Sie sind auf Seite 1von 221

WBA0518_v1_0

Biocombustíveis e Biomassa
Biocombustíveis e Biomassa
Autoria: Alexandre Witier Mazzonetto
Como citar este documento: MAZZONETTO, Alexandre Witier. Biocombustíveis e Biomassa. Valinhos:
2017.

Sumário
Apresentação da Disciplina 04
Unidade 1: BIOGÁS 06
Assista a suas aulas 33
Unidade 2: BIOETANOL 41
Assista a suas aulas 63
Unidade 3: BIOEDIESEL 70
Assista a suas aulas 94
Unidade 4: BIOMASSA 101
Assista a suas aulas 118

2/221
Biocombustíveis e Biomassa
Autoria: Alexandre Witier Mazzonetto
Como citar este documento: MAZZONETTO, Alexandre Witier. Biocombustíveis e Biomassa. Valinhos:
2017.

Sumário
Unidade 5: RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo” 125
Assista a suas aulas 144
Unidade 6: PROCESSOS TÉRMICOS 152
Assista a suas aulas 172
Unidade 7: RESÍDUOS E OPÇÕES TECNOLÓGICAS 179
Assista a suas aulas 193
Unidade 8: REVISÃO E APLICAÇÕES 200
Assista a suas aulas 213

/221
3/221
3
Apresentação da Disciplina

A disciplina Biocombustíveis e Biomas- Ao término desta disciplina você estará apto


sa pretende fornecer uma ampla visão dos para:
principais biocombustíveis (biogás, bioeta-
• Identificar como produzir biogás (via
nol, biodiesel, bioóleo, biochar, gás produ-
biodigestão anaeróbia) utilizando-se
to, biomassa), dos processos de produção
como matéria prima dejetos animais
de cada um, e suas formas de aplicações
(bovinos, suínos, aves), vinhaça, es-
energéticas. Para isso, apresentaremos as
goto e resíduo sólido urbano (RSU ou
principais rotas e equipamentos para pro-
lixo), qual o biodigestor mais indicado
dução de cada tipo de biocombustível, con-
e como purificar (condicionar) o bio-
heceremos suas vantagens e desvantagens
gás.
sobre os combustíveis fósseis, analisaremos
seus benefícios ao meio ambiente, con- • Identificar as principais matérias pri-
heceremos as matérias primas para produz- mas (óleo de soja, óleo de algodão,
ir um biocombustível, decidiremos a melhor óleo de girassol, óleo de colza/canola,
rota produtiva e equipamentos necessários óleo de dendê/palma africana, óleo de
e conheceremos o rendimento e eficiência pinhão manso, óleo usado de fritura,
da produção. gordura animal) para produzir biodie-
sel e a rota mais utilizada (transesteri-
ficação).
4/221
• Reconhecer o processo envolvido na • Identificar as vantagens e desvanta-
síntese de bioetanol, principais ma- gens frente aos combustíveis fósseis e
térias primas (cana, sorgo açucareiro, as vantagens ambientais de cada bio-
milho), como produzir mais biocom- combustível.
bustível com a vinhaça produzida na
destilação e transformá-la num ótimo
adubo.
• Saber o que se pode fazer com a bio-
massa, o que é (bagaço, palha, madei-
ra, resíduos agrícolas, resíduos orgâni-
cos sólidos), como pode ser utilizada,
o que ela pode gerar (biochar/carvão
vegetal, briquete, pellet, bioóleo/alca-
trão, syngas/gás produto, calor, vapor
e eletricidade) e quais são os possíveis
processos térmicos aplicáveis (com-
bustão, torrefação pirólise, gaseifica-
ção).
5/221
Unidade 1
BIOGÁS

Objetivos

Este tema objetiva capacitar o aluno a ge- lixo orgânico);


renciar o processo de produção de biogás, 3. Principais equipamentos e estimati-
decidir qual o melhor processo e tecnologia vas;
a ser adotada para cada situação, coorde- 4. Como estimar as produções e purifi-
nar a construção de biodigestores rurais, cação do biogás.
gerenciar a produção de biogás em Ater-
ros Sanitários Energéticos e E.T.E. Para isso,
abordaremos tópicos em:
1. Biodigestão anaeróbio;
2. Matérias primas: dejetos animais, vi-
nhaça, resíduo sólido urbano (RSU/
6/221
Introdução

A energia pode ser obtida de diversas ma- e água, a 35ºC, conseguindo obter 100 li-
neiras, uma delas é a produção de biogás a tros de gás por m³ de matéria. Vários países
partir de resíduos alimentícios, obtidos de (China, Índia, Paquistão) sempre utilizaram
indústrias, escolas, restaurantes, hospitais, o biogás como fonte de energia, pois está
entre outros, que geralmente os destinam associado ao tratamento sanitário e am-
para aterros sanitários. Esses resíduos po- biental dos resíduos orgânicos, uma opera-
dem servir de matéria-prima para a geração ção, então, com três benefícios.
de uma energia renovável, a partir da degra- O Biogás tem origem nos efluentes agrope-
dação da matéria orgânica - por bactérias cuários, agroindustriais e urbanos, resulta
anaeróbicas ou por processos térmicos. da degradação biológica anaeróbia da ma-
O Biogás não é um combustível novo, po- téria orgânica. Pode-se conseguir biogás a
rém, por muito tempo, a falta de preocupa- partir de: dejetos de animais, resíduo sólido
ção com o meio ambiente e os baixos preços urbano (RSU - “lixo”), vinhaça da produção
dos combustíveis fósseis deixaram o biogás de etanol e esgoto urbano.
à margem como opção energética. O biogás O poder calorífico do biogás varia entre
foi descoberto como gás dos pântanos no 22.500 a 25.000 kJ.m-3, assumindo o meta-
século XVII, mas foi só um século mais tarde no com cerca de 35.800 kJ.m-3, dependen-
que foi reconhecida a presença de metano do da concentração do metano no biogás
no gás dos pântanos. Já no século XIX, Ulys- (JORDÃO et al., 1995).
ses Gayon, aluno de Pasteur, realizou a fer-
mentação anaeróbia misturando estrume
7/221 Unidade 1 • BIOGÁS
A composição do biogás é difícil de ser de- Os produtos da biodigestão anaeróbia são:
finida, pois depende do material orgânico o biogás (biocombustível renovável) e bio-
utilizado e do tipo de tratamento anaeróbio fertilizante – matéria orgânica estabilizada
que sofre. Contudo, em linhas gerais, o bio- e com o pH entre 6,9 – 7,1, quando as maté-
gás é uma mistura gasosa composta prin- rias primas forem dejetos animais e vinhaça.
cipalmente por: metano (CH4): 50 – 65% do
volume de gás produzido; dióxido de carbo-
no (gás carbônico, CO2): 25 – 50% do volume
1. Biodigestão Anaeróbia
de gás produzido e traços de outros gases,
“Gases traços” em torno de 5% (Hidrogê- Todo o resíduo que seria descartado pode
nio (H2): 0 – 1% do volume, combustível; gás passar por um processo de transformação
sulfídrico (H2S): 0 – 3% do volume, – cheiro dentro de um biodigestor, produzindo o bio-
de ovo podre, elevada toxidade e corrosivo, gás (CH4 + CO2), gás combustível oriundo de
pode causar chuva ácida; oxigênio (O2): 0 – uma digestão anaeróbica, conhecido como
2% do volume – oxidante, corrosivo; amo- biogás.
níaco (NH3): 0 – 1% do volume; nitrogênio
(N2): 0 - 7% do volume; CO – tem poder ca- O processo de biodigestão anaeróbica é re-
lorífico a ser explorado, tóxico; NHS; NCO; alizado a partir de resíduos advindos de ou-
HC – X (Br, F, Cl) – problemas de corrosão; tros processos, conhecido como biomassa.
ciclohexano (C6H12 – biogás de aterro – tóxi-
A obtenção de energia se dá pela degrada-
co, ataca plástico e borrachas).
8/221 Unidade 1 • BIOGÁS
ção da matéria orgânica através da ação de diversos micro-organismos (CORTEZ, 2008).
A Figura 1 apresenta a degradação da matéria orgânica (quebra das moléculas grandes em mo-
léculas menores) e como se produz o biogás.
Figura 1. Esquema da biodigestão anaeróbia.

Fonte: Adaptado de Zehnder (1988).

9/221 Unidade 1 • BIOGÁS


Essa degradação transforma compostos • Acidogênese: nesta etapa as bacté-
orgânicos complexos em substâncias mais rias saprófitas nutrem das substâncias
simples, dando origem principalmente ao mais simples, originando ácidos orgâ-
metano e ao gás carbônico (MAGALHÃES, nicos simples e liberando CO2 e H2O;
1986). Esse processo ocorre por meio das
• Acetogênese: nesta fase os ácidos or-
seguintes fases ao longo da degradação:
gânicos simples são metabolizados
• Hidrólise: nesta fase ocorre a trans- por bactérias metanogênicas anaeró-
formação de substâncias complexas bicas;
em substâncias mais simples. Isto é, a • Metanogênese: nesta fase a degrada-
matéria prima, antes insolúvel, passa ção do substrato é concluída, dando
por uma reação de conversão para se origem ao metano e ao gás carbônico.
tornar solúvel (MAGALHÃES, 1986). Além destes, outros produtos finais
Essa conversão é realizada por enzi- são formados, como amônia, sulfeto
mas excretadas por bactérias hidrofí- de hidrogênio, monóxido de carbo-
licas, sendo essa a etapa mais lenta do no, oxigênio, nitrogênio e hidrogênio
processo (SALOMON et al, 2012); (MAGALHÃES, 1986).

10/221 Unidade 1 • BIOGÁS


Segundo Machado (2013) o biogás pode ser dos na partida, o processo poderá ser leva-
obtido a partir de duas reações diferentes. do ao insucesso ou levar muito tempo para
Na primeira, ocorre a geração do metano que ocorra a produção de metano. Este fato
(CH4) e do gás carbônico (CO2) a partir do pode ser verificado em Lucas Jr. et al. (2003),
ácido acético (CH3COOH), como mostra a que demonstram o efeito da antecipação na
reação abaixo: produção de biogás quando utilizaram inó-
culo em cama de frangos.
CH3COOH CH4 + CO2
A temperatura exerce influência sobre a ve-
Na segunda, o gás carbônico (CO2) e o hi- locidade do processo, sendo comum dividi-
drogênio (H2) dão origem ao metano (CH4) e -la em três faixas:
água (H2O), de acordo com a reação abaixo:
• a termofílica entre 50 e 70º C,
CO2 + 4H2 CH4 + 2H2O • a mesofílica entre 20 e 45º C, e
Portanto, estes resíduos num biodigestor, • a psicrofílica abaixo de 20º C.
em pouco tempo haverá produção de bio- A maior parte dos biodigestores trabalha na
gás. Porém, quando se trabalha com outros faixa mesófila.
resíduos, dentre eles o estrume e cama de
As condições ótimas de vida para os micro-
aves, se não forem tomados alguns cuida-
11/221 Unidade 1 • BIOGÁS
organismos anaeróbios são: ciso assegurar uma relativa estabilida-
a) Impermeabilidade ao ar: Nenhuma das de de temperatura.
atividades biológicas dos microorganis- c) Nutrientes: os principais nutrientes dos
mos, inclusive, o seu desenvolvimento, microorganismos são o carbono, nitro-
reprodução e metabolismo, exigem oxi- gênio e sais orgânicos. A principal fonte
gênio. A decomposição de matéria or- de nitrogênio são os dejetos humanos e
gânica na presença de oxigênio produz de animais, enquanto que os polímeros
dióxido de carbono (CO2); na ausência presentes nos restos de culturas repre-
de ar (oxigênio) produz metano. Se o sentam o principal fornecedor de car-
biodigestor não estiver perfeitamente bono.
vedado, a produção de biogás é inibida. A produção de biogás não é bem sucedida
b) Temperatura adequada: a temperatura se apenas uma fonte de material for utiliza-
no interior do digestor afeta sensivel- da.
mente a produção de biogás. Os micro- d) Teor de Água (umidade): o teor de água
organismos produtores de metano são deve normalmente situar-se em tor-
muito sensíveis a alterações de tempe- no de 90% do peso do conteúdo total.
ratura; qualquer mudança brusca que Tanto o excesso, quanto a falta de água
exceder a 32°C afeta a produção. É pre-
12/221 Unidade 1 • BIOGÁS
são prejudiciais. O teor da água varia de
acordo com as diferenças apresenta-
das pelas matérias-primas destinadas
à fermentação.
e) Substâncias prejudiciais: materiais po-
luentes, como NaCl, Cu, Cr, NH3, K, Ca,
Mg e Ni, são conciliáveis se mantidas
abaixo de certas concentrações diluí-

Para saber mais


Não se deve esquecer de que os produtos de lim-
peza (desinfetantes) são prejudiciais às bactérias;
hipoclorito de sódio, produtos a base de CLORO,
produtos bactericidas, desinfetantes em geral
matam as bactérias.

das em água.

13/221 Unidade 1 • BIOGÁS


biogás.
Link O carbono e o nitrogênio existentes nas
matérias orgânicas são as principais fon-
A produção de BioH2 é apresentada em detalhes
tes de alimentos das bactérias anaeróbias,
no trabalho de mestrado ESTEVAM, A. Obtenção
sendo o primeiro responsável pela obtenção
de BIOH2 a partir da fermentação anaeróbia de
da energia, enquanto o nitrogênio contribui
efluente de cervejaria utilizando cultura pura
para a formação de células. Estas bactérias
isolada do ambiente. Dissertação. UNIOESTE,
consomem aproximadamente 30 vezes mais
Cascavel. 2017, 81p. Disponível em: <http://por- rapidamente o carbono do que o nitrogênio.
talpos.unioeste.br/media/File/marina.fer- Para uma ótima biodigestão, a relação C/N
reira/Dissertacao_Andressa_Estevam.pdf>. ideal está na faixa de 20 – 30:1, isto é, 20
Acesso em: 30 out. 2017. a 30 partes de carbono para uma parte de
Uma matéria-prima rica em LIGNINA preci- nitrogênio.
sa de um cuidado especial quando utilizada
na produção de biogás. Pode-se, por exem-
plo, utilizar equipamentos que tenham ho-
mogeneizadores (agitadores); caso não te-
nham, a lignina paralisará a produção do

14/221 Unidade 1 • BIOGÁS


2. Matérias primas para produção de Biogás

2.1 Dejetos animais

Os bovinos confinados produzem diariamente até 40 kg de dejetos (cada um, incluindo fezes e
urina). Animais leiteiros também têm a mesma produção de dejetos, porém os animais passam
parte do dia soltos no pasto, o que impede a coleta dos dejetos; dessa forma, consideram-se
apenas os dejetos recolhidos na sala de ordenha e na área (curral) de espera (onde há alimenta-
ção concentrada para as vacas em lactação), ou seja, não é possível produzir-se comercialmente
biogás de criações soltas no pasto.
A Tabela 1 apresenta as produções médias de dejetos de algumas criações comerciais no Brasil
conforme de Barrera (1993) e Lucas Júnior (2003) (adaptados) e respectivas diluições a serem
respeitadas. Mesmo possuindo o maior rebanho bovino comercial, não é possível utilizar todo o
dejeto para produção de biogás.
Tabela 1. Quantidades de dejetos produzidos por dia e diluições recomendadas.

Animais Produção diária de dejetos Diluição


Bovino confinado 40 kg 1 kg dejeto/4 L água
Bovino leiteiro 20 kg 1 kg dejeto/4 L água

15/221 Unidade 1 • BIOGÁS


Galinha (2,5 kg) 0,18 kg por animal 1 kg dejeto/3 L água
Suíno - Galpão de 10,9 kg de dejetos (sendo 4,9 kg/porca
1 kg dejeto/2 L água
Reprodução e 6,0 kg/cachaço)
Suíno - Galpão de
11 kg de dejetos/porca 1 kg dejeto/2 L água
Gestação
Suíno - Galpão 18 kg de dejetos (para cada porca com
1 kg dejeto/2 L água
Maternidade 8 leitões)
Suíno - Galpão
0,95 kg de dejeto/leitão 1 kg dejeto/2 L água
Creche suíno
Suíno - Galpão de
4,9 kg de dejeto/animal 1 kg dejeto/2 L água
Terminação
Fonte: Adaptado de Lucas Junior (2009) e Barreira (1993).

Os dejetos animais devem ser diluídos em água para que ocorra a biodigestão anaeróbia. O teor
de água deve normalmente situar-se em torno de 90% do peso do conteúdo total. Tanto o exces-
so, quanto a falta de água são prejudiciais.
No caso de suínos, todo dejeto pode ser recolhido, uma vez que as criações ocorrem em barra-
cões/galpões com pocilgas cobertas. O mesmo acontece com aves de corte e poedeiras, porém
aves de corte têm a “cama” retirada ao final da engorda (duas ou três engordas), por isso é reco-
mendado utilizarem-se biodigestores a batelada.
16/221 Unidade 1 • BIOGÁS
A biomassa com maior eficiência na produção de biogás são os dejetos animais, por estarem car-
regados de bactérias presentes no intestino, auxiliando o processo de fermentação (BARREIRA,
2011). Na Tabela 2 há alguns exemplos de dejetos animais e sua capacidade de produzir biogás.
Tabela 2. Produção de biogás através de diferentes dejetos

Dejetos Produção diária Produção de Biogás


Bovinos 15,0 Kg.animal-1 270 m3.ton-1
Suínos 2,25 Kg.animal-1 560 m3.ton-1
Equinos 10,0Kg.animal-1 260 m3.ton-1
Ovinos 2,80 Kg.animal-1 250 m3.ton-1
Aves 0,18 Kg.animal-1 285 m3.ton-1
Fonte: Barreira (2011).

2.2 Produção de biogás de vinhaça

A vinhaça é considerada o principal subproduto da fabricação do álcool, não apenas pelo seu vo-
lume, mas, principalmente, devido ao seu elevado potencial poluidor. Tem, em geral, uma com-
posição rica em nutrientes minerais como potássio, cálcio e enxofre, além de apresentar elevado
teor de matéria orgânica (Demanda Bioquímica de Oxigênio - DBO), com pH variando de 3,7 a 5.

17/221 Unidade 1 • BIOGÁS


As leis ambientais brasileiras começaram a limitar o uso da vinhaça in natura na lavoura de cana
para irrigação e adubação, pois é uma fonte de poluição dos mananciais e nascentes de água.
Seus benefícios como adubo e fonte de água não superam seus problemas poluidores. Cortez et
al. (1992) mostram os benefícios da biodigestão aeróbia sobre a vinhaça. Os principais resulta-
dos são apresentados na Tabela 3.
Tabela 3. Características físico-químicas da vinhaça (Usina São Martinho).

Parâmetro Vinhaça Sem biodigestão Vinhaça depois da biodigestão


pH 4,0 6,9
DQO (mg/L) 29.000 9.000
N amoniacal (mg/L) 40 220
Fósforo P2O5 17 32
Sulfato (mg/L) 450 32
Potássio K2O (mg/L) 1400 1400
Fonte: Cortez et al. (1992).

A tabela 4 apresenta o potencial de produção de energia elétrica (considera-se a utilização de


motogeradores para este fim) das safras brasileiras. Partindo da premissa de que 1 litro de etanol
produz 12 litros de vinhaça, montou-se a Tabela 4 de acordo com as taxas de produção de biogás
de cada autor, considerando-se a safra 2016/2017 e os valores de energia fornecidos pela Câ-
mara de Comercialização de Energia Elétrica, sendo R$ 533,82. Os resultados de Craveiro et al.
(1986) foram repetidos por uma usina no estado de São Paulo em 2013.
18/221 Unidade 1 • BIOGÁS
Tabela 4. Potencial estimado de produção de energia elétrica a partir da biodigestão anaeróbia da vi-
nhaça, segundo Johansson et al (1993), Craveiro et al (1986) e Granato (2003).

Item Safra 2016/2017


Produção álcool /safra Brasil 27.254.000 m3
Vinhaça produzida [m3/safra] (1:12) 331.812.000 m3
Energia Elétrica (Granato, 2003) 361.675 MW.h
Energia Elétrica (Craveiro et al, 1986) 3.981.744 MW.h
Energia Elétrica (Johansson et al, 1993) 6.742.420 MW.h
R$ (Granato, 2003) R$ 200.302.893
R$ (Craveiro et al, 1986) R$ 2.205.169.462
R$(Johansson et al, 1993) R$ 3.734.086.956
Fonte: UNICA, CCEE, Granato (2003), e Johansson et al (1993), Craveiro et al (1984).

A Tabela 5 apresenta um exemplo do potencial de geração de eletricidade (além da cogeração do


bagaço da cana) de uma usina de grande porte (como premissa e trabalhando 220 dias por sa-
fra). Há uma variação na produção por ainda não ter uma “rota” definida; a variação de reatores
tipo RAFA (UASB) e biodigestores utilizados produzem biogás de forma muito variável, além das
características da vinhaça variarem ao longo da safra e de usina para usina.
Tabela 5. Potencial de geração de energia elétrica a partir da vinhaça submetida à biodigestão anaeróbia.

19/221 Unidade 1 • BIOGÁS


R$ [máximo] 18316480 549494400 4029625600
Para saber mais Fonte: o autor.

Já tivemos históricos de usinas produtoras de bio-


gás a partir de vinhaça com resultados promisso-
res no estado de São Paulo, porém as incertezas e
a crise no setor sucroalcooleiro impediram a con-
tinuidade da produção. Granato (2003) desenvol-
veu um trabalho para sintetizar biogás de vinhaça
no estado de São Paulo por biodigestão anaeró-
bia.
DIA MÊS SAFRA [220
dias]
Produção de etanol 500 15000 110000
[m3]
Vinhaça Produzida 6500 195000 1430000
[m3]
MW.h [mínima] 7,085 212,55 1558,7
MW.h [máxima] 134680 4040400 29629600
R$ [mínimo] 963,56 28906,8 211983,2
20/221 Unidade 1 • BIOGÁS
2.3. Produção de Biogás de Re-
síduo Sólido Urbano – RSU ou
“Lixo”

A produção de biogás em aterros sanitá-


rios é realizada por estimativas, o IPCC e a
USEPA têm fórmulas para estimar essa pro-
dução. Para estimar a porcentagem de me-
tano gerado pela degradação anaeróbica
dos resíduos, utilizou-se uma equação (1)
de acordo com alguns métodos do IPCC (In-
tergovernmental Panelon Climate Change)
(IPCC, 2014).
E = Popurb * taxa RSU * RSUf * FCM * COU
* COUF * F * 16/12 (1)
Onde:
Popurb = população urbana (média de clien-

21/221 Unidade 1 • BIOGÁS


tes da churrascaria por dia); FCM= fator de correção de metano (% - fra-
Taxa RSU = taxa de geração de resíduos só- ção adimensional);
lidos urbanos por habitante, por dia [kg/dia. COD = carbono orgânico degradável no re-
pessoa]; síduo sólido urbano (gC g-1 RSU);
RSUf = fração de resíduos sólidos urbanos CODF = fração de COU que realmente de-
depositada em locais de disposição de resí- grada (%);
duos sólidos (%); F = fração de CH4 no gás de aterro;
16/12 = taxa de conversão de carbono em
Link metano.
O artigo de Solomon e Lora (Energetic Potential Como o IPCC, a Agência de Controle Am-
Estimate for Electric Energy Generation of Dif- biental dos Estados Unidos (United States
ferent Sources of Biogas, in Brazil in Biomassa &
Energia, v. 2, n. 1, p. 57-67, 2005) faz estimativas
Environmental Protection Agency – USEPA)
de todas as possíveis fontes de geração de biogás também desenvolveu uma equação (2) re-
no Brasil, inclusive utilizando fórmulas estima- comendada para a elaboração de inventá-
tivas do IPCC. Disponível em: <http://www.re- rios de produção de biogás, e esta é conhe-
nabio.org.br/06-B&E-v2-n1-2005-p557-67.
cida como equação de Inventário da USEPA
pdf>. Acesso em: 29 out. 2017.

22/221 Unidade 1 • BIOGÁS


(USEPA, 1997): 3. Equipamentos
Q = População x Taxa de RSD x RSDf x 0,45
x F (2) O rendimento e a velocidade da digestão
Sendo: anaeróbia dependem de quatro grupos de
fatores:
Q = metano gerado [m3/dia];
População = número de habitantes atendi- • Os relativos às características do rea-
dos pelo aterro [habitantes]; tor/biodigestor.
Taxa RSD = taxa de geração de resíduos sóli- • As características do resíduo a ser di-
dos por habitante por dia [kg RSD/habitan- gerido.
te.dia];
• Seleção das bactérias anaeróbias.
RSDf = fração de resíduos sólidos coletados
• A forma de operação do reator.
que é depositada nos LDRS [%];
A utilização dos biodigestores no meio ru-
0,45 = volume de biogás gerado por 1 kg de ral tem merecido destaque devido aos as-
resíduo sólido [m3 biogás/kg RSD]; pectos de saneamento e energia, além de
F = fração de metano no biogás [%]. estimularem a reciclagem orgânica de nu-

23/221 Unidade 1 • BIOGÁS


trientes. O aspecto saneamento surge no • Baixa demanda de área, reduzindo os
instante em que se isolam os resíduos do custos de implantação.
homem e dos animais, proporcionando di- A Tabela 6 apresenta os valores de combus-
minuição de moscas e odores, permitindo tíveis equivalentes para 1m3 de biogás.
também a redução das demandas química
e bioquímica de oxigênio e de sólidos, tor- Tabela 6- Valores equivalentes para 1m3 de biogás.
nando mais disponíveis os nutrientes para
COMBUSTÍVEL VALOR (APROX.)
as plantas (biofertilizante).
Gasolina 0,613 L
Destacamos aqui algumas vantagens do
processo anaeróbio: Querosene 0,579 L
• Baixa produção de lodo, cerca de 5 a Óleo diesel 0,553 L
10 vezes inferior à que ocorre nos pro- GLP 0,454 L
cessos aeróbios.
Álcool hidratado 0,790 L
• Não há consumo de energia elétrica,
uma vez que dispensa o uso de bom- Lenha 1,536 kg
bas, aeradores, válvulas solenóides, 1,428 ou 1,7 ou
Energia elétrica
painéis elétricos, etc. 1,93 kW.h
Fonte: adaptado de YURA (2006).
24/221 Unidade 1 • BIOGÁS
Os equipamentos utilizados para dejetos animais – que precisam ser diluídos – são: biodiges-
tor indiano (contínuo), biodigestor chinês (contínuo), biodigestor a batelada, biodigestor tubular
contínuo, biodigestor canadense – pode ser contínuo ou batelada. Destes, o canadense é ampla-
mente mais utilizado no Brasil.
Para esgoto e vinhaça os equipamentos mais usados são os RAFA ou USBA, pois já são muito di-
luídos.

4. Purificação do Biogás
Lastella (2002), estudando a produção e a purificação do biogás, afirmou que a purificação do
biogás com a remoção do CO2 possibilita sua melhor utilização na geração de energia elétrica.
Além da energia elétrica, o biogás pode ser utilizado em todas as aplicações destinadas ao gás
natural. Mas nem todos os dispositivos utilizam os mesmos padrões de gás, desta forma, a re-
moção de certos componentes do biogás faz-se necessária. Os principais componentes a serem
removidos do biogás são: a água, o ácido sulfídrico (H2S), as partículas e o dióxido de carbono
(CO2) (Ad-Nett, 2000).
As técnicas empregadas para purificação do biogás são mostradas na tabela 7.

25/221 Unidade 1 • BIOGÁS


Tabela 7. Técnicas para remoção de contaminantes do biogás.

Contaminante Processo Opções e detalhes


Água (H2O) Adsorção Sílica gel, peneira molecular, Alumina
Absorção Etileno glicol, selexol, (temperatura -6,7º C)
Refrigeração Resfriamento a 2º C

Solventes orgânicos, selexol, flúor, rectisol, soluções


de sais alcalinas, potássio quente e potássio quente
CO2 e H2S Absorção
inibido, alcanolaminas, Mono, di, tri – etanol amina,
deglicolamina, ucarsol - CR

Adsorção Peneiras moleculares, carvão ativo


Separação por
Membrana de fibra occ
membrana
Hidrocarboneto Adsorção Carvão ativo
Óleo leve, etileno glicol, selexol, (temperatura entre
Absorção
-6,7º C e -33,9º C)
Refrigeração com etileno glicol e adsorção com
Combinação
carvão ativo
Siloxina* Adsorção Carvão ativo
Fonte: Adaptado de Alves (2000).
26/221 Unidade 1 • BIOGÁS
Para saber mais
Há produção de biogás no mundo todo, seja por
dejetos animais, bem como aterros sanitários ou
vinhaça (bioetanol). Existem países que produ-
zem biogás há mais de um século, fazendo com
que seja parte de sua cultura, como é o caso da
China, Índia e Paquistão.

Link
Diversas notícias, artigos e entrevistas relaciona-
das à bioenergia são apresentados no site Canal
– Jornal da Bioenergia. Recomendamos a leitura
do artigo Retrospectiva canal/produção de biogás
tem grande potencial, mas depende de incentivos
para completar nossos estudos. Disponível em:
<http://www.canalbioenergia.com.br/ape-
sar-dos-recursos-disponiveis-producao-
-de-biogas-ainda-e-pequena/>. Acesso em: 1
dez. 2017.

27/221 Unidade 1 • BIOGÁS


Glossário
Biodigestão anaeróbia: degradação (quebra) da matéria orgânica em moléculas menores, sem
a presença de oxigênio e com bactérias metanogênicas.
Cama: material seco colocado no piso dos barracões usados para engorda de frango de corte.
Normalmente utilizam-se: casca de arroz, sabugo de milho triturado, serragem de madeira
Inoculo: parte de um substrato retirado de um biodigestor com as três fases de degradação da
matéria orgânica, que já está produzindo biogás.
RAFA ou UASB: reator anaeróbio de fluxo ascendente ou Upflow anaerobic sludge blanket; para
tratamento anaeróbio de esgoto urbano ou vinhaça.
Substrato: dejeto diluído em água conforme a tabela de diluição, dejeto + água = substrato.

28/221 Unidade 1 • BIOGÁS


?
Questão
para
reflexão

Esse tema apresentou como é possível produzir biogás


de diversas matérias primas (resíduos), mostrou que es-
ses resíduos poderiam ser prejudiciais ao meio ambiente
e à sociedade sem o tratamento anaeróbio. Com tantas
vantagens, por que o biogás é tão pouco explorado no
Brasil?

29/221
Considerações Finais
• O biogás é um gás combustível de baixo poder calorífico, renovável e pode
ser porduzido a paritr de biomassas residuais pela biodigestão anaeróbia,
desde que tenha condições favoráveis e isolamento do oxigênio.
• A faixa de temperatura ótima para produção de biogás encontra-se entre
30º e 35º C, por isso é recomendável enterrar o biodigestor até que todo o
substrato esteja abaixo do solo, favorecendo, assim, a manutenção da tem-
peratura para o substrato.

30/221
Referências

AD-NETT. Anaerobic Digestion of agro-industrial waste: Information Networks.Technical Sum-


mary on Gas Treatment. Netherlands, 2000. 31 p.
BARRERA, P. Biodigestores: energia, Fertilidade e Saneamento para a Zona Rural. Icone Edito-
ra, 1993, 106p. Campinas: Agropecuária, 2000. 203 p.
CRAVEIRO, A. M.; SOARES, H. M.; SCHMIDELL NETTO, W. Technical aspects and cost estimations
for anaerobic systems treating vinasse and Breweri/Soft drinks wastewaters. In: International
seminar on anaerobic treatment in tropical countries, 1986, São Paulo. Proceedings São Paulo:
Iawprc/Cetesb, 1986. 14p.
DEUBLEIN, D.; STEINHAUSER, A. Biogas from waste and renewable resources. Wiley_VCH Ver-
lag GmbHCo, 2nd Edition, 2012, 550p.
EPA, U.S Environmental Protection Agency – Solid Waste Management and Green House Gases
– A Life-Cicle Assessment of Emissions and Sinks. US.EPA. 2002. Disponível em: <https://www.
epa.gov/>. Acesso em: 05/12/2017.

ETT, G.; LANDGRAF, F.; DERENZO, S.; YU, A. S.; REIS, L. B. dos; MAZZONETTO, A. W.; ANTONOFF,
H. B.; SOUZA, L. A. A. de. Brazilian Bio–Fuels Production Scenario (Biogas, Biomethane and Bio-
syngas) in: Regional leaders summit - international seminar on biomass, biogas and energy
efficiency. São Paulo, 2013, p. 38-53.
31/221 Unidade 1 • BIOGÁS
FREIRE, J. F. & CORTEZ, L. A. B. Vinhaça de cana-de-açúcar. Guaíba, RS: Agropecuária, 2000,
203p.
GRANATO, E. F. Geração de energia através da biodigestão anaeróbica da vinhaça. Disserta-
ção apresentada à Faculdade de Engenharia da UNESP - Campus de Bauru, para obtenção do
título de Mestre em Engenharia Industrial. 2003, 138 p.
International Panel on Climate Change, IPCC. Guidelines for National Greenhouse Gas Inven-
tories reference Manual, [Revised 1996], vol. 3, Disponível em: <http://www.ipcc-nggip. iges.
or.jp/public/gl/invs6e.htm>. Acesso em: 5 dez. 2017.

JOHANSSON T. B.; KELLY H.; REDDY, A.K.N.; WILLIAMS, R.H. Renewable energy sources for fuels
and electricity. Washington: Island Press, 1993, 1160 p.
JORDÃO E. P., PESSOA C. A. “Tratamento de esgotos domésticos”. 3ª Edição. ABES – Associação
Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental; 1995. 720 p.
LASTELLA, G.; TESTA, C.; CORNACCHIA, G.; KOTORNICOLA, M.; VOLTASIO, F.; SHARMA, V. K. An-
aerobic digestion of semi-solid organic waste: biogás production its purification. Energy Con-
servation & Mangement, v. 42, n. 1, p. 63–75, 2002.
LUCAS JÚNIOR, J.; SANTOS, T. M. B. Aproveitamento de resíduos da indústria avícola para produ-
ção de biogás. Simpósio sobre Resíduos da Produção Avícola, Concórdia – SC, 2000

32/221 Unidade 1 • BIOGÁS


LUCAS JUNIOR, J.; SOUZA, C. F.; LOPES, J. D. S. Manual de construção e operação de biodigesto-
res. 1. ed. Viçosa: CPT - Centro de Produções Técnicas, 2003. v. 1. 40 p.
SALOMON, K. R.; LORA, E. S. Estimate of the electric energy generating potential for different
sources of biogas in Brazil. Biomass and bioenergy, 33, p. 1101–1107, 2009.
ZEHNDER, J. B. A. [Ed.] Biology of anaerobic microorganisms. John Wiley & Sons, New York, EUA.
872p, 1988.
YURA, D.; TURDERA, M. V. Estudo da viabilidade de um biodigestor no município de Dourados.
(Trabalho de pesquisa). Universidade estadual do mato Grosso do Sul, UEMS, 2006.

33/221 Unidade 1 • BIOGÁS


Assista a suas aulas

Aula 1 - Tema: Biogás. Bloco I Aula 1 - Tema: Biogás. Bloco II


Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f-
1d/019ea9bbcb065fa07873d079dcb71deb>. 1d/86a3a3165e7e310e793afebd14ecab15>.

34/221
Questão 1
1. Assinale a alternativa que indica corretamente a composição do biogás.

a) 55%CH4 + 40%CO2 + 5% (N2 + O2 + H2 + H2S + NH3 + CO).


b) 40%CH4 + 40%CO2 + 20% (N2 + O2 + H2S + NH3+ H2O).
c) 45%CH4 + 46%CO2 + 9% (N2 + O2 + H2S + NH3 + CO).
d) 49%CH4 + 44%CO2 + 7% (N2 + O2 + H2 + H2S + NH3 + C2H4O2).
e) 46% CH4 + 46%CO2 + 8% (N2 + O2 + H2 + H2S + NH3 +CO + C2H4O2).

35/221
Questão 2
2. Assinale a alternativa que indica o que pode influenciar a velocidade de
produção do biogás.

a) Temperatura, isolamento do oxigênio, umidade, DQO.


b) Matéria prima e diluição, modelo e material do biodigestor, DQO.
c) Modelo e manejo do biodigestor, matéria prima e diluição.
d) Variação da temperatura, pH, DQO, material do biodigestor.
e) Bactérias psicrofílicas, QBO, temperatura, manejo do biodigestor.

36/221
Questão 3
3. Assinale a alternativa correta. O que pode impedir a produção de biogás
num biodigestor enterrado?

a) Ossos, gorduras, lignina, isolamento térmico, Cl, urina animal.


b) Ca, K, Ni, NaCl, Mg, O2, bactericidas, variações de temperatura bruscas.
c) Desinfetante, água em excesso, urina de animais, temperatura alta, Cl.
d) Ca, K, Ni, NaCl, S, O2, Temperatura alta, bactericida, Cl, água em excesso.
e) Temperaturas baixas, CO2, N2, urina animal, Cl, falta d’água.

37/221
Questão 4
4. É possível produzir biogás com matéria prima rica em lignina?

a) Não, pois não tem uma boa relação C:N.


b) Sim, desde que se use um homogeneizador no biodigestor e se misture com dejetos animais.
c) Não, pois a lignina formará uma película impedindo a troca gasosa.
d) Sim, desde que se misture com dejeto de aves diluídas.
e) Sim, desde que se dilua a matéria prima com urina de vaca.

38/221
Questão 5
5. Quais equipamentos são mais indicados para produção de biogás de
cada resíduo: dejeto suíno, esgoto urbano, dejetos de aves de corte, vinha-
ça, respectivamente?

a) Biodigestor chinês, biodigestor indiano, RAFA, UASB.


b) RAFA, RAFA, UASB, UASB.
c) Biodigestor canadense contínuo, biodigestor canadense a batelada, biodigestor chinês, bio-
digestor indiano.
d) Biodigestor canadense contínuo, RAFA, biodigestor canadense a batelada e RAFA.
e) Biodigestor canadense contínuo, biodigestor canadense a batelada, biodigestor.

39/221
Gabarito
1. Resposta: A. algum item que não impede a produção de
biogás, como urina animal, excesso de água.
A base do biogás é CH4 + CO2, e os demais
4. Resposta: B.
gases juntos dificilmente ultrapassam 5%.
A lignina formará uma camada na superfí-
2. Resposta: C. cie do substrato impedindo a troca gasosa
e interrompendo a biodigestão anaeróbia,
O manejo (operação) e modelo do biodi- além de ser de difícil digestão para as bac-
gestor, associado com a matéria prima e di- térias; porém utilizando-se um homoge-
luição podem influenciar na velocidade da neizador impedirá a formação da película e
produção do biogás. O pH pode ser corrigi- manterá a biodigestão anaeróbia. Também
do antes de se iniciar o processo. é recomendável misturar o material rico em
lignina com dejetos animais para melhorar a
3. Resposta: B. biodigestão e acelerar o inicio do processo.

A única alternativa que absolutamente to-


dos os itens listados podem impedir a pro-
dução do biogás é a b; todas as outras têm

40/221
Gabarito
5. Resposta: D.

Esgoto e vinhaça são altamente diluídos, por


isso os reatores tipo RAFA ou UASB são mais
indicados; todos os animais têm produção
contínua de dejetos, assim o biodigestor
canadense contínuo é o mais indicado; com
exceção de aves para corte, pois a cama é
retirada uma única vez no período de 40 ou
80 dias, sendo mais indicado o biodigestor
canadense a batelada.

41/221
Unidade 2
BIOETANOL

Objetivos

Este tema apresentará as principais maté- 2. Processo de produção do etanol hi-


rias primas utilizadas pelo mercado para dratado e anidro – fermentação e
produção de bioetanol no Brasil e em outros destilação.
países; os processos (fermentação e desti- 3. Principais equipamentos para bioe-
lação) de produção do bioetanol anidro, hi- tanol de primeira e segunda geração.
dratado e de segunda geração;  vantagens 4. Possíveis subprodutos do processo:
e desvantagens deste biocombustível. Em açúcar, bioeletricidade, biogás (vi-
suma, serão abordados os assuntos: nhaça + biofertilizante), extintores
1. Matéria prima para o bioetanol – ca- (CO2); torta de filtro (adubação).
na-de-açúcar, sorgo açucareiro, mi-
lho.
42/221
Introdução

O primiero biocombustível produzido pelo do século XIX, os biocombustíveis represen-


Brasil em larga escala foi o bioetanol, apro- tavam a fonte de energia preferencial para
veitando a estrutura existente para produ- os motores de combustão interna, com a
ção de açúcar e todo desenvolvimento do adoção do bioetanol, por Henry Ford (BN-
cultivo da cana-de-açúcar. DES &CGEE, 2008).
Os biocombustíveis líquidos podem ser uti- O Brasil é um dos países que mais utilizam o
lizados de forma bastante eficiente em mo- bioetanol e ainda o segundo maior produtor
tores de combustão interna que equipam os mundial (no segundo semestre de 2017).
mais diversos veículos automotores e que São duas as formas de utilização do produ-
se classificam basicamente em dois tipos, to: na forma de etanol anidro, como com-
dependendo da maneira pela qual se inicia ponente de mistura na formação da gasoli-
a combustão: motores do ciclo Otto, com na C; ou como etanol hidratado, comercia-
ignição por centelha, para os quais o bio- lizado em todo o país como um combustível
combustível mais recomendado é o bioeta- acabado (ANP, 2016).
nol. O biocombustível pode ser usado puro O bioetanol é uma realidade para o Brasil e
ou misturado com combustível convencio- vários países estudam misturar bioetanol
nal derivado de petróleo. É interessante ob- na gasolina para minimizar a poluição am-
servar que, nos primeiros anos da indústria biental.
automobilística, durante a segunda metade
43/221 Unidade 2 • BIOETANOL
1. Matérias prima para o bioeta- dições climáticas ideais para sua expan-
nol são, particularmente na região Centro-Sul
do País. O clima é propício, pois conta com
Cultivada no país há quase cinco séculos, duas estações, uma quente e úmida, perfei-
a cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil ta para o desenvolvimento da planta, e ou-
por Martin Afonso. Como efeito, deu-se iní- tra mais fria e seca, excelente para a con-
cio a um dos mais bem-sucedidos negócios centração da sacarose. A cana-de-açúcar é
da história brasileira com produtos advin- reconhecida como primeira atividade eco-
dos do setor. Na década de 1970, em decor- nômica documentada da história do país. A
rência da crise do petróleo, houve o grande partir das espécies trazidas originalmente,
auge para a produção de álcool combustí- centenas de variedades foram desenvol-
vel. Em 1975, o governo lançou o Progra- vidas em renomados centros de pesquisa,
ma Nacional do Álcool - PROÁLCOOL, cujo como o Planalsucar (Programa Nacional de
principal objetivo seria substituir os veícu- Melhoramento da Cana de Açúcar), o CTC
los movidos a gasolina por veículos movidos (Centro de Tecnologia da Coopersucar, que
a álcool (CARVALHO et al, 2013). virou o Centro de Tecnologia Canavieira) e
o Instituto Agronômico de Campinas (IAC)
A cana-de-açúcar, gramínea originária do
(JANK et al, 2008).
sudeste asiático, encontrou no Brasil con-
44/221 Unidade 2 • BIOETANOL
Para cada hectare de milho plantado é pos- fermentação simultânea (SSF); fermenta-
sível produzir cerca de 8 a 11 toneladas de ção; destilação; produção de álcool anidro
grãos, sendo que de cana são produzidas carburante; álcool qualidade industrial; ál-
90 toneladas, pois esta ocupa menos espa- cool anidro - destilação azeotrópica ou por
ço no terreno. Para essa quantidade de mi- peneira molecular; e separação da vinhaça,
lho, são produzidos de 3,2 a 4,5 mil litros de evaporação e secagem do subproduto (PAI-
etanol, enquanto que a cana produz cerca VA, 2004).
de 7,5 mil litros. O balanço energético da O sorgo despertou a curiosidade e interesse
produção de etanol de milho é desfavorá- dos pesquisadores, dado que o sorgo saca-
vel. Este grão produz combustível que ofe- rino é utilizado para a síntese de etanol. Ao
rece apenas 20% a mais de energia do que lado da cana-de-açúcar, que é tradicional-
ele consome para ser produzido, sendo que mente empregada na produção de etanol, o
a cana oferece 700% a mais (BARROS, s.d.). sorgo sacarino apresenta-se como uma óti-
A produção do álcool de milho envolve um ma opção sob o ponto de vista agronômico
processo desenvolvido principalmente se- e industrial (MAGALHÃES, et al., 2007).
gundo as seguintes etapas: recepção e es-
tocagem de grãos; “Mashing”, esterilização,
liquefação e sacarificação; sacarificação e
45/221 Unidade 2 • BIOETANOL
Para saber mais Link
O sorgo sacarino pode oferecer, dentre outras, Para conhecer as especificações do etanol, em
as seguintes vantagens: rapidez no ciclo (quatro todas as formas permitidas, teor de pureza, nor-
meses); cultura totalmente mecanizável (plantio mas de comercialização e de adição de corantes
por sementes, colheita mecânica); colmos sucu- consulte a Resolução ANP n° 19/2015. Disponível
lentos com açúcares diretamente fermentáveis em: <http://www.anp.gov.br/wwwanp/bio-
(produção de 40 a 60 t ha-1 de colmos); utiliza- combustiveis/etanol>. Acesso em: 2 nov. 2017.
ção do bagaço como fonte de energia para a in-
dustrialização, para a co-geração de eletricidade
ou como forragem para alimentação de animais, 2. Processo de produção do eta-
contribuindo para um balanço energético favorá- nol hidratado e anidro
vel (EMBRAPA, 2012).
O etanol é uma substância química com
fórmula molecular C2H6O, produzida espe-
cialmente via fermentação de açúcares. O
uso de etanol combustível reduz a emissão
de gases de efeito estufa e reduz, também,
46/221 Unidade 2 • BIOETANOL
a dependência energética de combustíveis devido à detenção de tecnologias e políti-
fósseis (ANP, 2016). O bioetanol é obtido cas mais avançadas do mundo, em decor-
por meio da fermentação de amido e outros rência da pioneira utilização do etanol ob-
açúcares, como a sacarose existente na ca- tido a partir da cana-de-açúcar como com-
na-de-açúcar, nos açúcares da uva e cevada bustível. A estimativa é que a produção de
e também mediante processos sintéticos. É etanol anidro aumente gradativamente o
um líquido incolor, volátil, inflamável, solú- que representará um acréscimo de 15,35%
vel em água, com cheiro e sabor caracterís- na produção, e o etanol hidratado um au-
ticos (ALVES et al., 1998). mento de 4,45%, quando comparados com
A produção de etanol é realizada a partir da a produção de etanol de safras anteriores
fermentação de mono ou dissacarídeos as- (CONAB, 2013).
similáveis por linhagens de Saccharomyces A conversão de material lignocelulósico, ou
cerevisiae que fermentam glicose, manose e biomassa em açúcares fermentados para a
frutose bem como os dissacarídeos sacaro- produção de etanol, vem sendo discutida
se e maltose. Esta é a espécie de levedura como fonte alternativa promissora para au-
mais usada nas destilarias (FENGEL & WE- mentar a produção necessária para atender
GENER, 1989). a demanda mundial. O etanol da cana obtido
O Brasil destaca-se na produção de etanol, através da fermentação alcoólica da saca-
47/221 Unidade 2 • BIOETANOL
rose, assim como o obtido a partir do amido tendo até duas safras anuais no Brasil. Por
de milho é denominado etanol de primeira consequência, nas médias de produção de
geração. A obtenção de etanol celulósico a etanol, a cana também sai na frente com 8
partir dos polissacarídeos da parede celular mil litros por hectare contra 3 mil litros por
vegetal é denominada etanol de segunda hectare de milho (CAETANO, 2007).
geração. Já tem se falado em etanol de ter- A produção de etanol a partir da cana-de-
ceira geração e quarta geração, nos quais a -açúcar é mais rentável economicamente
planta utilizada seria geneticamente modi- que a feita a partir do milho, e também me-
ficada (BUCKERIDGE et al., 2010). nos agressiva ao meio ambiente (FERNAN-
O milho e a cana-de-açúcar fazem parte da DES, 2007).
agroindústria mundial e seus preços variam A produção do bioetanol está ligada à pro-
de acordo com o suprimento e a demanda dução do açúcar – quando se pensa na rota
(WHEALS et al., 1999). da cana-de-açúcar e produção brasileira,
O custo para se obter álcool de cana é mais por isso será colocada na sequência/roteiro
baixo que o de milho. Um dos motivos é que a de produção do bioetanol o roteiro da pro-
produtividade do canavial é bem maior, com dução de açúcar, uma vez que o MEL B (rota
média de 90 toneladas por hectare, frente do açúcar) irá para a rota da produção de
às 8 toneladas por hectare do milho, mesmo bioetanol.
48/221 Unidade 2 • BIOETANOL
Para iniciar a fermentação, é necessário mis- do etanol é de 78,4º C e da água é de 100,0o
turar um inóculo de leveduras, que são mi- C, ao nível do mar. Quanto mais próxima de
cro-organismos capazes de produzir álcool. 78,4º C a temperatura do meio estiver, me-
As leveduras devem ter: alta relação entre o lhor será a purificação do álcool.
álcool produzido e o açúcar disponível, para Quanto à secagem, existem duas classes
uma boa produção de álcool; alta velocida- diferentes de álcool: o álcool hidratado e o
de de fermentação, alta tolerância ao ál- álcool anidro. O hidratado contém uma pe-
cool, alta tolerância a altas temperaturas e quena parcela de água em sua composição
estabilidade. O tempo de fermentação é de, e, para retirá-la, é necessário que ele passe
normalmente, dois a cinco dias, podendo por um processo de desidratação. Os três
variar de acordo com o micro-organismo, métodos utilizados atualmente para desi-
pH e temperatura, entre outros aspectos. dratação ou secagem são: destilação aze-
O mosto fermentado contém de 7 a 10% otrópica, destilação extrativa e destilação
em volume de álcool. A purificação é obtida com peneiras moleculares (BARROS, s.d).
através da destilação, que é o processo de
separação dos componentes de uma mistu-
ra pela evaporação em uma dada tempera-
tura e pressão. A temperatura de ebulição
49/221 Unidade 2 • BIOETANOL
2.1 Passo a passo da produção 6.2. Desfibrador.
do bioetanol 6.3. Moendas ou difusores – normal-
mente são 6 ternos com 4 rolos cada.
Destacaremos as etapas comuns ao
6.4. Filtros para o caldo.
açúcar e ao bioetanol – extração/caldo:
7. Linha de Produção de Açúcar:
1. Cana-de-açúcar.
7.1 Pré-aquecimento (60-70º C).
2. Operação de colheita.
7.2 Clareamento – sulfitação.
3.
Recebimento na usina: pesagem,
7.3 Açúcar VHP (very high purity).
amostragem e “pátio sobre rodas (es-
tocagem)”. 7.4 Dosagem – correção do pH (7) e
aquecimento (105 -110º C).
4. Sistema de descarga.
7.5 Flasheamento - O flasheamento con-
5. Pré-limpeza: limpeza a seco e lava-
siste na expansão brusca do caldo de
gem.
sua pressão na tubulação para a pres-
6. Processos industriais comuns para são atmosférica.
etanol (ou bioetanol) e açúcar:
7.6. Decantador – separa o lodo do
6.1. Picador: facas leves e facas bai- caldo.
xas.
50/221 Unidade 2 • BIOETANOL
7.7. Filtragem. 8.3 Balão de Flash (tipo chaminé aberta
7.8. Evaporação – 5 corpos. para ter pressão atmosférica) – ex-
pande e evapora a 100º C. O balão eli-
7.9. Cozimento A – açúcar e mel A.
mina incondensáveis.
7.10. Cozimento B.
8.4 Sistema de Filtro (único, atende as 2
7.11. Mel B – vai para destilação pro- linhas).
duzir etanol.
8.5 Caldo Clarificado se junta com o MEL
7.12. Magna B. B.
7.13. Massa A. 8.6 Fermentação - são 6 a 7 fermentado-
7.14. Secagem – secador rotativo con- res: 3 recebendo mosto em estágios
tra - corrente, resfriamento e armaze- diferentes; 2 cheios em diferentes
namento. etapas; 1 esvaziando; 1recebendo fer-
8. Linha de PRODUÇÃO DE ETANOL: mento (1/3 do volume do equipamen-
8.1 Pré – Aquecimento do caldo – de 95º to). O fermento é formado por 30%
para 105º C. de levedura em volume e completado
com água, em cima joga-se o mosto.
8.2 Ajuste de pH do Caldo - adição de
Levam 5 – 6 horas para encher o fer-
CaOH, pH deve ficar em torno de 6.
mentador; 2 a 3 horas para fermenta-
51/221 Unidade 2 • BIOETANOL
ção e mais 2 horas para esvaziar. e gás borbulha nas bandejas, assim o
8.7 Vinho bombeamento e centrifugação etanol e a água são recuperados.
- produto da fermentação, para cen- 8.10 Destilação e vinhaça - o vinho sem
trifugação a fim de separar o vinho da levedura é bombeado para uma uni-
levedura. O vinho sem levedura é en- dade de destilação que é uma coluna
caminhado para destilação. O creme (o esgotamento do fundo desta retira-
de levedura irá para o pré – fermenta- -se vinhaça isenta de etanol), na parte
dor. superior sai flegma (vapor contendo
8.8 Pré- fermentador - o creme de leve- mais de 40% de etanol e água).
dura é misturado com água na propor- 8.11 Coluna B ou Coluna de Retificação
ção de 1:1, recebe H2SO4 para corrigir - o flegma alimenta a coluna B, no
o pH e para evitar floculação e comba- topo desta coluna sai etanol hidrata-
ter bactérias. do com concentração entre 93 a 96%
8.9 Absorção – recuperação de etanol em peso. O vapor pode ser direto ou
arrastado - a fermentação produz CO2 indireto; quando é indireto recupera-
que arrasta 1% de etanol, este é recu- -se o condensado, conforme mostra a
perado numa coluna de absorção, na Figura 1.
qual H2O é injetado no topo da coluna
52/221 Unidade 2 • BIOETANOL
Figura 1. Fluxograma da Destilação do Etanol.

Fonte: <http://mundodacana.blogspot.com/2009_09_01_archive.html>. Acesso em: 1 nov. 2017.

8.12 Adsorção – etanol anidro - a desidratação de álcool através de Peneira Molecular está
baseada na capacidade de adsorção seletiva de substâncias denominadas zeolitos. Quan-
do da passagem, em fase de vapor, de um fluxo contendo álcool + água (vinda da coluna B),
as moléculas de água   ficam “presas” na estrutura cristalina especialmente desenvolvida.
Como mostra a figura 2.
53/221 Unidade 2 • BIOETANOL
Figura 2. A- Resina que funciona como peneira molecular; B- Um esquema Sistema para pro-
dução de bioetanol anidro utilizando-se Peneira MOLECULAR.

Fontes: A- <https://www.emsintese.com.br/page/4/>; B - <http://www.vectortech.com.br/sistema-de-desidratacao-via-peneira-molecular/>.


Acesso em: 2 nov. 2017.

Para saber mais


O etanol de terceira geração apoia-se na viabilidade do etanol de segunda geração, através de possibilidade
de utilização da maquinaria bioquímica de microrganismo, algas e bactérias, para desmontar a parede ce-
lular. Assim como os microrganismos desenvolveram mecanismos para invadir a parede celular, as plantas
também co-evoluíram para sofisticar seus mecanismos de defesa (CORTEZ, 2010).

54/221 Unidade 2 • BIOETANOL


voltadas para ampliar a produtividade do
Para saber mais etanol de cana brasileiro. O alvo é aproveitar
o bagaço e a palha da cana-de-açúcar, fon-
O Laboratório Nacional de Ciência e tecnologia do
tes de celulose, como matéria-prima para a
Bioetanol (CTBE) desenvolve pesquisa e inovação
produção de bioetanol (ARRUDA & FELIPE,
nas áreas de biomassa, energia e principalmen-
2009).
te do bioetanol. Confira os materiais disponíveis
em: <ctbe.cnpem.br> e veja as últimas pesquisas A utilização de matéria prima não especí-
para produção de bioetanol e biomassa. Acesso:
fica, classificam-nos como combustíveis
de segunda geração; neste processo uma
05 dez. 2017.
grande gama de matérias-primas é apro-
veitada. Essa nova geração representa uma
3. Principais equipamentos para alternativa para o uso energético da bio-
bioetanol de primeira e segunda massa, apresentando vantagens ambien-
tais e econômicas, por ser o etanol produ-
geração zido a partir de lignocelulose, presente em
resíduos de origem vegetal. A produção de
O etanol de segunda geração está mobili-
etanol da lignocelulose é feita com tecnolo-
zando um número crescente de pesquisa-
gias ainda em fase de aperfeiçoamento (PA-
dores para o desenvolvimento de pesquisas
CHECO, 2011).
55/221 Unidade 2 • BIOETANOL
Separar totalmente álcool etílico (etanol) da água pela destilação não é um processo tão simples
quanto poderia parecer. O processo simples de destilação chega a uma pureza de no máximo
95,6% de álcool etílico (e o restante é água); isto porque, neste ponto, ocorre a formação de um
azeótropo de mínimo, no qual esta mistura tem um ponto de ebulição menor do que os compo-
nentes puros. O inconveniente do uso de peneira molecular na secagem do etanol é que pode
resultar em uma grande quantidade de pó deste material em suspensão no solvente (<www.em-
sintese.com.br>).
A Figura 3 mostra um fluxograma de uma usina para produção de bioetanol de cana-de-açúcar
e milho.
Figura 3. Fluxograma de uma usina que produz bioetanol de cana-de-açúcar e milho.

Fonte: <http://www.stab.org.br/15sba/web/01_usina_flex_cezar_faiad_dedini.pdf>. Acesso em: 2 nov. 2017.

56/221 Unidade 2 • BIOETANOL


4. Possíveis subprodutos do pro- • Vinhaça – produzida na destilação do
cesso vinho para separar o bioetanol, nor-
malmente na proporção de 12 litros
Os subprodutos da produção do bioetanol de vinhaça para cada litro de bioeta-
são: nol. Já existe tecnologia para ter uma
proporção de 1:9,5. Pode produzir
• Bagaço – após passar pelos ternos irá
biogás, ser estabilizada e usada para
para a caldeira gerar bioeletricidade,
fertirrigação – rica em potássio;
movimentando a usina e vendendo o
excedente. Também pode produzir o • Torta de Filtro – utilizado para aduba-
bioetanol de segunda geração; ção orgânica na lavoura de cana-de-
-açúcar;
• Palha ou palhiço – após passar pelos
ternos irá para a caldeira gerar bioe- • CO2 – resultante da fermentação do
letricidade, movimentando a usina e caldo de cana, pode ser usado para
vendendo o excedente. Também pode encher extintores de incêndio.
produzir o bioetanol de segunda ge-
ração. Ainda é deixada uma boa parte
no campo para manter a cobertura;

57/221 Unidade 2 • BIOETANOL


Para saber mais Link
O etanol de quarta geração será um avanço na Para você ler mais sobre produção de bioetanol
tecnologia, pois integrará os processos das de- de cana de açúcar acesse: <www.cgee.org.be/
mais gerações. Basicamente, consiste em um atividades/redirect.php?idProduto=5126> e
conjunto de alterações na própria planta de ca- você verá um livro do BNDES e CGEE disponível
na-de-açúcar, que aumentará a eficiência dos para consulta. Acesso em: 05 dez. 2017.
processos de produção de etanol de segunda e
terceira geração. A proposta desta geração é a
modificação genética da planta para expressar
enzimas capazes de promover a digestão da pa-
rede celular (CORTEZ, 2010).

58/221 Unidade 2 • BIOETANOL


Glossário
Bioetanol anidro: é caracterizado pelo teor alcoólico mínimo de 99,3º, composto apenas de eta-
nol. É utilizado como combustível para veículos (gasolina C) e como matéria-prima na indústria
de tintas, solventes e vernizes (CHIEPPE JÚNIOR, 2012).
Brix: é a porcentagem em massa de sólidos contidos em uma solução de sacarose quimicamente
pura
Flegma: constituído de água e os componentes voláteis do vinho (cabeça, coração e cauda). A
flegma é subdividida em dois tipos: Flegma de baixo grau – teor alcoólico entre 35 a 65º GL; Fleg-
ma de alto grau – teor alcoólico entre 90 a 96º GL (CHIEPPE JÚNIOR, 2012).
Mosto: caldo com pH corrigido pela cal (5,6 – 5,8), aquecido a 103 – 105º C para eliminar gases,
decantado por 3 a 3,5 horas e concentrado para elevar o teor de açúcar a uma ordem de 60 brix.
Pol: é uma percentagem em massa de sacarose aparente contida em uma solução açucarada de
peso normal determinada pelo desvio provocado pela solução no plano de vibração da luz pola-
rizada.
Terno: faz parte do sistema de extração do caldo (açúcar) da cana. Cada “terno” é composto por
4 rolos que esmagam a cana. Normalmente as usinas têm um conjunto com 4 a 6 ternos – com 4
rolos cada.

59/221 Unidade 2 • BIOETANOL


?
Questão
para
reflexão

Este tema apresentou como é possível produzir bioeta-


nol de primeira geração de cana-de-açúcar, milho e sor-
go açucareiro de segunda geração com bagaço e palha
de cana. Apresentou vantagens e desvantagens para a
sociedade e meio ambiente. Após a explanação desse
tema, reflita: O bioetanol é uma conquista brasileira ou
um problema? Por que outros países não o usam na mis-
tura da gasolina, como o Brasil?
60/221
Considerações Finais
• O Bioetanol é um produto sustentável, do começo ao fim, contribuindo não apenas na área
energética (bioetanol e bioeletricidade), mas na alimentícia (açúcar, levedura e proteínas) e
médica sanitária (álcool 70% - bactericida e farmacêutica).
• As áreas ocupadas pela cana-de-açúcar, principalmente onde se fazem expansões, são oiun-
das de áreas degradadas pelo gado. A cultura da cana recupera essa área e de 20 a 25% da
área plantada (dependendo da região) é reformada todo ano, isto é, tira-se a cana e planta-se
outra cultura (soja, amendoim, crotalaria, girassol...) para se fazer uma rotação de cultura e
recuperar o solo. Esta prática faz com que se aumente a produção de grãos na região – au-
menta-se a produção de alimento.
• As usinas de açúcar e etanol passaram a ser encaradas como usinas de açúcar, bioetanol e
bioeletricidade (ou biorrefinarias), ampliando sua importância na matriz energética brasileira,
pois em algumas regiões – como a Sudeste, Mato Grosso do Sul e Paraná, quando param as
chuvas, começa-se a safra da cana-de-açúcar e produção de bioeletricidade. Complemen-
tando, assim, a geração de eletricidade e diminuindo o uso dos reservatórios para geração de
energia elétrica.
• O pol e o brix medem a pureza do caldo extraído da moagem da cana-de-açúcar e ambos me-
dem também o pc (pol da cana, isto é, o resultado da qualidade de pol encontrada na cana) e
o teor de sacarose da cana.
• O etanol de primeira geração pode ser produzido a partir de várias culturas – cana-de-açúcar,
milho, sorgo açucareiro, beterra, mandioca; e de segunda geração por qualquer material lig-
nocelulósico – bagaço, palha de cana, madeira, resíduos culturais.

61/221
Referências

ANP. Gás e Biocombustíveis “Etanol”. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/wwwanp/bio-


combustiveis/etanol>. Acesso em: 2 dez. 2017.

ANP. Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis2010. Diretor-


-Geral Lima, H. B. R. Rio de Janeiro – RJ – Brasil. 2010.
BARROS, T. D. AGITEC – Agência EMBRAPA de Informação Tecnológica. Disponível em: <http://
www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/agroenergia/arvore/CONT000fbl23vn102wx5eo0saw-
qe3djg2152.html>. Acesso em: 3 dez. 2017.
BUCKERIDGE, M. S.; SANTOS, W. D.; SOUZA, A. P. As rotas para o etanol celulósico no Brasil. In:
CORTEZ, L. A. B. (org.) Bioetanol de cana-de-açúcar: P & D para produtividade e sustentabili-
dade. São Paulo: Ed. Blucher, 2010. 954p.
CHIEPPE JÚNIOR, J. B. Tecnologia e Fabricação do Álcool Inhumas: IFG; Santa Maria: Universidade
Federal de Santa Maria, 2012. 74p. Disponível em: <HTTP://redeetec.mec.gov.br/images/stories/
pdf/eixo_prd_industr/tec_acucar_alcool/161012_tecfabric_alc.pdf>. Acesso em: 3 dez. 2017.

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento da safra brasileira cana-de-


-açúcar Safra 2013/2014. Primeiro Levantamento Abril/2013. Disponível em: <http://www.
conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/13_04_09_10_29_31_boletim_cana_portugues_
abril_2013_1o_lev.pdf>. Acesso em: 9 dez. 2017.
62/221 Unidade 2 • BIOETANOL
CORTEZ, L. A. B. (org.) Bioetanol de cana-de-açúcar: P & D para produtividade e sustentabili-
dade. São Paulo: Ed. Blucher, 2010. 954p.
Embrapa de produção agroindustrial de sorgo sacarino para bioetanol: Sistema BRS1G – Tecno-
logia Qualidade Embrapa / Editores técnicos: May, A. et al. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo,
2012. 120 p.
LIMA, L da R.; MARCONDES, A. de A. Álcool Carburante – uma estratégia brasileira Curitiba: Ed.
UFPR, 2002.
MAGALHÃES, P. C.; DURÃES, F. O. M.; RODRIGUES, J. A. S. Cultivo do Sorgo – Aspectos gerais dos
efeitos ambientais sobre o crescimento do sorgo. Embrapa Milho e Sorgo. Sistemas de Produ-
ção 2. Sete Lagoas. 2007.
PACHECO, T. F. Produção de Etanol: Primeira ou Segunda Geração? Circular técnica. EMBRAPA.
ISSN 2177- 4420 Brasília, DF Abril, 2011.
UNICA. Disponível em: <www.unica.com.br>. Acesso em: 4 dez. 2017.

63/221 Unidade 2 • BIOETANOL


Assista a suas aulas

Aula 2 - Tema: Bioetanol. Bloco I Aula 2 - Tema: Bioetanol. Bloco II


Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f-
e1aa7123c68e4581f6b41f6e8269a138>. 1d/00e27acbaca0c671967279f9cc754ecc>.

64/221
Questão 1
1. Quais as principais matérias primas para a produção de bioetanol? Identifi-
que a alternativa INCORRETA.

a) Cana-de-açúcar, milho, sorgo açucareiro.


b) Materiais lignocelulósicos, milho, mandioca.
c) Melaço, materiais ligonocelulósicos, petróleo.
d) Milho, bagaço, palha.
e) Cana-de-açúcar, melaço (Mel B), sorgo açucareiro.

65/221
Questão 2
2. Qual a matéria prima mais viável para produção de bioetanol no Brasil?

a) Sorgo sacarino.
b) Mandioca.
c) Milho.
d) Cana-de-açúcar.
e) Linhaça.

66/221
Questão 3
3. O milho e/ou o sorgo podem complementar a produção do bioetanol no
período da entressafra da cana-de-açúcar. Identifique a afirmativa INCOR-
RETA.

a) Existem projetos de usinas que podem produzir bioetanol de cana e milho.


b) A produção ao longo do ano todo será favorável ao mercado, pois a produção de sorgo é
bem adaptada às condições do Brasil.
c) As produções de sorgo e milho são dominadas pelos agricultores brasileiros.
d) Ter safra e consequentes produções de bioetanol por outras matérias primas otimizaria o
uso das usinas e diminuiria o preço do biocombustível.
e) A produtividade e o custo de produção do milho e do sorgo representam 50% do custo e são
65% mais produtivos do que a cana.

67/221
Questão 4
4. O bioetanol de segunda geração já é uma realidade que provocará uma com-
petição entre energias – bioetanol e bioeletricidade; porém, é fato que a pro-
dução de bioetanol crescerá. Identifique a afirmativa correta.

a) O bioetanol usará materiais já disponíveis sem precisar aumentar a área plantada.


b) Para crescer a produção do bioetanol de segunda geração precisará aumentar a área plan-
tada de cana-de-açúcar.
c) A produção de bioetanol de segunda geração está ligada ao plantio de milho.
d) Para aumentar a produção do bioetanol de segunda geração, precisará aumentar o plantio
de milho e sorgo açucareiro.
e) As plantas de etanol de segunda geração poderão funcionar o ano todo com sorgo.

68/221
Questão 5
5. O processo industrial da produção de bioetanol e bioeletricidade geram
resíduos. Destes resíduos produzidos, qual pode ser usado como biofertili-
zante e produzir biogás?

a) Cinzas.
b) Torta de filtro.
c) Palha.
d) Bagaço.
e) Vinhaça.

69/221
Gabarito
1. Resposta: C. 3. Resposta: E.
É possível fracionar o petróleo e obter-se A produtividade e o custo de produção do
etanol, porém não será o bioetanol; das de- milho e do sorgo representam 50% do custo
mais matérias primas são possíveis obter- e são 65% mais produtivos do que a cana.
-se bioetanol por rotas distintas. Inclusive O custo da produção de milho e sorgo são
bagaço e palha podem produzir bioetanol maiores do que a da cana e a produtividade
de segunda geração. (por hectare) é bem inferior.

2. Resposta: D. 4. Resposta: A.
A cana-de-açúcar tem a maior produtivida- Apenas a questão “a” está certa, pois inicial-
de por hectare (área), o menor custo produ- mente o aumento da produção de bioetanol
tivo e a maior taxa de produção de litros de pode ocorrer sem aumentar a área planta-
etanol por hectare. da, somente utilizando o bagaço e a palha
– já disponíveis no sistema sucroalcooleiro.

5. Resposta: E.
Apenas a vinhaça pode produzir biogás e
biofertilizante.
70/221
Unidade 3
BIOEDIESEL

Objetivos • Matérias primas para o biodiesel – ole-


aginosas (soja, girassol, milho, dendê,
Este tema apresentará as matérias primais pinhão manso, canola/colza, algodão,
mais utilizadas para produção de biodiesel mamona), sebo animal (bovinos, suí-
no Brasil e no mundo. Destacaremos ainda nos, aves) e óleo usado.
sobre os processos (transesterificação, es- • Processo de produção do biodiesel
terificação e craqueamento térmico) para puro e misturas binárias – transesteri-
produção de Biodiesel, principais catalisa- ficação, esterificação, craqueamento
dores e processos de separação do biodie- térmico.
sel da glicerina (lavagem e resinas) e tecno-
• Principais catalisadores.
logias de conversão energética. Assim, nos
preocuparemos em apresentar os tópicos: • Normas ANP e qualidade do biodiesel.
• Biodiesel – vantagens e desvantagens. • Glicerina do biodiesel.

71/221
Introdução

A maior parte de toda a energia consumida vegetais e/ou gordura animal (ou gordura
no mundo provém da queima de combus- residual), o que ajuda a dar destino a esses
tíveis fósseis, como por exemplo: petróleo, rejeitos, uma vez que o Brasil tem grandes
carvão e gás natural. Estudos apontam que produções de animais para consumo de car-
o uso, em larga escala, dos biocombustíveis ne - suínos e bovinos, sendo o rebanho bo-
é uma grande opção para a substituição vino o segundo maior do mundo. O biodie-
dessas fontes, podendo contribuir para o sel pode ser facilmente utilizado em moto-
desenvolvimento sustentável. res a diesel, sem necessidade de adaptação,
O biodiesel é uma alternativa ao diesel obti- o que o torna uma alternativa mais viável do
do a partir do petróleo, pois emite menores que outras fontes de energias alternativas,
quantidades de gases poluentes durante o como o GNV (gás natural veicular).
processo de combustão. Além disso, provo- Muitos países produzem biodiesel à
ca menor desgaste no motor, é biodegradá- base de óleo de soja, como EUA, Argentina e
vel, não tóxico e praticamente livre de enxo- Brasil; ou utilizando-se óleo de canola/col-
fre, particulados e outros poluentes inten- za ou girassol, como Alemanha e boa par-
sificadores do efeito estufa, porém produz te da comunidade Europeia; já a China usa
mais NOx que o petrodiesel. gordura suína como principal matéria pri-
O biodiesel pode ser obtido de óleos ma para seu biodiesel; Malásia e Indonésia
72/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL
usam a palma africana/dendê para produ- 1. O biodiesel – vantagens e des-
zirem biodiesel. vantagens
Aproximadamente 75% do diesel no Bra-
sil são consumidos no setor de transpor- O biodiesel é utilizado como um substituinte
tes, 16% no setor agropecuário (geração de do óleo diesel na matriz energética mundial,
energia elétrica no uso bombeamento de pois já que tem propriedades semelhantes,
água para a irrigação e o acionamento de podem ser adicionados percentuais parciais
máquinas agrícolas) e cerca de 5% no se- ou totais de biodiesel ao óleo diesel, nos
tor de transformação. A importação anual motores a combustão para transporte ro-
de óleo diesel variou, nos últimos 14 anos, doviário ou nos motores utilizados na gera-
entre 2 a 10 milhões de m³, alcançando por ção de energia elétrica (MCT, 2004).
volta de 11 milhões de m³ em 2014 (ANP, Segundo Parente (2003) e Alves (2010),
2015). para garantir a qualidade e para que um
combustível se torne viável para motores
a diesel, são necessárias algumas análi-
ses que enquadrem os seguintes aspectos:
combustibilidade, efeitos ao meio ambien-
te consequentes das emissões, compatibi-
73/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL
lidade ao uso e ao manuseio. O biodiesel é tamente associado a atividades agrícolas;
proveniente de fontes renováveis como óle- f) no caso do biodiesel de óleo de fritura,
os vegetais ou gordura animal. Sua utiliza- caracteriza-se por um grande apelo am-
ção está associada à substituição de com- biental.
bustíveis fósseis em motores de ignição por
compressão. Ainda sobre as vantagens do uso do biodie-
sel, como o provável substituto do diesel,
Enquanto produto, o biodiesel possui as se- Carvalho & Ribeiro (2012) destacam:
guintes características, de acordo com Ros-
si e Ramos (1999): i) Fonte de energia renovável.

a) é livre de enxofre e aromáticos; ii) Sua combustão não contribui para a


emissão de CO2.
b) tem alto número de cetano;
iii) Elevado ponto de fulgor (150°C).
c) possui teor médio de oxigênio em torno
de 11%; iv) Excelente lubricidade, aumentando a
vida útil do motor.
d) possui maior viscosidade e maior ponto
de fulgor que o diesel convencional; v) Produção total mais barata do que a do
petróleo.
e) possui nicho de mercado específico, dire-

74/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL


2. Matérias prima para o biodie- çu (Orbignya phalerata Mart.), a soja (Glycine
sel max), o girassol (Helianthus annuus) e a ca-
nola (Brassica napus L. e Brassica rapa L.).
A escolha da matéria-prima mais adequada As principais matérias primas utilizadas no
depende largamente da oferta do mesmo, Brasil são: óleo de soja, gordura animal (bo-
do custo, da logística e da produtividade. vina, suína), óleo de algodão, óleo de palma
É uma escolha de suma importância, visto africana (dendê), girassol, entre outras.
que a mesma representa cerca de 85% do
custo de produção do biodiesel (MARTINS,
CARNEIRO, 2013; MENDES, COSTA, 2010).
A vasta extensão territorial, as condições de
clima e a qualidade dos solos, tornam o Bra-
sil um dos maiores produtores agrícolas do
mundo. Dentre as plantas oleaginosas que
apresentam grande potencial econômico
na produção de biodiesel pode-se citar: o
dendê ou palma africana (Elaeis guineensis
Jacq), o açaí (Euterpe oleracea Mart.), o baba-
75/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL
Uma vez que as algas requerem apenas
Para saber mais água, luz solar e dióxido de carbono, elas
podem ser cultivadas em qualquer ambien-
O biodiesel é uma alternativa renovável dos deri-
te e com alta produtividade por área, como
vados do petróleo, oriundo de oleaginosas como
mostrado pela Figura 1A e 1B.
algodão, amendoim, soja, pinhão manso, entre
Figura 1. Produção de alga para produção de biodiesel.
várias outras, além de poder ser produzido tam-
bém da gordura animal e até mesmo do óleo de
fritura residual. O algodão surge como uma alter-
nativa para a produção do biodiesel, pois apre-
senta a vantagem de ser mais barato que outras
oleaginosas, por isso vem conquistando espaço e
ocupando um lugar de destaque na produção do
biodiesel no Brasil. Fonte: A- <https://www.biodieselbr.com/noticias/colunistas/
gazzoni/desafios-biodiesel-algas-060212.htm> B- <http://umfa-
rolnooceano.blogspot.com.br/2012/12/biodieselpartir-de-algas.

html>. Acesso em: 10 nov. 2017.

76/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL


As Figuras 2A e 2B mostram a distribuição
Para saber mais da produção de matérias primas que são ou
podem ser usadas para produção de biodie-
Tradicionalmente, o biodiesel é produzido em lar-
ga escala industrial pelo processo de transesteri- sel no Brasil.
Figura 2. A- Principais culturas oleaginosas por re-
ficação de óleos vegetais, principalmente o óleo
gião brasileira para Biodiesel; e B - Principais maté-
de soja, competindo, assim, com a demanda de rias-primas para produção de biodiesel no Brasil.
óleo destinada ao setor alimentício. Dessa ma-
neira, o uso de matérias primas alternativas para
a síntese de biodiesel contribui para estabilização
do mercado de óleos comestíveis, por não depen-
der somente de uma fonte de produção. Nesse
contexto, a produção de algas com alto teor de
óleo surge como uma alternativa para a produção
Fonte: A- Revista Globo Rural (2010); B- ANP – Bo-
de biodiesel, devido ao fato de ser uma tecnologia letim mensal do biodiesel (2017).
limpa e contribuir para a redução nas emissões
de gases de efeito estufa, além de possibilitar o
cultivo em áreas não agricultáveis, o que reduz a
competição com outras produções quando com-
parada com as fontes exploradas atualmente.

77/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL


ésteres de ácidos graxos (AG) com glicerol
Link - ou glicerina (ABREU, 2010).

Sobre o potencial de algodão para produção de A reação química é processada na presença


biodiesel, veja ainda o artigo: <http://diade- de um catalisador (geralmente uma base),
campo.com.br/zpublisher/materias/Materia. para produzir o éster alquílico correspon-
asp?id=21674&secao=Pacot>. Acesso em: 18 dente (biodiesel); além resultar glicerina,
nov. 2017. água e sabão (DELATORRE et al, 2011). As
Figuras 3A e 3B mostram os equipamentos
básicos para a transesterificação e uma usi-
3. Processo de produção do bio-
na de biodiesel – respectivamente.
diesel puro e misturas binárias

O biodiesel é um produto obtido através


do processo de transesterificação, no qual
os produtos dessa reação apresentam ca-
racterísticas físicas e químicas similares ao
diesel mineral. Os componentes mais repre-
sentativos nos óleos vegetais são os triacil-
gliceróis (TAG). Quimicamente, os TAG são
78/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL
Figura 3. A - Equipamento para a transesterificação para produção de biodiesel; B - Usina de biodiesel.

Fonte: A <https://sites.google.com/site/scientiaestpotentiaplus/biocombustiveis/producao-de-biodiesel>.
B - <http://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?id=312935&noticia=representantes-de-70-pais-
es-vem-ao-brasil-para-discutir-producao-de-biodiesel>. Acesso em: 18 nov. 2017.

3.1 Transesterificação

Na conversão das gorduras em biodiesel, ocorre a reação química deste com o álcool, formando
ésteres de ácidos graxos que constituem o biodiesel. Quando comparado ao diesel proveniente
do petróleo (fóssil), o biodiesel apresenta menores taxas de emissão de dióxido de carbono, fator
79/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL
que contribui para amenizar o problema do aquecimento global (BARROS, WUST & MEIER, 2008).
A reação química geral da produção de biodiesel pode ser escrita de maneira simplificada como
apresentada pela Figura 4A. O gráfico apresentado pela Figura 4B demonstra qualitativamen-
te a relação entre conversão e tempo de reação nos quais di e monoacilgliceróis são formados
como intermediários durante a transesterificação. Enquanto os triacilgliceróis diminuem, há a
formação de ésteres alquílicos e uma pequena liberação de di e monoacilgliceróis. Os aspectos
quantitativos e a escala da Figura 4B podem variar de reação para reação (KNOTHE et al, 2006).
Figura 4. A - Reação química geral da produção de biodiesel. B - Transesterificação – Conversão X tempo.

Fonte: A- Oliveira, 2008; B- Knothe et al., 2006.

80/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL


A Figura 5 apresenta a reação química de transesterificação por via metílica para produção de
biodiesel.
Figura 5. Reação de transesterificação para produção de biodiesel.

Fonte: <https://sites.google.com/site/scientiaestpotentiaplus/biocombustiveis/producao-de-biodiesel>. Acesso em: 18 nov. 2017.

3.2 Esterificação

Uma das alternativas tecnológicas mais utilizadas para a redução do teor de ácidos graxos livres
é a realização da reação de esterificação dos ácidos graxos livres, utilizando um álcool levando à
formação de ésteres alquímicos de ácidos graxos (biodiesel) e água como uma etapa de pré-tra-
tamento (MOURA, 2010).
81/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL
Segundo Alves (2010) a reação pode ser lenta se realizada em temperatura ambiente, mas com
o uso de aquecimento e de um catalisador o processo pode ocorrer mais rapidamente. O álcool
utilizado deve ser, preferencialmente, de baixo peso molecular, assim, o metanol é o mais usado
devido ao menor custo e facilidade de recuperação no processo.
A Figura 6 mostra a reação de esterificação sob presença de ácido para produção de Biodiesel.
Figura 6. Reação de esterificação para produção de biodiesel.

Fonte: <http://www.crq4.org.br/informativomat_249>. Acesso em: 18 nov. 2017.

82/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL


3.3 Craqueamento térmico de portanto, o aquecimento o único efeito res-
óleos vegetais e gorduras resi- ponsável pela quebra das ligações químicas
duais e o craqueamento catalítico, o qual é carac-
terizado pela presença de catalisadores, po-
O processo de craqueamento ou pirólise de dendo proporcionar um melhor controle dos
triglicerídeos consiste fundamentalmente produtos obtidos, favorecendo determina-
de uma reação de quebra das cadeias car- das rotas reacionais e consequentemente
bônicas dos triésteres de origem animal alterando a composição final dos produtos,
ou vegetal pelo aumento da temperatura permitindo maior seletividade, portanto,
do sistema, resultando em uma mistura de maior rendimento dos produtos desejados
compostos constituída, em sua maioria, por (LHAMAS, 2013). A reação de craqueamen-
hidrocarbonetos lineares de diferentes pe- to ocorre a temperaturas superiores a 350°
sos moleculares (MA & HANNA, 1999). C, na presença ou ausência de catalisado-
res, em diversas etapas distintas e consecu-
No craqueamento de triglicerídeos, dis-
tivas (RAMALHO & SUAREZ, 2012).
tinguem-se dois processos baseados no
mesmo princípio, mas com características
diferentes: o craqueamento térmico, que
ocorre na ausência de catalisadores, sendo,
83/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL
4. Principais catalisadores
Para saber mais
Os catalisadores utilizados são de nature-
Uma alta umidade provoca reação de saponifica-
za química e podem ser ácidos ou básicos.
ção, que consome o catalisador, reduz sua efici-
Catalisadores ácidos comumente utilizados
ência, aumenta a viscosidade, favorece a forma-
incluem ácidos sulfúrico, clorídrico, sulfô-
ção de géis e dificulta a separação do glicerol.
nicos orgânicos e, incluindo aqui, ácidos de
Quando o teor de ácidos graxos é superior a 0,5%,
Lewis, como cloreto de alumínio. A tran-
sesterificação realizada com ácidos como é necessário um aumento na quantidade de ca-
catalisadores é extremamente lenta fren- talisador para compensar a formação de sabões
te à realizada com catalisadores básicos, (MA & HANNA, 1999; FUKUDA et al., 2001).
chegando a 4000 vezes para uma mesma
quantidade de catalisador, mas é indicada
O uso de catalisadores como NaOH e KOH
nos casos em que há grande quantidade de
provocam a produção de água quando es-
umidade e de ácidos graxos livres no óleo.
ses reagem com o álcool. Logo, metóxido de
Catalisadores básicos apresentam proble-
mas quando a umidade e o teor de ácidos sódio e similares são preferidos. Com rela-
graxos livres são altos, acima de 1% e 0,5% ção à razão molar, estudos indicam que a
respectivamente. razão ideal para catalisadores básicos é de

84/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL


seis moles de álcool para um mol de trigli-
cerídeo, ou seja, 100% de excesso quando Link
comparado com a quantidade estequio- Para conhecer mais sobre a produção brasileira
métrica (3:1). A quantidade de catalisador de Biodiesel, apresentamos dois sites: o primeiro
utilizada normalmente não ultrapassa 1% é da Agência Nacional de Petróleo, Gás natural e
da massa de óleo (FUKUDA et al., 2001; MA Biocombustíveis (ANP) que apresenta o anuário
& HANNA, 1999). O tempo de reação va- Estatístico de 2017, na Seção 4, sobre biocom-
ria com o catalisador e com a temperatura. bustíveis; e o site Biodieselbr, que é especializado
Para uma razão molar de 6:1 entre metanol no biocombustível do tema 3. Disponíveis, res-
e óleo e 0,5% de metóxido de sódio, a con- pectivamente, em: <http://www.anp.gov.br/
versão para óleos de soja, coco, amendoim wwwanp/publicacoes/anuario-estatistico/
e girassol atingiu 98% após uma hora de re- 3819-anuario-estatistico-2017>. Acesso em:
ação a 60ºC (CAMARGOS, 2005). 22 nov. 2017; <https://www.biodieselbr.com/>.
Acesso em: 23 nov. 2017.

85/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL


5. Normas ANP e qualidade do início em 2004, em caráter experimental. 
biodiesel Entre 2005 e 2007, a comercialização pas-
sou a ser voluntária, no teor de 2% de mis-
Os primeiros estudos para a criação de uma tura. Em janeiro de 2008, entrou em vigor a
política para o biodiesel no Brasil iniciaram mistura legalmente obrigatória de 2% (B2)
em 2003, com a criação da Comissão Exe- em todo o território nacional. Com o ama-
cutiva Interministerial do Biodiesel (CEIB) e durecimento do mercado brasileiro, esse
do Grupo Gestor (GG) pelo governo federal. percentual foi sucessivamente ampliado
Em dezembro de 2004, o governo federal pelo Conselho Nacional de Política Energé-
lançou o Programa Nacional de Produção e tica (CNPE) até o atual percentual de 7%,
Uso do Biodiesel (PNPB), com o objetivo ini- conforme pode ser observada a evolução
cial de introduzir o biodiesel na matriz ener- do percentual de teor de biodiesel pre-
gética brasileira. Com enfoque na inclusão sente no diesel fóssil no Brasil: 2003 – Fa-
social e no desenvolvimento regional, o cultativo; Jan/2008 - 2%; Jul/2008 - 3%;
principal resultado dessa primeira fase foi a Jul/2009 - 4%; Jan/2010 - 5%; Ago/2014
definição de um arcabouço legal e regula- - 6%; Nov/2014 - 7%. A partir de 2017, há
tório. um cronograma estabelecido pela Lei nº
13.623/2016 para o aumento do teor de
A mistura do biodiesel ao diesel fóssil teve
86/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL
biodiesel em mistura com o diesel fóssil. Até 6. Glicerina (resíduo ou subpro-
março de 2017 - 8%; até março de 2018 - duto) e vantagens/desvantagens
9%; até março de 2019 - 10% (ANP, 2016). do biodiesel

O glicerol é o principal coproduto gerado na


Link produção de biodiesel, sendo que aproxima-
damente 10% do volume total de biodiesel
Sobre os parâmetros de qualidade do Biodiesel a
produzido corresponde ao glicerol (DASARI
Agência Nacional de Petróleo, Gás natural e Bio- et al., 2005). Este coproduto, também cha-
combustíveis (ANP) fornece uma apostila (15p.). mado de glicerina, na forma pura possui
Confira em: <www.anp.gov.br/wwwanp/?- inúmeras aplicações industriais, como, por
dw=63027>. Acesso em: 23 nov. 2017. exemplo, em aditivos para a indústria de
cosméticos, de medicamentos, de alimen-
tos e indústria química em geral (VASCON-
CELOS, 2012).
Outra alternativa viável para o excedente
de glicerina é a exportação, pois em 2014
o Brasil exportou um total de 211 mil tone-
ladas, tendo a China como o maior destino,
com cerca de 80% do total (EPE, 2015).
87/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL
Glossário
AGL: ácidos graxos livres ou ácidos gordos livres, com teor superior a 1% pode causar saponi-
ficação em uma transesterificação (produção de sabão), ou seja, precisa ser inferior a 1,0% ou
precisará passar por esterificação.
Catalisador: É uma substância que altera a velocidade da reação ou diminui a energia de ativa-
ção, mas não é consumido ou participa da reação. A produção de biodiesel no Brasil utiliza cata-
lisadores básicos e homogêneos, que não podem ser reaproveitados. Exemplos (para biodiesel):
KOH e NaOH.
Palma africana/dendê: também conhecido como dendezeiro, coqueiro de dendê, palma, pal-
meira-dendém (Elaeis guineensis), é uma palmeira originária da costa Ocidental da África.

88/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL


?
Questão
para
reflexão

Este tema apresentou como o biodiesel é produzido e


quais as principais matérias primas utilizadas no Brasil
e no mundo. Também foi possível ver que a qualidade do
biodiesel é superior ao petrodiesel. Assim, reflita sobre
a pergunta: Por que não se estabelece a meta de 25% de
biodiesel no diesel?

89/221
Considerações Finais

• Biodiesel tem uma capacidade “detergente”, solta toda a sujeira dos tanques e sistemas de
alimentação habituados a trabalhar com petrodiesel, causando, com isso, entupimentos nos
bicos injetores. O problema não é o biodiesel, mas sim a má qualidade do petrodiesel usado no
país. Então, para utilizar-se uma mistura rica em biodiesel precisa-se, antes do início do uso,
limpar os tanques de combustível e todo o sistema de injeção.
• No Brasil não se deixa de produzir alimentos para se produzir biocombustível.
• A produção do biodiesel é fundamental para o equilíbrio da balança comercial brasileira, pois
não se produz todo o petrodiesel utilizado pelo país. Assim, se fosse atingida a meta da mistu-
ra de biodiesel no petrodiesel de 20%, não se importaria mais diesel. Isso também incentivaria
a produção agrícola e daria segurança ao mercado.
• As microalgas apresentam inúmeras vantagens (produtividade por área usada, teor de óleo,
tempo para início da produção) sobre as culturas tradicionais, mas ainda existem diversas bar-
reiras técnicas e econômicas que precisam ser vencidas para que essa matéria prima ganhe
espaço no cenário internacional de biocombustíveis (AZEREDO, 2012).
• A reação de triacilgliceróis com água pode formar AGL (ácidos graxos livres), porque estas
substâncias também são ésteres, e quando há mais do que 1,0% de AGL na mistura causa sa-
ponificação (sabão), ou seja, não pode haver água nem mais que 0,5% na matéria prima para
que não ocorra saponificação na transesterificação (KNOTHE et al, 2006).
90/221
Referências

ABREU, Y. V. Aspectos econômicos e ambientais do biodiesel. In: Congresso Brasileiro de Ener-


gia, XI, 2010, Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 2010.
ALVES, G. Utilização dos óleos de fritura para a produção de biodiesel. Faculdade de tecnolo-
gia de Araçatuba. Curso de tecnologia em biocombustíveis. Araçatuba, 2010.
ANP. Gás Natural e Biocombustíveis. Boletim mensal do biodiesel. Disponível em: <http://www.
anp.gov.br/wwwanp/publicacoes/boletins-anp/2386-boletim-mensal-do-biodiesel>. Acesso em:
8 dez. 2017.
ANP. Gás Natural e Biocombustíveis. Introdução do biodiesel na matriz energética brasileira.
Disponível em: <http://anp.gov.br/wwwanp/movimentacao-estocagem-e-comercializacao-de-
-gas-natural/transporte-de-gas-natural/acesso-a-gasodutos/723-02-biodiesel-2>. Acesso em 8
dez. 2017.
AZEREDO, V. B. S. Produção de Biodiesel a partir do Cultivo de Microalgas: Estimativa Prelimi-
nar de Custos e Perspectivas para o Brasil Dissertação de Mestrado, 188p. Rio de Janeiro: UFRJ/
COPPE, 2012.

91/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL


BARROS, A. A. C.; WUST, E.; MEIER, H. F. Estudo da viabilidade técnico-científica da produção
de biodiesel a partir de resíduos gordurosos Engenharia Sanitária e Ambiental V.13 – N3 – jul/
set 2008, 255-262. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/esa/v13n3/a03v13n3.pdf>. Acesso em 8
dez. 2017.
CAMARGOS, R. R. da S. AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE DE SE PRODUZIR BIODIESEL ATRAVÉS DA
TRANSESTERIFICAÇÃO DE ÓLEO DE GRÃOS DE CAFÉ DEFEITUOSOS. 2005. 105 f. Dissertação
(Mestre) - Curso de Engenharia Química, Departamento de Engenharia Química, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.
CARVALHO, H. M.; RIBEIRO, A. B. Biodiesel: Vantagens e desvantagens numa comparação com o
diesel convencional. Bolsista de Valor: Revista de divulgação do Projeto Universidade Petro-
bras e IF Fluminense, Rio de Janeiro, v.2, n.1, p. 49–53, 2012.
DASARI, M. A.; KIATSIMKUL, P. P.; SUTTERLIN, W. R.; SUPPES, G.J. Low-pressure hydrogenolysis of
glycerol to propylene glycol. Applied Catalysis A: General, v. 281, n. 1, p. 225-231, 2005.
DELATORRE, A. B.; RODRIGUES, P. M.; AGUIAR, C. de J.; ANDRADE, V. V. V.; PEREZ, V. H. Produção de
biodiesel: considerações sobre as diferentes matérias-primas e rotas tecnológicas de processos.
Biológicas & Saúde, v. 1, n. 1, p. 21-47, 2011.
DEMIRBAS, A. Use of algae as biofuel sources. Energy Conversion And Management. v.51, p.
2738-2749, 2010.

92/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL


EPE. Análise de Conjuntura dos Biocombustíveis, 2014. Empresa de Pesquisa Energética, 2015.
FUKUDA, H.; KOND0, A.; NODA, H. Biodiesel Fuel Production by Transesterification of Oils. Journal
Of Bioscience And Bioengineering, v. 92, n. 5, p.405-416, 2001.
GALADIMA, A.; MURAZA, O. Biodiesel production from algae by using heterogeneous catalysts:
A critical review. Energy, 2014.
KNOTHE, G.; GERPEN, J. V.; KRAHL, J. Manual de biodiesel. São Paulo: Edgar Blücher Ltda., 2006.
340 p.
LHAMAS, D. E. L. Estudo do processo de craqueamento termocatalítico do óleo de palma
(Elaeis guineensis) e do óleo de buriti (Mauritia flexuosa l.) para produção de biocombustível.
2013. 219 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Recursos Naturais) - Universidade Federal do
Pará. Belém, Pará, 2013.
MA, F.; HANNA, M. A. Biodiesel production: a review. Bioresource Technology, v. 70, n. 1, p.1-15,
1999.
MARTINS, L. O. S.; CARNEIRO, R. A. F. O sebo bovino como insumo estratégico da cadeia de bio-
diesel: uma análise crítica. Bioenerigia em revista: diálogos, v. 3, n. 1, p. 32-44, jan./jun. 2013.

93/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL


MENDES, A. P. A.; COSTA, R. C. Mercado brasileiro de biodiesel e perspectivas futuras. Brasí-
lia: BNDES, 2010. BNDES – setorial 31, p. 253-280 Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/
SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set3107.pdf>.
Acesso em: 19 nov. 2017.
MOURA, B. Transesterificação alcalina de óleos vegetais para Produção de biodiesel: ava-
liação técnica e econômica. Universidade federal rural do rio de janeiro. Instituto de tecnolo-
gia Departamento de Engenharia Química Curso de pós-graduação em Engenharia Química. RJ.
2010
PARENTE, E. Biodiesel: uma aventura tecnológica num país engraçado. Fortaleza: Tecbio, 2003.
RAMALHO, H. F; SUAREZ, P. A. Z. A Química dos Óleos e Gorduras e seus Processos de Extração
e Refino. Rev. Virtual Química, 2013, 5 (1), 2-15. Disponível em: <http://sistemas.eel.usp.br/do-
centes/arquivos/1285870/58/QuimicadeOleoseGorduras.Artigo.pdf>. Acesso em: 8 dez. 2017.

ROSSI, Ramos. Produção de Biocombustível alternativo ao óleo diesel através da transesteri-


ficação de óleo de soja usado em frituras. Curitiba - PR, 1999.
VASCONCELOS, Y. Resíduos bem-vindos. Revista Pesquisa FAPESP, ed. 196, junho de 2012. Dis-
ponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/2012/06/14/residuosbem-vindos/>. Acesso em: 19
nov. 2017.

94/221 Unidade 3 • BIOEDIESEL


Assista a suas aulas

Aula 3 - Tema: Biodiesel. Bloco I Aula 3 - Tema: Biodiesel. Bloco II


Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f-
c65557b30c9e120d86ce67ae95b42cb8>. 1d/6ec0966705c23c61c8fd36a0f41bc93a>.

95/221
Questão 1
1. Assinale a alternativa incorreta sobre as vantagens e desvantagens do bio-
diesel sobre o “petrodiesel”:

a) Ausência de enxofre e ciclo hexano na composição.


b) Menos oxigênio na composição, resultando uma combustão incompleta e menos eficiente.
c) É biodegradável, evitando contaminações em caso de acidentes.
d) Alto número de cetano e renovável.
e) Desgasta menos o motor por ser lubrificante.

96/221
Questão 2
2. Sobre a produção de biodiesel, assinale a alternativa correta.

a) A produção de biodiesel pode ser apenas a partir de óleo vegetal – in natura, e/ou sebo ani-
mal adicionando-se um álcool, na presença de catalisador, sob aquecimento e agitação.
b) A produção de biodiesel pode ser a partir de qualquer óleo vegetal – in natura ou usado, ou
sebo animal adicionando-se um álcool, na presença de catalisador e agitação.
c) A produção de biodiesel pode ser a partir de qualquer óleo vegetal – in natura ou usado, e/
ou sebo animal adicionando-se um álcool, na presença de catalisador, sob aquecimento e
agitação.
d) A produção de biodiesel pode ser a partir de qualquer óleo vegetal – in natura ou usado, e
sebo animal adicionando-se metanol, na presença de catalisador, sob aquecimento e agita-
ção.
e) A produção de biodiesel pode ser a partir de qualquer óleo vegetal – in natura ou usado, e
sebo bovino adicionando-se etanol, na presença de catalisador, sob aquecimento e agita-
ção.

97/221
Questão 3
3. Quais as duas principais matérias primas de produção do biodiesel no Bra-
sil e na Europa, respectivamente?

a) Mamona, pinhão manso, óleo de coco; milho e sebo de aves.


b) Soja, sebo animal; canola e girassol.
c) Soja, algodão e óleo usado; soja e milho.
d) Soja, sebo suíno e dendê; girassol e soja.
e) Soja, dendê e óleo usado; sebo suíno e canola.

98/221
Questão 4
4. É incorreto afirmar sobre a glicerina:

a) É um resíduo problemático resultante da produção de biodiesel.


b) É um subproduto com inúmeras opções de utilização.
c) Pode servir para alimento, fonte de energia e como matéria prima para produtos de higiene.
d) A glicerina sai do óleo ou gordura animal na transesterificação.
e) Tem uso na medicina e pode ser produto de exportação.

99/221
Questão 5
5. Com relação ao biodiesel, julgue os itens abaixo.

( ) A ANP é a agência reguladora deste biocombustível.


( ) Os catalisadores mais usados são: NaOH, KOH e o metóxido de sódio.
( ) O biodiesel produz mais NOx que o petrodiesel, mas não tem praticamente particulados e ciclo
hexano.
( ) O biodiesel pode ser produzido por transesterificação, esterificação ou craqueamento térmico.
Agora, assinale a alternativa que identifica a sequência correta.
a) a) F, F, V, V.
b) b) V, V, F, V.
c) c) F, V, F, V.
d) d) F, V, F, F.
e) e) V, V, V, V.

100/221
Gabarito
1. Resposta: B. 3. Resposta: B.

Possui mais oxigênio na molécula, o que No Brasil, a soja e o sebo animal (bovino e
gera uma combustão mais eficiente – com- suíno) são as principais matérias primas. Na
pleta, não emitindo particulados. Europa as principais são canola e girassol.
4. Resposta: A.
2. Resposta: C.
Não é um resíduo problemático, pois é um
A produção de biodiesel pode ser a partir de subproduto com várias possibilidades de
qualquer óleo vegetal – in natura ou usado, uso.
e/ou sebo animal adicionando-se um álcool,
na presença de catalisador, sob aquecimen- 5. Resposta: E.
to e agitação. Pode-se usar como matéria
Todas as afirmativas referem-se adequada-
prima óleos vegetais (in natura e/ou usado)
mente ao biodiesel.
e/ou qualquer sebo animal.

101/221
Unidade 4
BIOMASSA

Objetivos

Apresentaremos as principais fontes e definições de biomassa, e como ela pode ser utilizada
como combustível, fonte de energia renovável e/ou matéria-prima para processos termoquími-
cos.
Para isso, discutiremos aspectos relacionados a:
• Fontes de biomassa – bagaço de cana, palha de cana, restos culturais, galhada de árvores;
• Usos: caldeira, fornos a lenha (pizzaria, padarias e cerâmicas);
• Principais produtos.

102/221
Introdução

Desde o início deste século buscam-se no- fins energéticos. Dentre as fontes vegetais
vas fontes de energia, que diminuam o im- temos a madeira, folhas, cascas, resíduos
pacto ambiental e a dependência de fontes agrícolas, como a casca de arroz, bagaço de
fósseis (petróleo, gás natural e carvão mi- cana-de-açúcar etc., que têm um poder ca-
neral). Para mitigar os impactos ambientais lorifico médio de 15,7 MJ/kg.
é importante usar matérias primas renová-
veis e preferivelmente consideradas como
resíduos. Além da preocupação ambiental, Para saber mais
há uma questão com o suprimento de ener-
A biomassa pode ser considerada um biocombus-
gia para atender a demanda crescente nos
tível sólido, quando se utiliza diretamente para
municípios e os riscos de “apagões”, oca-
obtenção de calor (lenha, bagaço ou carvão vege-
sionados pelas inconstâncias das chuvas e
tal) em substituição de combustíveis fósseis como
consequentes variações da oferta de ener-
GLP, gás natural, carvão mineral, óleos combustí-
gia geradas por hidrelétricas.
veis e outros, in natura.
Para Cortez, Lora e Gómez (2009) biomassa
é uma fonte renovável, que tem origem em
resíduos sólidos urbanos (animais, vege-
tais, industriais e florestais) voltados para
103/221 Unidade 4 • BIOMASSA
A necessidade de redução dos efeitos da ca. Esse elemento faz com que a necessi-
emissão de CO2 na atmosfera conduz as dade de oxigênio externo do material seja
pesquisas a uma maior utilização de bio- menor, o que o difere do petróleo, é menos
massas e resíduos na matriz energética, poluente, porém tem uma menor energia li-
pois o CO2 emitido na oxidação do carbo- berada, reduzindo seu PCS (Poder Calorífico
no contido nas biomassas e seus derivados Superior). A lignina é um polímero tridimen-
são enquadrados no ciclo de absorção do sional com a finalidade de manter as fibras
dióxido de carbono na fotossíntese do cres- unidas. Matérias menores e moles tendem
cimento de mais biomassa, já o dióxido de a conter mais celulose, entre 45-50%, com-
carbono da oxidação de derivados do petró- plementado com 25–35% de hemicelulose e
leo, não entra nesse balanço, aumentando 25–35% de lignina (RENDEIRO et al., 2008).
sua concentração na atmosfera (SÁNCHEZ A biomassa voltada para fins energéticos
et al, 2010). abrange a utilização de vários resíduos para
a geração de fontes alternativas de energia
1. FONTES DE BIOMASSA (CORTEZ, LORA & AYARZA, 2008).
A biomassa é um hidrocarboneto com áto- De acordo com Brito (2007), o uso da ma-
mos de oxigênio na sua composição quími- deira para energia engloba efeitos de dimi-
nuição da dependência energética externa e
104/221 Unidade 4 • BIOMASSA
uma maior segurança quanto ao suprimento energia não é recente, mas a ideia de desti-
da demanda, algo que muitos dos combus- nação dos resíduos da poda, capina e serra-
tíveis hoje empregados não proporcionam. gem urbana para geração de energia é algo
Além do mais, graças ao seu alto potencial incomum (MAZZONETTO et al., 2012).
renovável e produtivo, especialmente no De acordo com Sánchez et al. (2010), a ca-
caso brasileiro, a madeira representa uma racterização de biomassas deve ser basea-
matriz energética ambientalmente mais da em seu uso e apresentar elementos que
limpa e socialmente mais justa, pois é uma auxiliem na compreensão das propriedades
das fontes de energia que permite uma das determinantes, inerentes a cada biomassa.
maiores taxas de geração de emprego por O emprego da biomassa com fins energéti-
recurso monetário investido. cos requer um pleno conhecimento das pro-
A madeira sempre foi uma grande fonte de priedades físico-químicas do combustível.
energia para a humanidade e continua sen-
do, como lenha ou carvão. É usada ampla-
mente para cocção de alimentos (churras-
carias, pizzarias, padarias, fogões à lenha),
em secadores industriais, caldeiras etc. A
proposta de usar madeira como fonte de
105/221 Unidade 4 • BIOMASSA
Em 2010, o Governo Federal do Brasil, atra-
Link vés da Lei Nº 12.305, de 2 de agosto de
2010, instituiu a Política Nacional de Resí-
A caracterização da biomassa a fim de avaliar o po- duos Sólidos que visa normatizar a destina-
tencial energético de resíduos florestais, resíduos ção de resíduos sólidos e possibilita o em-
de poda e capina urbana tem sido amplamente prego dos mesmos para fins energéticos.
investigada e divulgada. Os autores Mazzonetto Perante as diretrizes estabelecidas, as bio-
et al. (2012), Souza, Alencar e Mazzonetto (2016) massas aqui apresentadas são classificadas
e Vissotto et al. (2012) fizeram caracterizações como Resíduo Classe II-A, que são materiais
de várias biomassas disponíveis e discutem os não inertes e podem ter propriedades de
potenciais energéticos. Disponível em: <http:// biodegradabilidade, combustibilidade ou
www.abcm.org.br/anais/conem/2012/PDF/ solubilidade em água.
CONEM2012-0859.PDF>; <http://revistas.fca.
unesp.br/index.php/energia/article/view/2189/
pdf>; <http://www.abcm.org.br/anais/co-
nem/2012/PDF/CONEM2012-0868.PDF>.
Acesso em: 25 nov. 2017.

106/221 Unidade 4 • BIOMASSA


Para saber mais
Para Meira (2010), a prática da poda foi trazida ao Brasil pelos imigrantes europeus, exclusivamente para as
árvores frutíferas (pereiras, macieiras, pessegueiros, etc.), visando a uma maior e melhor produção de frutos.
A poda é realizada basicamente com quatro finalidades no meio urbano. Formação: os ramos laterais são re-
tirados até uma altura recomendada de 1,80 m, visando não prejudicar o trânsito de pedestres e veículos sob
a copa. Esta poda, normalmente, no local definitivo, quando a muda plantada é menor do que a recomendada;
Limpeza: eliminam-se os ramos velhos, em excesso, mortos, lascados, doentes ou praguejados; Contenção:
é realizada com o objetivo de adequar a copa da árvore ao espaço físico disponível, em função de um plantio
inadequado. A recomendação geral é manter um mínimo de 30% da copa, conservando-se, sempre que pos-
sível, o formato original; Emergencial: é feita para remover as partes da árvore que ameacem a segurança da
população, das edificações e outras instalações, como as redes elétricas e telefônicas aéreas.

2. Usos: caldeira, fornos e lenha (pizzarias, padarias e cerâmicas)


De acordo com a ANEEL, quando se considera o ponto de vista energético, para empreendimen-
tos do setor elétrico, biomassa é todo recurso renovável oriundo de matéria orgânica (de origem
animal ou vegetal) que pode ser utilizada na produção de energia. Assim como a energia hidráu-
lica e outras fontes renováveis, a biomassa é uma forma indireta de energia solar. A energia solar
107/221 Unidade 4 • BIOMASSA
é convertida em energia química, através da
fotossíntese, base dos processos biológicos Para saber mais
de todos os seres vivos (ANEEL, 2017). São Paulo segue como principal produtor de ener-
As usinas movidas à biomassa produziram gia a partir da fonte no país. As usinas paulistas
15% a mais de energia no primeiro semestre geraram 841 MW médios no primeiro semestre
de 2015 em relação ao mesmo período do de 2015. Na segunda posição aparece o Mato
ano anterior. O montante médio produzido Grosso do Sul com 272 MW médios, seguido por
no primeiro semestre de 2015 (1.860 MW) Goiás (208 MW médios) e Minas Gerais (182 MW
foi 239 MW médios superior ao registrado médios) (CCEE, 2016).
no mesmo período de 2014, quando foram
gerados 1.621 MW médios. A Tabela 1 mostra os estados que mais utili-
zam biomassa para geração de energia.

108/221 Unidade 4 • BIOMASSA


Tabela 1. Maiores produtores de biomassa para geração de energia no Brasil.

MW médio gerado em
Estado
2015
São Paulo 840,93
Mato Grosso do
271,56
Sul
Goiás 207,69
Minas Gerais 181,57
Paraná 85,76
Bahia 60,80
Maranhão 60,66
Alagoas 30,58
Pernambuco 28,79
Mato Grosso 22,14
Fonte: CCEE (2016)

109/221 Unidade 4 • BIOMASSA


3. Principais produtos
Link Os principais produtos da biomassa podem
A biomassa tem papel vital na geração de ener- ser: carvão vegetal (biochar), bioóleo, gás
gia elétrica nas regiões Centro Oeste e Sudeste,
de síntese (syngas) ou gás produto, vapor,
pois quando param as chuvas de verão inicia-se a
bioeletricidade, briquetes e pelletes. Alguns
safra do setor sucroenergético e as usinas come-
çam a exportar energia elétrica excedente de suas
são adequações da biomassa num produto
termoelétricas movidas a bagaço de cana e pa- mais durável, fácil de transportar e armaze-
lha (algumas). O site NOVACANA apresenta dois nar (biochar/carvão vegetal, pellets, brique-
artigos sobre cogeração de energia pelo bagaço te) ou outros são conversões térmicas para
da cana: A cana-de-açúcar como fonte de energia outro produto bioóleo, syngas ou gás pro-
elétrica e Cogeração: como funciona a produção de duto (CO + H2).
energia elétrica numa usina sucroalcooleira. Dis-
ponível em: <https://www.novacana.com/es-
O briquete originou-se na Indústria Naval
tudos/a-cana-de-acucar-como-fonte-de- dos Estados Unidos em 1848, porém não
-energia-eletrica-241013/> e <https://www. teve grande visibilidade em função da fal-
novacana.com/usina/cogeracao-como-funcio- ta de interesse provocada pela grande dis-
na-producao-energia-eletrica/>. Acesso em: 25 ponibilidade de lenha e de petróleo e da
nov. 2017. pouca preocupação ambiental na época. O
110/221 Unidade 4 • BIOMASSA
briquete é um biocombustível sólido e com-
pacto que substitui com grande eficiência o Link
carvão vegetal, o gás natural e a lenha. Ele é O briquete e o pellet são formas mais adequadas
feito a partir do reaproveitamento de resí- para armazenar e transportar biomassas residu-
duos orgânicos, tais como: bagaço de cana, ais, pois são secas e compactadas, aumentando
casca de arroz, casca de algodão, casca de a longevidade/duração, facilitando o transpor-
café, casca de coco, resíduos de cascas de te e armazenamento. Os artigos O briquete como
árvores, palha de milho, sabugo, madeira de combustível alternativo para a produção de energia
lei, caroço de açaí, serragem, entre outros trata do assunto do briquete com biocombustível
(DANTAS, SANTOS e SOUZA; 2012). sólido. Disponível em: <http://www.ibeas.org.
br/congresso/Trabalhos2012/X-006.pdf>.
Acesso em: 25 nov. 2017.

111/221 Unidade 4 • BIOMASSA


Glossário
Biomassa: A biomassa é uma das fontes para produção de energia com maior potencial de cres-
cimento nos próximos anos. Tanto no mercado internacional quanto no interno, ela é conside-
rada uma das principais alternativas para a diversificação da matriz energética e a consequente
redução da dependência dos combustíveis fósseis. (Atlas ANEEL, s.d.)
Briquete: Resultado da briquetagem, técnica mecânica que utiliza biomassa para transformá-
-la em um combustível sólido denso, com baixo teor de umidade, com alta densidade energéti-
ca, possuindo forma regular/padrão, facilitando assim seu transporte e armazenamento e ain-
da ajudando na padronização dos produtos confeccionados de indústrias que utilizam caldeiras
(QUIRINO et al., 2012). Umidade entre 7 e 12%. Os briquetes têm, geralmente, entre 4 e 10 cm
de diâmetro e entre 4 e 40 cm de comprimento.
Biochar: ou carvão vegetal, é produzido pela pirólise, utilizado como corretivo de solo ou substi-
tui carvão mineral e/ou lenha.
Bioóleo: resultado da pirólise rápida, líquido escuro a base de alcatrão (cadeias longas de hi-
drocarbonetos), podendo ser utilizado como combustível (quando quente) em motores a diesel;
quando esfria “parece um piche”.
Pellet: A diferença básica entre briquetes e pellets é a aparência e o processo de produção, de-
terminados pelo fim a que se destinam os dois tipos de combustível. O pellet tem geralmente
entre 6 e 16 mm de diâmetro e entre 25 e 30 mm de comprimento. Por oferecerem uma queima
rápida e uniforme, são usados para queima em abatedouros, cerâmicas, metalúrgicas, panifica-
doras, pizzarias e residências (GENTIL, 2008). Apresenta umidade entre 7 e 12%.
112/221 Unidade 4 • BIOMASSA
?
Questão
para
reflexão

O Brasil é o maior produtor mundial de biomassa, pos-


sui enormes florestas, domina tecnologias de exploração
sustentável e processos térmicos. Por que a energia dos
pequenos municípios da região amazônica é gerada por
motogeradores a diesel (petrodiesel) e se depende tanto
de termoelétricas a gás natural (carbono fóssil)?

113/221
Considerações Finais
• É fundamental caracterizar o potencial energético da biomassa. As princi-
pais analíses são: análise Imediata (voláteis, carbono fixo e cinzas), análise
elementar (C, H, O, N), umidade, granulometria (apesar de serem variáveis),
PCI e PCS (poder calorífico inferior e superior).
• Há um grande potencial em diversos resíduos disponíveis, como poda e ca-
pina urbana que podem ter destinações energéticas.
• Os dois setores que mais utilizam energia renovável e ainda “exportam” seu
excedente são o setor sucroenergético (sucroalcooleiro) e papel e celulose.
• O biochar – carvão produzido pela pirólise convencional de biomassas, tem
a capacidade de atuar como corretivo de solo, além de melhorar a retenção
de água e qualidades do solo.

114/221
Referências

ANEEL. Agência Nacional de Energia Elétrica. Disponível em: <www.aneel.gov.br>. Acesso em: 3
dez. 2017.
BEN. Balanço Energético Nacional - Ministério de Minas e Energia. Departamento Nacional de
desenvolvimento. Ano base: 2015. Brasília, 2016.
BRASIL. Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 3 dez. 2017.

CCEE. Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Disponível em: <https://www.ccee.


org.br/portal/faces/pages_publico/noticias-opiniao/noticias/noticialeitura?contentid=C-
CEE_357762&_afrLoop=418355316079295#!%40%40%3Fcontentid%3DCCEE_357762%26_afr-
Loop%3D418355316079295%26_adf.ctrl-state%3Dpr3uyp0p6_4>. Acesso em: 3 dez. 2017.
CORTEZ, L. A. B.; LORA, E. S.; AYARZA, J. A. C. Biomassa para Energia. Série Sistemas Energéticos.
Cap. 1, Campinas: Editora da Unicamp, 2008. p. 15-27.
CORTEZ, L. A. B.; LORA E. E. S.; GÓMEZ, E. O. (org.). Biomassa Para Energia. Campinas, SP: Editora
da UNICAMP, 2008.

115/221 Unidade 4 • BIOMASSA


DANTAS, A. P.; SANTOS, R. R. dos; SOUZA, S. C. de O briquete como combustível alternativo para a
produção de energia. in III Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental - Goiânia/GO. Disponível
em: <http://www.ibeas.org.br/congresso/Trabalhos2012/X-006.pdf. Acesso em: 5 dez. 2017.
FARIAS, F. O. M. Caracterização de biomassas brasileiras para fins de aproveitamento energé-
tico. Dissertação de Mestrado - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia
Química - Campinas, SP, 2012.
GENTIL, L. V. B. Tecnologia e economia do briquete de madeira. 2008. 196 f. Tese (Doutorado
em Engenharia Florestal) - Departamento de Engenharia Florestal da Faculdade de Tecnologia
da Universidade de Brasília, Distrito Federal, 2008.
MAZZONETTO, A. W; VISSOTTO, J. P; NEVES, R. C; SÁNCHEZ, E. M. S; SÁNCHEZ, C. C. Caracteriza-
ção de resíduos de poda, capina e serragem urbana para geração de energia. CONEM, Con-
gresso Nacional de Engenharia Mecânica. São Luís, 2012.
MEIRA, A. M. Gestão de resíduos da arborização urbana. PhD, thesis, Escola Superior de Agri-
cultura “Luiz de Queiroz”, ESALQ, Universidade de São Paulo – USP, Piracicaba, Brazil, 2010, 178p.

116/221 Unidade 4 • BIOMASSA


QUIRINO, W. F.; PINHA, I. V. O.; MOREIRA, A. C. O.; DE SOUZA, F.; FILHO, M. T. Densiometria de raio
X na análise da qualidade de briquetes de resíduos de madeira. Scientia Florestalis, V. 40, n. 96,
p. 525-536.
RENDEIRO, G; NOGUEIRA, M. F. M; BRASIL, A. C. M; CRUZ, D. O. A; GUERRA, D. R. S; MACÊDO, E. M;
ICHIHARA, J. A. Combustão e Gaseificação de biomassa sólida. Soluções energéticas para a
Amazônia. Ministério de Minas e Energia. Brasília, 2008.
SANCHEZ, C. G. org. Tecnologia da gaseificação da biomassa. Campinas, SP: Editora Átomo,
2010, 432 p.
TOLMASQUIM, M. T (Org.). Fontes Renováveis de Energia no Brasil. Rio de janeiro: CINERGIA,
2003, 515 p.
TOLMASQUIM, M. T. Estudos avançados: Perspectivas e planejamento do setor energético no
Brasil. São Paulo. vol. 26 no. 74, 2012.
VISSOTTO, J. P. Cogaseificação de serragem de pinus e lodo de esgoto em leito fluidizado Dis-
sertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Mecânica
– Campinas, SP, 2013.

117/221 Unidade 4 • BIOMASSA


VISSOTTO, J. P.; MAZZONETTO, A. W.; NEVES, R. C.; SÁNCHEZ, E. M. S.; SÁNCHEZ, C. G. Caracteri-
zação de Pinus, Eucaliptus, Casca de Eucaliptus e Resíduos Florestais e de Destoca para fins ener-
géticos. CONEM, Congresso Nacional de Engenharia Mecânica, São Luís, 2012.

118/221 Unidade 4 • BIOMASSA


Assista a suas aulas

Aula 4 - Tema: Biomassa. Bloco I Aula 4 - Tema: Biomassa. Bloco II


Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
d239ee89de3847d3eb5b631bb171c8b3>. e937ce8b9e20b4d666b32b13cea261b7>.

119/221
Questão 1
1. Quais as principais biomassas usadas no Brasil?

a) Bagaço de cana, madeira, grama, carvão.


b) Bagaço de cana, madeira, palhiço, casca de laranja.
c) Bagaço de cana, madeira, palhiço, GLP, casca de castanha.
d) Bagaço de cana, madeira, palha de cana, restos de culturas agrícolas.
e) Bagaço de cana, madeira, palha de cana, sobras do CEASAS/CEAGESP.

120/221
Questão 2
2. Quais os principais usos para a biomassa?

a) Geração de calor, vapor e bioeletricidade.


b) Lenha, briquete, pellets.
c) Bioóleo, biochar/ carvão vegetal, syngas.
d) Combustível sólido para fornos de padarias, pizzarias e cerâmicas.
e) Todas as alternativas acima estão corretas.

121/221
Questão 3
3. Para conservar a biomassa, facilitar o armazenamento e transporte po-
demos transformá-la em:

a) Biochar, briquete e pellet.


b) Briquete e pellet.
c) Lenha, syngas.
d) Syngas, fardo, lenha.
e) Fardo, bioóleo, syngas.

122/221
Questão 4
4. Quais as grandes vantagens em usar biomassa como combustível reno-
vável?

a) Altas emissões de enxofre e particulados.


b) Alto índice de ciclohexano e facilidade de operação in natura.
c) Facilidade de transporte e armazenamento in natura.
d) O carbono (CO2) liberado nos processos térmicos já fazem parte do ciclo do carbono atmos-
férico não aumentando o efeito estufa e a não emissão de enxofre.
e) Todas as alternativas acima apresentam vantagens no uso de biomassa como combustível
renovável.

123/221
Questão 5
5. Os processos mais utilizados no Brasil para o aproveitamento da bio-
massa são:

a) Compostagem, gaseificação convencional e a plasma.


b) Compostagem, pirólise ultrarrápida e a plasma.
c) Combustão e carbonização.
d) Pirólise rápida e gaseificação.
e) Compostagem, gaseificação e carbonização.

124/221
Gabarito
1. Resposta: D. 4. Resposta: D.

O Bagaço de cana, a madeira, a palha de O carbono (CO2) liberado nos processos tér-
cana e os restos de culturas agrícolas já são micos já faz parte do ciclo do carbono at-
utilizados em caldeira para geração de va- mosférico não aumentando o efeito estufa
por e/ou bioeletriciade. e a não emissão de enxofre.
5. Resposta: C.
2. Resposta: E.
A maior parte da biomassa é queimada em
Todas as alternativas estão corretas. A bio- caldeiras (combustão) ou convertida em
massa pode ter todos os usos apresentados carvão para posterior combustão.
nas alternativas da segunda questão.

3. Resposta: B.

O que facilita o armazenamento e transpor-


te é a padronização dada pela briquetagem
e pelletização. A conservação é dada pela
baixa umidade dos briquetes e pellets.
125/221
Unidade 5
RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo”

Objetivos

Apresentaremos um resíduo renovável • Segregação e reciclagem – vidro, me-


abundante em todo o país, que corresponde tais e polímeros;
a um problema ambiental, sanitário e social, • Geração de energia – Biogás e usinas
mas, se utilizado adequadamente, pode ser de RSU;
fonte de energia, matéria prima (insumos -
reciclagem) e adubos.
Assim, trataremos os seguintes assun-
tos:
• Tipos de resíduos – domiciliar, sólido
urbano, industrial e de serviço de saú-
de;

126/221
Introdução

A ABNT (2004a) define o lixo como os “res- (Resíduo Sólido Urbano - RSU) vai parar em
tos das atividades humanas, considerados aterros, onde sua decomposição pode gerar
pelos geradores como: inúteis, indesejáveis gases de alta periculosidade ao meio am-
ou descartáveis, podendo se apresentar no biente, como é o caso do metano, conside-
estado sólido, semissólido ou líquido, desde rado 21 vezes pior que o dióxido de carbono
que não seja passível de tratamento con- para o efeito estufa (MAZZONETTO et al.,
vencional”. 2016).
O Brasil teve um aumento da geração de re- O item XI do artigo 3 da lei n° 12.305/2010
síduo muito maior do que o crescimento po- menciona o “conjunto de ações voltadas
pulacional, sendo que entre os anos 2003 e para a busca de soluções para os resíduos
2014, a população cresceu 6% enquanto a sólidos, de forma a considerar as dimensões
produção de resíduos aumentou 29% (LE- políticas, econômicas, ambientais, culturais
NHARO, 2015). A gestão de resíduos sólidos e sociais, com controle social e sob a pre-
urbanos é um problema que muitos países missa do desenvolvimento sustentável”.
têm enfrentado, mas alguns países proces- Dentre vários resíduos sólidos gerados pe-
sam e/ou tratam os resíduos; no Brasil as las empresas em seus processos produtivos
destinações mais comuns são aterros sa- está o lodo de esgoto, que é oriundo do pro-
nitários e lixões. Grande parte desse “lixo” cesso de tratamento de esgoto ou efluen-
127/221 Unidade 5 • RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo”
tes dos processos industriais – comuns nas dos resíduos. Nele deve constar a origem do
indústrias de papel e celulose, bebidas, ETE resíduo, descrição do processo de segrega-
(estações de tratamento de esgoto) e afins. ção e dos critérios adotados na escolha de
parâmetros analíticos (ABNT, 2004a).
1. Tipos de resíduos

De acordo com a NBR 10004, a classificação


Para saber mais
Os resíduos de poda urbana são classificados pela
de resíduos envolve: a identificação crite- NBR 10.004 (2004) como Resíduos Sólidos Urba-
riosa das suas características, segundo as nos – RSU, apresentam potencial energético e po-
matérias-primas, os insumos e o processo dem ser usados para a geração de energia. Esse
ou atividade que lhes deu origem; e a com- potencial não está sendo aproveitado, conside-
paração destes com a listagem de resíduos rando que são descartados em aterros, lixões e
e substâncias que podem causar impacto à utilizados para compostagem.
saúde e ao meio ambiente, para que pos-
sam ser gerenciados adequadamente. Um
laudo de classificação pode ser preparado
exclusivamente com base na identificação
do processo produtivo e no enquadramento

128/221 Unidade 5 • RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo”


Segundo Vilhena (2000) os resíduos sólidos sidencial, cuja composição é influenciada
podem ser classificados de quatro formas: por fatores como localização geográfica e
1. Por sua natureza, como seco ou úmi- condições socioeconômicas. Nesse tipo de
do. resíduo podem ser encontrados restos de
alimentos, resíduos sanitários, papel e pa-
2. Pela sua composição química, como
pelão, plástico, vidro, medicamentos ven-
matéria orgânica ou inorgânica.
cidos, removedor de manchas, entre outros
3. Pelos riscos potenciais ao meio am- (BRASIL, 2010).
biente, como perigosos e não perigo-
sos. 1.2 Resíduo sólido urbano (RSU)
4. Pela sua origem, como urbanos, de
serviços de saúde, portos, aeroportos, Para Meira (2010), a maioria dos municípios
agrícolas e industriais. brasileiros não tem, em seus planos urba-
nos, um sistema adequado de gerencia-
1.1 Resíduo domiciliar mento dos resíduos gerados pelas práticas
de silviculturas aplicadas às árvores plan-
É gerado diariamente em casas, apartamen- tadas. Não há estimativa da geração diária
tos, condomínios ou qualquer edificação re- de resíduos de poda urbana para os muni-

129/221 Unidade 5 • RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo”


cípios do Brasil, mas se sabe que a maioria
deles é destinada a terrenos baldios, lixões Para saber mais
ou utilizados como lenha. Em alguns casos, As cidades brasileiras guardam um tesouro pou-
eles são encaminhados para os serviços de co explorado em suas ruas, avenidas e parques:
compostagem. as árvores. Estima-se que só na capital paulista
No entanto, essas são ações isoladas e de- sejam recolhidas mais de quatro mil toneladas de
sarticuladas, nem sempre suficientes para resíduos de podas de árvores por mês. Aprovada
dar uma destinação adequada a todos os em 2008, uma lei municipal ainda não regula-
resíduos da arborização. Além disso, não há mentada começa a fazer com que as subprefeitu-
investimentos na infraestrutura e na valo- ras tomem atitudes para reutilizar esses resíduos,
rização desses resíduos, e nem mesmo um até então enviados para aterros sanitários (NAN-
modelo logístico para sua coleta, processa- NI, 2010).
mento e distribuição dos produtos.

130/221 Unidade 5 • RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo”


dados caso a caso.
Link Uma empresa aplicou princípios de gestão
Para conhecer sobre o potencial de utilização do para reduzir o desperdício e investigou as
RSU, recomendamos a leitura do artigo Destina- possibilidades de geração de energia a par-
ção sustentável do resíduo da poda de árvores urba- tir de resíduos sólidos gerados pela mesma,
nas, que apresenta a importância da arborização afinal, gasta-se energia para transportar e
nos municípios e opções para a poda das árvores. dispor os resíduos sólidos, mas, ao invés de
Disponível em: <http://copec.eu/congresses/ ser lançado em um aterro, poder-se-ia ex-
shewc2015/proc/works/30.pdf>. Acesso em: plorar o potencial energético dos resíduos.
26 nov. 2017.

1.3 Resíduo industrial

De acordo com a NBR 10.004 da ABNT, são


os resíduos gerados pelas atividades indus-
triais, muito variados e com características
diversificadas, pois estas dependem do tipo
de produto manufaturado. Devem ser estu-
131/221 Unidade 5 • RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo”
1.4 Resíduo de serviço de saúde
Para saber mais O termo “resíduo hospitalar” foi substituí-
Fatores como: falta de terrenos adequados próxi-
mos a grandes cidades; alto custo da eletricidade;
do pela terminologia padronizada: Resíduos
a nova regulação do mercado de energia e a nova dos Serviços de Saúde (RSS). Dessa maneira,
Política Nacional de Resíduo Sólido favoreceram a englobam-se os resíduos produzidos em to-
investigação de sistemas com tratamento térmi- dos os estabelecimentos que prestam servi-
co e geração de energia obtida dos resíduos sóli- ços de saúde, como laboratórios, clínicas de
dos. veterinária, centro de zoonoses, centros de
pesquisa, entre outros (OLIVEIRA, 2002).
Link 2. SEGREGAÇÃO E RECICLAGEM
O artigo Potencial energético do resíduo da cons- – VIDRO, METAIS E POLÍMEROS
trução civil visando construções sustentáveis e
envolvimento dos alunos, de Mazzonetto et al.
(2016b) mostra o potencial energético de uma Em um de seus artigos da Lei nº 12.305/10,
construtora. Disponível em: <http://www. a Política Nacional de Resíduos Sólidos
panpbl.org/site/evento/wp-content/uplo- (PNRS) regulamenta que:
ads/2016/10/6146307.pdf>. Acesso em: 5 dez.
2017.

132/221 Unidade 5 • RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo”


Art. 21. Os resíduos sólidos deverão ser reaproveitados em produtos na forma
de novos insumos, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, cabendo: a) ado-
tar tecnologias de modo a absorver ou reaproveitar os resíduos sólidos reversos
oriundos dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.

Resíduos como vidros e metais devem ser reciclados. Polímeros podem ser destinados à produ-
ção de energia ou reciclados. Papelão, papel e madeira apenas se tiverem coleta seletiva, em
caso contrário deverão ser destinados à geração de energia.

3. GERAÇÃO DE ENERGIA – BIOGÁS E USINAS DE RSU

Alguns autores estimaram o potencial do RSU submetidos a diferentes processos térmicos, assim
tratam o resíduo, geram energia e eliminam riscos de proliferação de contaminantes. O resíduo
do processo são pequenas frações de biochar e cinzas, que somados podem ser abaixo de 15%
da massa processada – dependendo da composição. Não havendo metais pesados no RSU as
cinzas podem ser usadas como adubo. A Tabela 1 apresenta os valores obtidos em cada processo
térmico e suas respectivas fontes bibliográficas.
133/221 Unidade 5 • RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo”
Tabela 1. Conversões de RSU em energia elétrica para a rede.

Produção de energia
Tipo de Processo Térmico Referência Unidades
líquida para a rede
Incineração EPA (2002) kWh/ ton
523,0
RSU
Incineração Tolmasquim (2003) kWh/ ton
769,2
RSU
Queima da massa/ Young (2010) 493 kWh / ton
combustão/ Incineração RSU
Pirólise Young (2010) 518 kWh / ton
RSU
Pirólise/ Gaseificação Young (2010) 621 kWh / ton
RSU
Gaseificação Convencional Young (2010) 621 kWh / ton
RSU
Gaseificação com Arco de Young (2010) 740 kWh / ton
Plasma RSU
Fonte: EPA (2002), Tolmasquim (2003) e Young (2010).

134/221 Unidade 5 • RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo”


Para gerar energia por processos térmicos apenas os resíduos orgânicos e polímeros podem ser
usados para incineração/combustão ou gaseificação. Vidros e metais devem ser reciclados, po-
límeros podem ser reciclados ou convertidos em energia. No caso de pneus, podem-se usar pro-
cessos de pirólise para recuperar a malha de aço e o “negro de fumo” (insumo para produção de
novos pneus) além de produzir bioóleo e/ou biochar.
A Tabela 2 resume algumas plantas e suas capacidades de processamento e geração de energia.
Tabela 2. Exemplos de plantas de tratamento de RSU por incineração com recuperação de energia.

Capacidade de Produção de energia


Localização
tratamento (t/dia) bruta (MW)
Tsurumi, Japão 600 12
Tomida, Nagoya, Japão 450 6
Dickerson, Maryland, EUA 1.800 63
Alexandria, Virginia, EUA 975 22
Isvag, Antuérpia, Bélgica 440 14
Savannah, EUA 690 12
Izmit, Turquia 96 4
UIOM Emmenspitz, Suíça 720 10
Wells, Áustria 190 7
Fonte: Adaptado de Leme (2010).

135/221 Unidade 5 • RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo”


vel, redução dos teores de Alumínio (Al) tro-
Para saber mais cável e melhoria substancial da capacidade
de agregação das partículas do solo. Estas
O Japão, a Alemanha, a China, os Estados Unidos
alterações levam a um aumento da fertili-
e a Suécia, entre outros, têm convertido seus resí-
dade do solo, conforme informações dispo-
duos em energia, os processos mais usados são a
nibilizadas por Santos et al. (1995).
gaseificação e a incineração, após o resíduo pas-
sar por segregação (separação) do material que O carvão vegetal derivado da carbonização
pode ser reciclado e da parte orgânica. sob ausência total ou parcial de oxigênio
(pirólise), principalmente de materiais lig-
nocelulósicos, é composto de unidades po-
4. POSSIBILIDADES – CINZAS E liaromáticas condensadas, com diferentes
BIOCHAR tamanhos e nível organizacional (KRAMER
et al., 2004). Devido à recalcitrância, sua in-
Segundo o Centro da Biomassa para a corporação ao solo é um importante meca-
Energia, a aplicação de cinzas de biomassa nismo de sequestro de carbono (GLASER et
altera as propriedades físico-químicas do al., 2001; MASIELLO, 2004).
solo, pois ocorre uma elevação dos níveis de
pH, Cálcio (Ca) trocável, Fósforo (P) extraí-
136/221 Unidade 5 • RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo”
Link
Há vários trabalhos e pesquisas para um apro-
veitamento mais eficiente do lodo de esgoto.
Uma das aplicações que já se tornaram realida-
de pode ser vista na matéria de jornal Lodo de es-
goto será usado para produzir energia. Disponível
em: <http://sao-paulo.estadao.com.br/noti-
cias/geral,lodo-e-esgoto-serao-usados-pa-
ra-produzir-energia,10000065602>. Acesso
em: 26 nov. 2017.

137/221 Unidade 5 • RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo”


Glossário
RSU: resíduo sólido urbano, ou seja, resíduo domiciliar mais varrição das ruas, capina urbana.
RSS: resíduo do serviço de saúde, oriundo de hospitais, consultórios médicos e odontológicos,
farmácias, clínicas médicas e veterinárias.
PNRS: Política Nacional de Resíduos Sólidos.

138/221 Unidade 5 • RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo”


?
Questão
para
reflexão

Países como EUA, Suécia, China, Japão, Áus-


tria, Alemanha têm explorado o potencial
energético do RSU. Havendo a necessida-
de de diversificar a matriz energética e um
grande potencial no Brasil, o que falta para o
Brasil explorar o potencial energético do RSU
que se produz?

139/221
Considerações Finais

• A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) requer soluções pela escassez de áreas
para aterros sanitários, ao mesmo tempo incentiva que os geradores do resíduo deem
uma destinação que não dependa de aterros sanitários.
• Vários países têm explorado o potencial energético do RSU, gerando energia para os mu-
nicípios que geram o resíduo, dispensando a necessidade de grandes aterros. Os pro-
cessos oferecem tratamento sanitário aos resíduos, uma vez que as altas temperaturas
inibem a proliferação de enfermidades ou contaminantes – inclusive para resíduos do
serviço de saúde.
• Para muitos municípios, encontrar locais apropriados para implantação de novos ater-
ros tem sido cada vez mais difícil, além da distância aumentar junto com o crescimento
das cidades.
• Há um grande potencial em cada cidade brasileira. Uma boa gestão de resíduos e dos
parques e áreas verdes poderia gerar energia para o próprio município.

140/221
Referências

ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis Etanol. Disponível em: <http://www.
anp.gov.br/wwwanp/biocombustiveis/etanol>. Acesso em: 2 nov. 2017.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 10004: Resíduos sólidos – Clas-
sificação. Rio de Janeiro, 2004. 71 p.
BRASIL. Lei no 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sóli-
dos; altera a Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário da Repú-
blica Federativa do Brasil, 3 de agosto de 2010
CHRISTENSEN, T. H. et al. Biogeochemistry of landfill leachate plumes. Applied Geochemistry.
Elsevier Science Ltd, 16, p. 659-718, 2001.
EPA, U.S Environmental Protection Agency – Solid Waste Management and Green House Gases
– A Life-Cicle Assessment of Emissions and Sinks. US. EPA. 2002.
GLASER, B.; HAUMAEIR, L.; GUCCENBERGER, G.; ZECH, W. The “Terra Preta” phenomenon: a
model for sustainable agriculture in the humid tropics. Naturwissnechaften, 88: 37–41, 2001.
HANSON, N.W. Part 1. Standardized methods of Analysis. In: Official, standardized and recom-
mended methods of analysis. 2. ed. London: Society for Analytical Chemistry, 1973. p. 323-327,
383-389.

141/221 Unidade 5 • RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo”


HENRIQUES, R. M. Aproveitamento energético dos resíduos sólidos urbanos: uma abordagem
tecnológica. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Rio de
Janeiro, 2004, 190 p. Disponível em: http://www.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/rachelh.pdf.
Acesso em: 15 nov. 2016.
KRAMER, R. W.; KUJAWINSKI, E. B.; HATCHER, P. G. Identification of black carbon derived struc-
tures in volcanic ash soil humic acid b fourier transform cyclontron resonance mass spectrome-
try. Environmental Science & Technology, v. 38, p. 3387 – 3395.
LEME, M. M. V. Avaliação das Opções Tecnológicas para geração de energia através dos Re-
síduos Sólidos Urbanos: Estudo de Caso, Dissertação de Mestrado em Engenharia da Energia
- Universidade Federal de Itajubá, 2010. 123 p.
MASIELLO, C. A. New directions in Black carbon organic geochemistry. Marine Chemistry, v. 92,
p. 201 – 213. 2004.
MAZZONETTO, A. W.; CUNHA, J. R. da; VICENTINI, M. Potencial energético dos resíduos dos ser-
viços de saúde (rss): perspectivas e propostas. Bioenergia em revista: diálogos, ano 6, n. 1, p.
85-110, jan./jun. 2016a.
MAZZONETTO, A. W.; OBATA, S. H. & ALMEIDA, I. B. P. de. Potencial energético do resíduo da cons-
trução civil visando construções sustentáveis e envolvimento dos alunos in PBL2016 Internatio-
nal Conference. São Paulo, 2016b. Disponível em: <http://www.panpbl.org/site/evento/wp-con-
tent/uploads/2016/10/6146307.pdf>. Acesso em: 28 dez. 2017.
142/221 Unidade 5 • RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo”
MAZZONETTO, A. W.; ROCHA, D. C.; OLIVEIRA, D. F. G. de; SILVA, P. L. da. Avaliação do potencial
energético do resíduo sólido urbano de Piracicaba para produção de biogás. Bioenergia em re-
vista: diálogos, ano 6, n. 1, p. 47-75, jan./jun. 2016c.
MEIRA, A. M. de. Gestão de resíduos da arborização urbana. PhD, thesis, Escola Superior de
Agricultura “Luiz de Queiroz”, ESALQ, Universidade de São Paulo – USP, Piracicaba, Brasil, 2010,
178 p.
NINNI, K. Municípios buscam reciclar suas árvores. O Estado de São Paulo. São Paulo, 30 de ju-
nho de 2010 | 0h 00. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,municipios-
-buscam-reciclar-suas-arvores,574014,0.htm>. Acesso em: 17 nov. 2017.

OLIVEIRA, J. M. Análise do gerenciamento de resíduos de serviço de saúde nos hospitais de


Porto Alegre. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Escola de
Administração. Porto Alegre – RS, 2002. 102 p.
PHILIPPI JUNIOR, A. R.; ANDRADE, M. de; COLLET, B. G. Curso de Gestão Ambiental. São Paulo:
Malone, 2004.
PRADO, R. M.; CORRÊA, M. C. M.; PEREIRA, L.; CINTRA, A. C. O.; NATALE, W. Cinza da indústria de
cerâmica na produção de goiabeira: Efeito no crescimento e na produção de matéria seca. Revis-
ta de Agricultura, Piracicaba, V.78, fasc.1, 2003.

143/221 Unidade 5 • RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo”


RENDEIRO, G; NOGUEIRA, M. F. M; BRASIL, A. C. M; CRUZ, D. O. A; GUERRA, D. R. S; MACÊDO, E. M;
ICHIHARA, J. A. Combustão e Gaseificação de biomassa sólida. Soluções energéticas para a
Amazônia. Ministério de Minas e Energia. Brasília, 2008.
ROCHA, J. C., BARBIÉRI, R. S., CARDOSO, A. A., GRANER C. A. F. Agilização do processo de rotina
analítica para a determinação da DQO (demanda química de oxigênio). Química Nova, v.13, p.
200-201, 1990
SANCHEZ, C. G. (Org.). Tecnologia da gaseificação da biomassa. Campinas, SP: Editora Átomo,
2010. 432 p.
TOLMASQUIM, M. T (Org.). Fontes Renováveis de Energia no Brasil. Rio de janeiro: CINERGIA,
2003, 515 p.
TOLMASQUIM, M. T. Estudos avançados: Perspectivas e planejamento do setor energético no
Brasil. São Paulo. vol. 26 no. 74, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v26n74/
a17v26n74.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2017.

YOUNG, G. C. Municipal solid waste to energy conversion processes: economic, technical, and
renewable comparison. John Wiley & Sons. Hoboken, New Jersey, 2010. 394 p.

144/221 Unidade 5 • RESÍDUO SÓLIDO URBANO (RSU) – “Lixo”


Assista a suas aulas

Aula 5 - Tema: Resíduo Sólido Urbano – RSU - Aula 5 - Tema: Resíduo Sólido Urbano – RSU -
Lixo. Bloco I Lixo. Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
a7e519414fa6b563aa7d0f3d216c55a5>. 2c5ada483d34eefcd2f1ca0a0cd4f4df>.

145/221
Questão 1
1. Com relação à importância da geração de energia com os resíduos sólidos
urbanos, julgue os itens a seguir em V (verdadeiro) e F (falso).

( ) Os processos oferecem um tratamento sanitário, geram energia, geram empregos e podem


ficar próximos das fontes geradoras do resíduo.
( ) O resíduo do processo são geralmente cinzas (adubo) e biochar/carvão vegetal que servem de
corretivos de solo e como biocombustíveis.
( ) As grandes cidades têm grande demanda de energia, geram muitos resíduos e as áreas para
aterros estão diminuindo.
( ) Todos os resíduos urbanos podem gerar energia – orgânicos e inorgânicos.
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
a) a) F, F, V, V.
b) b) V, F, V, F.
c) c) F, V, V, F.
d) d) V, V, F, F.
e) e) V, V, V, F.

146/221
Questão 2
2. Assinale a alternativa que indica os principais resíduos que podem ge-
rar energia.

a) Vidros, metais, poda e varrição urbana.


b) Vidros, polímeros, poda e varrição urbana.
c) Resíduo orgânico, polímeros, poda e capina urbana.
d) Polímeros, metais, capina urbana e varrição urbana.
e) Nenhuma das alternativas.

147/221
Questão 3
3. Os resíduos disponíveis num município de médio a grande porte tor-
nam-se insumos para outro processo ou utilização, com exceção de:

a) Energia elétrica, syngas, biochar, cinzas (adubo).


b) Energia elétrica, chorume, cinzas (adubo), vapor, syngas.
c) Empregos, biochar, cinzas, vapor.
d) Biogás, resíduos radioativos e com metais pesados podem adubar hortaliças.
e) Biochar, cinzas, recuperar insumos de polímeros, metais e vidros (recicláveis).

148/221
Questão 4
4. A exergia de um sistema, que se encontra em estado morto, é conside-
rada:

a) As cinzas e o biochar têm as mesmas funções de adubação e correção do solo.


b) O pneu não serve para nenhum processo térmico nem biológico para gerar energia, nem é
possível recuperar insumos.
c) Os resíduos do serviço de saúde também podem gerar energia e inclusive dando tratamento
sanitário aos resíduos.
d) A poda e capina urbana podem ser utilizadas para gerar energia e sobrarão cinzas (adubo)
para as áreas verdes do município.
e) Resíduos de condomínios, shoppings centers, hotéis e aeroporto podem gerar energia e
amortizar a energia adquirida na rede.

149/221
Questão 5
5. Cada tipo de resíduo pode ter um tratamento ou processo para o qual o
resíduo é um insumo. Avalie qual afirmativa está correta.

a) Polímeros podem ser reciclados e/ou gerarem energia por processos térmicos, dependendo
do mercado.
b) Vidro é melhor destinar aos aterros, pois é muito onerosa a reciclagem.
c) Madeira, mesmo com coleta seletiva, não poderá ser reciclada.
d) Papelão tem apenas um destino, o aterro.
e) Todo metal tem capacidade para gerar energia térmica e produzir biochar.

150/221
Gabarito
1. Resposta: E. 3. Resposta: D.

As três primeiras alternativas estão corre- Biogás, resíduos radioativos e com metais
tas, mas a última é falsa, pois vidros e me- pesados podem adubar hortaliças. Metais
tais devem ser reciclados uma vez que não pesados e resíduos radioativos têm proce-
geram energia. dimentos específicos e não podem gerar
energia nem serem insumos de novos pro-
2. Resposta: C. cessos.

Resíduo orgânico, polímeros, poda e capina 4. Resposta: B.


urbana – polímero pode gerar energia e/ou
ser reciclado, para todos os demais o reco- Pneu pode ser submetido à pirólise, gerar
mendável é gerar energia – como países de- biochar e bioóleo e recuperar a malha de
senvolvidos. aço e “negro de fumo”.

151/221
Gabarito
5. Resposta: A.

Polímeros podem ser reciclados e/ou gerar


energia por processos térmicos, dependen-
do do mercado.

152/221
Unidade 6
PROCESSOS TÉRMICOS

Objetivos

Neste tema apresentaremos os processos


térmicos mais usados no Brasil e no mun-
do para a conversão de biomassas residuais
em biocombustíveis e/ou energia renovável.
Destacaremos as operações unitárias:
• Secagem e torrefação.
• Combustão – incineração e caldeiras.
• Pirólise.
• Gaseificação.

153/221
Introdução

Toda biomassa residual tem um potencial locais de aproveitamento. Sua heteroge-


energético em si mesma, que pode ser co- neidade de tipos e formas dificulta a utiliza-
nhecida pelo poder calorífico inferior e su- ção em equipamentos projetados para lidar
perior [MJ/kg; kJ/kg; kcal/kg]. Algumas ca- com combustíveis fósseis (BATIDZIRAI et
racterísticas são importantes para o apro- al., 2013). O fato da biomassa encontrar-se
veitamento desse resíduo: facilidade de dispersa e, em muitos casos, distante dos
obtenção/disponibilidade – precisa ter faci- centros de consumo, somado a algumas de
lidade para coletar, transportar; quantidade suas características desfavoráveis, desig-
e regularidade – precisa ter quantidade e nadamente o baixo poder calorífico, a bai-
alta frequência para poder coletar, a fim de xa densidade a granel, o alto conteúdo de
viabilizar um planejamento a médio e longo água, a higroscopicidade e a susceptibilida-
prazo; custo baixo. de à degradação microbiológica, elevam o
O aproveitamento energético de biomassa custo logístico com estocagem, transporte
residual, nem sempre é trivial. Sobretudo e manuseio desse insumo energético (BATI-
para os resíduos agrícolas, que são gera- DZIRAI et al., 2013; SVANBERG et al., 2013).
dos no campo e dependem de uma opera- A partir do resíduo disponível e do conhe-
ção logística própria para serem levados a cimento sobre os processos térmicos con-
solidados, o projeto de biocombustíveis e/
154/221 Unidade 6 • PROCESSOS TÉRMICOS
ou energia renovável é viabilizado, pois para
cada biomassa residual há um ou mais pro-
cessos recomendáveis.
Para saber mais
Grãos de arroz, feijão, milho são secos até 13% de
umidade para garantir a conservação dos mes-
1. Secagem e torrefação
mos. Mantendo-se a umidade entre 11 e 13% os
Os primeiros processos a serem discutidos grãos podem durar por anos. Esse mesmo princí-
correspondem à secagem e torrefação, pois pio é utilizado com biomassas, porém algumas,
a umidade pode ser uma inimiga da conser- como bagaço, se estiverem abaixo de 15% correm
vação dos resíduos, bem como aplicação de o risco de combustão espontânea, por isso não se
qualquer biomassa residual. tem a preocupação de secá-la. Já no caso de ma-
deira (lenha), considera-se seca abaixo de 20%.
Pellet e briquete tem umidade entre 7 e 11%, são
materiais muito secos, compactos, de fácil arma-
zenamento e transporte.

155/221 Unidade 6 • PROCESSOS TÉRMICOS


A torrefação é um processo de natureza ter-
moquímica realizado à pressão atmosféri- Link
ca, no qual a biomassa é submetida a tem- O estudo de secagem envolve o conhecimento de
peraturas na faixa de 200-300º C em uma diversos conceitos, tais como: umidade, condi-
atmosfera não oxidante. Tem como produto ção de equilíbrio, velocidade (que varia de acordo
um sólido uniforme, com baixa umidade, hi- com a característica do sólido higroscópico não-
drofóbico, de alto poder calorífico e de fá- -poroso, não-higroscópico poroso e higroscópico
cil granulação, contendo tipicamente 70% poroso), tempo, água ligada e não ligada. Essas
de sua massa inicial e 90% do conteúdo principais definições são discutidas brevemente
energético da biomassa crua (USLU, FAAIJ e no material de aula do professor Cláudio Roberto
BERGMAN, 2008). de Freitas Pacheco. Disponível em: <http://sites.
poli.usp.br/d/pqi2530/alimentos/pacheco_
secagem_cap_1.pdf>. Acesso em: 5 dez. 2017.

156/221 Unidade 6 • PROCESSOS TÉRMICOS


2. Combustão – incineração e caldeiras

Há resíduos ou biomassas residuais que podem ser usadas diretamente na combustão em cal-
deiras para geração de vapor e/ou vapor e bioeletricidade, como são os casos do bagaço e da
galhada das árvores (lenha). A Figura 1 apresenta um esquema de caldeira para biomassa.
Figura 1- Esquema de uma caldeira para resíduos ou biomassas residuais.

Fonte: Reis et al. (2015).

157/221 Unidade 6 • PROCESSOS TÉRMICOS


A combustão de biomassa é largamen- No Brasil, como exemplos de sucesso, temos
te empregada para produzir calor para o a queima do bagaço da cana-de-açúcar e
aquecimento de ambientes, gerar vapor em da lixívia (licor negro), que é um resíduo da
caldeiras e movimentar turbinas geradoras indústria de papel e celulose, e o carvão ve-
de eletricidade. Apesar da baixa eficiên- getal que é usado em usinas siderúrgicas
cia para geração de eletricidade, 15% para como termo-redutor (BAJAY et al., 2005).
plantas pequenas e 30% para plantas maio- Segundo Bizzo (s.d.) reações de combustão
res e mais modernas, o custo é competiti- são reações químicas que envolvem a oxida-
vo quando são usados rejeitos ou resíduos. ção completa de um combustível. Materiais
Emissões de monóxido de carbono, oriundo ou compostos são considerados combustí-
da queima incompleta, de particulados e o veis industriais quando sua oxidação pode
manuseio de cinzas ainda são problemas ser feita com liberação de energia suficien-
técnicos ainda a serem superados. Esta tec- te para aproveitamento industrial. Os prin-
nologia é largamente disponível no merca- cipais elementos químicos que constituem
do com muitos casos de sucesso na Europa e um combustível são: carbono, hidrogênio e,
América do Norte, empregando, geralmen- em alguns casos, enxofre. Estes elementos
te, resíduos agrícolas, florestais e industriais reagem com oxigênio, e na sua forma pura
(BRIDGWATER, 2003). apresentam a seguinte liberação de calor:
158/221 Unidade 6 • PROCESSOS TÉRMICOS
3. Pirólise

A pirólise é a decomposição térmica na au-


sência de oxigênio. É a primeira etapa dos
processos de combustão e gaseificação. A
pirólise da biomassa resulta em produtos
Link gasosos, líquidos e sólidos. Os gases são
compostos de monóxido de carbono, dió-
Recomendamos a leitura do livro Combustão e
xido de carbono e hidrocarbonetos leves. O
Gasificação de Biomassa Sólida- Soluções Ener-
líquido formado apresenta uma coloração
géticas para Amazônia, do autor Eduardo José
escura e é chamado de bioóleo; já o sólido
Fagundes Barreto, uma das principais obras para
corresponde ao carvão vegetal.
o setor elétrico em comunidades isoladas. Dis-
ponível em: <http://livroaberto.ibict.br/hand- Os rendimentos e a qualidade dos produ-
le/1/863>. Acesso em: 4 dez. 2017. tos são influenciados pelas condições ope-
racionais empregadas. Destacamos que a
pirólise recebe diferentes denominações
dependendo das condições utilizadas. Na
pirólise lenta, ou carbonização, são empre-
159/221 Unidade 6 • PROCESSOS TÉRMICOS
gadas baixas temperaturas e longos tempos de residência, o que favorece a produção de car-
vão vegetal. Altas temperaturas e longos tempos de residência favorecem a formação de gases.
Temperaturas moderadas e baixo tempo de residência dos gases favorecem a produção de líqui-
dos (bio-óleo). Na Tabela 1 são mostrados alguns exemplos de rendimentos dos produtos para
diferentes condições operacionais da pirólise (BRIDGWATER, 2003).
Tabela 1. Rendimentos típicos obtidos para diversos tipos de pirólise
Líquido Sólido Gás
Processo Condições operacionais
(%) (%) (%)
Pirólise lenta Temperatura baixa ~ 400º C Tempo
30 35 35
(Carbonização) de residência - horas/dias
Temperatura moderada ~ 500º C
Pirólise rápida Tempo de residência dos vapores 75 12 13
baixo ~ 1s
Temperatura elevada ~ 800º C
Pirólise tipo
Tempo de residência dos vapores 5 10 85
Gaseificação
longo
Fonte: adaptado de Bridgwater (2003).

160/221 Unidade 6 • PROCESSOS TÉRMICOS


Link
Sobre a utilização das cinzas de biomassas oriundas de processos térmicos como adubo, leia o artigo Uso da
cinza da combustão de biomassa florestal como corretivo de acidez e fertilidade de um Cambissolo Húmico
que avaliou o efeito da aplicação de cinza de biomassa florestal como corretivo da acidez e fertilizante do
solo, comparando-a com os efeitos do calcário dolomítico, em Cambissolo Húmico cultivado com Eucalyptus
dunnii. Disponível em: <http://revistas.bvs-vet.org.br/rca/article/view/34297>. Acesso em: 5 dez. 2017.

161/221 Unidade 6 • PROCESSOS TÉRMICOS


A Tabela 2 apresenta alguns tipos de pirólise com suas respectivas características de processo.
Tabela 2. Produtos típicos obtidos para diversos tipos de pirólise.
Tempo de Temperatura Taxa de
Processo Produto principal
residência (oC) aquecimento
Pirólise lenta
Horas/dias 300-500 Muito baixa Carvão vegetal
(Carbonização)
P i r ó l i s e Bio-óleo, Carvão e
5-30 min 400-600 Baixa
convencional gases
Pirólise rápida 0,5 – 5s 400-650 Alta Bio-óleo
Pirólise flash
- Bio-Óleo
- Líquidos < 1s 400-650 Alta
- Químicos e Gás
- Gases < 1s > 650 Alta
comb.
Ultrarrápida < 0,5s 1000 Muito alta Químicos e gás comb.
Fonte: adaptado de Rocha (1997); Mohan et al. (2006); Huber et al., (2006).

162/221 Unidade 6 • PROCESSOS TÉRMICOS


Para saber mais
O bio-óleo, conhecido também como óleo de pirólise, bio-óleo bruto, alcatrão pirolítico, alcatrão pirolenhoso,
licor pirolenhoso, líquido de madeira, óleo de madeira, condensado da fumaça, destilado da madeira, é um lí-
quido de coloração marrom escura, quase negra, e odor característico de fumaça com composição elementar
próxima a da biomassa. Este fluido apresenta características bem diferentes do óleo combustível, possui um
teor elevado de oxigênio (35-40%p/p) e de água (15-30%), acidez alta (pH ~ 2,5), densidade 1,2 kg/l, poder
calorífico superior 17 MJ/Kg, que representa cerca de 40% do poder calorífico do óleo combustível (43 MJ/kg),
é solúvel em 17 solventes polares, mas completamente imiscível em hidrocarbonetos, é instável, podendo so-
frer polimerização e condensação ao longo do tempo (BRIDGWATER, 2003). O bio-óleo é um biocombustível
que pode substituir o diesel em motores a combustão por compressão. São moléculas de hidrocarbonetos,
que devem ser utilizadas para alimentar o motor enquanto quente, pois quando esfria fica na forma de “pi-
che” (endurece e gruda).

163/221 Unidade 6 • PROCESSOS TÉRMICOS


4. Gaseificação

O processo de gaseificação pode ser consi- decomposto na forma de gás, porém peque-
derado uma alternativa viável e sustentável nas quantidades de subprodutos são tam-
com o objetivo de produzir um combustí- bém formadas, incluindo alcatrão, carvão e
vel gasoso com melhores características de cinzas (COHCE et al., 2011). Dependendo do
transporte, melhor eficiência de combustão design e condições operacionais do reator o
e também que possa ser utilizado como ma- processo também pode gerar metano e hi-
téria-prima para outros processos (CENBIO, drocarbonetos (SINGH et al., 2011).
2002).
O processo de gaseificação é a conversão de
material carbonáceo sólido ou líquido (ali-
mentação), em um gás energético, através
da oxidação parcial à elevada temperatu-
ra (500°C – 1400°C) e pressão variável (at-
mosférica a 33 bar) (MORRIN et al., 2011).
Durante a gaseificação, a maior parte do
material de alimentação é termicamente
164/221 Unidade 6 • PROCESSOS TÉRMICOS
A Figura 2 mostra o desenho de um gaseificador contracorrente e as zonas em que ocorre cada
processo termoquímico.
Figura 2. Gaseificador Up draft (Contracorrente) e perfil dos processos termoquímicos.

Fonte: adaptado de MCKENDRY, 2002.

165/221 Unidade 6 • PROCESSOS TÉRMICOS


Para saber mais
Durante a Segunda Guerra Mundial, os consu-
midores de derivados de petróleo encontraram
dificuldades para adquirir esses produtos, popu-
larizando, então, os gaseificadores móveis, de-
nominados por gasogênios, a fim de produzir gás
sintética-syngas. Atualmente, existe uma diver-
sidade de gaseificadores de biomassa, podendo
ser agrupados em: leito fixo ascendente, leito fixo
descendente, leito fluidizado borbulhante e leito
fluidizado circulante, sendo que a diferença entre
eles se relaciona com os meios de suporte da bio-
massa no reservatório do reator, direção do fluxo
do oxidante e da biomassa e a maneira como o
calor é suprido para o reator.

166/221 Unidade 6 • PROCESSOS TÉRMICOS


Glossário
Alcatrão: Denomina-se vulgarmente alcatrão a substância obtida pela destilação seca de pro-
dutos naturais (carvão de pedra ou hulha, petróleo e madeira) a altas temperaturas. O alcatrão é
um líquido viscoso, de cor que vai do castanho escuro ao preto com reflexos esverdeados. Quando
bruto, apresenta um cheiro amoniacal. Suas propriedades e composição variam de acordo com a
origem do produto natural e o processo de pirólise adotado. O alcatrão destilado a temperaturas
elevadas é mais rico em hidrocarbonetos aromáticos do que parafínicos, tem maior relação C/H
e menor porcentagem de fenóis.
Atmosfera não oxidante: Atmosfera sem oxigênio ou com muito menos oxigênio do que o este-
quiométrico para reação completa de combustão.
Syngas: O principal produto da gaseificação apresenta-se como uma mistura de gases: monóxido
de carbono, hidrogênio, dióxido de carbono, metano, traços de enxofre e outros hidrocarbonetos
leves. O gás produzido, através da gaseificação, é um gás de síntese (syngas), este também pode
ser utilizado para a produção de combustíveis líquidos (Coal to Liquid) como o Diesel, gasolina,
óleos lubrificantes de elevada qualidade produtos químicos (carboquímica) e hidrogênio (Shift).

167/221 Unidade 6 • PROCESSOS TÉRMICOS


?
Questão
para
reflexão

Os processos térmicos são conhecidos há muitas dé-


cadas, inclusive tiveram participação para solucionar
vários problemas durante a Segunda Guerra Mundial e
podem resolver o problema com vários resíduos e bio-
massas existentes. Como os processos térmicos foram
usados na Segunda Guerra Mundial? Como é utilizado
hoje?

168/221
Considerações Finais

• A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) requer que seja feito tratamento nos resídu-
os gerados e que se reduza a 30% o volume destinado aos aterros sanitários.
• A secagem é importante para resíduos com alta umidade viabilizarem processos térmicos,
facilitarem o armazenamento e transportes. Também contribuem para aumentar a conser-
vação da biomassa.
• Na gaseificação, uma fração (14 – 18%) da biomassa (insumo) que entra no reator será con-
sumida no processo para elevar a temperatura. O resultado será gás produto ou gás de sín-
tese (um gás combustível: CO + H2 na maior parte e CH4, N2, CO2, O2), bio-óleo/alcatrão
(5-7%), cinzas – depende da biomassa inicial (4 – 9%) e biochar (5-6%).
• Os processos térmicos são mitigadores ambientais, pois viabilizam a utilização de muitos
resíduos que teriam como destinação um aterro sanitário ou lixões. O que sobra do proces-
so sempre pode ser usado como adubo, desde que seja processada uma biomassa.

169/221
Referências

ANP. Gás e Biocombustíveis “Etanol”. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/wwwanp/bio-


combustiveis/etanol>. Acesso em: 2 dez. 2017.

BAJAY, S.V., FERREIRA, A.L. A energia de biomassa no Brasil. In: ROSILLO-CALLE, F.; BAJAY, S.V.; RO-
THMAN, H. Uso da Biomassa para produção de energia na indústria brasileira. Campinas, SP:
Editora da UNICAMP, 2005. Cap. 2, p. 71-120.
BATIDZIRAI, B.; MIGNOT, A. P. R.; SCHAKEL, W. B.; JUNGINGER, H. M.; FAAIJ, A. P. C. Biomass tor-
refaction technology: Techno-economic status and future prospects, Energy, v. 62, p. 196–214,
2013.
BIZZO, W. A. Combustão. In: EM 722 - Geração, Distribuição e Utilização de Vapor. Faculdade
de Engenharia Mecânica – FEM/UNICAMP. s.d.
BRIDGWATER, A. V. Renewable fuels and chemicals by thermal processing of biomass. Chemical
Engineering Journal, v. 91, n. 2-3, p. 87-102, 2003.
CENBIO. Estado da Arte da Gaseificação: Comparação entre tecnologias de gaseificação de bio-
massa existentes no Brasil e no exterior e formação de recursos humanos na Região Norte. 2002,
108 p.

170/221 Unidade 6 • PROCESSOS TÉRMICOS


COHCE, M. K.; DINCER, I.; ROSEN, M. A. Energy and exergy analyses of a biomass-based hydrogen
production system. Bioresource Technology, v. 102, n. 18, p. 8466-8474, 2011.
EPA, U. S Environmental Protection Agency – Solid Waste Management and Green House Gases
– A Life-Cicle Assessment of Emissions and Sinks. US. EPA. 2002.
MCKENDRY, P. Energy production from biomassa (part 1): overview of biomass. Bioresource Te-
chnology, v. 83, p. 37, 2002.
MORRIN, S. et al. Two stage fluid bed-plasma gasification process for solid waste valorisation:
Technical review and preliminary thermodynamic modelling of sulphur emissions. Waste Mana-
gement, v. 32, n. 4, p. 676-84, 2011.
REIS, H. M. et al. Aumento de Eficiência na matriz energética de uma planta de papel e ce-
lulose usando controle baseado em lógica Fuzzy: um estudo de caso. Disponível em: <http://
www.revistaopapel.org.br/noticia-anexos/1453345275_a5178302ece5dab46a54a87e4d-
3602dd_467830511.pdf>. Acesso em: 5 dez. 2017.
SINGH, R. P. et al. An overview for exploring the possibilities of energy generation from municipal
solid waste (MSW) in Indian scenario. Renewable and Sustainable Energy Reviews, Volume 15,
n. 9, p. 4797-4808, 2011.
SVANBERG, M.; OLOFSSON, I.; FLODÉN, J.; NORDIN, A. Analysing biomass torrefaction supply
chain costs, Bioresource Technology, v. 142, p. 287-296, 2013.
171/221 Unidade 6 • PROCESSOS TÉRMICOS
TOLMASQUIM, M. T (Org.). Fontes Renováveis de Energia no Brasil. Rio de Janeiro: CINERGIA,
2003, 515 p.
USLU, A.; FAAIJ, A. P. C.; BERGMAN, P. C. A. Pre-treatment technologies, and their effect on in-
ternational bioenergy supply chain logistics. Techno-economic evaluation of torrefaction, fast
pyrolysis and pelletisation, Energy, v. 33, n. 8, pp. 1206-1223, 2008.
YOUNG, G. C. Municipal solid waste to energy conversion processes: economic, technical, and
renewable comparison. John Wiley & Sons. Hoboken, New Jersey, 2010, 394 p.

172/221 Unidade 6 • PROCESSOS TÉRMICOS


Assista a suas aulas

Aula 6 - Tema: Processos Térmicos. Bloco I Aula 6 - Tema: Processos Térmicos. Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/pA-
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/2ae-
1d/5edc41ff31cf302abf598e5bddbf8060>. 454eee4e74fe89fae257e40a28789>.

173/221
Questão 1
1. Assinale a alternativa que apresenta corretamente os principais processos
térmicos.

a) Biodigestão anaeróbia, combustão, pirólise e gaseificação.


b) Biodigestão aeróbia, combustão, pirólise e gaseificação.
c) Metanogese, combustão, pirólise e gaseificação.
d) Torrefação, combustão, pirólise e gaseificação.
e) Torrefação, combustão, pirólise e hidrólise.

174/221
Questão 2
2. Assinale a alternativa correta. A combustão direta em caldeira é reco-
menda para quais biomassas in natura?

a) Grama e restos de culturas.


b) Bagaço de cana e cascas de árvores.
c) Bagaço de cana e grama.
d) Bagaço de cana e lenha (galhada de árvores).
e) RSU e grama.

175/221
Questão 3
3. Com relação ao uso do bio-óleo, julgue os itens abaixo.

I. Substituir o diesel em motores a combustão por compressão.


II. Queimar em caldeiras a óleo.
III. Ser utilizado como combustível ou insumo para outros processos.
Agora, assinale a alternativa que contempla o(s) item(s) correto(s).
a) a) I.
b) b) II.
c) c) I, II.
d) d) I, II, III.
e) e) II, III.

176/221
Questão 4
4. Observe o questionamento apresentado e, em seguida, assinale a alter-
nativa correta. Qualquer biomassa pode passar por um processo térmico
para gerar calor ou biochar ou gás combustível ou bio-óleo?

a) Não, pois nem todas dão resultados satisfatórios.


b) Sim, desde que tenha elevado poder calorífico.
c) Sim, desde que a umidade não seja alta ou passe por secagem antes.
d) Não, nem toda biomassa pode passar por processos térmicos.
e) Não, um processo térmico de biomassa jamais resulta num produto energeticamente viável.

177/221
Questão 5
5. Assinale a alternativa que apresenta os dois produtos principais da pi-
rólise.

a) Bio-óleo e biochar (carvão vegetal)


b) Cinzas (adubo) e gases combustíveis
c) Cinzas (adubo) e biochar (carvão vegetal)
d) Gases combustíveis e bio-óleo
e) Monóxido de carbono e dióxido de enxofre.

178/221
Gabarito
1. Resposta: D. 4. Resposta: C.

Torrefação, combustão, pirólise e gaseifica- De fato, a questão está correta, tendo em


ção são os principais processos térmicos. vista a importância do teor de umidade para
os processos térmicos.
2. Resposta: D. 5. Resposta: A.
O Bagaço de cana e a lenha (galhada de ár- Os principais produtos da pirólise são bio-
vores) podem ser utilizados in natura. -óleo (pirólise convencional e rápida) e bio-
char/carvão vegetal (pirólise lenta).
3. Resposta: D.

Todas as opções estão corretas. O bio-óleo


pode substituir o diesel em motores ou cal-
deiras, bem como pode ser utilizado como
insumo para outros processos.

179/221
Unidade 7
RESÍDUOS E OPÇÕES TECNOLÓGICAS

Objetivos

Este tema fará uma rota diferente das ou-


tras, considerando as especificidades do re-
síduo, serão dadas brevemente as opções
tecnológicas para dar uma finalidade ener-
gética para cada disponibilidade, ou seja:
1. Resíduo líquido.
2. Resíduo com alta umidade.
3. Resíduo sólido.

180/221
Introdução

As cidades, shoppings, condomínios têm 1. Resíduos líquidos


gerado resíduos com grande potencial para
a reciclagem bem como para a geração de O resíduo mais abundante disponível nas
energia. Alguns aspectos importantes dos cidades é o óleo usado. Todas as casas têm
resíduos comuns serão citados neste tema esse produto, com mais ou menos frequ-
para observamos que, ao invés de serem ência. Se considerarmos um prédio ou um
destinados a aterros sanitários ou direcio- condomínio, o volume desse resíduo é ainda
nados para fins não energéticos, sejam di- maior; a proporção utilizada em shoppings,
recionados à produção de energia. hospitais, hotéis com restaurantes, aero-
portos, entre outros locais onde há cozinha,
A produção de biocombustíveis e geração
é maior ainda. Sempre haverá óleo usado.
de energia, além de melhorar a sustentabi-
lidade de qualquer município, faz com que O óleo usado deve ser direcionado para
cada vez menos seja necessário o aterro sa- produção de biodiesel, assim o esgoto será
nitário, com redução do descarte inadequa- mais facilmente tratado e as fontes d’água
do de resíduos, prevenindo ou reduzindo disponível nas cidades serão menos conta-
impactos ambientais graves para a popula- minadas, implicando custos menores para o
ção, a flora e a fauna. seu tratamento.

181/221 Unidade 7 • RESÍDUOS E OPÇÕES TECNOLÓGICAS


por litro. Dessa forma, em tese, 1 litro de
Para saber mais óleo poluiria 20.000 litros de água.
Há uma informação que circula nos canais de co-
municação de que 1 litro de óleo pode contami- Link
nar 1 milhão de litros d’água, porém como apre- O artigo Caracterização do lodo proveniente de es-
sentado pelo Químico da SABESP, é menos, bem tação de tratamento de esgoto (ETE) e estudo sobre
menos, mas ainda bastante contaminante. seu potencial energético avalia as características
físico-químicas do lodo de ETE e analisa seu uso
como combustível para recuperação de ener-
Para Rodrigues (s.d.) as estimativas do vo- gia através da sua queima, promovendo, assim,
lume d’água contaminado por um litro de energia e redução do volume. Estuda-se o uso
óleo deve ter embasamento na legislação do biogás gerado na própria ETE, pelos reatores
vigente. Os limites são, pela lei Federal: UASB (reatores anaeróbios de fluxo ascendente)
Res. CONAMA 357/ 06 – art. 34: OG (vege- para realizar a remoção da umidade do lodo (cer-
tal/animal): 50 mg/L; Estadual SP: Dec. Est. ca de 80% de água) e tornar sustentável o pro-
8468/76 – art. 18 (lançamento em corpos cesso de recuperação de energia. Disponível em:
d’ água): OG: 100mg/L. O limite legal mais <http://www.ibeas.org.br/congresso/Traba-
restritivo de lançamento (50 mg/L) permite lhos2011/X-001.pdf>. Acesso em: 04 dez. 2017.
lançar aproximadamente uma gota de óleo
182/221 Unidade 7 • RESÍDUOS E OPÇÕES TECNOLÓGICAS
2. Resíduos com alta umidade O chorume precisa ser tratado, como rege
a legislação, porém o lodo de esgoto pode
De maneira geral, o chorume pode ser con- produzir biogás ou ser agregado a outros
siderado como uma matriz de extrema resíduos urbanos para incineração ou ga-
complexidade, composta por quatro fra- seificação.
ções principais: matéria orgânica dissolvi- A pirólise é uma prática que pode ser em-
da (formada principalmente por metano, pregada para o aproveitamento do lodo
ácidos graxos voláteis, compostos húmicos de esgoto como biomassa. Nesse processo
e fúlvicos), compostos orgânicos xenobió- térmico, são gerados produtos com valores
ticos (representados por hidrocarbonetos agregados, tais como, óleo, gases e carvão
aromáticos, compostos de natureza fenóli- que podem ser utilizados como fonte de
ca e compostos organoclorados alifáticos), combustível ou em outros usos relaciona-
macrocomponentes inorgânicos (dentre os dos à indústria (PEDROZA et al., 2010).
quais se destacam Ca, Mg, Na, K, NH4+, Fe, Shen e Zhang (2004) realizaram a pirólise de
Mn, Cl, SO42-e HCO3- e metais potencial- uma mistura de lodo de esgoto (80%) com
mente tóxicos, por exemplo Cd, Cr, Cu, Pb, Ni lixo urbano (20%) a 500° C e obtiveram 17%
e Zn (CHRISTENSEN et al., 2001). de óleo pirolítico com poder calorífico de 33
MJ/kg e propriedades similares às do óleo
diesel.

183/221 Unidade 7 • RESÍDUOS E OPÇÕES TECNOLÓGICAS


era superior nas amostras que possuíam
Para saber mais maiores teores de cinzas.
O lodo de esgoto também tem sido utilizado na
produção de cimento, no forno diretamente ou Link
as cinzas – resultantes de processos térmicos, in- Sobre a utilização das cinzas de biomassas oriun-
corporada ao cimento, pois cinzas dão adesão ao das de processos térmicos como adubo, leia o
cimento. artigo Uso da cinza da combustão de biomassa flo-
restal como corretivo de acidez e fertilidade de um
Cambissolo Húmico que avaliou o efeito da aplica-
Fonts et al. (2009) determinaram que o con- ção de cinza de biomassa florestal como corretivo da
teúdo de cinzas tem grande influência na acidez e fertilizante do solo, comparando-a com os
pirólise de lodos de esgoto do tipo anaeró- efeitos do calcário dolomítico, em Cambissolo Hú-
bio. Segundo dados da pesquisa, o teor de
mico cultivado com Eucalyptus dunnii. Disponível
cinzas da biomassa favoreceu um aumento
do rendimento da fração gasosa e a dimi- em: <http://revistas.bvs-vet.org.br/rca/arti-
nuição do percentual da fração líquida nas cle/view/34297>. Acesso em: 04 dez. 2017.
condições operacionais estudadas (reator
de leito fluidizado, temperatura do leito de
550°C, nitrogênio como gás de arraste). A
concentração de gás H2 na fração gasosa
184/221 Unidade 7 • RESÍDUOS E OPÇÕES TECNOLÓGICAS
3. Resíduo Sólido Os pneus descartados são abundantes e
estão disponíveis em todos os municípios.
O resíduo sólido de um município é um ver- Há também outras biomassas residuais dis-
dadeiro “tesouro”, com potencial para reci- poníveis nas cidades: poda e capina urba-
clagem (vidros, metais e polímeros) e ener- na, disponíveis e comumente destinadas à
gético (madeira, papelão, resíduo orgânico compostagem.
e polímeros).

Para saber mais


Link Para se processar pneus inteiros por pirólise ou
gaseificação, primeiramente se faz necessário
Estudo de viabilidade da aplicação de pneus como
triturá-lo. Assim, o processo termoquímico será
combustível na geração de energia elétrica ava-
mais eficiente e será recuperada a malha de aço
liou a viabilidade de usar o pneu como com-
do pneu e o negro de fumo, também sobrará bio-
bustível. Disponível em: <http://sites.poli.
char (em torno de 5%) e cinzas (adubo). O produto
usp.br/d/pme2600/2007/Artigos/Art_
principal dependerá do processo termoquímico.
TCC_059_2007.pdf>. Acesso em: 05 dez. 2017.
Se for pirólise será bio-óleo, e se for gaseificação
será gás de síntese (syngas ou gás produto).

185/221 Unidade 7 • RESÍDUOS E OPÇÕES TECNOLÓGICAS


Glossário
Capina urbana: grama de parques e áreas verdes que são frequentemente cortadas.
Chorume: resíduo líquido de elevada carga orgânica e forte coloração, produzido pela decom-
posição química e microbiológica dos resíduos sólidos depositados em um aterro. A sua com-
posição química apresenta grande variabilidade, uma vez que, além de depender da natureza
dos resíduos depositados, da forma de disposição, manejo e da idade do aterro, é extremamente
influenciada por fatores climáticos, dentre os quais destacamos a quantidade de chuva e a tem-
peratura (IM, 2001; KJELDESEN, 2002).
Compostagem: processo no qual o material orgânico é misturado (podendo ou não ser mistura-
do com solo orgânico) e exposto ao tempo, movimentado diariamente durante 50 a 60 dias, até
a total estabilização do material orgânico.

186/221 Unidade 7 • RESÍDUOS E OPÇÕES TECNOLÓGICAS


Glossário
Lodo de esgoto: gerado no processo de tratamento de efluentes industriais e também domésti-
cos, a quantidade gerada de lodo de esgoto cresce proporcionalmente ao aumento dos serviços
de coleta e tratamento de esgoto, que, por sua vez, deve acompanhar o crescimento populacio-
nal (IWAKI, 2014).
Negro de fumo: constituído por carbono elementar, obtido através de combustão controlada
de óleos aromáticos, em fornos especiais sob altas temperaturas. Existem diversos tipos de pro-
cessos de produção, mas o mais difundido e utilizado é o processo denominado fornalha. As
partículas de negro de fumo são formadas no fluxo de alta velocidade da fornalha, por camadas
sobrepostas de carbono que, colidindo entre si, formam os agregados ou estruturas. Além de ser
utilizado como carga reforçante em compostos de borracha, sua principal aplicação, também é
largamente empregado como pigmento universal preto em plásticos, tintas etc.

187/221 Unidade 7 • RESÍDUOS E OPÇÕES TECNOLÓGICAS


?
Questão
para
reflexão

É possível dar uma destinação energética e/ou obter bio-


combustível de praticamente todos os resíduos disponí-
veis. Seria possível ter nos médios e grandes municípios
do Brasil unidades que separassem os resíduos e geras-
sem energia? O que seria possível gerar e quais os bene-
fícios?

188/221
Considerações Finais

• Polímero pode ser reciclado e destinado para a geração de energia por pro-
cessos térmicos, sendo pirólise e gaseificação as técnicas mais indicadas
por fazer um processo mais mitigador e para se obterem produtos – bio-ó-
leo, biochar e gás de síntese.
• O óleo usado deve ser direcionado para produção de biodiesel, assim evi-
tam-se grandes contaminações nos mananciais e se reduzem os custos para
tratamento d’água. A glicerina poderá ser usada para produção de produtos
de higiene ou fins energéticos – queima em caldeira.
• Pneus podem ser moídos para fazer pisos de praças e gramas de campos
artificiais, porém a quantidade produzida e descartada é tão relevante, que
mesmo essas destinações não são suficientes. Por isso, a recuperação do
negro de fumo (insumo para produção de novos pneus), a malha de aço e
geração de bio-óleo são mais interessantes.

189/221
Referências

ANP. Gás e Biocombustíveis “Etanol”. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/wwwanp/bio-


combustiveis/etanol>. Acesso em: 2 dez. 2017.

ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas (NBR 10004): Resíduos sólidos – Classificação.
Rio de Janeiro, 2004. 71 p.
BRASIL. Lei no 12.305, de 2 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 2 dez. 2017.

ABIPLAST. Os Plásticos. Disponível em: <http://www.abiplast.org.br/site/os-plasticos>. Acesso


em: 2 dez. 2017.
COSTA, L.T.; MAGALHÃES, F.; CARMO, D.F.; NASSAR, C.C.P.; GONÇALVES, C.S.; MENEZES, A.G.T.;
WILKER, W.; OLIVEIRA, A.; MARIANO, F.L.; NASCIMEN TO, L.V.; VENEROSO, F.; CAIS, T.; SERVIDONE,
L.E.; BATISTA, C.; ROJAS, K. Caracterização e percepção ambiental dos resíduos sólidos urbanos
nas diferentes classes sociais no município de Alfenas – MG. Revista em Agronegócios e Meio
Ambiente, v.5; p. 25-49, 2012.
EPA, U.S Environmental Protection Agency. Solid Waste Management and Green House Gases
– A Life-Cicle Assessment of Emissions and Sinks. US. EPA, 2002.

190/221 Unidade 7 • RESÍDUOS E OPÇÕES TECNOLÓGICAS


FONTS, I.; AZUARA, M.; GEA, G.; MURILLO, M. B. Study of the pyrolysis liquids obtained from diffe-
rent sewage sludge. Journal of Analytical and Applied Pyrolysis, v. 85, p. 184-191, 2009.
IWAKI, G. Destinação Final de Lodos de ETAs e ETEs. Disponível em: <http://www.tratamento-
deagua.com.br/artigo/destinacao-final-de-lodos-de-etas-e-etes/>. Acesso em: 2 dez. 2017.

KJELDESEN, P.; BARLAZ, M. A.; ROOKER, A. P.; BAUN, A.; LEDIN, A.;CHRISTENSEN, T.H. Crit. Rev.
Environ. Sci. Technol. 2002, 32, 297
LEME, M. M. V. Avaliação das Opções Tecnológicas para geração de energia através dos Re-
síduos Sólidos Urbanos: Estudo de Caso, Dissertação de Mestrado em Engenharia da Energia
- Universidade Federal de Itajubá, 2010. 123 p.
MAZZONETTO, A. W.; CUNHA, J. R. da; VICENTINI, M. Potencial energético dos resíduos dos ser-
viços de saúde (RSS): perspectivas e propostas. Bioenergia em revista: diálogos, ano 6, n. 1, p.
85-110, jan./jun. 2016a.
NINNI, K. Municípios buscam reciclar suas árvores. O Estado de São Paulo. São Paulo, 30 de ju-
nho de 2010 | 0h 00. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,municipios-
-buscam-reciclar-suas-arvores,574014,0.htm>. Acesso em: 2 dez. 2017.

OLIVEIRA, J. M. Análise do gerenciamento de resíduos de serviço de saúde nos hospitais de


Porto Alegre. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Escola de
Administração. Porto Alegre – RS, 2002. 102 p.
191/221 Unidade 7 • RESÍDUOS E OPÇÕES TECNOLÓGICAS
PEDROZA, M. M.; VIEIRA, G. E. G.; SOUSA, J. F.; PICKLER, A. C.; LEAL, E. R. M.; MILHOMEN, C. C. Pro-
dução e tratamento de lodo de esgoto – uma revisão. Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 11, p.
147 - 157, jul./dez. 2010.
RENDEIRO, G; NOGUEIRA, M. F. M; BRASIL, A. C. M; CRUZ, D. O. A; GUERRA, D. R. S; MACÊDO, E. M;
ICHIHARA, J. A. Combustão e Gaseificação de biomassa sólida. Soluções energéticas para a
Amazônia. Ministério de Minas e Energia. Brasília, 2008.
ROCHA, J. C., BARBIÉRI, R. S., CARDOSO, A. A., GRANER C. A. F. Agilização do processo de roti-
na analítica para a determinação da DQO (demanda química de oxigênio). Química Nova, v.13,
p.200-201, 1990
RODRIGUES, A. L. G. Efeito de óleos e graxas para a tratabilidade de esgotos e poluição difusa.
Disponível em: <http://site.sabesp.com.br/uploads/file/audiencias_sustentabilidade/Efeitos%20
de%20%C3%93leos%20e%20Graxas%20na%20Tratabilidade%20de%20Esgotos%20e%20Polui%-
C3%A7%C3%A3o%20Difusa.pdf> Acesso em: 2 dez. 2017.
SANCHEZ, C. G. (Org.). Tecnologia da gaseificação da biomassa. Campinas, SP: Editora Átomo,
2010. 432 p.
SHEN, L.; ZHANG, D. Low-temperature pyrolysis of sewage sludge and putrescible garbage for
fuel oil production. Energy e Fuel, v.84, p. 809-815, 2004.

192/221 Unidade 7 • RESÍDUOS E OPÇÕES TECNOLÓGICAS


YOUNG, G. C. Municipal solid waste to energy conversion processes: economic, technical, and
renewable comparison. John Wiley & Sons. Hoboken, New Jersey, 2010, 394 p.
ZANIN, M.; MANCINI, S.D. Resíduos plásticos e reciclagem: aspectos gerais e tecnologia. São
Carlos: UFSCAR, 2004, 143 p.

193/221 Unidade 7 • RESÍDUOS E OPÇÕES TECNOLÓGICAS


Assista a suas aulas

Aula 7 - Tema: Resíduos e Opções Tecnológicas. Aula 7 - Tema: Resíduos e Opções Tecnológicas.
Bloco I Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/pA-
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ffa-
1d/9b08d362472460d7e1310c5a523bd31e>. a8915ea9121cc58c7de458753affe>.

194/221
Questão 1
1. Quais as vantagens de uma campanha de coleta para óleo usado em um
município?

I. Aumenta a sustentabilidade do município.


II. Favorece a produção de biodiesel e melhora a qualidade do ar.
III. Diminui os gastos com tratamento da água potável no município.
IV. Evita descarte inadequado.
Agora, assinale a alternativa que contempla apenas os itens corretos.
a) a) I, II.
b) b) II, III, IV.
c) c) I, III.
d) d) II, IV.
e) e) I, II, III, IV.

195/221
Questão 2
2. Assinale a alternativa mais correta no que diz respeito aos resíduos que
estão disponíveis em um município para a geração de energia e biocom-
bustíveis.

a) Latinhas, poda e capina urbana, garrafas.


b) Óleo usado, lodo de esgoto, poda e capina urbana, pneus.
c) Resíduo orgânico, garrafas, poda e capina urbana.
d) Embalagens, latinhas, capina urbana e varrição urbana.
e) Nenhuma das alternativas identificam resíduos urbanos capazes de gerar energia.

196/221
Questão 3
3. O lodo de esgoto pode carregar patógenos e possíveis metais pesados.
Assinale com V (verdadeiro) o que é mais recomendado fazer com esse
resíduo, e F (falso), caso contrário.

( ) Pirolisar misturado com poda e capina urbana.


( ) Gaseificar sozinho ou misturado com outras biomassas residuais.
( ) Combustão misturando com podas e capina urbana.
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
a) a) V, F, V.
b) b) V, F, F.
c) c) F, V, V.
d) d) V, V, V.
e) e) F, F, V.

197/221
Questão 4
4. Analise cada afirmativa apresentada a seguir:

I. O lodo de esgoto tem potencial para gerar energia por meio do biogás ou misturado com ou-
tros resíduos para a incineração.
II. O pneu não serve para nenhum processo térmico nem biológico para gerar energia, nem é
possível recuperar insumos.
III. Os resíduos do serviço de saúde também podem gerar energia, inclusive dando tratamento
sanitário aos resíduos.
IV. A poda e capina urbana podem ser utilizadas para gerar energia e sobrarão cinzas (adubo)
para as áreas verdes do município.
Agora, assinale a alternativa que contém somente os itens corretos.
a) a) I, III.
b) b) I, III, IV.
c) c) II, IV.
d) d) I, IV.
e) e) I, II, III, IV.
198/221
Questão 5
5. Assinale com V (verdadeiro) para o item que apresenta a relação correta
entre o resíduo e o destino recomendado para o mesmo, e F (falso), caso
contrário.

( ) Polímeros podem ser reciclados e/ou gerar energia por processos térmicos.
( ) Vidro é melhor destinar aos aterros, pois é muito onerosa a reciclagem.
( ) Madeira, mesmo com coleta seletiva não poderá ser reciclada.
( ) Papelão tem apenas um destino, aterro.
Agora, assinale a alternativa que indica a sequência correta.
a) V, F, F, F.
b) V, V, F, F.
c) F, V, V, V.
d) F, F, V, V.
e) V, F, V, F.

199/221
Gabarito
1. Resposta: E. derão ser usadas como adubo sem risco de
contaminações, além de gerar energia ou
Todas as alternativas apresentam correta- biocombustíveis.
mente as vantagens de uma campanha de
4. Resposta: B.
coleta para óleo usado em um município
Pneu pode ser submetido à pirólise, gerar
2. Resposta: B. biochar e bioóleo e recuperar a malha de
aço e “negro de fumo”.
Óleo usado – biodiesel; lodo de esgoto, poda
e capina urbana: combustão, pirólise e ga- 5. Resposta: A.
seificação; pneus – pirólise (bioóleo, biochar
e recuperação do “negro de fumo”). Polímeros podem ser reciclados e/ou gerar
energia por processos térmicos, dependen-
3. Resposta: D. do do mercado.

Todas as alternativas estão verdadeiras,


pois os tratamentos térmicos são garantia
de que as possíveis contaminações sanitá-
rias serão eliminadas, assim as cinzas po-
200/221
Unidade 8
REVISÃO E APLICAÇÕES

Objetivos

Este tema mostrará uma revisão geral e


aplicação prática dos conceitos apresenta-
dos, visando levantar os principais aspec-
tos na produção de alguns biocombustíveis.
Destacaremos a exemplificação em:
1. Produção de biogás.
2. Produção de carvão.
3. Produção de biodiesel.

201/221
Introdução

Ao longo das unidades trabalhadas nesta Tabela 1. Produção de biogás através de diferentes dejetos.

disciplina, verificamos que muitos resíduos Produção de


podem ser convertidos em biocombustível Dejetos Produção diária
Biogás
para gerarem energia renovável. Até o mo-
mento, não nos preocupamos em estimar Bovinos 15,0 Kg.animal-1 270 m3.ton-1
ou calcular o quanto pode ser gerado por
cada processo ou o quanto pode ser pro- Suínos 2,25 Kg.animal-1 560 m3.ton-1
duzido de biocombustível. Faremos, então,
algumas questões para facilitar a compre- Equinos 10,0 Kg.animal-1 260 m3.ton-1
ensão e estimular a complementação dos
Ovinos 2,80 Kg.animal-1 250 m3.ton-1
estudos em Biocombustíveis e Biomassa.
Aves 0,18 Kg.animal-1 285 m3.ton-1
1. APLICAÇÕES Fonte: adaptado de Barreira (1993).

A produção de biogás pode ser a partir de A partir das informações levantadas pelo
dejetos animais. Barreia (1993) elaborou referido autor, e considerando uma proprie-
uma tabela com a produção de biogás de dade com 40 bovinos e 20 suínos, podemos
diferentes dejetos, conforme mostra a Ta- nos questionar:
bela 1.
202/221 Unidade 8 • REVISÃO E APLICAÇÕES
• Quanto biogás pode ser produzido por 1 m3 de biogás equivale a 0,454 kg de GLP,
dia e por mês? então 4860 m3 x 0,454 kg/ m3 = 2206,44 kg
• Quanto GLP poderia ser substituído ou (P13: dividindo por 13 – massa de 1 bo-
por mês? tijão) temos 169 botijões. Se ficar curioso a
respeito do valor financeiro disso, multipli-
• Quanta energia elétrica poderia ser que pelo valor do botijão de GLP da sua re-
gerada por mês? gião.
Primeiramente, vamos observar o caso dos
No que diz respeito à quantidade de ener-
bovinos, então temos os seguintes equacio-
gia que poderia ser produzida, sabendo que
namentos: a quantidade de dejetos é obtida
cada m3 de biogás pode gerar (num motoge-
fazendo: 40 animais x 15 kg/animal = 600
rador) 1,7 kW.h, então, 4860 m3 x 1,7 kW.h/
kg de dejetos. Então, a produção de biogás
m3 = 8262 kW.h/mês ou 8,26 MW.h/mês. Se
é obtida por (0,6 ton x 270 m3) / 1 ton = 162
considerarmos que a energia elétrica pela
m³, cuja base de cálculo é 1 dia. Então em
CCEE é de R$ 221,34, teremos um valor de
um mês temos 4860 m³/mês. Analogamen-
R$ 1.828,46 por mês.
te, fazemos para os suínos, o que resulta em
756 m³/ mês. Vamos aplicar a equação do IPCC, descrita
por:
Para o segundo ponto levantado, temos que
203/221 Unidade 8 • REVISÃO E APLICAÇÕES
E = Popurb * taxa RSU * RSUf * FCM * COU * te degrada (%);
COUF * F * 16/12 F = fração de CH4 no gás de aterro;
Relembrando que: 16/12 = taxa de conversão de carbono em
Popurb = população urbana (média de clien- metano.
tes da churrascaria por dia);
Taxa RSU = taxa de geração de resíduos só- Link
lidos urbanos por habitante, por dia [kg/dia. Os pesquisadores Salomon & Lora publicaram um
pessoa]; artigo (2005) que apresenta estimativas do po-
tencial energético do biogás no Brasil para pro-
RSUf = fração de resíduos sólidos urbanos
dução de energia elétrica. No artigo os autores
depositada em locais de disposição de resí-
usam as fórmulas de estimativa do IPCC. Disponí-
duos sólidos (%);
vel em: <http://www.renabio.org.br/06-B&E-
FCM= fator de correção de metano (% - fra- -v2-n1-2005-p557-67.pdf>. Acesso em: 10
ção adimensional); dez. 2017.
COU = COD = carbono orgânico degradável
no resíduo sólido urbano;
COUF = CODF = fração de COU que realmen-
204/221 Unidade 8 • REVISÃO E APLICAÇÕES
Considere uma cidade com 200 mil habitan- considerando-se que apenas 50% do car-
tes no interior de São Paulo, cuja taxa de re- bono degradável se degradará. Então:
síduo corresponde a 1,1 kg/hab.dia; saben- E = 200000 * 1,1 kg/dia.hab * 0,915* 1 * 0,54
do que 91,5% do resíduo é coletado e será * 0,5 * 0,5 * 16/12
depositado em aterro sanitário (FCM = 1), o
resíduo tem 54% de carbono (pode ter 50 a Assim, E= 36.234 kg de metano por dia ou
65% de carbono na sua composição; con- 1.087.020 kg de metano por mês. Como a
siderando-se trabalhos no estado de SP – massa específica do metano é 0,740 m3/kg
pode variar com a composição do RSU). De- e os motogeradores fazem 1,7 a 1,93 kW.h/
sejamos responder às seguintes questões: m³ de biogás, então, o volume de biogás
mensal será 1.468.945,95 (1087020/0,74)
Quanto será produzido de metano por dia e m3/mês de biogás o que pode produzir
por mês? (considerando-se 1,7 kW.h/m3) 2.497.208
Quanta energia elétrica poderá ser gerada kW.h/mês, que são valores muito eleva-
pela cidade por mês? dos! Considerando-se o valor de R$ 221,34
Qual a receita que poderia gerar ou a des- (CCEE – 03/11/2017), temos um valor de R$
pesa que poderia economizar? 552,732,04 (R$ 221,34/MW.h x 2.497,208
MW.h) por mês de receita ou economia.
Utilizaremos, então, a equação do IPCC,
205/221 Unidade 8 • REVISÃO E APLICAÇÕES
Para saber mais
Há outras fórmulas que estimam a produção de biogás de RSU, como a da Agência de Controle
Ambiental dos Estados Unidos (United States Environmental Protection Agency – USEPA, 2007):
Q = População x Taxa de RSD x RSDf x 0,45 x F
Sendo:
Q = metano gerado [m3/dia];
População = número de habitantes atendidos pelo aterro [habitantes];
Taxa RSD = taxa de geração de resíduos sólidos por habitante por dia [kg RSD/habitante.dia];
RSDf = fração de resíduos sólidos coletados que é depositada nos LDRS [%];
0,45 = volume de biogás gerado por 1 kg de resíduo sólido [m3 biogás/kg RSD];
F = fração de metano no biogás [%].

A vinhaça, também denominada por vinhoto, é um resíduo aquoso da destilação do bioetanol


que contém todas as substâncias não voláteis e algumas voláteis do vinho, podendo produzir 6
m3 de biogás por m3 de vinhaça – dependendo do DQO. Além dessa aplicação, destacamos o uso
da vinhaça em: adubo complementado, produção de proteínas unicelulares, produção de meta-
no por fermentação anaeróbica e reciclo no processo de obtenção de álcool a partir de melaço.

206/221 Unidade 8 • REVISÃO E APLICAÇÕES


A produção de carvão vegetal dependerá da
eficiência do forno e da matéria prima a ser Para saber mais
carbonizada, esta eficiência pode variar en- As vantagens do carvão sobre a madeira (lenha),
tre 35 a 47% - fornos de alto rendimento. material seco (teor de umidade inferior a 8%), são
Assim, se considerarmos uma tonelada de que a lenha está na faixa dos 20% de umidade, na
madeira, teremos, aproximadamente, 350 a lenha há voláteis (faz fumaça), e no carvão não,
470 kg de carvão (biochar), dependendo do os voláteis saem na carbonização (pirólise); há um
forno e da madeira usada. aumento na energia por massa de combustível no
O poder calorífico (inferior e superior) tam- carvão.
bém depende da matéria prima utilizada
para poder estimar a quantidade de energia Na produção de biodiesel, temos a seguinte
a ser liberada com a combustão do carvão. equação fundamental:
X litros de óleo + 0,X litros de álcool (metanol
ou etanol) =
X litros de biodiesel + 0,X litros de glicerina.
Basta trocar o “X” por um número qualquer.
Para facilitar a explanação, suponha que se
207/221 Unidade 8 • REVISÃO E APLICAÇÕES
deseja transesterificar 1000 L de óleo de
soja com 100 litros de metanol. O catalisa-
dor será entre 0,6% e 1% sobre a massa do
óleo vegetal, nesse caso recomenda-se (até
o domínio do processo) trabalhar-se aci-
ma do mínimo 7,5 kg de catalisador para se
produzir 940 litros de biodiesel após a se-
paração das impurezas e aproximadamente
100 litros de glicerina.

Para saber mais


O biodiesel resultante precisará ser lavado para
se retirar o excesso de catalisador, o álcool que
não reagiu e o óleo vegetal que também não se
transformou em biodiesel (estudos indicam que a
eficiência da reação com metanol é por volta de
94%).

208/221 Unidade 8 • REVISÃO E APLICAÇÕES


Glossário
CCEE: A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica fornece os preços semanais para energia
que vão a leilão e são disponibilizados em: <www.ccee.org.br>. Acesso em: 05 dez. 2017.
P13: nome do botijão padrão de 13 kg.
Transesterificação: reação mais utilizada para produzir biodiesel, na qual um éster reage com
um álcool na presença de um catalisador, sob aquecimento (inferior a 105º C) e agitação; resul-
tando biodiesel mais glicerina.

209/221 Unidade 8 • REVISÃO E APLICAÇÕES


?
Questão
para
reflexão

Caso as propriedades rurais produzissem biogás e bio-


diesel para consumo, poderiam se tornam exportadoras
(vendedoras) de energia ao invés de clientes de compa-
nhias de energia elétrica?

210/221
Considerações Finais
• A eficiência da gaseificação é uma das mais altas dos processos térmicos,
estima-se um percentual em torno de 80%.
• As estimativas do IPCC resultam em grandes valores, que nem sempre re-
presentam a realidade de um projeto real.
• Outro autor importante para o biogás e estimativas de produção é Jorge
Lucas Júnior, que atribui outros valores para produção de dejetos animais,
principalmente suínos (mais detalhado) e bovinos. O recomendável é avaliar
qual fonte se adequa mais à realidade do seu projeto para fazer os cálculos
com os valores mais coerentes.

211/221
Referências

ANP. Gás e Biocombustíveis. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/wwwanp/biocombustiveis/


etanol>. Acesso em: 2 dez. 2017.

EPA. Solid Waste Management and Green House Gases – A Life-Cicle Assessment of Emissions
and Sinks. US.EPA. 2002
BARRERA, P. Biodigestores: energia, Fertilidade e Saneamento para a Zona Rural. Icone Edito-
ra, 1993, 106 p.
IPCC. Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories reference Manual, [Revised 1996],
vol. 3. Disponível em: <http://www.ipcc-nggip.iges.or.jp/public/gl/invs6e.htm>. Acesso em: 05
dez. 2017.
HENRIQUES, R. M. Aproveitamento energético dos resíduos sólidos urbanos: uma abordagem
tecnológica. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Rio de
Janeiro, 2004, 190 p. Disponível em: <http://www.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/rachelh.pdf>.
Acesso em: 05 dez. 2017.
LUCAS JUNIOR, J.; SOUZA, C. F.; LOPES, J. D. S. Manual de construção e operação de biodigesto-
res. 1. ed. Viçosa: CPT - centro de Produções Técnicas, 2003. v. 1, 40 p.

212/221 Unidade 8 • REVISÃO E APLICAÇÕES


TOLMASQUIM, M. T (Org.). Fontes Renováveis de Energia no Brasil. Rio de Janeiro: SINERGIA,
2003, 515 p.
YOUNG, G. C. Municipal solid waste to energy conversion processes: economic, technical, and
renewable comparison. John Wiley & Sons. Hoboken, New Jersey, 2010, 394p.

213/221 Unidade 8 • REVISÃO E APLICAÇÕES


Assista a suas aulas

Aula 8 - Tema: Revisão e Aplicações. Bloco I Aula 8 - Tema: Revisão e Aplicações. Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
1d/3a76c0b3fec9297d9624d3800857f64c>. bd154bd77117635bb556490d1f2bb7ab>.

214/221
Questão 1
1. Com relação à produção de gás, analise os seguintes itens:

I. É possível produzir biogás de dejetos animais e suprir parte ou toda a demanda energética da
propriedade.
II. As estimativas de produção de biogás em aterros resultam em valores elevados, que são bas-
tante promissores para projetos de energia.
III. A possibilidade de produzir biogás de vinhaça é real e interessante.
IV. A produção de biogás a partir de dejetos suínos é mais viável frente aos dejetos de vacas lei-
teiras.
Agora, assinale a alternativa que contempla apenas o(s) item(s) correto(s).
a) I, IV.
b) II, III.
c) I, II, III.
d) I e IV
e) II, III, IV.
215/221
Questão 2
2. Assinale com V o item que corresponde a uma matéria-prima utilizada
para a produção de biogás, e F, caso contrário.

( ) Dejetos animais.
( ) Vinhaça.
( ) Esgoto.
( ) Resíduos orgânicos.
( ) Resíduos inorgânicos.
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
a) F, F, V, V, V.
b) F, V, V, F, F.
c) V, V, F, F, V.
d) V, V, V, V, F.
e) V, F, F, V, V.

216/221
Questão 3
3. Acerca da produção de biodiesel, analise os itens:

I. O óleo vegetal influencia nas proporções da estimativa de produção de biodiesel.


II. O álcool (metanol ou etanol) influencia no rendimento da reação de transesterificação.
III. O óleo de soja é o menos eficiente e que ter o menor rendimento na transesterificação do
biodiesel, por isso é o menos utilizado no mundo.
IV. O Sebo bovino não é utilizado para produção de biodiesel no Brasil.
Agora, assinale a alternativa que apresenta o(s) item(s) correto(s).
a) II.
b) I, II, III.
c) II, III.
d) I, IV
e) II, IV

217/221
Questão 4
4. Sobre produção de carvão, é correto afirmar que:

a) Qualquer biomassa tem um rendimento superior a 47% de carvão em fornos convencionais


de carbonização.
b) Tirando o problema da umidade, é fácil transportar o carvão.
c) O carvão não faz fumaça e pode ser usado como corretivo do solo.
d) O carvão vegetal, mesmo seco, faz muita fumaça, por isso não se deve usar em lareira.
e) O carvão vegetal tem poder calorífico muito superior ao carvão mineral, principalmente
quando a madeira é rica em hemicelulose.

218/221
Questão 5
5. Sobre catalisadores na produção de biodiesel, assinale a alternativa
INCORRETA.

a) NaOH e KOH são os mais usados.


b) O catalisador deve ser dissolvido antes no álcool e ambos adicionados ao óleo.
c) O catalisador será na proporção de 0,6 a 1% da massa do óleo ou gordura.
d) O catalisador é retirado após a finalização da transesterificação.
e) O catalisador participa da reação de transesterificação e quanto mais catalisador presente
maior o rendimento da reação.

219/221
Gabarito
1. Resposta: C. na produção de carvão nunca é superior a
47%. Além da umidade a granulometria (ta-
As alternativas I, II e III estão corretas. manho da partícula tem grande influência
sobre o transporte do carvão). O carvão ve-
2. Resposta: D. getal não faz fumaça, pois os voláteis foram
retirados na pirólise e seu poder calorífico é
Todos os itens são matérias-primas utiliza- inferior ao carvão mineral.
das na produção de biogás, com exceção de
resíduos inorgânicos. 5. Resposta: E.
3. Resposta: A. O catalisador participa da reação de tran-
sesterificação e quanto mais catalisador
O álcool (metanol ou etanol) influencia no presente maior o rendimento da reação. O
rendimento da reação de transesterificação. catalisador não participa da reação e nem
altera o rendimento da mesma.
4. Resposta: C.

O carvão não faz fumaça e pode ser usa-


do como corretivo do solo. O rendimento
220/221

Das könnte Ihnen auch gefallen