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Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 2019

Nomes: Carla Siqueira Mattos


Curso: Leitura e Produção Textual
Disciplina: Leitura, Escrita e Cognição
Prof.: Leonardo da Silva

HISTÓRIA DA LEITURA

A prática de leitura não pode estar desvinculada da leitura de mundo do


indivíduo. O homem desde o seu nascimento inicia uma descoberta, uma
interpretação do real, que mais tarde será lida em diversos impressos, levando em
consideração suas próprias vivências. A leitura se enfatiza pelo seu caráter dinâmico,
significativo, com uma forte relação com as aspirações do leitor. E pode ser vista
numa perspectiva ampla e dinâmica, do indivíduo, ou seja, que passa a questionar,
criticar, aumentando sua capacidade de compreender o que ocorre à sua volta,
consequentemente há uma ampliação no universo cultural. No entanto, é habitual se
pensar em leitura e ter logo uma ideia do texto escrito, mas o conceito é mais amplo
do que comumente se imagina.
O ato de ler vai além da escrita, porque nos diz algo em particular de acordo
com o contexto em que determinadas produções culturais estão inseridas, isto porque
num processo de leitura não é só quem escreve que dá sentido ao texto, quem lê
também precisa dar sentido ao objeto lido. Esta significação se dá de acordo com as
situações sócio históricas do cidadão, seu conhecimento e compreensão de mundo.
De acordo com Orlandi (1998, p.59): “[...] quando lemos estamos produzindo
sentidos (reproduzindo-os ou transformando-os). Mais do que isso, quando estamos
lendo, estamos participando do processo (sócio histórico) de produção de sentidos e
o fazemos de um lugar e com uma direção histórica determinada.” Isto quer dizer que
no ato de leitura, o leitor interage num processo de inferir sentido ao que lê. Chartier
(1991, p.118) argumenta: “É preciso considerar também que a leitura é sempre uma
prática encarnada em gestos, espaços, hábitos. Longe de uma fenomenologia da
leitura que apague todas as modalidades concretas do ato ler e o caracterize por seus

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efeitos, postulados como universais, uma história das maneiras de ler deve identificar
as disposições específicas que distinguem as comunidades de leitores e as tradições
de leitura (...)”.
Os que podem ler os textos não os leem de maneira semelhante, e a distância
é grande entre os letrados de talento e os leitores menos hábeis, obrigados assim a,
oralizar o que leem para poder compreender, só se sentindo à vontade frente a
determinadas formas textuais ou tipográficas. Contrastes igualmente entre normas de
leitura que definem, para cada comunidade de leitores, os usos do livro, modos de ler,
procedimentos de interpretação. Contrastes, enfim, entre as expectativas e os
interesses extremamente diversos que os diferentes grupos de leitores investem na
prática de ler.
Ler, olhar ou escutar são, efetivamente, uma série de atitudes intelectuais que
permitem na verdade a reapropriação, o desvio, a confiança ou resistência.
Concebidos como um espaço aberto a múltiplas leituras, os textos e também todas as
categorias de imagem não podem, então, ser apreendidos nem como objetos cuja
distribuição bastaria identificar nem como entidade sujo significado se colocaria em
termos universais, mas presos na rede contraditória das utilizações que os constituem
historicamente. Nesta perspectiva, a apropriação de um texto, seja ele qual for,
implicará táticas e estratégias de consumo que lhe conferem sentidos plurais na
medida em que estará condicionado às categorias de que dispõem o leitor para a sua
interpretação. Sob essa ótica, os textos se revestem do aspecto simbólico ao cruzarem
lugar e metáfora.
Para Silva (1991, p.22) “[...]o ato de ler inicia-se quando um sujeito, através
da sua percepção, toma consciência de documentos escritos existentes no mundo. Ao
buscar a intencionalidade, o sujeito abre-se para possibilidades de significação, para
as proposições de mundo que os signos do documento evocam ou sugerem”. É
importante destacar como a literatura educacional caracterizou a leitura desde a
Antiguidade até os séculos XX, para se entender a necessidade de novas pesquisas na
área e também o contexto das práticas culturais de leituras em seus usos e formas no
Brasil. Assim, vale destacar que o conhecimento é produzido historicamente, em um
sistema de relações sociais.
No desenvolvimento das civilizações o conhecimento foi social e
historicamente acumulado; em função disso, a leitura, também foi sofrendo

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modificações de acordo com as concepções e compreensões emergentes em cada
época. O homem passa por muitas transformações e estas são produtos do
desenvolvimento dos meios e dos instrumentos que permitiram aos indivíduos
dominar melhor a natureza e observar atentamente a realidade produzindo assim,
conhecimento. Na perspectiva histórica, desde a Antiguidade até nossos dias, início
do século XXI, aconteceu uma divisão entre letrados e não letrados, contrastes entre
leitores com maior grau de habilidade e leitores com baixo grau de letramento. Cada
grupo ou indivíduo faz uso de um tipo de leitura e de formas variadas de ler, o que
lhes confere apropriações e representações diferenciadas. Em Roma, nos séculos II e
III, ler significava ler um rolo de papiro, um exercício realizado em voz alta, por
nobres e sacerdotes, muitas vezes auxiliados por um escravo, que trabalhava no
desenrolar e enrolar do rolo.
Desde que se concebe o ato de ler, este sempre era feito em voz alta. Nas
antigas bibliotecas, os escribas trabalhavam transcrevendo livros, lendo em voz alta.
Esta prática de leitura era acompanhada por sons e ritmos que se assemelham à
dramatização e era um hábito dos intelectuais ricos ou cultos que se reuniam em
espaços públicos, no qual um leitor fazia a leitura para todos. Nesse tempo, as
mulheres não tinham acesso à escolarização, assim poucas liam, conforme define
Chartier (1997, p.85) “é melhor que uma mulher não compreenda muito do que lê nos
livros, pois nada é mais irritante que uma mulher instruída”. As mulheres, bem como
outros leitores que não pertenciam à nobreza dominavam uma linguagem simples,
lendo obras tidas simplificadas (paráfrases, textos culinários), as quais deveriam ser
feitas em espaços privados, em silêncio. Pode se observar que estas diferenças, no
quesito ler, definia claramente um tipo de comunidade leitora, pois cada segmento
social atribuía um significado diferente ao ato de ler.
No final do século III, o povo romano começou a ter contato com os textos
escritos de origem grega, e tem-se neste tempo o início da literatura latina entre os
romanos, por meio de obras de poetas estrangeiros, como poemas épicos, tragédias e
comédias, que passam ser de uso da alta nobreza, na maioria das vezes apenas como
ostentação de riqueza. Contudo, estes livros simbolizam a passagem da escrita de
textos em rolos de papiro e sem uma programação editorial para o suporte de livros a
serem folheados. Para marcar ainda mais esta aproximação do leitor com o texto,
surge o códice, o livro caderno, com páginas de fácil confecção, permitindo o acesso

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à circulação de livros. Como demonstra Chartier, em seus textos, o códice provocou
profundas mudanças na forma de ler, pois exigia apenas uma mão e, ainda, o leitor
podia realizar suas anotações à margem do livro, ao mesmo tempo em que,
sistematizou textos profanos ou cristãos em um único livro.
Na fase inicial da Alta Idade Média, a leitura era organizada nos mosteiros e
o livro dos salmos passou a ser a cartilha de ler e escrever. As atividades de leitura
passaram a ser regulamentadas e organizadas em parágrafos e títulos, observando as
funções gramaticais. A leitura era realizada em voz alta, respeitando a pontuação e o
leitor deveria comentar as características de vocabulário, interpretando seu conteúdo,
principalmente subordinando a leitura à educação religiosa, às Sagradas Escrituras.
Somente no século X, se começou a ler silenciosamente. O leitor podia estabelecer
uma relação mais próxima com o livro e as palavras e, entra em cena o espaço interior,
espaço este em que o leitor podia antecipar leituras, pular trechos, realizar
comparações com outros livros deixados abertos para consulta simultânea. Contudo,
para alguns adeptos da leitura oral, principalmente os padres cristãos tal procedimento
era sinônimo de ociosidade, pois a leitura silenciosa abria espaço para sonhar
acordado, para o perigo da preguiça – o pecado da ociosidade, além do perigo de se
ler refletindo sobre o sentido das palavras, sem ter alguém que oriente ou que condene
a leitura feita. A leitura silenciosa permitiu assim, o estreitamento da relação texto-
leitor, sem desconsiderar as outras práticas de leitura.
Com o crescimento das cidades (séculos XII a XIV), a escolarização começa
a seguir modelos de alfabetização, no qual se lê para escrever, ou seja, compõem-se
trechos mais curtos e resumidos, devido ao aumento da produção literária. Época esta
conhecida como escolástica, com a marca da multiplicação de textos, e na qual a
utilidade irá passar à frente do conhecimento. A leitura era considerada como
exercício de memória, sem um contato profundo com o texto. Entre os séculos XIV e
XVI, novas mudanças na sociedade trazem profundas transformações ocorridas
principalmente em relação à visão de mundo, dentre as quais: 1) os horizontes
geográficos alargam-se, surgem novas nações decorrentes das grandes navegações e
dos descobrimentos feitos pelos portugueses e espanhóis; 2) a invenção da pólvora
pelos chineses; 3) o esforço de colonização das novas terras; 4) a invenção da
imprensa. De tais mudanças ocorreram transformações significativas no pensamento
da humanidade, de forma tal que o humanismo e o Renascimento afetaram a maneira

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de pensar e de agir das pessoas que moravam nas cidades, interessadas em aproveitar
a vida e achar soluções para seus problemas no campo terreno, gerando assim a
expansão das formas de ler, que modificaram o modo de reprodução dos textos e a
produção de livros. Têm-se novas formas de leitura, de uma produção manual, passa-
se para a produção em série e em grandes quantidades, possibilitando que o livro fosse
adquirido por um grupo maior de leitores, e o livro de bolso ou cabeceira passou a ser
um instrumento utilizado por um grande número de pessoas.
Os efeitos da invenção de Gutemberg, que é a imprensa, foram
extraordinários, pois rapidamente, muitos leitores perceberam suas grandes
vantagens: rapidez, uniformidade de textos e preço relativamente barato. Acreditava-
se que, com a imprensa, o texto escrito à mão iria desaparecer, mas ao contrário, no
final do século XV, embora muitos progressos fossem celebrados por meio da
imprensa, a preocupação com o bem escrever, com o traço elegante não desaparecera.
O século XVI tornou-se não apenas a era da palavra escrita, como também o século
dos grandes manuais de caligrafia. Neste contexto, vários humanistas renovam a
leitura dos textos antigos e defendem o homem como ser capaz de criar seu próprio
projeto de vida. Esses estudiosos divulgaram as obras e ideias dos gregos e romanos
e defendiam o dinamismo, nas mudanças sociais e religiosas. Grande parte da
população ficou sensibilizada por estas tais novas ideias, principalmente no que se
refere aos problemas das classes sociais mais pobres, abalando com isso a estrutura
hermética dos princípios do catolicismo e também da Idade Média. Os humanistas
transformaram a experiência da leitura, porque apostavam na leitura dos clássicos
diretamente e como eram. Tais livros eram considerados como “a janela através da
qual poderiam dialogar com os mortos ilustres”. À época do humanismo, na França,
na segunda metade do século XVII, durante o reinado de Luís XIV, surge uma
preocupação com o leitor infantil. Foi neste período que apareceu a literatura infantil,
em sua forma escrita, época em que as mudanças no interior da sociedade
repercutiram no âmbito artístico. Começa, então, a ficar clara a visão de que a criança
deveria distanciar-se da vida cotidiana dos adultos e receber educação diferenciada.
Até então, as crianças da nobreza liam geralmente os romances clássicos,
enquanto as crianças dos segmentos sociais desprovidos de acesso a materiais escritos
pertencentes às bibliotecas da nobreza, liam e ouviam histórias de cavalaria e de
aventuras. Foi, assim, no período de repercussão do humanismo, que o Brasil

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começou a viver seus primeiros tempos de “descobrimento”, ingressando no
capitalismo mercantilista. A colonização extrativista do Brasil foi realizada em
função do acúmulo de riquezas para Portugal.
Somente entre 1670 – 1720 são produzidos impressos em outras línguas,
diferente do latim e, assim a leitura pôde chegar ao alcance das camadas populares.
No século XVIII, século das Luzes ou Iluminismo, surge uma ideologia baseada na
razão, como alicerce do bem-estar da população. Segundo os iluministas era um dever
moral para os estudantes, comerciantes, mulheres cultas e funcionários, uma forma
de leitura mais regrada, sensata, no silêncio, principalmente à noite, no aconchego
dos lares, com o objetivo de formar a identidade social da burguesia. Como diz
Manacorda (1989: 252) “Ler e escrever, fazer contas são necessidades de todos e são
também os únicos conhecimentos que são possíveis dar mediante uma instrução direta
e positiva aos habitantes das cidades e dos campos”.
Não se pode esquecer de um fato essencial do século XVIII: a Revolução
Industrial, que consistiu na passagem do modo de produção artesanal para a fábrica.
Esta evoluiu rapidamente, especialmente na Inglaterra, mudando não somente os
modos de produção, mas também os modos de vida dos homens, deslocando-os de
antigas para novas concepções e transformando, junto com os processos de trabalho,
também as ideias e as formas de educação, pois a fábrica e a educação emergem
juntas, colocando um fim na ordem artesanal. Ainda neste século surge um novo
gênero literário que conseguirá atingir as diferentes classes sociais que compunha a
sociedade da época: o romance, a literatura romântica que caracterizava os ideais da
Revolução Francesa. Inspirado nos ideais liberais, ele deveria significar a liberdade
de expressão artística, libertação da imaginação criadora que até então tinha sido
voltada às normas clássicas, mas foi associado às características femininas de
irracionalidade e vulnerabilidade emocional. Estas supostas características
impregnadas nos textos estavam ligadas à necessidade de democratizar os bens
culturais e a literatura em particular, tornando-a acessível à nova classe social, a
burguesia. Por isso, a leveza e a superficialidade dos primeiros romances de folhetins;
leituras e ingredientes que encantavam certos leitores. É neste contexto de século
XVIII que as narrativas antigas continuavam a se difundir pela Europa, através de
diferentes coletâneas populares e nos serões familiares. Essa época propiciou a
preocupação com uma escola para todos e as reformas pedagógicas insistiam na

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obrigatoriedade da alfabetização. Devido a essa nova preocupação com a leitura,
começam a surgir resumos de certos livros para adultos, adaptados à compreensão e
ao interesse das crianças.
No Brasil, a educação continuou a desenvolver-se ainda sob a influência da
pedagogia católica, dos jesuítas, os quais exerceram o monopólio da educação até
1759, quando foram expulsos por Pombal. Portanto, era o que se lia por aqui. Com o
tempo, a literatura tornava-se ainda mais inquietante. Por volta da segunda metade do
século XIX, o romance apresenta características diferentes, revela um
inconformismo, uma inquietação em relação ao mundo burguês, e passa a ter então,
outra mentalidade, outra linguagem, a ser um veículo de crítica aos valores vividos
pela sociedade.
Quanto ao processo da leitura decorrente da acelerada urbanização que se deu
entre o fim do século XIX e começo do século XX, o momento se torna propício para
a preocupação mais acentuada com a formação do leitor e qual o tipo de leitura
destinada a esses leitores no curso da sua formação. A ausência de materiais de leitura
e principalmente de livros para às crianças brasileiras causam indignações por parte
de alguns segmentos da população. Por isso, ficava notória uma concepção bastante
comum na época, de atribuir importância ao hábito de ler, tendo em vista a formação
do cidadão.
Em 1921, Monteiro Lobato publica “Narizinho Arrebitado”, que passou a ser
adotado nas escolas públicas de São Paulo, como importante atração para leitor e
leitora infantis. Isto contribuiu para consagrar Lobato como “Pai da Literatura Infantil
Brasileira”. Um outro marco com relação a esse autor é o início do rompimento do
círculo de dependência brasileira dos padrões literários vindos da Europa. Justamente
nessa década de 30, o Brasil viveu um dos períodos de maior radicalização política,
em se tratando de questões educacionais, de sua história, com a disputa dos liberais e
dos católicos. Os liberais eram os intelectuais que iniciaram a maioria das reformas
educacionais dos anos 20, que nos anos 30, publicaram o Manifesto dos Pioneiros da
Educação Nova (1932). Neste Manifesto propunham bases pedagógicas renovadas e
a reformulação da política educacional. Em oposição, defrontam-se os católicos,
defensores da Pedagogia Tradicional. Tal debate surge pela oportunidade que os
mesmos tinham em oferecer sugestões à nova Constituição de 1934.

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Na perspectiva acima apontada, é possível afirmar que a prática da leitura não
é neutra, traz em si concepções ideológicas, crenças, poderes, tanto do ponto de vista
de quem escreve, bem como de quem se apropria dela. Assim, é possível afirmar que
temos diferentes comunidades leitoras, e que todos leem de alguma forma, mesmo os
que são analfabetos ou possuem baixo grau de letramento, pois as práticas de leitura,
enquanto práticas culturais não são passivas ao contexto de produção, são recriadas e
apropriadas de formas diferenciadas de acordo com as variações de tempo, local,
experiências de leitura e condicionantes sociais e culturais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CAVALLO G e CHARTIER, R. A história da leitura no Mundo Ocidental.


São Paulo: Ática, volume I, 1997.

CHARTIER, R. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São


Paulo:UNESP, 1998.

MANACORDA, M. História da Educação: da antiguidade aos nossos dias.


São Paulo:Cortez, 1998.

MANGUEL, A. Uma história da leitura. São Paulo: Companhia das Letras,


1997.

ORLANDI, E. P. Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 1988.

SILVA, E. T. da. De olhos abertos. Reflexões sobre o desenvolvimento da


leitura no Brasil. S. Paulo Ática. 1991.

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