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O ALONGAMENTO MUSCULAR

Parte I - A interação neuromuscular

Odete Fátima Sallas Durigon *

Durigon, O.F.S. O alongamento muscular. Rev. Fisioter. Univ. São Paulo, 2 (1) : 40-4, Jan. / jul., 1995.

RESUMO : Este artigo discute os mecanismos fisiológicos envolvidos no alongamento muscular,


ressaltando aspectos de importância a serem levados em conta durante a utilização deste recurso
fisioterapia).

DESCRITORES: Alongamento muscular. Fisioterapia

INTRODUÇÃO envolve um mecanismo extremamente com-


plexo de regulação periférica do movimento,
O alongamento muscular é um procedi- o qual nem sempre é compreendido quanto
mento de rotina na clínica fisioterápica e, em mais bem explorado.
geral, o fisioterapeuta preocupa-se com os Ao alongarmos um músculo, interfe-
componentes osteomioarticulares envolvidos, rimos com a circuitaria do reflexo miotático,
procurando controlar o posicionamento do que tem como função primária, entre outras,
paciente de modo a isolar o grupo muscular a proteção da estrutura muscular.
que se pretende trabalhar, de maneira a prote- O conhecimento dos mecanismos de controle
ger as demais estruturas corporais, condu- da motricidade nos ensina que, na realidade,
zindo-se com cautela com relação à força a morfologia e fisiologia deste arco reflexo
com a qual procede a mobilização, se passi- constitui a via final comum para as informa-
va, ou no controle dos movimentos compen- mações eferentes segmentares ou supraseg-
satórios, quando ativo. mentares, que em última análise produzem a
Contudo, o que aparentemente parece ser expressão motora dos comportamentos, quer
um procedimento muito simples, na verdade de caráter postural ou dinâmico

* Professora Assistente do Curso de Graduação em Fisioterapia da Faculdade de Medicina da


Universidade de São Paulo.
Endereço para correspondência: Rua Cipotânia, n° 51 - Cidade Universitária - 05360-000 São Paulo, SP.
Os receptores sensorials envolvidos no com descarga proporcional à variação de
controle do comprimento muscular são os fu- velocidade. Quanto maior a velocidade de
sos musculares, que, por estarem entremeados alongamento, maior a freqüência de impulsos
em paralelo com as fibras do músculo, são gerados nas fibras aferentes pela tenninação,
alongados em conjunto com elas, causando para um mesmo grau de alongamento, e,
uma deformação mecânica que estimula as conseqüentemente, a resposta reflexa é mais
terminações primárias e secundárias do intensa.
receptor. A estimulação causa descargas que Adicionalmente, as tenrünações primá-
ao chegar à medula são interpretadas dentro rias são mais sensíveis a pequenas e rápidas
do contexto motor vigente, podendo gerar alterações do comprimento do músculo como
desde uma simples resposta miotática até as causadas pelo tapping ou pela "vibração",
complexos ajustes motores. Alguns fisiolo- sendo, portanto, esta a base fisiológica dos
gistas arrolam os órgãos tendinosos de Golgi principais efeitos gerados por esses tipos de
na intermediação da resposta ao alongamen- 5
manobra. Assim, pelo padrão de atividade
to, em virtude de eles se situarem nas inser- dessas terminações, o SNC pode reconhecer
ções proximal e distai do músculo, que são e diferenciar entre um alongamento em
tensionadas durante os grandes alongamen- andamento, posição final alongada, retorno
tos. Contudo, os estudos eletrofisiológicos ao comprimento inicial e todas as demais
demonstram que a freqüência dos impulsos possíveis graduações intermediárias. Essas
nestes receptores durante o alongamento é informações, somadas às demais registradas
muito baixa, enquanto aquela provocada pelos sensores articulares e cutâneos, consti-
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pelos fusos musculares é intensa. ' Uma tuem o referencial sobre o qual o programa
revisão destes conceitos básicos poderá ser de um dado movimento é elaborado,
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encontrada em várias publicações. ' ' corrigido ou reforçado.
A especialização dos fusos musculares é
tal que pode, além do grau de alongamento, O comportamento do conjunto neuro-
informar sobre sua velocidade e se é de muscular durante o alongamento.
caráter estático ou dinâmico.
Quando o músculo é alongado ou libera- Ao abordarmos um músculo com
do do alongamento, identificamos duas rases manobras que causam o seu alongamento,
de alteração de seu comprimento uma rase obteremos, em princípio, como reação nor-
dinâmica, que corresponde ao período em mal, aumento da resistência ao movimento,
que o comprimento do músculo está se de caráter puramente reflexo, denominado
alterando, e uma rase estática, quando o reação de alongamento, que aos poucos
músculo está estabilizado em novo compri- vai-se diluindo com adaptação do fuso
mento. A terminação primária é muito mais muscular.
ativa durante a rase dinâmica e a secundária No paciente neurológico em que geral-
muito mais ativa durante a rase estática. mente há alteração do tono muscular, essa
A velocidade do alongamento é outra reação expressa-se por maior incremento no
informação gerada pelo fuso, dada à capaci- tono, motivo pelo qual o fisioterapeuta cos-
dade e de a terminação primária de responder tuma dizer que o alongamento inicialmente
causa hipertonia muscular nesses pacientes. zado voluntariamente ou com permissão do
Entendemos que, por se tratar de um meca- paciente.
nismo normal de reação fisiológica, essa O treinamento da elasticidade muscular
alteração transiente não deve ser interpretada incrementa a extensibilidade do músculo
como "piora do quadro tônico", tratando-se como um todo. Embora pareça óbvia, tal
apenas de uma reação de maior proporção afirmação é procedente, uma vez que é
em função do desequilíbrio pré-existente, não conceito corrente que o alongamento fortale-
se justificando sua contra-indicação para ce o músculo.
esse tipo de paciente; qualquer outro proce- Evidentemente, quando se utiliza o esfor-
dimento empregado gerará esse mesmo pa- ço ativo, acaba por ocorrer um incremento da
drão de resposta até que o fuso muscular capacidade contrátil do músculo, que não se
hiperativo se adapte à solicitação, o que, em traduz, necessariamente, por aumento da
linguagem fisioterápica, denomino dessensi- força muscular.
bilização do fuso muscular hiperatitivo, que O fortalecimento somente ocorre quando
engloba a propriedade de adaptação do se utiliza carga máxima ou supra máxima,
receptor mais o mecanismo de habituação, quando são mobilizados os mecanismos de
que é uma forma de aprendizado que ocorre recrutamento das unidades motoras e o au-
sempre que um dado tipo de estimulação é mento da sua freqüência de descarga. Dificil-
aplicada em intensidade e freqüência regula- mente o esforço do alongamento constitui
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lares. carga máxima, ocorrendo, então, se tanto,
Contudo, qualquer variação ocorrida em um aumento na resistência muscular em
um desses parâmetros é imediatamente função da repetição ou do aumento do tempo
detectada pelo fuso, que intervém na nova de duração dos exercícios.
situação respondendo à estimulação em nível O fortalecimento pode, excepcionalmen-
segmentar ou envolvendo controle suprasseg- te, ser obtido dessa forma em pacientes
mentar, dependendo do comportamento neurológicos, explorando-se o reflexo de
vigente. estiramento para tanto. Tal procedimento,
Evidentemente, os processos citados aci- contudo, é motivo de grande polêmica entre
ma ocorrem em qualquer organismo, intacto fisioterapeutas, mas nossos protocolos clíni-
ou lesado (com exceção das lesões cos têm mostrado sua eficiência. Entretanto,
periféricas), quando o arco reflexo está não nos deteremos nesta questão por fugir
comprometido, expressando-se diferentemen- ao escopo deste trabalho. Os dados prelimina-
te segundo a situação de base. res referentes a esses protocolos foram par-
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Acrescenta-se que o fuso muscular,como cialmente divulgados.
qualquer outro receptor, pode sofrer modula-
CONCLUSÕES
ção eferente, explicando a permissividade do
fuso ao alongamento, ainda que na vigência A partir do que foi exposto podemos
de dor, sem que o reflexo miotático reaja adotar pequenas precauções que facilitam a
defensivamente, impedindo o alongamento execução dos procedimentos de alongamento
pretendido quando o procedimento é reali- e, portanto, a sua eficiência. Muitas destas
medidas o próprio bom senso já se encarre- Por outro lado, a estabilização rítmica
gou de garantir, uma vez que o terapeuta envolvendo contração alternada de agonistas e
aprende qual a melhor forma de abordar antagonistas beneficia-se do mecanismo de iner-
determinado músculo por tentativa e erro, ou vação/inibição recíproca, reduzindo a atividade
pela experiência prática acumulada, embora do fuso para um nível mínimo, porém operante.
nem sempre saiba explicar o por quê. Parece incongruente a utilização de uma técnica
A primeira medida é realizar lenta e de estabilização para a nossafinalidade,mas os
gradualmente o movimento evitando uma praticantes desse método terapêutico conhecem
resposta mais intensa do arco reflexo. Em a abrangência e a versatilidade dos procedimen-
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segundo lugar, a adoção de um padrão de tos propostos por Kabat um profundo
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repetição rítmico, regular em intensidade e conhecedor dos trabalhos de Sherrigton. A ER
freqüência, conduz mais facilmente o da FNMP envolve outros mecanismos, que não
receptor à adaptação e à habituação. Ambos são objetos de nossa análise neste momento que
tornam possível um comportamento quase serão discutidos na parte II, a ser publicada
passivo do sistema nervoso em relação à em um próximo número.
atividade em andamento, facilitando o No contexto do princípio da especificidade
trabalho do fisioterapeuta, especialmente no do treinamento, já discutido, vale a pena desta-
caso dos pacientes neurológicos. O car os pnxxdimentos de alongamento treinan-
envolvimento do comando voluntário durante do isolada mais simultaneamente a capacidade
a atividade evoca o mecanismo de controle de alongamento estático e de alongamento
eferente sobre a informação sensorial, dinâmico isto é, alongamento nas posturas ou
incorporando maior controle do fuso, posicionamentos e durante os movimentos em
mantendo-se, contudo, a capacidade de pro- que estão envolvidos os músculos que se deseja
teção, já que a atividade dos motoneurônios alongar. Dada a especificidade das tenninações
gama modifica-se de acordo com as sensoriais do fuso muscular para essas duas
prioridades que são identificadas graças a possibilidades, a opção por apenas uma das for-
comparação entre as informações aferentes e mas de trabalho é incompleta e, por isso, menos
as eferentes. Assim, é recomendável a eficiente.
utilização do alongamento ativo sempre que Culminando, deve-se trabalhar a amplitude
pertinente. Em nossa opinião, a forma mais total do movimento, em diferentes velocidades
eficiente de alongamento ativo é a utilizada de execução, dada a possibilidade de ocorrerem
no método de facilitação neuromuscular diferentes tipos de descargas dos receptores
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proprioceptiva (FNMP). Especificamente fusais em resposta à variação na velocidade do
no procedimento de estabilização rítmica movimento.
(ER), e não na combinação contrair - relaxar Esta última recomendação é fundamental,
- alongamento passivo (por se tratar de um principalmente para recuperação e prevenção
movimento passivo aplicado num período de das recidivas das lesões de atletas e dançarinos,
relaxamento), que causará uma forte reação e deveria ser necessariamente trabalhada
do fuso contrária ao movimento e gerará um durante o período de sua preparação em suas
momento de força de grande risco. respectivas modalidades.
Durigon, O. F. S. Muscle stretching. Rev.Fisioter. Univ.S.Paulo, v. 2, n. 1, p. 40-4, jan. / jul., 1995.

ABSTRACT : This article discuss the physiological mechanisms involved in the muscle stretch,
focusing important aspects to be considered when applyng this physical resource.

KEY WORDS: Physical therapy. Muscle stretching.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2. Durigon, O. F. S., Souza Jr., J. A. Comparação de dois procedimentos: alongamento e carga no manejo
da espasticidade. In : REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA - SBPC,
46, Vitória, 1994. Anais.
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Muscle receptors and movement. London : Macmillan, 1981. p.219-28, 263-75.
11. Voss, D. E., Ionta, M. K., Myers, B. J. Facilitação neuromuscular proprioceptive .3. ed. São Paulo
: Panamericana, 1987. 388p.

Recebido para publicação: 20/03/95


Aceito para publicação : 19/04/95

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