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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente trabalho pretende ser um simples roteiro de estudos para alunos de graduação
sobre a relação de emprego e foi realizado a partir da coletânea de resenhas de aulas proferidas.
Não há pretensão de originalidade. Trata-se de resumo. Portanto, por ser visto como esboço de
estudo, merece aprofundamentos posteriores.
A prestação de trabalho subordinado, pela sua alta significação social e humana, importa
ao Direito do Trabalho pela centralidade que tem assumido na forma de produção capitalista.
Ainda que vozes da sociedade globalizada preguem o fim do trabalho subordinado, desde a
primeira Revolução Industrial, que se costuma fixar por volta de 1850, o trabalho subordinado tem
sido, em termos numéricos e qualitativos, a principal forma de inserção dos trabalhadores no
mercado de trabalho. O trabalho é via de acesso a uma identificação existencial do homem como
ser produtivo.
1
Juíza do Trabalho do TRT da 4ª Região e Professora Adjunta do Departamento de Direito Econômico e do
Trabalho da UFRGS.
2
FARIA, José Eduardo de. O Direito na Economia Globalizada. São Paulo: Malheiros, 1999, p.78.
1
No Brasil, a Lei Maior, embora baseada nos princípios do Estado Democrático de Direito,
segundo Eros Grau, atende ao Estado intervencionista que quer manter as conquistas dos direitos
sociais, mas está inserido numa sociedade capitalista de mercado 3.
Assim, o modelo constitucional brasileiro, longe de ser neutro em relação aos problemas
das relações entre capital e trabalho, opta por ser um Estado interventor nesta esfera, o que é
totalmente relevante para um Estado que é qualificado como Democrático de Direito.
3
GRAU, Eros Roberto. A Ordem Econômica na Constituição de 1988 - Interpretação e Crítica. São Paulo.
2.ed., RT, 1991. Nesta obra, Eros Grau enfatiza o caráter dual da CF/88. A Constituição repudia o dirigismo,
porém acolhe o intervencionismo econômico, que não se faz contra o mercado, mas a seu favor (Tércio
Sampaio Ferraz Júnior). Quanto aos princípios positivados da ordem econômica na Constituição de 1988,
observa-se que consagram valores entre si potencialmente e, em tese, conflitantes. Exemplo: a propriedade
privada (incisos XXII do art. 5º, e III do artigo 170), a livre concorrência (inciso IV do art. 170), a "busca do
pleno emprego" (inciso VIII do art. 170), a livre iniciativa (inciso do art. 1º) e o caráter normativo e regulador
da atuação do Estado no exercício de suas funções de fiscalização, incentivo e planejamento (art. 174).
Enfatiza a dignidade da pessoa humana (inciso III do art. 1º) e a erradicação tanto da pobreza e da
marginalização econômica quanto das desigualdades sociais (inciso III do art. 3º); propõe a propriedade
privada (inciso II do art. 170) e a livre concorrência (inciso IV do art. 170); porém, outros chocam-se com a
perspectiva neoliberal, como a busca do pleno emprego (inciso VIII do art. 170), uma meta de teor
Keynesiano, a qual o neoliberalismo é oposto.
2
No plano internacional o trabalho é visto como Direito Humano 4 e há direitos humanos
fundamentais a serem defendidos enquanto o homem se apresenta como trabalhador.
O conflito nas relações de produção (capital x trabalho), num contexto global foi
deflagrado a partir de transformações sociais, econômicas e políticas ocasionadas pela crise do
sistema financeiro mundial iniciada entre 1971 e 1973, fez surgir um novo paradigma de emprego,
em que estruturas produtivas flexíveis provocaram a precarização do mundo do trabalho. Este
cenário explica, de certo modo, as tendências de flexibilização e desregulamentação do Direito do
Trabalho5. Sobre este tema José Eduardo Faria6 refere que o empregado se torna "aliado" do
empregador na busca de mercado e na garantia da atividade econômica.
4
Celso Lafer explica que os direitos de segunda geração são os previstos no welfare state como direitos
econômicos, sociais e culturais (in: LAFER, Celso. A Reconstrução dos Direitos Humanos. Um Diálogo com o
Pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Companhia das Letras, 1988, p.127). Entretanto, Cançado
Trindade explica-nos a tese da indivisibilidade dos Direitos Humanos, porque a ideia de gerações ou
dimensões pode representar prioridade entre estes, o que não seria a melhor interpretação da matéria,
tendo-se em vista a I Conferencia de Direitos Humanos em Teerã em 1968 e a II Conferencia Mundial de
Direitos Humanos em Viena em 1993, ambas atendendo a uma visão integrada de direitos humanos
(TRINDADE, Cançado; AUGUSTO, Antônio. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos. Porto
Alegre: Fabris, 1997. v. 1).
5
A proteção do trabalhador resta um empecilho para as políticas neoliberais que impõem pautas de
flexibilização e a desregulamentação do Direito do Trabalho. Simplesmente, a desregulamentação do Direito
do Trabalho implica uma forma mais radical de flexibilização das normas trabalhistas, na medida em que o
Estado retiraria toda a proteção normativa conferida ao trabalhador, inclusive quanto a garantias mínimas,
permitindo que a autonomia privada, individual ou coletiva regulasse as condições de trabalho e os direitos e
obrigações advindos da relação de emprego. A flexibilização, em tese, anda na mesma direção da
desregulamentação, mas numa via aparentemente menos agressiva ao trabalho. A flexibilização pressupõe a
intervenção estatal, ainda que para assegurar garantias mínimas ao trabalhador, direitos indisponíveis,
porém relaciona-se a uma seleção de hipóteses em que necessidades de natureza econômica, tecnológica,
política ou social justificariam a postergação dos direitos dos trabalhadores a fim de compatibilizar os
interesses dos trabalhadores com os interesses dos empregadores, alterando-se, ou adaptando-se a relação
entre o capital e o trabalho. No Brasil, a Constituição Federal de 88 prevê a possibilidade de flexibilizações no
âmbito do trabalho, de acordo com o art. 7º, inciso VI (irredutibilidade de salários, salvo o disposto em
convenção ou acordo coletivo); inciso XIII (duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e
quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo
ou convenção coletiva de trabalho); inciso XIV (jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos
ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva). No plano da legislação infraconstitucional, aponta-
se, para ilustrar a flexibilização já realizada a Lei nº 9.601/98 (que flexibiliza a compensação horária), a
possibilidade de trabalho a tempo parcial, entre outros. Para as correntes pró-flexibilização, existem
moderações na qualidade e quantidade de flexibilização aceitável. A flexibilização, para os que a admitem,
deve comportar limites que respeitem a dignidade humana, com uma concreta proteção aos bens que dizem
respeito à personalidade do trabalhador, como vida e saúde, sobre os quais não se pode dispor. Alguns
doutrinadores apenas a flexibilização nas negociações coletivas, outros, através do contrato individual do
trabalho, sendo que esta é uma matéria sobre a qual os juristas e políticos não conseguem acordo, tanto na
esfera interna, como na esfera internacional.
No debate sobre o papel regulatório do Estado sobre as questões relativas ao trabalho, é que se encontra um
dos principais limites da aplicação do Direito Internacional do Trabalho, que deve ser compatibilizado com as
tendências de proteção ao trabalho internas de um determinado país.
3
Diante do panorama apontado, qual o motivo que nos leva a considerar importante
falarmos em contrato de trabalho?
Segundo porque, como nos ensina Ricardo Antunes 7, é "uma abstração imaginar consumo
sem assalariados", ou seja, o capitalismo seria suicida se dispensasse o trabalho como fator
produtivo. Sustenta o autor que o trabalho tem, "em sua gênese, em seu desenvolvimento, em seu
ir-sendo e em seu vir-a-ser, uma intenção ontologicamente voltada para o processo de
humanização do homem em seu sentido amplo".
A relação de emprego e, portanto, o contrato de trabalho, não podem ser vistos apenas no
seu aspecto economicista, mais possuem outras funções que interessam principalmente para a
humanização do trabalhador.
Do ponto de vista social projeta o trabalhador num espaço de cidadania, onde este, além
de obter condições materiais de sobrevivência, reafirma sua personalidade de ser trabalhador. Por
isso, temas relacionados com a esfera da personalidade do empregado são cada vez mais
6
FARIA, José Eduardo de. O Direito na Economia Globalizada. São Paulo: Malheiros, 1999, p.78. Diz Faria: "A
força de trabalho perde gradativamente sua posição dominante no processo produtivo (a ponto de, numa
situação limite, o mercado de trabalho deixar de ser integrado apenas por empregados e empregadores,
passando a ser constituído essencialmente por mercadorias e serviços. e de o capital e o trabalho não mais
se confrontarem como classes antagônicas, porém como comerciantes)".
7
In: Os Sentidos do Trabalho. São Paulo: Boitempo Editorial, 2.ed., 2000. p,120 e 142. As sociedades de
terceiro mundo estão longe da possibilidade do chamado "ócio criativo" cultuado por Domenico de Masi.
8
Veja-se o artigo "Função Social do Contrato Individual do Trabalho. In: Transformações do Direito do
Trabalho. Curitiba: Juruá, 2000, p.25-50. Nesse sentido, Aldacy Rachid Coutinho aponta a função social do
contrato individual de trabalho. Segundo a autora, o contrato de trabalho deve ser estudado em relação a
suas funções de garantia de troca de riquezas, de preservação da sociedade, do Estado e do próprio
mercado, no sentido em que demarca o espaço do capital e do trabalho. Apresenta ainda tríplice função: 1.
mascaramento das desigualdades entre capital e trabalho, no sentido de que o segundo serve ao primeiro; 2.
ocultação do conflito entre capital e trabalho, já que, pelo contrato, o empregado trabalha para os fins do
empreendimento, ou, numa versão mais recente, para os consumidores finais, e, portanto, entra,
juntamente com o empresário, no jogo do mercado; 3. depuração das relações de poder, em que o poder é
exercido em nome da propriedade privada e há um consentimento voluntário na obediência a este poder do
empregador, a fim de que o empregado mantenha o posto de trabalho.
4
discutidos no âmbito da relação de emprego. Aumenta o número de ações judiciais que reclamam
indenização por dano moral com base em normas constitucionais e infraconstitucionais expressas:
o art. 5°, incisos V e X da CF/88, e arts. 159 e 1.518 do Código Civil anterior e 186 do Código Civil
atual.
Assim, o contrato define as obrigações principais e acessórias das partes, fundadas na boa-
fé9 dos contratantes, que podem ser definidas quanto ao empregado no dever primário de
trabalhar e deveres acessórios de obediência, fidelidade, assiduidade e pontualidade, urbanidade.
Já o empregador, como obrigação principal, tem a necessidade de dar trabalho com o consequente
pagamento pontual do salário e, acessoriamente, o dever de não discriminar, fornecer
instrumentos e local de trabalho com higiene e segurança e respeitar as o empregado além de
cumprir com deveres próprios à convivência social 10.
Sobre o contrato de trabalho, fundam-se todos os demais direitos do empregado que ora
estão positivados, e aqui está a importância do tema. Ainda não existindo contrato formal ou
sendo este nulo, da prestação de trabalho subordinado de fato podem resultar consequências
jurídicas. O Estado impõe às partes contratantes obrigações, especialmente no que se refere à
necessidade de indenizar o empregado, para o empregador. Essa forma benéfica de interpretar
possíveis nulidades do contrato em favor do empregado se justifica diante da aplicação ampla do
princípio protetivo. Aqui está um primeiro aspecto que diferencia o contrato de trabalho dos
demais contratos de Direito Civil, edificados, em geral, sobre o pilar da autonomia da vontade.
9
Veja-se sobre o tema obra de ARAÚJO, Francisco Rossal de. A Boa-Fé no Contrato de Emprego. São Paulo:
LTr, 1996.
10
Veja.se sobre o tema capo IV da obra de CAMINO, Carmen. Direito Individual do Trabalho, Porto Alegre:
Síntese Trabalhista, 1999.
5
trabalho decorrem direitos como férias, repousos, que não podem ser renunciados pelo
empregado. Por isso, diz-se que no conteúdo da relação de emprego há uma tutela legal mínima
que não pode ser desrespeitada ou alterada por vontade das partes, sob pena de sanção estatal do
executivo (multas administrativas) ou determinação de indenização ao empregado através do
Poder Judiciário trabalhista.
Catharino12 parece, a nosso ver, sintetizar com brilhantismo a discussão sobre a natureza
jurídica do contrato de trabalho, ao afirmar que a relação de emprego é “um complexo voluntário-
normativo", ou seja, com origem no contrato, mas com liberdade "protegida" e regrada pelo
aparato estatal que impõe à relação de emprego normas obrigatórias.
11
Lembre-se a polêmica no Brasil de 30 quanto à autonomia do Direito do Trabalho (Direito Social na célebre
concepção de Cesarino Júnior) defendida por Oliveira Viana e combatida por Waldemar Ferreira. In:
Problemas de Direito Corporativo. 2.ed. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 1983.
12
CATHARINO. José Martins. Compêndio de Direito do Trabalho. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 1982. p.197.
6
4. RELAÇÃO DE TRABALHO, RELAÇÃO DE EMPREGO E CONTRATO DE TRABALHO
a) servidor público estatutário (Regime Jurídico Único – concurso público, previsto na Lei
8112/90. O servidor público em sentido estrito possui relação de cunho administrativo com a
Administração Pública)14
c) os sócios de cooperativas - a Lei 8.949/94 acrescentou um parágrafo único ao artigo 442 da CLT
que dispõe que "qualquer que seja o ramo de atividade da sociedade cooperativa, não existe
vínculo empregatício entre ela e seus associados, nem entre estes e os tomadores de serviços
daquela";
d) o trabalhador voluntário regulamentado pela Lei 9.608/98, que dispõe que no serviço
voluntário - feito por motivos cívicos e humanitários - não há relação de emprego.
13
O presente tópico foi inspirado na obra de CALDERA. Rafael. Relação de Trabalho. São Paulo: RT, 1992.
14
Existe a possibilidade de serem celetistas, ou seja, empregados, por exceção, os antigos funcionários ou
servidores contratados pela CLT ou cargos em comissão que não exerçam função de confiança, mas façam
trabalho de operários. O art. 37, inciso II da Constituição Federal, veda a contratação de servidores sem o
concurso público.
15
VILHENA. Paulo Emílio Ribeiro de. Relação de Emprego. São Paulo: LTr, 1999, p.483.
7
resultado permanece a cargo de quem se obriga a realizar certa obra (empreiteiro), na locatio
operarum recai sobre aquele que adquire o direito de dispor do trabalho alheio (empregador).
A crítica que se faz ao dispositivo legal é na ausência de distinção entre contrato e relação
de emprego, sinalizando que se considera contrato a própria relação empregatícia que surge do
plano dos fatos.
Contrato de trabalho pode ser conceituado como o negócio jurídico pelo qual uma pessoa
física (empregado) se obriga, mediante o pagamento de uma contraprestação (salário), a prestar
trabalho não eventual em proveito de outra pessoa, física ou jurídica (empregador), a quem fica
juridicamente subordinada16.
Dispõe a CLT:
Art. 3º: "Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não
eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário".
16
MARANHÃO, Direito do Trabalho op. Cit.
8
ou do contrato-realidade17. Por esse princípio, a realidade da prestação de serviços de forma
subordinada é constitutiva da relação de emprego, juntamente, é claro, com outros elementos que
se extraem da leitura conjunta dos arts, 2° e 3° da CLT.
Como a relação de emprego se manifesta a partir do plano dos fatos, necessária se torna a
análise dos elementos que a caracterizam:
a) prestação pessoal dos serviços - intuito personae por parte do empregado, sendo relevante ao
tomador destes serviços não só a realização dos mesmos como a pessoa que os realizou; tal
pessoalidade, entretanto, só é exigida unilateralmente, do empregador para com o
empregado;
f) onerosidade que se manifesta através do valor pago, que na ausência pode expressar a
existência de débito do empregador.
5.1. PESSOALIDADE
17
PLÁ RODRIGUEZ. Op. cit, p.217 e 55.
9
A prestação de trabalho, com relação ao empregado, é sempre efetuada por pessoa física,
daí atribuir-se ao contrato de emprego a característica intuito personae. Isto significa que o
trabalho é realizado de forma pessoal e intransferível, infungível, do ponto de vista do empregado.
Este elemento está inserido num contexto de valorização do trabalho, dando a ele a dignidade que
merece o ser humano, dotado de capacidade racional para gerir seus atos 18.
18
Neste sentido ver o parágrafo único do art. 3° da CLT segundo o qual "não haverá distinção relativa à
espécie de emprego e à condição de trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, técnico e manual",
também a Constituição Federal veda, no art. 7°, a distinção entre trabalho intelectual e manual.
19
No mesmo sentido Ives Gandra da Silva Martins Filho, op cit.
10
5.2. DA ONEROSIDADE
20
Cf. CATHARINO, José Martins. Tratado Jurídico do Salário. São Paulo: LTr. 1994, p.77.
21
A principal dessas parcelas é o salário, expressamente citado pelo art. 3º, CLT, quando pretendendo referir-
se à onerosidade ("mediante salário", diz o diploma celetista), Na medida em que se sabe que o salário pode
ser pago em dinheiro ou parcialmente em utilidades (art. 458, CLT); pode ser pago por dia, semana, quinzena
ou mês (art. 459, CLT): pode ser calculado segundo modalidade fixa ou fórmula variável de cômputo (art.
483, "g", CLT).
11
indefinida. Observa-se que a indeterminação no tempo é a regra no contrato de emprego,
devendo ser presumida se nada for dito expressamente em contrário. A prestação em cadeia, ou
seja, alternância e sucessividade do trabalho e da contraprestação no tempo gera uma série de
direitos ao empregado, que coloca a sua força de trabalho à disposição do empregador de modo
contínuo, permanente e não de forma eventual ou ocasional. Se a prestação de serviços possuir
caráter eventual, não haverá relação de emprego. Eventual significa a não-conformidade do serviço
com os objetivos negociais de seu tomador22.
c) teoria dos fins do empreendimento (ou fins da empresa): o empregado realiza tarefas
em favor dos fins do empreendimento do empregador;
5.4. DA SUBORDINAÇÃO
É o mais importante dos elementos da relação jurídica de emprego e também dos mais
controvertidos. É o elemento que difere a relação jurídica de emprego das demais relações de
trabalho.
22
Sobre este elemento continuidade e suas teorias, veja-se Maurício Godinho Delgado. Op, cit., p. 276.
12
O elemento subordinação é aquele estado de dependência real, criado por um direito, o
direito de o empregador comandar, dar ordens, donde nasce a obrigação correspondente de o
empregado obedecer a essas ordens, sempre, é claro, nos limites legais e ético-morais. Segundo
Paulo Emílio Ribeiro de Vilhena 23, a subordinação é uma forma de exteriorizar-se a relação de
trabalho, no desdobramento de várias condutas do empregado: o cumprimento de horários, do
dever de comparecer ao estabelecimento, cumprir ordens, regras, advindas do poder de direção
do empregador.
a) dependência técnica: é uma antiga proposição francesa; este critério apresenta falhas e é
imprestável -como definidor da subordinação, já que muitos empregados possuem mais
qualificação técnica que seus empregadores;
13
c) dependência moral ou social: um vínculo moral ou social é ideia incompleta para definir o
estado de dependência do empregado frente a seu empregador;
Em síntese, para que uma relação seja considerada de emprego, deve-se verificar a
ocorrência dos elementos de pessoalidade, subordinação, continuidade e onerosidade. A presença
cumulativa destes é obrigatória. Apenas o elemento onerosidade pode ser relativizado porque a
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Jus Variandi é direito do empregador que existe em função de seu poder de direção e a consequente
dependência hierárquica do empregado. É definido por Amauri M. do Nascimento como "o direito do
empregador em casos excepcionais de alterar, por imposição e unilateralmente, as condições de trabalho de
seus empregados". Segundo Mozart V. Russomano, o contrato de trabalho pode ser alterado em quatro
cláusulas fundamentais; função do trabalhador (desde que vedado o rebaixamento, tenha o empregado
afinidade com as novas funções), horário de serviço (dentro do turno), salário, quanto à forma de
pagamento (desde que mantido o valor), local de execução de trabalho (art. 469 da CLT). A regra da CLT é
que qualquer alteração contratual, entretanto, seja bilateral.
14
ausência de pagamento pode significar a falta do empregador, e não a ausência da relação
empregatícia.
b. licitude do objeto;
28
Conforme o Código Civil anterior, os vícios de consentimento eram classificados em - erro (falsa noção
sobre alguma coisa), dolo (artifício utilizado para enganar alguém) e coação (violência física - vis
compulsoria, ou moral - vis compulsiva - impedem alguém de proceder livremente. A simulação é a
declaração enganosa de vontade, visando a produzir efeitos diversos do ostensivo, com o fim de enganar
terceiros e burlar a lei. O erro pode dizer respeito ao local de trabalho, montante salarial ou às qualidades
essenciais da pessoa; o dolo ocorre, por exemplo, quando o empregado apresenta habilitação falsa para
conseguir o emprego, ou o empregador exibe demonstrativo falso de lucro para atrair o empregado; há
coação quando o empregador é ameaçado de depredação dos seus bens, ou o empregado é ameaçado de
denúncia de ato ilícito. Os vícios de consentimento despertam pouco interesse prático no tocante à anulação
do contrato. Mesmo viciada a vontade, se houve prestação de serviços, esta deverá ser indenizada. A
concordância do empregado em alteração contratual que lhe resulte em prejuízo - direto ou indireto -
presume-se viciosa (art. 468, CLT), porém a regra é no sentido de que a parte que alega o vício na
manifestação de vontade faça a prova. O Código Civil atual, no art., 166 e 167 fala-se de simulação, o que
causa nulidade do negócio jurídico. Seria aplicável às relações de trabalho.
15
Na Constituição de 88, seguiu-se a orientação da Convenção nº 138 da OIT, que procurou
reunir, num único instrumento, outras 10 convenções para abolição efetiva do trabalho dos
menores. Elevou-se a idade mínima da admissão de emprego a um nível que permita ao
adolescente alcançar um mais completo desenvolvimento físico e mental. Tal orientação leva em
conta que a idade mínima para o trabalho não seja inferior ao término da escolaridade obrigatória,
que no Brasil é de 14 anos.
Art. 7°: "São direitos dos trabalhadores (...), além de outros (...), XXXIII -
proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos menores de
dezoito e de qualquer trabalho a menores de quatorze anos, salvo na
condição de aprendiz". (grifos nossos)
Art. 7°: "São direitos dos trabalhadores (...), além de outros (...), XXXIII -
proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos menores de
dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na
condição de aprendiz, a partir de quatorze anos", (grifos nossos) 29.
29
Também prevê a Constituição de 88:
"Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direto à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação. exploração, violência, crueldade e opressão.
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores (...)".
Na legislação ordinária, existem várias leis que regulamentam o trabalho do menor, a saber: o ECA (Estatuto
da Criança e do Adolescente), Lei 8069/90, confirma os termos constitucionais do trabalho do menor (art. 20
e 60). O art. 68 do ECA prevê o trabalho educativo que se fará sob a responsabilidade de entidade
governamental ou não governamental sem fins lucrativos, e a remuneração será opcional. A CLT prevê
regulamentos precisos a respeito do trabalho do menor a partir do art. 403 e seguintes, sempre assegurando
ao menor trabalhador a necessidade de frequência à escola. Estabelece ainda a CLT, no art. 80, parágrafo
único, ao menor aprendiz um salário não inferior à metade do mínimo, O Decreto nº 31.546/52 dispõe sobre
o conceito de empregado aprendiz:
"Art. l°. Considera-se de aprendizagem o contrato individual de trabalho realizado entre um empregador e
um trabalhador maior de 14 e menor de 18 anos pelo qual o empregador, além das características
mencionadas no artigo 3° da Consolidação das Leis do Trabalho, a que se obriga a submeter o empregado à
formação profissional metódica do oficio ou ocupação para cujo exercício foi admitido, e o menor assume o
compromisso de seguir o respectivo regime de aprendizagem", Veja-se lei recente sobre aprendizagem. Lei
16
No plano constitucional, temos que a Emenda Constitucional nº20 aprovou, sem uma real
discussão, alteração importante sobre o trabalho do menor, que passou despercebida no bojo das
reformas previdenciárias.
Ou seja, não foram razões de natureza social que levaram o constituinte - com poder
derivado - a revisar a matéria. A mudança de idade para o início do labor - 16 anos - apenas se deu
em função da fixação de idade mínima para a aposentadoria.
A nulidade, no Direito do Trabalho, via de regra é resolvida pelo art. 9° da CLT, que
prescreve: "Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir
ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação".
6.3. DA FORMA
17
A formalidade, entretanto, é uma garantia do empregador no sentido de que, se possui a
documentação da relação de emprego, possui um início de prova a seu favor30.
c) os contratos por prazo determinado em geral, dependentes de termo prefixado (art. 443, § 1°,
CLT);
Condição- é o evento futuro e incerto ao qual se subordina o efeito dos atos jurídicos
30
Veja-se, sobre o dever de documentação do empregador, no art. 29 da CLT, a obrigação de o empregador
anotar a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) e possuir o livro de Registro de Empregados (art. 41
e ss). Ver também em CAMINO, Carmen. Direito Individual do Trabalho.
31
Defende a posição de que o contrato de experiência é sujeito à condição suspensiva e resolutiva o prof.
José Luiz Ferreira Prunes em sua obra sobre trabalhador rural, pp. 42-44 e 65-67. Veja-se, sobre as demais
posições doutrinárias a respeito do contrato de experiência: MANNRICH, Nelson. Modernização do Contrato
de Trabalho. São Paulo: LTr. 1998.
18
Trata-se de um contrato - negócio jurídico bilateral em que há um concurso de vontades
limitadas pela lei que regulamenta os direitos e obrigações das partes, conserva sua característica
negocial, com as seguintes características:
a) contrato de Direito Privado - porém, discute-se até hoje se o Direito do Trabalho é ramo do
Direito Privado ou do Direito Público, ainda existindo uma terceira corrente em que o Direito do
Trabalho não seria nem público nem privado e sim um terceiro gênero, com elementos de Direito
Público e Privado.
b) consensual - gerado pelo simples consenso das partes – acordo de vontades -, independente de
forma, podendo formar-se tácita ou expressamente· art. 443 da CLT.
Cumpre salientar que sempre a subordinação será dos elementos fático-jurídicos, o mais
importante diferenciador do contrato de trabalho de outros tipos contratuais.
32
Sobre o tema dos contratos de adesão, veja-se MARQUES, Cláudia Lima, Contratos no Código de Defesa do
Consumidor. 2.ed, São Paulo: RT. 1995.
19
Se houver a utilização de outra espécie de contrato para mascarar o vínculo de emprego,
há a possibilidade de o Judiciário Laboral declarar, com base no art. 9° da CLT, a nulidade do
contrato original e declarar a relação de emprego existente entre as partes. Da declaração da
relação de emprego decorrem as consequências legais previstas pelo Direito do Trabalho. Ou seja,
da declaração de vínculo de emprego, poderá o empregador vir a ser condenado ao pagamento de
verbas trabalhistas típicas que estão previstas na CLT, tais como parcelas rescisórias, salários, férias,
etc.
a) no contrato de trabalho, o operário põe sua força-trabalho e sua habilidade ã disposição de seu
empregador, o qual tem a liberdade de dirigi-la no sentido que lhe aprouver; o operário está em
relação a ele em um estado de subordinação que lhe tira toda iniciativa, e fica na obrigação de
obedecer às ordens que recebe. Daí decorre que os riscos correm por conta do empregador.
33
Op. Cit., p.178 e ss.
34
Na distinção que traçamos, a palavra "empreiteiro" possui a acepção de "trabalhador autônomo”. Na
construção civil, o empregador é o construtor (Lei 2.959/56) ou o particular equiparado (Lei 23.569/33 e DL
8.620/46) que também, por vezes, é chamado empreiteiro e, neste sentido, é empregador. Segundo a teoria
francesa do risco-proveito, há a possibilidade de o empreiteiro principal responder pela ausência de
pagamento dos créditos trabalhistas dos empregados do subempreiteiro, o que é previsto no art. 455 da CLT.
Veja-se sobre o tema os seguintes dispositivos legais: Art. 1.237 CC; Art. 652, "a", III da CLT; Art. 114 da
Constituição Federal.
20
9.2. CONTRATO DE TRABALHO E A REPRESENTAÇÃO COMERCIAL
pela legislação trabalhista; o segundo, pela Lei nº 4.886, de 9.12.65, de natureza comercial.
A distinção firma-se pelas características da representação autônoma. O art. 10 da Lei nº 4.886
assim dispõe: "Exerce a representação comercial autônoma a pessoa jurídica ou a pessoa física,
sem relação de emprego, que desempenha, em caráter não eventual, por conta de uma ou mais
pessoas, a mediação para a realização de negócios mercantis, agenciando propostas ou pedidos
para transmiti-los aos representados, praticando ou não atos relacionados com a execução dos
negócios”.
Parceria agrícola é o contrato pelo qual uma pessoa cede um prédio rústico à outra, para
por esta ser cultivado, repartindo-se os frutos entre as duas, na proporção estipulada.
Parceria pecuária é o contrato pelo qual uma pessoa entrega a outra animais para que esta
os pastoreie, trate e crie, mediante cota nos lucros.
É tênue a linha diferenciadora que separa a relação de trabalho rural das pequenas
parcerias. Tal "zona gris" se acentua, na medida em que o conceito de trabalhador rural, protegido
pelas normas trabalhistas, é mais amplo do que aquele posto na CLT, para o empregado urbano, ao
teor do Artigo 17 da Lei 5.589/73. O ajuste de parceria agrícola, para que se caracterize a
modalidade que afaste o vínculo de emprego, deve estar em plena consonância com as regras
21
contidas no Artigo 96 da Lei 4.504/64 (Estatuto da Terra), inclusive quanto à observância dos
percentuais.
Evaristo de Morais Filho, em sua obra Introdução ao Direito do Trabalho35, sugere que o
verdadeiro critério diferenciador entre contrato de trabalho e sociedade, juntamente com a
subordinação, é a affectio societatis. Sinale-se que comunhão de interesses, de esforços,
cooperação, colaboração, junção de forças, está na affectio societatis, presente no contrato de
sociedade e ausente no contrato de trabalho, subordinativo, com as partes em nível desigual.
a) a suspensão do contrato de trabalho, conforme a Súmula 269 do TST: "Empregado eleito para
ocupar cargo de diretor tem o respectivo contrato de trabalho suspenso, não se computando o
35
MORAES FILHO, Evaristo de. Introdução ao Direito do Trabalho. 2.ed. São Paulo: LTr, 1995, p.323
22
tempo de serviço deste período, salvo se permanecer a subordinação jurídica inerente à relação de
emprego".
O mandato pode ser definido como o contrato pelo qual uma pessoa, denominada
mandante, dá à outra, denominada mandatário, o poder de realizar em seu nome um ou vários
atos jurídicos. Não se duvida que o mandatário exerça um trabalho ou uma atividade, como
também o faz O empregado, em benefício de outrem. Porém, nem sempre o mandato é
remunerado quando o salário é essencial à configuração do contrato de trabalho. Mesmo que
remunerado, o mandato é sempre um contrato que pressupõe a outorga de poderes para agir com
deliberações próprias e para fins específicos. Não é essa a característica do contrato de trabalho,
no qual o empregado cede o seu trabalho para utilização do empregador na obtenção de um fim
inespecífico. Porém, nada impede que um empregado possa ser mandatário de seu empregador.
36
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 14.ed. São Paulo: LTr, 2000, p.145.
23
10.1. CONTRATO DE TRABALHO DA MULHER
A CLT prevê capítulo especial para a proteção do trabalho da mulher em razão da função
social da maternidade. O capítulo da CLT referente ao trabalho da mulher está, segundo
considerável parte da doutrina, revogado, tendo-se em vista os princípios isonômicos fixados na lei
maior. Permanecem em vigor os dispositivos diretamente relacionados à maternidade (períodos de
amamentação, fornecimento de creches, entre outros).
37
(Op. cit p.855 e 55.)
24
10 vezes o valor do maior salário pago pelo empregador, elevado em 50% em caso de reincidência.
Ainda estipulando regras sobre o acesso da mulher ao mercado de trabalho, foi editada a Lei nº
9.799, de 26 de maio de 1999.
O grande paradoxo que ocorre com as normas protetivas do trabalho feminino é que essas
podem se converter, na prática, em motivo para a não contratação de mulheres. As questões de
gênero e isonomia são hoje pauta de debate atual e não conclusivo.
O contrato de trabalho a domicilio é definido no art. 83 da CLT: "É devido o salário mínimo
ao trabalhador em domicílio, considerado este como o executado na habitação do empregado ou
em oficina de família por conta de empregador que o remunere”.
O art. 6° da CLT diz que este trabalhador não se distingue, para efeitos da relação de
emprego, daquele que presta serviços no estabelecimento do empregador.
O teletrabalhador foi inserido neste modo de trabalho por recente alteração legislativa.
25
Considera-se teletrabalho a prestação de serviços preponderantemente
fora das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias de
informação e de comunicação que, por sua natureza, não se constituam
como trabalho externo.
Pelo art. 72, inciso III não há horas extras para este trabalhador.
A primeira observação a ser feita é que empregado doméstico é a pessoa física que, com
intenção de ganho, trabalha para outra ou outras pessoas físicas, no âmbito residencial e de forma
não eventual. O diarista intermitente (lavadeira, arrumadeira ou passadeira) não está, em
princípio, protegido pela lei dos domésticos, mesmo que compareça certo dia por semana, que, de
acordo com a Lei 5.859/72, se destina apenas ao serviço “de natureza contínua".
Além dos direitos previstos na Lei 5.859/72, a Constituição Federal de 1988 prevê para o
doméstico: art. 7°, parágrafo único: "São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os
direitos previstos nos incisos IV,VI, VIII, XV, XVII, XVIII, XIX, XXI e XXIV: 1) salário mínimo; 2)
irredutibilidade da remuneração; 3) décimo-terceiro salário; 4) repouso semanal remunerado,
preferentemente aos domingos; 5) aviso prévio proporcional ao tempo de serviço no mínimo de 30
26
(trinta) dias; 6) licença à gestante com duração de 120 dias; 7) licença-paternidade; 8) férias com
remuneração acrescida em um terço, e 9) aposentadoria), bem como a sua integração à
Previdência Social.
a) FGTS e Multa de 50% na dispensa sem justa causa. Benefício opcional, instituído pelo art. 1º,
da Lei nº 10.208, de 23 de março de 2001, resultante de negociação entre empregado e
empregador. A despeito da inclusão do(a) trabalhador(a) doméstico(a) no sistema do FGTS ser
facultativa, se efetivada, reveste-se de caráter irretratável em relação ao respectivo vínculo
empregatício.
No Brasil, pelo advento da Lei 11. 324/06 estabeleceu-se para a categoria dos
trabalhadores domésticos direito a férias de (30 dias), estabilidade para gestantes, direito aos
feriados civis e religiosos, proibição de descontos de vestuário, alimentação, moradia, produtos de
higiene pessoal utilizados no trabalho. Em outros termos, pela análise da evolução da legislação,
há uma crescente tendência de equiparação do trabalho doméstico aos demais trabalhadores.
27
No plano internacional a OIT editou recentemente a Convenção 189 38 que insiste na ideia
de isonomia em direitos para o trabalhador doméstico em relação aos demais trabalhadores, na
terminologia que convencionou “trabalho doméstico decente”. Foi ratificada em 1 de fevereiro de
2018 a Convenção.
Ainda que a lei disponha pela inexistência da relação de emprego entre as partes, uma vez
que presentes na prestação de trabalho do estagiário todos os seus elementos caracterizadores
(pessoalidade, subordinação, onerosidade e não-eventualidade), e constatado o desvirtuamento
do estágio pactuado, pode ser reconhecida a relação de emprego por não honrar a empresa o
termo de compromisso assinado com o estagiário.
38
O texto introdutório da nova Convenção diz que "o trabalho doméstico continua sendo desvalorizado e
invisível, feito principalmente por mulheres e meninas, muitas das quais são migrantes ou pertencem a
comunidades desfavorecidas e são particularmente vulneráveis à discriminação relativa ao emprego e
trabalho, bem como de outras violações dos direitos humanos ". A Convenção define trabalho doméstico
como o trabalho realizado em ou para domicílio. De acordo com estimativas recentes da OIT com base em
estudos ou pesquisas nacionais de 117 países, o número de trabalhadoras e trabalhadores domésticos no
mundo é de pelo menos 53 milhões de pessoas.
28
Nos termos do artigo 3°: "A realização do estágio dar-se-á mediante termo de
compromisso celebrado entre o estudante e a parte concedente, com interveniência obrigatória da
instituição de ensino", O artigo 4° diz: "O estágio não cria vínculo empregatício de qualquer
natureza, e o estagiário poderá receber bolsa ou outra forma de contraprestação que venha a ser
acordada, ressalvado o que dispuser a legislação previdenciária, devendo o estudante, em
qualquer hipótese, estar segurado contra acidentes pessoais".
a) "termo de compromisso" entre o estudante e a parte concedente do estágio (que não pode ser
pessoa física, mas apenas pessoa jurídica ou ente da administração pública);
d) seguro de acidentes pessoais para o estagiário, efetuado pela parte concedente do estágio;
O art. 2° da Lei 5.889/73 dispõe que "Empregado rural é toda pessoa física que, em
propriedade rural ou prédio rústico, presta serviços de natureza não eventual a empregador rural,
sob dependência deste salário".
Trabalhador rural é a pessoa física que presta serviços a empregador rural em imóvel rural
ou rústico. Para que o trabalhador rural seja empregado rural, deve existir a vinculação a um
tomador de serviços de caráter rural com a prestação de serviços em imóvel rural ou prédio
rústico40.
39
DELGADO, Maurício Godinho, Introdução ao Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1995, p. 283.
40
Conforme ORDEM DE SERVIÇO INSS/DAF Nº 159, de 02 de maio de 1997 - PRÉDIO RÚSTICO - é o prédio ou
a propriedade imobiliária, situado no campo ou na cidade, que se destine à exploração agro-silvo-pastoril de
29
Para a lei não importa, pois, o tipo de trabalho prestado, e sim para quem o empregado
presta serviços, e onde. O art. 7° da C.F. assegura ao trabalhador rural todos os direitos deferidos
ao urbano, inclusive FGTS, perdendo, assim, o sentido de tratamento diferenciado, inclusive
quanto à questão da prescrição que recentemente foi unificada pela Emenda Constitucional nº 28.
Ou seja, o empregado rural terá o prazo de dois anos para ingressar com a ação trabalhista, a
contar do término da relação de emprego, com possibilidade de prescrição quinquenal de seus
créditos laborais, da mesma forma que o trabalhador urbano.
Define Délio Maranhão41 que "Trabalhador avulso é o que presta serviços, na orla
marítima, trabalhando sem vínculo empregatício para várias empresas (tomadoras de serviço), que
requisitam esse à entidade, fornecedora da mão-de-obra (sindicato)". É a pessoa física que presta
serviços sem a necessária continuidade própria do empregado. Presta serviços sem inserir-se na
organização da empresa.
Assim, trabalhador avulso é o que presta serviços a inúmeras empresas sem inserir-se na
organização das mesmas, agrupado em entidade de classe, por intermédio desta e sem vínculo
empregatício. Tem seus direitos previstos em legislação especial. O Decreto nº 63.912/68 define os
avulsos, entre outros, como estivadores, conferentes de carga e descarga, consertador de carga e
descarga, avulso de capatazia arrumador no comércio armazenador, ensacador de café e similares,
classificador de frutas, amarrador, etc. Os trabalhadores avulsos encaminhados pelos seus
sindicatos às empresas - mão-de-obra sindical requisitada por empresa a sindicato - não mantém
vínculo empregatício com as tomadoras de serviços, por constituírem uma categoria especial que
presta os seus serviços sob a tutela de seu sindicato.
A Lei nº 8.630, de 25/02/93, no seu art. 26, quebrou o monopólio sindical nesta
intermediação, ao ter autorizado a contratação de trabalhadores portuários com vínculo
qualquer natureza. Caracteriza-se pela natureza de seu uso ou utilização, não importando o local de situação.
É rústico o prédio ou terreno situado no perímetro urbano de uma cidade, vila ou povoação, desde que
destinado à exploração da produção rural.
41
In: Instituições do Direito do Trabalho. 13. ed. LTr, p. 292.
30
empregatício, pactuando diretamente com os portuários, mas não retirou a faculdade de requisitar
mão-de- obra própria do sindicato da categoria.
O artigo 7°, inc. XXXIV da Constituição Federal iguala os direitos entre o trabalhador com
vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso. Este dispositivo gerou polêmica
jurisprudencial sobre quais seriam, de fato, os direitos deste tipo de trabalhador.
Segundo Iara Alves Cordeiro Pacheco42, o cooperado, pelo princípio da dupla qualidade, é
considerado, ao mesmo tempo, cliente e associado-cooperado. Ainda devem ser seguidos nas
verdadeiras cooperativas, à luz da Recomendação 193 da OIT, os princípios da espontaneidade da
formação, auto-gestão, liberdade de filiação, entre outros.
O próprio art. 7° da Lei nº 5.764/71 e art. 4° da mesma Lei, dispõe que "as cooperativas
singulares se caracterizam pela prestação direta de serviços aos associados". O cooperativado deve
participar como real sócio das assembleias, votando e sendo votado. Esses, entre outros princípios
do cooperativismo, devem estar presentes no trabalho cooperativo, sob pena de seu
desvirtuamento.
A Lei nº 8.949/94, que trouxe um acréscimo ao art. 442 da Consolidação das Leis do
Trabalho. Fez nascer ali um parágrafo único. Neste, a declaração expressa de que "qualquer que
seja o ramo de atividade da sociedade cooperativa, não existe vínculo empregatício entre ela e
seus associados nem entre estes e os tomadores de serviços daquela".
Na prática, surge o problema das falsas cooperativas, que fazem papel de intermediadoras
de mão-de-obra com a roupagem de cooperativas de prestação de serviços. Novamente, estamos
diante de uma situação delicada, no sentido de investigar se a cooperativa serve ou não para
fraudar a legislação trabalhista. Em caso positivo, muitos julgados têm aplicado o art. 9° da CLT e
reconhecido o vínculo de emprego, enquanto outras decisões pendem para a aplicação do novo
parágrafo único do art. 442 da CLT, reconhecendo a não existência de vínculo empregatício entre a
cooperativa e seus associados ou tomadores de serviço.
42
PACHECO, Iara A. C. Cooperativas de Trabalho x Intermediação de Mão-de-Obra. Síntese Trabalhista. V7, nº
85, p.11/21, julho de 1996.
31
10.8. CONTRATO DE TRABALHO TEMPORÁRIO E TRABALHADOR TERCEIRIZADO
A regra geral é no sentido de que a relação de emprego possui apenas dois sujeitos:
empregado e empregador. Sempre a intermediação de mão-de-obra foi vista restritivamente, em
face da possibilidade de ser fraudada a legislação trabalhista. Entretanto, o contrato de trabalho
temporário, regido pela Lei nº 6.019/74, confere legalmente a possibilidade de intermediação de
mão-de-obra.
Neste sentido, cabe salientar o estudo feito pela Juíza Alice Monteiro de Barros 43,
confrontando os Enunciados 256 e 331 do TST: “Revisto o Enunciado 256 pelo 331 do TST, este
Tribunal desviou-se completamente da rota traçada pelo primeiro Enunciado? Entendemos que
não, limitando-se a dar um pouco mais de flexibilidade às contratações. (...) Verifica-se, do item I
do Enunciado 331, que a contratação por empresa interposta continua sendo ilegal, formando-se o
vínculo diretamente com o tomador dos serviços, excetuada a hipótese de trabalho temporário; o
TST continuou, portanto, considerando inadmissível delegar tarefas canalizadas para a atividade-
fim dos usuários das mesmas, salvo o trabalho temporário, frise-se. Isto porque, no item III, limita-
se a permitir que o usuário recorra, através de contrato de natureza civil, a empresas de vigilância,
43
In: Revista Jurídica e Trimestral Trabalho e Processo. Março de 95. Saraiva, p. 6 e SS.
32
conservação e limpeza, ou de serviços especializados, ligados à atividade-meio do tomador, desde
que inexistentes a pessoal idade e a subordinação direta, pois nesse caso a relação jurídica
estabelecer-se-á com o tomador dos serviços, em face da presença dos pressupostos do conceito de
empregado”.
Segundo a Súmula 331 do TST, quando há uma terceirização envolvendo atividade fim da
empresa tomadora de serviços e passa essa a subordinar os empregados terceirizados, pode ser
declarado o vínculo de emprego diretamente com a empresa tomadora.
A solução das leis estrangeiras, como nos ensina Amauri 44, é no sentido de fixar uma
responsabilidade solidária entre o intermediário e o empregador, que importa na possibilidade de
se executar os bens de uma empresa ou de outra indistintamente, na hipótese de uma condenação
judicial. O TST aprovou o antigo Enunciado nº 256, segundo o qual, salvo nos casos de trabalho
temporário e de empresas de vigilância e segurança bancária, é ilegal a contratação de
trabalhadores por empresa interposta. O vínculo de emprego forma-se diretamente com o
tomador dos serviços. Entretanto, pelo Enunciado 331 do TST, que modificou o Enunciado 256, há
a previsão da responsabilidade subsidiária do tomador, o que equivale dizer que, num primeiro
momento, devem ser executados os bens da empresa prestadora de serviço e, em segundo lugar,
os bens da empresa tomadora de serviços.
44
NASCIMENTO, Amauri Mascaro, Iniciação ao Direito do Trabalho. 14.ed. São Paulo: LTr.1989, p.185.
33
"IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a
responsabilidade subsidiária do tomador de serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja
participado da relação processual e conste também do título executivo judicial".
Alguns Ministros entendiam que a conduta culposa do ente público deveria ser
comprovada, outros, presumida. A solução do impasse foi na escolha do termo “evidenciada” a
conduta culposa, o que significa que o termo dá azo a diversas formas de interpretação a respeito
da conduta do ente da administração45.
Em 2017, com a reforma a terceirização foi aceita de modo amplo e foi consagrada a
responsabilidade subsidiária.
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
45
Não houve, entretanto, a incorporação da redação da Orientação Jurisprudencial nº 383 da Subseção I
Especializada em Dissídios Individuais à Súmula 331. A OJ estabelece que "a contratação irregular de
trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego com ente da Administração Pública,
não afastando, contudo, pelo princípio da isonomia, o direito dos empregados terceirizados às mesmas
verbas trabalhistas legais e normativas asseguradas àqueles contratados pelo tomador dos serviços, desde
que presente a igualdade de funções. Aplicação analógica do artigo 12, "a", da Lei 6.019, de 3.01.1974".
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