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Benedito Medrado
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Essa estrutura, segundo Abric (1994), pode ser ainda descrita em termos
de núcleo central - onde se encontram as características fundamentais da
representação, ou seja, mais estáveis e resistentes à mudança ao longo da
história - e os elementos periféricos, que evidenciam as (re)significações culturais
que dão um sentido diverso às representações, sendo mais maleáveis à
mudança. Segundo este autor, o núcleo central constitui:
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“(...) o psicanalista era ainda uma figura recente no palco cultural da França.
Alguns informantes de Moscovici compararam o analista à figura mais familiar
do sacerdote; outros, à figura mais familiar do médico. As comparações
implicam tanto semelhanças como diferenças. Alguém pode se confessar com
um analista como se fosse um sacerdote, mas o contexto é secular, em vez de
religioso. Muitos analistas possuem qualificações médicas. Alguém pode se
consultar com um analista, como o faria com um médico, mas diferentemente
do médico, a analista não prescreve remédios” (Farr, 1994: 47-48).
Com base nesses pressupostos, ao longo dos últimos vinte anos, como
destaca Silvia Lane (1994), tem-se observado um movimento de retestagem e
sistematização teórica do conceito de representação social, inicialmente
proposto por Serge Moscovici, através de sua reconhecida obra A representação
social da psicanálise, publicada em 1961. Por outro lado, percebe-se,
paralelamente, no transcorrer dessas duas décadas, uma variedade de
elaborações críticas dirigidas a esse conceito.
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LIMITAÇÕES DO CONCEITO
As formulações críticas dirigidas ao conceito de representações sociais
podem ser distribuídas em dois grupos de interlocutores:
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O status de teoria
Baseados em uma abordagem experimental, psicólogos sociais,
particularmente de países anglo-saxões, têm argumentado quanto à
impropriedade de dar às representações sociais o status de teoria. Todavia,
como destaca De Rosa (1994), as críticas mais contundentes a este aspecto têm
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De Rosa (1994) ressalta ainda que os autores que criticam o status teórico
das representações sociais, mantém, de certo modo, aberto o diálogo com
Moscovici e propõem que é o debate saudável que possibilita evoluções dos
fundamentos teóricos e a coexistência de diferentes posições, devidamente
argumentadas. Como aponta aquela autora, é interessante notar que essa
tendência de manutenção do debate ressalta um dos elementos problemáticos
da RS, enquanto teoria, a saber, a “omnicompreensão” que pretende a teoria é
ecoada na “omnicompreensão” dos seus críticos, gerando um tipo de
conhecimento onde tudo se compreende e nada se conhece.
A natureza do social
Potter e Wetherell (1987) identificam na obra de Moscovici três sentidos
para o termo “social”:
a) origem social - representações são sociais porque se originam no curso das
interações sociais; são, assim, produtos dos processos comunicacionais;
b) instrumento social - porque capacitam os indivíduos, através das interações,
com um conjunto de códigos compartilhados; em linhas gerais, ao
compartilhar representações com os outros, o indivíduo se torna capaz de
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O significado de consenso
Como destacam Potter e Wetherell (1987), alguns pesquisadores
orientados pela teoria da RS, ao transporem suas considerações do plano
teórico para o plano empírico, defrontam-se com uma diversidade de formas
através das quais as pessoas constróem suas opiniões e atitudes.
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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Como dito anteriormente, as pretensões do conceito de repertórios
interpretativos são mais modestas. Não há a intenção, implícita ou explícita, de
construir uma teoria dos repertórios interpretativos, tal como Moscovici
propôs a teoria da Representações sociais. Como destacam Potter e Wetherell
(1987), os repertórios são um componente de uma abordagem mais ampla para
o estudo do discurso, não podendo ser estudado isoladamente, sem considerar
outros tipos de fenômenos discursivos ou outras análises adicionais que
possam refinar a unidade analítica.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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NOTAS
i A versão original deste texto se encontra em minha dissertação de mestrado, intitulada “O masculino
na mídia: repertórios sobre masculinidade na propaganda televisiva nacional”, desenvolvida no
Programa de Psicologia Social da PUCSP, sob a orientação da Profa. Dra. Mary Jane Paris Spink. O
título foi adaptado do capítulo “From representations to repertoires” que compõe o livro “Discourse
and social psychology: beyond attitudes and behaviour”, escrito por Jonathan Potter e Margareth
Wetherell, publicado pela Sage, London, 1987. Meus agradecimentos especiais a Vera Menegon, pela
produção do abstract, e a Jorge Lyra pela atenciosa e crítica revisão do texto.
iiVale ressaltar que a formação das representações sociais compreende um processo dinâmico e
caracteristicamente cíclico, tornando-se inclusive inviável precisar quando se dá o primeiro
movimento.
A exemplo do texto de Ibáñez, utilizamos neste texto o termo construcionismo para não confundir-se
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com o construtivismo, concepção associada à escola piagetiana, por um lado, e por outro, aos trabalhos
da escola de Palo Alto.
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iv Segundo Potter e Wetherell (1987), esses repertórios têm sido encontrados em discursos de outros
cientistas. Citando o trabalho de Yearley (1985), aqueles autores argumentam que processos
interpretativos análogos são usados em profissões ligadas ao direito.
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