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INTRODUÇÃO

O interesse em trabalhar com o estudo da arquitetura do centro urbano de


Florianópolis iniciou-se em 2008, ano em que foi ministrada a disciplina História de Santa
Catarina, no Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Dentre as atividades sugeridas para a
disciplina, estava a redação de um artigo com tema relacionado ao estado de Santa Catarina,
de maneira que a opção foi de direcionar-se a Florianópolis, tendo em vista o contato, nesse
mesmo período, com o livro de Eliane Veras (1993), intitulado Florianópolis: Memória
Urbana.
A partir da leitura dessa obra o interesse voltou-se ao estudo da formação do centro
urbano de Florianópolis, particularmente, pela urbanização e modernização do centro
histórico e pelos fatores que motivaram e impulsionaram a mudança estética nas construções
coloniais da cidade. No decorrer da leitura evidencia-se a pequena citação referente à
diversidade de estilos arquitetônicos existentes nas construções do centro da cidade e à
paulatina mudança percebida em suas estruturas. Veras (1993, p. 141) observou que:

A arquitetura foi aos poucos se desprendendo dos alinhamentos lateral e frontal,


adaptando-se a novas linguagens arquitetônicas, tais como a neoclássica, eclética,
em suas diferentes expressões, adotando ainda elementos do Art Nouveau e do Art
déco, enriquecida inclusive por novas correntes migratórias.

Assim, por ser de grande importância para a arquitetura moderna, porém, pouco
estudado, o art déco, dentre os estilos arquitetônicos adotados nas construções da cidade, foi
o foco deste trabalho.Nesse sentido, é evidente que em Florianópolis há diversas alternativas
direcionadas a novas formas de construir e de habitar, o que, consequentemente, proporcionou
uma renovação urbana na Capital. Grande parte da renovação urbana das cidades brasileiras,
inclusive Florianópolis, deveu-se em grande medida, ao ecletismo1 que atuou como “um
veículo estético eficiente para assimilação de inovações tecnológicas de importância e para
adoção de soluções plásticas construtivas mais complexas” (REIS apud VERAS, 1993, p.
153). Funcionando como veículo de renovação e alteração estética, o ecletismo foi utilizado
nos mais diversos tipos de construções, desde as habitações comuns até prédios públicos,

1
Como movimento artístico, o ecletismo ocorre na arquitetura durante o século XIX. Por volta de 1840, na
França, em relação à hegemonia do estilo greco-romano, surge a proposta de retomada de modelos históricos
como, por exemplo, o gótico e o românico. É uma corrente que mescla diversos estilos arquitetônicos na
tentativa de criação de uma nova linguagem.
13

promovendo uma mudança na aparência das construções com sua mescla de estilos e
inovações construtivas.
A partir de 1930, algumas unidades arquitetônicas da cidade de Florianópolis – assim
como em outras capitais brasileiras - começaram a apresentar aspectos mais racionalistas,
associados a uma nova estética que se baseava nos valores da estrutura e da função, evitando a
ênfase decorativa e historicista que era predominante na arquitetura até então. A adoção do
racionalismo também esteve associada à dificuldade de obtenção de materiais de construção e
de mão-de-obra especializada, muitas vezes requeridas para a prática de estilos
arquitetônicos mais elaborados, decorativamente, como o ecletismo ou o estilo neoclássico.
Essa simplificação do processo construtivo proporcionou a adoção de uma tendência
estética em voga na Europa, o art déco, estilo arquitetônico que se inicia em Paris no ano de
1925 e que, posteriormente, foi adotado em diversas localidades do mundo. O art déco é uma
estética que se caracterizou principalmente pela ambiguidade no sentido da fusão de estilos
modernos e de signos antigos incorporados em seu repertório estético (SEGAWA, 2002, p.
72), estando também associada a mudanças nos padrões de higiene e a novas concepções de
urbanização.
Porém, a implantação da arquitetura déco não resultou na transição súbita para a
vanguarda modernista, ela conciliou princípios consagrados pela tradição, estilizando
elementos clássicos (pilastras, frontões e platibandas) com inovações tecnológicas (utilização
de concreto armado, verticalização dos edifícios, novos materiais como ferro) e novas
concepções estéticas. Assim, o déco apresenta, em suas diferentes composições, elementos
clássicos, modernos e também regionais tornando possível uma readaptação de elementos
historicistas e uma simplificação do ornamento e da forma, tornando-a mais abstrata,
geométrica e simples.
No Brasil, a chegada do art déco coincide com um momento de transformações
políticas, econômicas, sociais e culturais, proporcionadas em grande medida pela Revolução
de 1930, associada a crescentes debates referentes à questão da identidade nacional. Em vista
disso, este trabalho tratará principalmente das mudanças relacionadas à higiene, urbanização
e formas de construir, aspectos que em conjunto alteraram, significativamente o centro urbano
de diversas capitais brasileiras, inclusive Florianópolis. Será estudada, também, a renovação
estética do centro urbano da cidade, a partir da incorporação da roupagem déco na malha
urbana de Florianópolis, fator que promoveu uma alteração inicial da fachada, sem alteração
da planta baixa e da estrutura dos lotes coloniais. Através do estudo de exemplares em art
déco ainda existentes na cidade, o direcionamento da pesquisa foi para a análise de sua
14

ambiguidade enquanto estilo arquitetônico, a maneira pela qual ele expressa o moderno e ao
mesmo tempo a maneira que mantém o passado inscrito em seus detalhes.
Para isso, as fontes de pesquisa utilizadas para essa monografia foram os projetos de
construções que se encontram nos arquivos da Secretaria de Urbanismo e Serviços Públicos
(SUSP). Foram consultados e fotografados projetos de 1930 a 1950 juntamente com o
apontamento do nome de seu autor, da data, do ano e do local de execução. Foram
encontrados, a partir de 1930, diversos projetos de renovação de fachada nos quais se
percebem alterações do aspecto tradicional através da adoção de elementos estéticos
diversificados, mais relacionados à ornamentação geométrica e simplificada, além de projetos
que expressavam novos conceitos estéticos e construtivos. Vale ressaltar que o foco deste
trabalho será principalmente dado às fachadas das edificações, cujas plantas baixas não serão
analisadas, porém, é evidente a necessidade de estudos posteriores sobre essa questão.
Nessa perspectiva, verificou-se,a partir dos projetos analisados, que os nomes dos
projetistas responsáveis são quase sempre os mesmos. Por isso, durante o trabalho serão
contemplados alguns desses construtores de suma importância na incorporação de elementos
mais modernos na arquitetura da cidade. Além disso, fora o levantamento iconográfico, foram
utilizados alguns jornais (consultados de outros trabalhos) da época, principalmente, anúncios
publicitários referentes a inaugurações de obras arquitetônicas como cinemas e hotéis, sendo
que assim, foi possível perceber qual era a concepção de moderno associada a essas
edificações.
No arquivo da Casa da Memória foram consultadas diversas fotografias dos anos de
1930 a 1950 e tiradas fotos das construções atuais, buscando, assim, em alguns momentos do
trabalho, um contraponto entre o projeto original e a obra atual, sendo que algumas delas
foram modificadas, e a maioria permanecem inalteradas.
Dentre a bibliografia consultada, foram utilizados três autores principais que abordam
o art déco enquanto estilo arquitetônico; Alice Viana, Luiz Eduardo Teixeira e Vitor Campos.
Campos2, em sua dissertação, faz um estudo de base sobre o déco na cidade de São Paulo e
afirma que o déco exerceu significativa participação no processo de modernização da cidade,
atuando como uma das formas com que o projeto moderno se fez conhecer no contexto
paulistano. Campos (1996) aponta para a existência de uma grande lacuna historiográfica em
relação ao estilo déco, defendendo a necessidade de maiores estudos sobre o tema. O autor
afirma que “essa linguagem tem sido omitida sistematicamente da historiografia oficial da

2
CAMPOS, Victor José Baptista. O art déco na arquitetura paulistana: uma outra face do moderno.
Dissertação (Mestrado em arquitetura). Universidade do Estado de São Paulo, São Paulo, 1996.
15

arquitetura, como se esse fenômeno jamais tivesse ocorrido por aqui, ou sua presença tivesse
sido de menor importância” (CAMPOS, 1996, p. 09). Ao final do trabalho, Campo (1996) faz
um inventário de 80 exemplares representativos do estilo déco, que servirão de base para
pesquisas posteriores, inclusive para sua tese 3 de doutorado, fonte também utilizada nesta
monografia.
A dissertação de Alice Viana4 teve por objetivo estudar as expressões da arquitetura
déco em Florianópolis, cuja pesquisa resultou em um inventário de exemplares em art déco
que serviram de base para a presente pesquisa monográfica.
Luiz Teixeira 5 , em sua tese de doutorado, traça um panorama da modernidade
Catarinense, abarcando dois diferentes ciclos, o primeiro definido entre 1930 a 1950 e o
segundo compreendido entre 1950 a meados de 1960. O autor estabelece uma relação entre a
arquitetura produzida no estado, juntamente com as transformações ocorridas na cidade de
Florianópolis.
Diante disso, a presente monografia está estruturada em três capítulos. O capítulo 1,
intitulado “Definições do art déco”, busca definir a maneira de inserção do déco na
arquitetura, além da abordagem de questões referentes à arquitetura moderna e seus preceitos
básicos. Ainda no segundo capítulo foram analisados aspectos da política nacional que
coincidiram com a chegada do déco ao Brasil, assim como fatores relacionados à identidade
nacional e ao higienismo. Ao final do capítulo, na seção “Art déco e modernidade em
Florianópolis”, foram analisadas plantas e construções realizadas na cidade no período de
1930 a 1950, buscando compreender quais foram as possibilidades e limitações das inovações
construtivas e estéticas nessas edificações e de que maneira o art déco foi adotado na intenção
de atualização estética.

3
CAMPOS, Vitor José Batista. O Art Déco e a construção do imaginário moderno: um estudo de linguagem
arquitetônica. 2003.Tese (Doutorado em Arquitetura) - Universidade do Estado de São Paulo, São Paulo, 2003.
4
VIANA, Alice de Oliveira. A persistência dos rastros: manifestações da art déco na arquitetura de
Florianópolis. Dissertação (Mestrado em Artes visuais) - Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de
Artes, Florianópolis, 2008.
5
TEIXEIRA, Luiz Eduardo Fontoura. Arquitetura e cidade: a modernidade (possível) em Florianópolis, Santa
Catarina-1930-1960. 2009, 337p. Tese (Doutorado em Arquitetura) - Escola de Engenharia de São Carlos da
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
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CAPÍTULO I

DEFINIÇÕES DO ART DÉCO

1 O ART DÉCO E SUAS FORMAS URBANAS

O art déco surgiu durante o período entre guerras6, oficialmente no ano de 1925, na
Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas em Paris7 (figura 01).
O termo em si foi reconhecido durante a Exposição Lês Anées 25, que aconteceu no Museu de
Artes Decorativas de Paris, no ano de 1966. O estilo possuía várias denominações, como
modernistic, jazz modern style, zigzag modern, style 1925, Paris 25, streamlinead modern,
dentre outros. Teixeira (2009) cita Tinniswood (2005), referindo-se às diversas denominações
dadas ao déco:

Um australiano poderia caracterizá-lo como “estilo náutico moderno”; um


americano como “moderno aerodinâmico” ou “estilo linear”, “zigzag moderno” ou
estilo “arranha-céu”, dependendo de sua forma ou dimensões e sua habilidade em
registrar as nuances. Se você fosse francês, poderia falar em um “estilo moderno”,
ou “estilo 25”, ou “universalismo”. E se você, como pessoa de fala inglesa, quisesse
impressionar com sua sofisticação e cosmopolitismo, você poderia adicionar um “e”
gálico a “modern” e se referir a “jazz moderne”, “streamline moderne”, ou “zigzag
moderne” (TINNISWOOD apud TEIXEIRA, 2009, p. 96).

De acordo com CAMPOS (1996), durante o período entre guerras ocorreu uma certa
ascensão econômica de uma parcela da sociedade francesa que permaneceu alheia à guerra.
Essa elite almejava uma estética arquitetônica que mesclasse alguns valores clássicos; através
da simplificação de elementos tradicionais, como as colunas, os frontões 8 , as pilastras, as
platibandas9, presentes principalmente nas fachadas dos edifícios, com valores modernos e
inovadores relacionados a elementos da máquina e da indústria, tradutores de temáticas do
deslocamento e da velocidade. Assim, ocorria no déco uma simplificação geometrizante dos
elementos decorativos, juntamente com a diversificação das fontes de influência ornamental.

6
Tal período compreende o fim da Primeira Guerra Mundial em 1918 até o início da Segunda Guerra Mundial
em 1939.
7
Em francês: Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes.
8
Frontão é a parte de um determinado conjunto arquitetônico, geralmente de forma triangular, que decora o topo
da fachada principal de um edifício, sendo constituído por duas partes essenciais: a cimalha (base) e as empenas
(dois lados que fecham o triangulo). Advém da arquitetura clássica greco-romana.
9
Designa uma faixa horizontal que emoldura a parte superior da construção, possuindo a função principal de
esconder o telhado.
17

Figura 01- Cartaz de divulgação da Exposição de Artes Decorativas e Industriais Modernas, em Paris no ano de
1925. Fonte: www.artnet.com . Acesso em 20 de abril de 2010.

O art déco surge em um período de ascendência da sociedade industrial, na qual as


inovações tecnológicas eram crescentes e atingiam parcelas cada vez maiores da sociedade.
O art déco se apresenta como um estilo moderno e industrial, podendo ser definido como:

Uma estética ambígua, fundindo manifestações diversas, como referências do


futurismo e do neoplasticismo, através da insinuação da noção de movimento e da
utilização de formas abstratas na composição, como elementos das culturas ditas
“exóticas”, a exemplo da apropriação de baixos relevos de ornamentação geométrica,
típicos da cultura marajoara, entre outros, tendo apresentado leituras próprias e
diferenciadas em cada sociedade e em cada localidade (VIANA, 2008, p.15).

O déco se estende a diversas áreas como a pintura, a escultura, a cenografia, o design,


as artes gráficas e a moda. Em todas essas áreas o art déco torna-se uma maneira acessível do
estilo moderno, um elo entre o novo e entre padrões culturalmente estabelecidos e aceitos,
proporcionando sua rápida difusão e aceitação em várias cidades do mundo. De acordo com
Segre, o art déco pode ser considerado como:

Mais que um movimento integrado ou alternativo às vanguardas dos anos 20, é uma
tendência que estabelece uma ponte entre o ecletismo, já carente de vitalidade
própria, e o radicalismo explosivo do racionalismo europeu (SEGRE, 1991, p. 109).

A partir dessa fusão de padrões modernos e “antigos”, pode-se destacar a inexistência


de padrões fixos, principalmente, no que se refere à arquitetura. Essa característica
18

possibilitou uma enorme liberdade criativa e a incorporação de elementos específicos e


originais na totalidade das construções. O déco pode ser considerado como o primeiro estilo
internacional do século XX que lançou bases importantes para o desenvolvimento do desenho
da arquitetura moderna. Conde & Almada afirmam que

Ao contrário do movimento moderno, o art déco não pode ser definido como
“movimento” artístico, principalmente pelas seguintes razões: ausência de doutrina
teórica unificadora (manifestos, publicações) que ordenasse a produção segundo
conceitos e paradigmas bem definidos (CONDE & ALMADA, 1999, p.71).

O art déco, enquanto estilo arquitetônico, pode ser percebido como uma alternativa
acessível na tentativa de incorporação de estilos modernos à vida cotidiana. Tais padrões eram
absorvidos pela classe média-alta como uma maneira de inserir-se na moda do momento. Em
contrapartida, as camadas mais populares, inclusive no Brasil, tinham acesso a essas
tendências através dos meios de comunicação de massa (cinema, revistas), ocorria uma leitura
particular do estilo que era adaptado de acordo com as necessidades e as influências de cada
local, surgindo uma versão mais “popularizada” do art déco no que se refere à utilização de
matérias acessíveis e de (re) leituras estéticas.
Assim, o déco foi um estilo o qual possibilitou que camadas mais populares tivessem
acesso a seu repertório estético, existindo a possibilidade de adicionar elementos decorativos
de baixo custo, com materiais acessíveis e simples de serem confeccionados. Essa
simplificação na forma e na aplicabilidade não ocorria na arquitetura neoclássica, nem mesmo
na arquitetura moderna, cuja complexidade era maior no quesito elementos decorativos e em
sua forma construtiva, respectivamente.
Além de dialogar com eventos europeus típicos do período pós-guerra, como o
cinema 10 e o jazz americano 11 , o déco incorporou características dos movimentos de
vanguarda das primeiras décadas do século XX, como o futurismo, o cubismo, o bauhaus12,
dentre outros.

10
Através do cinema que era um poderoso meio de difusão cultural nesse período, eram apresentadas referências
ao art déco, no expressionismo alemão pode-se citar o filme “ Metropolis” de 1927, com cenografia déco.
11
Surgido no pós-guerra, o jazz abriu portas para o reconhecimento e a valorização das artes e dos artistas
negros. Tomando esse ponto como referência, vale ressaltar a valorização da cultura Egípcia a partir da
descoberta do túmulo de Tut-Ankh-Amon e do crescente reconhecimento da cultura africana, sendo várias
referências estéticas utilizadas no art déco.
12
Escola de design, arte e arquitetura, fundada em 1919, na Alemanha, resultante da fusão entre a Escola de
Artes e Ofícios e a Academia de Belas Artes de Weimar, buscava a aproximação do artista com o mundo do
trabalho, da pureza do desenho, da simplicidade das formas, da funcionalidade, etc. Foi uma das mais
importantes do que se pode chamar de modernismo no design e na arquitetura.
19

Nessa perspectiva, o déco utilizou-se de características, presentes no futurismo –


iniciado com o manifesto do poeta italiano Felippo Marinetti, em 1909 - que se relacionavam
ao culto do desenvolvimento mecânico, à valorização do dinamismo, ao movimento e à
velocidade. Esses elementos de inspiração do futurismo podem ser percebidos em
construções déco, principalmente, no desenho e na forma decorativa aplicada nas fachadas
das construções onde a alusão à proa de navios, a aviões e a automóveis foi freqüentemente
utilizada. A presença de sucessões de superfícies curvas (aerodinamismo) pode ser percebida
como símbolo de movimento e velocidade, proporcionando a incorporação de elementos do
desenvolvimento mecânico e industrial ao repertório estético da arquitetura déco.
Já o cubismo inspirou o déco na utilização de representações com formas geométricas,
utilizadas também nos volumes aplicados sobre superfícies planas. Esses elementos são
encontrados, principalmente, na ornamentação das fachadas, na qual percebemos um maior
rigor geométrico e maior linearidade em relação a formas anteriores de arquitetura, como o
neoclássico e o art nouveau, por exemplo.
Mais, especificamente, a estética déco conta com a utilização de linhas em zigzag e
ritmos lineares, tanto na horizontal como na vertical. Em suas formas existe a predominância
de cheios sobre vazios e o escalonamento no jogo de volumes. As figuras utilizadas na
ornamentação das fachadas possuem desenhos simples e geometrizados, tornando sua
aplicação mais prática durante o processo construtivo. Na Europa essa praticidade na forma
construtiva surge a partir da necessidade de reconstrução rápida das cidades atingidas pela
guerra, contribuindo para a diminuição da ornamentação das fachadas e de formas mais
rebuscadas. Percebem-se alterações nos materiais inseridos nas construções, nos quais o
concreto armado passa a ser usado juntamente com materiais como o plástico (como elemento
estrutural), cromo, bronze, baquelite 13, marfim, prata, ferro, cristais de rocha, etc. As pinturas
das paredes eram, preferencialmente, em tons pastéis e rosa havendo também a utilização de
pinturas coloridas em versões diversificadas e estilizadas do art déco.
Diferentemente do art nouveau 14 que deixou pendente a relação entre produção
artesanal e industrial, o déco promoveu uma ligação entre a arte e a indústria, possibilitando a
confecção de produtos de massa, maior diversificação de artigos e um barateamento de peças
decorativas, de uso doméstico e materiais de construção. Porcelanas, aparelhos de rádio em
versão déco (figura 02), luminárias de vidro, compensado de madeira, aço tubular,

13
É uma resina sintética resistente ao calor, utilizada em peças que necessitam de isolamento elétrico e térmico.
14
Estilo que se destacou durante a Belle Époque em fins do século XIX, caracteriza-se pelas formas orgânicas,
valorização do trabalho artesanal e exploração de novos materiais, como o ferro fundido e vidro.
20

argamassa 15 , granilite 16 , são alguns dos elementos utilizados nas construções e também
produzidos em uma versão estilizada do art déco. A incorporação desses novos elementos
mais práticos e acessíveis proporcionou uma grande difusão do art déco em diversos países
do mundo, inclusive no Brasil. Ele possibilitou uma maior adaptação às necessidades
materiais de cada região, sendo adaptado de forma positiva a realidades tão diversas da
sociedade brasileira.Sendo assim:

O Art Déco foi verdadeiramente o primeiro estilo do século 20, além do mais
internacional [...] chegou no momento em que as novas formas de comunicação
haviam assegurado sua rápida difusão. Finalmente, e o mais importante, foi o último
estilo total. Assim como o Barroco ou o Clássico podia ornamentar uma casa, um
iate ou uma faca. O espírito do Art Déco foi o espírito do moderno. Ainda que tenha
adaptado estilos antigos para uso próprio, ele ainda foi o estilo do novo. (DE
LEMME apud CAMPOS, 1996, P.07).

Figura 02- Aparelho de rádio em versão déco. Fonte: www.tuberadioland.com. Acesso em: 28 de maio de 2010

2 O ART DÉCO COMO POSSÍVEL SOLUÇÃO ESTÉTICA NA ADAPTAÇÃO DE


NOVOS PADRÕES CONSTRUTIVOS

No estudo da arquitetura brasileira entre os anos de 1930 e 1950, se percebe a tentativa


de inserção do novo, em contraposição ao tradicional. Essa contraposição pode ser entendida
mais no sentido de adequação, do que de substituição de padrões estéticos anteriores. Assim,

15
Aplicada nas paredes para simular a textura do mármore.
16
Resultado de pedaços de mármore, granito, cimento, água e areia, muito utilizado nas construções da classe
média por ser um artigo barato e acessível.
21

muitas medidas foram adotadas na busca da transformação estética e funcional, também, de


diversas construções de Florianópolis.
Pode-se destacar três diferentes “correntes” que vigoraram na Europa e motivaram
mudanças ocorridas no Brasil e em Florianópolis, no que se refere à forma de morar, ou seja,
aos padrões de construções das casas e também aos hábitos diários dos cidadãos. Esses “focos
de influência” são: os higienistas, que percebiam a sociedade através do viés da saúde; os
teóricos da estética, que questionavam o uso da ornamentação e a pouca funcionalidade das
moradias; e, por fim, o pensamento dos arquitetos que buscavam uma nova concepção para a
urbanização das cidades.
Na Europa, durante o século XVIII estavam em voga teorias sobre a saúde dos
indivíduos relacionando a salubridade ao meio físico, ou seja, para não existirem moléstias e
epidemias que assolavam as cidades, medidas de higiene deveriam ser adotadas tanto na
estrutura física das construções, quanto nos hábitos de higiene diária das pessoas, conforme
apresenta Alice Viana:

Diante dessas convicções, a medicina procedia a uma reelaboração do espaço da


cidade, com alargamento e asfaltamento de ruas, criação de praças e fontes,
canalização de córregos, o distanciamento dos hospitais, prisões e cemitérios das
aglomerações principais, entre outros. (VIANA, 2008, p.45).

Pautadas por essas concepções, nas construções das habitações realizadas no Brasil
foram adotadas medidas como pavimentação do solo e revestimento das paredes, espaço
destinado ao lixo, individualização dos sanitários, afastamentos laterais nas casas na
perspectiva de obter uma maior circulação de ar etc. Por questões de higiene era mais
aconselhável evitar aglomerações, no espaço público e privado. Essa preocupação motivou
uma mudança na estrutura interna das construções, pois os quartos, que antes eram
interligados, passariam a ter um corredor com acesso comum.
Essas mudanças nos modos de vida tradicionais têm relação com uma maior
valorização da vida privada e com a necessidade de um maior individualismo e preservação
da vida íntima. Assim, como mencionado, uma das maneiras de se obter essa privacidade
seria através da estrutura da construção das casas e também dos hábitos de higiene adotados.
Dessa forma, a saúde passa a ser associada ao meio, ou seja, um ambiente limpo, arejado e
iluminado, seria mais saudável que um ambiente escuro, mal ventilado, sem divisões de
quartos, sem área verde, como era antes da adoção desses padrões de higiene.
Nesse contexto, relacionando a questão da privacidade às posturas higiênicas, percebe-
se que a casa seria um local para que as famílias pudessem praticar esses novos hábitos. Ela
22

se torna um lugar pensado e construído no sentido de afastar da insalubridade e do “caos” os


que nela habitam, o que poderia ser gerado pelo excesso de aglomerações, tanto de pessoas,
quanto de objetos. Pode-se afirmar que a partir dessas mudanças estruturais na maneira de
construir e planejar, a casa passa a ser vista com novas concepções, adotando, posteriormente,
uma conotação de “máquina de morar” (CORBUSIER, 1996, p. 182).
Nesse sentido, Le Corbusier, um dos principais teóricos da arquitetura moderna,
utiliza-se de diversos princípios de salubridade, a exemplo disso seria a adoção da cor branca
na pintura das paredes das construções. Esses conceitos eram, diretamente, ligados a
concepções visuais e estéticas, ou seja, o olhar para a construção já determinaria sua
adequação ou não a esses padrões. Corbusier defendia a idéia de purismo, movimento criado
por ele e pelo pintor Amedeé Ozenfant, em 1919, através do qual era aplicada a geometria
associada às máquinas e a aplicação da pura pintura branca, preferencialmente, a cal. Eles
defendiam que as casas modernas deveriam adotar esses padrões, substituindo “papéis de
parede, pinturas decorativa, por uma demão pura de tinta esmalte branca” (LE CORBUSIER,
1996, p.191). Assim, a casa tornaria-se limpa, pura e sem os diversos artifícios que a
distanciariam de sua real forma. Essa corrente de arquitetos acreditava que com a casa limpa,
arejada, ventilada e iluminada o morador também praticaria a higiene pessoal, o banho de sol,
o contato com o ar fresco, tornando a limpeza mais presente em seu cotidiano.
Corbusier desenvolveu, também, cinco princípios que direcionaram as novas
construções modernas.Segundo pesquisas desenvolvidas pelo arquiteto, essas obras deveriam
contar, preferencialmente, com o pilotis, a planta livre, a fachada livre, o terraço jardim e o
pano de vidro na fachada:

O pilotis libera o edifício do solo, facilitando a circulação de ar e de pessoas, a


planta livre facilita a mobilidade dos móveis e paredes na busca da melhor posição
por iluminação e aeração, as janelas de vidro com as fachadas livres possibilitam
maior entrada de luz, integrando interior e exterior, o terraço-jardim traz a natureza,
o ar puro e, somando a esses princípios o arquiteto também postulava a utilização de
quebra-sóis que regulam a incidência de sol ( VIANA, 2008, p.50).

Acompanhando esses novos conceitos de higiene, em 1937, realizou-se a primeira


reforma nacional da saúde, sendo o estado de Santa Catarina dividido em sete distritos
sanitários com postos de saúde e serviços especializados em higiene. Em 1939, no ano de
visita do então Presidente Getúlio Vargas, foi inaugurado o prédio do novo Departamento de
Saúde Pública de Florianópolis, tornando a saúde uma das prioridades do governo, o que
ocasionou um maior envolvimento do Estado na saúde da população. Nereu Ramos, por sua
23

vez, governador do Estado de Santa Catarina entre 1935 e 1945, direcionou ações para a
modernização do estado, propondo segundo Amora (2006):

“A consolidação da nação brasileira através da constituição de um novo espaço


catarinense, dissolvendo as diversidades dessa sociedade, com reformas sociais
atingindo as classes mais pobres modificando os modos de vida tradicionais”
(AMORA, 2006, p.01).

Assim, como pôde ser visto, através da criação desses padrões estéticos pode-se
perceber a preocupação com a higiene e com o bem estar dos indivíduos que ocuparão o
espaço construído. Todo o espaço deveria ser pensado estética e funcionalmente para atingir
parâmetros de salubridade e de novos códigos e modos de construir, ou seja, a funcionalidade
deveria estar presente na construção, que seria pensada desde a planta até o acabamento.
Esses padrões foram adotados no Brasil, principalmente, pelos arquitetos modernistas, dentre
eles, pode-se destacar Lucio Costa, autor do projeto de construção do prédio do Ministério da
Educação e da Saúde – MES -, construído no Rio de Janeiro em 1936, marcando oficialmente
o início do programa de arquitetura modernista no país.
A curva como elemento estético e funcional utilizada em oposição à reta, foi um dos
padrões de higiene e estética adotados nesse período. As curvas higiênicas (os ângulos
internos deixam de ser retos tornando-se curvos) foram utilizadas principalmente em prédios
públicos, como hospitais, prisões, asilos, etc, evitando acúmulo de poeira e tornando a
limpeza mais fácil e eficaz.
A curva como recurso estético já era utilizada desde o período barroco. Ela se
associava ao universo, às descobertas da ciência e à expressão das emoções. Simbolizava a
nova relação do homem com o universo e a dualidade entre a razão e a intuição, entre o céu e
a terra. A partir da adoção de novos conceitos higiênicos, a curva passa a ter um caráter mais
funcional, servindo como um dos meios de se atingir a limpeza no interior e exterior das
construções. Não se pode deixar de considerar que a utilização da curva se relaciona, no início
do século XX, à descoberta do universo curvo de Albert Einstein, que tentava provar através
da ciência que o peso dos corpos causava uma deformação no espaço, o que provaria que o
mesmo seria curvo (VIANA, 2008, p.55).
Esteticamente, podemos afirmar que a curva foi adaptada às construções buscando
idéia de movimento, de inovação, de desarticulação com os métodos fixos de construção e
ornamentação. Os exemplares de construções em art déco implantaram no Brasil esse “novo”
conceito de curva, o que não significaria que a curva fosse um elemento exclusivo do
repertório informacional desse estilo.
24

Essa idéia de limpeza estava, intimamente, associada ao visual, de maneira que ocorre
por parte dos higienistas e de alguns arquitetos, a negação da ornamentação excessiva nas
fachadas e a negação do excesso de objetos acumulados no interior das casas. Esse exagero na
ornamentação e no acúmulo de objetos sem funcionalidade causaria uma “poluição visual”,
além de contribuir para a proliferação de sujeira e poeira, sendo, conseqüentemente,
prejudicial à saúde e aos hábitos de higiene.
Essa tendência moderna de construção “sóbria e austera, consistia assim, em revestir
os ambientes com materiais nobres, com madeira ou pedras, permitindo perceber sua nudez,
ou seja, sua verdade” (VIANA, 2006, p. 37). Tais concepções estéticas foram defendidas por
diversos arquitetos europeus. Como por exemplo, Adolf Loss 17 , que acreditava que o
ornamento deveria ser banido da vida moderna, pois era algo secundário, desnecessário.
Posteriormente, tais concepções foram defendidas por Le Corbusier:

A arte decorativa deveria ser como a máquina, deveria atender às necessidades


humanas, que eram comuns a todos os homens, e seus objetos deveriam ser
elaborados através da escala humana e da função a desempenhar. Assim teríamos
“objetos-membro humanos, objetos funcionais que seriam um prolongamento dos
membros de nosso corpo e atenderiam a essas necessidades padrões (VIANA, 2006,
p. 38)”.

A partir da citação de Le Corbusier, pode-se ter uma maior percepção de qual era a
crítica direcionada à decoração excessiva e sem funcionalidade. Segundo esse arquiteto e
vários outros partidários dessa concepção, o ornamento deveria ser banido da vida moderna.
Se existisse, deveria atender às necessidades diárias, ser funcional, útil ao homem, não
exercendo um papel de simples adorno.
No Brasil, a adoção do estilo déco coincide com algumas medidas higiênicas que
estavam sendo aplicadas por todo país, uma iniciativa governamental que tentava atingir
diversas camadas sociais. Há algumas características presentes na cartilha estética do déco
que complementavam e atingiam algumas das aspirações higiênicas no que se refere ao modo
de construir. A curva é uma delas, fora adotada como padrão estético e também higiênico.
Outra é a ausência de ornamentação excessiva e adoção do purismo, que primava por formas
geométricas e racionalização na forma construtiva, aspectos que serão mais profundamente
abordados durante as análises das construções de Florianópolis. A partir de fins do século
XIX foram adotadas diversas medidas sanitaristas que proporcionariam uma reforma urbana
no centro de Florianópolis. Através de construções públicas como asilos, prisões e hospitais

17
Arquiteto nascido, em 1870, na República Tcheca. Autor do ensaio/ manifesto “Ornamento e Crime”, o qual
critica o uso abusivo de ornamentação na arquitetura européia do século XIX.
25

ocorreu uma reformulação da paisagem urbana e um reajuste da população a essas mudanças.


Associadas aos códigos de posturas municipais que procuravam direcionar as normas de
assepsia pública esses regulamentos eram utilizados “ como práticas de poder de uma política
de racionalização das posturas e dos costumes que procurava, por meio de procedimentos
médico-higienistas, classificar e organizar os encontros e atitudes no centro da cidade”
( ARAÚJO, 1989, p.51).
Contudo, aliado a questões higiênicas, o déco pode ser percebido como um estilo
ambíguo de representação do que seria moderno na arquitetura. A ambigüidade é entendida
no sentido do déco transitar entre o moderno e o “antigo”, entre signos despojados e
simplificados, entre a estética e a ornamentação tradicional, entre inovações técnico
construtivas até simples reformas de fachadas. Pode-se considerá-lo como um dos signos que
expressaria o moderno em um momento em que o signo da construção se encontrava em seu
próprio material, em seu despojamento estético, passível de variações em suas formas de
aplicação. Essa ambigüidade pode ser percebida nas variações construtivas que apresentadas
ao longo do trabalho.

3 ART DÉCO NO BRASIL: ARQUITETURA E “ESTADO NOVO”

O art déco foi adotado em diversas localidades do mundo, da França difundiu-se para
a América do Norte e em seguida para a América Latina. A chegada ao Brasil coincidiu com
um período de intensa mudança no contexto político nacional, sintetizado pela Revolução de
1930 que implicou mudanças nos campos econômico, político, social e cultural.
A partir desse momento, passa a ocorrer uma valorização tanto do modernismo,
quanto da cultura popular brasileira. Muitos intelectuais partidários da Revolução de 1930,
como Caio Prado Junior 18 , Sérgio Buarque de Holanda 19 e Gilberto Freyre 20 contribuíram
com suas obras que se reportavam à história do país, ao nacionalismo e à mudança de
concepção de classes.
Desde as décadas finais do século XIX ocorreram crescentes debates referentes à
nacionalidade e à formação de uma identidade brasileira que se baseasse em referências

18
Evolução Política no Brasil, Formação do Brasil contemporâneo, História econômica no Brasil, são algumas
das obras de Caio Prado Júnior.
19
Em Raízes do Brasil, Sergio Buarque aborda questões como a história da cultura brasileira, o processo de
formação da sociedade, o legado da cultura portuguesa, as transferências culturais etc.
20
Casa Grande & Senzala, Sobrados e Mucambos são algumas das obras de Freyre que, juntamente com Sérgio
Buarque,fundaram a Universidade de Ciências Sociais no Brasil, sendo ambos pioneiros nos movimentos
nacionais que buscam a democratização da sociedade brasileira.
26

próprias. No âmbito literário havia uma vertente que se direcionava ao ufanismo, ou seja, a
exaltação de riquezas e belezas naturais brasileiras, esse seria o início da discussão sobre o
patriotismo oficial da nação.
Outro grupo de intelectuais, conhecidos como Nativistas, que contavam com nomes
como Monteiro Lobato, Heitor Villa Lobos, Mario de Andrade e Oswald de Andrade atuavam
em diversos gêneros artísticos buscando alcançar um caráter originalmente nacional. Esse
movimento coincide com a introdução do art déco e do modernismo no cenário cultural
brasileiro, no qual suas intervenções se direcionavam em alcançar uma “expressão própria
para a cultura brasileira” (CAMPOS, 1996, p.14).
Temos conhecimento de que esse “espírito nacional” se fez presente em discursos de
diversos arquitetos e engenheiros que tentavam encontrar uma solução para o impasse pelo
qual passava a arquitetura no Brasil. Pode-se citar o engenheiro civil Bernardo Ribeiro de
Freitas ,formado pela escola politécnica em 1881. Freitas publicou, em 1888, um quadro da
arquitetura nacional do período, no artigo intitulado “A arquitetura moderna”. Nesse artigo,
Ribeiro de Freitas fez comentários sobre os avanços tecnológicos e as transformações sociais
ocorridas ao longo do século que estaria por terminar. Ele não esconde a sua insatisfação
frente a não existência de um padrão arquitetônico nacional, afirmando que diversos povos,
têm a arquitetura como uma expressão de sua própria civilização (SEGAWA, 2002, p. 123).
Toda essa gama de discussões referentes à identidade nacional culmina na Semana de
Arte Moderna de 1922, ocorrida na cidade de São Paulo, tendo como um dos focos de debate
a introdução do modernismo e das experimentações artísticas européias no cenário artístico e
intelectual brasileiro. A Semana de Arte Moderna foi de fundamental importância para a
revisão dos valores estéticos e para as discussões intelectuais do país.
A “Era Vargas” foi marcada pela afirmação de valores modernos, e uma das
expressões desses valores foi amparada na arquitetura. As obras públicas construídas nesse
período abrigavam a imagem de um novo tempo que contava com novas práticas políticas,
econômicas e sociais.
No Brasil, destacavam-se dois diferentes grupos de arquitetos que se direcionavam
para a possibilidade da construção de projetos em vista dessa nova nação que buscava
modernizar-se. Os neocolonialistas, representados por José Mariano Filho 21 , defendiam o
tradicionalismo, baseando-se em uma linguagem colonial adaptada ao presente, já os

21
Arquiteto do século XX, um dos grandes defensores da preservação da arquitetura neocolonial no Brasil.
27
22 23
funcionalistas eram representados por Lúcio Costa , tendo como referência o
24 25
racionalismo europeu e a influência direta de Le Corbusier que visitou o Brasil em 1929 e
1936. Nesse tipo de construção, a funcionalidade e a autenticidade dos traçados eram fatores
primordiais. O grupo que melhor se adaptou às exigências da época foram os funcionalistas
que efetuaram construções importantes como a do Ministério da Educação e Saúde
(MES)26em 1936. A construção desse prédio - inspirado em padrões racionalistas europeus-
simbolizou um marco na arquitetura brasileira, podendo ser considerado como a linguagem
oficial do modernismo no país.
Na tentativa de materializar o moderno, foram inseridos padrões arquitetônicos que
buscavam a ruptura com o traçado puramente tradicional expresso em casas coloniais,
marcadas pela influência arquitetônica portuguesa. Uma das correntes arquitetônicas que se
direcionava nessa tentativa foi o ecletismo do fim do século XIX e início do século XX, que
associava estilos os quais possibilitassem um caminho de representação do novo - estilo que
está associado à chamada arquitetura historicista a qual tentava resgatar estilos antigos através
dos “neo”, neoclássico, neobarroco, neogótico, etc, - incorporando elementos mais modernos
no que se refere ao método construtivo, como por exemplo, o ferro e as estruturas de concreto,
assim como a diversificação dos elementos decorativos.
O ecletismo pode ser percebido como um estilo cosmopolita, por se integrar a várias
culturas arquitetônicas, reconhece a diversidade, apresenta um multi-culturalismo expresso
em suas formas, referências estéticas, técnicas e materiais de modernização capitalista, (se
aproximando de novas técnicas construtivas). Observa-se que nas práticas arquitetônicas dos
séculos XIX e XX existe uma grande diversificação de aplicação e utilização de estilos,
havendo uma “coexistência de técnicas, programas e estilos do passado e do presente,
evidenciando a permanência da tradição colonial, entrelaçada no desejo de modernização e na
necessidade de construção imaginaria da nova nação” (PEREIRA, 2007, p. 02).

22
Funcionalismo em arquitetura é o princípio pelo qual o projeto será desenvolvido pensando na finalidade da
construção. “A forma segue a função”, frase do arquiteto Louis Sullivan.
23
Costa foi arquiteto e urbanista, um dos precursores da arquitetura moderna no Brasil
24
Tendência arquitetônica introduzida na Europa no início do século XX. Bauhaus teve importante papel no
desenvolvimento da linguagem racionalista que buscava a economia na utilização do solo , direcionava atenção
as especificidades dos materiais( madeira, vidro,metais etc). Busca simetria, equilíbrio e regularidade no
conjunto da obra.
25
Corbursier foi arquiteto, urbanista e pintor franco-suíço , um dos mais importantes arquitetos do século XX.
Importante representante da arquitetura funcionalista e racionalista
26
O grupo que participou juntamente com Lúcio Costa da elaboração do prédio do MES contava com Oscar
Niemeyer, Carlos Leão, Afonso Eduardo Reidy, Jorge M. Moreira e Ernani Vasconcelos.
28

Há exemplos dessa mescla de estilo em diversas capitais brasileiras, um deles é o


Palácio Duque de Caxias (antigo Ministério da Guerra), construído em fins do século XIX
com características neoclássicas e utilização de concreto armado na construção. Em
Florianópolis existe o Palácio Duque de Caxias (figura 03), uma importante obra
representante da arquitetura eclética do final do século XIX, a qual concilia estilos como o
barroco e o neoclássico.

Figura 03 - Palácio Duque de Caxias, situado no entorno da Praça XV em Florianópolis. Foto: Sabrina
Fernandes Melo, 2010.

Acerca do “novo” e da implantação do que seria moderno através da arquitetura Viana,


(2006) desenvolve uma discussão sobre como essa “modernidade” seria implantada nas
cidades, na tentativa de ruptura com um passado que era considerado por alguns setores da
sociedade como atrasado e retrógrado. Essa concepção fazia parte das estratégias adotadas
pelo Estado na tentativa de alcançar o progresso que deveria estar presente também na
imagem da cidade, ou seja, em suas construções. A autora percebe que existe um “paradoxo
do moderno”, no qual “o novo nada mais é do que uma fantasia imagética engendrada pela
sociedade, e que, na verdade, muitas vezes trata da sobrevivência de formas, formas estas já
existentes na própria cultura” (VIANA, 2006, p.27).
Assim, a autora analisa o novo como uma “obsessão da modernidade” e, para tanto, se
apóia nas teorias de Walter Benjamin27, para o qual o presente vive tomando referências tanto
do passado, quanto do futuro, em uma busca que avança e regressa, provocando, assim, uma
“falsa aparência” que gera a “falsa aparência do sempre-igual, do eterno-retorno do mesmo”
(BENJAMIN apud Viana, 2006, p.18). Entende-se com essa discussão que durante os séculos
XIX e XX existiam diversas propostas relacionadas à arquitetura e ao planejamento urbano

27
BENJAMIN, Walter. A doutrina das semelhanças. In: Obras escolhidas. Magia e Técnica, arte e política. 7
ed. SP: Brasiliense, 1994.
29

que ansiavam em alcançar uma “certa modernidade”. Cabe ressaltar a grande diferença, tanto
teórica, quanto prática, das aplicações direcionadas a esse propósito no Brasil e na Europa,
que foi, sem dúvida, o berço de diversas idéias, teorias e inovações construtivas, que,
posteriormente, chegam ao Brasil com propósitos diferentes, não cristalizados.
Tanto na Europa, quanto no Brasil, podemos perceber o art déco como “a primeira
linguagem arquitetônica que evitava citações do passado” (VIANA, 2006, p. 28). Essa
linguagem arquitetônica foi adotada pelo Estado em algumas situações como, por exemplo, na
construção dos correios de Florianópolis, um dos poucos prédios públicos na capital
representantes desse estilo.
Nessa perspectiva, Viana (2006) afirma que o déco evitava citações historicistas em
sua composição, contudo é possível perceber que o estilo muitas vezes aparece com alguma
roupagem que se remete a referências do passado. No Brasil, podemos desenvolver a hipótese
de que a utilização de referências historicistas poderia ocorrer devido à busca pela identidade
e nacionalidade. Quem somos nós? O que temos em nossa própria cultura? Qual padrão
arquitetônico representaria melhor nossa identidade? Verifica-se essa busca por uma
identidade nacional através da adoção de tipos de ornamentação marajoara ( Figuras 04 e 05),
referência indígena, do norte do país que de certa forma proporcionaria um caráter de
autenticidade e peculiaridade às construções, principalmente, nas sacadas das casas.Assim,
mesmo sendo o art déco um estilo arquitetônico europeu, a incorporação de formas indígenas
nacionais proporcionaria uma “brasilidade” à obra.
30

Figuras 04 e 05-Exemplo de pintura em cerâmica Marajoara.Disponível


em :www.marajoara.com/ceramica_marajoara.htm . Acesso em 08 de abril de 2010.

Com a incorporação do art déco torna-se possível a adoção de elementos regionais na


estrutura das construções, o que contribuiria em certa medida para a criação de um padrão
arquitetônico que mesclasse elementos tanto internacionais, quanto nacionais, tornando a
construção menos distante da realidade brasileira. Essa adaptação e incorporação de
elementos regionais a um repertório básico internacional devem-se ao fato de o art déco
possuir um sistema sígnico aberto, possibilitando uma maior originalidade na produção
arquitetônica. Essa “originalidade” na forma ocorreu de maneira diferente na Europa que
assumia

O compromisso de ruptura com o passado, na América Latina essa mudança


acontecia de maneira bem mais serena e gradual. Com exceção de uma minoria de
profissionais, as posturas vanguardistas mais radicais não foram assimiladas de
imediato, fato que permitiu um grau considerável de liberdade para as novas
experimentações de linguagem arquitetônica que foram surgindo (CAMPOS, 2003,
p.33).

A disseminação do estilo déco pelos países latino-americanos deveu-se também “[...]


ao desejo político de se conferir uma identidade moderna a um ideário político de caráter
fortemente nacionalista, verificáveis em países como México, Uruguai, Chile e Brasil [...]”
(CAMPOS, 2003, p. 13), pois “[..] na América Latina, modernidade tem a conotação de novo,
como em toda parte. Só que novo, para nós, chegou impregnado de um sentido de auto-
afirmação” (AMARAL, 1990, p. 174).
31

Partindo da idéia de instauração do que seria “novo e moderno” para auto-afirmação


do Estado como promotor de obras e políticas públicas, pode-se fazer uma interpretação sobre
a maneira como a qual o art déco foi utilizado nessa tentativa. Esse estilo permitia uma certa
inovação em relação aos padrões arquitetônicos, anteriormente, adotados, tanto pelo Estado,
quanto por uma parcela da população. Ele poderia representar, de certa forma, um “avanço”
em relação a citações do passado. Além disso, como possuía uma grande diversificação em
sua cartilha estética, tornou-se de fácil acesso a pessoas comuns, a proprietários particulares,
que gostariam de reformar ou construir suas casas com um design construtivo mais moderno.
Essa “modernidade” foi expressa de várias maneiras, o déco foi uma delas. Dentro
desse estilo arquitetônico percebe-se uma diversificação nos signos adotados. Algumas
construções, como é o caso da Agência dos Correios e Telégrafos em Florianópolis, possuem
ausência total de referências do passado, outras já possuem algum adorno na fachada, ou uma
citação que remeta a estilos arquitetônicos anteriores. Observam-se esses detalhes,
principalmente, nas reformas de fachadas de edificações comercias, que serão analisadas mais
adiante.
Seguindo a linha de representação do novo, do moderno, em uma linguagem que não
seria a déco, pode-se citar o antigo prédio do Banco do Brasil (atual arquivo Municipal de
Florianópolis), construído em 1940, situado na Praça XV de novembro, esquina com a rua
Tiradentes. Essa construção, assim como a Agência dos Correios e Telégrafos, possuía
aspecto monumental, revestimentos interno e externo com utilização de material nobre -o
mármore - linhas retas e pouca ornamentação. A presença de sobriedade na forma e
funcionalidade com tendência à monumentabilidade podem ser percebidas posteriormente,
no Edifício das Secretarias (atualmente Secretaria da Fazenda), construído em 1950, situado
na Praça XV de novembro, esquina com a rua Tenente Silveira.
É importante pensar as obras arquitetônicas construídas pelo Estado como uma
maneira do mesmo fazer-se presente no cotidiano da sociedade, como um interventor eficiente.
Além disso, pode-se pensar sobre os fatores de influência para adoção de determinado estilo
arquitetônico, se eles, de fato, estariam seguindo uma linha totalmente “moderna” ou se ainda
buscavam referências no passado e até que ponto seria possível à implementação do que seria
“novo” em uma obra arquitetônica pública.
A partir de 1930, alguns prédios públicos construídos em Florianópolis começam a
apresentar características comuns em sua linha construtiva como, por exemplo, a ausência de
ornamentação, presença de linhas retas e maiores aberturas laterais (VIANA, 2008). Essa
dinâmica construtiva, em certa medida, foi adotada pelo presidente do Estado (Getúlio Vargas)
32

juntamente com o apoio de governantes locais através de projetos arquitetônicos que


procuravam atingir grande parte do país. Esses projetos estatais se direcionavam, em sua
maioria, à construção de grupos escolares, estações ferroviárias e agências dos Correios e
Telégrafos.
Tais obras públicas (escolas, correios, etc) possuíam diversos estilos arquitetônicos,
não sendo possível classificá-las em apenas um padrão estilístico. Porém, pode-se afirmar que
elas apresentavam um caráter “moderno” em sua composição. Esse aspecto moderno era
bastante diversificado em cada uma das obras. Algumas possuíam ausência total de
referências historicistas28, outras apresentavam alguns detalhes que remontavam a citações do
passado. Essas “contradições” de representações do moderno, a partir de construções
realizadas em Florianópolis no período de 1930-1950, serão analisadas, posteriormente, com
o intuito de buscar perceber quais eram as particularidades encontradas em cada uma dessas
principais obras.

28
Um dos traços recorrentes a arquitetura historicista é a associação entre determinados programas e estilos, tais
como os prédios religiosos e os estilos medievais; ou os monumentos públicos e o neoclássico ou o neo-
renascimento; ou os pavilhões voltados para o lazer e os estilos exóticos (PEREIRA, 2005, p. 08).
33

CAPÍTULO II

ART DÉCO E MODERNIDADE EM FLORIANÓPOLIS

[...] Seja por vício cultural ou falta de visão, o fato é que nos
acostumamos a privilegiar o estudo e a análise de alguns períodos de
nossa história em detrimento de outros. Assim, valorizamos o Barroco
e o Modernismo, relegando a um plano de inferioridade outras
manifestações culturais, principalmente aquelas do período que
intermedia essas duas fases supostamente áureas de nossa
Arquitetura.
Luiz Paulo Conde

No presente capítulo será estudada a arquitetura de algumas edificações construídas e


também reformadas em Florianópolis a partir da década de 1930. Verifica-se que na capital
existe uma grande variedade de estilos aplicados nas construções, sendo que a única
construção pública em viés déco foi a Agencia dos Correios e Telégrafos. Muitos prédios
públicos da cidade construídos a partir da década de trinta apresentam aspectos mais
modernos tanto em sua estética como em sua forma construtiva, já os conjuntos comerciais
receberam em grande medida, roupagem déco em suas mais diversas formas de aplicação. A
partir dessa variedade de estilos e formas construtivas torna-se possível a compreensão de
como e em que medida a inovação e a alteração , tanto técnica como construtiva foi aplicada
nas edificações da cidade.

1 A AGÊNCIA DOS CORREIOS E TELÉGRAFOS

A partir da década de 1930 as agências dos Correios e Telégrafos começam a se


expandir pelo país, principalmente pelas capitais. Elas eram construídas em espaços
privilegiados, com boa localização dentro do centro urbano. E isso não poderia ser diferente
com a capital catarinense, que recebeu uma imponente agência em estilo déco, construída em
1937, localizada na área central de Florianópolis, na esquina entre as ruas Vitor Meireles e
Saldanha Marinho.
34

Contudo, não foi sistemática a adoção do art déco para a construção dos edifícios das
agências dos Correios. No interior do estado de Santa Catarina, por exemplo, encontram-se
prédios dessa instituição em racionalismo clássico (cidade de Chapecó), ou construções
assimétricas, que também eram associadas ao viés do art déco, como o caso da agência da
cidade de Lages29. O estilo adotado para a construção dos prédios dos correios variava, de
acordo com a importância política e econômica do local. Ocorria uma “hierarquização das
regiões e municípios, que definiria o perfil, as dimensões e a categoria de cada agência [...]”
(PEREIRA apud TEIXEIRA, 2009 p. 175).
Além dessa hierarquização nas construções, há também a postura do governo Vargas e
de outros governantes em relação às vertentes arquitetônicas adotadas que não eram fixas e
claras, pois “[...] balanceavam-se entre a modernidade de vanguarda e o art déco, ainda que
ambos convergissem para o funcionalismo, o utilitarismo e estandardização, sem contar com
o neocolonial e os estilos pitorescos” (OLIVEIRA, 2008, p. 21). A construção dessa
monumental agência em art déco, poderia simbolizar para Florianópolis:

A chegada do moderno. Moderno no sentido de eficiência, de maquinismo a serviço


da presteza de comunicações. Moderno também como forma e escala: um prédio
imponente, com nova formulação estética, com novos materiais construtivos em
contraponto à construção tradicional com seu telhado cerâmico (TEIXEIRA, 2009, p.
176).

Diante disso, analisando o edifício dos Correios de Florianópolis (figura 06 e 07),


percebe-se que essa construção possui ausência total de referências arquitetônicas historicistas.
É um edifício sóbrio, austero, sem ornamentação em sua fachada, a qual possuiu rigor
geométrico e um ritmo linear associado à verticalização de colunas em vidro. Conta com a
presença de janelas frontais e laterais, permitindo maior circulação de ar e também uma certa
sincronia estética, já que o número e o volume das aberturas são padronizados nos dois lados
da construção. Na parte central existe a presença da marquise, “que se tornou um dos
elementos marcantes de identidade da arquitetura moderna brasileira” (GHIRARDELLO,
2003, p. 02). Elementos funcionais, como a marquise, possuíam uma dupla função: “[...] por
um lado, protegiam a entrada do prédio para o cidadão [...]” (TEIXEIRA, 2009, p. 177), por
outro, “conferiam imponência e sentido público a construção” (PEREIRA apud TEIXEIRA,
2009, p.177).

29
Para maior aprofundamento sobre o assunto: TEIXEIRA, Luiz Eduardo Fontoura. Arquitetura e cidade: a
modernidade (possível) em Florianópolis, Santa Catarina-1930-1960. 2009. 337 f. Tese (Doutorado em
Arquitetura) - Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, São Carlos, 2009.
35

Nesse contexto, a viabilidade da construção de marquises de proteção, como é o caso


da existente no edifício dos Correios, só foi possível a partir do surgimento de novos materiais
e técnicas construtivas, como o aço e o concreto armado. Nota-se que a marquise exerce um
interessante contraste com o pano de vidro presente nas laterais do prédio em análise,
proporcionando uma maior leveza e ao mesmo tempo imponência à construção.
Conseqüentemente, ela proporcionaria um balanceamento da incidência solar no interior do
edifício, “possibilitando–se uma gradação de iluminação entre o externo e o interno que
permite maior vislumbre dos interiores; esse artifício é freqüentemente utilizado pelas
construções de uso comercial” (GHIRARDELLO, 2003, p. 04).
Além disso, a construção da agência dos Correios e de outros edifícios
“monumentais” relaciona-se também ao “amembramento de velhos lotes coloniais para a
construção da sede monumental, formalizando-se um processo de ruptura com a estrutura
fundiária da antiga área central fundadora - a praça XV” (TEIXEIRA, 2009, p. 225). Esses
lotes eram estreitos e compridos e as casas, geralmente, eram construídas em alinhamento
com a rua, sendo geminadas, formando uma série de casas semelhantes. Resultando em “um
processo de ruptura com o antigo sistema fundiário urbano e da verticalização da península,
processos então esboçados e que consolidariam em um segundo ciclo de modernidade: os
anos de 1950” (TEIXEIRA, 2009, p. 225).
A construção da Agência dos Correios e Telégrafos foi, sem dúvida, muito importante
para a transformação da dinâmica urbana do centro de Florianópolis. Estabelecia-se na cidade
um prédio com aspecto totalmente inovador em relação às construções já existentes. Além
disso, sua construção reorganizou a estrutura fundiária do centro histórico, possibilitando que,
posteriormente, se consolide um rearranjo na mesma. Essa construção é um dos poucos
exemplares de prédios públicos em estilo art déco, contudo, nesse mesmo período verificam-
se outras construções que possuíam características comuns à Agência dos Correios, além de
algumas reformas e remodelamentos praticados em edifícios da capital. Será verificada em
que medida essa “modernidade” foi expressa, esteticamente, em algumas obras públicas e
particulares da cidade.
36

Figura 06- Prédio da Agência dos Correios e Telégrafos de Florianópolis. 1937. Fonte: Casa da Memória.

Figura 07- Imagem atual do prédio dos Correios. Foto: Sabrina Fernandes Melo, 2010.

2 HOTEL LA PORTA

Em 1932 é construído o Hotel La Porta (figura 08), localizado em frente à praça


Fernando Machado, no centro de Florianópolis. O projeto da construção foi do engenheiro
Corsini e do arquiteto Augusto Hubel, sendo a primeira construção da cidade a possuir
37

elevador. O Hotel foi construído para abrigar a elite que chegava a Florianópolis, foi também
utilizado por moradores da ilha, que muitas vezes alugavam suítes para passarem a lua de mel
ou comemorarem ocasiões especiais. O edifício era bem localizado, encontrando-se ao lado
do porto da cidade, há poucos metros do mar. Mesmo com algumas inovações construtivas,
como a presença de quatro pavimentos e elevador, o projeto “contava com todas as
características do ecletismo historicista, como, por exemplo, coroamento, ornamentos
disseminados pelas fachadas, demarcação forte da porta principal e outras” (TEIXEIRA, 2009,
p. 214). De acordo com Teixeira (2009), a adoção de tal estilo arquitetônico comprovava um
certo conservadorismo no gosto dos projetistas. Esse conservadorismo estético que mesclava
o ecletismo com um toque de art nouveau andava juntamente com as inovações que possuíam
esse prédio, principalmente, no que se refere à sua funcionalidade.
Os anúncios (figura 09) contidos em jornais da época apontavam o Hotel La Porta
como o mais moderno do estado de Santa Catarina. Possuía telefone em todos os pavimentos,
água quente, lavanderia a vapor, oitenta quartos, dezoito banheiros e doze apartamentos
decorados. Os quartos ficavam nos pavimentos superiores, a lavanderia ocupava o terraço30.
Essa construção possuía grande importância no espaço urbano da cidade, abrigou
durante algum tempo em seu térreo a agência da VARIG, posteriormente, foi sede da Caixa
Econômica Federal, período em que sua fachada sofre alterações e são construídos mais dois
andares. Nos anos de 1980 sofreu implosão (Figura 10), gerando um vazio urbano no local.
Essa construção proporcionou uma mudança na paisagem urbana da cidade, na época,
expressando a modernidade construtiva da cidade que começava a se expandir com a
construção de um número mais crescente de edifícios verticalizados.

30
Informações retiradas do site: www.portaldesterro.com.br. Acesso em 24 de maio de 2010.
38

Figura 08 - Hotel La Porta,1932 . Fonte: Casa da Memória


Figura 09- A núncio publicitário do Hotel La Porta em 1952. Fonte: O Estado, 27, jan, 1952, p.12. Retirado
por (TEIXEIRA, 2009, p.217).

Figura 10 - Implosão da ex Agência Miramar da Caixa Econômica Federal, antigo Hotel La Porta. Fonte: Casa
da Memória

3 O FORTE DE SANTA BÁRBARA

Sobre alterações estéticas ocorridas em construções a partir da década de 1930, pode-


se citar o melhoramento e a ampliação da Catedral Metropolitana e do Forte Santa Bárbara
(figura 11), esse último recebendo “roupagem art déco com coroamentos serrilhados (sky line)
39

em seu corpo principal e muradas, entre outros elementos” (TEIXEIRA, 2009, p. 218). A
construção conta com seis colunas em baixo relevo em sua parte frontal, possuindo
serrilhados em suas extremidades, o que, hipoteticamente, poderia ser uma alusão ao
ornamento, mesmo que de forma simples e despojada, nota-se uma certa tentativa em manter
a decoração na fachada. Sua frente possui quatro janelas de mesma proporção, sendo
separadas por uma porta que possui marquise de proteção. A ornamentação é sutil, contudo,
ela faz com que o ar da construção seja mais familiar ao expectador, pois a mesma não
destoava completamente do cenário arquitetônico existente na cidade durante os anos de 1930.
O forte começou a ser construído na segunda metade do século XVIII, sendo
concluído em aproximadamente 1774. Seu projeto é atribuído ao engenheiro Custódio de Sá
Faria, sendo sua principal funcionalidade guarnecer a Vila Nossa Senhora do Desterro, atual
Florianópolis, contra possíveis embarcações inimigas. No século XIX, o forte serviu como
enfermaria militar, em 1875, abrigou a Capitania dos Portos e, em 1893, sediou o Governo do
Estado. (VEIGA, 2010, p.08).
Toda essa nova roupagem percebida na área urbana da cidade pode ser analisada de
diversas maneiras. Primeiramente, há a ideia de modernização e inserção do novo no meio
urbano, intenção que muitas vezes se materializou através do Estado com suas construções
“majestosas” e de cunho inovador. Podem-se perceber essas mudanças também pelo viés do
modismo, ou seja, através dos meios de comunicação, como cinema, revistas e até mesmo
pelo contato visual diário existente no cotidiano social, como uma maneira de “influenciar”,
de colocar idéias para que proprietários de casas particulares façam algum tipo de reforma que
se adapte melhor ao gosto do momento, ou mesmo para guiar novas construções na cidade.
40

Figura 11 - Forte de Santa Bárbara com reforma art déco dos anos de 1940. Foto: Dario de Almeida Prado.
Fonte: (TEIXEIRA, 2009, p.219).

4 ARQUITETURA E CINEMA

Nesta etapa do trabalho, serão analisados dois cinemas construídos em Florianópolis,


durante a década de 1930, O Cine Roxy e o Cine Ritz, buscando explicitar os processos que
abrangem cinema, arquitetura e modernidade, inseridos dentro da paisagem urbana da capital.
Será considerada a relação entre cinema e arquitetura através de dois pontos de vista: “do
modo como a arquitetura é representada na tela (cenografia) e nas formas plásticas com que o
cinema constrói seus espaços físicos” (FINGER, 2009, p.03).
De acordo com Ulisses Munarim (2009), ao longo do século XIX pode-se perceber
uma série de mudanças sociais, culturais e econômicas, um período de efervescência e
intensas transformações, tanto nas estruturas das construções urbanas, quanto nos modos de
vida da sociedade. Pode-se apontar o cinema como um dos grandes referenciais que marcaram
esse período, não apenas pela cenografia que em grande medida era em art déco, mas também
pelo estilo adotado na construção das próprias salas de cinema, além da movimentação social
e da mudança de costumes relacionados à moda, vestuário e hábitos cotidianos como o
tabaco, por exemplo. O cinema em certa medida tornou-se um fenômeno de multidão, se fez
presente em diversos setores sociais, influenciou, ditou moda, costumes, apresentou novos
pontos de vista, em síntese: “O cinema irrompe a era da cultura de massa” (MUNARIM, 2009,
p. 12).
41

Essas mudanças são perceptíveis tanto nas construções urbanas “iniciando já nas
intenções modernizantes da belle époque; florescendo no Art Déco; e culminando no
movimento moderno” (MUNARIM, 2009, p.09), como também no cotidiano social do qual
“passam a fazer parte programas modernos, como a galeria, os cafés e o cinema”
(MUNARIM, 2009, p. 09).
Após essa pequena introdução de como o cinema pode alterar, significativamente, a
estrutura física e também comportamental de uma sociedade, será feita a análise das
construções de salas de cinema na cidade de Florianópolis a partir de 1930, buscando perceber
quais eram os estilos arquitetônicos adotados e de que maneira essas construções
influenciaram ou não nos modos de vida da cidade. A base principal para tais discussões está
nos trabalhos de Ulisses Munarim (2009) e Luiz Eduardo Teixeira (2009).

4.1 OS CINES: ROXY E RITZ

O cine Roxy - antigo Centro Popular - foi construído em 1930, na rua Padre
Miguelinho (número 53), sendo o primeiro cine da capital. Nesse antigo Centro Popular
ocorriam diversos eventos relacionados à arte; como dança, teatro e festas. O Roxy exibia
filmes a preços populares, o que possibilitou que uma grande parcela da população tivesse
acesso ao cinema.
Sua composição arquitetônica era “[...] eclética, com influências do Art Nouveau
(particularmente no desenho das aberturas em arco pleno e ornatos) e outras linguagens”
(TEIXEIRA, 2009, p. 234). Em sua fachada há presença de pequenos ornamentos, com
características geométricas em alto e baixo relevo, ocorrendo uma diferenciação nas janelas,
nas quais, as que possuem arcos plenos se encontram na parte superior da construção,
contrapondo-se às inferiores com ausência de curva e entre as janelas existe a presença de
colunas em alto relevo. A diferenciação principal entre estruturas de alto e baixo relevo não
está associada somente às características volumétricas da peça. O baixo relevo define-se
quando suas formas não ultrapassam a visão frontal, já no alto relevo existe uma
tridimensionalidade mais evidente.
A estrutura interna do Cine Roxy (figura 12) era pequena, possuía platéia simples,
pouco ornamentada e plana, diferentemente, de sua fachada que é mais rica em detalhes. O
cine Roxy, sempre dividiu seu espaço com lojas que se encontravam na parte térrea da
construção, o que possibilitava um uso diferenciado de todo seu espaço físico. Assim, esse
42

cine não possuía características de um cine palácio, como aqueles existentes na Cinelândia 31
(Rio de Janeiro) ou mesmo como o cine Ritz, construído no entorno da rua Padre Miguelinho,
que para Munarim ( 2009) seria a Cinelândia de Florianópolis.
Um cine palácio era espacialmente semelhante a um teatro tradicional onde não
poderiam faltar o foyer, a platéia e o palco, que nos cines seria substituído pela tela de
projeção. A platéia de um cine palácio era composta por camarotes e galerias, contando com
divisórias entre platéia principal e balcão. Na decoração interior o cine palácio poderia
ostentar o luxo presente nos grandes cenários de espetáculos teatrais, sobretudo nos musicais
americanos. Essa opulência de detalhes, não estaria somente presente no ambiente físico dos
cinemas mas também na cenografia das produções cinematográficas.

Figura 12- Cine Roxy (Década de 1930) e conjunto urbano. Fonte: Dario de Almeida Prado. (TEIXEIRA, 2009,
p. 215).

No que se refere à arquitetura dos cenários verifica-se que a partir de 1925, passada a
exposição de artes decorativas em Paris ocorre uma maior difusão e aceitação do estilo art
déco, que primava por formas mais simples e geométricas. Essa simplificação da forma
proporcionaria um barateamento nos orçamentos, os sets de filmagem tornariam-se mais
sóbrios, sem excessos decorativos. Munarim cita Thompson que defende esse novo modo de
montar os sets de filmagem, afirmando que seria necessário “simplicidade para que o público
pudesse facilmente apreender a cena num instante, e redução porque o set não deve competir
31
Nome popular da região do entorno da Praça Floriano, no centro do Rio de Janeiro. O nome Cinelândia
popularizou-se a partir dos anos de 1930, quando começam a se instalar diversos bares, restaurantes, teatros e
cinemas.
43

com a ação” (THOMPSON apud MUNARIN, 2009, p.48). Essas produções que primavam
por uma maior simplicidade decorativa nos sets de filmagens podem ser exemplificadas pelo
filme Metropolis32 (figura 13), produção representante do expressionismo alemão que possui
em seu cenário diversas construções em estética déco. O filme faz citação à máquina e alusão
a uma metrópole futurista, com presença de automóveis, trens e veículos voadores. Contudo,
mesmo possuindo um cenário déco, essa produção foi de alto custo na época.

Figura 13- Cartaz de divulgação e parte do cenário em referência déco do Filme “Metropolis”. Fonte:
www.imagemovimento.wordpress.com.br . Acesso em 25 de abril de 2010.

O Roxy era “de propriedade da Cúria Diocesana, que o utiliza para celebrações.
Ironicamente,ctomo vários outros cines em seu período de decadência, o Roxy exibia filmes
pornográficos” (MUNARIM, 2009, p. 189). A estrutura física do cine Roxy foi utilizada de
maneira bastante diversificada, já foi palco de espetáculos de arte, funcionou como cinema
apresentando filmes de gêneros diversificados, espaço comercial e para celebrações religiosas,
mostrando suas múltiplas possibilidades de abrigar diferentes tipos de manifestações.
Nesse mesmo período - em 1935 - inaugurou-se o Cine Rex posteriormente,
denominado Cine Ritz, esse sim considerado um cine palácio característico da bélle époque.
Munarin (2009) chama atenção para a nomenclatura dos cinemas de Florianópolis que,
segundo o autor, sempre fazia alusão aos cinemas das grandes metrópoles. De forma
intencional ocorria essa transposição de elementos típicos das grandes cidades, desde os
modelos estruturais das salas de cinema, filmes, até mesmo os nomes empregados nos cines.

32
Do diretor austríaco Fritz Lang, o filme Metropolis produzido em 1927 possui referências em art déco em seu
cenário. Representante do expressionismo alemão foi uma das mais caras produções filmadas na Europa naquele
período. Trata-se de um um clássico que trata de ficção científica.
44

Assim, como já dito, anteriormente, o cine Ritz possuiu características de um cine


palácio, desde sua nomenclatura até sua estrutura interna e externa, possuindo referências dos
teatros tradicionais, pois apresenta:

Uma rígida separação entre o exterior e interior, o público e o privado. Não possui
bilheteria diferenciada, nem displays para cartazes de filmes, que eram colocados no
passeio público ou afixados na própria fachada do edifício, e a platéia ainda conta
com o típico balcão. (MUNARIM, 2009, p. 179).

Percebe-se, pela descrição de Munarin, que o Cine Ritz ao mesmo tempo em que seria
enquadrado na categoria de cine palácio, não possui certos aparatos funcionais, utilizados em
grandes salas de cinema, como os displays, por exemplo. Os cartazes eram afixados em locais
improvisados, ou mesmo colocados no chão da calçada.
Através do anúncio (figura 14) de estréia do Cine Ritz (antigo cine Rex), retirado do
jornal “O Estado” por (TEIXEIRA, 2009, p. 235), constata-se que existe uma propaganda em
relação à “modernidade” existente em seu mobiliário, em sua estrutura palaciana. Seria a
modernidade do cinema adentrando a cidade, além disso, o seu acesso e as suas comodidades
como a bonboniére, o bar parisiense, a galeria em cristal e todas as demais vantagens que ele
pudesse oferecer era apresentada de maneira bem democrática, na qual ricos e pobres
poderiam usufruir igualmente de todos os serviços oferecidos.
Vale ressaltar, além disso, o papel do cinema como promotor de um espaço de
sociabilidade nas cidades, um espaço de encontros, de conversas, de namoro, de usar trajes da
moda, padrões que muitas vezes foram ditados pelo próprio cinema. Ele poderia ser
considerado como um “agitador cultural” na cidade, promovendo uma grande circulação de
pessoas, de ideias e de referências estéticas, relacionadas à arquitetura (cenografia) e à moda
(figurino/ hábitos).
Os dois cinemas, tanto o Roxy quanto o Ritz (figura 14 e 15) possuíam arquitetura em
estilo eclético. A fachada do cine Ritz é bastante trabalhada, contém ornamentação com
aspecto geométrico que nos remete ao estilo déco. Observando a foto do cine Ritz, percebem-
se cinco grandes janelas frontais, no meio está presente uma com maior abertura, todas são
arredondadas e possuem simetria. Verifica-se, também, a presença de uma larga marquise,
que toma toda a parte baixa da construção.
Assim, o cine Ritz simbolizaria a dicotomia entre o que se pretendia da modernidade e
o que, de fato, se obteria dela. De um lado a técnica utilizada na construção era bastante
45

tradicional, como o uso da taipa-de-mão 33 , de outro, as técnicas mais modernas, como a


argamassa armada -técnica que pode ser considerada como percussora do concreto armado-
utilizada em alguns detalhes presentes na construção, como foi o caso da marquise externa,
que, posteriormente, foi ampliada por toda a extensão da fachada do edifício. Há, também, na
parte interior da construção a utilização do ferro como pilar de sustentação do balcão da
platéia, material associado a formas mais modernas de construção civil (MUNARIN, 2009).
É interessante perceber todo esse impasse referente ao método construtivo, que hora se
associa a formas mais modernas, no que se refere ao material e a estética e, por vezes, se
remete a métodos mais simples. Esse modo de construir não possuía uma rigidez em sua
forma, ou seja, a construção era feita a partir de variados métodos e referências, dentro das
possibilidades materiais e de mão-de-obra locais. Havia, também, no momento de construção
desse cine eclético, uma preocupação com questões relacionadas às exigências sanitaristas e,
para atender essa demanda, há a presença de afastamentos laterais, proporcionando maior
ventilação para o interior do edifício.
Na parte interior do cine havia presença de duas escadarias, que possibilitavam a
ligação entre o térreo e a área externa do auditório (foyer) onde se encontrava a bonbonnière.
Esses ambientes internos possuíam uma decoração simples, com pouca ornamentação. Após o
término das sessões, a saída do público era efetuada pela frente da platéia, chegando ao
exterior pela rua Padre Miguelinho. A outra entrada localizava-se à Rua Arcipreste Paiva.
Com essa inovação nos cines, era possível realizar sessões subseqüentes sem que o público se
misturasse, já que os acessos eram diferentes.
Teixeira (2009, p. 236) desenvolve uma discussão interessante em relação à
arquitetura eclética desses cinemas, apontando para a hipótese de que eles eram, naquele
momento, considerados como modernos, pois “tudo o que dizia respeito ao cinema era
moderno. Essa indistinção entre moderno e eclético (ou fantasia estilística) na arquitetura não
era exclusividade da arquitetura catarinense e sua ambiência provinciana” (TEIXEIRA, 2009,
p.236). A arquitetura dos cinemas construídos na capital, em sua maioria, era de estilo
eclético e mesmo não sendo consideradas arquiteturas modernas no rigor da palavra, elas
expressariam, no sentido leigo do conceito, a modernidade. Poderiam, assim, ser percebidas
pela população como símbolo e sinônimo do novo, um símbolo diferenciado que se
instauraria na fisionomia da cidade.

33
Processo também conhecido como pau-a-pique. Essa técnica consiste em armar as paredes com madeira ou
bambu as quais são preenchidas com barro e fibra. A matéria-prima, geralmente, é a trama de madeira ou o
bambu.
46

Dessa forma, verifica-se que a noção de moderno estaria também associada ao evento
“cinema” e não somente à construção que o abrigava. Possuir um cinema com uma construção
aconchegante e elegante proporcionaria uma certa inclusão da cidade na moda do momento,
ou seja, a capital estaria conectada a cidades e países do mundo através de suas películas. Os
espectadores poderiam vislumbrar o vestuário, os cenários, os costumes, as canções, as danças
e a moda de diferentes locais do globo.

Figura 14- Anúncio publicitário do Cine Rex. Fonte: O Estado, 5 jul ,1935, p. 04 ( TEIXEIRA, 2009, p.234).
Figura 15- Cine Ritz. Centro de Florianópolis. Fonte: Casa da Memória.

5 CONJUNTOS COMERCIAIS E PRÉDIOS PÚBLICOS

Segundo Nereu Pereira do Vale (1974), somente no início do século XX pode-se


perceber as reais características de um processo de modernização34 em Florianópolis. Esse
momento era de prosperidade econômica mundial (1908-1913), o que beneficiava diretamente
a cidade que recebia mais embarcações e movimento comercial em seus portos. A Primeira

34
Vale ressaltar que modernização, aqui, é entendida “como o conjunto das transformações econômicas e sociais
que acompanham o desenvolvimento do capitalismo” (PESAVENTO, 1994, p. 199).
47

Guerra Mundial (1914) altera a dinâmica das transações comerciais contribuindo para que o
Brasil aumentasse seu contingente de exportações.
Dessa forma, a área central de Florianópolis passou por diversas reformas e
melhoramentos: Em 1909 foi feita a instalação das primeiras redes de água encanada, entre
1913 e 1917 a construção de redes de esgoto, em 1910 ocorreu a instalação de energia elétrica,
em 1919 iniciou-se a construção da primeira avenida da cidade, nomeada Avenida do
Saneamento e, posteriormente, Hercílio Luz e, por fim, em 1922, começou a construção da
ponte de ligação entre a ilha e o continente (NECKEL, 2003). Em Florianópolis, esse ideal de
modernidade foi expresso nas construções da cidade, nos seus modos de vida, como observa
Neckel (2003):

A discussão do urbano e dos modos de vida de seus habitantes pode ser surpreendida
como uma linguagem que, manifesta em novas edificações e traçados urbanos,
procuraram relacionar o ideário republicano com forças progressistas e
modernizadoras, no momento em que seus portadores consolidavam-se no poder
governamental. As insistências dos administradores em transformar Florianópolis
em uma cidade “moderna e civilizada” sugerem que a “antiga vila” era incompatível
com a nova ordem política e social que se instaurava (NECKEL, 2003, p. 54).

Com relação à questão do higienismo, de acordo com Viana (2008), os padrões


higiênicos adotados na arquitetura da cidade, podem ser percebidos no próprio prédio do
Departamento de Saúde Pública de Florianópolis (figura 16). Sua estrutura possuía
características aceitas pelo novo conceito de arquitetura moderna e de salubridade, como a
presença de diversas aberturas laterais e venezianas que proporcionavam maior ventilação,
maior número de acessos, pátio externo, opção pela fachada curva e simples, sem
ornamentação, utilização de pintura de cor branca, etc.
O edifício possui dois pavimentos, com duas entradas principais, presença de “espaços
circundados, com circulação avarandadas e idealização de um pátio interno em alusão aos
espaços de uso comum protegidos de nossa arquitetura colonial e as variadas funções
impostas desatacando-se na volumetria da fachada” (AMORA, 2006, p. 286).
Segundo Teixeira (2009) essa construção teria uma representação dupla:

Por um lado, o embate das várias tendências estilísticas (entre o modernismo de


cunho abstrato e as figurações da modernidade) presentes do Estado. Representaria
também a tentativa de popularizar esteticamente uma estrutura urbana de saúde,
certamente não muito palatável (com suas campanhas de vacinação) entre camadas
populares (TEIXEIRA, 2009, p. 243).
48

Figura 16 - Departamento de Saúde Pública de Florianópolis. Situado à rua Felipe Schimdt com a Avenida Rio
Branco. Projeto de Paulo Motta e execução de Tom Wildi. 1940. Fonte: Casa da Memória.

Uma outra construção que expressa, claramente, conceitos de higiene articulados a


padrões da arquitetura oficialmente moderna é o Edifício das Diretorias (figura 17) em
Florianópolis, construído em 1953 e inaugurado em 1961. Este edifício foi projetado por
Domingos Trindade, que se formou na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, o que
provavelmente serviu para que ele tivesse acesso à nova linguagem arquitetônica que se
instalava no país.
Pode-se identificar a influência de alguns preceitos apresentados por Le Corbusier que
vão ao encontro das exigências sanitaristas do período em questão como, por exemplo, a
presença do pano de vidro, do quebra sóis, da planta e fachada livres e, além disso, a curva
presente tanto no interior, quanto no exterior da construção. Esse edifício segundo Castro
(2002) representou:

Um exemplo emblemático da arquitetura moderna na ilha foi o último edifico


público a ser construído sobre a antiga malha urbana. A partir da década de 60, a
cidade vai se expandir e sofrer grandes alterações, principalmente nos anos 70, com
a construção de uma segunda ponte-a Colombo Sales- e com o aterro da baía Sul,
que será o novo lugar para os edifícios públicos monumentais da cidade (CASTRO,
2002, p. 135).

Em diversos sobrados de Florianópolis - reconhecidas como construções em estilo art


déco, podemos perceber a presença de curvas e pequenas ornamentações na fachada. As
mudanças significativas ocorridas nos padrões de construções foram impulsionadas pela
absorção e adoção do estilo déco pelos arquitetos e engenheiros responsáveis diretos pelos
projetos das casas e edifícios e também pela necessidade da higiene, pela problematização
acerca da utilização de ornamentos nas fachadas (figura 18) e pelo excesso de objetos no
interior das casas e edifícios. No centro de Florianópolis é possível perceber a existência
mútua de diversos estilos arquitetônicos, tanto modernos com preceitos higiênicos,
49

verdadeiros ícones da inserção da arquitetura moderna, como a presença de construções que


vão se transformando e se modernizando, paulatinamente, em seus detalhes.
Em Florianópolis as transformações foram graduais. Pode-se perceber no centro da
cidade que os estilos de construção se mesclam, há construções em estilos neoclássico,
eclético, barroco, déco, moderno, etc. Percebe-se também que as construções em estilo déco
não adotam puramente o estilo, elas se mesclam, tomam referência em outras fontes, como o
neoclássico, por exemplo. O déco, sendo um estilo anterior ao modernismo oficial no Brasil,
pode ter sido visto por seus adeptos construtores como uma última tentativa de deixarem um
pouco de si na construção. Um pequeno detalhe na fachada, uma singela ornamentação,
algumas aplicações de marquises e platibandas esteticamente diferenciadas do tradicionalismo
clássico, podem ser percebidas como uma forma de ‘resistência’ à padronização das
construções modernas que estaria por vir. Os prédios passam a ser projetados e erguidos sob
égide da funcionalidade e da praticidade, engolindo o espaço dos pequenos, porém, valiosos
detalhes.
Durante a execução desses singelos detalhes, a liberdade de criação do construtor se
expressava, ele colocava um pouco de si na obra, um detalhe que faria dela única, uma
tentativa de manter o belo na malha urbana da cidade. O belo, aqui, é referido como um
padrão estético que insistia em se manter. A ornamentação das fachadas, mesmo tão criticada
por higienistas e arquitetos modernos, ainda era, freqüentemente, usada e apresentada com
novas leituras e formas de expressão, assim, pode-se analisar essa insistência no detalhe como
uma permanência do “antigo”, que o novo e o moderno ainda não haviam conseguido apagar.
50

Figura 17- Edifício das Diretorias- Florianópolis situado à rua Tenente Silveira. Projeto de Domingos Trindade.
Exemplo de curva na parede externa da construção. Foto: Sabrina Fernandes Melo, 2010.

Figura 18- Exemplo ornamentação na fachada. Construção situada à rua Anita Garibaldi. Autora da foto:
Solange Bavaresco, 1999. Fonte: Casa da Memória.
51

Além disso, diversas construções presentes na área central de Florianópolis foram


projetadas, realizadas e também reformadas por construtores que não possuíam formação
acadêmica, pois na capital não havia cursos superiores em arquitetura ou engenharia. Esses
profissionais atuavam em diversas obras da cidade, fazendo reformas e construindo novos
edifícios. Essa arquitetura de “resposta popular” (TEIXEIRA, 2009, p. 99) era executada pelo
mestre de obras, que possuía um conhecimento empírico e tinha a capacidade de ler plantas, o
que leva a crer que alguns deles pudessem ter como referência publicações da época que para
guiar tanto a planta baixa, quanto as variações estilísticas de fachada.
Nesse sentido, devido à escassez de profissionais técnicos no ramo da arquitetura e
construção civil e a dificuldade de se conseguir matérias de construção que proporcionariam
técnicas mais modernas de construção, como o cimento35, por exemplo, ocorre a transmissão
de um conhecimento empírico no modo de construir.
Essa transmissão contribuiu para a continuidade de tradições no modo de construir,
principalmente, no que se refere a uma adaptação e reforma de fachadas associadas ao estilo
eclético de arquitetura, no qual a planta baixa e a estrutura fundiária seguem praticamente
inalteradas. Uma maior renovação da roupagem da fachada ocorre a partir dos anos de 1940,
no qual muitas casas particulares e estabelecimentos comerciais recebem traços do art déco,
formando-se conjuntos urbanos representantes desse estilo, principalmente, na rua
Conselheiro Mafra, local ligado, entre outros, ao comércio. Nos arquivos da SUSP podemos
encontrar, a partir dos anos quarenta, diversos projetos de reforma, principalmente, de sacadas
na região central da cidade. Dessas alterações, um número significativo era para
estabelecimentos comercias.
Assim, a adoção de elementos geométricos e com viés mais moderno foi bastante
recorrente nesses estabelecimentos. Esses conjuntos em art déco se formam a partir da atitude
de renovação por parte de alguns comerciantes, gerando uma conjectura plausível de que a
reforma de um concorrente, conseqüentemente, fará com que o outro estabelecimento busque
modernizar sua construção, principalmente a fachada, fazendo com que a mesma se apresente
mais ou quão moderna com relação ao seu concorrente. (TEIXEIRA, 2009, p. 99).
As fachadas desses conjuntos em art déco são sóbrias e possuem pouca ornamentação,
contudo, ainda não se pode falar de um total despojamento decorativo. Nas construções do
conjunto I (figura 19) existe a presença da marquise de proteção. A adoção dessa

35
O cimento que chegava a Florianópolis nos anos trinta e quarenta era importado da Alemanha, já em 1950
existia uma fábrica de cimento em Itajaí. Outros materiais como cal, telhas, esquadrias de ferro e até mesmo
janelas, eram produzidas em outras partes do estado. (TEIXEIRA, 2009, p. 315).
52

característica, também símbolo de modernidade construtiva, proporciona um maior conforto


aos clientes do estabelecimento servindo como abrigo em dias chuvosos ou ensolarados, além
de controlar a intensidade de luz solar e proteger construção contra a ação da chuva. As
janelas possuem acabamento em madeira, são simétricas e possuem pequenas sacadas com
parapeito ornamentadas com elementos geométricos em baixo relevo.

Figura 19- Conjunto I em art déco na rua Conselheiro Mafra. Foto: Sabrina Fernandes Melo, 2010.

Com relação às platibandas 36 , pode-se dizer que a ornamentação é geométrica e


simples, ocultando o telhado cerâmico original. Essa maquiagem na fachada e a utilização da
platibanda fazem com que um estabelecimento comercial que já foi residência perca a
aparência de casa, tornando-se propícia para uso comercial. No art déco o uso das platibandas
se deu “como recurso de coroamento das construções, de modo a evitar a participação dos
telhados na composição volumétrica final (CAMPOS, 1996, p. 32)”. As platibandas em art
déco possuem uma ornamentação mais simples, já a platibanda em construções com
inspiração neoclássica e eclética podem conter balaústres37 e um maior número de elementos
decorativos (figura 20).
Nas construções baixas existe uma maior preocupação com o destaque da platibanda,
sua composição pode ser mais elaborada contrastando com o despojamento do restante da

37
São elementos de ornamentação que podem pertencer a diferentes correntes estéticas, possui diferentes formas
e pode ser usado em varandas, platibandas e muros de proteção.
53

construção. Já em construções verticalizadas, geralmente, se opta pela aplicação de frisos e


relevos geométricos em argamassa. A preocupação com o detalhe em construções mais altas é
presente, mesmo que sua visualização fique comprometida devido à altura (CAMPOS, 1996,
p. 32).

Figura 20- Casa situada no centro de Florianópolis com utilização de balaústres na platibanda. Foto: Sabrina
Fernandes Melo, 2010.

As construções do conjunto II (figura 21) não possuem marquise de proteção,


contendo pequenas sacadas embaixo de uma das janelas frontais. Uma das construções faz
utilização do ferro no acabamento da sacada principal, havendo também a presença do vidro
no preenchimento das venezianas, materiais que nos anos trinta e quarenta eram símbolos de
despojamento e inovação estética. Os elementos decorativos se encontram nas platibandas,
bastante simples com detalhes serrilhados e em alto relevo nas extremidades.
Nesses conjuntos comerciais, possivelmente, existiria uma preocupação plástica que
buscava valorizar a volumetria frontal, criando assim um jogo de volumes, presenças de
cheios sobre vazios. Elementos que se projetam como as sacadas, as marquises e os parapeitos.
Ocorre, dessa forma, com a adoção desses elementos, uma renovação e valorização da
fachada proporcionando uma maior abertura para o surgimento de propostas arquitetônicas
diferenciadas que contribuiriam para a mudança de fisionomia do centro urbano. Elementos
como as marquises de proteção, a utilização de ferro e de vidro na composição estética da
54

obra, possibilitam um maior despojamento. Favorecem, também, uma modificação da


concepção e da forma de utilização do ornamento como recurso plástico, a exemplo da
simplificação das platibandas e de seus componentes decorativos.

Figura 21- Conjunto II em art déco, situado à rua Conselheiro Mafra. Foto: Dario de Almeida Prado. Fonte:
(TEIXEIRA, 2009, p. 111).

Vale lembrar que estão presentes nesses conjuntos arquitetônicos alguns códigos e
regras que contribuiriam para uma rápida difusão e aceitação do estilo déco em algumas
construções da cidade, tais como o “predomínio dos volumes puros, axialidade ou
composição a partir de um eixo de simetria e ortogonalidade. Soma-se a essas linhas mestras a
participação significativa do ornamento em versão depurada e de tendência geometrizante”
(CAMPOS, 1996, p.111). Pode-se observar nos conjuntos comerciais da rua Conselheiro
Mafra, uma grande diversificação na ornamentação das fachadas, umas mais simples e
discretas, outras com a presença de elementos decorativos em maior proporção (figuras 22 e
23), além da variação na forma construtiva como a presença ou ausência de platibandas,
marquises,sacadas etc. A disseminação desses códigos contribuiu para uma maior assimilação
do estilo tanto por parte dos projetistas de formação acadêmica, quanto pelos construtores
informais. Outro fato interessante é que a utilização do estilo déco não foi exclusiva dos
55

conjuntos comerciais, verifica-se esse estilo, também, em casas particulares que, atualmente,
podem ser contempladas no centro da cidade.

Figura 22- Conjunto III em art déco na rua Conselheiro Mafra. Foto: Sabrina Fernandes Melo, 2010.

Figura 23- Conjunto IV em art déco na rua Conselheiro Mafra. Foto: Sabrina Fernandes Melo, 2010.
56

Nos arquivos da SUSP existem diversos projetos aprovados de casas particulares com
sacadas em inspiração déco. Construções que contrastam sua simplicidade ornamental e seu
despojamento estético com a permanência de componentes de vertentes arquitetônicas
variadas, como o ecletismo, o neoclássico e o moderno. Essa mescla ou permanências de
estilos diversificados em uma construção podem ser percebidas em âmbito material,
construtivo, estético e organizacional.
O déco engloba em seu repertório uma diversidade de formas e tendências
arquitetônicas, devido ao fato de que pode ocorrer uma construção ser vinculada ao estilo
déco e ao mesmo tempo apresentar características relevantes associadas a outras vertentes
arquitetônicas.Pode existir, também, uma simplificação da linguagem clássica na forma de
apresentação das colunas, dos frontões38 e das platibandas cujos elementos submetem-se a
uma elaboração formal estilizada, com viés déco. Percebe-se essa simplificação das formas
clássicas nos conjuntos arquitetônicos em art déco, presentes na rua Conselheiro Mafra e
também nas casas particulares. No projeto de construção apresentado (figuras 24 e 25),
verifica-se uma simplificação da platibanda clássica através da adoção de jogo de formas
geométricas, maior simetria e disposição volumétrica. Nessa mesma construção existe a
presença da sacada, com ornamentação geométrica vazada. Nota-se que quase não houve
alterações da planta original.
Além da simplificação de diferentes elementos estéticos, percebe-se, também, em
diversas construções da cidade que a ornamentação geométrica com motivos que nos remete a
influência indígena é bastante recorrente. No caso de Tom Wildi, autor do projeto aqui
apresentado nas figuras 24 e 25, a influência de culturas indígenas em seu repertório estético
se deu através de suas viagens à ilha de Marajó, onde foi possível que o construtor tivesse
contato direto com a cultura e a cerâmica marajoara (VIANA, 2008, p. 73). Além de todas as
construções já mencionadas, a partir de pesquisa realizada na SUSP, mais especificamente,
foram observadas algumas sacadas nas quais existia a presença desse tipo de ornamentação,
nesse caso, a volumetria assume cunho decorativo, ocorrendo uma disposição e um jogo de
formas em alto e baixo relevo, tanto no desenho geométrico como na presença de molduras
presentes acima das janelas e das portas principais.
57

Figura 24- Projeto de construção de prédio em Florianópolis, com fachada em art déco, rua Conselheiro Mafra,
datado de 1948. Autor: Raul Bastos. Foto: Sabrina Fernandes Melo. Fonte: SUSP.
Figura 25- Imagem atual do prédio, 2008. Foto de (VIANA, 2008, p.56).

Como visto no conjunto das fotos apresentadas, o déco é bastante amplo no que se
refere a sua adaptação a diferentes tipos de construções. Em Florianópolis, ele foi aplicado em
diferentes tipologias, desde construções monumentais como o edifício dos Correios e
Telégrafos - até estabelecimentos comerciais e casas residenciais mais simples, evidenciando
tratar-se de um estilo que foi apropriado por uma diversidade de programas (tanto estatais
como privados), além de acessível a diferentes classes sociais.
Na ornamentação e no traçado dos edifícios, o estilo déco não era estático, ou seja, ele
se diferenciava e se adaptava dependendo do local a ser aplicado. Em Florianópolis percebe-
se em algumas de suas construções, elementos geométricos em baixo relevo presentes,
principalmente, na ornamentação das sacadas ( figuras 26 e 27). Tais referências podem ter
sido inspiradas em comunidades indígenas de Santa Catarina? Ou são apenas referências
esparsas de fontes como revistas de arquitetura, cinema, fotografias? É comum percebermos
esse tipo de ornamentação nas fachadas de sobrados da cidade, muitas vezes elas são simples,
geométricas, já a pintura marajoara é mais elaborada. Em Florianópolis pode ter ocorrido uma
releitura por parte dos construtores, ou uma adaptação a padrões estéticos regionais, não
havendo uma fiel reprodução da ornamentação marajoara nas fachadas das construções. O que
não significaria uma influência direta das culturas indígenas do estado, mas uma forma de ver
e expressar tais referências.
58

Figura 26- Projeto de prédio no centro de Florianópolis, rua Fernando Machado, datado de 1936. Autor: Tom
Wildi, 2010. Fonte: SUSP. Foto: (VIANA, 2006, p.16).

Figura 27- Foto atual da construção. Fachada com ornamentação geométrica, possível influência indígena. Rua
Fernando Machado. Centro de Florianópolis. Foto: Sabrina Fernandes Melo, 2010.

Uma conjectura plausível sobre a aplicação de elementos geométricos nas fachadas


das casas seria a de que essas aplicações poderiam simbolizar a intenção de modernizar, de
inovar a estética da construção. E a fachada, estando em contato direto com a rua, com os
olhos de quem passa, simboliza e expressa de forma direta uma intenção, ou seja, ela se faz
ver por todos. Uma hipótese apresentada por Teixeira (2009, p. 92) referente à assimilação e
interpretação dessas linguagens arquitetônicas (ecletismo e art déco) por parte dos produtores
59

envolvidos é a de que a manutenção de certos estilos e padrões arquitetônicos “seria resultado


da sua formação, das condições de trabalho e do meio cultural, também afeito à tradição”
(TEIXEIRA, 2009, p. 92).
Todas essas questões influenciaram diretamente na maneira de construir, em qual
estilo adotar, em que tradição se apoiar e quais referências estéticas seriam mais interessantes
e ao mesmo tempo viáveis do ponto de vista prático. Além disso, existia o fato de
Florianópolis possuir um ritmo cultural mais lento se comparada a grandes capitais desse
mesmo período, possuindo a agravante de não ser considerada a cidade mais importante do
estado, onde no período de 1930-40 Lages ocupava esse posto. Dessa forma, a movimentação
de informações seria mais lenta e gradual, cujos estilos e referências arquitetônicas seriam
adotados dentro das possibilidades materiais, de mão de obra e culturais, existentes na cidade.
Por outro lado, havia a presença de profissionais com algum tipo de formação técnica
(politécnica) ou instrução na área de arquitetura e construção civil. Profissionais como
Estanislau Makowieck, João José Mendonça, João Batista Berreta e Theodoro Bruggemann,
dentre outros, são nomes recorrentes na autoria de projetos aprovados pelo SUSP a partir dos
anos trinta.
Grande parte desses construtores, segundo (TEIXEIRA, 2009, p. 113), adotava um
estilo mais próximo a concepções estilísticas historicistas e ecléticas, mais ligado a referências
da École de Beaux Arts 39. Em construções art déco existem alguns elementos inspirados
neste estilo como, por exemplo, a decoração que se expressa através da volumetria, no jogo de
formas geométricas, na simetria, na organização e na disposição das fachadas.
Tom Wildi, nascido em Argau, Suíça, formou-se na Escola Profissional e de Belas
Artes em Zurique. O construtor e projetista licenciado Wolfgang Ludwig Rau, nascido na
Suíça, estudou na mesma escola que Wildi e, posteriormente, aprofundou seus estudos em
Curitiba, realizando o curso de engenharia civil.
Tom Wildi atuou em diversas obras da capital, dentre elas, destaca-se sua participação
na reforma da Catedral Metropolitana de Florianópolis (1934), projeto da casa de rendas e
bordados Hoepecke (1940), construção da sede do Departamento de Saúde Pública de
Florianópolis, além de atuação em diversas obras particulares como casas, edifícios e
estabelecimentos comerciais. Wildi no ano de 1940 abre uma empresa que distribuía materiais
de construção, pois “como não havia nos anos 1940 oferta de material com qualidade e em

39
Termo que se refere a diversas escolas de artes na França. O estilo arquitetônico originado da Escola de Belas
Artes de Paris combina influências gregas e romanas com idéias renascentistas. É um estilo ornamentado com
possível utilização de colunas, flores, estátuas etc.
60

quantidade suficiente para abastecer a incipiente demanda de capital, Wildi montou


empreendimentos como uma fábrica de carpintaria civil, e outras de ladrilhos hidráulicos de
cimento e tijolos vasados de cerâmica, este sob a marca Tapuia” (TEIXEIRA, 2009, p.116).
Era comum a parceria entre esses profissionais, Wildi e Wolfgang Rau, por exemplo,
trabalharam juntos em diversas obras. Uma das obras, de enorme importância para o
desenvolvimento vertical do centro urbano de Florianópolis foi o Edifício São Jorge (figura
27 e 28), construído em uma data posterior ao período tratado no presente trabalho, ano de
1952, projetado por Wolfgang Rau contando com posterior colaboração de Tom Wildi
(TEIXEIRA, 2009, p. 275).
O edifício conta com oito pavimentos e seu estilo arquitetônico vai ao encontro das
referências náuticas em um viés estilizado do déco. A construção possui pequenas sacadas
onduladas em cada um de seus andares, havendo uma projeção frente ao prédio,
proporcionando a ideia de curva associada a sua posição de prédio de esquina.

Figura 28 Anúncio publicitário do Lux Hotel no Edifício São Jorge, Fonte: jornal “O Estado”, 3, jan, 1952.
Retirado por (TEIXEIRA, 2009, p. 277).
Figura 29- Imagem atual do Edifício São Jorge. Foto: Sabrina Fernandes Melo, 2010.

Em diversas sacadas de construções com viés déco existentes no centro de


Florianópolis, observa-se que referências náuticas se fazem presente na estética ornamental da
construção. Percebe-se que existe uma variação considerável entre os exemplares de obras em
61

art déco que transitam desde conjuntos comerciais com simetria simples na fachada até
ornamentação com referências indígenas em alto e baixo relevo ou reformas de fachada que
recebem algum detalhe em roupagem déco, intenções estéticas que vão ao encontro da
tentativa de uma possível alteração do aspecto da construção. Contudo nota-se que o
despojamento não foi total, principalmente nos conjuntos comerciais e casas particulares,
possibilitando a permanência de um possível gosto que em certa medida expressava
individualidade percebida através de detalhes.
A partir do estudo das edificações presentes no centro de Florianópolis verifica-se a
presença do art déco em conjuntos comerciais, em reformas e alterações de fachada, em
menor medida ocorreu sua utilização em edifícios verticalizados (edifício São Jorge) e em
prédios públicos (Agência dos Correios e Telégrafos). Sua maior incidência foi em conjuntos
comerciais e em residências particulares, evidenciando um aspecto mais singelo do art déco,
que utilizou-se da simplificação da forma e da permanência de certos elementos para alteração
e renovação do aspecto tradicional da construção, sem, contudo, romper definitivamente com
o referencial estético expresso por meio de elementos provindos de arquiteturas anteriores.
62

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O art déco, enquanto estilo arquitetônico foi de suma importância para a renovação
estética do centro de Florianópolis, principalmente das fachadas, sem alteração imediata da
planta baixa e da estrutura dos lotes coloniais. O déco pode ser considerado como uma
arquitetura de transição quando se refere a uma “passagem” da arquitetura tradicional para o
despojamento moderno, contudo, essa passagem foi realizada de forma gradual, em que
muitos elementos foram estilizados, (re) significados e transmutados para melhor se
adaptarem a um “novo”, porém já conhecido, padrão estético.
O déco enquanto estilo proporcionou um elo entre a modernidade e elementos
historicistas, entre o despojamento e a permanência de certos detalhes que faziam com que as
obras abrigassem a continuidade de características arquitetônicas anteriores. Essa
continuidade poderia promover a permanência de certos detalhes estilizados presentes
principalmente na ornamentação das fachadas, como a coluna, o arco pleno, a curva,
pequenos ornamentos em alto e baixo relevo, características recorrentes nessa arquitetura de
transição que do ponto de vista estético, possibilitaria a permanência de experiências
sensoriais acolhedoras, memorialistas e familiares.
Em Florianópolis, o déco expressou-se de maneiras diversas, sendo utilizado em
prédios públicos, construções comerciais e casas populares no centro da cidade, sendo que sua
aplicação se dava de forma total ou apenas parcial, através da inserção de ornamentação
geométrica e simples nas sacadas. O déco, devido a sua simplicidade estética e ornamental,
adaptou-se à realidade local que contava com escassez de mão-de-obra especializada e com a
dificuldade de conseguir recursos construtivos mais elaborados.
No período analisado, o índice de construções na cidade era baixo, dessa forma, o
déco foi empregado, na maioria dos casos, como uma estética de fácil assimilação utilizada na
renovação da construção. Essa renovação ocorria principalmente nas fachadas através da
incorporação de elementos decorativos simples e geometrizados. Nessa perspectiva, algumas
das obras analisadas no presente trabalho apresentam signos tradicionais em meio a elementos
modernos estilizados, como é o caso dos conjuntos comerciais em art déco existentes na rua
Conselheiro Mafra, por outro lado, há o prédio da Agência dos Correios e Telégrafos ou
Edifício São Jorge que são exemplares os quais se aproximam mais do despojamento sem
referências estéticas anteriores.
Com base nisso foi possível formular a hipótese de que ornamentação aparece no déco
com a função de gerar sentido, de estabelecer identidade, de fazer com que a obra torne-se
63

única no sentido de seus detalhes, de modo a externar um possível gosto - tanto dos
construtores, quanto dos proprietários – através da sutileza de detalhes que, posteriormente,
desapareceriam com o racionalismo moderno. O déco, utilizado como veículo de renovação
da construção foi utilizado nas edificações de Florianópolis de uma maneira conservadora no
que diz respeito ao despojamento estético. Não ocorreu um despojamento total imediato nas
construções, ele foi gradual e lento. A partir disso torna-se perceptível o particularismo do art
déco na cidade, onde o mesmo atua como mediador entre o despojamento total e a
permanência de elementos que poderiam externar um possível gosto ou até mesmo a
individualidade ( tanto do proprietário quanto dos construtores) expressa através de detalhes
Percebe-se nas edificações em art déco do centro da cidade a existência de uma grande
variedade de elementos na ornamentação das fachadas, na qual a mescla e o contraste de
referências geram uma obra rica e harmoniosa. Ao mesmo tempo em que um edifício déco
possuía a marquise, como símbolo da modernização construtiva, também poderia apresentar
elementos clássicos como a platibanda ou o frontão, embora aplicados de forma estilizada.
Com relação à construção dos exemplares déco em Florianópolis, pôde-se descobrir
que foram executadas por profissionais variados, sendo que alguns deles possuíam formação
técnica e outros, apenas o conhecimento informal. Torna-se pertinente o estudo da maneira
com a qual essa estética chegou ao conhecimento desses construtores, seja através do cinema,
das fotografias ou por meio de revistas especializadas. Não houve acesso a revistas
especializadas em arquitetura ou construção civil que circulassem em Florianópolis durante o
período estudado, porém essa questão veio à tona em diversos momentos do trabalho e uma
pesquisa mais aprofundada sobre o assunto seria importante para traçar um panorama do déco
na cidade de Florianópolis.
O trabalho com as fontes encontradas no arquivo da Secretaria de Urbanismo e
Serviços Públicos (SUSP) foi interessante, pois possibilitou o contato direto com os projetos
de construções realizadas na cidade entre o período de 1930 a 1950. Estes documentos
possuem informações relacionadas às técnicas construtivas e aos materiais utilizados nas
edificações. Quando comparados os projetos originais com a situação atual das construções,
constata-se no decurso das décadas, que não houveram alterações significativas nas fachadas.
Vale ressaltar que este arquivo se encontra em situação precária, além do que, muitas plantas
e projetos se encontram ilegíveis, alguns queimados devido a um incêndio que ocorreu na
SUSP, na década de 1980. Também foi de suma importância a utilização de anúncios de
periódicos do período, pois a partir deles pôde-se criar um panorama geral da maneira com a
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qual uma determinada obra representaria o novo e como essa novidade era apresentada
através de sua descrição e sua forma construtiva.
Contudo, há pouca referência bibliográfica acerca do art déco em Santa Catarina,
principalmente, em Florianópolis, tema que merece estudos mais aprofundados e específicos.
Por outro lado, há no centro da cidade diversos exemplares em viés déco, edifícios que ainda
resistem em meio à verticalizaçao crescente da cidade e que merecem um olhar mais atento
quanto a sua preservação e importância enquanto patrimônio histórico da cidade.
Dessa forma, são necessários estudos mais amplos sobre o art déco em Florianópolis,
juntamente, com registros fotográficos e levantamento das obras, para que se torne possível a
percepção das variações tipológicas, das possíveis soluções aplicadas em sua elaboração,
assim como para observação da ambigüidade e da mescla de referências estéticas. Enfim, um
levantamento que poderia esclarecer a concepção acerca de uma das primeiras expressões
arquitetônicas da modernidade do século XX, o art déco.
65

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