimento (MAPA) define um calendário oficial numa caixa térmica com gelo, sempre com três
para a vacina de febre aftosa em que os meses mais partes de gelo para cada parte de vacina, durante o
adequados para vacinação são definidos segundo o transporte ou no dia do manejo (Figura 2), e
Estado da Federação, mas que se concentra em mantidas em geladeira até o uso.
maio e em novembro. Os produtores são obrigados a
vacinar nas datas pré-estabelecidas e apresentar A conservação da vacina é essencial para a boa
comprovação, exceto no estado de Santa Catarina, imunização do rebanho. Deve-se manter a faixa de
onde é proibido utilizar a vacina contra aftosa. temperatura recomendada, nem permitindo o
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Processo de imunizar, tornar (o organismo) imune ou resistente à determinada doença. Imunizar é diferente de vacinar, pois vários fatores
relacionados à produção, conservação e/ou aplicação da vacina, ou até mesmo, respostas individuais inadequadas podem acarretar falha
na imunização de animais vacinados.
4 Manual de Boas Práticas de Vacinação e Imunização de Bovinos
Tabela 1. Agulha a ser utilizada, dependendo do tipo de vacina. Adaptado de Venâncio (2013).
Intramuscular
Deve ser preferencialmente aplicada no músculo da
tábua do pescoço, a fim de evitar danos na Figura 5. (A) Forma correta de aplicação da injeção
subcutânea. A pele deve ser puxada para
musculatura da garupa, local erroneamente utilizado
formar uma prega e deve-se introduzir a
para aplicação de vacinas. Vacinas mal aplicadas
agulha paralelamente ao corpo do animal,
podem ocasionar perdas de carcaça, por hematomas
de cima para baixo, permitindo a injeção no
ou abcessos. Caso seja necessária a aplicação na tecido subcutâneo e evitando refluxo do
garupa, devem-se evitar as partes próximas à líquido. (B) Forma correta de aplicação de
espinha dorsal, pois podem ocorrer lesões no nervo injeção intramuscular. A agulha deve ser
ciático. Com um golpe rápido e forte, a agulha é introduzida perpendicularmente à tábua do
inserida a quatro ou cinco centímetros de pescoço permitindo a injeção dentro do
profundidade do pescoço (a agulha tem de penetrar tecido muscular.
Manual de Boas Práticas de Vacinação e Imunização de Bovinos 7
Tabela 2. Práticas e recomendações a serem adotadas e obedecidas para viabilizar a proteção ideal do rebanho:
Elaborar o calendário sanitário, incluindo o calendário de vacinação, juntamente com o médico veterinário e
seguir as datas preestabelecidas;
Verificar os frascos, cujos rótulos devem conter o número de partida, data de fabricação e prazo de
validade;
Ler a bula da vacina;
Transportar e manter a vacina de acordo com as exigências do laboratório fabricante;
Para a conservação da vacina em geladeira, a temperatura ideal está entre 2 °C e 8 °C; não congelar;
As seringas e agulhas devem ser fervidas para a esterilização. O uso de desinfetantes para esterilizar as
agulhas é proibido, porque os resíduos podem inativar a vacina;
As vias de administração e doses devem ser obedecidas conforme recomendação do laboratório fabricante;
O frasco deve ser agitado todas as vezes que a seringa for reabastecida;
Diferentes produtos nunca devem ser combinados na mesma injeção, a não ser que as vacinas sejam
embaladas para serem misturadas subsequentemente;
A dose e a via de aplicação deve ser aquela indicada no rótulo ou na bula da vacina;
Não vacinar animais debilitados ou submetidos a atividades desgastantes como: viagem prolongada,
trabalho de parto, períodos prolongados de privação de alimento, entre outros;
Não utilizar vacinas de frascos já abertos e com sobra de produto;
Após abastecer a seringa, recolocar o frasco da vacina no gelo e tampar a caixa de isopor;
Após vacinar cada grupo de dez animais, substituir a agulha por outra limpa e esterilizada (fervida);
Não vacinar nas horas muito quentes do dia e, após a vacinação, evitar movimentar os animais pelo menos
durante uma ou duas horas;
Para facilitar o manejo, pode-se utilizar mais de uma vacina na mesma ocasião;
A vacina contra brucelose é perigosa para quem a aplica. Portanto, deve ser administrada com a
assistência de um médico-veterinário e com os devidos cuidados na sua manipulação;
Obedecer ao prazo de carência estabelecido para as vacinas, conforme laboratório fabricante, evitando
consumo de carne e leite;
O registro escrito da vacinação executada deve ser realizado, anotando-se os animais vacinados, a data de
vacinação, o número de partida, o laboratório e a validade da vacina;
Os frascos vazios devem ser incinerados.
8 Manual de Boas Práticas de Vacinação e Imunização de Bovinos
Na tabela 3 listamos o esquema de vacinação das principais doenças infecciosas de bovinos no Brasil.
Quando realizada adequadamente, a vacinação é a BAGLEY, C. V. Vaccination program for beef calves. Logan: Utah
principal ferramenta para manter o status sanitário State University, 2001. 5 p. (USU Cooperative Extension. Animal
de um rebanho, entretanto, a utilização de vacinas health fact sheet. Beef, 40).
como medida única de controle de doenças não é
eficaz, pois várias doenças infecciosas e parasitárias BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento.
ainda não dispõem de vacinas para um controle Manual de Legislação: programas nacionais de saúde animal do
adequado das infecções. Além das vacinas, a Brasil. Brasília, DF, 2009. 440 p.
utilização adequada dos antibióticos e
antiparasitários deve sempre visar ao uso racional MADUREIRA, L. D. Vacine corretamente e garanta a saúde do seu
para evitarmos o desenvolvimento de resistência na rebanho. Campo Grande, MS: EMBRAPA-CNPGC, 1998. 5 p.
propriedade e a presença de resíduos químicos nos (EMBRAPA-CNPGC. Gado de Corte divulga, 30).
produtos de origem animal. O manejo sanitário,
perfeitamente integrado à nutrição e à genética PADGETT, D. A.; GLASER, R. How stress influences the immune
animal, forma a estrutura sobre a qual se sustenta response. Trends in Immunology, London, v. 24, n. 8, p. 444-
toda a atividade pecuária. 448, Aug. 2003.
TIZARD, I. R. Veterinary immunology. 9th ed. Saint Louis: ROTH, J. A. Veterinary vaccines and their importance to animal
Elsevier, 2013. 551 p. health and public health. Procedia in Vaccinology, v. 5, p. 127-
136, 2011.
1ª edição on line
Expediente Supervisão editorial: Comitê Local de Publicações -
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Revisão de texto: Comitê Local de Publicações -
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Editoração eletrônica: Roberto Cimirro Alves
Tratamento de ilustrações: Roberto Cimirro Alves