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No nal do século XIX, a Europa controlava a maior parte do mundo e, nesse domínio, sobressaia o poderoso
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Império Britânico. Vivendo em uma ilha com limitados recursos naturais e uma população em
rápido crescimento, os britânicos tinham colonizado diferentes partes do globo a partir do século XVI. Suas colônias na América e
na Índia forneciam importantes matérias primas para as indústrias britânicas e, ao mesmo tempo eram mercado consumidor dos
produtos fabricados no Reino Unido.
Por essa época, a África voltava a ser fonte de interesse de industriais e políticos europeus, não mais para explorar o comércio de
escravos como nos séculos anteriores, mas sim para se apoderar de seus recursos naturais – borracha, petróleo, carvão, cobre,
ouro, cacau -, muitos dos quais eram essenciais para a orescente economia industrial europeia.
África devassada
Se, até 1870, o interior da África permanecia desconhecido dos europeus e era
governado por seus próprios reis, rainhas e chefes de clãs, a partir daquela
década rapidamente a situação começou a mudar. A miragem de tesouros
fabulosos e de uma natureza desa adora e ainda intocada estimulou aventureiros
transformados em heróis pela imprensa europeia e norte-americana. Entre eles,
destacou-se o médico e missionário escocês David Livingstone que, de 1849 até
sua morte, em 1873, fez diversas expedições à África Central convertendo nativos
e curando doentes.
A violência dos métodos da exploração belga, considerada mais e caz e rentável, foi seguida por outras potências europeias
presentes no continente: França no Congo francês, Portugal em Angola, Alemanha em Camarões e na África Oriental Alemã (atual
Tanzânia).
A Conferência de Berlim
A Conferência de Berlim, realizada entre 19 de novembro de 1884 e 26 de fevereiro de 1885 o cializou a partilha da África. A ata
geral foi assinada pela Alemanha, Áustria-Hungria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Itália, Noruega, Países Baixos, Portugal, Reino
Unido Rússia e Suécia e reconhecida pelo Império Otomano e pelos Estados Unidos
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03/05/2019 "O fardo do homem branco": ode ao imperialismo
Unido, Rússia e Suécia, e reconhecida pelo Império Otomano e pelos Estados Unidos.
As autoridades europeias assinaram “em nome de Deus onipotente” e sob uma justi cativa “civilizadora” e “humanitária” que
jamais foi aplicada no continente africano.
O artigo 6 da ata geral alertava para as “disposições relativas à proteção dos autóctones, dos missionários e dos viajantes, assim
como à liberdade religiosa”. Estabelecia que todas as potências “comprometiam-se a velar pela conservação das populações
autóctones e pelo aperfeiçoamento de suas condições morais e materiais de existências, assim como a concorrer para a
supressão da escravidão e sobretudo do trá co de negros”.
As potências colonizadoras comprometiam-se “a proteger e favorecer, sem distinção de nacionalidades nem de cultos, todas as
instituições e todos os empreendimentos religiosos, cientí cos ou caritativos criados ou organizados para tais ns ou tendentes a
instruir os autóctones e a fazê-los compreender e apreciar as vantagens da civilização”.
Enquanto isso, as populações congolesas tiveram suas terras con scadas, foram obrigadas a pagar impostos, a fornecer víveres
aos colonizadores, e caram proibidas de explorar suas riquezas em benefício próprio – o mar m e a borracha foram declarados
monopólio do Estado belga.
O transporte das mercadorias era feito às costas de centenas de nativos, e continuou assim mesmo depois da construção da
ferrovia entre Léopoldville (Kinshasa) e Matadi (1890-1898). Uma testemunha, descreve a respeito desse trabalho forçado:
“Incessantemente encontramos esses carregadores, isolados ou em fila indiana, negros, miseráveis, tendo
como única vestimenta uma tanga horrivelmente imunda, a carapinha nua suportando a carga, caixote,
fardo, presa de marfim, cesto atulhado de borracha, barril, franzinos em sua maioria, cedendo sob o peso
multiplicado pelo cansaço e pela comida insuficiente, feita de um punhado de arroz e de peixe seco
infecto (…) morrendo ao longo do trajeto ou, terminando este, indo morrer em suas aldeias.”
Nascido em Bombaim, na Índia britânica, em uma família aristocrática, Rudyard Kipling (1865-1936) teve uma infância marcada
pelas histórias de encantamento contadas pelos criados indianos que serviam à família. Essas, com certeza, in uenciaram seu
trabalho de escritor e lhe renderam o Prêmio Nobel de Literatura, em 1907.
O Fardo do Homem Branco talvez seja o trabalho mais curto de Kipling. Mas aquelas sete estrofes, tornaram o poema
emblemático e o mais criticado até hoje.
A mensagem era bastante simples: Kipling justi cava o imperialismo não pela busca e exploração dos recursos naturais, mas sim
como uma necessidade para levar a “civilização” aos lugares mais “atrasados” do planeta.
A línguas europeias, a religião cristã, as técnicas, a educação, a medicina e até mesmo noções de higiene deveriam ser levadas
aos “selvagens”, isto é, os não-brancos. Este era o “fardo”, a missão difícil e pesada do homem branco “civilizado” para os “tristes
povos, metade criança, metade demônio”.
Charge faz apologia ao poema de Kipling mostrando um americano e um britânico carregando seus respectivos fardos.
O poema traduzia a mentalidade progressista do nal do século XIX. Apresentava uma certa generosidade em relação aos povos
conquistados – “levar a paz”, “encher a boca dos famintos”, por m às doenças e “levar a esperança ao nada” – o que, naquele
contexto histórico soava como um eufemismo, uma idealização distante da brutalidade do que então ocorria nas colônias
europeias da África e Ásia. As teorias do darwinismo social, da eugenia e do racismo cientí co forneciam justi cativas à expansão
imperialista.
O poema de Kipling passou a ser visto como um símbolo do imperialismo. Em resposta à sua publicação, missionários
evangélicos e padres foram enviados a todos os cantos do planeta determinados a difundir o cristianismo a qualquer custo.
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03/05/2019 "O fardo do homem branco": ode ao imperialismo
Escolas sob padrão europeu foram abertas para ensinar a árabes, africanos, chineses e indianos a língua da potência imperialista.
Estilos de vida e moda europeia foram introduzidos em todo planeta.
A partilha da África deixou um legado dramático que as nações africanas tiveram de lidar a partir da segunda metade do século
XX e que persiste ainda hoje. Estabeleceu fronteiras que não respeitaram grupos étnicos, que misturaram povos rivais ou
separaram culturas. A monocultura, o trabalho forçado e o abandono da produção familiar provocaram subnutrição, fome e
epidemias, destruíram as trocas internas no continente e deixaram os Estados africanos dependentes do mercado externo.
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