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Direito Processual Civil Sumários

Parte I

Introdução e Noções Gerais

1. Introdução

O nosso sistema jurídico é constituído por diversas normas, entre elas as normas

jurídicas e as normas morais que se distinguem pelo facto de as normas jurídicas serem dotadas

de coecibilidade.

1.1 Tutela

Meios de Tutela do Direito:

● tutela preventiva

● medidas compulsivas à se alguém desrespeitar certas normas jurídicas o Estado pode


impor coactivamente a realização de determinados comportamentos, através destas normas.

● reconstituição in natura à pretende restituir o lesado a uma situação status quo ante

● reintegração por mero equivalente à quando não é possível a reconstituição in natura,


atribui-se uma indemnização

● compensação à nos casos de violação de danos não patrimoniais

Tipos de Tutela:

Tutela Pública ou Heterotutela vs. Tutela Privada

Havendo uma violação de um direito do cidadão, o Estado coloca à disposição dos cidadãos

meios para reparar essa violação. Está-se, pois, perante a tutela pública.

Contudo, existe a possibilidade de os cidadãos se defenderem dessas violações sem

recorrerem à justiça (tutela privada):

● acção directa (art. 336.º CC)

● legítima defesa (art. 337.º CC)

● estado de necessidade (art. 339.º)

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Ainda assim, estes meios constituem excepções pois por norma tem que se recorrer aos

tribunais, tal como dispõe o art. 1.º.

1.2 Funções do Estado

Funções do Estado:

● Legislativa
● Executiva ou administrativa
● Jurisdicional

† Função Administrativa vs. Função Jurisdicional do Estado

É caracterizada por interpretar a lei como um meio para atingir os objectivos, como o

bem público ou a prossecução do interesse público. Assim sendo, a função administrativa vai

limitar-se a interpretar a lei.

Pelo contrário, a função jurisdicional é caracterizada por interpretar a lei como um fim

último a atingir. Assim, o Estado não age como interessado, age antes como terceiro ou supra-

parte, destinado a resolver os litígios dos particulares.

Embora o Estado esteja sempre disponível a cumprir o seu dever de resolver litígios, é

necessários que as partes levem até ele o conhecimento dos factos, através do pedido,

impulsionando assim o processo. A máquina judiciária só entra em funcionamento quando o

particular a acciona.

2. A Acção, o Processo e o Direito Processual

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2.1 Acção

Ä traduz-se no direito do particular, que se considera lesado e que não pode agir

pela sua própria força, provocar a actividade dos tribunais para que, reconhecendo o

seu direito (de acção), se lhe concede a tutela jurisdicional adequada (art. 2.º, n.º 2)

O particular tem de requerer o direito de acção ao Estado para que assim, através da

petição inicial, possa desencadear uma acção.

Espécies de acção:

1.º Acção declarativa

Diz respeito ao declarar, isto é, visa declarar a existência do direito de declarar.

Tipos ou espécies de acções declarativas (arts. art. 4.º, n.os 1 e 2/a/b/c):

(1) Acções de condenação (art. 4.º, n.º 2/b) à são aquelas que visam exigir a prestação de um

facto quando é violado um direito (ex. acção de dívida, acção de reivindicação)

(2) Acção constitutiva (art. 4.º, n.º 2/c) à tem por fim autorizar uma mudança na ordem jurídica

existente (ex. divórcio, em que se passa do estado de casado para o de divorciado)

(3) Acção de Simples Apreciação (art. 4.º, n.º 2/a) à consiste em obter unicamente a

declaração da existência (positiva) ou inexistência (negativa) de um facto ou direito

Ex. - o senhor A diz que a vaca que está a pastar é dele, mas B diz que esta lhe

pertence. Resolução: simples apreciação positiva à visa declarar a existência de um direito

- o senhor A diz que “aquele” terreno onde o B cultivou é dele e o senhor B contrapõe

dizendo que não existe terreno nenhum. Resolução: simples apreciação negativa

2.º Acção executiva

Diz respeito ao fazer, ao reparar efectivamente a violação, culminando com a designada

sentença condenatória. Assim sendo, tem que haver um título executivo (ex. escritura publica).

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Tipos ou espécies de acções executivas (arts. 4.º, n.º 3 e 45.º, n.º 2):

● pagamento de quantia certa (ex. penhora)

● entrega de coisa certa (ex. entrega de um imóvel)

● prestação de facto (ex. alguém que se comprometeu a pintar um quadro e não o fez)

2.2 Processo

Ä conjunto de actos sequencialmente ordenados entre si tendentes a um

determinado objectivo ou fim, como sendo a resolução de um litígio.

Processo à pro + cedere (prosseguir um fim)

O processo é encarado em várias acepções:

1.ª conjunto de actos que vão ser praticados em juízo, na propositura e no desenvolvimento da

acção

2.ª o processo é identificado como pleito, litígio, demanda, conflito

3.ª o processo identifica-se como um caderno no sentido de auto, quando pedimos para consultar

um processo

2.3 Direito Processual

Ä complexo de normas que regulam o processo, ou seja, conjunto de actos

realizados pelos tribunais e pelos particulares que perante eles actuam ou litigam durante o

exercício de acção jurisdicional

Dentro deste, temos vários tipos:

● Direito Processual Penal

● Direito Processual Fiscal

● Direito Processual do Trabalho

● Direito Processual Civil

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3. Noção de Direito Processual Civil

Ä conjunto de normas reguladoras dos tipos, formas e requisitos de acção civil

bem como das formalidades que devem ser observados em juízo na propositura ou no

desenvolvimento dele.

3.1 Direito Processual Civil vs. Direito Civil

Se pretendemos a resolução definitiva de um caso, temos que nos socorrer do Direito Civil

e não do Direito Processual Civil. Assim, por exemplo, para saber se A deve a B, devemos recorrer

ao Direito Civil.

O Direito Processual Civil é um meio, um instrumento ao serviço do direito substantivo

(Direito Civil), funcionalmente destinado a integrar o Direito Civil.

4. Caracteres do Direito Processual Civil

Œ É um direito instrumental ou adjectivo

Porque constitui um instrumento ao serviço do direito substantivo ou material, não são

as normas de Direito Processual Civil que facultam a resolução, antes devem ir ao Direito Civil

buscar a resolução.

• É um ramo do direito público

Visa atingir um interesse público supremo, que é a paz social e segurança jurídica, não

visando, deste modo, acautelar interesses privados.

5. Fontes de Direito Processual Civil

As fontes de direitos são modos de produção e relevação de normas jurídicas.

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O nosso direito processual civil tem 3 marcos importantes:

Antes de 1876

1.º Período anterior ao movimento da codificação

Código à compilação sistemática de normas

2. Livro 3º das Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas

● não havia critério sistemático, as normas estavam dispersas

● este direito era uma mera fusão do direito e processo romano e canónico

● reflectia certos privilégios de classe

● só se admitiam actos escritos

3.º Surgem 3 diplomas

● reforma judiciaria

● nova reforma judiciaria

● novíssima reforma judiciaria

Segue-se a consagração limitada da oralidade e imediação


â
Surge o Código de 1876

1º Marco - CPC de 1876 à surge no segmento do CC de 1867, do Código de Seabra

● surge a sistematização

● dá-se a concepção dualística ou privatística do litígio (reinava o princípio do dispositivo – o

juiz apenas garantia as regras)

● extrema rigidez do formalismo do processo ordinário à todas as acções tinham que


seguir esta tramitação, este formalismo

● falta de flexibilidade dos esquemas processuais

● redução a escrito de toda a actividade instrutória

● grande relevo atribuído à forma dos actos

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Este Código começa a ser alvo de críticas por parte de um grande processualista, Alberto

de Reis, sendo que tal facto despoletou a criação do Código de 1939.

2º Marco - CPC de 1939

Características:

●na instrução do processo substitui-se o regime da redução a escrito pelo regime da


oralidade

● reconhece-se um papel fracamente activo ao juiz


● introduziu-se a fase do saneamento do processo

Mais uma vez surgem críticas dirigidas aos tribunais colectivas, porque julgavam as

matérias de facto sem nenhuma possibilidade de fiscalização contra os resultados das provas

produzidas
â
Surge o Código de 1961

3º Marco - CPC de 1961

Começou a ser preparado por José Alberto Reis e Antunes Varela sente necessidade de

publicar um novo.

Características ou diferenças relativas ao anterior:

● substituíram-se os processos preventivos e conservatórios pelos procedimentos


cautelares

● institucionalização da figura dos articulados supervenientes

● possibilidade de gravar depoimentos

● separação da discussão da matéria de facto da discussão do aspecto jurídico de causa

Tendências actuais:

● admissibilidade da prática dos actos das partes por intermédio da telecópia (fax) ou por
correio electrónico

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● notificação judicial entre mandatários

● favorecimento da formação do título executivo (injunção) à DL n.º 269/98, de 1 de


Setembro

● introdução da figura do Solicitador de Execução

● tentativa de solucionar litígios através da figura da alteração alternativa de litígios (ex.


julgados de paz e mediador)

6. Princípios Fundamentais do Direito Processual Civil

Estes princípios visam orientar o legislador nas opções de política legislativa, configuram-

se, deste modo, como traves mestras.

Em 1939, o CPC consagrava os seguintes princípios:

● Princípio do Dispositivo

● Princípio do Contraditório

● Princípio da Preclusão

● Princípio da Economia Processual

● Princípio da Aquisição Processual

● Princípio da Oralidade

● Princípio da Imediação

● Princípio da Livre Apreciação das Provas

Contudo, havia necessidade de desenvolver estes princípios supra. Assim, o CPC de 1961

veio consagrar e desenvolver outros princípios para além dos mencionados:

● Princípio da Economia Processual (arts. 31.º-A, 31.º-B, 274.º, n.º 3 e 460.º)

● Princípio da Oficiosidade (art. 265.º)

● Princípio da Estabilidade da Instância (arts. 268.º, 273.º e 264.º, n. os 2 e 3)

Realçou:

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● Princípio da Igualdade das Partes (art. 3.º-A)

● Princípio da Boa Fé Processual (art. 266.º-A)

● Princípio da Cooperação

● Princípio da Adequação Formal (art. 265.º-A)

Com estas alterações, o legislador pretendeu atingir determinados objectivos:

● instrumentalidade do processo civil relativamente ao direito substantivo

● privilégio à obtenção de uma decisão de mérito sobre as decisões de pura forma

● resolução dos litígios dentro de um prazo razoável

Princípios:

1.º Princípio do Dispositivo

É um princípio que atravessa todo o CPC, encontrando-se disperso por várias normas

judiciárias. Porém, encontra-se consagrado expressamente no art. 3.º, n.º 1.

Existe uma materialização do Princípio do Dispositivo que é feita através do Princípio do

Ónus do Impulso Processual Inicial à este princípio vai condicionar o objecto do processo.

esta necessidade de formulação do pedido vai conformar o objecto do processo, ou seja, o juiz só

pode decidir o processo sobre aquilo que as partes dão a conhecer ao juiz

Consequências:

(1) assume-se como conformação do objecto do processo àconsagrado nos arts. 661.º e 668.º/e,

o juiz só pode condenar dentro dos limites que se pedir

(2) o processo só se inicia sobre o impulso da parte e não sobre o impulso do juiz. No Processo

Penal o Estado pode, ele próprio, avançar se estiver conhecimento, em crimes semi-públicos e

públicos

(3) as partes, através do pedido e da defesa, circunscrevem o thema decidendum à o juiz não

tem que saber se àquela acção em concreto conviria uma causa de pedir diversa da apresentada

pelo autor

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Causa de pedir factos concretos que servem de fundamento à pretensão formulada pelo

autor &

Pedido é a pretensão de tutela jurisdicional formulada pelo autor (ex. acção de divórcio

litigioso devido a adultério. Causa de pedir – violação do dever de fidelidade; pedido – divórcio em

si)

(4) tal como para a instauração do processo se exige o pedido da parte (impulso processual

inicial) também o seu ordenamento ulterior depende da solicitação das partes (impulso processual

subsequente)

(5) as partes podem por termo ao processo e determinar o conteúdo da sentença de mérito

(desistência da instância (desistência do processo), desistência do pedido (desiste do processo

e da acção, não podendo pedir novo processo igual), confissão (confirmação do que as partes

afirmam) e transacção (negócios jurídicos processuais)

(6) a adução (trazer para o processo) do material de facto a utilizar pelo juiz para a decisão do

litígio só compete as partes

(7) a matéria de facto não é decidida e acordo com a livre convocação do juiz mas segundo aquilo

que resultar de rígidos critérios legais, ou seja, não vigora o critério da prova livre, mas sim o

sistema de prova legal.

Limitações:

(1) factos notórios (ex. quando, num processo, uma parte está grávida – art. 514.º, n.º 1)

(2) factos que o tribunal tem conhecimento em virtude do exercício das suas funções (art. 514.º,

n.º 2)

2.º Princípio do Contraditório (art. 3.º, n.º 1)

É um princípio que se encontra disperso ao longo de todo o CPC e consiste na possibilidade

de dar à parte contrária a hipótese de se pronunciar no processo em questão.

Revela-se em três domínios:

Œ Domínio dos Factos à os actos alegados por uma das partes podem ser contestados pela

outra parte

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Articulados:

● petição inicial (autor)

● contestação (réu)

● tréplica (autor)

● réplica (réu)

● articulados supervenientes à factos que surgiram posteriormente à fase dos articulados


(articulado excepcional)

• Domínio da Prova à de acordo com este princípio, as partes devem, em posição de igualdade,

de poder propor no processo todos os meios de prova constituendos (ainda vão acontecer –

ex. testemunhar) ou a ele juntar todos os meios de prova pré-constituendos (ex. documentos

adicionais à petição)

Ž Domínio do Direito à o Princípio do Contraditório exige que antes de ser proferida a

sentença, seja facultada às partes a discussão em que a decisão se baseia, ou seja, não se deve

lançar mão das decisões surpresa.

3.º Princípio do Inquisitório (art. 265.º, n.º 3)

Este princípio caracteriza-se por permitir que o tribunal investigue e esclareça os factos

relevantes para a apreciação da acção e que lhe é lícito conhecer.

Exemplos:

● o tribunal pode chamar uma testemunha que não foi indicada por nenhuma das partes
● o tribunal pode determinar a junção ao processo de documentos necessários à descoberta
da verdade material

●o tribunal pode ordenar a realização da prova pericial, porém, esta prova também pode
ser requerida pelas partes

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4.º Princípio da Preclusão

Uma vez ultrapassada uma determinada fase processual, as partes deixam de poder

praticar os actos que aí deveriam inserir-se.

Uma vez exercido um prazo que haja sido fixado por lei ou determinado pelo juiz,

extingue-se o direito de praticar o acto.

Fases de um processo ordinário e sumário:

1.º articulados

2.º saneamento e condensação do processo

3.º instrução (direito probatório)

4.º audiência de discussão e julgamento

5.º sentença

Assim sendo, segundo este princípio, uma vez ultrapassada uma desta fases, as partes

deixam se poder praticar os actos que aí deveriam inserir-se.

Derrogações ou excepções ao Princípio da Preclusão:

● justo impedimento

● articulados supervenientes

5.º Princípios da Cooperação e da Boa Fé

De acordo com o art. 644.º e com a Portaria n.º 799/2006, de 11 de Agosto, podemos

pedir uma indemnização de 1/16 ou 1/8 unidade de conta.

† Princípio da Cooperação (art. 266.º)

Materializações deste princípio:

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● conjugação de esforços tendentes a agendar as diligências judiciais para datas em que se


compatibiliza os diversos interesses (art. 1551.º, n.º 1)

● art. 155.º, n.º 4


● art. 155.º, n.º 5

† Princípio da Boa Fé (art. 266.º-A)

Assume dois sentidos:

1.º positivo (princípio da cooperação)

2.º negativo (litigância de ma fé) à art. 102.º-A do Código das Custas Judiciais e art.

456.º

Comportamentos não se podem ter em tribunal (art. 254.º e também o art. 457.º, n.º 1/a/b):

● dolo e negligência grave

● alterar factos ou inventar

● tiver praticado omissão do dever de cooperação

● expedientes

Consequências:

- a multa é fixada entre 192€ e 9.600€

- indemnização simples ou agravada (art. 457.º, n.º 1/a/b)

- art. 459.º (responsabilidade do mandatário)

6.º Princípio da Economia Processual

Segundo este princípio, deve procurar-se o máximo resultado processual com o mínimo de

emprego de actividade, ou seja, cada processo deve resolver o máximo de litígios possíveis e

comportar apenas os actos e formalidades indispensáveis ou úteis (economia de actos e economia

de formalidades).

● arts. 137.º e 138.º à economia de actos e formalidades

● arts. 30.º, 31.º, 274.º, n.º 3 e 471.º à economia de processo

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● art. 265.º-A à Princípio da Adequação Formal

7.º Princípio da Celeridade Processual

Segundo este princípio, o processo deve ser organizado em termos de se chegar à sua

natural conclusão.

Materializa-se em:

● brevidade dos prazos

● repressão do dolo instrumental

8.º Princípio da Igualdade das Partes (art. 3.º-A CPC e art. 13.º da CRP)

A nível económico este princípio é potenciado pelos tribunais através da Lei n.º 47/2007,

de 28 de Agosto, garantindo, assim, apoio judiciário.

Parte II

Formas de Processo Civil

1. Noção e Pluralidade das Formas de Processo Civil

Formas de Processo Civil é o conjunto ordenado de actos a realizar, bem como das

formalidades a cumprir tanto na propositura da acção como no desenvolvimento da mesma.

Existe um princípio a que esta temática obedece: Princípio das Tipicidade Legal das

Formas de Processo.

Segundo este princípio, para recorrermos a tribunal temos de recorrer a uma forma de

processo previsto na lei. As partes não podem adaptar a forma de processo como bem entendem.

A Variedade das Formas de Processo Civil depende de vários factores:

1.º factor: tipo de providência requerida à tipo de providência que condiciona o processo

declarativo ou executivo

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2.º factor: valor dos interesses em jogo à de acordo com este factor, vê-se a diferença entre

o processo ordinário e processo sumário

3.º factor: natureza da relação material à chega-se à conclusão da forma de processo que

iremos utilizar Ä relação subjacente que as partes quiseram colocar em tribunal

Dentro deste factor podemos ter:

● processo sumaríssimo

● processo de execução (pagamento de quantia certa, entrega de coisa certa ou prestação

de facto)

2. Processo Comum e Processos Especiais (art. 460.º)


â â
processo regra constituem as excepções

(art. 460.º) (arts. 944.º e ss)

Nota: os processos especiais também podem constar de lei avulsa

Exemplos de Processos Especiais:

● processo de interdição e inabilitação (arts. 944.º e 958.º)

● processo de despejo (art. 14.º do novo RAU)

● processo de inventário à partilhar os bens de alguém com o divórcio litigiosos ou com a

morte de alguém (arts. 1326.º a 1406.º)

● processo de divórcio ou separações litigiosas

Nota: não basta identificar o processo especial

3. Processo de Declaração e Processo de Execução

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Processo Declarativo usa-se quando se visa obter a declaração judicial da solução

concreta que resulta da lei para situação real trazida a juízo pelo requerente.

Tal processo diz respeito ao dizer, ao dictum.

Processo Executivo usa-se quando se pretende dar realização material coactiva às decisões

judiciais, às prescrições oficiais ou às estipulações negociais que no plano do Direito Privado dela

necessitam.

Tal processo diz respeito ao fazer, ao factum (ex. penhorar algo).

Nota: o processo de execução tem, por via de regra, um processo declarativo anterior (ex. nos

procedimentos cautelares, tal como o arresto – aqui existe uma fase declarativa (o requerente

avança para o tribunal com o requerimento do arresto) e existe também uma fase executiva

(apreensão judicial dos bens)).

Situações em que ao processo declarativo não se segue um processo executivo:

● a acção é julgada definitivamente improcedente (ex. A vai a tribunal pedir o pagamento


do crédito a B, mas o juiz decide que B não lhe deve, a acção não dá razão ao autor logo é

improcedente)

● absolvição do réu da instância (decisão puramente processual – o juiz nem sequer se


pronuncia acerca da situação que foi levada a tribunal), absolvição do réu no pedido (é uma

decisão quanto ao fundo ou mérito da questão)

● acções de simples apreciação ou acções constitutivas em que o efeito jurídico pretendido


pelo autor se esgota com a decisão do juiz (art. 4.º)

● cumprimento voluntário (ex. B é condenado a pagar a quantia de 15.000€ a B e, sem mais,


paga-a imediatamente)

● acordo (as partes decidem pôr termo ao litígio através de acordo), a não ser que haja
incumprimento do acordo

Situações em que um processo executivo não precedeu um processo executivo:

● casos em que não existe uma sentença condenatória mas sim outro título executivo, tal

como letras, livranças, escrituras públicas…

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Nota: despacho (decisão a meio de um processo) ≠ sentença (decisão final quando termina o

processo)

4. Processos Comuns de Declaração Ordinário, Sumário e Sumaríssimo

Aqui estamos no âmbito dos processos comuns declarativos.

Tanto o processo ordinário como o sumário e o sumaríssimo passam por várias fases.

Assim, os processos ordinário (arts. 467.º a 782.º) e sumário (arts. 783.º a 791.º) são

constituídos por cinco fases:

1.º articulados

2.º saneamento e condensação do processo

3.º instrução

4.º audiência de discussão e julgamento

5.º sentença

Já o processo sumaríssimo (arts. 793.º a 800.º) é tão só constituído por três fases:

1.º articulados

2.º audiência de discussão e julgamento

3.º sentença

Quando é que se aplica o processo ordinário, o sumário e o sumaríssimo?

Devemos ter em conta o art. 462.º, sendo que a par desse devemos ter igualmente em

conta a noção de alçada. Assim, podemos entender por alçada o limite dentro do qual o tribunal

julga sem admissibilidade de recuso ordinário; quando esse valor é ultrapassado, o tribunal deixa

de ter competência.

Valores (art. 24.º da LOFTJ):

● alçada do Tribunal de 1.ª Instância à 5.000€

● alçada do Tribunal da Relação à art. 30.000€

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Assim…

… o processo ordinário emprega-se quando o valor da alçada é superior a 30.000€

… o processo sumário emprega-se quando o valor da alçada é igual ou inferior a 5.000€

… o processo sumaríssimo emprega-se tendo em conta o valor da alçada, que é inferior a 5.000€,

e atendendo, igualmente, à natureza da relação:

● entrega de coisa móvel


● indemnização pelo dano
●cumprimento de obrigações pecuniárias (mas, se houver um procedimento especial,
previsto no art. 1.º do DL n.º 269/98, de 1 de Setembro, afasta-se o processo sumaríssimo

– ex. contrato)

Basta que apenas se verifique um destes factores para estarmos perante um processo

sumaríssimo. Contudo, na mesma acção os três factores podem estar presentes.

Mesmo que obedeça a um dos critérios mas se o valor for superior a 5.000€, o processo

já não será sumaríssimo.

Se o valor não exceder os 5.000€ e, se por exemplo, for entrega de uma coisa imóvel e

não móvel, então não estaremos perante um processo sumaríssimo.

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Nota: todas as acções se instauram no Tribunal de 1.ª Instância, também designado Tribunal de

Comarca

5. Regime dos Procedimentos para Cumprimento de Obrigações Pecuniárias Emergentes de

Contratos de Valor não Superior à Alçada da Relação (a Injunção)

Encontrando-se regulado no DL n.º 269/98, de 1 de Setembro, este regime aplica-se

quando em causa está o cumprimento de uma obrigação pecuniária, sempre que exista um

contrato e se esse contrato tiver um valor até 15.000€

Mas, visto só se destinar ao cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de

contrato, se houver lugar a indemnização não se poderá aplicar de todo este regime.

Arts. 6.º e ss à fase declarativa

Arts. 7.º e ss à fase executiva

No art. 7.º encontra-se a noção de injunção. Esta visa a obtenção célere de um título

executivo, permitindo avançar para um processo executivo. De referir ainda que com a injunção

não há precedência do processo declarativo.

Quem é competente para receber esse processo de injunção? Esse processo não vai, sequer,

às mãos do juiz. Quem é competente é o secretário ou de injunções ou judicial no caso de não

existirem secretarias de injunção, nos termos do disposto no art. 8.º, n. os 1 e 4 do predito

diploma.

Com isto o legislador pretendia um maior descongestionamento dos tribunais judiciais.

Contudo, isto não passou de um cenário utópico dado que no âmbito da injunção basta haver

oposição da outra parte para que a acção vá para tribunal: havendo oposição, há lugar a um título

executivo. Deste modo, já não há injunção junto de um secretariado mas sim junto de um

tribunal, o que irá contribuir para um maior congestionamento dos mesmos.

Diplomas importantes:

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Direito Processual Civil Sumários

● Portaria n.º 808/2005, de 9 de Setembro (aprova o modelo de injunção)

● Portaria n.º 809/2005, de 9 de Setembro (aprova as formas de apresentação do


requerimento)

● Portaria n.º 810/2005, de 9 de Setembro

● Portaria n.º 728-A/2006, de 24 de Julho (veio alterar a Portaria n.º 809/2005, de 9 de


Setembro) à veio permitir enviar, através de formato digital, a entrega da apresentação do

requerimento

Artigos preponderantes do diploma em apreço:

● art. 10.º à forma e conteúdo da injunção

● art. 12.º à notificação da injunção

A injunção dá entrada e, no prazo de 5 dias, o secretário deve enviar uma carta registada

para o requerido, o qual pode fazer, dentro de 15 dias, uma de três coisas:

1.º nada fazer (e aí a injunção passa automaticamente a título executivo)

2.º pagar

3.º pode deduzir a apreciação

● arts. 14.º e 15.º à aposição da forma executória (quando o requerido opta por “nada
fazer” e oposição (aí o requerente tem que avançar para uma nova petição inicial)

● art. 16.º à distribuição (de forma aleatória distribui-se o serviço do tribunal pelos
magistrados desse tribunal

● art. 17.º à termos posteriores à distribuição (depois da distribuição segue-se a forma


própria do processe declarativo, previstos nos arts. 1.º a 6.º, começando-se pelos articulados

e seguindo-se logo a audiência – o juiz tem um prazo de 30 dias para marcar uma audiência e,

no dia da audiência, é marcada logo uma sentença)

Nota: neste regime não há réu nem autor, mas sim requerente (aquele que requer a injunção) e

requerido (aquele contra o qual a injunção é requerida)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

† Análise do Processe Executivo

Toda a execução tem por base um título pelo qual se determina o fim e os limites da acção

executiva (art. 45.º, n.º 1 CPC).

Tipos de acções executivas (art. 45.º, n.º 2):

● acções para pagamento de quantia certa (arts. 810.º a 923.º CPC)

● acções para entrega de coisa certa (arts. 928.º a 931.º CPC)

● acções para prestação de facto (arts. 933.º a 942.º CPC)

Título executivo documento escrito constitutivo ou certificativo da obrigação que,

mercê da especial força provatória que se encontra munido, torna dispensável o processo

declarativo (ou novo processo declarativo) para certificar a existência do direito do portador.

Nota: para se ter um título executivo ele tem que estar previsto no art.46.º CPC

Espécies de títulos executivos (art. 46.º CPC):

Œ sentenças condenatórias (art. 46.º, n.º 1/a) à condenam na prestação de algo.

Abrangem:

● sentença à proferida por um juiz singular


● acórdão à quando proferido por um tribunal colectivo
●despacho à condenam na prestação de algo, dada a sua característica de exequibilidade
(característica comum do título executivo)

● decisões dos tribunais arbitrais à uma decisão do tribunal que não é cumprida pode levar
a um título executivo (art. 46.º, n.º 1/a à arts. 48.º e 49.º)

Notas:

● art. 47.º à a sentença só constitui um titulo executivo quando transitada em julgado,


quando não é admissível recurso ordinário ou reclamação (art. 677.º, 668.º e 669.º)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

● as decisões podem ser impugnadas através de recurso para o tribunal superior que
proferiu a decisão, ou mediante reclamação para o próprio tribunal que proferiu a decisão

(vide arts. 678.º e 685.º)

● prazo para interposição de recurso (30 dias – art. 685.º) à se esse prazo for
ultrapassado, a decisão transita em julgado

● art. 47.º, n.º 1 à o recurso tem efeito suspensivo; quando se suspendem os efeitos da
decisão recorrida, tem que se esperar pela decisão final.

● art. 692.º à um recurso tem efeito meramente devolutivo à quando não se tem que
esperar pela decisão final

• documentos exarados ou autenticados por notário ou serviço com competência para a prática

de actos de registo (art. 46.º, n.º 1/b)

Os actos, como por exemplo, uma habilitação de herdeiros, podem ser feitos numa

Conservatória de Registo Civil, designando-se de títulos executivos.

Outrora, apenas as escrituras públicas eram tidas como títulos executivos porém,

actualmente, também os actos emitidos pelas Conservatórias de Registo Civil o são.

Documento autêntico à ex. escritura pública

Documento autenticado à ex. documentos que as partes submetem a apreciação, tal como

fotocópia de certificado

Ž documentos particulares assinados pelo devedor (art. 46.º, n.º 1/c) à documentos emitidos

pelo devedor, tais como cheques, livranças, declarações de dívida, facturas emitidas, etc.

• documentos particulares a que seja atribuída força executiva (art. 46.º, n.º 1/d) à ex.

requerimento de injunção

Nos processos executivos também temos processos especiais e comuns:

(1) Processo Executivo Especial à ex. processo de execução de alimentos (arts. 1118.º a 1121.º),

processo de despejo na sua fase executiva (arts. 14.º e 15.º do RAU)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

(2) Processo Executivo Comum à este processo segue forma única, prevista no art. 465.º

6. Processos de Jurisdição Voluntária e Processos de Jurisdição Contenciosa


â â

Exemplos de Processo de Jurisdição Voluntária (arts. 1409.º e ss):

● providências relativas aos filhos e aos cônjuges (arts. 1412.º a 1418.º)

● separação ou divórcio por mútuo consentimento (arts. 1419.º a 1424.º)

● processos de suprimento (arts. 1425.º a 143.º)

● etc.

Diferenças entre estes dois Processos de Jurisdição:

1.ª Diferença

●nos Processos de Jurisdição Contenciosa há um conflito de interesses entre as partes,


(credor vs. devedor, proprietário vs. possuidor, locador vs. Locatário), que ao tribunal

cumpre dirimir, solucionar de acordo com os critérios estabelecidos no direito substantivo

● nos Processos de Jurisdição Voluntária não há um conflito de interesses a compor mas um


só interesse a regular (ex. regulação do poder paternal)

2.ª Diferença

●nos Processos de Jurisdição Contenciosa o tribunal é chamado a exercer a função


jurisdicional própria dos órgãos judiciários, elaborando e formulando a decisão que decorre

do direito substantivo aplicado

●nos Processos de Jurisdição Voluntária a função exercida pelo juiz não é de intérprete
e de aplicador da lei, mas de verdadeiro gestor de negócios. É por isso que se diz que no

processo de jurisdição voluntária a função do juiz é de natureza administrativa e não tanto

de natureza jurisdicional

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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Princípios do Processo de Jurisdição Voluntária:

1.º Princípio do Inquisitório (art. 1409.º, n.º 2)

O Processo de Jurisdição Contenciosa rege-se pelo art. 664.º, ou seja, pelo Princípio do

Dispositivo, enquanto que o Voluntário se rege pelo Princípio do Inquisitório.

No Processo de Jurisdição Voluntário o juiz pode investigar livremente.

2.º Predomínio da Equidade sobre a Legalidade (art. 1410.º)

No Processo de Jurisdição Contencioso o juiz deve decidir unicamente segundo a lei,

nos termos do consignado no art. 659.º, n.º 3, in fine, enquanto que no Processo de Jurisdição

Voluntária não há predomínio da legalidade mas sim da equidade.

3.º Livre Modificabilidade das Decisões ou das Providências de Jurisdição Voluntária (art.

1441.º, n.º 1)

Enquanto que no Processo de Jurisdição Voluntária as decisões ou providências poderão

ser alteradas, no Processo de Jurisdição Contencioso há um esgotamento das decisões, tal como

estatui o art. 666.º.

4.º Inadmissibilidade de Recurso para o STJ (art. 1411.º, n.º 2 vs. art. 678.º, n.º 1)

7. Incidentes da Instância

Ä toda a ocorrência anormal e extraordinária, acidental e estranha, que surge na

relação processual e que dê origem à formulação de um processo próprio ou autónomo.

Pressupõe a resolução de uma questão secundária mas que, sendo acessória da questão

principal, importa resolver.

Incidentes da instância previstos no CPC:

1.º verificação do valor da causa (arts. 305.º a 319.º)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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2.º intervenção de terceiros:

● intervenção principal espontânea (arts. 320.º a 324.º)

● intervenção principal provocada (arts. 325.º a 329.º)

● intervenção acessória provocada (arts. 330.º a 333.º)

● intervenção acessória do MP (art. 334.º)

● intervenção acessória espontânea ou assistência (arts. 335.º a 341.º)

● oposição espontânea (arts. 342.º a 346.º)

● oposição provocada (arts. 337.º a 350.º)

● oposição mediante embargo de terceiros (arts. 351.º a 359.º)

3.º habilitação (arts. 371.º a 379.º)

4.º incidente de liquidação (arts. 378.º a 380.º-A)

Característica comum:

Todos eles se submetem a disposições de carácter geral (arts. 302.º a 304.º)

Ideias a ter em conta:

Œ a regra geral está contida no art. 302.º

• os incidentes são despoletados através de requerimento (art. 303.º, n.º 1)

Ž a parte contrária pode lançar mão da oposição, contando que o faça no prazo de 10 dias a partir

do momento em que é notificado (art. 303.º, n.º 2)

• quer o requerimento quer a oposição são articulados (vide art. 151.º, n.º 2)

• a limitação legal de testemunhas por cada facto é de 3, de um total de 8 testemunhas, nos

termos do que estipula o art. 304.º, n.º 1

Relativamente ao número de testemunhas em cada processo:

● arts. 632.º e 633.º à Processe Ordinário

● art. 789.º à Processo Sumário

● art. 796.º à Processo Sumaríssimo

1.º Incidente de Verificação do Valor da Causa

Toda a acção tem que ter um valor em geral.

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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Funções:

(1) o valor serve para se determinar, em certos casos, a competência d tribunal

Ex. - varas cíveis de Lisboa à valor superior a 30.000€

- juízos cíveis de Lisboa à decidem questões de valores entre 5.000,01€ e

30.000€

- juízos de pequena instância à valor de 0,01€ a 5.000€

(2) o valor serve para se verificar a forma de processo comum aplicável

(3) o valor serve para se saber se a causa excede o valor da alçada do tribunal e, portanto, se há

admissibilidade de recurso ordinário

(4) o valor serve para se apurar o montante das custas e demais encargos legais

Critério geral para se saber o valor da causa: o valor deve representar a utilidade económica

imediata do pedido (art. 305.º, n.º 1, in fine).

Mas, a par deste critério existem critérios especiais:

● art. 306.º, n.º 1, 1.ª parte


● art. 306.º, n.º 1, 2.ª parte
● pedidos cumulativos (art. 306.º, n.º 2 à art. 470.º)
● pedidos alternativos (art. 306.º, n.º 3, 1.ª parte à art. 468.º)
●pedidos subsidiários (art. 306.º, n.º 3, in fine à art. 496.º) à nota: só se atendem a
estes pedidos após o pedido formulado em primeiro lugar)

A par destes critérios especiais, devemos ter ainda em conta os que estão previstos no

art. 307.º, tal como as acções de despejo, em que o seu valor é o da renda anual.

Outros artigos a ter em conta são: arts. 309.º, 310.º, 311.º e 312.º (este artigo é muito

importante).

Ideias finais deste incidente:

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

● o réu pode impugnar o valor atribuído pelo autor (art. 314.º, n.º 1) à ex. numa acção de
divórcio o autor dá um valor de 5.000€, mas o valor tem que ser de 30.000,01€, nos termos

do disposto no art. 312.º

● compete ao juiz fixar o valor da causa de acordo com o art. 315.º, n.º 2

2.º Incidente de Intervenção de Terceiros

Œ Intervenção Principal e Acessória


â Ä

• Intervenção Espontânea e Provocada


â Ä

Exemplos:

(1) intervenção acessória espontânea (assistência) à o sublocatário pode intervir como

assistente do réu no âmbito de uma acção de despejo

(2) intervenção principal provocada à ocorre um acidente de viação em que é interveniente

um veículo que é matriculado em país estrangeiro. O acidentado não culpado pode demandar a

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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seguradora estrangeira desse veículo e pode, igualmente, requerer a intervenção do Gabinete

Português de Carta Verde como garante da obrigação de indemnizar

(3) oposição mediante embargos de terceiros à numa acção executiva é penhorado um bem de

terceiro que não responde pela dívida. Esse terceiro pode defender o seu direito de propriedade

através de embargos de terceiros

3.º Incidente de Habilitação

Este incidente (que é o que mais perturba) visa, na pendência de uma causa, habilitar no

processo os sucessores da parte falecida para com eles prosseguirem os termos da demanda (art.

371.º, n.º 1).

Este incidente é autuado por apenso a menos que a qualidade de herdeiro já tenha sido

declarada em outro processo ou reconhecida em habilitação notarial, casos em que se processa

nos autos com base na junção da certidão de sentença ou da junção da escritura de habilitação.

Apenso número de processos acessórios (ex. processo n.º 969/07.OTYPRT; 969/

07.OTYPRT-A; 969/07.OTYPRT-B; ou seja, é o processo principal e os apensos que acompanham

aquele e que vão surgindo ao longo do processo)

4.º Incidente de Liquidação

É um incidente destinado a tornar líquido um pedido genérico quando este se refira a uma

universalidade ou consequências d um facto ilícito, segundo o articulado no art. 378.º, n.º 1.

Pedido genérico é o que a lei faculta que seja formulado sempre que o conteúdo da

relação jurídica é ainda susceptível de determinação no momento da instauração da acção (art.

471.º)

7. Procedimentos Cautelares (arts. 2.º, n.º 2, in fine – em tese geral)

Ä estes meios de tutela estão previstos nos arts. 380.º a 427.º

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

Os procedimentos cautelares são distintos das acções que vêm previstas no art. 4.º. E,

contrariamente a estas, não têm autonomia.

Providências cautelares ≠ Procedimentos cautelares


â â

Importância prática desta figura

Estas figuras retiram a sua importância prática não da sua capacidade autónoma de, per

si, resolverem um conflito de interesses, mas antes:

● da enorme utilidade que revestem de modo a prevenir violações graves e de difícil


reparação

● da possibilidade conferida de antecipação de determinados efeitos das decisões


judiciais, ou

● da prevenção de prejuízos que, não rara vezes, advém da demora da decisão definitiva

Características dos Procedimentos Cautelares:

● falta de autonomia

● eles são instrumentos dado que não tutelam direitos, visando antes e tão só acautelar os
efeitos úteis da decisão final, mas todo o processo é instrumental. Apesar disto, a doutrina

defende que a esta característica se deveria acrescentar uma outra: instrumentalidade

hipotética, segundo a qual os procedimentos cautelares são emitidos na hipótese de vir a ser

favorável ao autor a decisão a proferir no processo principal

● são provisórios, isto é, têm uma duração limitada no tempo, só existindo até que a decisão

seja proferida, caducando nessa altura

● são dotados de celeridade. De facto, devem ser rápidos e expeditos

● têm uma estrutura simplista

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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Nota: ver art. 16.º do Regime Processual Civil Experimental

Pressupostos comuns a todos os Procedimentos Cautelares:

1.º fumus boni iuris à probabilidade séria da existência do direito invocado, ou seja, o juiz não

deve estar logo à espera das provas absolutas

2.º periculum in mora à fundado receio de lesão grave e dificilmente reparável

Ónus da proposição da acção: este recai sobre o autor e surge como contrapartida à acção

pretendida por este

† Procedimento Cautelar Comum

Assume um lugar de destaque por via do art. 392.º, dado que se aplicará subsidiariamente

a todos os procedimentos cautelares especificados ou nominados.

Requisitos:

1.º fumus boni iuris (art. 387.º, n.º 1) à sempre que hajam indícios por questões de celeridade

2.º periculum in mora (arts. 381.º, n.º 1 e 387.º, n.º 1) à só as lesões graves e de difícil

reparação é que podem ser acauteladas, isto é, ficam excluídas as lesões de difícil reparação mas

que não sejam graves ou de gravidade reduzida, e as lesões que ainda que graves sejam de fácil

reparação. Contudo, de referir que essas lesões devem ser iminentes e actuais, não se podendo

reparar as lesões ultrapassadas

3.º adequação da providência solicitada à situação de lesão iminente (art. 381.º, n.º 1) à o

procedimento a requerer deve ser adequado à remoção do periculum in mora concretamente

verificado. Através disto pode-se obter:

● autorização para a prática de determinados actos


●intimação para que ele se adapte a determinada conduta ou que ele se abstenha de
determinada conduta

●pode-se visar a entrega de bens móveis ou imóveis que constituam o objecto da acção a
um terceiro, seu fiel depositário…

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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4.º o prejuízo que resulte do decretamento da providência não deve ser superior ao dano que

com ela se pretende evitar (art. 387.º, n.º 2) à faz apelo a um juízo de proporcionalidade, ou

seja, o juiz não deve decretar ao arguido um dano superior ao que se pretende evitar

5.º a providência a obter não deve estar abrangida por qualquer outro dos procedimentos

cautelares (art. 381.º, n.º 3) à carácter subsidiário do procedimento cautelar comum, o que

significa que o requerente de um procedimento cautelar não pode requerê-lo se não estiver

previsto na lei. Deste modo, está aqui implícito o Princípio da Tipicidade

Tramitação Legal Processual:

(1) art. 382.º, n.º 1 à os procedimentos cautelares podem ser decididos nas férias judiciais se

tiverem carácter urgente (vide art. 12.º LOFTJ e art. 144.º CPC)

(2) art. 382.º, n.º 2

(3) art. 383.º, n.º 1 à preliminar (procedimento cautelar antes da acção principal) ou incidente

(acção principal antes do procedimento cautelar)

(4) art. 383.º, n.º 1, in fine à pode haver um procedimento cautelar no âmbito de ma acção

declarativa ou executiva

(5) quem pode requerer? Por norma é o autor mas o réu também o pode fazer numa única

situação: reconvinte (aquele que deduz a reconvenção); reconvindo (aquele contra o qual é

deduzida a reconvenção)

(6) art. 384.º, n.º 1 à com a petição inicial devem logo indicar-se os meios de prova

(7) art. 385.º, n.º 1 à regra: audiência do requerido; excepção: procedimento cautelar decretado

antes da audiência do requerido (ex. arresto)

(8) art. 385.º, n.º 2 à alusão à oposição (prazo de 10 dias) – vide art. 383.º, n.º 3

(9) art. 384.º, n.º 3 por remissão dos arts. 302.º a 304.º à número de testemunhas (8 no total e

3 em cada facto)

(10) arts. 390.º, n.º 2 e 387.º, n.º 3 à o tribunal pode obrigar o requerente para prestar uma

caução ao requerido

(11) art. 388.º, n.º 1/a/b à o requerido pode deduzir a oposição ou recorrer

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† Procedimentos Cautelares Especificados

● restituição provisória de posse (arts. 393.º a 395.º)


● suspensão de deliberações sociais (arts. 396.º a 398.º)
● alimentos provisórios (art. 399.º a 402.º)
● arbitramento de reparação provisória (art. 403.º a 405.º)
● arresto (arts. 406.º a 411.º)
● embargo de obra nova (art. 412.º a 420.º)
● arrolamento (arts. 421.º a 427.º)

Tem três categorias:

Œ Procedimentos de Garantia à visam garantir a realização de um direito (arresto e

arrolamento)

• Procedimentos de Regulação Provisória à visam regular provisoriamente uma situação

(embargo de obra nova, suspensão de deliberações sociais e restituição provisória de posse)

Ž Procedimentos de Antecipação à visam antecipar a tutela jurisdicional que se pretende obter

com a acção principal (arbitramento de reparação provisória e alimentos provisórios)

Arresto

Ex. A é credor de B da quantia de 5.000€, pretendendo o pagamento daquela quantia

através de acção de condenação. Mas, B como foge de A, A receia que na referida acção B

desapareça ou venda todo o seu património

Artigos mais importantes:

● art. 406.º, n.º 1 à fundamento do arresto

● art. 406.º, n.º 2 à em que consiste o arresto

● art. 407.º, n.º 1 à alegação

● art. 407.º, 2.ª parte

● art. 408.º, n.º 1 à não há audiência da parte contrária

● art. 408.º, n.os 2 e 3

Nota: as regras aplicáveis ao arresto são as da penhora

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Arrolamento

Ex. falecida uma pessoa, o herdeiro receia que, antes de se efectuar a partilha dos bens

da herança, o herdeiro B que vivia com o de cuius, aliene ou dissipe bens pertencentes à herança.

Assim, A pode requerer o arrolamento dos bens da herança

Artigos mais importantes:

● art. 421.º à fundamento do arrolamento

● art. 427.º à arrolamentos ditos especiais

Restituição Provisória de Posse

Ex. A, proprietário do rés-do-chão do prédio, quer expulsar B, alegando que este, além

de ter ocupado, durante a noite, aquela fracção, mudando a fechadura da porta, ameaça disparar

sobre que pretende entrar no predito andar

Artigos mais importantes:

● art. 393.º à casos em que tem lugar

● art. 394.º à não há audiência prévia do esbulhador

Embargo de Obra Nova

Ex. A, proprietário do primeiro e último andares de um prédio, tem receio que as obras

iniciadas pelo seu vizinho do rés-do-chão venham a afectar seriamente os alicerces da casa ou do

prédio. Como tal, pode requerer o embargo de obra nova (tanto pode ser judicial como

extrajudicial)

Artigos mais importantes:

● art. 412.º à fundamento

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● art. 419.º

Suspensão de Deliberações Sociais

Ex. a Assembleia Geral de sociedade anónima delibera sobre uma matéria que não constava

da ordem de trabalhos desse dia. B, sócio, entende que essa deliberação, na qual não votou,

causará graves danos à sociedade

Artigo mais importante:

● art. 396.º à prazo de 10 dias a contar da deliberação para requerer a sua suspensão

Alimentos Provisórios

Ex. A, abandonada pelo marido, tem três filhos. Vendo-se sem meios próprios de

subsistência e temendo que a duração normal do processo de fixação definitiva de alimentos

torne, para si e para os seus filhos, a situação intolerável, decide requerer a fixação de alimentos

provisórios

Artigos mais importantes:

● art. 399.º, n.º 1 à fundamento

● art. 399.º, n.º 2

Arbitramento da Reparação Provisória

Ex. A, estudante, pretende de B, responsável pelo acidente de viação que causou a morte

dos seus pais, lhe pague, imediatamente, uma quantia indemnizatória que permita o seu sustento

Artigo mais importante:

● art. 403.º

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Parte III

Pressupostos Processuais

1. Noção e Classificação

Pressupostos Processuais elementos de cuja verificação depende o dever do juiz proferir

uma decisão sobre o pedido formulado, concedendo ou indeferindo a providência cautelar. Assim,

os pressupostos processuais são indispensáveis para que o juiz possa apreciar o mérito

Condições de Acção requisitos indispensáveis para que a acção proceda, ou seja, para

que ela seja julgado procedente, para que o autor tenha razão de acordo com o direito substantivo

Os pressupostos podem ser:

Œ positivos à são os requisitos cuja existência é essencial para que o juiz se deva pronunciar

sobre a procedência da acção. Entre estes temos:

● personalidade judiciária

● capacidade judiciária

● legitimidade

● interesse processual

● patrocínio judiciário

• negativos à factos cuja verificação impede o juiz de entrar na apreciação do mérito do

pedido

Ex. - litispendência (art. 497.º) à quando existe um litígio com litígio pendente.

Quando não há litígio pendente há caso julgado

- compromisso arbitral

A quase generalidade dos pressupostos processuais é do conhecimento oficioso do

tribunal pois a sua verificação reveste-se de interesse público, nos termos do art. 495.º.

Quando falta algum dos pressupostos, há uma consequência, correspondendo essa, quase

sempre, à absolvição do réu da instância, segundo o extrapolado no art. 494.º.

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

2. Personalidade Judiciária (art. 5.º)

Ä consiste na susceptibilidade de ser parte, ou seja, é a possibilidade que uma

pessoa tem de instaurar uma acção em seu próprio nome ou contra si próprio ser instaurada uma

acção

Podem ser partes:

● lado activo – autor, executando, requerente

● lado passivo – réu, executando, requerido

† Princípio da Equiparação ou Coincidência (art. 5.º, n.º 2)

Segundo este princípio, quem tiver personalidade jurídica tem personalidade judiciária.

Assim, todos os indivíduos, sejam maiores ou menores, capazes, interditos ou inabilitados,

nacionais ou estrangeiros, gozam de personalidade judiciária visto todos eles poderem ser

sujeitos de quaisquer relações jurídicas.

Contudo, há excepções a este princípio, o que significa que há casos em que se pode ter

personalidade judiciária e não personalidade jurídica. Essas excepções estão previstas nos arts.

6.º e 7.º.

† Falta de Personalidade Judiciária

Tal situação conduz à absolvição do réu da instância em virtude de estarmos perante uma

excepção dilatória, prevista nos arts. 494.º/c e 288.º, n.º 1/c.

A falta de personalidade pode ser sanada? Não, em princípio é irremovível a falta de

personalidade judiciária, pese embora existir um caso em que essa falta pode ser ultrapassada

(art. 8.º).

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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3. Capacidade Judiciária (art. 9.º, n.º 1)

Ä susceptibilidade de a parte estar pessoal e livremente em jogo ou de se fazer

representar por intermédio de representante voluntário

Não possuem capacidade judiciária os que podem intervir pessoal mas não livremente (ex.

inabilitados) e também aqueles que não podem intervir pessoal e livremente, tal qual os menores e

interditos.

Em regra, a capacidade judiciária corresponde à capacidade de exercício de direito.

Porém, segundo o art. 9.º, n.º 2, há pessoas que têm capacidade de exercício de direitos mas

qualitativamente limitada: é o caso dos inabilitados (art. 153.º, n.º 1 CC) e dos menores (art. 127.º

CC). O legislador também se está a referir aos casos em que a capacidade de exercício de

direitos está condicionada.

† Meios de suprimento (art. 10.º, n.º 1):

● assistência

● representação

Inabilitados à assistência por curador (art. 10.º, n.º 3)

Menores:

● representação legal dos seus progenitores (arts. 124.º e 1877.º CC)

● tutor (arts. 124.º e 1921.º, n.º 1 CC)

● administração de bens (art. 1922.º)

Interditos à tutor (art. 139.º)

Nota: o curador pode ser ad hoc ou ad litem (designado curador provisório – art. 11.º)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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† Falta de Capacidade Judiciária

A incapacidade não suprida provoca a absolvição da instância, nos termos do extrapolado

nos arts. 494.º/c e 288.º/c (vide também arts. 23.º e 24.).

4. Legitimidade

Ä ser parte legítima na o processo, ou seja, é ter o pode de dirigir a pretensão deduzida

em juízo ou a defesa contra ele oponível

O autor terá legitimidade se for ele quem juridicamente poder fazer valer a pretensão

em face do demandado.

Por seu turno, o réu terá legitimidade se for ele quem possa se opor à procedência da

pretensão.

No fundo, trata-se de saber a posição processual que as partes devem ter numa relação

jurídica processual.

4.1 Diferença da Legitimidade e Figuras Afins

† Capacidade e Personalidade Judiciárias & Legitimidade

Enquanto que a capacidade e personalidade judiciárias são qualidades pessoais das partes,

ou seja, requisitos absolutos genericamente exigidos para que a pessoa possa estar em juízo, a

legitimidade consiste, pelo contrário, numa posição da parte perante determinada acção.

Vide art. 26.º que nos diz que a legitimidade tem que ver com a titularidade do interesse

em litígio. Assim sendo, o autor será parte legítima quando tem interesse directo em demandar e

o réu é parte legítima quando tem interesse directo em contradizer.

Já o art. 26.º, n.º 2, refere o que é o interesse em demandar (corresponde à utilidade) e

o interesse em contradizer.

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

† Debate doutrinário entre Alberto Reis e Barbosa de Magalhães (quanto à legitimidade)

Ex. um vendedor vende a outrem 60 toneladas de chumbo mas não cumpre. Assim, o comprador

entra com uma acção contra o vendedor devido ao incumprimento. O vendedor diz que quem

deveria ter vendido era um C dado ser apenas intermediário deste

●para o Dr. Barbosa de Magalhães, as partes são legítimas tal e qual como é configurado
pelo autor

●para o Dr. Alberto Reis, este propõe que as partes só devem ser averiguadas se forem
legítimas, num processo final, na tramitação do processo, e não na parte inicial da acção,

como defende o Dr. Barbosa de Magalhães

●a posição que vingou foi a do Dr. Barbosa de Magalhães (art. 26.º, n.º 3), ou seja, a
legitimidade tem que ser averiguada logo no início da acção

Neste exemplo mencionado, o vendedor final é a parte que não é legítima logo é absolvido.

As partes legítimas são o vendedor principal, C, e o comprador, B.

Concluindo, antes de se deixar o processo evoluir, há que saber se o réu contra quem foi

instaurada a acção é ou não parte.

† Problemas de Legitimidade

Para os resolver temos que:

1.º partir de uma ficção, ou seja, deve partir-se do princípio que o direito e a obrigação

alegados pelo autor existem apesar de, efectivamente, não se poder averiguar se existem ou não

visto estarmos perante uma questão de mérito

2.º devemos atender à fisionomia ou configuração da hipotética relação material dada

unilateralmente pelo autor, isto é, deve ler-se a petição inicial e, não estando na análise do mérito

da causa, deve averiguar-se quem são os dois pólos da relação hipotética controvertida. Se estes

pólos corresponderem aos pólos da relação processual controvertida, há legitimidade, se assim

não suceder não há legitimidade

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

Há legitimidades extraordinárias:

● protecção de interesses privados (ex. acção subrogatória prevista no art. 606.º CC)

● protecção de interesses difusos (art. 26.º-A)

† Legitimidade Processual Plural

Isto significa que num dos lados da relação processual temos mais que uma pessoa.

Existem duas figuras:

Œ litisconsórcio à há uma pluralidade de sujeitos mas uma única relação material controvertida

(arts. 27.º e 29.º)

• coligação à há uma pluralidade de sujeitos mas correspondente a uma pluralidade de relações

materiais controvertidas (arts. 30.º e ss)

Litisconsórcio

Ä litis (litigioso) + consórcio (pluralidade de sujeitos)

Exemplos:

(1) A e B emprestaram, pelo prazo de 12 meses, a C a quantia de 500€. Se, findo o prazo, C não

pagar de forma voluntária a quantia quem deverá propor a acção declarativa de condenação?

(litisconsórcio voluntário)

(2) E intenta contra F uma acção de divisão de coisa comum, mais concretamente de um prédio

rústico sito em Leiria. Nessa acção, o autor alegou que, sendo comproprietário do imóvel, não

está obrigado a permanecer na indivisa, assistindo-lhe o direito de concretizar a sua quota (arts.

1403.º e 1412.º e arts. 1052.º a 1057.º). Sabendo que o referido prédio também pertencia a B,

deveria a acção ser proposta também contra ele? (litisconsórcio necessário)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

A regra é a de que o litisconsórcio seja voluntário, ou seja, estabelece como regra a

possibilidade de a acção ser proposta por todos contra todos ou contra todos os sujeitos da

relação material controvertida (art. 27.º).

Porém, o litisconsórcio pode ser necessário, exigindo-se que todos os sujeitos constem no

processo, caso contrário o réu será absolvido da instância (art. 28.º).

Para ser necessário o litisconsórcio pode nascer de quatro fontes:

Πlei

Exemplos de litisconsórcio necessário passivo:

● obrigações indivisíveis com pluralidade de devedores (art. 535.º)

● devedor e terceiro adquirente na impugnação pauliana (art. 611.º)

● exercício de direitos relativos à herança (art. 2091.º)

● art. 28.º, n.º 3

● habilitação dos sucessores da parte passiva falecida (art. 371.º, n.º 1)

Exemplos de litisconsórcio necessário activo:

● direito de preferência com pluralidade de titulares (art. 419.º, n.º 1)

● exercício de direitos da herança (art. 2019.º, n.º 1)

● art. 28.º-A, n.º 1

● habilitação dos sucessores da parte activa falecida (art. 371.º, n.º 1)

● acção de preferência (art. 1410.º, n.º 1)

• negocial (pode haver um acordo entre as partes em que se obriga a que todos estejam

presentes, isto é, que demandem ou que sejam demandadas)

Ex. acção destinada a exigir a restituição de coisa depositada por duas ou mais pessoas

quando se estipulou que essa coisa só podia ser levantada por todos os depositantes em conjunto

Ž necessidade de se obter o efeito útil normal

Ex. - acção de divisão de coisa comum (todos têm que estar presentes, sob pena da

acção não produzir efeitos numa das partes que não intervenha)

- acção de constituição de servidão legal de passagem

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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• provocada (incidente da intervenção principal provocada)

Ex. art. 325.º

Coligação

Ex. as empresas A, B e C celebram um contrato cada uma com a Seguradora x. Se for

instaurada uma acção contra a Seguradora por cada uma das empresas, então, a acção poderá ser

intentada contra a Seguradora em coligação com as três empresas

Requisitos positivos ou substantivos:

1.º identidade da causa de pedir (art. 30.º) à ex. M e N, quando estão a passar numa passadeira

de peões, são atropelados por P, sendo, como tal, ambas vítimas do mesmo acidente de viação.

Deste modo, M e N podem coligar-se numa mesma acção, demandando a seguradora do lesante

2.º dependência entre os pedidos à ex. A vende a B um automóvel. B empresta esse automóvel a

C, logo A pode pedir contra B a anulação da venda celebrada e contra C a entrega de coisa certa

3.º a procedência dos pedidos depende da apreciação dos mesmo factos ou do mesmo direito à

vide exemplo supra da coligação

4.º os pedidos deduzidos contra os vários réus baseiam-se na invocação da obrigação cartular,

quanto a uns, e na respectiva relação subjacente, quanto a outros

Requisitos negativos ou processuais (art. 31.º):

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

1.º a todos os pedidos cumulados deve corresponder a mesma forma de processo, salvo se a

diversidade da forma de processo decorrer unicamente do diferente valor dos pedidos (vide

art. 265.º-A que consagra o Princípio da Adequação às Especificidades da Causa ou Princípio da

Adequação Formal)

2.º o tribunal tem que ser absolutamente competente

Nota: cumulativamente têm que se verificar pelo menos um dos requisitos positivos e todos os

requisitos negativos (mas, ver também o art. 1.º, n.º 4)

Importante: ver o art. 28.º, n.os 1 e 3 à acções que têm que ser propostas por ambos ou contra

ambos os cônjuges

6. Patrocínio Judiciário (arts. 32.º e ss)

Ä é um pressuposto processual relativo às partes e traduz-se na assistência

técnica prestada às partes pelos profissionais do foro ou representantes técnicos na condução

do processo em geral, ou na realização de certos actos em especial.

Assim, quem vai requerer verdadeiramente a acção é o mandatário judicial, sendo que tem

competência para tal uma vez que recebeu um mandato para representar outrem em juízo.

Razões de ser deste pressuposto:

Œ os particulares não têm serenidade de espírito para litigar por si próprios, devendo, como tal,

ser representados por profissionais

• as partes, na maioria das ocasiões, não têm conhecimentos técnicos nem a experiência

necessária para valorar a sua razão em face do direito aplicado, ou seja, a razão pessoal,

maioritariamente, não coincide com as normas jurídicas

Ž o exercício do patrocínio judiciário pode ser feito de modo pleno pelos advogados (podem

intervir em todo e qualquer processo) e, restritamente, por advogados estagiários e solicitadores

(art. 32.º, n.º 2)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

Acções em que é obrigatória a constituição de advogado (art. 32.º; vide art. 60.º, n.º 1)

Sempre que a acção exceda os 5.000€.

Excepções: art. 678.º, n.os 2 e 3

Ex. numa acção de despejo (de valor de 2.500€), é admissível recurso, logo admite-se a

constituição de advogado

Acções em que não é obrigatória a constituição de advogado (art. 34.º)

As partes podem litigar por si.

Se, por ora, for obrigatório o patrocínio judiciário e as partes não conferirem mandato, a

consequência será a absolvição do réu na instância no caso de ser o autor a não o fazer. No caso

de ser o réu, a sua defesa fica sem efeito, considerando-se confessados todos os factos

articulados pelo autor (art. 484.º, n.º 1).

Como se confere um mandato judicial? Temos que fazer uma de três coisas previstas no art.

35.º

a) por documento particular ou instrumento público, com intervenção notarial

b) documento particular sem intervenção notarial (assume a designação de procuração) à é a

regra

c) declaração verbal da parte no auto de qualquer diligência que se pratique no processo

Procuração documento que confere poderes aos mandatários para representarem os

mandantes

A procuração pode ser:

● com poderes gerais (art. 37.º, n.º 1) à confere aos mandatários o poder de
representação, o poder de substabelecer, de receber cheques ou custos de parte

● com poderes especiais (art. 37.º, n.º 2) à poderes para confessar, desistir (vai ser dada
razão à parte contrária: pode ser desistência da instância – daquele processo em concreto –

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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ou do pedido – é mais lato pois desiste-se do direito) e transigir (acordar/conciliar; poder de

terminar o processo por acordo). Deste modo, o mandatário, para além dos poderes gerais,

tem também os poderes especiais, podendo agir sem a presença do mandante, o que é usual no

processo de inventário

Poderes de Substabelecer (art. 36.º, n.º 2) transmitem-se os poderes que forma dados

aos mandatários pelo cliente a um colega advogado ou solicitador, desde que tenha competência

Este poder pode ser feito sem reserva (implica a exclusão do mandatário anterior) ou

com reserva (o mandatário apenas dá poderes ao seu colega naquele acto em concreto assim, uma

vez passado o julgamento, o mandatário continuará a ter o processo em mãos) à vide art. 36.º,

n.º 3.

Exemplos de poder de substabelecer sem reserva:

● quando não há pagamento de honorários à o advogado pode ter a possibilidade de


renunciar ao mandato (art. 39.º)

● no lugar da revogação do mandato faz-se um substabelecimento sem reserva para o novo


advogado (art. 39.º)

Nota:

● há renúncia do mandata apenas quando é o mandatário a fazê-lo pois no caso de ser o


mandante o que há não é uma renúncia mas sim uma revogação do mandato

● art. 41.º à patrocínio a título de gestão de negócios

7. Competência dos Tribunais (arts. 61.º e ss; vide também a LOFTJ)

Sem a verificação deste pressuposto, não existe tribunal competente encarregue da

acção.

Este pressuposto prende-se com o facto de o poder jurisdicional estar repartido entre os

vários tribunais, segundo vários critérios.

Jurisdição ≠ Competência

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

â Ä

Para a delimitação do poder jurisdicional de cada tribunal, existem as chamadas regras

de competência, as quais definem os critérios de distribuição do poder de julgar entre os

diferentes tribunais. Assim sendo, a repartição do poder de julgar entre os vários tribunais faz-

se em vários planos, tendo nós que primeiramente fazer apelo a duas modalidades de competência:

(1) internacional à fracção do poder jurisdicional atribuída aos tribunais portugueses no seu

conjunto em face dos tribunais estrangeiros para julgar acções que têm algum elemento de

conexão com ordens jurídicas estrangeiras (art. 17.º, n.º 2 LOFTJ e art. 61.º)

(2) interna à atende ao fraccionamento do poder de julgar entre os tribunais portugueses

7.1 Competência Internacional

Ex. A propõe contra B, sua mulher, uma acção de divórcio litigioso no Tribunal Judicial de V.

N. Gaia. A e B são portugueses e emigrantes na Suíça desde 1985, tendo ambos domicílio em

Genebra.

A alegou os seguintes factos:

1.º contraiu casamento católico com B, em Agosto de 1981

2.º em Julho de 2006, quando passavam férias em Portugal, B abandonou o lar conjugal em

V. N. Gaia, passando a viver nesse mesmo concelho com outro indivíduo

3.º com o referido comportamento, a ré violou culposamente os deveres de fidelidade e

de respeito, comprometendo, irremediavelmente, a possibilidade de vida em comum

A pediu que o Tribunal decretasse o divórcio e declarasse a culpa exclusiva de B.

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

Terá o Tribunal de V. N. Gaia competência para julgar esta acção?

Neste caso em concreto, temos um elemento conexo com a ordem jurídica estrangeira: eles

vivem na Suíça mas têm residência em Portugal.

Há que atender ao art. 61.º que remete para o art. 65.º. Através deste último preceito

concluímos que, a propósito da competência internacional, há um sistema bipartido:

(1) regime comum (arts. 65.º e 65.º-A) à atribui competência internacional aos tribunais

portugueses

1.º Princípio do Domicílio do Réu (art. 65.º, n.º 1/a)

2.º Princípio da Coincidência ou Critério da Exclusividade (art. 65.º, n.º 1/b)

3.º Princípio da Causalidade (art. 65.º, n.º 1/c)

4.º Princípio da Necessidade (art. 65.º, n.º 1/d)

(2) existe, igualmente, um regime convencional (art. 65.º, n.º 1) à segundo este, teremos que

averiguar se há ou não competência internacional. Deste modo, teremos que nos socorrer do

Regulamento (CE) n.º 44/2001

Ä a que situações se aplica? Segundo o seu art. 1.º, n.º 1, aplica-se a matérias

civis e comerciais e, no n.º 2 do mesmo preceito são-nos apresentadas as situações de exclusão

da sua aplicação

Além do mais, o Regulamento aplica-se sempre que o demandado tenha domicílio ou

sede num dos Estados-membros, independentemente da sua nacionalidade, orientando-se por

três Princípios Gerais:

1.º princípio do favor debitoris, isto é, do favorecimento do devedor (art. 2.º do Regulamento)

à o réu que tenha domicílio no território de um dos estados deve ser demandado nos tribunais

desse país

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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2.º se uma pessoa estiver domiciliada num Estado-membro só pode ser demandada perante

tribunais de um outro Estado quando os tribunais deste sejam competentes por força dos

critérios especiais previstos nos arts. 5.º a 2.º do Regulamento (art. 3.º, n.º 1 do Regulamento)

3.º se o réu/requerido não tiver domicílio num Estado-membro, a competência é regulada pela

lei do Estado do foro, isto é, pelo seu direito interno, sem prejuízo das competências exclusivas

enumeradas no art. 22.º do diploma em apreço (art.º 4.º, n.º 1 do Regulamento)

Nota:

● para resolver questões internacionais teremos que nos socorrer primeiramente do regime

convencional. Se o conjunto dos tribunais portugueses tiver competência recorreremos ao

regime comum

● se existir um problema de competência internacional que se prenda com um país que não
seja membro da UE, ou com matérias excluídas do âmbito de aplicação do Regulamento em

causa, temos que recorrer às regras dos arts. 65.º e 65.º-A

7.2 Competência Interna

No plano interno, o poder jurisdicional encontra-se dividido por diferentes categorias de

tribunais, de acordo com a natureza das matérias em causa. De facto, o art. 209.º da CRP

determina que existem várias categorias de tribunais, nomeadamente:

● Tribunal Constitucional

● Supremo Tribunal de Justiça

● Tribunais de 2.ª Instância (Tribunais da Relação)

● Tribunais de 1.ª Instância (Tribunais de Comarca)

● Supremo Tribunal Administrativo

● Tribunais Administrativos e Fiscais

● Tribunal de Contas

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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● Tribunais Marítimos, Tribunais Arbitrais e Julgados de Paz

Desde logo, em função da natureza das matérias, podem distinguir-se duas ordens

jurisdicionais: a dos tribunais judiciais e a os tribunais não judiciais.

De referir que s tribunais judiciais constituem a regra no nosso sistema judiciário,

gozando de competência não discriminada, tal como dispõem os arts. 18.º, n.º 1 LOFTJ, 211.º, n.º 1

CRP e 66.º CPC).

Acrescente-se que, regra geral, os tribunais judiciais de acesso são os Tribunais da

Comarca, segundo o consignado no art. 16.º, n.º 1 LOFTJ (ex. se tivermos uma acção de 100.000€,

cabe recurso até ao STJ mas a acção tem que ser instaurada no Tribunal da Comarca,

obrigatoriamente).

A organização e funcionamento dos tribunais judiciais está regulada na LOFTJ, sendo que

os tribunais judiciais existentes são: o STJ, Tribunais da relação e Tribunais da Comarca.

Problemas que se colocam:

Œ Qual a divisão judiciária do país?

Diz-nos o art. 15.º, n.º 1 LOFTJ que o território português se divide em:

● distritos judiciais (Guimarães, Porto, Coimbra, Lisboa, Évora e Faro), sendo que em
cada um deles existe um Tribunal da Relação que exerce jurisdição na área do respectivo

distrito judicial (art. 47.º, n.º 2 LOFTJ) à nota: caso alguém dos Açores ou da Madeira

queira recorrer, terá que o fazer junto do TRL

● círculos judiciais (art. 15.º, n.os 1 e 2 LOFTJ) à circunscrição que abrange uma ou
várias comarcas (ex. círculos judiciais de Leiria: Leiria, Marinha Grande, etc.)

● comarca judicial (arts. 62.º, n.º 1 e 63.º, n.º 1 LOFTJ) à circunscrição ou área judicial
que abrange a área do concelho, existindo em cada comarca um tribunal de 1.ª instância (ex.

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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no distrito judicial de Coimbra existem várias comarcas: Coimbra, Leiria, Marinha Grande,

Alcobaça, etc.)

• Categorias de Tribunais:

STJ (arts. 25.º a 46.º LOFTJ)

● tem sede em Lisboa (art. 25.º, n.º 1)

● os juízes denominam-se juízes conselheiros

● tem o seu âmbito de competência em todo o território nacional

● tribunal hierarquicamente superior, o que significa que tem o poder de revogar ou


de reformular decisões dos tribunais hierarquicamente inferiores). Mas, nenhum juiz é

hierarquicamente superior ao outro

● tem três secções: cível, criminal e social (art. 27.º, n.º 1 LOFTJ), sendo que cada um
deles tem várias secções

● art. 28.º LOFTJ à funciona em plenária (reúnem-se todos os juízes do STJ), em pleno
de secções (reunião de todas as secções ou cíveis, ou criminais, ou sociais) ou em pleno

(funciona por três juízes)

Tribunal da Relação (arts. 47.º a 61.º LOFTJ)

● os juízes denominam-se desembargadores


● exercem a sua função na área do distrito judicial (art. 21.º, n.º 1 LOFTJ)
● tem três secções: cível, criminal e social (art. 51.º, n.º 1)
● funciona em plenário e em secções (arts. 55.º e 56.º LOFTJ)

Tribunal de Comarca (arts. 62.º e ss LOFTJ)

● área de jurisdição é a área da respectiva comarca (art. 21.º, n.º 1 LOFTJ)

Critérios de competência para determinação do tribunal competente para julgar a acção:

Œ Critério da Competência em Razão da Hierarquia

● entre os tribunais judiciais há uma hierarquia (e não entre os juízes)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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● trata-se de uma repartição vertical de competência


●poder que os tribunais têm de revogar ou reformular decisões tomadas pelos tribunais
inferiores (art. 19.º, n.º 1 LOFTJ) à é nisto que se materializa a repartição vertical da

competência

● arts. 70.º a 72.º CPC

Nota:

● tribunal ad quem à para o qual se recorre

● tribunal ad quo à do qual se recorre, recorrido

● art. 1094.º e 1095.º CPC e art. 56.º, n.º 1/f LOFTJ à excepções à regra de que todas as
acções têm que ser instauradas junto de um Tribunal de 1.ª Instância (revisão de sentenças

estrangeiras)

● vide art. 36.º/c LOFTJ à acções propostas contra juízes do STJ e juízes
desembargadores

• Critério da Competência em Razão de Matéria ou Repartição Horizontal de Competência

● cada tribunal (STJ e Tribunais da Relação) têm três secções: a cível, a criminal e a
social, pelo que cada matéria será julgada pela respectiva secção competente pata o efeito,

ou seja, há uma divisão

● quanto aos Tribunais de 1.ª Instância temos:

1.º tribunais de competência genérica (art. 77.º LOFTJ) à é a competência

geral que funciona se não houver competência especializada ou específica,

sendo, como tal, uma competência residual

2.º tribunais de competência especializada (art. 78.º LFTJ) à estes conhecem

de matérias determinadas, independentemente da forma de processo aplicável

(art. 64.º, n.º 2, 1.ª parte LOFTJ)

3.º tribunais de competência específica (art. 64.º, n.º 2, in fine LOFTJ) à

conhecem de matérias determinadas pela forma de processo aplicável. É no

âmbito dos tribunais de competência específica que se ouve falar de varas

(criminais ou cíveis), juízos (criminais ou cíveis) ou juízos de pequena instância

(criminais ou cíveis). Porém, vamo-nos reportar somente aos cíveis:

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

Varas Cíveis à têm competência no âmbito do Processo Ordinário (art. 97.º, n.º 1/c LOFTJ)

Juízos Cíveis à têm competência no âmbito do Processo Sumário (art. 99.º LOFTJ)

Juízo de Pequena Instância Cível à tem competência no âmbito do Processo Sumaríssimo (art.

101.º LOFTJ)

Ž Critério de Competência em Razão de Valor (art. 68.º CPC e arts. 104.º e ss LOFTJ)

●os tribunais, em razão do seu valor, são de estrutura singular (art. 104.º LOFTJ),
colectiva (art. 105.º, n.º 1 LOFTJ) ou de júri (art. 13.º do Código de Processo Penal)

Nota: as acções que excedem o valor da alçada da Relação são da competência do Tribunal

Colectivo (art. 106.º/b LOFTJ)

Importante: art. 646.º, n.º 1 CPC à se uma das partes requerer a provação da audiência de

discussão e julgamento, deixa de haver intervenção do Tribunal Colectivo (este só decide sobre

matéria de facto). Assim, só há intervenção por parte deste Tribunal se as partes o tiverem

requerido (vide art. 646.º, n.os 1 e 2/c CPC)

• Critério da Competência em Razão do Território (arts. 73 e ss CPC)

Consoante o tipo de acção que está m causa, teremos vários critérios de competência.

Assim, segundo os vários elementos de conexão temos:

●foro real ou da situação dos bens, que corresponde às acções relativas a imóveis (art.
73.º) à competência: tribunal local onde se localiza o imóvel

●foro obrigacional, que abrange as acções fundadas na responsabilidade contratual (art.


74.º, n.º 1) à competência: tribunal do domicílio do réu ou onde a obrigação deveria ser

cumprida

Espécies de Obrigações:

art. 773.º CC à entrega de coisa móvel

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

art. 774.º CC à obrigações pecuniária

art. 885.º CC à pagamento do preço da compra e venda

art. 1039.º CC à pagamento da renda ou aluguer

art. 1195.º CC à restituição de coisa móvel depositada

● o foro obrigacional que abrange as acções fundadas em responsabilidade extracontratual


(art.74.º, n.º 2) à ex. o professor, que é do Porto, tem um acidente à saída da escola com

um camionista de Lisboa. Havendo responsabilidade extracontratual, onde instaurar a

acção? Em Leiria

● foro do autor, que respeita às acções de divórcio e de separação de pessoas e bens (art.
75.º)

●acções de honorários (art. 76.º) à competência: no caso de o cliente não pagar, tribunal
competente é aquele onde o serviço foi prestado

● foro hereditário, que respeita ao inventário e habilitação (art.77.º) à competência: lugar


do último domicílio do de cuius

● procedimentos cautelares (art. 83.º)


●foro do réu, que é a regra ou critério supletivo (art. 85.º) à é importante pois se não
houver resposta nos arts. 73.º e ss para as nossas dúvidas, lançamos mão deste artigo

Pode a vontade das partes afastar as regras a nível de competência? Em princípio não,

tal como o extrapolado no art. 100.º, n.º 1 CPC. Contudo, no critério em razão do território, há

possibilidade de o fazer (no fundo, estamos a fazer um desaforamento). Porém, no critério em

razão do território mas no âmbito do trabalho, já não é possível afastar essas regras.

Na competência interna, para haver competência de outro tribunal, é necessário, nos

termos do art. 100.º, n.º 2:

1.º acordo entre as partes reduzido a escrito (vide art. 99.º, n.º 4 CPC)

2.º deve explicitar-se a questão a que se refere

3.º deve designar-se o critério da designação do tribunal que fica a ser competente

Na competência internacional (art. 99.º):

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

1.º pactos privativos de jurisdição à retiram-se competências aos tribunais portugueses,

quando ele a tinha

2.º pactos atributivos à atribuem-se competências aos tribunais portugueses, que, em princípio,

não teriam essa competência, quer a nível convencional, quer a nível comum

Consequência da falta do Pressuposto Processual da Competência: a consequência é a

incompetência:

Œ incompetência absoluta (art. 101.º) à surge quando temos uma infracção de regras em razão

da matéria, da hierarquia e a nível de competência internacional, salvo se se tratar de mera

violação do pacto privativo de jurisdição

• incompetência relativa (art. 108.º) à surge quando temos uma infracção de regras fundadas

no valor da causa, na forma de processo, na divisão judicial do território e regras fundadas em

pactos de jurisdição (internacional) e pactos de competência (interna)

Diferenças entre incompetência relativa e incompetência absoluta:

● a incompetência absoluta pode ser arguida pelas partes e pode ser oficiosamente
conhecida pelo tribunal em qualquer estado do processo

● a incompetência relativa só pode ser invocada pelo réu no prazo da contestação art. 109.º,

n.os 1 e 2,e, podendo, excepcionalmente, ser conhecida oficiosamente pelo tribunal

Efeitos:

● incompetência absoluta à absolvição do réu da instância (arts. 105.º, n.º 1, 288.º, n.º 1/a e

494.º/a)

● incompetência relativa à a instância não se extingue, havendo remessa dos autos para o
tribunal competente, o que se processa oficiosamente (arts. 111.º, n.º 3, 493.º, n.º 2 e 494.º/

a)

Parte IV

Processo Declarativo Comum

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

1. Formalismo do Processo de Declaração Ordinário

† Generalidades

Qualquer pretensão que a parte queira formar em tribunal/juízo tem que obedecer a

determinadas normas, que vão orientar a usa acção, de modo a conhecer não só os seus próprios

limites como também os limites de actuação da parte contrária.

As partes também estão sujeitas a um ónus. Trata-se do ónus do impulso processual

inicial, que se torna necessário para lançar mão da acção. De referir que também existe o impulso

processual subsequente, segundo o qual as partes têm que conhecer os direitos que têm a nível

processual, no âmbito da acção, e as normas adjectivas que têm que respeitar.

O formalismo processual obedece a 5 fases:

1.ª articulados

2.ª saneamento e condensação do processo

3.ª instrução

4.ª audiência de discussão e julgamento

5.ª decisão final

Apesar de o Processo Ordinário ter estas cinco fases, não é obrigatório que todas elas se

verifiquem (ex. desistência, confissão, transacção). Por questões formais, na fase de saneamento

e condensação do processo, o juiz pode tomar logo uma decisão, não se verificando, como tal, as

restantes fases (ex. quando o réu é absolvido da instância).

Estas fases não são estanques entre si, podendo surgir actos inerentes a cada fase em

outras fases do processo. Por exemplo, o juiz pode proferir uma decisão final (sentença) na fase

de saneamento. Quer isto dizer que qualquer característica de uma fase concreta pode ser

apresentada noutra fase, tal como a prova documental (esta pode ser junta na fase dos

articulados, sendo que a prova documental pertence à fase instrutória).

Cronologicamente, pode acontecer que um articulado superveniente (arts. 506.º e 507.º)

surja na fase de audiência discussão e julgamento. Acrescente-se que só é superveniente o facto

que ocorre posteriormente aos articulados ou que o sujeito apenas tem conhecimento

posteriormente ao fim dos articulados.

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

Œ Fase dos Articulados (arts. 467.º a 507.º)

Fase instrutória do processo que se destina à definição dos termos da acção e da defesa,

à exposição de razões de facto e de direito que servem de fundamento às pretensões de cada

uma das partes.

O juiz apenas se vai limitar em aplicar o direito à matéria de facto, sendo que é sobre as

partes que recai o ónus de levar para os autos a matéria de facto relevante para o processo (art.

664.º).

• Fase de Saneamento e Condensação do Processo (arts. 508.º a 512.º-B)

O saneamento consiste na expurgação dos vícios e da matéria de facto que não é

relevante para o processo.

A condensação, por seu turno, consiste em “pegar” na matéria que interessa ao processo e

comprimi-la na peça fundamental da fase instrutória, através do despacho saneador, onde

constarão os factos assentes, isto é, que já estão provados.

Finalidades essenciais desta fase:

● julgamento imediato da acção, quando há elementos essenciais para a mesma

● correcção de todas as irregularidades formais

● expurgação do processo de todas as questões supérfluas ou inúteis

● fixação de questões de facto essenciais à questão da causa (concentração ou condensação

do processo)

Ž Fase da Instrução (arts. 513.º a 645.º)

Fase que se destina à assunção dos meios de prova, sendo que as provas podem ser

periciais (médicos, engenheiros…), documentais ou testemunhais.

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

É uma fase que tem por fim a produção ou a recolha dos elementos de prova sobre os

factos que, interessando à decisão da causa, não tenham sido devidamente esclarecidos na fase

anterior (art. 513.º - objecto da prova).

Consiste em carregar para o processo os elementos necessários à prova da matéria de

facto controvertida (aquela que importa provar) e essencial para o julgamento da causa.

• Fase da Audiência de Discussão e Julgamento (arts. 646.º a 657.º)

Ciclo processual marcado pelos debates entre os mandatários das partes, quer sejam

debates orais, quer sejam escritos (art. 657.º).

• Fase da Decisão Final/Sentença (arts. 658.º a 675.º)

Trata-se do período destinado à decisão da causa, a qual se desdobra em dois momentos:

● decisão da matéria de facto, sob a forma de resposta aos quesitos (art. 653.º, n.º 2)
●decisão final ou sentença propriamente dita que se traduz na aplicação do direito à
matéria de facto que foi dada como provada (arts. 658.º e 659.º)

A sua noção consta no art. 151.º, n.º 1.

Porquê do seu nome? Prende-se com o modo como eles devem ser elaborados:

1.º petição inicial à estabelecer um facto por artigo, sendo que se pode entender por artigo

como proposições gramaticais, numérica e sequencialmente encadeadas entre si (cada artigo deve

conter um facto – art. 151.º, n.º 2 – uma vez que a base instrutória tem que observar a forma de

quesito, sendo então mais fácil através de um facto por artigo)

2.º contestação, sendo que pode ser:

impugnação

● contestação defesa excepção dilatória

peremptória

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

● contestação reconvenção

3.º réplica à só pode haver quando o réu, na contestação, deduziu alguma excepção (quer seja

dilatória, quer seja peremptória) ou formulou pedido reconvencional (art. 502.º, n.º 1)

4.º tréplica à quando na réplica o autor alterar o pedido ou a causa de pedir (arts. 272.º e

273.º) ou deduzir alguma excepção contra o pedido reconvencional, pode o réu, excepcionalmente,

usar este articulado (art. 503.º, n.º 1)

5.º articulados supervenientes à este articulado pode haver, excepcionalmente, e, tal como o

nome indica, destina-se a trazer ao processo os factos posteriores ao último articulado da parte,

bem como os factos que ela só posteriormente teve conhecimento (art. 506.º, n. os 1 e 2)

Aspectos comuns aos articulados:

● devem ser redigidos em língua portuguesa (arts. 139.º, n.º 1 e 474.º/h) à consequência:
recusa da petição por parte da Secretaria quando não esteja redigido em português

● devem ser assinados pela parte ou pelo mandatário judicial (art. 474.º/g) à acto de
responsabilização do próprio autor

● devem ser apresentados em duplicado e, quando o articulado seja oposto a mais do que
uma pessoa, oferecer-se-ão tantos duplicados quantos forem os interessados que vivam em

economia separada (art. 152.º, n.º 1)

1.1 Petição Inicial

Ä é o acto fundamental do processo pois é através dele que o autor propõe a

acção. No fundo, trata-se da concretização do Princípio da Necessidade do Pedido e do

Princípio do dispositivo (arts. 3.º, n.º 1 e 264.º)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

Requisitos (art. 467.º, n.º 1):

1.º cabeçalho, preâmbulo ou intróito (al. a/b/c)


indicação do tribunal onde a acção é proposta – corresponde ao endereço.

Inelutavelmente, o endereço deve ser o do tribunal competente

●costuma-se endereçar a petição ao juiz do tribunal – Exmo. Sr. Juiz de Direito do


Tribunal…, M.º Juiz de Direito do Tribunal…

● a seguir ao endereço vem o chamado “preâmbulo”, onde se designam as partes da acção –


autores ou autores e réu ou réus (nome, estado civil, profissão, domicílio, …) – art. 467.º, n.º

1/a

● a designação das partes dá para aferir a litispendência ou o caso julgado (art. 497.º)
●forma de processo (art. 467.º, n.º 1/c) – se for processo especial basta indicar “sob a
forma de processo especial”. Se a acção for sob a forma de processo comum, é obrigatório

que se indique a forma de processo comum aplicável – ordinário, sumário, sumaríssimo

● o domicílio profissional do mandatário judicial surge no início em papel timbrado ou no fim


da petição com carimbo.

2.º narração (al. d) à é a exposição dos factos, isto é, são as ocorrências concretas da vida real,

quer do mundo externo, quer do mundo interno.

De referir que há factos que são essenciais (os que constituem a causa do pedir) e factos

que, por ora, são acessórios/complementares. Os factos essenciais são aqueles que têm que ser

alegados para que a acção seja declarada procedente. Já os factos acessórios/instrumentais são

aqueles que só indirectamente interessam à solução do pleito por servirem para demonstrar a

verdade e a falsidade dos factos pertinentes.

Ex. uma acção de divórcio litigioso fundada na violação do dever de fidelidade entre os

cônjuges. Nesta acção, o facto essencial é o adultério, enquanto que é facto instrumental que

o outro cônjuge haja sido visto a sair durante a noite do dia X de um motel, acompanhado de

outrem.

A importância desta distinção é que se não se alegar um facto essencial, a acção é julgada

improcedente, o que não acontece se não se alegar um facto instrumental.

3.º conclusão (al. e) à é o pedido

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

Tem que se terminar sempre uma petição inicial com o pedido, sob pena de tornar essa

petição inepta, tal como articula o art. 193.º, n.º 2/a. A formulação do pedido torna-se, de veras,

importante pois o tribunal apenas condena em objecto daquilo que se pede, não podendo condenar

para além do que não se pede (art. 661.º, n.º 1), podendo, contudo, condenar em menos daquilo que

se pede.

Requisitos do pedido:

● característica da existência à deve ser expressamente referido

● característica da inteligibilidade à deve ser apresentado de forma clara e inteligível,


isto é, não é possível formular pedidos vagos, ambíguos e obscuros

● característica da determinabilidade à deve ter um conteúdo determinado ou


determinável em sede de liquidação da sentença (art. 471.º). No entanto, tal não significa que

não se possam fazer pedidos genéricos

● característica da compatibilidade à deve ser coerente em relação à causa de pedir (ex.


se o autor vem arguir a nulidade de um contrato, não pode concluir pedindo a condenação do

réu no pagamento de uma prestação desse mesmo contrato)

● característica da licitude à o pedido deve ser lícito (art. 280.º CC)

● característica da viabilidade à o pedido deve ser viável, isto é, deve corresponder aos
factos alegados a às correspondentes normas jurídicas invocadas

● característica da juridicidade à deve representar uma forma de tutela de um direito ou


de um interesse juridicamente relevante

Tipos de pedido:

● pedidos alternativos (art. 468.º) à ex. pagar ao autor a quantia x ou entregar o veículo
com a matrícula y

● pedidos subsidiários (art. 469.º) à pede-se m e só na hipótese de esse não se verificar é

que se pede o outro

● pedidos cumulativos (art. 470.º) à pedem-se várias coisas

● pedidos genéricos (art. 471.º)

● pedidos de prestações vincendas (art. 472.º) à prestações que ainda se vão vencer (ex.
pagamento de juros que se irão vencer na pendência da acção)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

4.º elementos complementares (als. f e g e n.º 2 do mesmo preceito)

A petição inicial deve ser assinada pela parte ou pelo mandatário judicial, sob pena de não

poder dar entrada na Secretaria.

O autor deve juntar o documento comprovativo do prévio pagamento da taxa de justiça

inicial (art. 467.º, n.º 3), exceptuando nos processos de carácter urgente, tal como dispõe o art.

467.º, n.os 5 e 6.

Pode também, o autor, menções facultativas (art. 467.º, n.º 2), isto é, pode apresentar o

rol de testemunhas e requerer outras provas (vide arts. 512.º-A e 508.º-A)

† Entrega da Petição Inicial na Secretaria

Como se dá entrada? (vide art. 150.º, n.º 2)

a) entrega na Secretaria Judicial, é a designada entrega em mãos, feita na Secretaria Geral (aí

será carimbado um duplicado com a data de entrega). Tudo o que seja pós petição entregar-se-á

na Secretaria Central de cada juízo.

1.º Juízo / 1.ª secção / 2.ª secção / 3.ª secção

2.º Juízo / 1.ª secção / 2.ª secção / 3.ª secção

b) remessa por correio, sob registo (é a data de registo que conta como entrada da petição

inicial)

c) envio por telecópia (fax) à vale a data de expedição

† Recusa da Petição Inicial pela Secretaria

As situações de recusa da petição inicial por parte da Secretaria encontram-se

taxativamente enumeradas no art. 474.º. Há somente que fazer uma ressalva ao à alínea i) do

predito artigo: normalmente o papel utilizado é uma folha A4 com cores pálidas… (vide DL .º 112/

90, de 4 de Abril).

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

A recusa deve ser feita por escrito e acompanhada do fundamento da recusa. A solução

para essa recusa passa, segundo o que dispõe o art. 475.º, pela reclamação (para o juiz) ou pelo

recurso (até à Relação). Porém, uma outra solução passa pela apresentação de nova petição inicial

ou pela apresentação do documento em falta (se for essa a causa da recusa), nos termos do art.

476.º à é o designado benefício concedido ao autor.

† Recebimento da Petição Inicial pela Secretaria

Não estando presente nenhuma das situações do art. 474.º, a Secretaria recebe a

petição, apondo-lhe um carimbo com data. Este carimbo é muito importante, pois a instância

inicia-se pela proposição da acção e esta considera-se proposta logo que seja recebida na

Secretaria a respectiva petição inicial, nos termos do art. 267.º, n.º 1.

1.2 Distribuição (art. 209.º)

Ä serve para distribuir o serviço do tribunal pelos vários juízes que prestam

serviço no tribunal

Aspectos importantes:

● art. 209.º-A à a distribuição é feita por meios electrónicos.

● art. 211.º, n.º 1 à actos processuais sujeitos a distribuição

● art. 212.º à actos que não dependem de distribuição

● art. 214.º à a distribuição tem lugar diariamente e de forma autónoma de modo a evitar a

morosidade dos processos

● art. 222.º à espécies de distribuição

† Fase da Autuação

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

Nas palavras de Miguel Teixeira Sousa, a autuação “é a operação de formação do caderno

no qual vão ser juntas, em folhas numeradas e cosidas a fio, todas as peças processuais e todos

os documentos respeitantes ao processo”.

1.3. Intervenção Liminar do Juiz

Antes de 1995 todos os processos tinham que passar pela intervenção liminar do juiz, ou

seja, o juiz tinha que constatar e ver todos os processos de modo a averiguar se os mesmos

podiam correr, podiam continuar o seu seguimento.

Actualmente, a intervenção liminar do juiz é feita excepcionalmente, nos termos do art.

234.º-A.

Casos em que existe despacho liminar/indeferimento: art. 234.º-A, n.º 1 que remete para o art.

234.º, n.º 4.

Havendo indeferimento liminar, o que acontece?

O indeferimento liminar extingue a instância, nos termos do consagrado no art. 287.º/a.

Perante tal situação, o autor pode tomar uma das seguintes atitudes:

1.º conformar-se, isto é, nada fazer

2.º apresentar nova petição (arts. 234.º-A, n.º 1, in fine, e 476.º)

3.º impugnação por via de recurso, independentemente do valor do processo (art. 234.º-A, n.º 2)

1.4 Citação (fase crucial do processo)

A Secretaria tem que levar ao conhecimento do réu (notificar) que contra ele foi

proposta uma acção e que tem direito de contestação do conteúdo do processo.

Por outras palavras, poder-se-á dizer que é o acto pelo qual se dá conhecimento ao réu

que foi proposta contra ele uma acção determinada, e se chama esse mesmo réu ao processo para

se defender, nos termos do estatuído no art. 228.º, n.º 1.

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

A citação tem uma tripla função:

Œ transmissão de conhecimento

• convite para a defesa

Ž constituição do réu como parte

Vide art. 233.º que nos indica os elementos a transmitir obrigatoriamente ao citando (pessoa que

ainda vai ser citada), sob pena de nulidade.

Quem promove a citação?

É a Secretaria que leva o processo ao gabinete do juiz, para que ele profira a sentença,

constituindo esta situação o acto de conclusão.

Assim, surge-nos o Princípio da Oficiosidade das diligências destinadas à citação a cargo da

Secretaria (art. 234.º, n.º 1) uma vez que a citação não necessita de uma apreciação técnico-

jurídica e de modo a libertar o juiz, pelo que, via de regra, é a Secretaria que a promove.

Contudo, o juiz poderá fazê-lo através de despacho judicial, constituindo esta a excepção, a par

de outras enumeradas no art. 234.º, n.º 1, in fine.

Vide art. 234.º, n.os 2 e 3 que consagra o Princípio da Celeridade.

Momento da realização da citação: via de regra, a citação tem lugar após a distribuição inicial.

Porém, há casos em que a citação precede a distribuição – são os designados casos da citação

urgente. Esta citação urgente é requerida pelo autor e vem prevista no art. 478.º.

Ex. o réu estar com uma doença grave, vindo a falecer em breve tempo, o facto do réu

poder ir para o estrangeiro, facto de a acção poder estar quase a prescrever…

Modalidades da citação (art. 233.º):

Pessoal

Œ por via electrónica de transmissão de dados (art. 255.º, n.º 2/a)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

• entrega por via postal registada à tem que ser registada com aviso de recepção (art. 236.º,

n.º 1), tendo que ser enviada ou para a residência ou para o local de trabalho do citando.

Contudo, de referir que a citação por esta via pode ser efectuada na pessoa de terceiro

(art. 234.º, n.º 4), tendo aqui a Secretaria que dar cumprimento ao art. 241.º.

Vide art. 236.º, n.os 5 e 6

Art. 237.º à quando o citando é uma pessoa colectiva, a carta vai para a sede, podendo ser

assinada pelo funcionário, sendo que assim se tem por observa a citação

Art. 238.º, n.º 1 à data em que se tem por efectuada a citação

Ž contacto pessoal do solicitador de execução ou do funcionário judicial com o citando (art.

239.º)

Os elementos a comunicar são os do art. 235.º.

O art. 239.º, n.º 7 diz-nos que a citação por intermédio de solicitador de execução pode

ser pedida logo na petição inicial.

Art. 239.º, n.º 8 à se o autor tiver declarado na petição inicial que pretende que a

citação seja levada a cabo por um funcionário judicial; se assim for está sujeita a custas (art.

105.º, n.º 1 do Código das Custas Judiciais)

Art. 234.º, n.º 6 à o que sucede se não se indicar solicitador de execução (este preceito

remete para o art. 811.º-A)

Art. 240.º à poderá haver citação com hora certa

Edital

Tem lugar quando o citando se considere ausente, em parte incerta, nos termos dos arts.

244.º e 248.º.

Como é feita (art. 248.º):

● afixação de Editais (devem afixar-se

3 editais: na “porta” do tribunal, na porta da última residência que o citando teve no país,

na sede da Junta de Freguesia respectiva) à conteúdo: art. 249.º, n.º 1

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

●publicação de anúncios em 2 números seguidos do mesmo jornal, devendo ser o de maior


tiragem (art. 248.º, n.º 3) à vide arts. 248.º, n.º 5 (quem promove esta citação) e 250.º, n.º

1 (data da citação é a da última publicação ou, na falta de anúncios, a data é a da fixação

dos editais)

Citação promovida por Mandatário Judicial (arts. 245.º, 246.º e 233.º, n.º 3)

Esta citação é muitas das vezes a mais eficaz e pode ser feita por um advogado,

solicitador de execução ou funcionário forense e não raramente pelo signatário. De referir que

estes mandatários judiciais são civilmente responsáveis.

† Dilações (art. 252.º-A) à acrescem ao prazo de defesa do citando

● 5 dias (art. 252.º-A, n.º 1/a/b) pessoa diversa do réu

residência fora da comarca daquela onde pende a acção

● 15 dias (art. 252.º-A, n.º 2) à Regiões Autónomas

● 30 dias citação edital

Citando que se encontra no estrangeiro

Vide art. 252.º-A, n.º 4 à cumulação de dilações (ex. no processo ordinário: 30 + 5 ou 30 + 15 ou

30 + 30…)

† Nulidade da Citação (art. 194.º/a)

Em que casos é que a citação é nula?

● art. 195.º à falta absoluta de citação (nulidade principal – ex. quando a citação

tenha sido forjada)

● art. 198.º à quando não hajam sido observadas as formalidades prescritas

na lei (nulidade secundária – o seu prazo é o que tiver sido indicado para a contestação – ex.

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

quando não se observam as formalidades previstas no art. 235.º para o procedimento da

citação)

A arguição da nulidade pode ser invocada em qualquer fase do processo e pode ser

reconhecida oficiosamente pelo tribunal, nos termos do que estabelecem os arts. 204.º, n.º 2 e

202.º).

† Efeitos da Citação

Materiais

Œ cessação da boa-fé do possuidor (art. 481.º/a) à ex. A, alegando que o prédio rústico lhe

pertence, instaura uma acção contra B. B era possuidor do prédio, tendo-o cultivado e adquirido

a um terceiro de boa fé. Ao instaurar-se a acção contra B e a partir do momento em que

este é citado para a acção, ele passa a ser considerado como possuidor de má-fé. Quais as

consequência? Arts. 1271.º e 1275º do CC

• interrupção dos prazos de prescrição (art. 323.º, n.º 1 CC) à é só a partir da citação que se

interrompe o prazo da prescrição

Ž interrupção dos prazos da usucapião (art. 1292.º CC) à ex. A compra a B por documento

particular, passando a exercer poderes de facto sobre esse imóvel. Decorridos 20 anos, A

tornar-se-á proprietário desse imóvel por usucapião. Se, entretanto, for citado ara uma acção de

reivindicação de propriedade, interrompe-se o prazo se aquisição por usucapião

• constituição do devedor em mora (art. 805.º CC) à é com a citação que se começam a contar

os juros moratórios

Processuais

Œ início da contagem do prazo para a contestação à é a partir da citação que se começa a contar

o prazo para que o réu conteste a acção que contra ele foi movida:

● processo ordinário à prazo de 30 dias (art. 486.º, n.º 1)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

● processo sumário à prazo de 20 dias (art. 783.º)

● processo sumaríssimo à prazo de 15 dias (art. 794.º, n.º 1)

Estes prazos para contestar designam-se de peremptórios e os que precedem os prazos

peremptórios designam-se de dilatórios.

• estabilização dos elementos essenciais da causa (arts. 481.º/b e 268.º)

- sujeitos (autor e réu)

- causa de pedir

- pedido

A regra é a de que a partir do momento da citação, não podem ser feitas modificações a

estes elementos essenciais, estando patente o Princípio da estabilidade da Instância.

Contudo, em certos casos há possibilidade de modificações à instância após a citação

(arts. 269.º, 270.º, 272.º e 273.º): podem ser levadas a cabo alterações objectivas em sede de

pedido e da causa de pedir, e alterações subjectivas que são efectuadas sobre os sujeitos.

De referir ainda que a nível das modificações objectivas podemos ter três figuras:

ampliação, redução e transformação (do pedido ou da causa de pedir) à arts. 272.º e 273.º,

consoante haja ou não acordo das partes.

Ž proibição ou inibição de nova propositura da mesma acção (arts. 481.º/c e 497.º -

litispendência)

1.5 Contagem de Prazos

Prazo período de tempo fixado para se produzir um determinado efeito processual, ou

período de tempo a que a lei sujeita a prática válida de um determinado acto em juízo

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

Tipos de prazo:

● quanto à natureza

- substantivos (art. 279.º CC)

- adjectivos ou judiciais (art. 144.º CC)

● quanto à sua fonte

- legais à fixados por lei

- jurisdicionais à fixados pelo juiz

● quanto aos efeitos (art. 145.º)

- dilatórios à prazos que diferem, para outro momento, a possibilidade de realização

prática do acto ou do início da contagem de um outro prazo (arts. 145.º, n.º 2/d e

252.º-A)

- peremptórios à prazos em que o seu decurso extingue o direito de praticar o

acto (art. 145.º, n.º 3)

Regras fundamentais (art. 148.º):

● o prazo que se conta em primeiro lugar é o dilatório

● os dois prazos contam-se como um só

Vide art. 144.º à em Processo Civil, os prazos são contínuos, não parando a sua contagem

Características do prazo judicial:

(1) é contínuo (art. 144.º, n.º 1), o que significa que ele corre seguido, só se suspendendo durante

as férias judiciais. Assim, na sua contagem, deverão contar-se, por conseguinte, os fins-de-

semana e os feriados.

Na contagem de um prazo não se inclui nem o dia, nem a hora em que tenha ocorrido o

evento a partir do qual o prazo começa a correr (art. 279.º/b CC).

Vide também o art. 144.º, n.os 2 e 3.

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

(2) é prorrogável nos casos previstos na lei (art. 147.º, n.º 1) ou quando existe acordo das partes

(art. 147.º, n.º 2)

Prazo supletivo geral: 10 dias (art. 153.º, n.º 1)

Presunção de registo ou de recebimento (arts. 254.º, n.º 3): aplica-se no caso de registo

simples, isto é, sem aviso de recepção. No caso de haver registo de recepção, a data de citação é

a data da assinatura.

Ex. notificação na Quinta-feira à com os três dias o prazo terminaria no Domingo e,

como não é um dia útil, transferir-se-ia para Segunda-feira, presumindo-se a notificação na

Terça-feira

Prática do acto fora do prazo: quando havia um prazo para contestar mas não se conseguiu dar

entrada da contestação. A entrega do acto fora do prazo fica sujeito a uma multa, nos termos do

regulado no art. 145.º, n.º 5.

Ex. se o prazo terminava a uma Sexta-feira, a contestação poderá ser entregue até

Quarta-feira, inclusive, uma vez que apenas se contam os dia úteis. Porém, há uma excepção: o

justo impedimento, regulado no art. 146.º.

1.6 Contestação

Ä peça escrita na qual o réu, chamado a juízo para se defender, responde à petição

inicial apresentada pelo autor

Requisitos:

● tem que ser endereçada, isto é, dirigida ao tribunal em que foi proposta a petição inicial

● individualizar a acção à fazer referência ao número do processo

● necessidade de narrar os factos e o direito alegados em defesa do réu, de modo


articulado, o que significa que não se admite a contestação por mera junção de documentos

(art. 151.º, n.º 2)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

● conclusão (pedido do réu para ser absolvido da instância, absolvido do pedido ou


condenado parcialmente) e assinatura (assinada por mandatário judicial no caso de ser

obrigatória a sua constituição, caso contrário é assinada pelo próprio réu) por parte de quem

a efectuou

† Prazos (diversificados consoante o tipo de acção)

Processo ordinário à prazo de 30 dias (art. 486.º, n.º 1)

Processo sumário à prazo de 20 dias (art. 783.º)

Processo sumaríssimo à prazo de 15 dias (art. 794.º, n.º 1)

Acção Declarativa Especial à prazo de 15 dias (art. 1.º, n.º 2, DL n.º 269/98, de 1 de Setembro)

Estes prazos são peremptórios e uma vez decorridos extinguem o direito de praticar o acto.

Contudo, existem os prazos dilatórios, previstos no art. 252.º-A. Assim sendo, ao prazo de

contestação poder-se-á juntar uma dilação, alargando, desta forma, o prazo.

† Conteúdo

Existem dois tipos de contestação:

impugnação

(1) contestação defesa excepção dilatória

peremptória

(2) contestação reconvenção

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

O réu limita-se a repelir, directa ou indirectamente, a pretensão do autor nos termos que

esta é deduzida, ou seja, o réu vai tomar um posicionamento concreto.

Princípios que norteiam a contestação defesa:

1.º Princípio da Concentração da Defesa na Contestação (art. 489.º, n.º 1) à está aqui

subjacente o Princípio da Boa Fé Processual

Excepções:

● defesa superveniente (art. 489.º, n.º 2)

● incompetência absoluta (art. 102.º, n.º 1)

2.º Princípio da Impugnação ou Ónus da Impugnação (art. 490.º)

Até 1927 à contestação genérica (ex. é falsa toda a matéria de facto alegada elo autor)

Pós 1927 à impugnação especificada, isto é, o réu tinha que tomar posição definitiva em

relação aos factos do autor

Actualmente à ónus da impugnação simples (ex. impugnam-se os artigos 1.º a 7.º, 10.º a

12.º, 22.º e 27.º, o que significa que não se impugnam os artigos 8.º, 9.º, 13.º a 21.º e 23.º a 26.º)

Pode haver dois tipos de defesa:

● impugnação à o réu defende-se por impugnação quando contradiz os factos articulados


na petição inicial ou quando afirma que esses factos não podem produzir os efeitos jurídicos

pretendidos pelo autor (art. 487.º, n.º 2, 1.ª parte)

● excepção à o réu defende-se por excepção quando alega factos que obstam à apreciação

do mérito da acção… (art. 487.º, n.º 2, 2.ª parte)

Ä estamos no âmbito das excepções dilatórias (ex. a falta de um pressuposto processual

constitui uma excepção dilatória e tem como consequência a absolvição da instância)

Efeitos da contestação defesa:

1.º absolvição do réu no pedido à consequência da contestação defesa por impugnação ou defesa

por excepção peremptória

2.º absolvição do réu da instância à consequência da defesa por excepção dilatória

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

3.º remessa dos autos para o tribunal competente para o julgar à dá-se quando estamos no

âmbito de uma excepção dilatória de incompetência relativa (arts. 493.º, n.º 2, in fine e 108.º e

ss, mais concretamente art. 111, n.º 3)

† Contestação Defesa por Impugnação

Esta pode ser por…

…oposição de facto:

● por intermédio de negação directa à consiste na negação directa, frontal, rotunda ou


completa dos factos articulados

● por intermédio de negação indirecta ou per positionem à o réu reconhece a realidade dos

factos ou de parte deles, mas dá-lhe uma versão diferente

…oposição de direito

Nesta, o réu defende-se alegando que a norma que é invocada pelo autor não é aplicável

ao caso em concreto, ou vem dizer que o autor interpretou a norma aplicável de forma incorrecta

Nota: de referir que poderá haver uma oposição mista, isto é, oposição de facto e oposição de

direito, conjuntamente

…desconhecimento do facto (art. 490.º, n.º 3)

† Contestação Defesa por Excepção

Existem dois tipos (art. 493.º, n.º 1):

● dilatórias (art. 494.º - elenco não taxativo) à consistem na arguição de quaisquer

irregularidades ou vícios de natureza processual que obstam, se não forem sanadas, à

apreciação da causa. Conduzem à absolvição do réu da instância, podendo, contudo, a

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

acção ser reiterada num novo processo (art. 289.º, n.º 1)

● …peremptórias (art. 493.º, n.º 3) à conduzem a uma sentença de mérito em maior

ou menor medida desfavorável ao autor, ou seja, acarretam a improcedência total ou

parcial do pedido.

Estas podem ser:

Œ impeditivas à podem ser anteriores ou contemporâneas aos factos alegados pelo autor

(ex. quando o autor alega na contestação que celebrou o contrato invocado na petição inicial, sob

coação moral: aqui a coação moral é um facto existente antes da celebração do contrato ou

contemporâneo ao momento em que é celebrado)

Exemplos de excepções peremptórias impeditivas: nulidade ou anulabilidade dos

negócios jurídicos

• modificativas à são os contrafactos posteriores que alteram e modificam os termos

do direito alegado pelo autor (ex. A é credor de B e, apercebendo-se que este se encontra em

sérias dificuldades, dá-lhe um prazo suplementar para pagar a dívida. Este facto não altera o

nascimento do direito de crédito de A sobre B, antes concedendo-lhe um prazo suplementar, ou

seja, alteram-se as condições do exercício do direito

Exemplos de excepções peremptórias modificativas: mudança de uma servidão, escolha

nas obrigações alternativas, moratória concedida ao devedor…

Ž extintivas à são constituídas pelos contrafactos posteriores ao facto alegado pelo

autor e que, portanto, nasceram ulteriormente à data em que a instância se iniciou (é por esta

característica que as conseguimos distinguir das impeditivas

Exemplos de excepções peremptórias extintivas: perdão, prescrição, pagamento,

caducidade

O réu exerce, ele próprio, o direito de acção, razão pela qual se apelida a reconvenção

também de acção reconvencional.

O réu contra-ataca, deduzindo uma pretensão autónoma contra o autor.

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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A reconvenção é dotada de autonomia porque o réu não é obrigado a reconvir, ele fá-lo por

uma questão de economia processual. Por outro lado, existe uma autonomia dado que pode haver

uma desistência do pedido por parte do autor mas, ainda assim, tal facto não impede que a acção

seja apreciada.

Exemplos:

1.º A propõe contra B, no Tribunal Judicial da Comarca de Coimbra, uma acção de condenação

no valor de 7.500€, fundamentando o seu pedido num contrato de mútuo. Por seu turno, B alega

ser credor de A e pede a sua condenação no pagamento de um contra-crédito laboral no valor de

2.500€

2.º C instaura contra D uma acção de reivindicação de um prédio rústico, no valor de 6.000€.

D, na sua contestação, alega que efectuou obras de melhoramento e de valorização no prédio,

pedindo a condenação de C no pagamento de 3.200€

Pormenores a nível processual:

● aquele contra o qual é deduzida a pretensão reconvencional é o reconvindo. O réu designa-

se de reconvinte

● qual o valor da reconvenção? É necessário indicar sempre esse valor. Qual a influência que

tem? É que ao valor da acção junta-se o valor da reconvenção, passando a acção a ter um valor

diferente, e podendo mesmo chegar a alterar o valor do processo, podendo, desta feita, um

processo sumaríssimo passar a ter uma forma de processo sumário (vide arts. 308.º, n.º 2 e

501.º)

Ex. valor do pedido = 28.500€ à processo sumário

valor da reconvenção = 2.350€ à o total (30.850€) leva a que se passe a processo ordinário

Nota: o réu deve ter depois em atenção o valor da taxa de justiça inicial

Requisitos de admissibilidade da reconvenção:

Œ requisitos processuais ou adjectivos (são cumulativos):

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

● o tribunal que julga a acção tem que ser competente para julgar a reconvenção em razão
da nacionalidade, da matéria e da hierarquia à competência absoluta do tribunal (arts.

98.º, n.º 1, 1.ª parte e 101.º) à ver o primeiro exemplo dado relativamente à contestação

reconvenção

●ao pedido do réu/reconvinte tem que corresponder a forma de processo que segue o
pedido formulado pelo autor/reconvindo, excepto se a diferença derivar do diverso valor

dos pedidos ou o juiz o autorizar (art. 274.º, n.º 3)

● identidade subjectiva das partes em posições inversas (art. 274.º, n.º 4)

• requisitos materiais ou objectivos (são cumulativos):

●quando o pedido do réu emerge de facto jurídico que serve de fundamento à acção ou
defesa (art. 274.º, n.º 2/a) à ex. A instaura uma acção de indemnização contra C fundada

em acidente de viação. B contesta alegando que em virtude de danos sofridos nesse mesmo

acidente tem também direito a ser indemnizado

●quando o réu se propõe obter a compensação ou tornar efectivo o direito a benfeitorias


ou despesas relativas à coisa cuja entrega lhe é pedida (art. 274., n.º 2/b) à ver o segundo

exemplo dado relativamente à contestação reconvenção

● quando o pedido do réu tende a conseguir em seu benefício o mesmo efeito que o autor se
propõe obter (art. 274.º, n.º 2/c) à ex. acção de divórcio litigioso em que o autor e o réu

pretendem ambos o divórcio, embora com fundamento em causas de pedir diversas

Notas:

● a reconvenção não é admissível no âmbito dos processos sumaríssimos (arts. 501.º, n.º 1 e
786.º, ad contrario)

● a improcedência da acção e a absolvição do réu na instância não obstam à apreciação do


pedido reconvencional deduzido (art. 274.º, n.º 6)

† Falta de Contestação (Revelia)

A revelia pode ser de dois tipos:

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

(1) absoluta ou agravada (art. 483.º) à sucede quando réu, apesar de citado, resolve não intervir

de forma alguma no processo

(2) relativa à sucede quando o réu, apesar de não contestar na acção, dá sinal de si nos autos

(ex. através da junção de uma procuração forense, através da apresentação de um qualquer

documento na Secretaria…

Efeitos da revelia:

Œ imediato (art. 484.º, n.º 1) à confissão dos factos alegados/articulados pelo autor. Neste

caso diz-se que a revelia é operante, impedindo, assim, o réu de alegar posteriormente quaisquer

factos impeditivos, modificativos ou extintivos da pretensão deduzida pelo autor.

Porém, para que seja operante, é necessário verem-se cumpridos dois requisitos:

● a citação deve ser pessoal e não edital


●não deve de proceder nenhuma das excepções contidas no art. 485.º, caso contrário a
revelia tem-se por inoperante

• mediato (art. 484.º, n.º 2) à o processo será facultado para exame pelo prazo de 10 dias, ou

seja, dá-se uma diminuição das fases processuais: passa-se da fase dos articulados à fase da

discussão da matéria de facto

Estamos no âmbito de uma citação por via postal (art. 236.º). A acção pende no

Tribunal Judicial da Comarca de Braga. A ré é a “Fada da Lina, Têxteis, Lda.”, com sede

e estabelecimento na Maia. Estamos no âmbito de um processo ordinário. A carta tendente

à citação foi expedida em 19 de Setembro de 2007. O aviso foi assinado a 20 de

Setembro de 2007.

Quando termina o prazo para contestar?

Por estarmos no âmbito do processo ordinário, o prazo para contestar será de 30 dias, tal

como dispõe o art. 486.º, n.º 1.

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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Esse prazo de 30 dias é peremptório, podendo, no entanto, ser dilatado através dos

designados prazos dilatórios, que é de 5 dias, segundo o articulado no art. 252.º-A, n.º 1/b.

Assim, o réu teria 35 dias para contestar, nos termos do art. 148.º que nos diz que sempre que

um prazo dilatório vem seguido de um prazo peremptório os dois cumulam-se, contando como um

só.

De acrescentar que o prazo dilatório se conta primeiro que o peremptório e são

contínuos, não se contando somente os dias úteis, o que significa que apenas se suspendem

durante as férias judiciais.

Qual é a data da citação? Nos termos do art. 238.º, n.º 1, a data é a da assinatura do

aviso de recepção, sendo que o prazo para a contestação começa a contar-se a partir do dia

seguinte ao da verificação do evento – é nesse sentido que estatui o art. 279.º/b.

Assim sendo, o prazo para contestar é até ao dia 25 de Outubro de 2007.

Contudo, há ainda possibilidade de praticar o acto fora do prazo, num prazo de 3 dias

(art. 145.º, n.º 5), sendo que esses dias são úteis.

Assim, este prazo terminaria verdadeiramente no dia 30 de Outubro de 2007 dado apenas

se contarem os dias úteis (vide também o art. 146.º).

Citação pessoal por via postal. Tribunal Judicial onde pende a acção é o da Comarca

de Vila Real. O réu reside no Porto. O aviso foi assinado por terceiro, in casu, o filho.

Estamos no âmbito de um processo ordinário. A carta foi expedida em 19 de Setembro de

2007 e assinada em 20 de Setembro de 2007.

Quando termina o prazo para contestar?

Estando no âmbito do processo ordinário, o prazo para contestar é de 30 dias, prazo este

que é peremptório, nos termos do extrapolado no art. 486.º, n.º 1.

De referir que aos prazos peremptórios podemos ter prazos dilatórios e, neste caso,

temos dois: há uma dilação de 5 dias pelo facto de a citação ter sido realizada em pessoa diversa

do réu (art. 252.º-A, n.º 1/a) e há uma outra dilação de 5 dias pelo facto de o réu ter sido citado

fora da área da Comarca sede do tribunal onde pende a acção (art. 252.º-A, n.º 1/b).

Atendendo ao art. 145.º, n.º 5, o prazo pode ainda ser acrescido de 3 dias.

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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Havendo uma cumulação de prazos, o prazo terminaria a 30 de Outubro de 2007, sendo

que, como há um acréscimo de 3 dias (nos quais só se contam os dias úteis), o prazo terminaria

somente no dia 5 de Novembro de 2007.

No âmbito de um processo, notificam-se as partes, nos termos e para os efeitos do

art. 512.º.

A notificação é expedida e registada em 26 de Março de 2007.

Quando termina o prazo para contestar?

O art. 512.º refere que há um prazo de 15 dias para alterar o requerimento probatório.

O art. 254.º, n.º 3 refere-se há presunção de registo ou de recebimento, quando se está

perante um registo simples. Assim, a data da citação presume-se 3 dias depois do registo, pelo

que, tendo sido registada a 26 de Março de 2007, se presume que a notificação postal haja sido

efectuada no dia 29 de Março de 2007. Havendo o prazo peremptório de 15 dias, vão-se cumular

os prazos, suspendendo-se a contagem dos mesmos durante as férias judicias, pelo que este

prazo se recomeça a contar no dia 10 de Abril de 2007, cessando, presumivelmente, no dia 22 de

Abril de 2007. Contudo, diz-nos o art. 144.º que quando o dia não é útil se transfere para o

primeiro dia útil imediatamente a seguir, pelo que o prazo para contestar terminaria no dia 23 de

Abril de 2007.

Porém, há ainda a possibilidade de se praticar o acto fora do prazo, nos termos do

regulado no art. 145.º, n.º 5, pelo que ao prazo já indicado cumulariam mais 3 dias. Assim, o prazo

para a contestação cessaria tão só no dia 27 de Abril de 2007.

No âmbito de um processo, o autor é notificado de uma contestação com excepções.

Pretende lançar mão da réplica, nos termos do art. 502.º, n.º 3.

De referir que a notificação foi registada em 25 de Julho de 2007.

Calcule o prazo.

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
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O prazo peremptório é de 15 dias, nos termos do art. 502.º, n.º 3. Contudo, tratando-se de

um registo simples, presume-se que a data da citação é de 3 dias depois do registo. Assim, tendo

sido registada no dia 25 e só se contando os dias úteis, o prazo terminaria no dia 30 de Julho de

2007. Mas, há ainda que fazer a contagem do prazo peremptório de 15 dias, cuja contagem vai

ser interrompida durante as férias judiciais.

Deste modo, a contagem do prazo inicia-se no dia 31 de Julho, terminando no dia 14 de

Setembro.

Porém, havendo a possibilidade de se praticar o acto nos três dias subsequentes à

cessação do prazo, aplica-se o art. 145.º, n.º 5, pelo que o prazo terminará tão só no dia 19 de

Setembro, visto apenas se proceder à contagem dos dias úteis.

1.7 Réplica

Ä articulado pelo qual o autor responde à contestação do réu quando nesta tenha

sido deduzida alguma excepção ou formulado um pedido reconvencional

Funções (arts. 502.º e 273.º):

(1) se estivermos perante uma contestação defesa por excepção é que o autor pode

lançar mão da tréplica contudo, está só serve para responder à matéria da excepção.

(2) a réplica serve para fazermos a defesa à matéria da reconvenção.

(3) há também a admissibilidade de a réplica exercer uma outra função, que é a alteração

ou ampliação do pedido ou da causa de pedir (art. 273.º, n. os 1 e 2).

Se estivermos perante uma contestação defesa por impugnação, a réplica não é admissível.

Prazos da réplica (poderão ser prorrogados nos termos do articulado no art. 504.º):

● defesa por excepção à 15 dias (art. 502.º, n.º 3, 1.ª parte)

● contestação reconvenção à 30 dias (art. 502.º, n.º 3, 2.ª parte)

Consequência de não haver réplica quando o autor está habilitado a fazê-lo: a falta de

impugnação à matéria da excepção ou da reconvenção tem como efeito a confissão destes factos

(arts. 505.º e 490.º)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

A réplica, tal como a contestação reconvenção, necessita de ser articulada, nos termos do

art. 151.º, n.º 2. Além disso, obriga ao pagamento da taxa de justiça inicial devida pela oposição à

reconvenção (arts. 23.º e 24.º, n.º 1 do Código das Custas Judiciais).

Ex. petição inicial = 5.000€ à taxa de justiça inicial

contestação = 5.000€ à taxa de justiça inicial

reconvenção = 2.500€ à taxa de justiça inicial

7.500€

oposição à reconvenção à taxa de justiça inicial

1.8 Tréplica

Ä articulado pelo qual o réu responde à réplica do autor no caso excepcional de na

réplica o autor ter alterado o pedido ou a causa de pedir, ou se, no caso de reconvenção, o autor

tiver deduzido alguma excepção, a réplica é o articulado de resposta ao réu (art. 503.º, n.º 1)

Prazo: 15 dias (art. 503.º, n.º 2), sem prejuízo da possibilidade de prorrogação desse mesmo

prazo, de acordo com o art. 504.º

1.9 Articulados Supervenientes (arts. 506.º e 507.º)

Ä trazer aos autos os factos ditos supervenientes

Ex. A propõe uma acção de divórcio litigioso contra B, com fundamento em ofensas corporais

e verbais de que foi vítima. Se, na fase de saneamento e condensação do processo, A tem

conhecimento que B mantivera relações sexuais com C, estamos perante um facto novo que pode

ser trazido para o processo por intermédio de um articulado superveniente

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

Vide art. 506.º, n.º 1, in fine à no limite pode apresentar-se um articulado superveniente até ao

encerramento da discussão em 1.ª Instância

Vide art. 506.º, n.º 3 à regra

Qual a atitude do juiz perante um articulado superveniente?

O juiz deve admitir ou rejeitar o articulado, por intermédio de despacho (art. 506.º, n.º

4).

Se ele o admitir, deve ordenar-se a notificação da parte contrária para a ele responder

no prazo de 10 dias, dando-se, assim, cumprimento ao Princípio do Contraditório.

1.10 Saneamento e Condensação do Processo ou Fase de Audiência Preliminar

Em sentido amplo abrange a fase do pré-saneamento e a fase da audiência preliminar em

sentido restrito. Mas, esta divisão não é muito rigorosa dado que nesta fase ainda não há uma

verdadeira audiência (arts. 508.º e ss).

† Fase do Pré-Saneamento

Há a prolação do despacho pré-saneador, que não é mais que o despacho destinado a

providenciar pela sanação da falta de pressupostos processuais e/ou convidar as partes ao

aperfeiçoamento dos articulados, segundo o que se infere se art. 508.º.

No que respeita a este despacho e no âmbito do aperfeiçoamento dos articulados, temos

duas hipóteses:

Πo juiz convida as partes a suprirem as irregularidades que os articulados padecem, fixando um

prazo para o efeito (ex. se a parte não juntar um documento essencial para a causa – art. 508.º,

n.º 2)

• convite para que as partes supram as insuficiências na exposição ou concretização da matéria

de facto (art. 508.º, n.º 3)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

† Fase da Audiência Preliminar em Sentido Restrito (art. 508.º-A)

Esta fase precede a audiência final e tem fins ditos principais ou essenciais (art. 508.º-A,

n.º 1/a/b/c/d/e) e fins complementares (art. 508.º-A, n.º 2/a/b/c). Contudo, a audiência

preliminar pode visar todos os fins ou somente alguns deles.

Fins Principais (art. 508.º-A, n.º 1)

a) realização da tentativa de conciliação à tem carácter facultativo e visa que as partes

cheguem a acordo, se bem que a satisfação nunca é total, devendo haver uma cedência recíproca

de interesses. Porém, “mais vale um bom acordo que uma boa demanda”.

b) visa evitar as decisões surpresa

c) discutir as posições das partes

d) proferir despacho saneador (art. 510.º) à é uma peça processual autónoma. É

obrigatório e deve ser ditado para acta, sendo que visa expurgar do processo os vícios de que o

mesmo padece. Abrange também a condensação do processo, sendo que é no despacho que o juiz

deve especificar os factos

e) quando a acção tenha sido contestada à matéria de facto tida como assente, isto é,

tida como provada mediante factos confessados expressamente pelo réu (art. 484.º, n.º 1),

mediante documentos, tais como certidões, contratos, cheques…

Fins Complementares (art. 508.º-A, n.º 2)

a) indicar os meios de prova

b) designação da data para julgamento

c) requerer a gravação da audiência final ou a intervenção do colectivo

1.11 Instrução – Direito Probatório

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

Instrução corresponde ao período da acção que se destina à assunção dos meios de prova

relativos aos factos que integram a base instrutória

Esta fase visa dois fins:

Œ imediato à apresentação e introdução da prova

• mediato à demonstração da realidade de um facto ou de um conjunto mais ou menos extenso

de factos controvertidos constantes da fase instrutória ou constantes da petição inicial e da

contestação, no caso em que não existe base instrutória

Quais os factos excluídos da instrução?

● factos assentes (que constam do despacho saneador)

● factos notórios (art. 514.º, n.º 1)

● factos do conhecimento oficioso do tribunal (art. 514.º, n.º 2)

† Direito Probatório

Ä conjunto de normas que regulam a fase instrutória

Modalidades:

Œ direito probatório formal ou processual à conjunto de normas que se limitam a regular o modo

de oferecimento ou produção das provas em juízo

• material à normas reguladoras das provas que fixam os meios admissíveis de que o tribunal se

serve para apurar a realidade dos factos que, de acordo com o direito aplicável, interessam ao

exame e decisão da causa, e ainda para determinar o valor de cada um deles na demonstração dos

factos

O direito probatório material conduz a três problemas:

Œ ónus da prova à encargo que recai sobre uma parte para fazer a prova dos factos que lhe

interessam, para que a decisão lhe venha a ser favorável. Consequência da não apresentação da

prova: perda da acção

Exemplos:

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

● A instaura uma acção de despejo contra B alegando que lhe arrendou uma fracção
autónoma de um edifício para uso habitacional, encontrando-se B a usá-la para actividade

médica. Estando B a fazer uso diverso do que originou arrendamento, tem o senhorio o

direito de resolver o contrato. Se o inquilino, na contestação, alegar que nunca usou a fracção

arrendada para fim diverso. Sobre quem recai o ónus da prova? Sobre o A

● C instaura contra D uma acção judicial pedindo a condenação deste no pagamento de


determinada quantia pecuniária. D, na sua contestação, vem alegar que já procedeu ao

pagamento desta quantia. Quem tem de provar? É o D

Qual o critério distintivo a utilizar?

Quem alega os factos constitutivos é quem deve fazer a prova desses factos, ou seja,

compete fazer a prova da excepção desses factos a quem os alegue.

Funciona como regra de julgamento à o juiz deve decidir contra a parte sobre a qual

recai o ónus da prova e, no caso de essa parte não lograr efectuar a prova sobre os

factos cuja obrigatoriedade sobre si recai, incorre na consequência desvantajosa de

ver tido como provados os factos contra ele alegados

• admissibilidade dos meios de prova à elementos de que o julgador se pode servir para formar

a sua convicção sobre um determinado facto

O princípio é o de que são admitidos todos os meios de prova, pese embora a lei

estabelecer limites a esses meios.

Na lei substantiva há determinados factos que têm que ser provados através de um único

documento (ex. a compra e venda de um imóvel só pode ser comprovada por escritura pública).

Na lei processual temos, por exemplo, o art. 616.º, n.º 1 e também o art. 617.º.

Quais os meios de prova que a lei prevê?

(1) presunções relativas ou legais (art. 319.º) à são as ilações que a lei ou o julgador retiram de

um facto conhecido para afirmar um facto desconhecido (ex. arts. 493.º, n.º 2 e 441.º)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

(2) confissão oral à reconhecimento que a parte faz da realidade de um facto que lhe é

desfavorável e que favorece a parte contrária (art. 352.º CC; vide arts. 552.º a 567.º CPC); e

prova escrita

O art. 355.º CC diz-nos que a confissão pode ser judicial ou extrajudicial.

Artigos importantes:

● art. 552.º à a nível processual a confissão denomina-se por depoimento

● art. 556.º à momento e lugar do depoimento

● art. 558.º à ordem dos depoimentos

● art. 559.º à prestação do juramento

● art. 563.º à redução a escrito do depoimento da parte

● art. 560.º à interrogatório

● arts. 561.º, n.º 1 e 562.º, n.º 1 à pedidos de esclarecimento ao depoente

● art. 652.º, n.º 3/a à o depoimento da parte precede a prova testemunhal

(3) prova pericial à o seu fim é a apreciação de factos por meio de peritos (arts. 568.º a 591.º)

Artigos importantes:

● art. 568.º à quem realiza a perícia

● art. 570.º à desempenho da função de perito

● art. 577.º à indicação do objecto de perícia

● art. 578.º à fixação do objecto da perícia

● art. 581.º à prestação de compromisso pelos peritos

● art. 586.º à relatório pericial

● art. 587.º à reclamações contra o relatório pericial

● art. 588.º à comparência dos peritos na audiência final

● arts. 589.º a 591.º à possibilidade de haver uma segunda perícia quando não haja acordo

(4) inspecção judicial à tem por fim a percepção dos factos pelo tribunal, apreciando este

livremente os seus resultados (arts. 390.º, 391.º e 612.º a 615.º)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

(5) prova testemunhal à prova rainha (arts. 616.º a 645.º)

Artigos importantes:

● art. 616.º à capacidade para depor como testemunha

● art. 618.º à recusa legítima a depor

● art. 619.º à rol de testemunhas

● art. 621.º à lugar e momento da inquirição

● art. 623.º à inquirição por teleconferência

● art. 627.º à pessoas incapacitadas de comparecer por doença

● art. 629.º à designação das testemunhas para inquirição

● art. 632.º à limite do número de testemunhas

● art. 633.º à número de testemunhas que podem ser inquiridas sobre cada facto

● art. 634.º à ordem dos depoimentos

● art. 638.º, n.º 1 à regime do depoimento

● arts. 640.º e 642.º à incidentes: contradita e acareação

● art. 644.º à abono das despesas e indemnização

● art. 645.º à inquirição por iniciativa do tribunal

(6) conduta processual das partes

(7) prova documental à resulta de um documento, sendo este um objecto elaborado pelo homem

com o fim de representar uma pessoa, uma coisa ou um facto (art. 363.º, n.º 2 CC)

Os documentos podem ser:

●autênticos à são exarados, com formalidades legais, por autoridades públicas no limite
das suas competências (art. 363.º, n.º 2, 1.ª parte CC)

●particulares à todos os outros documentos, assumindo a modalidade de autenticados


se forem confirmados elas partes perante o notário ou perante um outro profissional com

competência (art. 263.º, n.os 2 e 3)

No CPC, esta prova vem regulada os arts. 523.º a 551.º-A. Artigos mais relevantes:

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

● art. 523.º à momento da apresentação

● art. 524.º à apresentação em momento posterior

● art. 526.º à notificação à parte contrária

● art. 528.º à documentos em poder da parte contrária

● art. 529.º à não apresentação do documento

● arts. 544.º e 546.º à impugnação da genuinidade de documentos

Ž força probatória dos vários meios de prova

Vigora o princípio de que os meios de prova fazem prova bastante, isto é, o tribunal

aprecia livremente as provas para formar a sua convicção (art. 655.º, n.º 1 CPC e art. 396.º CC).

Contudo, existem outros meios de prova que fazem prova plena da prova bastante dos

factos a que respeitam (ex. prova documental e confissão escrita à a convicção do juiz

relativamente aos factos provados por documento só pode ser destruída pela prova do contrário,

prova essa que deve constar no próprio documento).

Além disso, ainda há meios de prova que fazem prova pleníssima, ou seja, nem sequer

admitem prova em contrário (ex. art. 1261.º, n.º 2 CC em conjugação com o art. 1260.º, n.º 3 CC).

1.12 Audiência de Discussão e Julgamento (Audiência Final)

Há a possibilidade de certos factos ou certos meios de prova serem apresentados nesta

fase, no lugar de terem sido apresentados na fase de instrução.

Princípios que norteiam a audiência final:

Œ Princípio da imediação (art. 654.º) à a fase da audiência final é marcada por um confronto

directo entre o juiz e as partes, as testemunhas e os advogados, solicitadores, isto de modo a

captar-se melhor a realidade

• Princípio da Publicidade (art. 656.º, n.º 1, 1.ª parte) à a audiência final é, em regra, pública,

podendo todas as pessoas a ela assistir

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

Ž Princípio da Concentração (art. 656.º, n.º 2) à impõe que a discussão e julgamento ocorram

sem interrupções e de forma contínua

A audiência final (marcada na audiência preliminar – art. 508.º-A) começa com uma

tentativa de reconciliação, nos termos estatuído no art. 652.º.

Em regra, a audiência final tem lugar perante um tribunal singular, segundo o preceituado

no art. 646.º, ad contrario.

No art. 651.º encontramos elencadas as causas de adiamento da audiência, sendo que

apenas uma vez pode ser adiada, segundo o que dispõe o art. 651.º, n.º 3.

O art. 279.º refere-se à suspensão da audiência por determinação do juiz.

Nota: a falta de testemunhas não constitui causa de adiamento da audiência (art. 629.º, n.º 2)

Audiência de Discussão e Julgamento

1.º discussão da matéria de facto 2.º julgamento da matéria de facto

3.º discussão da matéria de direito 4.º julgamento da matéria de direito

5.ª fase à sentença

1.º Discussão da Matéria de Facto (arts. 652.º, n.º 3/e e 652.º, n.º 5)

Os debates são as exposições orais nas quais os mandatários procuram definir a posição

do seu constituinte, tendo especialmente em conta os elementos probatórios recolhidos na

audiência final.

Notas importantes:

● a primeira exposição pertence ao advogado do autor e a segunda ao advogado do réu

● nas alegações o advogado dirige-se ao juiz

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

● no processo ordinário não há limite de tempo para as alegações, o que pode acontecer é os

magistrados pedirem para que as mesmas sejam breves

● estes debates são sempre feitos de modo oral

● pode acontecer que a matéria de facto e a matéria de direito sejam discutidas


conjuntamente se as partes prescindirem da discussão por escrito

A discussão oral apresenta vantagens e desvantagens:

Vantagens

● é mais rápida quer por parte de quem alega, quem por parte de quem aprecie a

discussão, ou seja, é mais célere

● é uma fase mais sugestiva para quem ouve e mais estimulante para quem alega

Desvantagens

● dificultação da reflexão e da ponderação de quem alega e de quem julga, facilitando o

triunfo das “razões mais sedutoras”, embora mais consistente

2.º Julgamento da Matéria de Facto (art. 653.º)

3.º Discussão da Matéria de Direito (art. 657.º)

4.º Julgamento da Matéria de Direito (é equivalente à sentença)

1.13 Sentença

É a última fase do processo, na qual o juiz singular vai aplicar a matéria de direitos aos

factos. Com efeito, uma vez concluída a fase de discussão do aspecto jurídico da causa, tem o

juiz o prazo de 30 dias para proferir a sentença, nos termos do art. 658.º.

Estrutura da sentença (art. 659.º, n.º 4):

1.ª parte: relatório (art. 659.º, n.º 1) à contar, de modo, sucinto, os factos ocorridos

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

2.ª parte: fundamentação (art. 659.º, n.º 2, 1.ª parte) à decisão/julgamento da matéria de

facto

3.ª parte: decisão (art. 659.º, n.º 2, 2.ª parte) à conclusão da sentença, traduzindo-se na

resposta directa do tribunal às pretensões da parte

Decisões sobre que pode versar uma sentença:

● pode decidir sobre questões processuais à decisão: absolvição do réu da instância

● pode decidir sobre questões de mérito ou de fundo à decisão: condenação do réu no


pedido ou absolvição do réu no pedido

● podem decidir sobre questões processuais e sobre questões de mérito e de fundo à


estas julgam a improcedência de uma excepção dilatória, ou seja, não consideram verificada

a existência de uma excepção dilatória, e condena ou absolve, em todo ou em parte, o réu no

pedido

A nível acessório:

● deve decidir sobre as custas do processo (art. 446.º)

● litigância de má fé (arts. 456.º a 459.º)

Efeitos da Sentença (quer de ordem processual, quer de ordem substantiva):

Œ trânsito em julgado à quando a sentença se torna definitiva em virtude de não ser susceptível

de reclamação ou recurso ordinário (art. 677.º)

• extinção da instância (art. 287.º/a)

Ž formação de caso julgado à pode ser formal (só produz efeitos dentro do próprio processo)

ou material (produz efeitos dentro e fora do processo)

• esgotamento do poder jurisdicional, ou seja, uma vez proferida a sentença o juiz deixa de ter a

possibilidade de a alterar, no que respeita aos seus aspectos fundamentais

• exequibilidade à a sentença é o título executivo por excelência e, como tal, dá azo a uma acção

executiva (art. 46.º, n.º 1/a)

‘ constituição do devedor de prestação pecuniária em obrigação de juros à taxa de 5% ao ano,

desde o trânsito em julgado da sentença (art. 829.º-A, n.º 4)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

2. Formalismo do Processo de Declaração Sumário. Especialidades

Existem três ordens de disposições legais (art. 463.º):

Œ disposições próprias (arts. 783.º a 791.º)

• disposições gerais e comuns – são comuns aos três processos (arts. 137.º a 466.º)

Ž disposições próprias do processo ordinário

Notas características:

● notória simplificação dos actos processuais

● apreciável aceleração do ritmo do processo à encurtamento dos prazos processuais

† Diferenças entre o Processo Sumário e o Processo Ordinário

Fase dos Articulados

(1) não há réplica nem tréplica (art. 273.º) mas sim resposta à contestação (art. 785.º:

contestação defesa por excepção; art. 786.º: contestação por reconvenção

(2) no que respeita a prazos, no processo sumário o prazo para contestar é reduzido para 20 dias

(art. 783.º) e o prazo da resposta à contestação é de 10 dias (arts. 785.º e 786.º)

No processo ordinário o prazo para apresentar a réplica é de 15 dias (defesa por excepção) e

30 dias (contestação reconvenção), nos termos do art. 502.º.

(3) No que respeita à revelia, no âmbito do processo sumário o juiz, na falta de contestação, pode

tomar uma atitude concreta (art. 784.º) ao passo que no processo ordinário os factos contra o

réu alegados são tidos como confessados (art. 484.º)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

Fase do Saneamento e Condensação do Processo:

(1) no processo ordinário é necessário audiência preliminar, tal como o estatuído no art. 508.º-

A. Ao invés, no processo sumário, só quando a complexidade da causa o exija é que o juiz realiza a

audiência preliminar (art. 787.º)

(2) o juiz pode abster-se de fixar a base instrutória, segundo articula o art. 787.º, n.º 1.

Fase da Instrução

(1) o prazo para o cumprimento das cartas precatórias (notificação em Portugal) ou rogatórias

(notificação no estrangeiro) expedidas para produção de prova, no processo sumário, é de 30 dias

(art. 788.º). Já no âmbito do processo ordinário, o prazo é de 2 ou 3 meses, nos termos do art.

181.º, n.os 1 e 2

(2) o número de testemunhas e reduzido no âmbito do processo sumário (10 no total e 3 por cada

facto), segundo articula o art. 789.º. Já no que concerne ao processo ordinário, o máximo de

testemunhas é 20 no total e 5 por cada facto

Audiência de Discussão e Julgamento

(1) a audiência final é marcada para dentro de 30 dias (art. 791.º, n.º 1; vide também o art. 790.º)

(2) a instrução, discussão e julgamento incumbem a um juiz singular (art. 791.º, n.º 1, 2.ª parte),

diversamente do processo ordinário em que pode haver intervenção do tribunal colectivo se as

partes assim o requererem (art. 646.º)

(3) os debates sobre a matéria de facto não podem exceder 1h por cada mandatário (art. 790.º),

ao passo que no processo ordinário não há limite de tempo para as alegações

(4) a decisão da matéria de facto constará de despacho proferido logo após a produção da prova,

nos termos do art. 791.º, n.º 3; quanto ao processo ordinário vide art. 653.º

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

3. Formalismo do Processo de Declaração Sumaríssimo. Especialidades

Existem quatro ordens de disposições legais (art. 464.º):

Œ disposições próprias do processo sumaríssimo (arts. 793.º a 796.º)

• disposições gerais e comuns (arts. 137.º a 466.º)

Ž disposições do processo sumário (arts. 783.º a 791.º)

• disposições do processo ordinário (arts. 467.º a 777.º)

† Diferenças entre o Processo Sumaríssimo e o Processo Ordinário

No processo sumaríssimo elimina-se a fase do saneamento do processo e a fase da instrução.

Contudo, existe apresentação dos meios de prova mas é na fase da audiência.

Articulados

(1) os articulados são somente a petição inicial e a contestação (arts. 793.º e 794.º)

(2) os articulados não carecem ser produzidos/redigidos por artigos (art. 793.º) dado que as

partes podem litigar por si próprias desde que o valor da acção não exceda o valor de 5.000€ à

até este valor não é obrigatória a constituição de mandatário judicial

(3) nestes articulados (petição inicial e contestação) deve ser feita a proposição da prova (arts.

793.º e 794.º, n.º 1, in fine)

(4) o prazo para contestar é de 15 dias (art. 794.º, n.º 1)

(5) após o oferecimento dos articulados, ocorrendo excepção dilatória ou nulidade, a acção pode

ser logo decidida por mérito (art. 795.º, n.º 1)

Audiência de Discussão e Julgamento

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

(1) a falta de qualquer das partes ou dos seus mandatários, ainda que justificada, não é motivo

de adiamento (art. 796.º, n.º 2). Ao invés, no processo sumaríssimo, a ausência de um dos

mandatários judiciais é motivo de adiamento (arts. 651.º, n.º 1/c/d e 155.º)

(2) é, normalmente, na audiência que o juiz determina a realização de diligências probatórias por

sua iniciativa (art. 796.º, n.º 1)

(3) as testemunhas são, em regra, apresentadas pelas partes, só sendo notificadas quando a

parte haja requerido a sua notificação (art. 796.º, n.º 4)

(4) as testemunhas inquiridas não podem ser mais de 6 por cada parte (art. 796.º, n.º 1). Sobre

cada facto aplica-se a disposição do processo sumário, ou seja, um limite de 3 (art. 789.º, in fine)

(5) a prova pericial é sempre feita por um só perito (art. 796.º, n.º 5, in fine)

(6) a prova só é gravada se o juiz oficiosamente o determinar (art. 791.º, n.º 2, ad contrario e

art. 796.º, n.º 1, in fine) à pelo facto de não haver recurso não é necessário ouvir novamente os

depoimentos, pelo que não é necessária a sua gravação

(7) a discussão da matéria de facto e de direito é feita pelo advogado de cada parte numa mesma

alegação, que deve ser breve (art. 796.º, n.º 6) à em princípio não deverá exceder os 30 minutos

(8) a sentença em que o juiz decide de facto e de direito é oral à deve ter uma fundamentação

sucinta e é ditada para a acta da audiência

(9) quando as partes não hajam constituído mandatário judicial ou este não comparecer, a

inquirição das testemunhas é feita pelo juiz (art. 796.º, n.º 3) e, não havendo mandatário não há

lugar a alegações das partes (art. 796.º, n.º 6, in fine)


Tribunal

de 1.ª Instância

articulados normais

Tribunal

da Relação

STJ

Pretensão do direito material que é deduzida ou decretada pelo tribunal (pagamento de quantias)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

o terceiro decide , por vontade própria, intervir na causa, isto é, ele, por si só, toma a iniciativa

de intervir na causa pendente

quando as partes na causa provocam a intervenção de um terceiro, chamando-o

o terceiro é única e exclusivamente auxiliar das partes principais, ou seja, não irá adoptar uma

posição principal, indo tão só assessorar a acção

São geralmente todos os processos

Está em causa a defesa de um terceiro

o terceiro assumirá a posição de parte principal, ou seja, a acção vai obrigar o terceiro

articulados excepcionais

no processo sumaríssimo suprem-se estas duas fases

30.000€

> 30.000€ - Processo Ordinário

5.000€

até =< 30.000€

(Processo Sumário)

de 0,01€

=< 5.000€

(Processo Sumaríssimo)

Vertentes adjectivas ou procedimentais das medidas cautelares

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008
Direito Processual Civil Sumários

função estadual atribuída ao tribunal que se traduz na resolução dos conflitos que lhe são

sujeitos, ou seja, é o poder de julgar genericamente atribuído ao conjunto dos tribunais

poder resultante do fraccionamento do poder jurisdicional entre os diversos tribunais

Ä alegação de factos modificativos ou extintivos do direito de autor (ex. caducidade, prescrição)

Ä alegação de factos modificativos ou extintivos do direito de autor (ex. caducidade, prescrição)

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Ana Costa – Solicitadoria – 2.º ano – 1.º Semestre – 2007/2008

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