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NOSSAS

DOUTRINAS 6.aEDIÇÃO

H.W .TRIBBL

30 .6
822
H W . T R IB B LE

NOSSAS DOUTRINAS

6? edição
Todos os direitos reservados. Copyright © 1985 da JU E R P .

238 6
Tri-nos T rlb le .H W .
Nossas doutrinas. 6! edição. Rio de Janeiro, Junta de Educaçao
R eligiosa e Publicações, 1985.
102p.
1. Batistas — Doutrinas. I. Titulo.
C D D — 238.6

C apa de W . Nazareth Núm ero de código p a ra pedidos : 22.504

Junta de Educação R eligiosa e Publicações da


Convenção B atista B rasileira
C aixa Postal 320 — 20001
R ua Silva V ale, 781 — Tom ás Coelho — 21.370
R io de Janeiro, R J, B rasil -

3.000/1985 Im presso em gráficas próprias


NOSSAS DOUTRINAS

" Ê o melhor dos livros de estudo desta natureza que


tenho examinado. Mais simples. Sentenças curtas e cla­
ras. Linguagem compreensível. Nada de elegâncias fin ­
gid a s."
"E ste livro é especialmente adaptado a dar ao novo
crente uma vista sintética de nossas doutrinas, manifes­
tadas em vida santa, obediente e espiritual" ( W . C.
T a y lo r ).
O autor, H . W . Tribble, f o i professor de Teologia no
Seminário Batista do Sul dos Estados Unidos, em Louis-
viUe, K y . , tendo sucedido o famoso Mullins.
Recomenda-se esta obra a todos os que estiverem
interessados em conhecer as doutrinas fundamentais dos
Batistas.
INSTRUÇÕES PARA ESTUDÒ

Este iivro faz parte dos Cursos: Básico de Cultura Cristã, Comple-
mentação Para Líderes da Escola de Missões, e Doutrinas Bíblicas, da
série Cursos de Educação Cristã. Seu estudo dará direito a um certifica­
do; e o estudo de todos os livros de cada currículo, a um bonito diploma.
O estudo poderá ser efetuado de duas maneiras:
Individualmente: Depois de ler o livro o aluno deverá preencher o
teste que se encontra nas últimas páginas deste mesmo livro. Não há
necessidade de arrancar essas páginas, mas o interessado em receber o
certificado poderá copiar o teste em uma folha de papel almaço, e
remetê-lo à Divisão de Cursos da JUERP — Caixa Postal 320, Rio de
Janeiro — CEP: 20001. Deverá, de preferência, copiar o texto em azul, e
dar as respostas em vermelho, para facilitar a correção. De volta, pelo
correio, receberá um certificado pelo estudo do livro e um cartão de
matrícula, que deverá se preenchido e devolvido, caso deseje estudar
os demais livros e receber o diploma dos Cursos.

, classe: O estudo será dirigido por um professor, que também


tara jus ao certificado.

O aluno que assitir a todas as aulas, e ler o livro, ficará isento de


qualquer exame.
O aluno que faltar a determinadas aulas, deverá, além de ler o livro,
prestar exame (escrito ou oral) sobre a matéria ensinada em sua ausência.
A Divisão de Cursos da JUERP fornecerá, a quem solicitar, as folhas
de matrícula para o estudo em grupo, onde o professor anotará a fre­
quência e o aproveitamento de cada aluno. Findo o estudo, as folhas
deverão ser devolvidas para fornecimento dos certificados e diplomas.
SUGESTÕES PEDAGÓGICAS
Apresentar o objetivo e a importância do estudo.
Explicar o regulamento do Curso de Educação Religiosa.
D ar uma visão geral dos capítulos.
Usar ilustrações.
Perm itir a participação dos alunos, mas sem digressão.
U s a r álbum seriado e quadro-de-giz.
SUMÁRIO

Páginas

Sugestões P ed a gó gica s....................................................... .. 8

I, A Bíblia e D e u s ....................................................................... 13

II. O Homem e o P e c a d o .............................................................. 25

III. Jesus C r is t o ............................................................................. 35

IV . O Espírito S a n to ...................................................................... 45

V. O Lado Humano da Experiência C r is t ã ................................. 57

V I. O Lado Divino da Experiência C r is t ã ................................... 69

V I I. A Igreja e as Ordenanças....................................................... 81

V III. A M orte e a Vida Além -túm ulo........................................... 91

Perguntas para Recapitulação e P r o v a ................................ 101


CAPITULO I

A Bíblia e Deus
Esboço

I. As Doutrinas Através da Experiência Cristã


1. Encarando o assunto
2. Significação da experiência cristã
3. Vantagens deste método
II. A Bíblia
1. A Palavra de Deus
(1 ) Revelação
(2 ) Inspiração
(3) Iluminação
2. A base de nossa crença
(1 ) Sua unidade
(2 ) Sua preservação através dos séculos
(3 ) Seu poder transformador
3. A autoridade da Bíblia
(1) Sua suficiência
(2) Sua certeza
III. Deus
1. A existência de Deus
2. A essência de Deus
(1 ) Deus é Espírito
(2 ) Deus é poder
(a ) Infinito
(b ) Criador

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(c ) Soberano
(d ) Providente
(3 ) Deus é um Ser Pessoal
3. O caráter de Deus
(1 ) Deus é amor
(2 ) Deus é justiça
(3) Deus é verdade
4. A unidade e trindade de Deus
(1 ) Deus é uno
(2 ) Conhecemos Deus como trino

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C A P ÍT U LO I

A BÍBLIA E DEUS
I. A s Doutrinas Através da Experiência Cristã

1. Encarando o assunto

A congregação estava de pé enquanto se cantava o hino de convite.


O pregador insistira com os perdidos para aceitarem Jesus Cristo como
Salvador. Era apenas o culto regular de domingo à noite, mas parecia
haver alguma coisa fora do comum. Um homem de meia idade saiu
do seu lugar, encaminhou-se resolutamente para a frente, pegou a mão
do pastor e levou-o a ajoelhar-se com èle. A li oraram, enquanto a con­
gregação cantava. Tivem os a sensação de que o homem estava tendo
uma tremenda luta interna. Era um mecânico, empregado de uma ga­
ragem das imediações. •
0 cântico parou. O homem tomou assento na frente e o pastor fe z­
-lhe as perguntas usuais. Tinha confessado os seus pecados a Deus e con­
fiado em Jesus, o Salvador divino-humano, para a vida eterna? Tinha
feito o propósito de seguir a Cristo como seu Senhor, em fie l obediência
através da sua vida? A estas e outras perguntas ele deu respostas sa­
tisfatórias, razão pela qual fo i recebido pela igreja e na noite do domingo
seguinte fo i batizado.
Comumente deixamos p novo membro de lado, até necessitarmos
dele para alguma fase do trabalho da igreja. Devemos, porém, acompa­
nhá-lo na sua vida cristã à medida que reflete sobre a experiência da sua
conversão e à medida que se desenvolve na comunhão com Cristo. Ele
mesmo se interrogará como chegou a interessar-se pelo assunto da vida
eterna. Que influências atuaram nele? Que fez Deus por ele na rege­
neração da sua vida e em torná-lo um cidadão do reino de Cristo? A
resposta a tais perguntas envolve doutrinas da nossa fé. Ele virá a des­
cobrir, então, que sua fé lhe oferece, em parte ao menos, a explicação
da sua experiência. E, por sua vez, sua experiência fornecerá à sua fé
uma nova significação. Isto é sempre verdade. A experiência que o cren-

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te tem da comunhão com Cristo e sua fé acham-se entrelaçadas pro­
fundamente.
Isto sugere um modo adequado de encarar o estudo das nossas dou­
trinas essenciais. Se as estudarmos à luz da experiência cristã, entende­
remos mais claramente a sua significação vital. Reflita, pois, o leitor na
sua própria experiência acerca de Cristo, ao mesmo tempo que estuda
as doutrinas esboçadas neste livro.

2. Significação da experiência cristã


Fique desde já entendido que por experiência cristã não queremos
dizer simplesmente conversão. Ela está implícita na experiência, visto
que é o estado inicial da nossa nova relação. Mas por experiência cristã
queremos dizer o trabalho de Cristo nas vidas dos seus seguidores, com­
preendendo conversão, regeneração, santificação e todos os demais aspec­
tos da relação da vida cristã para com Deus, em Cristo. E m nosso estudo
procuraremos provar o que cremos, pela nossa experiência. Isto não sig­
nifica que a nossa crença emana da nossa própria experiência, pois que
originalmente provém da revelação, mas, sim, que aquilo que nos é re­
velado deve receber um significado vital através da experiência.
3. Vantagens deste método

Há pelo menos três vantagens decorrentes do uso deste método,


no estudo das nossas doutrinas. E m primeiro lugar, salva-nos do fo r ­
malismo da recitação de um credo. Em segundo, serve-nos como um
principio de interpretação que vitalizará o nosso testemunho perante o
mundo. O mundo julga Cristo pelo seu poder manifestado no cristão.
Devemos, pois, ter sempre em mente que os nossos atos de cada dia de­
vem estar sempre harmonizados com os ditames da nossa crença, a
fim de que o nosso testemunho seja eficaz para levar outros a Cristo.
Em terceiro lugar, este método serve-nos como meio de provar as nos­
sas crenças. Ele é para a doutrina cristã o que os instrumentos do la­
boratório são para a ciência.
II. A Bíblia
Uma doutrina é aquilo que é ensinado, aceito e crido. É a inter­
pretação de alguma fase da vida. Doutrinas cristãs são os ensinos que
interpretam as nossas relações para com Deus, segundo Cristo e a sua
obra salvadora. Que é que cremos em relação à Bíblia?
1. A Palavra de Deus
(1 ) Revelação. Todas as doutrinas cristãs são baseadas na reve­
lação de Deus em Cristo e dela se derivam. A Bíblia é o registro dessa
revelação. É nosso código autorizado em tudo que concerne à fé e à
prática religiosa. É bom que se saiba, porém, que a Bíblia não pretende
nem os cristãos julgam que ela tem lugar de autoridade na esfera da
Ciência ou da História. Em parte alguma ela procura estabelecer leis
cientificas e nem é um meio de se obterem informações de caráter cien-

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tifico. É distinta e claramente um livro religioso. Propõe-se tão somente
a guiar-nos a Deus, e, seguindo seus ensinos, nós achamos a Deus.
Revelação significa a obra de Deus em fazer-se conhecido aos ho­
mens. Ele descerrou o véu e permitiu que o vissem e o conhecessem.
P o r causa do pecado, que se interpôs entre o homem e Deus, uma re­
velação completa não podia ser dada de uma só vez. É assim que temos
o' elemento progressivo na revelação bíblica. Deus deu a cada geração
a verdade divina, na medida em que ela estava em condições de rece­
bê-la. À proporção que se apropriava da revelação dada, Deus a levava
a um grau mais elevado. Assim fo i que a luz progrediu, desde o primeiro
raio tênue que apareceu no horizonte de um mundo coberto de trevas,
até à luz aurifulgente em Jesus Cristo, a revelação suprema de Deus. Os
estágios primitivos têm valor para nós, na medida em que são cumpridos
e interpretados em Cristo.
(2 ) Inspiração. P o r inspiração das Escrituras queremos dizer a
direção divina sobre os que escreveram o registro bibhco. O Deus infi­
nito escolheu canais humanos, o intelecto e a experiência humana, atra­
vés dos quais derramou a sua verdade sobre toda a geração dos homens.
Maravilhoso dom de Deus aos homens e a sua palavra inspirada! Há
um sentido no qual houve muitos autores e um outro no qual houve
apenas um só autor. João, Liicas, Mateus, Isaías e outros, escreveram
livros separados; não obstante, o Espírito Santo fo i o autor e guia de
todos os sessenta e seis livros que constituem a Bíblia.
Ainda que não possamos saber os meios pelos quais os escritores
tiveram a direção divina, sabemos que o seu trabalho fo i obra de sua
experiência intima com Deus. Deus inspirou-os com o seu Espírito, e
eles escreveram à medida que o mesmo Espírito os dirigia. Na sua expe­
riência achavam-se envolvidos os mesmos elementos que se encontram
presentes na experiência de todo crente. Deus, porém, teve um fim espe­
cial a executar por meio deles, razão pela qual também foram chamados
e guiados de um modo especial.
(3 ) Iluminação. P o r iluminação queremos dizer que o Espirito
Santo guia e dirige o espírito do homem que estuda e procura inter­
pretar a sua Palavra. O livro para nós é frio e sem vida, até que por
meio dele o Espirito nos guie à presença do Cristo vivo, que dentro dele
nos espera no próprio centro da Palavra de Deus. De fato, Cristo é a
Palavra viva e nós somos capacitados para ouvi-lo pelo Espirito, que
nos guia no estudo da Palavra escrita. Uma vez que tenhamos seguido
o Espirito para achar Deus na sua Palavra, ansiosamente nos esforça­
remos para que nos guie para crescermos no conhecimento de Deus.
Êste é o meio pelo qual a experiência cristã vitaliza o estudo da Bíblia.
2. A base de nossa crença
Por que aceitamos a Bíblia como a Palavra de Deus? P o r que meios
ela prova ser o único, entre todos os livros, como registro da revelação,
como a inspirada í*alavra de Deus? Há três respostas gerais a serem
dadas.

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(1 ) Unidade. A Bíblia contém sessenta e seis livros, trinta e nove
do Velho Testamento e vinte e sele do Novo Testamento. Foram escri­
tos dentro de um longo período de m il anos, por conseguinte, sob cir­
cunstâncias muito variadas. Não obstante, há fundo traço de união entre
todos estes livros. A Bíblia é um livro. Pode ser cortada em qualquer
lugar e achar-se-á a corrente da revelação que é cumprida em Cristo.
Neste fato temos uma evidência de que a Bíblia é de origem divina. Seria
impossível manter essa unidade por meios meramente humanos, através
de tão longo período e sob tão variadas circunstâncias.
(2 ) Preservação. Uma outra evidência de que a Bíblia é a Palavra
inspirada de Deus acha-se no fato da sua preservação através dos sé­
culos. Outros livros têm durado por longos períodos de tempo, mas ne­
nhum tem sido tão freqüente e veementemente atacado como a Bíblia.
Em todos os tempos ela tem tido inimigos, que vão ao máximo nos seus
esforços para destrui-la. Não obstante, todos esses esforços têm sido
baldados, porque ela tem sido preservada através de todos os tempos.
O fato de o L ivro da L e i ter sido achado em 621 a .C ., depois de
estar perdido por muitos anos, mostra que Jeová era o guardião da sua
Palavra. Coverdale, Tyndale e W y d if foram todos perseguidos por tra­
duzirem a Bíblia para a língua inglesa. Os inimigos da Bíblia determi­
naram impedir a sua difusão, mas o tempo provou que eles estavam
lutando contra Deus. O mesmo Espirito de Deus, que dirigiu a escrita da
Palavra, tem-na preservado da destruição através dos tempos. Verda­
deiramente ela é a Palavra de Deus.
(3 ) Poder transformador. Um a terceira evidência que apóia o di­
reito da Bíblia de ser a Palavra de Deus é a reação que ela provoca em
nós, a influência que ela exerce sobre os homens. Quando Isaias no
templo se viu arrebatado pela visão de Deus, exclamou: “ A i de mim,
que vou perecendo! porque eu sou um homem, de lábios impuros, e ha­
bito no meio de um povo de impuros lábios: e os meus olhos viram o
rei, o Senhor dos Exércitos!” (Is. 6:5). T em sido esta a experiência de
milhares e milhares de pessoas que têm atentado para a revelação re­
gistrada nas Escrituras. Com os olhos da fé, têm visto Deus, têm sentido
quanto ele lhes é necessário e têm compreendido que ele pode atender
e satisfazer a essa necessidade.
George W hitefield disse que atribuía sua conversão à influência de
um livro que Charles W esley passara às suas mãos e cujo titulo era:
“ A Vida de Deus na Alm a do Homem” . A o lê-lo, viu-se diante da
intimativa de Jesus: “ Necessário vos é nascer de n o v o ’ (João 3 :7 ).
O resultado fo i que ele se rendeu a Cristo, sua vida fo i transformada,
pregou sobre o mesmo texto e sobre o Evangelho de Cristo a centenas
de milhares de pessoas, e milhares delas foram convertidas.
Esta é a história do efeito da Bíblia sobre o crente. Sempre opera
desse modo, quando usada nas condições que ela mesma estabelece.
Refuta vitoriosamente a afirmação do incrédulo, que diz ser a Bíblia
apenas um livro humano — boa literatura e nada mais que isso. Livros
simplesmente humanos não transformam a vida dos homens.
ie
Devemos fazer distinção entre os três fatores que fazem da Bíblia
a base de confiança das nossas doutrinas e as três evidências de que ela
é a Palavra inspirada de Deus. Os três fatores são os tres meios pelos
quais Deus fala aos homens por meio das Escrituras; as três evidências
nos provam que é Deus que fala na Biblia, e não homens. Pode achar­
-se uma ilustração no emprego da eletricidade como força na vossa casa.
Três fatores põem a corrente à vossa disposição. Acham-se na roda que
capta a água, no dínamo que usa a força da água para gerar a eletrici­
dade e nos cabos que levam a corrente até a vossa residência. Três
evidências de que os cabos têm eletricidade podem achar-se no uso do
telefone ou do rádio, quando a voz de um amigo é ouvida de uma longa
distância; no uso das lâmpadas elétricas, quando o quarto é inundado
dê luz; ou no uso do aquecedor elétrico, quando somos aquecidos pelo
calor que nos vem através da corrente.

3. A autoridade da Bíblia
Precisamos agora considerar a questão da autoridade na religião
cristã. Algumas corporações cristãs colocam a autoridade inteiramente
na igreja, como fa z a Católica Romana. Outras, não reconhecem auto­
ridade alguma na igreja ou na Biblia, mas apenas no membro individual­
mente ou no cristão professo. Os Unitarianos pertencem a este tipo.
Depois, há as denominações que aceitam as Escrituras como autorizadas.
Os Batistas pertencem a esta classe. Sua posição é que a Bíblia, inter­
pretada para o crente pelo Espírito Santo, é a autoridade final, porque
é a mensagem de Deus.
(1 ) Suficiência. Um dos característicos da autoridade da Bíblia
é a sua suficiência. Há verdade bastante em todos os seus sessenta e
seis livros para todos os fins religiosos. As Escrituras dão o registro da
revelação que Deus faz de si mesmo, para guiar o homem na sua inves­
tigação de tudo aquilo que a sua alma necessita. Vamos às Escrituras
e achamos Cristo, ê em Cristo achamos Deus. Portanto, elas provam ter
autoridade suficiente para as nossas necessidades religiosas.
Há três fases desta autoridade que indicam a sua suficiência. A
primeira é o conhecimento de Deus que nos é dado. Quando o cristão
procura apresentar sua concepção de Deus, a Biblia fala com autoridade
quanto ao que ele deve e não deve dizer. A segunda é a matéria de dis­
ciplina da vida cristã. Tendo resolvido servir a Deus, o cristão abdicou
do direito de escolher os caminhos pelos quais deve andar. Tem que
seguir o caminho que a Biblia mesma lhe indicar. A terceira é o caso
das nossas relações para com o nosso próximo. Aqui, de novo a Biblia
é suficiente. Ela nos dá o mandamento de levar a mensagem de Deus
aos outros. Apresenta-nos, enfim, a comissão divina de evangelizar o
mundo.
(2 ) Certeza. A autoridade da Biblia revela-se na sua certeza. Ela
se propõe a guiar-nos a Deus. Seguindo-a, de fato achamos Deus. Assim
concluímos que quando ela fala de Deus, fala com uma nota de seguran­
ça e certeza. Quando, em resposta à oração de Cristo, veio a voz do

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céu, como vemos no capitulo 12 de João, alguns pensaram que fora um
trovão. Outros supuseram que um anjo falara com Jesus. Mas os discí­
pulos sabiam que fora a voz de Deus falando ao Filho. Quando aceita­
mos a Bíblia como o registro da revelação de Deus em Cristo e ouvimos
a voz de Deus falando-nos por meio das suas páginas, reconhecemos a
sua autoridade em todas as esferas da vida crista.

III. Deus
Que é que Deus significa para nós? Isto é uma questão de magna
importância. Muitos, porém, respondem: “ Isto é para m im uma coisa
vaga e abstrata.” Precisamos, apesar disso, encarar a pergunta franca
e corajosamente. Nossa concepção de Deus é a base sobre a qual cons­
truiremos o nosso sistema doutrinário. É de necessidade que todo cris­
tão procure verificar se tem convicções definidas e certas, concernentes
ao lugar e poder de Deus na sua vida.
1. A existência de Deus
Hà um Deus? Se considerarmos o que diz a Bíblia, esta pergunta
não será suscitada, porquanto ela afirm a que Deus vive. “ Np princí­
pio. .. D eu s.. . ” e sobre esta plataforma toda a revelação é dada. Dis­
cute-se a natureza e o caráter de Deus, mas nunca a sua existência. A
experiência cristã confirma esta aproximação da Bíblia. Não necessita­
mos argumentar que hà um Deus. Porque temos experimentado a sua
graça salvadora, sabemos que ele existe. Acaso uma criança põe em
dúvida a existência de seu pai, ou um marido a existência de sua esposa?
A relação vital tom a tal pergunta um absurdo. Assim é com a experiên­
cia cristã. Nossa relação com Deus é tão real e vital, que levantar a
questão da sua existência é o m aior dos absurdos.
2. A essência de Deus
Qual é a natureza de Deus? Procuraremos agora responder a esta
pergunta. .
(1 ) Deus é Espírito. P o r isto queremos dizer que ele não é ma­
téria, isto é, não tem corpo. Não depende de espaço ou de tempo. Isto
fo i o que Jesus quis im prim ir na mente da samaritana, quando disse:
“ Deus é Espirito” (João 4:24). Não é em algum lugar especial, em
algum tempo especial, que temos que adorar a Deus, mas no contato
de espirito com Espírito. Deus pode encontrar-se com o adorador num
templo ou num monte, mas isto não dependerá desses lugares fisica­
mente considerados, e sim da atitude da alma.
Há dois aspectos importantes da natureza de Deus implicados na
palavra espírito. O primeiro é o fato de que, como Espirito, ele é inde­
pendente de espaço. Isto significa que está presente em toda parte. 0
'espaço não pode contê-lo; entretanto, Deus existe nele. Está em todo
ele, e além dele. Sua existência não tem limites.
O outro fato é que Deus como Espirito é independente de tempo.
Ble é eterno. N ão pode limitar-se dentro do tempo, pois transcende o
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tempo. Para ele, m il anos são como um dia e um dia é como m il anos.
Em outras palavras, ele vive na eternidade, considerando-se o tempo
apenas uma fase da sua vasta criação.
(2 ) Deus é poder. Isto liga-se intimamente à concepção de Deus
como Espirito. Se, como Espirito, não é limitado pelo tempo ou espaço,
certamente tem aquele elemento que chamamos poder. Há diversos as­
pectos do ser e atividades de Deus envolvidos nesta concepção. Um é
que ele é infinito. É todo-poderoso. Ele não conhece limitações, senão
as que se impõe a si mesmo. Isto se aplica a todos os atributos de Deus,
tanto quanto ao seu poder. De qualquer modo que possamos pensar de
Deus, ele está além de toda e qualquer limitação.
Daqui segue-se um segundo aspecto de nossa concepção de Deus,
a saber, que ele é o Criador de todas as coisas. Todos os seres do uni­
verso, excluída a sua própria existência, vieram a existir pelo seu poder
criativo.
Um terceiro fato que chama a nossa atenção aqui é que Deus é so­
berano. Ele governa a sua criação. É absoluto no seu poder e domínio.
Não há outro em pé de igualdade com êle. Habita à parte, numa rela­
ção que ninguém senão Deus mesmo pode saber.
Ainda outro fato que se acha contido nesta concepção de Deus como
poder é a providência do mesmo Deus. Este Criador infinito e Governa­
dor Soberano cuida da sua criação e providencia quanto às suas criatu­
ras. A par da elevada concepção do poder de Deus, devemos pôr o tre­
mendo fato de que ele mantém esse seu poder como uma garantia do
bem-estar de seus filhos. .
(3 ) Deus é um ser pessoal. Uma pessoa é um ser cônscio de si
mesmo e de determinação própria. É isto que distingue uma pessoa de
uma coisa. Ser autoconsdente é exercer pensamento, sentimento, vonta­
de e saber que estas atividades estão sendo exercidas. Assim, ao mesmo
tempo em que estou sentado aqui, penso no lar, na esposa e nos filhos.
O pensar excita as minhas emoções, e fico ansioso por contemplá-los.
Constato novamente o quanto os amo. T er uma tal experiência e refle­
tir sobre ela é exercer atividade consciente. É assim que concebemos
Deus como um ser pessoal. Faz uso de sua mente infinita, sabendo todas
as coisas; ama e tem emoções; escolhe, exercendo a sua vontade infinita.
N o livre exercício da sua vontade, Deus é um Ser com determinação
própria. É absolutamente livre; não é limitado senão quando ele se li­
m ita a si mesmo; não somente determina a sua própria conduta, mas
tem o poder de determinar todas as coisas.
Aqui, novamente, a experiência cristã acrescenta uma palavra de
corroboração. Nós confiamos em Deus, cremos nele, oramos a ele, pro­
curamos o seu conselho, amamo-lo, adoramo-lo e achamos que ele nos
encarrega de certas tarefas, responde às nossas orações, dá conselhos e
dá provas abundantes do seu amor para conosco. Uma tal experiência
só pode existir entre pessoas. E, porque Deus é uma pessoa, pode fazer­
-se conhecido a nós. Porque somos pessoas, podemos receber a revela-

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ção. Uma pessoa pode amar, entender e escolher a companhia de outras
pessoas, e assim temos relações pessoais. Uma experiência cristã se exer­
ce sempre na esfera de relações pessoais. T al não poderia acontecer, se
Deus fosse menos que uma pessoa.
3. O caráter de Deus
Quem é Deus? Qual é o seu caráter? T al pergunta tem que ser
respondida de uma tríplice maneira.
(1 ) Deus é amor. À medida que o cristão reflete sobre a sua pró­
pria experiência, desenvolve-se nele a convicção de que Deus devia ter
sido movido por um grande amor, ao executar a sua salvação. A nada
mais poderia ela ser atribuída. Esse amor é demasiado grande para
proceder de outra fonte que não o próprio Deus. É inerente ao seu pró­
prio caráter. “ Deus é amor.” Esse é, provavelmente, o prim eiro pensa­
mento que temos de Deus.
Como definiremos este amor de Deus? É o dom de Deus de si
mesmo àqueles que necessitam dele. João 3:16 dá-nos o m otivo divino
em pôr ao nosso alcance o dom da vida eterna. Deus está sempre pro­
curando dar-se àqueles que possam e queiram recebê-lo.
Será bom traçar uma justa distinção aqui, no alcance do amor de
Deus para com o homem. Há um sentido real no qual ele derrama o
seu amor largamente sobre todos, e todos os homens dele se beneficiam.
Neste governo beneficente do universo, ele abençoa toda a raça humana
segundo a sua bondade. A luz e o calor do seu sol embelezam o dia,
multiplicam as colheitas, afugentam as trevas e as doenças, e por inú­
meros modos adicionam valores incalculáveis ao tesouro do homem.
Assim é também com os tempos de chuvas, as mudanças de estações,
os ricos depósitos minerais etc. etc. Destas bênçãos todos participam.
Nisto é largo o alcance do seu amor. E é também profundo. O homem
que abrir a sua vida para Deus, experimentará o poder daquele amor
no intimo da sua alma.
A experiência de Zaqueu com Jesus é um exemplo típico. Zaqueu
disse a Jesus: “ Eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens, e se
nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado” (Lu ­
cas 19:8). F oi o espírito de Jesus empolgando o daquele publicano que
o levou a pensar na mesma direção que Jesus pensava — a de dar. Assim
trabalha o amor.
Depois de tudo que ficou dito, voltamos a este pensamento que é a
essência da religião cristã. É o amor de Deus que o leva a dar-se ao
homem, que atrai o mesmo homem a si e faz com que ele se ponha na
mesma direção, dando-se aos outros. Isto é o que distingue das outras
religiões o cristianismo e lhe dá a possibilidade de crescimento de acordo
com um modelo infinito.
(2 ) Deus é justiça. Um segundo elemento no caráter de Deus é a
sua justiça. Esta palavra descreve caráter que se conforma a um padrão
que é justo. Com Deus, a justiça é levada a um grau infinito e qne é
20
inerente ,à sua própria natureza. Não se pode pensar que houvesse um
padrão fora da natureza de Deus, ao qual ele se devesse conformar.
Através da nossa experiência, nós o conhecemos cómo Ser Supremo.
Não há nenhum igual a ele e ainda menos m aior do que ele. Assim ele
faz tudo coerentemente com a sua natureza justa.
Deus salva o pecador, mas não é injusto em assim fazer. O pecado
tinha que ser removido, para satisfazer à justiça divina, que não pode
tolerar o pecado. A compaixão de Deus pelos homens perdidos é a ma­
nifestação do seu amor. Isto é o que algumas vezes se chama a justiça
redentora. É a natureza imutável de Deus, desejando a perfeição de ca­
ráter da sua mais elevada criação, o homem.
A justiça de Deus pode ser vista de três modos: (a ) Como fidelidade.
Eie é leal ao direito e à verdade em tudo que diz e faz. O salmista orava:
“ Escuta-me segundo a tua verdade e segundo a tua justiça” (Sal. 143:1).
E mais: “ Não escondi a tua justiça dentro do meu coração; apregoei a
lua fidelidade e a tua salvação” (Sal. 40:10). (b ) Como pureza. Ele é
absolutamente puro, não há pecado ou defeito nele. O padrão absoluto
pelo qual medimos a justiça é o caráter de Deus. (c ) Como retidão.
Deus julga tudo eqüitativamente. Seu governo soberano é isento de par­
cialidade, preconceito ou erro de qualquer sorte.
(3 ) Deus é verdade. O amor de Deus se relaciona com sua na­
tureza emocional, sua justiça diz respeito à sua natureza volitiva e o
elemento de verdade apresenta o seu caráter racional. A verdade de
Deus na esfera intelectual é o que a justiça de Deus é na esfera moral.
Verdade é conformidade a um plano estável. Verdade, em astro­
nomia, é o plano pelo qual estrelas e planetas se m ovem em relação
uns aos outros. É sobre a base daquele plano que os astrônomos estão
habilitados a predizer a posição exata de um corpo desconhecido nos
céus, num determinado tempo futuro. Aquele plano veio de Deus, que
criou os céus e a terra. Ele os planejou e os pôs em movimento. O homem
os discerne, e assim adquire a verdade na esfera da astronomia.
É assim também em qualquer outra esfera. O químico descobre o
plano pelo qual os elementos se adiam relacionados e, quando as con­
dições são conhecidas, pode predizer os resultados. O físico descobre o
plano por meio do qual a energia, a força e o movimento operam. A
estabilidade do plano é a verdade naquela esfera. É assim também na
rnais larga esfera das relações do homem com Deus. O padrão é o plano
de Deus, que remonta finalmente à própria mente de Deus. Deus é
verdade. A verdade é inerente nele. Ele é a origem, a base e o objeto de
iodo conhecimento. Qualquer linha de conhecimento, se fo r seguida até
a sua última fonte, conduzirá a Deus. Assim sendo, o padrão da ver­
dade é Deus.
4. A unidade e trindade de Deus
(1 ) Deus é uno. O princípio cristão acentua a unidade de Deus e
o distingue da natureza. Chama-se isto monoteísmo. Deus é uno. P o­
demos apontar três razões em apoio da nossa crença.

21
Tudo na natureza indica que um Deus criou e governa o universo
e a vida. Em tudo há harmonia, simetria, concordância. O perfume da
violeta, a textura da folha e a órbita da estrela, mostram-nos que proce­
deram de uma mente infinita, o Criador.
A evidência na Bíblia é abundante. Israel fo i instruído para amar e
adorar a Deus como uno e conheceu-o pelo nome de Jeová, que significa
sua existência absoluta. Houve muitas manifestações, mas sempre apon­
taram para o Deus uno e verdadeiro. N o N ovo Testamento a evidência
aponta inconfundivelmente para um Deus único. Jesus veio revelar
Deus e afirmou insistentemente que ele e o Pai são um. Não revelou
Deus como se ele mesmo fosse um ser adicional ou diferente. Ele é o
mesmo Deus que revela.
A experiência cristã dá testemunho de um Deus. Conhecemos um
Salvador que nos salva do pecado, um Senhor que governa a nossa vida,
um Deus que nos criou e que estabelece comunhão conosco. Ele é um
Deus. Não há diferença entre a graça que salva e a graça que sustenta.
Há uma união na experiência cristã que testemunha a unidade de Deus.
(2 ) Conhecemos Deus como trino. Isto nos leva a um dos inson­
dáveis mistérios do cristianismo. Nem todas as crenças podem ser re­
duzidas a uma form a simples. Esta é uma doutrina que é essencial e,
não obstante, difícil de explicar. Este Ser, que é o único Deus verdadeiro
e vivo, é-nos conhecido como três pessoas em uma só essência. O termo
pessoa é inadequado para fazer a distinção; entretanto, é o melhor que
lemos. A dificuldade está justamente nisto: em achar termos humanos
que adequadamente descrevam o caráter, natureza e funções de Deus.
Temos que fazer o melhor que pudermos, com a limitação da nossa
linguagem.
N o Velho Testamento não se acha desenvolvida a doutrina da Trin­
dade. Deus é conhecido nele como aquele que criou, mantém e governa.
Há várias manifestações, mas só um Deus. N o N ovo Testamento se dá a
essência da doutrina da Trindade. Deus o P ai é revelado no Filho e
Deus o Espirito Santo faz a revelação completa e eficaz. N ão obstante,
Deus o Pai, Deus o Filho e Deus Espírito Santo são somente três ma­
nifestações pessoais de um só Deus. Só um. Isto não é triteísmo — três
deuses — mas, sim, trindade, três pessoas em uma Divindade.

22
C A P ÍT U LO I I

O Homem e o Pecado
Esboço

I. O Homem

1. A origem do homem
(1 ) Resposta da Bíblia
(2 ) Resposta da experiência cristã
2. A natureza do homem
(1 ) Um ser físico
(2 ) Um ser espiritual
(a ) Intelectual
(b ) Emocional
(c ) Volitivo
3. A imortalidade
(1 ) Evidência da ciência
(2 ) Evidêneia da filosofia
(3) Evidência das Escrituras Sagradas
(a ) N ó Velho Testamento — positiva, mas nâo desen­
volvida
(b ) No N ovo Testamento — baseada na ressurreição de
Cristo

II. O Pecado
1. A queda do homem
(1 ) Estado, original do homem
(2 ) O tentador
(3 ) Como o pecado se originou na raça humana
2. O pecado e a raça
(1 ) O pecado produz depravação racial
(2 ) 0 pecado é hereditário
(3 ) Conseqüências do pecado
(a ) Culpa
(b ) Punição
3. A natureza do pecado
(1 ) A to de rebelião contra Deus
(2 ) Estado de impureza
(3 ) Atitude de incredulidade*

24
C A P ÍT U LO II

O HOMEM E O PECADO
E m seguida à doutrina de Deus, vem a doutrina do homem. E elas
devem ser estudadas nesta ordem. Se queremos conhecer o homem,
temos prim eiro que estudar Deus. E m seguida ao nosso conhecimento
de Deus e do homem, vem o estudo daquilo que os separa — o pecado.

I. O Homem
Donde veio o homem ou que sabemos acerca da sua origem? Que
é ele ou que sabemos acerca da sua natureza? Qual é o seu destino ou
que sabemos acerca da imortalidade da vida humana? Estas são as
questões primárias que nos interessam.

1. A origem do homem
A Bíblia afirm a que o homem veio à existência por um ato criativo
de Deus. Este é o fato mais importante sobre a origem do homem, no
que diz respeito à religião. O homem é o alvo e a coroa de toda a criação
de Deus. Tudo que fo i feito antes tinha em vista o homem e era para
servi-lo. N ele Deus realizou a sua mais alta criação. A ele Deus confiou
a tarefa de sujeitar a terra e exercer domínio sobre ela. O homem está
ainda executando essa tarefa.
O padrão segundo o qual o homem fo i criado, de acordo com as Es­
crituras, fo i a imagem divina. Isto, sem a menor dúvida, refere-se à
natureza espiritual e não à natureza fisica do homem, porquanto Deus
não tem corpo ou forma. E é pela atividade dessa imagem divina que
o homem exerce domínio sobre a natureza.
A experiência cristã oferece a oportunidade de raciocinar, partindo
da transformação da vida, do renascer do espirito do homem, pelo Es­
pirito de Deus, até à criação do homem. Para o cristão o fato da expe­
riência cristã é indisputável Este é o nosso ponto de partida. Isto é
uma experiência de criação espiritual. É operada na natureza espiritual
do homem, na qual ele tem a im agem divina. É a esfera na qual o ho­
m em reconhece a sua relação com Deus, a aspiração por Deus. Quando
o homem veio a existir apareceu num mundo novo. Através da expe-

25
riência da graça cristã, ele se achou numa nova esfera de realidades
espirituais. A analogia é bastante íntima, para o cristão não ter difi­
culdades quanto ao problema da sua origem. Do mesmo modo que ele
recebeu a sua vida nova de Deus, recebeu o seu ser de Deus.
Este emprego da Biblia e da experiência cristã dá-nos uma resposta
adequada a qualquer opinião que procure reduzir o homem a um nível
mecânico ou materialista. E, não obstante, deixa que a ciência resolva
os seus próprios problemas, na sua legitim a esfera.

2. A natureza do homem,
(1 ) O homem é um ser físico. Isto é, ele tem corpo. De acordo
com a narrativa de Gênesis, ao homem fo i dado primeiro um corpo e
depois ele fo i feito uma alma vivente. A ciência tem feito grandes pro­
gressos no estudo do homem como um organismo físico, mas ainda não
aprendemos tudo. Maravilhoso, na verdade, é este corpo humano; mas
é sob o ponto de vista da religião, antes que da ciência, que nós tratamos
do valor do corpo. Ele é o templo do espirito. Há uma relação delicada,
ainda, que indefinível, entre o espirito do homem e o seu corpo. O cris­
tão procura conservar o seu corpo na melhor condição possível, a fim
de que com melhores vantagens ele possa ser usado pelo espirito.
(2 ) O homem é também um sor espiritual. Ele tem corpo e alma.
E é nessa alma que ele tem a im agem divina. Vemos isto nos três aspec­
tos da natureza espiritual do homem.
(a ) 0 primeiro é o intelecto, a mente que entende. O homem é
um ser racional, isto é, ele pode concentrar sua mente num problema
e resolvê-lo. Pode pensar retrospectivamente e assim exercitar a memó­
ria. Pode pensar no presente e deste modo prestar atenção. Pode pensar
no futuro e assim exercer a imaginação. Este é um característico da
parte espiritual do homem, modelada à imagem daquele que conhece
tudo — passado, presente e futuro.
(b ) Outro aspecto da natureza espiritual do homem vê-se nas suas
emoções. Ele ama aqueles que têm com ele afinidade de espirito. Este
amor é capaz de ser levado à compaixão, quando aquele que se ama cai
em desgraça. 0 homem é zeloso, e o seu zelo é capaz de ser grandemente
excitado quando os seus direitos são postergados. Falamos das emoções
do homem como vindas do seu coração. Os antigos pensavam que as
emoções e afetos se localizavam no estômago. Pensamos agora nas emo­
ções como sendo parte da natureza espiritual do homem, e as reações
que os estados emotivos provocam em nosso corpo indicam a intrincada
relação entre o espirito e o corpo e não a localização das emoções no
corpo. Como Deus por natureza é amor, assim o homem é possuído de
emoções que pertencem à sua natureza espiritual.
(c ) Além disso, o homem mostra a im agem divina na sua natu­
reza espiritual, pelo fato de ser um agente moral livre, côm a faculdade
de escolher. Ele tem o direito e o poder de fazer escolha entre o bem e o
mal. Há dois fatos que merecem destaque. Um é que o homem é livre e

26
a sua vontade é livre. Pode resolver seguir um certo passo, e pode re­
solver não o seguir. N a verdade, deve entender-se que a sua liberdade
não é absoluta, mas sim limitada, pois que o homem é um ser finito.
Somente Deus é absolutamente livre.
O outro fato é que, como um ser moral livre, o homem pode dis­
cernir entre o direito e o falso, o bem e o mal. Algumas vezes chamamos
a isto consciência. É esta uma parte de nosso ser espiritual. 0 homem
intuitivamente distingue o bem do mal. Sua educação m oral é o edifício
que se constrói sobre esse alicerce. Este é o característico do homem que
é modelado na justiça de Deus.
Em tudo isto, que demonstra a natureza espiritual do homem, ve­
mos alguma coisa da capacidade do mesmo para compreender e entrar
em comunhão com Deus. E m sua natureza intelectual, volitiva e emotiva
patenteia a imagem de Deus. N a sua alma exibe a mesma capacidade
espiritual. O cristão experimenta a presença de Deus na sua própria
vida. Como o aeroplano tem lugar para o piloto; como o esposo tem
na sua vida capacidade para o amor, o afeto e os interesses da esposa;
como o filho tem no seu coração um lugar para seus pais, assim o ho­
mem também tem a capacidade para amar, compreender e adorar a Deus.
Ele pode sentir que em si mesmo habita o Espírito de Deus.

3. A imortalidade
Não basta estudar o homem, como o encontramos no mundo pre­
sente. Não podemos pensar nele como uma sombra que passa. A per­
gunta que surge inevitavelmente é: que será o homem além desta vida?
Será a atividade da alma do homem limitada somente a esta vida? Para
responder a isto, temos que atentar para três evidências.
(1 ) A ciência não proporciona uma resposta definitiva. Ela não
tem meios para verificar a vida após a morte. Há alguns anos, um gran­
de cientista propôs-se a fabricar úm instrumento pelo qual, ou com o
qual, os espíritos dos mortos poderiam comunicar-se conosco e nós com
eles. A té o presente aquele instrumento não fo i usado. E é assim que
sucede com todos os instrumentos da ciência para tratar da vida além
da morte. Este é um problema fora dos limites da ciência.
(2) A filosofia tem sempre considerado este um dos seus proble­
mas. Desde Platão até os dias presentes, grandes pensadores têm exter­
nado considerações que apoiam a crença numa vida futura. Têm também
surgido outros grandes pensadores que refutaram as suas considerações,
argumentando que não há vida além desta. Enquanto esta situação per­
manecer, a filosofia não poderá dar resposta adequada e final à questão.
Há, contudo, uma evidência que surge da filosofia e que tem grande
peso, a despeito de todos os ataques contrários: é a aspiração instintiva
no homem pela imortalidade. E, talvez, mais forte do que ela, é a crença
universal na imortalidade. A vasta maioria dos homens em todas as
épocas, tanto quanto sabemos, tem aceito, sem provas, a crença na exis­
tência da alma além da morte.

27
(3 ) As Escrituras Sagradas têm muito que dizer em apoio da cren­
ça na imortalidade. O Velho Testamento tem uma doutrina muito de­
finida sobre o assunto. Pode-se-o ver na solução do problema dos justos
e dos ímpios. (Vejam -se os Salmos 17, 37, 49, 73 e outros.) O ímpio pode
prosperar aqui, mas o justo terá a sua completa recompensa depois desta
vida; as desigualdades desta vida serão eliminadas na vida futura. Isto
pode ser visto também na concepção do Sheol, a qual é muito destacada
nos Salmos, no livro de Jó e noutros do Velho Testamento. O Sheol era
o lugar ou estado dos espíritos que partiam. Pode-se ver também nas
referências à ressurreição. Há alguns exemplos de mortos ressurgirem,
e Jó manifestou-se fortemente convicto da sua própria ressurreição. (V e ­
ja-se Jó, cap. 19.)
O N ovo Testamento baseia a ressurreição geral no fato da ressurrei­
ção de Cristo. A respeito da morte, ele trouxe garantia dupla: que há
uma vida além da sepultura para a qual toda alma pode aspirar; e que
os cristãos terão comunhão com ele além da sepultura. Prometeu aos
seus discípulos que ia preparar-lhes um lugar de habitação com o Pai,
e que os receberia na presença dele. Ora, a sua ressurreição selou esta
promessa. As provas da sua ressurreição serão consideradas no nosso
último capitulo. Basta dizer aqui que os livros do N ovo Testamento são
unânimes em aceitar a ressurreição como um fato e como a base da dou­
trina cristã. Paulo usa uma linguagem muito clara e definida, cons­
truindo toda a esperança e doutrina sobre a ressurreição de Jesus.
O testemunho da experiência cristã aqui é verificar as afirmações
do N ovo Testamento. Cristo cumpriu todas as suas promessas até aqui.
Nossa convicção é que ele não falhará em alguma que ainda não tenha
sido cumprida. O N ovo Testamento lem nos levado a realidade que te­
mos experimentado e de que não podemos duvidar. Não há razão alguma
para supor que uma parte das suas promessas ainda não cumpridas seja
um mito. Antes, a nossa segurança toma a form a de conhecimento,
quando edificamos as nossas esperanças do futuro sobre as experiências
do passado e do presente. O homem é imortal. A morte abre a porta
da vasta habitação em que viveremos etemamente.
II. O Pecado
É em conexão com as doutrinas de Deus e do homem que devemos
considerar o pecado. Entre o Criador e a sua mais elevada criação, paira
esta nuvem do mal. Antes de prosseguirmos no estudo das nossas dou­
trinas, devemos procurar conhecer o que ç o pecado.
1. A queda do homem
(1) O estado original do homem» N o segundo e terceiro capítulos
de Gênesis, temos a narrativa da criação do homem e do seu estado
antes da queda. Ele fo i criado isento de pecado, isto é, puro e inocente.
Isto não significa que era menos que homem e que não chegou ao estado
de madureza enquanto não pecou. Era tanto homem antes como depois
de pecar. Nem significa que ele era mais do que homem e que caiu para
o nível humano. Ele nunca fo i mais do que o homem que é agora.
28
P o r quanto tempo ele permaneceu no estado de inocência e santi­
dade não temos meios de saber, mas isso pouco importa. O fato é que
naquela condição ele tinha comunhão com Deus. E isso era possível,
porque ele fora feito à imagem de Deus e porque não havia pecado que
se interpusesse entre ele e Deus. Havia uma feliz disposição do homem
para com Deus, e Deus se agradava no homem.
(2 ) O tentador. O homem caiu, quando cedeu à tentação e pecou.
A tentação veio antes do pecado. O Gênesis nos inform a que o tentador
se chegou a Adão e E va e os persuadiu a se rebelarem contra a autori­
dade de Deus. Muito pouco se diz nas Escrituras relativamente à histó­
ria do tentador ou Satanás, mas muito se diz acerca de suas atividades.
A narrativa do Gênesis não nos diz de onde veio o tentador ou por que
apareceu ali naquela ocasião. Diz apenas que ali surgiu um tentador e
se deu uma tentação e que o homem pecou. A Bíblia declara que o mal
existe e se apresenta na form a do tentador, procurando seduzir o homem.
Quando tentamos dar a razão da origem do mal, vamos além dos claros
ensinos da Bíblia e entramos na esfera da filosofia especulativa.
(3 ) Como o pecado se introduziu na fam ília humana. O terceiro
capítulo do Gênesis nos narra, com notável clareza e simplicidade de
linguagem, como o pecado se introduziu na fam ília humana. Houve a
sugestão de que Deus procurava privar o homem de alguma coisa boa.
O tentador levou a mulher a pensar na limitação que Deus impusera a
ela e ao seu marido. Começaram assim a duvidar da sinceridade de
Deus. Em seguida, o tentador levou-a a pôr em dúvida a justiça de Deus.
Ele dissera que se o homem pecasse morreria, porém o tentador disse:
“ Certamente não morrereis.” Depois, a tentação fo i dirigida ao seu ape­
tite. Viu a mulher “ que aquela árvore era boa para se comer” . Havia
ali também uma tentação à sua vaidade; ela viu que a árvore era “ agra­
dável aos olhos” . Mas a parte mais sutil da tentação fo i a promessa de
que por m eio do pecado ela teria mais conhecimento, pois viu que
“ a árvore era desejável para dar entendimento” .
Se examinarmos o curso da tentação na vida de alguém, verifica­
remos que é o mesmo que se desenvolveu na experiência do prim eiro
homem e da primeira mulher. Quahtos moços têm cometido os seus
primeiros grandes pecados, sob a ilusão de que a experiência lhes ensi­
naria alguma coisa! Quantas vezes o tentador terá dito: “ Não poderás
conhecer a vida sem a experiência. Tom a um pouco de bebida, para ver
com o te sentirás” ! F oi assim que o pecado começou na fam ília humana.

2. O pecado e a raça

(1 ) O pecado é tal que domina toda a raça humana e toda a natu­


reza do homem. Isto não significa que o homem é totalmente mau. Há
alguma coisa boa inerente em cada membro da raça. Há também algum
pecado em cada membro da raça. Todos pecaram. Quando o prim eiro
homem e a primeira mulher pecaram, lançaram a corrupção na corrente
da vida da humanidade. Nem todos os homens são igualmente pecado-

29
res, mas todos têm em si a contaminação do pecado. Isto é o que signi­
fica a depravação racial no pecado.
(2 ) O pecado é hereditário. Está de acordo com o principio da
unidade da raça. Cada homem é uma parte da raça e não um indivíduo
isolado. O pecado entra no sangue, no rio da vida. A transmissão here­
ditária dos traços de caráter tem sido já fartamente demonstrada. O
homem é um ser físico-espiritual, e como tal é um filho da raça. O pe­
cado opera nesta constituição combinada do homem e assim passa de
geração em geração. Em relação a isto, a Bíblia é muito dara. (V e r Sal­
mos 51:5; 53:1-3; Rom . 5:12, 21; I Cor. 15:21,22; Efésios 2:3.) Todos
nós nascemos com uma tendência pecaminosa, e pecamos ativamente
quando chegamos à capacidade voluntária de pecar.

(3 ) Conseqüências do pecado
(a ) O pecado lança a culpa sobre o homem. Culpa é a condenação
que recai sobre o pecador como resultado do seu pecado. É o estigma
que o marca como um pecador. É um condenado perante três tribunais:
Deus, seu próxim o e ele mesmo. Quando ele sente o peso do seu pecado
e sabe que está condenado, a esperança da sua salvação se torna mais
brilhante. Há vários graus de culpa, como há vários graus de pecados.
Há pecados de fraqueza e pecados de presunção; pecados de parcial e de
inteira oposição à vontade de Deus. (V er Mateus 10:15; Lucas 12:47, 48;
João 19:11; Romanos 2:12; Salmo 19:12; Mateus 12:31.)
(b ) A punição é outra conseqüência do pecado. Pode v ir como
uma parte da operação da lei ou como uma ação direta de Deus. Tom a
muitas formas e vem em medida variável. Vemo-la nq quarto da
casa de saúde, na enfermaria do hospital, na instituição de caridade
para alivio da pobreza e do sofrimento, no lar esfacelado, na vida arrui­
nada e numa multidão de lugares e experiências. Mas a completa e final
punição do pecado é a morte. “ O salário do pecado é a morte” (R om a­
nos 6:23). “ Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o
pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (T ia g o 1 :15 ). A
concepção de morte, em conexão com o pecado, é espiritual. Ela consiste
em ficar a alma do homem separada de Deus.

3. A natureza do pecado
Que é esse pecado, sobre o qual tanto falamos? Será um bom exer­
cício, para o leitor, parar justamente aqui e tentar form ular uma breve
definição do pecado. É ele uma coisa definida ou alguma coisa vaga e
confusa no seu raciocínio? Uma das tarefas principais do cristão é apren­
der a reconhecer o pecado, a fim de poder evitá-lo ou vencê-lo e poder
levar a Cristo os homens perdidos. Há três aspectos do pecado que
necessitamos salientar.
(1 ) É um ato de rebelião contra Deus. Isto descreve o pecado de
E va e Adão no Éden. Deus dissera-lhes claramente que não deviam co­
mer do fruto de uma certa árvore no jardim. Eles desobedeceram, rebe-
30
laram-se contra Deus e comeram do fruto. O que eles fizeram era pe­
cado, pois que era uma violação da autoridade de Deus. Esta é a fase
do pecado que João descreve com as palavras, “ o pecado é iniqüidade”
( I João 3 :4 ). Uma das palavras mais comumente usadas na Bíblia para
descrever o pecado é: transgressão. Isto significa uma violação da lei,
o transpor da fronteira que Deus, por sua autoridade, pôs diante de nós.
Há muitos atos de pecado, tantos que não podem ser numerados ou
classificados. Todos eles, porém, têm o elemento de rebelião, desobediên­
cia, transgressão. Se conhecemos a vontade de Deus e agimos de acordo
com ela, não pecamos.
(2 ) É um estado de impureza. O pecado é o estado de ausência
de santidade; é uma condição de impureza, iniqüidade, contaminação. O
padrão pelo qual o pecado é medido é o próprio caráter de Deus. V iver
num estado abaixo daquele nível é pecado. Os graus de pecado per­
correm toda a escala, desde o prim eiro ato de rebelião que mancha o
caráter santo até à vasta multidão de pecados que colocam o homem
além do santo amor de Deus. O homem não pode cometer pecado sem
que o seu caráter fique contaminado por ele. O pecador não arrependido
e não perdoado vive num estado de pecado. Esse estado de impureza
produz continuamente atos de pecado.
O capítulo 6 de Gênesis descreve o extremo estado de degradação
no pecado a que o homem pode chegár: “ E viu o Senhor que a mal­
dade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação
dos pensamentos do seu coração era só má continuamente” (v. 5 ). O
estado de pecado, em toda a sua impiedade e vileza, é a conseqüência
natural do ato de pecar. Depois opera na ordem inversa — o estado de
depravação m oral no pecado naturalmente produz atos de pecado. É
a lei de crescimento que prevalece. O assassínio narrado no capitulo 4 de
Gênesis e a depravação m oral pintada no capitulo 6 são o fruto natural
da semeadura da semente do pecado descrita no capitulo 3.
Na lei mosaica se faz distinção entre pecados de ignorância e fra­
queza, de um lado, e pecados voluntários,'de outro. São todos, porém,
pecados, e todos devem ser perdoados, pois que, se o não forem , serão
uma barreira de separação entre o homem e Deus. Esta é a natureza
do pecado. Ele nos separa de Deus. Quanto m aior fo r o fardo do peca­
do, m aior será a separação de Deus.
N o seu ensino, Jesus deu ênfase especial ao estado de pecado no
qual o homem não regenerado vive. F oi além do ato, até os motivos.
Disse que aquele cujo coração está cheio de cobiça está já contaminado,
e aquele que odeia o seu irmão é já um assassino. Da plenitude de um
mau coração provêm todos os atos de maldade.
(3 ) É uma atitude de incredulidade. Podemos dizer que este é o
gerador de todos os pecados. Quando Jesus falou da obra convincente
do Espirito Santo, agrupou todos os pecados numa só palavra — incre­
dulidade. “ Quando ele vier, convencerá o mundo do p eca d o ... porque

31
não creem em m im ” (João 16:8, 9). O máximo de pecado é a atitude
de incredulidade, que rejeita o método de salvação segundo Deus, por
meio de Cristo.
O pecado, pois, é um ato de rebelião contra a lei de Deus; é um esta­
do de impureza e iniqüidade, no qual o homem cada vez mais se afasta
de Deus; é uma atitude de incredulidade, pela qual rejeita o plano de
Deus para a salvação por meio de Cristo. Deve notar-se aqui que o pe­
cado é sempre definido com referência à relação do homem para com
Deus. O Salmista estava certo quando disse: “ Contra ti, contra ti so­
mente pequei” (Sal. 51:4). Pecado é aquilo que separa o homem de Deus.

32
C A PÍTU LO III

Jesus Cristo
Esboço

I. A Necessidade de um Mediador
1. Deus deseja salvar o homem
2. O homem necessita de um redentor
II. O Filho de Deus
1. O Cristo Eterno
2. Jesus atribui a si mesmo caráter divino
3. Outros também lhe atribuem divindade
III. O Filho do Homem
1. Identificado com a raça
2. Um israelita
IV . O Salvador
1. Uma pessoa
2. Vida perfeita
(1 ) Sem pecado
(2 ) Perfeita obediência àL e i
(3 ) Perfeita obediência ao Pai
(4 ) Perfeita obediência à lei do pecado e da morte
3. A m orte de Cristo
(1) Quebrou o poder do pecado e da morte
(2 ) Expiação substitutiva
(3) Expiação vicária
(4) Propiciação
4. A ressurreição de Jesus
5. O mediador presente
C A P ÍT U LO III

JESUS CRISTO
I. A Necessidade de um Mediador
1. Deus deseja salvar o homem
Deus não quis abandonar o homem no seu pecado e culpa. A justi­
ça divina não podia tolerar o pecado. Como Juiz, tinha que permitir
que uma justa condenação permanecesse sobre ele. Não obstante, Deus
ama o pecador e anseia por salvá-lo. Como uma verdadeira mãe ama
o seu filho e anseia por vê-lo voltar ao lar, ao mesmo tempo que detesta
os seus maus costumes e não quer que ele os traga para casa, assim
Deus anseia por que o homem se volte para ele como filho, mas sem o
seu pecado.

2. O hom em necessita de um redentor -


O homem não se sentia satisfeito em permanecer no pecado. Havia
alguma coisa nele que o fazia suspirar por Deus. Ainda que errante nas
trevas da meia-noite, ele ansiava pela luz de um novo dia. Ainda que se
debatesse nos laços de escravidão, ansiava e suspirava por uma liberta­
ção. O homem tem sempre andado em busca de Deus. A sua grande
tragédia é que o pecado o retém nas trevas e na escravidão. Ele nunca
poderia achar Deus, se Deus mesmo não o achasse.
Era, pois, necessário um plano, segundo o qual ele fosse libertado
do pecado e restaurado à comunhão divina. A justiça de Deus tinha
que ser mantida inviolável, e a fraqueza e queda do homem tinham que
ser transformadas numa vitória sobre o pecado. O amor de Deus necessi­
tava ter oportunidade adequada de se revelar ao homem. A liberdade do
homem, entretanto, não devia ser violada. Jesus Cristo é o Mediador;
ele preenche todas as exigências, satisfaz a todas as necessidades e rea­
liza o máximo de poder divino-humano. Como? .

II. O Filho de Deus


Visto como Deus tomou a iniciativa no plano de salvação, é bom
que consideremos prim eiro a exigência que Jesus satisfaz como Filho

35
de Deus. O homem fracassou inteiramente nos seus esforços para vencer
o pecado, portanto, o Mediador tinha que ser mais que homem. Mesmo
que se salvasse a si mesmo somente com o poder humano, seria impo­
tente para salvar outros. Além disso, se a reconciliação entre o homem
e Deus tinha que ser completa, Deus tinha que tomar parte ativa na sua
execução.

1. O Cristo eterno

Cristo estava qualificado para ser o Mediador entre Deus e o ho­


m em porque ele era o Filho eterno de Deus. Antes que ele viesse em
carne, existia como Deus. Isto está estabelecido em o N ovo Testamento.
Jesus falou da sua existência com o Pai antes da criação (João 17:5).
João começou a sua narrativa evangélica, falando da existência de Cristo
com o Pai, afirmando que Cristo era Deus (João 1:1-14). Paulo escre­
veu, dizendo que Cristo se despira da sua glória divina, a fim de se tor­
nar o Salvador dos homens (F il. 2:5-11).
É também doutrina corrente do N ovo Testamento que Cristo teve
parte ativa na criação do mundo, e do homem. P o r ele fo i consumada
a criação. Assim João escreveu: “ Todas as coisas foram feitas por ele,
e sem ele nada do que fo i feito se fe z” (João 1:3). E Paulo disse: “ P o r
que nele foram criadas todas as coisas” (Col. 1:16). E o autor de H e ­
breus falou dele como o Filho por m eio do qual Deus fe z os mundos
(Hebreus 1:2).
Não somente ele é aquele por m eio do qual a criação fo i feita, mas
e também aquele por meio do qual todas as coisas são sustentadas e
dirigidas (Col. 1:17). É o poder racional, do qual o mundo depende
para seu governo. N o momento em que ele lhe retirasse o seu apoio, o
cosmos se transformaria no caos, a ordem se mudaria em confusão e a
dissolução e a destruição seriam inevitáveis.

2. Jesus atribui a si mesmo caráter divino


Há alguns que sustentam que Jesus nunca pretendeu ser o Filho de
Deus. Mas isso seria negar o testemunho inequívoco dos quatro Evan­
gelhos. João 3:16 è uma declaração definida, clara e inequívoca do pró­
prio Jesus. Ele estava falando a Nicodemos sobre a sua relação para
com Deus e o homem, e João registrou o diálogo.
Noutra ocasião, alguns trouxeram um homem a Jesus, para ser
curado. Quando o Mestre o viu, lhe disse: “ Filho, perdoados te são os
teus pecados.” Imediatamente surgiu uma murmuração entre os escri­
bas e fariseus. Diziam que Jesus era réu de blasfêmia, pois que ninguém
podia perdoar pecados senão Deus. Jesus percebeu o seu murmúrio e
imediatamente lhes perguntou o que julgavam mais fácil: perdoar ao
homem seus pecados ou curá-lo da sua enfermidade. E, logo a seguir, a
fim de lhes provar que tinha poder e autoridade de Deus para perdoar
pecados, curou o homem instantaneamente. Em outras palavras, Jesus
aceitou o desafio deles para provar a sua divindade. Tinham eles dito
que só Deus podia perdoar pecados; sem negar o que eles disseram,
36
provou-lhes que podia perdoar pecados. A única conclusão que eles po­
diam tirar era que afirm ava ser divino e tinha provado sua afirmação.
Num certo dia de sábado, Jesus curou um homem que se achava
enfermo havia trinta e oito anos. Os judeus o acusaram de profanar
o sábado. Jesus respondeu-lhes dizendo que estava fazendo a obra de
Deus, seu Pai. Então ficaram furiosos e procuraram matá-lo, porque
ele não somente profanava o sábado, mas dedarava-se igual a Deus.
Em conseqãência disso, Jesus lhes deu quatro provas da sua divindade.
A primeira era o testemunho do Pai, dando-lhe autoridade para executar
a sua obra. A segunda era o testemunho de João Batista. A terceira
era o testemunho das obras que ele executava por m eio da sua relação
com o Pai. E a quarta era o testemunho das Escrituras. Todas estas
provas se acham no capitulo 5 de João.
Outro incidente pode ser mencionado, no qual Jesus defendeu a sua
divindade. O sumo sacerdote conjurou-o com o seguinte desafio: “ Con­
juro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és Cristo, o Filho de Deus.”
Jesus respondeu: “ T u o disseste.” Ora, deve notar-se que o sacerdote
pôs Jesus debaixo do mais forte juramento conhecido no tribunal judaico
e ele não podia fu g ir à pergunta que lhe era feita sob tal juramento.
Sua resposta fo i direta e franca, e o sacerdote aceitou-a como tal. Jesus
declarou ser o Filho de Deus.
3. Outros também, lhe atribuem, divindade
A divindade de Cristo é o âmago do N ovo Testamento. João disse
que escrevera o seu Evangelho “ para que creiais que Jesus é o Cristo, o
Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João
20:31). Pedro, na sua grande confissão, confirmou o fato de que ele era
o Filho de Deus (Mateus 16:16). Tom é dirigiu-se a ele, dizendo: “ Se­
nhor meu, e Deus meu” (João 20:28).
A todas estas provas, pode ser adicionado o testemunho da expe­
riência cristã. Não podemos explicar o fato de que os homens são salvos
do seu pecado, a não ser na base da divindade de Cristo. Há uma trans­
formação de vida, um novo m otivo e uma nova disposição, um serviço
abnegado, onde antes só dominava o egoísmo. Seria inconcebível que
Jesus pudesse exercer um tal poder sobre os homens, se não fosse divino.

III. O Filho do Homem


Cristo fo i também capacitado para ser o mediador, porque se fez
homem. Este era o único meio pelo qual Deus podia travar relações
salvadoras com o homem. Isso não podia ser feito por um decreto arbi­
trário de um governador soberano. Deus tinha que v ir habitar com a
raça e suportar o peso do pecado com o homem.
1. Identificado com a raça
Em Jesus, Deus fez-se homem. O mediado- entre Deus e o homem
tinha que ser um Deus-homem. Como isto pôde realizar-se, não pode
ser completamente explicado. É um daqueles mistérios que se conju-

37
gam nele. Mateus e Lucas nos dizem que ele nasceu da virgem Maria,
por meio de uma concepção sobrenatural. João e Paulo nos dizem sim­
plesmente que ele se fez carne e tomou a form a humana. O Deus in fi­
nito tornou-se um homem finito, simplesmente por aceitar mãe humana
e v ir a este mundo com o uma criança.
Corno uma criança normal, cresceu fisica, mental e espiritualmente.
Não reclamou exceções para sua vida. Seguiu o curso da vida como
qualquer outro homem. As crianças encontravam em Jesus um amigo
carinhoso, pois que ele também tinha sido criança. Os rapazes e moças
que cresciam achavam em Jesus tudo que os estimulava e inspirava, por­
que Jesus também fora um rapaz que crescera e se desenvolvera nor­
malmente. 0 homem e a mulher achavam nele tudo de que necessita­
vam, pois que ele entendia perfeitamente o lugar deles na vida; conhecia
as necessidades deles porque também era humano, e podia satisfazê-las
porque era divino.
Jesus sofreu como os homens geralmente sofrem, e mais ainda. Não
procurou luxos e comodidades, como muitos procuram. Não teve mesmo
um lar próprio durante os dias do seu ministério. Numa ocasião, disse
que os pássaros tinham os seus ninhos, mas o Filho do Homem não tinha
sequer onde reclinar a cabeça. Sofreu fom e e cansaço como os demais
homens, e como eles suportou as tentações. Quão dolorosamente ele fo i
tentado não podemos saber, pois a sua posição como Deus encarnado
fazia possivel que as tentações fossem de um grau muito mais extenso e
profundo que qualquer simples membro da raça humana poderia expe­
rimentar. Não obstante, em tudo ele permaneceu isento de pecado. Ele
desafiou os homens a que o convencessem de pecado. Podemos estar
certos de que, se ele tivesse algum pecado na sua vida, os seus inimigos
o teriam descoberto e denunciado. Fizeram tudo que puderam para adiar
nele alguma coisa digna de suspeita ou condenação e não acharam. Atra­
vés de todos os séculos, porém, não tem sido possivel encontrar em sua
vida qualquer mácula.
Como um membro da raça, ele se baseia em sua relação com o
homem estabelecida na criação. Esta relação atinge o seu clímax quando
se empenha na criação espiritual daqueles que nele crêem. Desde que a
raça humana fo i criada por m eio de Cristo, ele está muito bem qualifi­
cado para v ir ao seu encontro e salvar o homem do pecado.

2. Um israelita
Não bastava que ele se identificasse com a raça em geral; devia vir
ao mundo como um hebreu. Desse modo satisfez a toda a profecia que
tinha sido feita a respeito do plano divino da redenção. Em todo o Velho
Testamento temos visto a relação de Deus para com Israel, tendo o
propósito de trazer aquele povo ao nível em que pudesse receber a sua
revelação suprema. Finalmente, o seu último propósito era que todas
as nações da terra pudessem receber aquela revelação e chegassem a
conhecê-lo. P o r essa razão, ele chamou Abraão para ser a cabeça de
uma raça escolhida. F o i assim que guiou Moisés para dirigir a consti-
38
tuição de Israel como nação, tendo a lei de Jeová como concerto. Assim
tamhAm chamou e usou os profetas para dar a Israel a verdadeira con­
cepção da sua missão sob a direção de Deus no mundo. Através de todo
o Velho Testamento, há uma corrente de profecias messiânicas. O ungi­
do do Senhor fora prometido para trazer a redenção ao povo de Deus.
Ora, não bastava que Jesus trouxesse a redenção ao homem, mas tinha
ele que fazer todo o seu trabalho de mediação ajustado com o que Deus
tinha feito antes. É assim que tinha que ser judeu, para que por meio
dele os propósitos de Deus em Israel pudessem ter cumprimento e para
que as suas promessas se realizassem.
Tendo vindo ao mundo como um israelita e cumprido todas as escri­
turas concernentes ao redentor prometido por Deus, Jesus então rom ­
peu os laços do preconceito nacional e ofereceu o seu evangelho a todas
as nações e famílias da terra. Ele é o Filho do Homem, e, desse modo,
irm ão racial do chinês, do japonês, do africano, do índio e de todos os
outros filhos e filhas dos homens. E m qualquer lugar onde o seu evan­
gelho é pregado, apresenta-se com este apelo universal. Oferece a todos
os homens o laço de união com Deus por meio dele mesmo, na experiên­
cia cristã, o qual é muito mais forte que qualquer relação raciaL

IV . O Salvador
Isto nos traz ao âmago do nosso estudo sohre Cristo. Devemos pros­
seguir analisando a sua dupla natureza, a fim de que assim possamos
m elhor apreciar a sua obra como Salvador.

1. Um a pessoa
É tão fácil confundir a natureza com a pessoa de Cristo, que neces­
sária se torna aqui uma palavra de advertência. Ele é o Filho de Deus e,
em razão disso, é de natureza divina. Ele é o Filho do Hom em e, como
tal, de natureza humana. Não obstante, ele é uma pessoa. Isto é uma
coisa difícil de explicar e não é mais fácil hoje do que era no século se­
gundo. Houve quem quisesse resolver o problema comprometendo a sua
humanidade. Outros o têm explicado negando a sua divindade. Nenhu­
ma destas posições é sustentável, se deixarmos que falem o N ovo Testa­
mento e a experiência cristã. Que ele era perfeitamente humano, os
Evangelhos daramente estabelecem. Que era o próprio Deus, as Escri­
turas e a experiência cristã certificam. E aquelas duas naturezas estavam
plenamente fundidas numa só personalidade. Nunca houve um tempo
em que ele pusesse de parte a sua humanidade, a fim de afirm ar a sua
divindade, ou em que ele comprometesse a sua divindade, a fim de osten­
tar a sua humanidade. Sempre que ele falava, pensava ou agia, era
como o Senhor divino-humano.

2. Vida perfeita
Uma parte muito essencial da sua obra salvadora é a vida perfeita
que ele viveu. Sem isto, tudo o mais teria fracassado. Há quatro aspec­
tos da sua vida que devem ser mencionados aqui.

39
(1) Viveu sem pecado. Isto já fo i brevemente discutido. É neces
sário, todavia, repetir que ele teve uma vida sem pecado, a fim de poder
salvar pecadores. As tentações que assaltaram a Jesus foram genuínas
e violentas. Não obstante, ele fo i levado à cruz, sem mancha no seu
caráter.
(2 ) Viveu em perfeita obediência à Lei. Observou perfeitamente
a lei mosaica, a lei moral, sem que sombra de suspeita, quanto a isso,
pairasse sobre ele. Eíevou-a acima da confusão do tradicionalismo e ce­
rimonial] smo em que os judeus tinham caído, e deu à L ei uma aplicação
espiritual no seu ensino e em sua vida. Repreendeu os fariseus, porque
eles observavam escrupulosamente as coisas menores da L ei que lhes
tinham sido transmitidas pela tradição, enquanto que, ao mesmo tempo,
desprezavam o que nela havia de mais importante, como o juízo e o amor
de Deus (veja-se Lucas 11:37-44). Haviam perdido de vista o espírito
da Lei, embora conservassem a forma. Jesus mostrou-lhes que a Lei,
quando propriamente entendida, indicava alguma coisa melhor — o culto
espiritual e o serviço a Deus. É à luz destas coisas que nós entendemos
e apreciamos o Velho Testamento, hoje.
(3) Jesus também viveu em perfeita obediência ao Pai. F oi uma
obediência que teve seu começo na união do Pai e do Filho, antes da
encarnação. E m João 10:36, Jesus falou de si mesmo como um que
o Pai santificou, e enviou ao mundo” . E, não obstante, ele veio volun­
tariamente salvar o homem. Assim, a comissão de ir e a oferta volun­
tária de si mesmo eram praticamente um motivo, um desejo. Isto é o
resumo da obediência filial. E este foi o plano segundo o qual Jesus
viveu neste mundo.
(4 ) Obedeceu à lei do pecado e da morte. Como homem sem pe­
cado, e como o Filho perfeito de Deus, submeteu-se à completa operação
da lei do pecado, a fim de poder quebrar seu poder sobre o homem. So­
freu a inenarrável agonia e dor que veio com o pecado do mundo. Como
ele tomou aquele pecado sobre si mesmo, também recebeu a conseqüên-
cia dele, que era a morte.

3. A m orte de Cristo

A obra salvadora de Cristo é executada por meio da sua morte. O


que ele é como Filho de Deus e Filho do homem e a vida perfeita que
ele viveu habilitaram-no a oferecer-se a si mesmo na morte, como um
sacrifício expiatório pelo pecado do mundo. Há pelo menos quatro aspec­
tos da sua m orte expiatória que devem ser aqui considerados.
(1 ) Com sua morte, quebrou o poder do pecado. Isto pôde ser
feito porque ele fo i tentado ao pecado sem pecar, e morreu sem per­
manecer na morte. Somente o Salvador divino-humano poderia fazer
isso. Todas as tentações e todas as forças do mal foram por ele derro­
tadas. Seus inimigos não trouxeram nenhuma acusação verdadeira con­
tra ele. Sua morte revelou o que o pecado é capaz de fazer e o pior
que o pecado pode fazer. Além de matá-lo, nada mais pôde o pecado.
40
(1 ) Viveu sem pecado. Isto já fo i brevemente discutido. É neces­
sário, todavia, repetir que ele teve uma vida sem pecado, a fim de poder
salvar pecadores. As tentações que assaltaram a Jesus foram genuínas
e violentas. Não obstante, ele fo i levado à cruz, sem mancha no seu
caráter.
(2 ) Viveu em perfeita obediência à Lei. Observou perfeitamente
a lei mosaica, a lei moral, sem que sombra de suspeita, quanto a isso,
pairasse sobre ele. Elevou-a acima da confusão do tradicionalismo e ce-
rimonialismo em que os judeus tinham caído, e deu à L e i uma aplicação
espiritual no seu ensino e em sua vida. Repreendeu os fariseus, porque
eles observavam escrupulosamente as coisas menores da L e i que lhes
tinham sido transmitidas pela tradição, enquanto que, ao mesmo tempo,
desprezavam o que nela havia de mais importante, como o ju izo e o am or
de Deus (veja-se Lucas 11:37-44). Haviam perdido de vista o espirito
da Lei, embora conservassem a form a. Jesus mostrou-lhes que a Lei,
quando propriamente entendida, indicava alguma coisa melhor — o culto
espiritual e o serviço a Deus. É à luz destas coisas que nós entendemos
e apreciamos o Velho Testamento, hoje.
(3 ) Jesus também viveu em perfeita obediência ao Pai. F oi uma
obediência que teve seu começo na união do P ai e do Filho, antes da
encarnação. E m João 10:36, Jesus falou de si mesmo como um que
* o P ai santificou, e enviou ao mundo” . E, não obstante, ele veio volun-
tàrramente salvar o homem. Assim, a comissão de ir e a oferta volun­
tária de si mesmo eram praticamente um motivo, um desejo. Isto é o
resumo da obediência filial. E este foi o plano segundo o qual Jesus
viveu neste mundo.
(4 ) Obedeceu à lei do pecado e da morte. Como homem sem pe­
cado, e como o Filho perfeito de Deus, submeteu-se à completa operação
da lei do pecado, a fim de poder quebrar seu poder sobre o homem. So­
freu a inenarrável agonia e dor que veio com o pecado do mundo. Como
ele tomou aquele pecado sobre si mesmo, também recebeu a consequên­
cia dele, que era a morte.

3. A m orte de Cristo
A obra salvadora de Cristo é executada por meio da sua morte. O
que ele é como Filho de Deus e Filho do homem e a vida perfeita que
ele viveu habilitaram-no a oferecer-se a si mesmo na morte, como um
sacrifício expiatório pelo pecado do mundo. Há pelo menos quatro aspec­
tos da sua m orte expiatória que devem ser aqui considerados.
(1 ) Com sua morte, quebrou o poder do pecado. Isto pôde ser
feito porque ele fo i tentado ao pecado sem pecar, e morreu sem per­
manecer na morte. Somente o Salvador divino-humano poderia fazer
isso. Todas as tentações e todas as forças do m al foram por ele derro­
tadas. Seus inimigos não trouxeram nenhuma acusação verdadeira con­
tra ele. Sua morte revelou o que o pecado é capaz de fazer e o pior
que o pecado pode fazer. Além de matá-lo, nada mais pôde o pecado.

40
Sujeitou-se a isto, a fim. de poder ressurgir da morte, vitorioso sobre o
pecado.
(2 ) Sua morte era uma expiação substitutiva pelo homem. Jesus
não morreu pelo seu próprio pecado, que não tinha, mas morreu pelo
pecado de toda a humanidade. O elemento substitutivo no sacrifício ex­
piatório era muito claramente desenvolvido no Velho Testamento, quan­
do a oferta pelo pecado era trazida ao nível do sacrifício humano. A
mais dara expressão disto acha-se na profecia de Isaias, capítulo 53:
“ Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas
dores levou sobre s i . . . mas ele fo i ferido pelas nossas transgressões, e
m oido pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava so­
bre ele, e pelas suas pisaduras fom os sarados” ( w . 4 e 5).
E m o N ovo Testamento, o fato de a m orte de Cristo ser uma oferta
substitutiva pelo pecado é uma doutrina muito positiva. Jesus o decla­
rou em diversas ocasiões. A firm ou que viera dar a sua vida em resgate
de muitos. (Leia-se Mateus 20:28 e Marcos 10:45.) A o falar da sua m or­
te, quando comiam a refeição pascoal, disse que o seu sangue ia ser
derramado por muitos, para remissão dos-pecados (Mat. 26:28). Isto sig­
nifica que nós não temos que sofrer a morte por causa do pecado. Temos
que sofrer as conseqüências do pecado nesta vida, mas a m orte em v ir­
tude do mesmo, a qual marca a sua completa operação, fo i aniquilada
para nós.
(3 ) A m orte de Cristo fo i também, vicária. Queremos com isto
dizer que recebemos os benefícios aqui e agora mesmo, dos seus sofri­
mentos. “ Pelas suas pisaduras fom os sarados” (Is. 53:5). Pelo seu san­
gue derramado, obtemos o perdão dos nossos pecados. Frequentemente
se chamam pessoas aos hospitais a fim de darem o seu sangue a outras
pessoas enfermas, cujas forças se estão esvaindo, pela falta desse ele­
mento vital. Antes de a pessoa fazer a oferta do seu sangue, este é exa­
minado, para ver se é puro e se poderá combinar hem com o sangue do
enfermo. Então o operador executa a sua obra, põe-se entre os dois,
e transfunde-se o sangue do forte para o fraco. Aquele que dá o seu
sangue logo anda com a sua própria força. O fraco também adquiriu
saúde e sai do edifício com a força adquirida pelo sangue que lhe fo i
dado. Isto é uma transação física. O sofrimento e morte vicária de
Cristo para nos salvar é uma transação espiritual de caráter semelhante.
O Espírito Santo faz a transfusão e nós adquirimos força sobre o pecado
e a morte, pela vida de Cristo, que é transfundida em nós.
(4 ) A morte de Cristo fo i uma propiciação. Com isto, queremos
dizer que Deus se mostra favorável ao homem, a despeito do pecado.
Deus necessitava de uma expressão adequada do seu am or pelo homem
e um m eio pelo qual a sua graça salvadora lhe pudesse ser aplicada.
Deus não é um tirano, cuja ira tenha que ser apaziguada antes que o
homem possa ser salvo; antes, é um Pai de amor, cujo desvelo pelo
homem levou-o a fazer o m áxim o esforço para a sua salvação. Ele não
nos ama porque Cristo morreu, mas Cristo morreu porque ele ama a
humanidade. A morte de Cristo removeu o obstáculo que se interpunha

41
entre Deus e o homem e assim satisfez à necessidade da naturezh santa
de Deus.

4. A ressurreição de Jesus

N a sua ressurreição, Cristo selou com o poder e autoridade divina


tudo que fe z na sua vida e morte. A o sair da sepultura, quebrou os cor­
déis da morte. O pecado havia sido derrotado e ele havia ganho uma
vitória completa.
Necessitamos apenas de um breve exame do problema doutrinário
da sua ressurreição. Há dois pontos que primariamente nos interessam.
O primeiro é a sua natureza. F oi espiritual ou física? F oi ambas as coi­
sas. Não podemos duvidar que fosse espiritual, uma vez que afirmamos
que o povo experimentou a sua presença depois da sua morte. Mas fo i
também física. Seu corpo ressurgiu. Comeu com os seus discípulos,
andou com eles e convidou-os a apalparem as feridas que tinha nas mãos
e no lado.
O outro ponto que nos interessa é a prova da ressurreição de Jesus.
Levantou-se ele de fato do sepulcro ou tudo não é mais que um m ito?
Há várias provas de peso. Uma é o sepulcro vazio. Seu corpo morto
nunca fo i achado. Tê-lo-ia sido certamente, se não tivesse sido ressusci­
tado. Uma outra evidência é o testemunho daqueles que o viram. Ele
aparece aos doze discípulos e a outros, mais de quinhentos ao todo. Os
apóstolos pregavam a ressurreição de Jesus em todo lugar aonde iam.
Era a base da sua pregação, nos dias primitivos. Leia-se atenciosamente
o livro de Atos e veja-se como isto é verdade. Todo o N ovo Testamento
é prova de que Cristo ressurgiu. Ele concita os crentes a serem leais ao
Cristo vivo. Finalmente, a experiência cristã é uma forte prova. Um
salvador m orto não pode salvar. Nossa experiência é obra de um Cristo
pessoal, vivo e reinante. Ele vive!

5. O mediador presente
Cristo, à mão direita do Pai, intercede pelos crentes, e assim leva
adiante a sua obra mediadora. Expiando na morte os nosso pecados, ele
ministrou por nós como Sumo Sacerdote. Na sua intercessão por nós,
ele continua, como Sumo Sacerdote, o trabalho eficaz de salvar homens.
“ Pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das
nossas enfermidades, mas um que tem sido tentado em todas as coisas
à nossa semelhança, mas sem pecado. Cheguemo-nos, portanto, com
confiança ao trono da graça, para que recebamos misericórdia e ache­
mos graça, a fim de sermos socorridos em tempo oportuno” (Hebreus
4:15, 16 — Trad. Bras.).

42
C A P ÍT U LO IV

O Espírito Santo
Esboço

I. A Personalidade do Espírito Santo


1. A importância deste conceito
2. O testemunho da Bíblia
3. O testemunho da experiência cristã
II. A Divindade do Espirito Santo
1. A significação da doutrina
2. O testemunho da Bíblia
3. O testemunho da experiência
III. A Obra do Espirito Santo
1. N a revelação
(1 ) O dom da revelação
(2 ) Registro da revelação
(3 ) Interpretação da revelação
2. Com o não regenerado
(1 ) Ele ama os homens
(2 ) Testemunha de Cristo
(3 ) Testemunha a pecaminosidade do perdido
(4 ) Torna eficaz a obra salvadora de Cristo
3. Com o regenerado
(1 ) Desperta nossa consciência de pecado
(2 ) Dá-nos forças para vencer o pecado
(3 ) Ensina-nos a respeito da vida cristã
IV . Conhecimento do Espirito Santo
1. Modos de conhecer o Espirito
2. Obediência
C A P IT U L O TV

O ESPÍRITO SAN TO
Deus age fora do mundo, criando-o, govemando-o e sustentando-o
— e, não obstante, também está no mundo. Para um fim especial, em
um designado período de tempo, identificou-se com a raça humana na
pessoa de Cristo, o Filho eterno. Tendo este propósito sido executado,
Deus o Filho retirou-se para o seu trono celestial a completar sua obra.
Isto tornou necessária a presença de Deus no mundo, a fim de guiai' e
solidificar a obra que Jesus começou durante o seu ministério terrestre.
Para esse fim , o Espirito Santo veio e habita entre os homens. Que é
que cremos acerca do Espirito Santo?

I. A Personalidade do Espírito Santo


Antes que possamos propriamente estudar a obra do Espirito, m is t«'
se tom a procurar entender o Espirito mesmo.

1. A importância deste conceito


É de prim ária importância para cada cristão, saber se o Espirito
Santo é uma pessoa divina a ser adorada, servida e amada, ou se é apenas
uma influência ou poder emanado de Deus. É um erro muito comum
falar dele como se não fosse uma pessoa. Se ele é uma pessoa divina, e
não o reconhecemos como tal, negamos-lhe o culto que lhe é devido e ao
mesmo tempo roubamo-nos a nós mesmos de muitos dos ricos tesou­
ros da vida cristã. Frequentemente, o que nos preocupa é que possamos
ter mais do Espirito Santo, que possamos ser mais cheios da sua presen­
ça, com o um balão se enche de gás. Mas, se bem entendemos a perso­
nalidade do Espirito, nossa preocupação será de nos submetermos a ele
com o o mestre ao qual a vida do aluno deve estar inteiramente sujeita.

2. O testemunho da B íblia
Os característicos do Espirito, na Bíblia, são os de uma pessoa. São
eles, prmcipalmente, conhecimento, sentimento e vontade. “ 0 Espirito
penetra todas as coisas, ainda mesmo as profundezas de Deus. Porquê,
qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espirito dó homem,

45
que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão
o Espírito de Deus” (I Cor. 2:10, 11). Aqui é atribuído conhecimento
ao Espirito de Deus. É segundo este mesmo m odo de pensar que Paulo
fala da “ intenção do Espírito” (Romanos 8:27).
E m Rom. 15:30, Paulo exorta os seus irmãos, “ pelo amor do Espi­
rito” , a combaterem com ele em oração. O Espirito nos ama do mesmo
modo que Deus o Pai nos ama. Quão gratos devemos ser a Deus pela
presença do Espírito Santo a nos prender pelos laços do amor.
O Espirito também, como pessoa, exerce vontade, “ repartindo par­
ticularmente a cada um como quer” (I Cor. 12:11), ou seja, segundo o
seu propósito.
Mais ainda, como uma pessoa, ele é sensível ao tratamento que se
lhe dá. Fica ofendido quando não é tratado com justiça (E f. 4:30). Como
a mãe fica magoada quando um filho procede mal, ou o professor fica
sentido quando um aluno não aprende a lição, assim o Espirito sofre
profundo desapontamento e tristeza quando não andamos como devía­
mos andar. Pedro repreendeu Ananias por ter mentido ao Espírito
Santo (At. 5:4). Ninguém mente a uma coisa, mas a uma pessoa. Quan­
do alguém tem estes característicos na sua conduta, dizemos que é uma
pessoa. Assim, as Escrituras Sagradas retratam o Espirito como uma
pessoa e não meramente como uma influência.

3. O testemunho da experiência cristã

Qual é, porém, a evidência da experiência cristã acerca do Espirito


Santo? Nossas relações para com ele têm sido pessoais. Há alguns anos,
o autor deste livro estava realizando pregações evangelísticas. F.m nm
dos cultos matutinos, um homem fez sua profissão de fé em Jesus Cristo
e manifestou desejo de se unir à igreja. Antes do culto, dissera ao pre­
gador que queria ser um bom cristão e um m em bro leal da igreja, po­
rém não podia servir a Cristo na igreja enquanto uma situação irre­
gular na fam ília não fosse esclarecida. Passou então a relatar
sua dificuldade. Explicou como se iniciara e como estava afetan­
do a vida da igreja. Finalmente, ele disse: “ Agora, pastor, eu
quero regularizar minha situação. Vou entrar para a igreja confian­
do no Senhor para resolver minha dificuldade.” Respondi-íhe que so­
mente o Espírito de Deus poderia solucionar aquilo. Ele trabalha por
mero de homens, mas só ele pode mudar os corações e fazer o amor
ocupar o lugar do ódio. O homem concordou e no fim do culto o povo
de Deus fo i chamado a orar para que o Espirito de Deus se dignasse a
fazer sua obra nos corações do povo da comunidade.
À tarde, o pregador tomou o seu carro e dirigiu-se para o interior,
em direção ao lar perturbado do homem acima referido. Parou um
pouco no carro antes de chegar à casa a que se dirigia, orando para
que o Espirito de Deus o guiasse. Depois seguiu e em poucos minutos
chegava ao ponto designado. Quando cumprimentou a família, era evi­
dente que a obra já tinha sido efetuada. Não havia mais necessidade
alguma de argumentar para persuadir. Os corações tinham já sido mu-
46
dados, a amargura que existia tinha desaparecido. Não havia mais per­
turbação.
Ora, não tinha havido agente humano que tivesse ido adiante do
pregador e, não obstante, era fora de dúvida que alguma pessoa estivera
tratando com aquela família. O Espirito tinha estado ali. Até hoje há
uma lembrança viva daquela experiência com o Espirito efetuando a
obra que somente uma pessoa divina podia executar. E desde então o
autor nunca mais pensou no Espirito senão como uma pessoa.

II. A Divindade do Espírito Santo


Cremos que o Espirito Santo é Deus? A sua divindade não é tanto
questionada, como é negligenciada.

1. A significação da doutrina
Deve ficar gravado em nossa consciência que a presença conosco
do Espírito Santo significa que o Deus onipotente, eterno, onisciente, oni­
presente está à mão para nos guiar. Não obstante, muitas vezes o tra­
tamos como alguma coisa de que podemos usar ou negligenciar, segundo
a nossa conveniência e necessidade. Se Cristo entrasse em vossa casa,
que faríeis? Se ele vos pedisse para auxiliá-lo a efetuar um milagre,
acederieis? Se vos pedisse para gastar o dia convosco, concordaríeis?
Objetaríeis, porventura, alegando que tínheis já o vosso plano para aque­
le dia, e que poderíeis mais tarde falar com ele sobre o assunto? E não
é assim que freqüentemente tratamos o Espírito Santo? E ele é tão real­
mente Deus como Cristo e está tão realmente presente conosco como
Cristo com os seus discípulos.
Há anos passados, um fam oso médico da Europa achava^se em Chi­
cago, para uma ligeira visita. Uma senhora rica escreveu-lhe, pedindo
que fosse a sua casa, tratar de um de seus filhos que se achava enfermo.
Ele estava muito preocupado com muitas coisas que tinha a fazer no
pouco tempo de que dispunha e parecia-lhe que não seria possível aten­
der aquele chamado. Mas a mãe confiava que ele fússe e esperou. Era
costume dele, após o lanche, dar um ligeiro passeio, tendo ficado combi­
nado com o motorista que fosse ao seu encontro, caso ameaçasse um
temporal.
De tarde, quando andava pela cidade, caiu um temporal que o obri­
gou a encostar-se sob a cobertura da entrada de um palacete e tocou
a campainha. Era justamente a residência da senhora que o mandara
chamar. A dona da casa, porém, não conhecendo o visitante nem tendo
perguntado quem ele era, ofereceu-lhe uma cadeira para sentar sob a
cobertura e fechou novamente a porta. O seu motorista chegou logo
depois ali com o carro e levou-o para o hotel. Quando aquela senhora
leu nos jornais do dia seguinte que o médico famoso tinha sido apanha­
do por uma tempestade e procurara refúgio na sua casa, ficou desa­
pontada. Oh! se ela o reconhecesse! Esta é a grande tragédia de murtas
pessoas que necessitam de Deus. N ão reconhecem o Espírito Santo
como Deus.

47
2. O testemunho da Bíblia
Âs Escrituras Sagradas sempre falam do Espírito Santo como Deus.
Esteve presente na criação e participou dela. Jó exultava porque o Espi­
rito de Deus o criara e lhe dera vida (Jó 33:4). A narrativa de Gênesis
fala da presença do Espirito na criação (Gên. 1:2).
A o dar sua comissão aos discípulos, Jesus incorporou o Espirito com
ele na Trindade — “ em nome do Pai, e do Filho e do Espirito Santo”
(Mat. 28:19). Nestes, como em muitos outros exemplos, ele nos é apre­
sentado como Deus.
3. O testemunho da experiência

Um a vez mais a nossa experiência concorda com o testemunho da


Escritura. Sabemos que ele nos -comunica o dom da vida eterna, como
Jesus mesmo disse em João 6:63. Aquilo que ele fa z em nós — perdão
e regeneração e toda a experiência cristã — ele executa como Deus ope­
rando em nós. Mesmo que não tivéssemos declarações inequívocas e
claras das Escrituras, acerca da divindade do Espirito Santo, ainda diria­
mos que aquele com quem nos relacionamos na experiência cristã é o
próprio Deus.

111. A Obra d o Espírito Santo


A personalidade e divindade do Espírito podem ser mais clara­
mente vistas no estudo da sua obra. O que ele fa z revela o que ele é.
Há três fases distintas na obra do Espirito.
1. N a revelação

Isto já fo i sugerido no estudo das Escrituras como a fonte e a auto­


ridade em matéria de doutrina. Esta é, porém, tão distintivamente uma
obra do Espirito, que deve ser mencionada aqui. É a função de fazer
Deus e a sua vontade conhecidos aos homens. Há três passos, na reve­
lação, que merecem ser considerados.
(1 ) O prim eiro passo é o dom da revelação. Isto o Espirito Santo
faz por intermédio de homens especialmente escolhidos para a tarefa.
“ Porque a profecia nunca fo i produzida por vontade de homem algum,
mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espirito Santo”
(H Ped. 1:21). Os profetas anunciavam as suas mensagem com a de­
claração “ assim diz o Senhor” . E quando o povo os ouvia, sabia, pelo
tom de autoridade e pelo poder com que falavam, que se tratava da men­
sagem de Deus.
E ra com a sua presença e poder que Jesus falava, ensinava e opera­
va. O Espirito desceu sobre ele no seu batismo, para demonstrar a com­
pleta aprovação que Deus dava ao seu ministério salvador; levou-o ao
deserto para ser tentado, depois levou-o novamente à Galiléia e acom­
panhou-o em todo o seu ministério, dando-lhe sabedoria para ensinar e
poder para efetuar milagres. Assim temos nele o exemplo perfeito da
vida governada pelo Espirito.

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Jesus prometeu aos discípulos que o mesmo Espirito viria sobre
eles, para dar-lhes sabedoria e conhecimento divino. Sabemos, pelo livro
de Atos, que o Espirito veio sobre eles em cumprimento da promessa e
eles passaram a falar a palavra de Deus com poder.
(2 ) O segundo passo na revelação é o registro da revelação de
Deus. O registro e preservação das Escrituras fo i obra do Espirito Santo.
Esta é a nossa doutrina da inspiração. Ele escolhia homens para a tare­
fa, dava-lhes a mensagem e depois os guiava para escrevê-la. A unidade
da Bíblia, a sua aplicação a todos os tempos, tanto como para a época
em que fo i dada, e o duplo elemento de revelação contido nela, reve­
lando Deus ao homem e o homem a si mesmo, tudo indica que ela é a
Palavra inspirada de Deus.
(3 ) A terceira fase da revelação como obra do Espírito está na
interpretação das Escrituras. A dádiva da mensagem de Deus é usual­
mente chamada revelação, o registro dessa mensagem é usualmente cha­
mado inspiração, e a obra do Espirito no guiar a interpretação é cha­
mada iluminação. O mesmo Espirito é o agente em toda esta tarefa
tríplice na revelação. Certamente necessitamos compreender novamente
esta verdade, quando chegamos ao estudo da Palavra que ele inspirou.

2. Com o não regenerado

(1 ) O Espirito Santo ama os homens. Ele olha através das ruínas


do pecado e vê a im agem de Deus que necessita ser restaurada. Como o
Filho do Hom em viera buscar e salvar aquele que estava perdido, assim
o 'Espirito de Deus procura os perdidos, a fim de que a obra salvadora
de Cristo possa ser realizada. Pensemos em Jesus chorando sobre Je­
rusalém, porque esta se negava a arrepender-se e recebê-lo. Temos aí
um retrato do próprio Espírito. Ele se desgosta, muito além do que po­
demos sequer imaginar, quando os não convertidos resistem e se negam
à sua influência.
(2 ) Ele testemunha de Cristo. Não basta ler ou pregar o Evan­
gelho. Antes que a seara de almas possa brotar, o Espirito necessita abrir
a mente e o coração dos não convertidos, a fim de que eles possam ver
Cristo no evangelho. Ele é a luz que brilha em nosso coração e nos re­
vela Cristo.
(3 ) Ele também, faz que o pecador veja a sua natureza pecami­
nosa, 0 Espirito aplica a salvação ao individuo. Não sentimos necessi­
dade de salvação enquanto não nos capacitarmos de que estamos sob a
condenação do pecado e que necessitamos de uma libertação do pecado.
O Espirito veio para nos ajudar a compreender esta verdade. “ E quando
ele vier, convencerá o mundo do pecado.” Êste é o seu trabalho princi­
pal no mundo de hoje: o de mostrar ao pecador a sua necessidade do
Salvador. O aluno medita num problema de matemática, enquanto se
encontra ao lado o professor, para guiá-lo. A o passo que ele olha aten­
ciosamente para o problema que se lhe apresenta no livro, o professor
lhe mostra a solução a que deve chegar e guia seu raciocínio para que
encontre essa solução. O aluno ouve o professor, enquanto olha para o

49
problema. De repente, diz: “ Agora v ejo” , e o problema é por ele resol­
vido. Coisa estranha é que os algarismos não mudaram e nada fo i adi­
cionado ou tirado do problema, porém o aluno viu tudo sob uma nova
luz, graças à direção de um bom mestre. É assim que o Espírito trata
com o homem perdido. Guia-o, fazendo-o ver sua pecaminosidade e ne­
cessidade de um Salvador; e, a seguir, revela-lhe o Salvador de que ele
necessita.
(4 ) O Espírito dá um passo adiante, e torna eficaz a obra salvado­
ra de Cristo na vida de um perdido que clama a ele por salvação. 0 que
Cristo efetuou na sua vida, morte e ressurreição redentora, torna-se real
para nós por meio do Espirito. A expiação de Cristo é suficiente para
todos, mas ela só se toma eficaz para o indivíduo quando ele se subme­
te ao Espirito. A única redenção que salva é a união vital entre o pe­
cador e o Salvador. Cristo tem que entrar em nossa vida e habitar co­
nosco. Tem que encamar-se em cada um dos seus seguidores. E somente
então teremos o seu poder, graça e amor. Isto só se realiza por meio
da presença do Espírito.
3. Com o regenerado
Que é que cremos a respeito da obra do Espírito na vida de cada
cristão? Tendo-nos levado à experiência da graça salvadora de Cristo,
o Espírito não nos abandona, pois que tem ainda uma grande obra a
fazer de então por diante. Devemos saber bem o que é essa obra em
nós, a fim de que ele possa executá-la perfeita e completamente.
(1 ) Prim eiro que tudo, desperta em, nós a consciência de pecado.
Alguns cristãos parecem pensar que nada mais têm a ver com o pecado
depois que se convertem. Talvez isto explique por que fracassam e não
obtêm uma vitória completa sobre ele. Uma vez convictos do nosso
pecado e dispostos a vencê-lo, devemos considerar-nos em guerra aber­
ta e permanente contra ele. Mais do que nunca, devemos estar vigilantes
contra os ataques do nosso grande inimigo. E uma visão clara para
distinguir os ataques é essencial à vitória. Aqui é onde o Espirito nos
ajuda. Ele cultiva e intensifica em nós a consciência do pecado, a fim
de que possamos vencê-lo.
Dois homens achavam-se no tombadilho de um navio. O mais velho
mostrava ao mais moço um objeto que se divisava à distância, na super­
fície do mar. Este, não tendo a visão ainda experimentada, não via coisa
alguma, mas confiava na visão do seu companheiro. Passado algum
tempo, a sua capacidade de ver à distância aumentou e tomou-se tam­
bém capaz de reconhecer qualquer sinal de perigo, mesmo a uma longa
distância. É assim que o cristão educado pelo Espirito reconhece a ten­
tação e o pecado. Se nos pusermos inteiramente sob a sua direção, ele
cultivará em nós a capacidade de sentir e ver o perigo do pecado, antes
que este se aproxime de nós.
(2 ) N ão somente ele nos auxilia a ver o mal e o perigo do pecado
mas também nos dá força para vencê-lo. “ Poraue a lei do Espirito de
vida, em Cristo Jesus, m e livrou da lei do pecado e da morte” (Rom a-
50
nos 8:2). Até a nossa aceitação de Cristo, a lei do pecado para a morte
reinava em nós. Mas quando nos entregamos a ele, o Espírito veio para
livrar-nos da lei e para pôr uma nova lei em operação em nós. E ela é
não somente uma lei perfeita de santidade, pela qual podemos aferir a
nossa conduta, mas é igualmente uma força viva, a presença e o poder
pessoal do Espirito de Deus em nós.
A consciência que temos de pecado, após a conversão, não é a mes­
ma que tivemos antes. Então, era quase um desespero, quando pensáva­
mos nas conseqüências do pecado, se lhe fosse permitido seguir o seu
curso. Agora, é uma certeza de vitória. Não pode o pecado seguir o
seu curso, porque Cristo abateu o reino do pecado. Agora o Espírito de
Deus mora em nós para dar-nos o poder necessário àquela vitória. Se
alguém diz que pode pecar livremente, uma vez que tem garantia de
vitória, é porque não entende a natureza da obra do Espírito na vida
do cristão. Ele nos dá segurança de vitória, mas ao mesmo tempo dá-nos
também um aborrecimento sempre crescente contra o pecado. Não é
que nos assentemos e esperemos que ele nos dê a vitória, mas que ele
nos leva a entender a verdadeira natureza do pecado, fazendo-nos ansio­
sos por combatê-lo, e acrescenta a sua força à nossa, a fim de tornar a
nossa vitória possível. E m todas as nossas necessidades, ele é o nosso
confortador.
(3 ) Ele é também, o nosso m,estre. O Espírito não pode ser mestre
de um não regenerado. Tendo-nos, porém, submetido a ele e tendo com
ele iniciado a luta contra o pecado, necessitamos, em seguida, ser ensi­
nados quanto ao nosso novo modo de vida. Com o conhecimento, vem
o poder. Precisamos saber mais de Cristo, mais de Deus, mais de nossa
relação e responsabilidade para com ele, mais do seu plano para usar­
-nos na salvação do mundo. Todo este conhecimento se centraliza em
Cristo, e nos é proporcionado por intermédio do Espírito Santo. Sua
obra é levar os homens aconhecereme honrarem a Cristo. “ Êle testificará de
m im ” , disse Jesus.
A oração toma uma significação vital em nossa comunhão com o
Espirito. Foi-nos ordenado que pedíssemos ao Pai o Espirito para to­
mar o lugar de mestre em nossa vida (Lucas 11:13). Ele faz mais do
que nós sonhávamos pedir. Intercede por nós e em nós! Quando mesmo
nem sabemos pelo que orar, ele intercede por nós com gemidos inexpri­
míveis (Rom . 8:26). Cristo intercede por nós junto ao trono de Deus,
enquanto o Espirito trabalha conosco na oração, levando-nos a orar, e
auxiliando-nos na nossa fraqueza. O Espirito transforma a nossa vida
numa vida de oração constante.
Ele também nos ensina o caminho do serviço, do dever e da alegria. O
cristão pode e deve fazer a vontade de Deus em cada decisão da sua vida.
Deus tem um plano geral para cada indivíduo. Não sabemos qual é,
mas podemos sabê-lo. Alguns cristãos são guiados por sinais e ocorrên­
cias fora do comum, mas o meio normal pelo qual o Espirito nos guia
é o estudo da Bíblia, a oração e a meditação. Este deve ser o nosso pro­
cedimento, ao enfrentarmos cada problema ou crise. Deve também ser

51
uma parte do nosso programa diário. £ o melhor modo de nos pormos
de acordo com a vontade de Deus. Deste modo, damos nossa melhor
atenção ao Espirito, deixamos que ele nos fale por meio da Palavra ins­
pirada e deixamos que ele fale diretamente às nossas almas. Deste
modo, damos o melhor de nosso pensamento ao assunto no qual pro­
curamos ser guiados, e é somente quando empenhamos na oração o
melhor do nosso pensamento que o Espírito nos pode guiar livremente.

IV . Conhecimento do Espírito Santo


Este capitulo pode ser concluído com algumas afirmações concer­
nentes à importância de nos relacionarmos com o Espirito. Não nos basta
saber o que a Bíblia ensina a seu respeito, devemos conhecê-lo pessoal­
mente, para que a nossa comunhão com Deus seja real.

1. Modos de conhecer o Espírito

A maneira simples pela qual nos podemos fam iliarizar com o Espi­
rito Santo é o estudo da Bíblia, a oração e a meditação. O cristão deve
cultivar a presença do Espirito mais ou menos como cultivamos a ami­
zade humana. Um desconhecido entra na vossa comunidade e vós, de­
sejando relacionar-vos com ele, que fazeis? Procurais visitá-lo em sua
casa e falar com ele sobre coisas de interesse comum. Depois o convidais
a v ir a vossa casa, para mais estreitar os laços da amizade que se inicia.
Ele, então, vos inform a que acaba de escrever um livro, e vós lho pedis
para ler, a fim de lhe poderdes falar inteligentemente sobre o mesmo.
Ele então vos pede que o auxilieis numa tarefa em que está profunda­
mente interessado. Enquanto trabalhais juntamente com ele, chegais a
conhecê-lo intimamente. É assim mesmo que vos podereis relacionar
mais intimamente com o Espirito. Vamos à igreja, que é a sua casa,
depois convidamo-lo a v ir h nossa. Estudamos o seu livro e sobre
este falamos com ele. Depois o acompanhamos na execução de uma
tarefa na qual ele está empenhado. É assim que chegamos a conhece-lo.
2. Obediência
O outro passo que temos a dar, depois de conhecê-lo, é fazer aquilo
que sabemos ser a sua vontade. Não duvidemos da direção divina em
nossa vida enquanto não fizerm os as coisas que estão muito daramente
postas diante de nós. Pode ser que a causa de não termos experimentado
uma direção definida e individual do Espirito reside nalgum pecado
inconfessado na nossa vida ou que temos deixado de fazer o que ele
tem dito na sua Palavra que todo cristão deve fazer. Tudo isto quei
dizer que temos de cultivar a comunhão do Espirito, vivendo uma vida
tal que ele a possa governar.
Conta o Dr. Torrey, em um de seus livros, a seguinte ilustração:
“ Em uma das nossas cidades do interior, um poço ficou inutilizado
por muitos meses, porque fo i lançado dentro dele um tapete velho. Quan­
do, porém, o tapete fo i tirado, afluiu fresca e clara a água revigorante.
Há muitos crentes nas igrejas hoje que conheceram no passado a incom-
52
paràvel alegria do Espirito Santo, mas nos quais algum pecado ou con­
form idade mundana ou de desobediência, de que estão mais ou menos
conscientes diante de Deus, tem-se tomado um impedimento. Arranque­
mos todos os trapos que impedem o fluxo da fonte, para que dela brote
de novo a água limpa que salta para a vida eterna.”
Alguns dizem que isto de ser alguém dirigido pelo Espírito Santo
em tudo é um mistério. Sim, é um mistério, como qualquer contato da
vida humana com Deus. Não obstante, é uma coisa comum na vida
cristã. O rádio é um mistério; não obstante, por meio dele ouvimos lin­
das músicas, com as quais nos deliciamos. Sabemos alguma coisa a
respeito do rádio, mas há muito mais que não sabemos. Assim é tam­
bém com o Espirito Santo de Deus. Conquanto não possamos explicar
a sua natureza e obra, podemos beneficiar-nos com o seu poder e sabe­
doria, pela comunhão com ele. Sigamos a luz que temos, e mais luz nos
será dada.
Usai os ensinos das Escrituras, procurando a direção do Espirito, e
eles serão suplementados conforme o exijam as vossas necessidades. A
razão por que pensamos ser a comunhão com o Espirito coisa muito
misteriosa para ser posta em prática é que nós a temos negligenciado,
quando devíamos cultivá-la. N ão há m aior necessidade entre os cristãos
de hoje. Necessitamos render-nos ao Espirito, procurar o seu conselho,
obedecer à sua voz, amá-lo e procurar entender as suas relações conosco,
se quisermos de algum modo ajustar-nos ao padrão do cristianismo.
Tendo entrado nesta experiência de graça por meio do Espirito, de­
vemos lembrar-nos de que a sua obra não será completa em nós enquan­
to ele não nos puder usar para atingir outros. Como a luz radiante da
lâmpada elétrica é uma evidência da eletricidade, assim também o cris­
tão exibe a presença do Espirito dentro de si mesmo. E agora a luz que
aponta o caminho a Cristo brilha por meio de nós e aponta o caminho
aos outros que andam errando nas trevas do pecado.

63
C A PITU LO V

O Lado Humano da Experiência Cristã


Esboço

I. Arrependimento
1. Mudança de pensamento a respeito do pecado
2. Tristeza por causa do pecado
3. Abandono do pecado
4. Seguido de paz e alegria
5. Atitude permanente do cristão
II. Fé
1. Que é fé?
(1 ) Conhecimento de Cristo, o Salvador
(2) Crença que Cristo é quem salva
(3) Confiança em Cristo para salvar
2. Relação com a salvação
(1 ) Condição para sermos salvos
(2 ) A fé produz boas obras
III. Confissão '
1. Confissão de pecado
(1 ) A Deus
(2 ) A o homem
2. Confissão de Cristo
IV Santificação
1. Definição
(1 ) Significação da palavra
(2 ) Ato de completa consagração
(3) Atitude de vida
(4 ) Uma relação para com Deus
2. O agente da santificação — o Espirito Santo
3. O m eio de santificação — a Palavra de Deus
CAPITULO V

O LADO H UM AN O DA EXPERIÊNCIA CRISTA


Depois de havermos estudado a obra de Cristo e do Espirito Santo
providenciando a nossa salvação, vamos agora considerar a experiência
que se acha implicada na aceitação, por parte do homem, da graça sal­
vadora de Deus. P o r conveniência e clareza no estudo, podemos exami­
nar os dois lados desta experiência, o humano e o divino. A iniciativa
na redenção está com Deus, mas a resposta está com o homem. Deus
toma a iniciativa de revelar-se em Jesus Cristo e de dar o seu Espirito
Santo para testemunhar a nós a respeito de Cristo e do meio de salvação.
Procuraremos neste capitulo estudar a nossa experiência na aceitação
das condições pelas quais Cristo nos salva.

1. Arrependimento
Que significa arrependimento? É um ato ou um processo? Que é
que o produz? Quantas vezes necessitamos nos arrepender? Estas e
muitas outras interrogações surgem à nossa mente, quando considera­
mos este assunto. Talvez a discussão seguinte responda ao menos a
algumas delas.
O homem é um ser pessoal: pensa, sente, escolhe. Estes são os si­
nais característicos de um ser consciente, isto é, de uma pessoa. É nesta
base que o evangelho faz seu apelo ao homem. Provoca nele uma res­
posta pessoal.

1. É mudança de pensamento a respeito do pecado


É uma reflexão cuidadosa acerca do pecado cometido. Necessitamos
reconhecer a natureza do pecado, e que somos pecadores. Os escribas
e fariseus fracassaram nisto, razão pela qual incorreram na condenação
de Jesus (Mat. 23:27). Este procurava auscultar os seus sentimentos
mais íntimos, sabendo que só assim podia trazê-los ao arrependimento
e concitá-los a se aproximarem da vida divina.
O único meio de entendermos a significação do nosso pecado é vê­
-lo à luz da nossa relação para com Deus. Este é o prim eiro passo para

57
o arrependimento. N o capitulo 21 de Mateus ( w . 28-32), Jesus conta
uma breve história, que ilustra muito bem isto. Um pai tinha dois filhos.
Disse-lhes que fossem trabalhar na sua vinha. Um disse que iria, mas o
outro recusou-se. O que tinha prometido ir, não fo i; mas o que se ne­
gara, depois de refletir, arrependeu-se e foi. A base em que se teria
fundamentado seu arrependimento era a relação que o prendia a seu
pai. Ele era filho, e a sua recusa de obedecer a seu pai fa2ia com que
ele não fosse um verdadeiro filho. À luz desta relação, o seu ato mos­
trava-se errôneo, pelo que depois arrependeu-se e fo i fazer aquilo que
seu pai lhe ordenara. O outro filho, porém, não tomando em conside­
ração a promessa que fizera, desobedeceu. Era um pecador não arre­
pendido. Não considerou o dever nem o am or que devia ter por seu
pai. Jesus disse que os pecadores arrependidos precederiam, na entrada
no reino de Deus, os sacerdotes e anciãos que não se tinham arrependido.

2. É tristeza por causa do pecado

O arrependimento é uma mudança de atitude da mente em relação


ao pecado e um profundo sentimento de tristeza por causa dele. Quan­
to mais profundamente entendermos o nosso pecado, mais intensa será a
nossa tristeza. Este é o modo pelo qual o arrependimento opera..
Esta tristeza por causa do pecado deve ser dirigida a Deus. Há um
sentimento de pesar que nos sobrevém quando o nosso pecado é desco­
berto e nós somos punidos. Assim é que um criminoso, apanhado no
seu crim e e sentenciado à prisão por determinado tempo, pode entriste­
cer-se por ter sido preso, sem se entristecer por ter praticado o crime.
De fato, mesmo quando ainda na prisão, pode estar planejando outros
crimes. Mas o arrependimento é uma tristeza segundo Deus. Esta tris­
teza nos sobrevém quando descobrimos que fizemos o mal à vista de
Deus. O pecado pode mesmo não ser conhecido de mais ninguém além
do pecador, mas a consciência que este dele tenha basta para que se
arrependa.
Paulo diz em I I Cor. 7:10: “ Porque a tristeza segundo Deus opera
arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a
tristeza do mundo opera a morte.” O arrependimento é uma tristeza que
vem segundo Deus, quando reconhecemos o nosso pecado à luz da reve­
lação. Chegamos, então, a saber que somos pecadores condenados diante
de Deus, e nos voltamos do pecado para Cristo. Uma viva ilustração
dessa verdade é o contraste entre Judas e Pedro. Depois de receber o
preço da sua traição e enquanto Jesus sofria às mãos da multidão fa-
natizada, Judas pensou no que tinha feito. Talvez ele, à distância, assis­
tisse à agonia de Jesus na cruz. O dinheiro nas suas mãos representava
o sofrimento de um inocente. Sentiu-se invadido por um remorso pro­
fundo, do qual queria, talvez, libertar-se, devolvendo o preço da traição,
mas como os que lho tinham dado não o quiseram receber, lançou-o no
templo. E, como ainda assim não sentisse alivio, suicidou-se, enfor­
cando-se. Esta velha história é uma pintura viva do que o remorso sem
arrependimento pode fazer.
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Pedro negou a Cristo e, quando o galo cantou, lembrou-se do que
Jesus lhe tinha dito, e saiu para fora, chorando amargamente. Logo a
seguir procurou a companhia dos íntimos de Jesus, e na primeira opor­
tunidade fo i diretamente ao Senhor, humilhou-se perante ele e adorou-o.
Uma vez mais, Jesus e seu discípulo vacilante se encontraram à beira­
-m ar na Galiléia, e ele voltou a ser Pedro, o líder dos Doze.
Que diferença havia entre estes dois discípulos? A resposta acha­
-se em nossa definição de arrependimento. Um, cheio de remorsos, nada
tinha a consolá-lo senão aquilo que o mundo lhe podia dar. O outro
arrependeu-se, voltou para Cristo, levou-lhe todo o seu fardo de tristeza
e achou nele o grande redentor das almas que nele confiam.

3. Abandono do pecado

Não basta que mudemos nossa atitude mental para com o pecado
e nos entristeçamos por causa dele. Temos que nos voltar do pecado
para Cristo, o Salvador. O verdadeiro arrependimento não se verifica
enquanto não houver repúdio do pecado. Esta é a prova máxima do arre­
pendimento. Pode ser que alguns de nós nos apressemos através do pri­
m eiro e segundo aspectos do arrependimento, e não sejamos tão ativos,
positivos e determinados nesta terceira fase quanto deveriamos ser. Se
form os apressados e superficiais em nossa compreensão do pecado, nos­
sa tristeza não será profunda e nosso repúdio do pecado não será genuíno
e duradouro. Se queremos levar as pessoas a serem determinadas e pro­
fundas nos seus esforços para entender a significação do pecado e se
pudermos guiá-las a experimentar uma verdadeira tristeza por causa do
pecado, será mais fácil levá-las a repudiá-lo. O arrependimento, pois, é
a mudança de disposição para com Deus, com referência ao pecado que
renunciamos, e a nossa determinação de viverm os em pura e perfeita
lealdade a Cristo.

4. O arrependim ento é seguido de paz e alegria

Temos pensado no arrependimento em conexão com o derrama­


mento de lágrimas e profunda angústia de alma — tanto que, quando
determinadas pessoas fazem pública confissão de Cristo no meio de so­
luços e lágrimas, concluímos que o arrependimento é genuino, e quando
alguns se achegam a nós com um sorriso de confiança, não nos julgamos
tão certos de que o seu arrependimento seja real. Devíamos, entretanto,
notar que quando alguém vem a nós confessar Cristo, depois de ter-se
arrependido e confiado nele, é perfeitamente natural que se manifeste
alegre. Se alguém vem, todavia, ainda no estado de transição do amor
ao pecado para o amor a Cristo, é muito natural que se manifeste domi­
nado por uma excitação emotiva. Contudo, isto é grandemente influen­
ciado pela personalidade de cada indivíduo. O ponto a ser destacado
aqui é que o resultado deve ser o de um profundo sentimento de paz e
alegria. Esta é a paz que Cristo deu à alma perturbada, verdadeiramente
arrependida. E é também a alegria da vitória sobre o pecado. Recor­
demos a experiência de “ Cristão” , no livro “ O Peregrino” . Quando ele,

59
com o enorme fardo de seu pecado, se chegou ao pé da cruz, o mesmo
se lhe despegou das costas e rolou da montanha para o abismo. Então
“ Cristão” , alegre e sorridente, disse: “ Ele m e deu descanso por m eio da
sua tristeza, e vida por m eio da sua morte.”
5. Arrependimento é a atitude permanente do cristão
Quantas vezes nos devemos arrepender? O arrependimento é mais
uma atitude permanente do que um ato. Uma atitude para com o pe­
cado, um constante repúdio do mesmo, um ódio ao pecado, que está sem­
pre conosco e cresce continuamente. A mensagem do livro de Apocalipse
(3:19), “ Sê pois zeloso e arrepende-te” , é dirigida a membros de igreja,
a cristãos professos. N ão nos devemos conciliar com o pecado em nossa
vida, mas sim crescer na nossa capacidade de combatê-lo. E quando, a
despeito de todos os nossos esforços, cairmos nele, devemos confessá-lo
logo, pedir e esperar de Deus mais força para combatê-lo.
A lgo de semelhante se dá quando um homem se naturaliza cidadão
brasileiro. Tem que renunciar todos os seus direitos da cidadania do
país de que é filho e jurar fidelidade ao Brasil. Uma vez naturalizado,
é cidadão brasileiro. N o caso, porém, de surgir uma guerra entre o seu
país de origem e aquele ao qual agora pertence, o seu dever é alistar-se e
lutar neste contra aquele, ainda que suas tendências naturais procurem
desviá-lo da linha de dever que agora tem de seguir. Assim é com o
cristão. Tentações se apresentam a ele diariamente, mas ele tem que
ter sempre em vista que deve manter-se fie l a Cristo. Cada vez que
cair em pecado, ainda que o mesmo pareça pequeno, deve arrepender­
-se e pedir a Deus perdão e força para vencer as tentações que lhe vierem
depois.
Deve o homem ter sempre em mente que o arrependimento vem
por m eio do Espirito Santo. Cristo veio para dar o arrependimento a
Israel (Atos 5:31) e o Espirito Santo é quem efetua esta obra entre todos
os povos (Lucas 24:45). N a pregação do evangelho, o Espírito de Deus
está sempre presente para dar o arrependimento (I I Tim . 2:25).
II. Fé
Há uma conexão indissolúvel entre a fé e o arrependimento. Um
não pode existir sem o outro. Também não há prioridade de um em
relação ao outro. Andam sempre juntos e são essenciais um ao outro.
Nenhum significa alguma coisa só por si e é só por conveniência que os
estudamos em separado, .
1. Que é fé?
Três declarações podem ser feitas a respeito dela.
(1 ) A primeira é que é conhecimento, é preciso haver alguma
apreensão intelectual ou um entendimento do evangelho. “ Como crerão
naquele de quem não ouviram?” (Rom . 10:14). Temos que conhecer
o evangelho antes de aceitá-lo. Temos que conhecer Cristo antes de nos
podermos render a ele.

60
Isto não significa que a fé seja determinada pelo conhecimento,
mas que o conhecimento é uma parte preliminar da fé. Nem significa
que necessitamos conhecer exaustivamente, antes de podermos chegar
à fé salvadora. A o prisioneiro, basta saber que há um amigo que pode
assegurar-lhe o perdão, se depositar a sua causa nas mãos dele. Nãò
necessita saber antecipadamente de todos os detalhes por meio dos quais
o perdão é conferido.
A fé não exige um conhecimento exaustivo, pois que ela assenta
num conhecimento que cresce sempre. Disse Jesus: “ E a vida eterna é
esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo,
a quem enviaste” (João 17:3). Deve notar-se que o termo “ conhecer” ,
que João empregou para recordar o dito de Jesus, implica numa expe­
riência pessoal. O conhecimento salvador de Cristo começa e cresce na
experiência com ele.
(2 ) Assim, o elemento de conhecimento desenvolve-se até a se­
gunda fase da fé, que é crença. Devemos saber que Cristo veio salvar
dos seus pecados os homens e em seguida crer que êle está habilitado
a salvar. N em todos os que sabem ser o evangelho o plano de salvação
de Deus, crêem na sua eficácia. N em todos que sabem alguma coisa
sobre Jesus crêem que ele é o unico Salvador do mundo, mas ambas as
coisas são necessárias à fé salvadora.
(3) A terceira afirmação sobre a fé é que ela é confiança. Qual­
quer pessoa, sabendo que Cristo veio para salvar os perdidos e crendo
que ele é capaz de salvar, confia nele e se entrega a ele. O apóstolo
Paulo disse: “ Eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é po­
deroso para guardar o meu depósito até aquele dia” (II Tim . 1 :12).
Podemos facilmente imaginar a experiência de uma pessoa que
viaja pela primeira vez num avião. Ouvir falar de um avião é saber que
o homem é capaz de voar. Y e r um amigo viajar de avião é crer que o
homem pode voar. Entrar no avião com o aviador sentado na direção,
pronto a movimentá-lo, é confiar na sua capacidade para movimentá-lo.
E quando já o avião está voando, combinam-se os três elementos da fé.
E, quanto mais o avião corre, mais firm e se faz a confiança no piloto.
Isto é uma ilustração da fé. Ela abrange conhecimento, crença e
confiança. É um ato, mas inclui toda a vida consciente e torna-se uma
atitude permanente da alma. É a disposição humana, que se une à graça
divina para form ar a base da nossa comunhão com Deus. Uma vez que
a comunhão continua na vida futura, a fé deve crescer e permanecer
para sempre'.

2. Relação com a salvação


Tendo definido a fé, resta-nos agora estudar sua relação com a sal­
vação. É ela a condição pela qual somos salvos; é o meio de nos apro­
priarmos do dom de Deus, a vida eterna. Ela mesma não nos salva, mas
é a condição ou traço de união que nos liga ao Salvador. “ Pela graça
sois salvos, por meio da fé ” (E f. 2:8).

61
Alguns acham uma grande dificuldade na relação da fé e das obras
com a salvação. Não há na verdade dificuldade alguma. Nossas obras
exibem a nossa fé, do mesmo modo que o fruto exibe a vida que há na
árvore. Se imaginamos que o homem possa ser salvo pelas suas obras,
não entendemos a natureza da vida salva. Esperar obras cristãs de uma
vida isenta de fé em Cristo seria o mesmo que esperar boas maçãs de
uma árvore bravia e sem cultura. O fruto mostra a qualidade e condi­
ção da árvore. E é assim que as boas obras testificam da condição inter­
na da vida.

III. C on fissão
A conseqfiênda inevitável do arrependimento do pecado e da fé em
Cristo é a confissão. " . . . visto que com o coração se crê para a justiça,
e com a boca se fa z confissão para a salvação. Porque a Escritura diz:
Todo aquele que nele crer não será confundido” (Rom . 10:10, 11).

1. Confissão de pecado
O arrependimento é uma nova compreensão do pecado, à luz da
nossa relação para com Deus, uma renúncia do pecado e uma determi­
nação de não pecar mais. Confessar é v ir a Cristo, dizer-lhe dessa mu­
dança de atitude e pedir a Deus perdão por m eio de Cristo. Assim como
o nascer do sol traz o dia, o verdadeiro arrependimento traz confissão.
São partes inseparáveis de toda a experiência genuína da graça salva­
dora de Cristo.
O pecado tem duas direções, fora da vida do pecador.
(1 ) Primeiramente, é contra Deus. E desde que o pecado é contra
Deus, deve ser confessado diretamente a ele. Não há apoio bíblico para
a prática do confessionário, onde os pecadores se ajoelham perante um
sacerdote, confessam-lhe os seus pecados e são perdoados. N a verda­
de, tal práticaé uma perversão das Sagradas Escrituras. Anula mesmo o
fim para o qual a confissão é exigida, e muito natural e facilmente de­
genera na licenciosidade do pecado. Jamais deveremos deixar de ensi­
nar que todo pecador necessita dirigir-se diretamente a Deus. confessar-
-Ihe b seu pecado e pedir-lhe perdão.
(2 ) A outra direção do pecado é contra o homem. A confissão
desta qualidade de pecado deve ser àquela pessoa contra a qual o pecado
fo i cometido. Deve ser tão prontamente feita como a confissão a Deus.
Tão depressa nos capacitemos de que temos agido injustamente contra
qualquer pessoa, devemos reconhecer a nossa falta, confessá-la a quem
tenhamos ofendido e pedir-lhe perdão. O verdadeiro cristão não neces­
sita ser persuadido a fazer isso, ele o faz voluntariamente. Há um espí­
rito de arrependimento no cristão, que o leva à confissão. Se há azedume
ou uma dificuldade pessoal entre dois membros de uma igreja, pode­
mos estar certos de que há entre eles falta de entendimento quanto à
doutrina neotestamentária a respeito do arrependimento e da confissão.
62
2. Confissão de Cristo

A confissão também diz respeito à fé em Cristo, como Filho de


Deus. F oi isto que Jesus recomendou a Pedro, como está registrado no
capitulo 16 de Mateus; e fo i isso também que Paulo escreveu em Rom a­
nos 10:10,11, passagem acima citada. Não podemos exercer fé em Cristo
sem expressá-la diante dele em oração. E crer nele é ter um impulso
irresistível de falar aos amigos a respeito dele. A prática batista de con­
vidar as pessoas a virem à frente no culto e fazerem pública confissão
de Cristo está em harmonia com a natureza do estado inicial da expe­
riência cristã. Isto permite a mais natural expressão de arrependimen­
to e fé.

IV . Santificação

1. Definição
Este é o ponto culminante da experiência cristã. N a santificação,
o cristão age conjuntamente e em harmonia com o Espírito, de modo
a atingir o mais alto nível de vida e serviço no seu reino.
(1 ) Significação da palavra, A significação original da palavra
“ santificar” é “ separar” . Em toda a sua história, a significação moral
tem sido secundária, enquanto que a idéia de separação tem sido primá­
ria. Santificar é separar uma coisa do uso comum e consagrá-la unica­
mente ao serviço de Deus. F oi a concepção de Deus que deu ao termo
a sua significação m oral e espiritual. Entre outros povos, no período
do Velho Testamento, sacerdotes e sacerdotisas eram chamados santos,
mas ao mesmo tempo tinham vidas imorais. Entretanto, entre os israe­
litas, aquilo que era santo tinha que ser medido pelo mais alto padrão
de moral. A diferença era que os israelitas conheciam o verdadeiro
Deus, enquanto que aos outros povos faltava inteiramente essa reta con­
cepção. Os israelitas sentiam que somente aquele que era limpo física e
moralmente podia ser utilizado no serviço de Deus.
(2 ) É um ato de completa consagração. Ê um ato mais do que
um processo. E é consagração mais do que purificação ou perfeição. A
mais clara expressão da idéia da santificação em o N ovo Testamento
acha-se no capítulo 17 de João, onde se lê: “ Santifica-os na verdade.”
A o registrar a oração, João usou a form a de um verbo que exprime ação
momentânea. É o ato de santificação. Jesus orou para que os discípulos
pudessem ser separados para o seu serviço, a mesma missão para a qual
o Pai o separara.
Para provar que a purificação não se acha diretamente envolvida
na santificação, basta só pensar nas seguintes palavras de Jesus: “ Santi­
fico-m e a m im mesmo.” Depois voltemos-nos para João 10:36, onde ele
se refere a si mesmo como “ aquele a quem o Pai santificou e enviou ao
mundo” . A única significação que se ajusta aqui é que Jesus se estava
consagrando à morte de cruz, a fim de poder executar completamente o
plano divino da salvação.

63
Ora, a palavra tem essencialmente a mesma significação quando
aplicada aos discípulos. Eles não são purificados do pecado pela santi­
ficação, pois que isto se verifica no perdão e na regeneração. Jesus não
tinha necessidade de perdão e regeneração, mas necessitava de santifi­
cação. Os discípulos necessitavam de todas as três coisas. Ninguém deve
pensar que pode entrar na vida santificada e permanecer num baixo
padrão de moral. Comunhão com Cristo e compromisso com o pecado
não podem continuar na mesma experiência. Prim eiro vem o novo nas­
cimento. A santificação vem a seguir. Não podeis ter a segunda, sem
terdes o primeiro.
(3 ) É uma atitude de vida. Jesus prosseguiu na sua oração, dizen­
do: “ E por eles m e santifico a m im mesmo, para que também eles se­
jam santificados na verdade.” Neste versículo, João emprega uma fo r­
ma verbal que indica ação completada. Poderíamos traduzr-lo da
seguinte form a: “ para que eles sejam santificados e permaneçam san­
tificados na verdade” , isto é, eles têm de executar um certo ato, que lhes
dará uma atitude fixa em relação a Cristo para todo o resto da vida
e para a eternidade. É a atitude de prontidão de servir, sem consideração
do custo, do lugar ou da qualidade do serviço. Se Cristo chama voluntá­
rios para uma tarefa especial, o seu seguidor santificado está pronto a
dizer: “ Eis-me aqui, envia-me a m im .” •
Queremos dizer, então, que santificação é crescimento em graça?
De modo algum. Crescemos em graça porque estamos santificados; não
é porque crescemos que estamos santificados. Q soldado cresce em co­
nhecimento e se aperfeiçoa porque está arregimentado no exército do
seu país. Ora, uma vez que ele consagrou a sua vida à causa, não so­
mente cresce em eficiência como soldado, mas quer usar toda a sua ca­
pacidade e sua vida para suprir toda e qualquer necessidade com que de­
fronte o seu país. Sua capacidade e perícia tomaram-se possíveis por
causa do seu ato de rendição e sua atitude de boa vontade para servir. Da
mesma form a, santificação e crescimento em graça não são uma e a
mesma coisa. Santificação é a vontade e determinação de usar a graça
e o conhecimento que temos para trazer a vitória à causa de Cristo.
Um dia durante a guerra civil de 1861-1865, indo o Capitão J. P .
Smith ao quartel do supremo comando do General Lee, este pediu-lhe
que dissesse ao General Jackson que a primeira vez que se dirigisse para
aqueles lados, teria grande satisfação em ve-lo, se bem que o assunto
que tinha a tratar não fosse de grande importância. Quando o Capitão
Smith entregou o recado ao General Jackson, este respondeu: “ Amanhã
mesmo, às 6 horas, seguirei, e desejo que me acompanheis.” N o dia
seguinte de manhã, caía uma tempestade de neve, mas ele, com seu com­
panheiro, seguiu o seu rumo. A o vê-lo sob a tempestade, o General Lee
lembrou-lhe que mandara dizer que o assunto não era de tanta impor­
tância que o obrigasse a uma viagem tão penosa. O General Jackson,
porém, respondeu-lhe: “ O menor desejo do General Lee é uma im por­
tante ordem de comando, e eu sempre m e alegro em obedecer pronta­
mente.” Esta deve ser a atitude do cristão santificado para com Cristo.

64
(4 ) É uma relação. Este ato e atitude indicam uma relação com
Deus. É uma relação de propriedade. 0 cristão que faz uma total ren­
dição de si a Cristo admite que Cristo é o senhor de sua vida. Pela
regeneração, justificação e adoção, Deus estabelece seu direito de pro­
priedade sobre o cristão. P or m eio da santificação, o cristão reconhece
e confessa essa propriedade e faz dela o principio fundamental da sua
vida. Se quereis entender a mordomia cristã, recorrei à doutrina da
santificação. Não haverá qualquer problema quanto ao que o homem
deve fazer com o seu tempo e com o seu dinheiro, se ele entregou sua
vida a Cristo. O de que necessitamos nas nossas campanhas de mordo­
mia é levar nosso povo a submeter-se ao Espirito de Deus, para guiá-lo
a se santificar e consagrar, numa completa devoção e rendição a Deus,
em resposta à oração de Cristo por todos nós. Se houvesse uma comple­
ta rendição e dedicação do nosso povo a Deus, a única campanha que
teríamos de fazer seria de informação e apresentação das necessidades.
As dádivas de suas vidas e dos seus recursos viriam espontaneamente.
Cristo pode satisfazer a todas as necessidades do seu reino, por meio das
vidas santificadas dos seus seguidores.
Há, também, a relação com o plano de redenção de Deus. A san­
tificação dos discípulos significa que eles devem ser completamente de­
votados a Cristo e à sua cruz, e à causa pela qual ele morreu, para po­
derem trazer aos povos da terra o poder de sua morte expiatória. Como
ele morreu m orte de cruz, para que o mundo pudesse viver por meio da
sua morte, assim eles devem consagrar-se a Cristo na nova vida, para
que o mundo possa, por meio deles, conhecer o seu poder de salvar;

2. O agente na santificação

A resposta à oração de Cristo pela santificação dos discípulos so­


mente poderia vir por meio da agência do Espirito SanJo. Esta é a razão
pela qual ele orou ao Pai para santificá-los. Eles não podiam fazer isso
com o seu próprio poder. Cristo podia santificar-se, mas, quanto a
ele, o Pai já o tinha santificado e o Espirito estava com ele através do
seu ministério. Ele orou pela santificação dos discípulos, porque sabia
que isto devia ser um ato divino-humano. A resposta veio no dia de
Pentecostes, quando eles ficaram completamente sob a influência do
Espírito. O Espírito veio sobre eles quando oravam para que ele viesse
e quando estavam prontos para recebê-lo e submeter-se à sua direção.
Veio para pô-los à parte e dedicá-los totalmente à obra para a qual Cristo
os escolhera, e lhes deu o poder para executarem a mesma obra. So­
mente na proporção em que eles seguiam o Espirito eram bem sucedi­
dos na obra de Cristo.
Não é de estranhar que João, na Ilha de Patmos, recebesse tão ma­
ravilhosa revelação. Ele eslava “ em Espirito no dia do Senhor” . O
Espirito de Deus manifestou-se de maneira toda especial naquele dia,
porque se manifestava regularmente por meio de João nas coisas de
cada dia. Era parte do plano da redenção que João recebesse aquela
mensagem de Cristo e a transmitisse aos cristãos de todos os tempos.
Mas João nunca estaria pronto a recebê-la, se não se tivesse rendido ao
Espirito, em resposta à oração de Cristo. Olhemos para trás e veremos
o desdobramento do plano de Deus na sua vida. Esse piano exigia a
santificação de João, sua completa consagração a Cristo.
De maneira semelhante opera a doutrina da santificação na nossa
vida. Quando fazemos a entrega completa de nossa vida a Deus, não
sabemos exatamente como o plano divino se desenvolverá na mesma.
Não e necessário que saibamos isso. Basta saber que o plano e o poder
e a sabedoria estão com o Espirito, e que quando o seguimos na santi­
ficação de nossa vida em Cristo, seremos levados por ele, de acordo
com aquele plano e poder e sabedoria.

3. O meio da santificação
Jesus orou: “ Santifica-os na verdade: a tua palavra é a verdade.”
Vemos, assim, que ele nos dá o meio da santificação. Seus discípulos
têm de ser postos à parte, consagrados a ele e à sua causa pelo Espirito
na Palavra de Deus. Têm que submergir as suas vidas na Palavra de
Deus. Têm que estudá-la, manejá-la, pensar nela, vivê-la. Têm que
pregá-la e orar sobre ela. Estude-se novamente o sermão de Pedro no
dia de Pentecostes e veja-se como ele usa o Velho Testamento. Estu­
dem-se as vidas dos discípulos e o seu testemunho após o Pentecostes, e
veja-se quão fiéis elas são às palavras de Jesus. Leia-se novamente a
1? Epistola de João e veja-se também como ele prova a genuinidade da
comunhão do crente pela sua posse da verdade.
Todo cristão professo deve examinar sua vida à luz da doutrina
neotestamentária da santificação. Tem êle devotado a sua vida, numa
rendição incondicional ao Espírito Santo, para o serviço no reino de
Cristo? V ive pronto a responder a qualquer chamada especial que lhe
seja feita? Alimenta-se diariamente da Palavra de Deus?
Tenho dado tempo e espaço a este assunto porque creio que é a
m aior das necessidades cristãs na atualidade. É a necessidade de prega­
dores, professores, leigos, enfim, de todos os crentes. Esta é uma fase
da experiência cristã que é hoje evidentemente conhecida e praticada
apenas por um pequeno número de seguidores de Cristo. Deixai-me re­
petir o que afirm ei acima — Cristo pode atender a todas as necessi­
dades do seu reino por meio das vidas santificadas dos seus seguidores.

66
C APITU LO V I

O Lado Divino da Experiência Cristã


E s b o ç o

I. Perdão
1. Definição
2. Baseado na morte de Cristo
3. Realizado por meio da confissão
4. Perdão humano
II. ' Regeneração
1. Definição
(1) Não é a criação de uma nova constituição cm nós
(2) Criação de uma nova disposição
(3 ) Um ato de Deus
' (4) O enxerto de uma nova vida
2. O agente, o Espírito Santo
3. O meio usado, o Evangelho de Cristo
4. A certeza da regeneração
(1) Pelas Escrituras
(2) Pela experiência
(3) Pelos frutos da vida

III. Justificação
1. Definição
2. Baseada na morte de Cristo
(1 ) Sua m orte é uma propiciação pelo nosso pecado
(2 ) Sua morte preserva a justiça de Deus na justificação dos
pecadores
3. Condicionada pela fé e pelo arrependimento
4. É mais uma relação vital do que legal
5. Relação da justificação com o perdão e a regeneração
IV . Adoção
1. Definição
2. A paternidade de Deus e a filiação do homem
3. A consciência da filiação

68
C A PÍTU LO V I

O LADO DIVINO DA EXPERIÊNCIA CRISTÃ


Passamos agora a considerar as fases da experiência cristã que só
podem ser explicadas quando são atribuídas à obra da graça de Deus
no coração do crente.

I. Perdão
Quando falamos da experiência cristã, temos em mente uma gran­
de transação entre Deus e o homem, da qual o perdão, a regeneração,
a justificação e a adoção são as fases essenciais. E quando estudamos
cada fase separadamente, não estamos dizendo que é independente do
resto da experiência. Estamos meraniente insistindo que são aspectos
definidos do trabalho redentor de Deus efetuado em nós. Vemos a dis­
tinção entre perdão e justificação e, não obstante, ambos se acham con­
tidos numa grande experiência. Estudaremos, agora, o perdão em si
mesmo.

1. Definição
O termo comum do N ovo Testamento grego, traduzido em nossa
língua por “ perdão” literalmente significa “ mandar embora” . A refe­
rência é à disposição de Deus em relação aos nossos pecados. Ele os
afasta. Foram cometidos contra ele, mas ele os remove de si mesmo.
Isto é, não os mantém contra nós. '
Outra palavra grega para “ perdão” , usada com menos freqüência.
significa “ dar livremente” , “ mostrar-se gracioso” , “ conceder perdão” ,
“ dispensar favor” . A referência é à atitude de Deus para com o homem
no tratamento do pecado.
O perdão se refere aos pecados individuais e ao efeito que eles pos­
sam ter em Deus. Quando nos achegamos a ele pela fé, achamos que
ele tem afastado de si mesmo as nossas transgressões, de modo que ele
não é mais influenciado por elas na sua atitude para conosco. Desde
que não há garantia de que possamos viver uma vida perfeita neste
mundo, há a necessidade da repetição do perdão. P or isso Deus necessita
estar constantemente perdoando os nossos pecados.

69
Se o pecado fosse simplesmente um erro, um erro inevitável no
processo do crescimento, o resultado do qual pudesse ser definitivamente
fixado, o perdão seria coisa de pouca monta. Deus poderia perdoar com
um gesto, uma vez por todas, e deixar que o homem vencesse o seu
pecado. Mas o seu plano é inteiramente diferente. O pecado é uma que­
bra voluntária de relações pessoais. Portanto, o perdão necessita ser
uma resposta pessoal de Deüs. Esse pei’dão diz respeito a cada pessoa
e a cada um do seus pecados.
2. Baseado na morte de Cristo
O perdão de pecados é baseado na morte de Cristo. Esta é a signi­
ficação das palavras de Jesus: “ Isto é o meu sangue, o sangue do Novo
Testamento, que é derramado por muitos para remissão de pecados.”
A morte de Jesus teve uma dupla relação com o perdão. Em primeiro
lugar, revelou o infinito amor de Deus e até que ponto vai esse amor a
fim de salvar o homem. E, em segundo lugar, revelou que o poder de
Deus é muito maior que o pecado. Deus pode perdoar, não importando
a grandeza do pecado. Há uma só exceção, a do pecado imperdoável,
que demonstra uma completa perversão moral da parte daquele que o
comete, e deste modo Deus não tem acesso àquela vida. Cristo revelou
o infinito amor de Deus no seu desejo de morrer pelos nossos pecados
e no seu poder de ressurgir dos mortos e quebrar o poder do pecado.
3. Realizado por meio da confissão .
Se confessarmos os nossos necados, ele nos perdoará. Mas, que
queremos dizer por confissão? Ela compreende arrependimento e fé,
perdão de pecados que outros tenham cometido contra nós, e oração a
Deus, pedindo perdão pelos nossos próprios pecados. Desse modo, o ho­
mem está preparado para entrar em comunhão com Deus.
Talvez nossamos compreender isso melhor por uma analogia. A
mãe vê seu filh o praticar um mau ato, e sente-se magoada. Não obstan­
te, ela, no seu intimo, perdoa e anseia por vê-lo voltar arrependido, con­
fessando-lhe lealmente a sua falta e pedindo-lhe o perdão que ela deseja
dar-lhe. Ela mesma vai a ele e mostra-lhe o seu pecado, concitando-o
a que se arrependa e não mais pratique tal ação. Então o rapaz reco­
nhece que praticou uma ação má, desobedecendo à sua mãe. Enquanto
ele deixa de v ir confessar francamente o seu pecado à mãe. há um estre­
mecimento de relações entre eles. O coração da mãe está ansioso por
dar-lhe o perdão, mas ele deve pedi-lo. Dar-lhe perdão sem confissão
seria encorajá-lo na prática do pecado. Finalmente, ele faz uma confis­
são completa de tudo, mostrando-se arrependido. Então descobre que
sua mãe não guardará ira contra ele, antes estava pronta, esperando-o.
e desejando ardentemente que ele voltasse, para lhe perdoar.
4. Perdão humano
Uma palavra deve ser dita aqui sobre o perdão humano. Este é m ol­
dado pelo ato divino. A mesma significação tem ele, e a mesma atitude
se lhe aplica. Se uma pessoa peca contra mim, devo perdoar-lhe logo.

70
Não devo manter o meu coração irado contra ela nem mesmo durante
um minuto; e quando ela m e pedir perdão, poderei dizer-lhe que já lhe
havia perdoado. Mas alguém talvez diga: N ão posso perdoar-lhe en­
quanto não vier se desculpar.” Se assim é, estais guardando o mal no
vosso coração, e isto não é cristão. Antes deveis logo afastar de vós a
sua culpa, perdoar-lhe, e quando ela vier a vós pedir perdão, a porta
já estará aberta para ambos no caminho da boa fraternidade.
Temos que perdoar àqueles que pecam contra nós, se pedimos e
esperamos de Deus que nos perdoe. Isto não quer dizer que Deus mede
a sua graça para conosco peio mesmo padrão com que nós medimos o
nosso tratamento para com os nossos semelhantes. Significa antes que
nós devemos ser guiados pelo padrão do perdão de Deus. E significa
que nós não estaremos em espirito preparados para rèceber o perdão
de Deus enquanto não estivermos aptos a perdoar do mesmo modo
àquele que nos ofendeu. Verdadeira confissão, arrependimento e fé im ­
portam numa complèta renúncia do pecado e no conceder também per­
dão àqueles que tenham pecado contra nós.
II. Regeneração
i. Definição
Quem poderá dizer exatamente o que é o novo nascimento e como
ele se opera? Porque é uma mudança divina operada na vida humana,
não nos é possivel saber como ela se efetua. Sabemos, porém, alguma
coisa acerca da regeneração, ensinada pela Bíblia.
(1 ) Não é a criação de uma nova constituição em nós. Esta idéia
tem prevalecido entre muitos. Tem-se dito que Deus pôs em nós uma
nova alma, constituída por ele. Sobre esta base o pecado é explanado.
Quando fazemos a vontade de Deus, é este novo ser em nós que está agin­
do, de acordo com a sua natureza como criatura de Deus. E quando
pecamos é a velha natureza que age, que é de Adão e depravada pelo
pecado. Esta interpretação não resiste a um estudo das Escrituras.
(2 ) É a criação de uma nova disposição. O homem fo i criado à
imagem de Deus. Isto significa que ele fo i constituído por Deus e re­
cebeu uma capacidade de buscar a Deus. O pecado é uma violência a
essa imagem, mas não a destruiu. Torceu-a, perverteu-a e contaminou
aquela imagem e separou o homem de Deus. Mas fo i deixada no homem
a possibilidade de voltar para Deus, desde que o problema do pecado
seja resolvido. Isto é realizado por meio de Jesus Cristo.
Quando falam os sobre a resposta do homem à iniciativa de Deus na
salvação, concordamos que o arrependimento é uma mudança de ati­
tude para com o pecado, uma renúncia do pecado. Ora, a regeneração
é operada nesta experiência, da qual o arrependimento é uma parte.
Como o arrependimento é uma mudança de atitude para com o pecado,
assim a regeneração é uma mudança de disposição para com o pecado
e Cristo. Na criação, fom os constituídos para Cristo. Na regeneração,
aquela constituição espiritual é purgada do pecado e estabelecida numa
verdadeira disposição para com Cristo.

71
(3 ) É um ato de Deus. A regeneração é um ato de Deus, e nâo um
empreendimento do homem. Verdade é que o homem deve satisfazer
às condições necessárias antes que possa ohtê-la, mas há uma diferença
entre pedir a Deus para fazê-la por nós e fazê-la por nós mesmos. Deus
regenera a vida do crente. É um ato momentâneo, e não um processo.
O homem pode levar longo tempo até chegar a satisfazer a todas as
condições. Pode gradualmente chegar ao ponto de romper com o pe­
cado e confiar em Cristo, mas, uma vez que se arrependa e creia, Deus
está pronto para executar a sua obra de regeneração.
(4 ) É o enxerto de uma nova vida. A regeneração é um ato de
Deus, no qual ele renova em nós a sua imagem. É uma renovação vital.
É a transformação da vida que é efetuada pela influência de um novo
poder de vida e espírito em nós. É alguma coisa semelhante ao enxerto
de uma árvore. Eis aqui uma árvore que não dá fruto. É uma árvore
cansada e enfraquecida, que, mesmo quando dá fruto, esle é raquítico,
de ruim qualidade e escasso. Mas lá adiante está uma outra arvore,
vigorosa, vicejante, carregada de bom e abundante fruto. 0 hor­
ticultor experimentado toma a sua faca de enxerto, corta um galho
da boa árvore, faz uma incisão na má árvore e enxerta nela o galho da
boa árvore. Esse galho, se pegar bem, transforma a natureza da árvore
má, começando, no devido tempo, a produzir bom e abundante fruto,
como sucedia com a boa árvore, da qual proveio o enxerto. N ão fo i a
criação de uma nova árvore, mas a transformação de uma árvore má e
que produzia poucos e maus frutos em boa e frutífera. Isto é o que faz
o novo nascimento no crente.
O espírito que vem ao crente por meio do novo nascimento leva-o
a uma vida nova, a uma esfera nova de atividade. O cristão tem uma
nova disposição. Agora ele tem um novo interesse, novos ideais e moti­
vos. V ive numa esfera de realidades até então desconhecidas para ele.
2. O agente

Deus opera esta mudança na nossa vida por meio do Espírito Santo.
É Deus mesmo, na presença e poder do Espírito, que opera isto na nossa
vida. É um agente pessoal, pois que a mudança é pessoal. Nenhum fator
impessoal poderia produzir uma tal transformação de vida. É um poder
divino, pois que o poder humano não pode transformar vidas. Os filhos
dos cristãos não são cristãos enquanto não se operar neles o que nós
chamamos regeneração. O diabo ocupa-se em plantar e cultivar o pe­
cado nas suas vidas e pode destrui-las antes de serem salvas. O único
poder bastante forte para vencer o pecado que é plantado em nós e
transformar a nossa vida é o Espirito Santo.
Suponde que vos achais numa certa catedral e ouvis alguém dizer
que Rafael estivera uma vez naquela catedral. Se lhe perguntásseis
como sabia isso, ele apontaria para uma pintura existente na parede e
diria que só Rafael, o grande artista, poderia fazer aquela pintura. Assim
é também com a regeneração. A própria experiência testifica a presen­
ça e o poder de Deus.
1
72
3. O meio usado
O Espirito de Deus opera diretamente na nossa vida, e usa, como o
cirurgião, instrumentos na operação. 0 Espírito Santo usa a Palavra de
Deus. Assim exortou Tiago: “ Recebei com mansidão a palavra em vós
enxertada, a qual pode salvar as vossas almas” (Tiago 1:21). A palavra
“ enxertada” pode ser considerada como se referindo ao novo nasci­
mento. Essa palavra pode ter sido enxertada na nossa vida por
meio da mensagem que é pregada na igreja ou por meio do teste-
mundo pessoal que é dado por um cristão numa conversação. Mas essa
Palavra de Deus necessita ser usada diretamente pelo Espírito de Deus.
Ele opera em nossa experiência do seguinte m odo: Lemos a Bíblia
ou ouvimos a mensagem pregada do evangelho ou algum testemunho
bíblico. Recebemo-lo na nossa mente e no nosso coração, e meditamos
sobre ele. O mesmo nos diz como podemos ser salvos — que é por meio
da fé em Cristo. O Espírito de Deus dá vida à mensagem que ouvimos
e nos leva ao arrependimento e à crença, e então ele pode infundir em
nossa vida a sua própria presença e poder e nós somos nascidos de cima.

4. A certeza da regeneração
Poderemos saber que tivemos esta experiência e que estamos salvos?
Certamente podemos. Um cristão não deve estar satisfeito enquanto não
adquirir a certeza de que é um filho de Deus, um cidadão do reino de
Deus, um espirito regenerado. Há três meios de saher isso:
(1 ) Pelas Escrituras. A Bíblia nos fornece as condições a que te­
mos de satisfazer a fim de podermos ser regenerados. Essas são arrepen­
dimento e fé. Temos que satisfazer a essas condições e entregar-nos nas
mãos de Deus. Podemos estar certos de que, se fizerm os a nossa parte,
Deus fará a sua. Ele guarda a sua palavra.
(2 ) Pela experiência. Sabemos, pela nossa própria experiência com
o Espirito Santo, que temos sido feitos filhos de Deus por meio do novo
nascimento. “ O mesmo Espirito testifica com o nosso espirito que so­
mos filhos de Deus” (Rom . 8:16). E esta certeza aumenta à medida que
a nossa comunhão com o Espírito cresce.
(3 ) Pelos frutos da vida. Se a vida produz os frutos do Espirito,
podemos estar certos de que tal vida é nascida do Espirito. Lede nova-
menfe Gál. 5:22-24. Quando m e acho inclinado a duvidar da minha ex­
periência de regeneração, façôTa m im mesmo ãs seguintes perguntas:
/ãino eu as^ãlmas- cíoí perdidos a ponto de "deixar que b ESpirito dê Deus '
por meu intermédio as atinja com o convite da salvação? Am o eu a Pa­
lavra de Deus de modo a lê-la com prazer e satisfação? Am o eu a Igreja
j de Cristo a ponto de servi-la com lealdade e satisfação? Tenho eu con-\
sagrado a minha vida ao adiantamento do reino de Deus-por meio da
comunhão com o Espirito e para..a glória de Cristo?^ A pessoa que não
desejar enfrentar estas perguntas tem justos motivos para duvidar da
realidade da sua experiência de regeneração. Aquele que alegremente as

73
enfrenta e procura dar-lhes resposta na sua vida pode estar certo de que
é um filho de Deus.
111. Justificação
Surge, nesta altura, uma importante pergunta doutrinária. Que é
justificação? Pare o leitor aqui e veja se pode dar resposta à pergunta
antes de prosseguir.
1. Definição
Justificação é o ato judicial de Deus, no qual ele declara o pecador
arrependido livre de culpa e condenação, e o restaura ao fa vor divino.
Realiza-se quando o pecador confia em Cristo e nos seus méritos para
a salvação. A palavra grega usada em o N ovo Testamento significa “ de­
clarar justo” . A referência é à situação do homem perante o tribunal
da justiça divina. N o pecado, o homem está condenado, pois quebrou a
lei e desafiou a Deus; em Cristo, o cristão está absolvido da culpa e li­
berto da condenação. Este é um ato somente de Deus e não necessita ser
repetido. Uma vez por todas, ele atribui a justiça de Cristo àquele que
crê nele. A justificação dá ao crente um estado permanente perante Deus,
uma nova relação que nunca será quebrada, o que é possível em razão
de ser obra de Deus. Isto nos leva à base sobre a qual ela se realiza.
2. Baseada na morte de Cristo
(1 ) A morte de Cristo tem uma significação dupla para a nossa
justificação. Em primeiro lugar, ela fo i uma propiciação pelo nosso pe­
cado. Isto significa que ele sofreu o pior que o pecado podia causar; e
o fe z em nosso lugar, a fim de poder fazer a m aior revelação possível
.do amor de Deus pelo homem. Deus não poderia dar uma prova m aior
do seu amor ao homem. A m orte de Cristo rem ove todo obstáculo uo
caminho da justificação do homem, exceto a vontade individual.
(2 ) Em segundo lugar, a m orte de Cristo preserva a justiça de
Deus na justificação dos pecadores. Se a justiça de Deus é* posta em
dúvida quando ele salva o pecador, deve ser lembrado que Jesus provou
a morte por esse pecador. A justiça de Deus não é revogada, antes é
revelada mais claramente. Deste modo, sobre o fundamento da morte
de Cristo, Deus é “ justo e justificador daquele que tem fé em Jesus”
(Rom . 3:26).
3. Condicionada pela fé e pelo arrependimento
Conquanto a justificação seja ato direto de Deus, o homem necessita
satisfazer à condição de fé e arrependimento. É a misericórdia e a graça
de Deus que faz possível ao homem pecador e culpado ser justificado.
Mas cada um tem que reconhecer a sua culpa, confessar o seu pecado e
confiar-se à misericórdia do tribunal da justiça de Deus, a fim de poder
ser absolvido. Se ele pensa em apresentar um volume de boas obras,
esperando com isso ser justificado, estará procurando alcançar o impos­
sível. Com suas próprias forças o homem nunca se poderá livrar do
74
seu fardo de pecado. Além disso, se ele pudesse ser justificado pelas suas
próprias obras, a atitude essencial do cristão para com Deus perder-se-ia.
Tornar-se-ia aos seus próprios olhos justo, vaidoso, arrogante. Mas o
cristão que é justificado por Deus por meio de Cristo, em quem deposi­
tou a sua confiança, é humilde e procura deixar que o poder de Deus
opere nele e por meio dele.
F é em Cristo é mais do que simplesmente uma condição que Deus
exige de nós. Ele não é um Deus tirânico, que nos ameaça, se não fizer­
mos a sua vontade. Antes é um P ai todo sábio, que sabe como realizar
o m áxim o por meio dos seus filhos. A fé é a união vital com Cristo que
habilita Deus a operar em nós por nosso intermédio;

4. É mais uma relação vital que legal


Duas verdades já estabelecidas evitam que pensemos da justifica­
ção apenas como uma transação legal. Uma é que ela é executada para
nós por meio da morte de Cristo. Os benefícios da sua morte somente
podem ser recebidos por meio da presença do Espírito Santo. Cristo
morreu, ressuscitou e ascendeu ao Pai. O Espírito o torna presente para
nós e em nós. Ninguém pode gozar as obras de Cristo à parte da pre­
sença e obra do Espírito Santo. Isto torna a justificação uma experiên­
cia vital, mais do que uma transação legal.
A outra verdade é a que fo i discutida acima, isto é, a fé como uma
condição. Esta é a nossa resposta à intercessão do Espírito. Ele nos
constrange a levar o nosso problema do pecado a Cristo, prometendo
que Cristo nos limpará completamente. Quando fazemos isso, exerce­
mos fé nele. Ele nos dá uma nova posição, um estado de justiça perante
ele e o resultado é uma união vital do crente com Cristo por meio do
Espirito Santo.

5. Relação com o perdão e a regeneração '


Que tem a justificação a ver com o perdão e a regeneração? Con­
servemos claras as distinções. Enquanto a justificação se relaciona com
a culpa e condenação, o perdão refere-se aos pecados, coletivos e indivi­
duais. Pelo fato de Deus perdoar os nossos pecados, ele os remove do
caminho que nos leva a ele. Pelo fato de nos justificar, ele remove a
culpa e a penalidade, quando vamos a ele, e assim nos recebe em nova
relação. Sem perdão não nos poderíamos aproximar dele.
A relação entre a justificação e a regeneração deve ser lembrada,
a fim de evitar o erro de justificação fictícia. Alguns podem levantar a
objeção que, se Deus absolve um pecador, simplesmente declarando-o
inocente, então ele não é reto e justo. E a objeção teria razão de ser, se
não houvesse a regeneração. Mas, quando Deus justifica, também re­
genera, o que significa que o cristão é um pecador salvo — uma nova
criação em Jesus Cristo.
Certa noite, eu insistia com um homem para dar o seu coração a
Cristo. Eu podia ver que ele queria ser um cristão de fato. Estava pro­
fundamente agitado e preocupado. Finalmente, chegou-se a m im e disse:

75
o C P e lo que entendo da Biblia, nenhum assassino poderá entrar no reino
de Deus, e eu sou um assassino.” Respondr-lhe prontamente que ele não
entendia o plano da salvação de Deus. Ninguém que permaneça assassi­
no poderá entrar no reino de Deus, mas qualquer que seja o número e
grandeza dos pecados de um homem, ele pode ser transformado de um
pecador num filho de Deus, se arrepender-se do seu pecado e confiar em
Cristo. Se ele deixar que Cristo o salve, não será mais um assassino.
Pela justificação, Deus nos declara isentos de culpa. Por meio do per­
dão, Deus rem ove o pecado que existia entre ele e o pecador. P o r meio
da regeneração, Deus lhe dá um novo coração, novos desejos e motivos.
Em outras palavras, Deus o transforma, de modo que pode entrar no
reino de Deus e fazer nele a sua habitação. Meu amigo compreendeu
o que eu lhe queria dizer e fez uma completa entrega do seu coração
a Cristo. Depois desse momento, a alegria de sua alma se tornou uma
inspiração para todos os que o conheciam.

IV . Adoção
1. Definição

Adoção é o ato pelo qual Deus faz o crente seu filho. É a manifes­
tação externa do ato interno da regeneração. Assinala o clímax da obra
salvadora de Deus. O perdão e a justificação apontam para ela como a
coroa da experiência cristã. Vemos aqui o propósito de todo o esforço
salvador realizado por Deus. É o de trazer o homem à comunhão com
ele. Isto explica todo o tratamento de Deus em relação ao pecado e aos
pecadores. A morte expiatória de Cristo, o testemunho do Espírito Santo,
o perdão, a justificação, a adoção e a regeneração — tudo concorre para
completar a adoção de muitos filhos, nesta gloriosa relação para com
Deus, o Pai.
Este termo tem uma significação muito mais rica do que comu-
mente se lhe atribui. Quase sempre, quando se adota como filho uma
criança, é considerada em plano inferior ao dos próprios filhos da fa ­
mília. Não há a união vital do sangue entre os pais e a criança adotada.
É uma transação legal, com uma oportunidade para a criança crescer
e se desenvolver no espírito de familia. Ora, a adoção do cristão como
filho, da parte de Deus, não se reduz a esse plano. Há de fato uma co­
nexão vital estabelecida entre eles, porque Deus regenera e cria no cristão
uma vida nova. Deus põe no homem o seu Espirito. Desde que ele é
convertido, assemelha-se a Deus, como o filh o se parece com o seu pai.
Torna-se realmente, por lei e por natureza, um filho de Deus. Assim,
pois, na adoção Deus recebe o cristão em relação de fam ília consigo
mesmo, fazendo-o realmente um filho seu. A regeneração faz com que
esta operação seja mais que uma transação meramente legal.
Justificação e adoção mostram os dois aspectos do caráter de Deus,
como são vistos na experiência salvadora — o judicial e o paternal. No
primeiro, ele é juiz tratando com o transgressor. N o segundo, é o Pai
tratando com o filho. Não há conflito entre os dois. Nem há qualquer se-

76
paração de tempo ou de processo entre justificação e adoção. Deus faz
ambas as coisas ao mesmo tempo, ambas são permanentes e não exigem
repetição.

2. A paternidade de Deus e a filiação do homem


Esta é uma questão preeminente, que vem em conexão com a dou­
trina da adoção. Se concordamos que Deus é o criador de todas as
coisas, então devemos reconhecer que ele é, num sentido geral, o Pai
de todos os homens e que o é num sentido diferente daquele em que é
Pai de toda a criação. Criou o homem e pôs nele alguma coisa de si
mesmo. “ Soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida, e o homem tornou­
-se um ser vivente.” Além disso, ele é Pai dos cristãos num sentido mais
particular, pois que operou neles um ato criador mais elevado, no qual
nos toma numa relação de família. Há, deste modo, uma revelação pro­
gressiva da Paternidade de Deus.
De modo semelhante pode ser vista a filiação do homem. Num
sentido genérico, todos os homens são filhos de Deus, pois que são suas
criaturas. Mas Deus fez do homem um agente moral livre, com a fa ­
culdade de escolha entre o bem e o mal. Quando escolhe o mal, quebra
a relação que havia entre ele e Deus. Não somente o pecado viola a re­
lação existente, mas também viola a disposição moral do homem como
filho. Não mais age como filho, mas como um estranho e inimigo.
Ora, o melhor que podemos dizer é que o homem é potencialmente capaz
de se tornar de novo filho de Deus. 0 que lhe falta, e deve ter para ser
um verdadeiro filho de Deus, é uma renovação da disposição moral, que
é a regeneração, e uma aceitação da parte de Deus, que é adoção. Há,
assim, uma realização progressiva de filiação a Deus. Está baseada na
criação, anulada pelo pecado, renovada na regeneração e permanente­
mente restaurada na adoção.
A Parábola do Filho Pródigo é a melhor ilustração deste ensino. A
paternidade de Deus é nela retratada em bela linguagem. Ele é constante
no seu amor para com o filho. Não há nele mudança ou variação. Está
pronto a deixar a escolha à vontade do filho, mas está pronto e desejoso
de lhe dar as boas-vindas ao lar. O filho pródigo representa o homem
que deixa Deus e escolhe o pecado. Segue o seu caminho à vontade.
Quando cai na necessidade e miséria, começa a lembrar-se da fartura,
do bem-estar e da bondade que gozava quando estava na casa do pai.
Reconhece, então, quão ingrato fora para com seu pai e quão grande­
mente pecara contra ele. Sua única esperança agora é voltar a seu pai,
confessar-lhe seu pecado e pedir-lhe perdão. Isto ele faz, e que glorio­
so encontro há entre eles! O pai, em regozijo, diz: “ Este meu filho
estava morto e reviveu, tinha-se perdido e fo i achado.” Assim o filho,
que vivia em pecado, não era filho, senão um filho morto para o pai.
Tendo escolhido viver em pecado, perdeu a filiação. Tinha ainda a cons­
tituição derivada de seu pai, mas a relação filia l não existia mais. Agora
ele se entrega à misericórdia e ao amor de seu pai e é restaurado à po­
sição e relação de filho.

77
3. A consciência da filiação
Este é o clímax, do lado humano, da obra salvadora de Deus. T e ­
mos, agora, uma segurança, uma ousadia de nos aproximarmos de Deus,
que nunca podíamos ter tido sem sermos feitos filhos de Deus. Isto
afugenta todo temor, salvo o tem or de não sermos bons filhos. Fran­
queia-nos vastos recursos de comunhão, bem como de poder e sabedo­
ria. Ele está sempre pronto a ouvir a nossa petição. Podemos recorrer
a ele em cada necessidade e problema, bem como nas nossas alegrias
e sucessos. Somos filhos de Deus. Agora crescemos à sua semelhança.

78
C A PÍTU LO V II

A Igreja e as Ordenanças
Esboço
I. A Igreja
1. A natureza da Igreja
(1 ) A significação do termo
(2 ) Conceito institucional
(3 ) Corpo local
(a ) Composta de crentes regenerados
(b ) Composta de crentes batizados
(c ) Fundada por Cristo
(d ) O propósito da Igreja

2. Autoridade
(1) Autônoma e democrática
(2 ) Relações com outras igrejas — cooperação
(3 ) Relações com o governo civil — separação

3. Organização
(1 ) O padrão do Novo Testamento
(2) Bispos, anciãos ou pastores
(3 ) Diáconos

II. As Ordenanças
1. O batismo
(1 ) Form a do batismo — imersão
(2 ) Significação do batismo
(3 ) Obrigação de ser batizado
2. A Ceia do Senhor
(1 ) Duas interpretações quanto à significação da Ceia
(2) A obrigação de celebrar a Ceia
C A PÍTU LO vn

A IGREJA E AS ORDENANÇAS
I. A Igreja
Tendo aceitado Cristo como Salvador e se entregado a ele como
Senhor, o passo imediato para o cristão é unir-se à Igreja. Será mostra­
do neste capitulo que este é o processo inevitável da experiência cristã.
Não somos salvos por nos unirmos à Igreja, mas nos unimos a ela por­
que fom os salvos e queremos servir a Cristo, unindo-nos à sua obra de
salvar outros. A relação estabelecida entre Deus e o cristão, por meio
da regeneração e da santificação, chama-o à comunhão na Igreja.

1. A natureza da Igreja
(1 ) A significação do termo. A palavra grega “ ecclesia” , que tra­
duzimos por “ igreja” , literalmente significa “ chamado para fora” . Ori­
ginalmente, significava uma assembléia de cidadãos, chamados para fora
dos seus lares a alguma praça pública. A palavra é usada freqüentes
vezes para designar um conselho convocado com o fim de deliberar
sojare assuntos de interesse de uma cidade. Temos um exemplo de tal
praxe em Atos 19:39. Achamos este termo “ igreja” mencionado cento
e catorze vezes em o Novo Testamento. Em cinco delas não significa
igreja como nós agora entendemos, mas um ajuntamento geral ou assem­
bléia cívica. Nas outras cento e nove, porém, designa propriamente “ igre­
ja ” , e é usado para indicar uma corporação ou assembléia do povo de
Cristo.
(2) Conceito institucional. Há algumas passagens nas quais a pa­
lavra é empregada para designar a igreja como uma instituição e não
como uma organização particular. O lar, abstratamente falando, é uma
instituição criada para a propagação e cultura da família. Cada lar, espe­
cificamente falando, é modelado, de um modo mais ou menos geral,
segundo o tipo sugerido pela palavra “ lar” . Assim também falamos da
escola. Qüando usamos o termo abstratamente, referimo-nos a uma ins­
tituição onde a instrução é dada pelos professores aos alunos. E quando,
por exemplo, dizemos que “ a escola é a esperança do futuro da nossa

81
nação” , queremos simplesmente designar o tipo de instituição em que se
ministra a instrução à nossa mocidade.
É deste modo que algumas vezes se fala da Igreja como uma insti­
tuição. É o tipo pelo qual cada igreja local deve ser modelada, e do qual
cada igreja em algum sentido é uma parte. Esta é a força do uso da
palavra em Mat. 16:18. Jesus fundou a sua Igreja uma vez, e cada cor­
poração e cada congregação que pretende esse nome, deve ser consti­
tuída sobre o mesmo fundamento e cingir-se àquele mesmo tipo geral.
Deve ser dito aqui que não está de acordo com o uso do N ovo Tes­
tamento falar de uma denominação ou seita como “ a Igreja” . P o r exem­
plo, os católicas erroneamente se referem à sua organização geral como
“ a Igreja” . Se queremos nos referir à Igreja como a uma instituição,
é correto dizer: “ a Igreja” , mas se queremos nos referir a um grupo de
igrejas em qualquer região, então deve-se dizer “ as igrejas” e não “ a
Igreja” .
(3 ) Corpo local. Se temos que definir a Igreja do N ovo Testa­
mento, só temos que pensar em defini-la como uma corporação local.
Com isto em vista, podemos dizer que uma igreja do N ovo Testamento
é um corpo de crentes batizados, fundado por Cristo com o fim de di­
fundir o seu reino na terra. Para bem se entender esta definição, temos
que dar quatro explicações.
(a ) Composta de crentes regenerados. Somente aqueles que expe­
rimentaram a graça redentora de Deus no seu coração devem pertencer
à Igreja. H aja lembrança de que só depois que Pedro fez a sua gran­
de confissão fo i que Jesus disse: “ Sobre esta pedra edificarei a minha
igreja” (Mat. 16:18). Ele disse também que isto não fora revelado a Pe­
dro pela carne e o sangue, mas “ por meu Pai que está nos céus” .
Seguimos o padrão aqui sugerido, insistindo que a Igreja de'Cristo
somente pode ser estabelecida no coração dos crentes que tenham sido
iluminados pelo Espirito de Deus e tenham confessado Cristo perante
o mundo. Portanto, os batistas insistem que cada candidato a membro
da Igreja faça perante ela, em sessão, uma confissão pública da sua fé.
Nessa confissão, a pessoa diz à Igreja que depositou em Cristo toda a
sua confiança para a vida e salvação eterna, fo i regenerada pela graça
de Deus, e agora se propõe a seguir a Cristo, em obediência à sua
vontade.
(b ) Composta de crentes batizados. Uma igreja do N ovo Testa­
mento é, conseqüentemente, um corpo de crentes em Cristo que foram
batizados e se agregaram com o fim de levar adiante a sua causa no
mundo. Quando chegarmos à consideração das ordenanças, veremos a
significação do batismo. Basta, por agora, dizer que ele é uma condição
prévia para a entrada como membro na Igreja. Isto não é afirmado em
toda a extensão, mas é sempre claramente indicado. Os discípulos foram
todos batizados e Jesus incluiu o batismo na grande Comissão que lhes
entregou antes de subir ao céu. No dia de Pentecostes, os discípulos
exortaram o povo a se arrepender e ser batizado. Paulo fo i batizado em
Damasco pelos representantes da igreja que ele estava perseguindo. Cor-

82
nélio e os que o acompanhavam foram batizados depois que Pedro lhes
pregou. O carcereiro de Filipos e sua fam ília foram batizados quando
entenderam e aceitaram o plano de salvação.
(c ) Fundada por Cristo. Jesus fundou a sua Igreja sobre a fé dos
discípulos nele como o Filho do Deus vivo. O ensino da Escritura sobre
isto é perfeitamente claro. Este é o princípio básico da Igreja do Novo
Testamento. E esta será sempre a sua base.
Está em harmonia com esta idéia o que Paulo escreveu de Cristo
como a cabeça da Igreja. (Leia-se Ef. 1:22; 4:15; 5:23; Col. 1:18.) Todas
as atividades da Igreja devém ter a direção dele. Ele é o centro e união
de todas as coisas. Como ele é o Senhor da vida cristã, deve reinar como
Senhor entre os cristãos em sua vida eclesiástica. É dever e função da
Igreja exaltar Cristo como a cabeça.
(d ) O propósito da Igreja. O propósito de uma igreja do Novo
Testamento é duplo: o cultivo espiritual dos seus membros e a difusão
do reino de Cristo na terra. Crentes batizados em Cristo reúnem-se para
o cultivo da comunhão com Deus e da união fraternal. Juntam-se para
o culto, a oração, o louvor e o estudo da Palavra de Deus. Sua comunhão
com Deus deve crescer em significação e em poder. Sua vida eclesiástica
deve ser para edificação e desenvolvimento espiritual dos santos. O
culto e as atividades da Igreja em geral devem auxiliar os cristãos a
entender o plano de Deus para as suas vidas, e fazer-lhes sentir a pre­
sença de Cristo, por m eio do Espirito Santo. “ Onde estiverem dois ou
três reunidos em meu nome, ai estou eu no meio deles.”
. A Igreja é também constituída para a propagação do evangelho e
do reino de Cristo. Isto inclui atividades evangelisticas e missionárias,
na comunidade local e fora dela. A Grande Comissão fo i dada ao povo
de Cristo como uma ordem de marcha. A igreja que não é missionária,
é não somente antibiblica, como anticristã, e condenada ao fracasso.
2. Autoridade
Onde reside a autoridade da Igreja? Como e por quem é ela exer­
cida? Estas e outras perguntas exigem resposta, quando vem à tona a
questão de autoridade. N ão podemos responder a todas elas, mas pode­
remos ver todo o assunto, encarando-o sob três relações.
(1 ) Dentro da igreja local — autonomia e democracia. A congre­
gação local é autônoma, isto é, tem a autoridade dentro de si mesma.
Em todos os assuntos de organização e procedimento em geral os mem­
bros da igreja agem de acordo com as suas convicções, na base da sua
interpretação da vontade de Cristo. Isto, de fato, deve ser sempre sob
a liderança do Espirito Santo.
Nenhuma igreja ou grupo de igrejas tem autoridade sobre qualquer
igreja em particular. Toda e qualquer igreja é livre e independente.
Os membros da igreja reúnem-se em sessão executiva, formulam a sua
constituição, fazem o seu próprio regulamento interno, elegem os seus
oficiais, e dirigem os seus negócios como acham melhor.

83
A Igreja é democrática quanto ao seu governo. É a democracia mais
pura que existe na face da terra. Cada um de seus membros tem auto­
ridade e direitos iguais a qualquer outro. O pastor mesmo não tem
mais autoridade que qualquer membro. Pode exercer uma influência
maior, graças ao seu cargo e ao desempenho que dá a ele, mas não tem
mais autoridade que aquela que a igreja lhe concedeu.
Exemplos suficientes disso temo-los em o N ovo Testamento, em
apoio à declaração de que uma igreja evangélica é autônoma e democrá­
tica. Podemos notar a eleição de Matias, que por “ cento e vinte pessoas”
fo i eleito para ocupar no apostolado o lugar deixado vago por Judas
(Atos 1:15-22); a escolha dos sete pela “ multidão dos discípulos” (Atos
6:2-6); a eleição de Barnabé, em comissão da “ igreja que estava em
Jerusalém” (Atos 11:22); a separação de Barnabé e Saulo pela igreja
em Antioquia (Atos 13:2); a eleição de presbíteros pelo voto das igrejas
(Atos 14:23); a comissão de Paulo e Barnabé da igreja em Antioquia
à de Jerusalém, para dirim ir a controvérsia da circuncisão (Atos 15:3);
e o reconhecimento do direito dos membros da igreja de exercerem a
disciplina (I Cor. 5:4). Ainda outros exemplos poderiam ser citados,
mas não há necessidade disso.
(2 ) Relações das igrejas umas com as outras — cooperação. Quan­
do as igrejas locais, por meio dos seus mensageiros, se reúnem para
tratar do trabalho do Reino e form am uma denominação, só o podem
fazer em base de cooperação. Duas ou mais igrejas podem assim tra­
balhar juntas, enquanto bem julgarem. Mas qualquer igreja pode se
retirar do acordo ou cooperação, quando assim lhe convier. Do mesmo
modo que todos os membros de uma igreja têm direitos iguais, todas
as igrejas têm iguais direitos e deveres, em todas as empresas do rfeino
de Deus. Este princípio pode ser visto exemplificado nas igrejas batistas
brasileiras. Estas igrejas cooperam em associações, convenções estaduais
e na Convenção Batista Brasileira. N ão obstante, todas estas relações
são voluntárias. Nem a associação nem a convenção estadual, pode
exercer a menor soma de autoridade sobre qualquer igreja individual.
Este princípio às vezes produz um embaraço transitório, mas no fim
verifica-se que é o melhor. Podemos e devemos firmar-nos nele, pois
que é o princípio do N ove Testamento e tem sido experimentado e ju l­
gado o melhor.
Membros de uma denominação devem manter relações cordiais
com membros de outx*as denominações, mas a única base de relações
vitais ou orgânicas entre denominações é a uniformidade de doutrina.
Quando duas delas concordam em doutrina, tornam-se uma. Qualquer
união proposta por conveniência é superficial e prejudicial.
(3) Relação com o governo civil — separação. A relação da Igre­
ja com o governo civil deve ser de absoluta separação, mas cordial e de
mútuo respeito. As funções do Estado exercem-se numa esfera, as da
Igreja em outra. Cada um deve reconhecer a esfera do outro e não
tentar invadi-la. O Estado deve reconhecer o direito dos cidadãos de
adorarem a Deus de acordo com os ditames da sua consciência. Jamais

84
deve ele procurar im por uma religião aos seus cidadãos nem deve par­
cialmente estender a uma favores que nega a outras. P or outro lado,
não deve uma igreja procurar autoridade civil ou força governativa no
Estado. O que deve é estimular o espirito de patriotismo e lealdade para
com o Estado. A Igreja de Cristo em qualquer país deve influenciar
toda a vida do povo com poder sempre crescente, mas nunca como uma
organização dentro do governo. Sua influência deve sempre ser exer­
cida por meio do testemunho do evangelho.

3. Organização

(1 ) O padrão do N ovo Testamento. Não temos registro de nenhu­


ma form a de organização de igreja dada durante o ministério terrestre
de Cristo. Ele fundou a Igreja nas vidas do seus discípulos, e deu-lhes as
ordenanças e a comissão. Constituíam eles a primeira igreja em form a­
ção. A form a de organização veio através do desenvolvimento gradual,
à medida que as necessidades surgiam. Judas fo i o tesoureiro e Simão
Pedro parece ter sido um dos líderes. Enquanto a Igreja estava espe­
rando e orando, havia dez dias, pelo Pentecostes, elegeu um sucessor de
Judas. Depois do Pentecostes, como a Igreja aumentou grandemente em
número, surgiu a necessidade de diáconos, e estes foram escolhidos. E
assim a organização se desenvolveu. Da primeira igreja os discípulos
saíram a fundar outras igrejas, segundo a mesma ordem e para o mes­
m o propósito. Quando comparamos a complicada organização que está
sendo posta em execução nas igrejas hoje com a form a simples em
voga no prim eiro século, bem podemos perguntar qual é o padrão auto­
rizado pelo qual possamos aferir as nossas organizações. A resposta é
que temos que seguir o N ovo Testamento em todos os seus princípios
básicos e doutrinas. Todos os pormenores de organização devem se
ajustar aos princípios básicos e ao plano geral achado ali e prom over
os propósitos distintivos da Igreja. Esse plano compreende dois grupos
de oficiais.
(2 ) Bispos, anciãos ou pastores. 0 N ovo Testamento usa três ter­
mos para designar os pastores das igrejas. São eles: “ bispo” , “ ancião”
e “ pastor” . A palavra mais comumente usada é “ ancião” . Literalmente,
significa mesmo uma pessoa de idade madura. É um termo trazido do
uso comum de Israel. Parece que algumas igrejas do Novo Testamento
tinham vários anciãos. O termo “ bispo” não era comumente usado,
mas o ofício era evidentemente reconhecido em cada igreja. A palavra
significa superintendente. O termo “ pastor” é usado somente uma vez
com referência a um oficial na Igreja (E f. 4:11). Mas há referências
ao trabalho do pastor em outros lugares. (Leia-se Atos 20:28 e I Pedro
5:1, 2.) Estes três termos parecem ser usados indistintamente para se
referir ao oficial que os batistas designam como pastor. É um oficial
de igreja local, não de algum grupo de igrejas ou com jurisdição geral.
É vocacionado pelo Espírito e separado para uma vida de influência e
liderança espiritual. N ão tem autoridade para governar ou controlar,
no sentido de ordenar e forçar à obediência. É a um tempo servo, mestre

85
e líder. Aos seus próprios olhos é um servo; aos olhos da igreja deve
ser mestre e líder. Sua liderança e ensino não devem depender tanto da
sua posição e autoridade, como da sua consagração, do seu caráter e da
sua influência.
(3 ) Diáconos. A palavra “ diácono” literalmente significa “ servo” ,
e é também freqüentemente traduzida “ ministro” . “ O fato de não se
acharem os seus deveres bem definidos em o Novo Testamento dá mar­
gem para crermos que possam ser utilizados em todo e qualquer tra­
balho, conforme o desejo da igreja.” 0 ) É estranho que o nome não
ocorra no livro de Atos. N o capítulo 6 temos uma narrativa dos tra­
balhos rotineiros da Igreja. Isto parece ser a origem do cargo de diáco­
no, ainda que os homens ali não sejam chamados diáconos. Mais tarde,
esses mesmos homens parecem ter assumido muito maiores responsa­
bilidades, tais como a pregação e a assistência nas ordenanças. Essencial­
mente são servos ministrantes, enquanto que os pastores ou bispos ou
anciãos são ministros líderes e pregadores. Não é dada a eles mais auto­
ridade no governo da Igreja que aos outros membros. Os requisitos para
o ofício de diácono são dados em I Tim . 3:8-13.
Pode ter havido outros oficiais em algumas das igrejas, cujas ati­
vidades são mencionadas no N ovo Testamento. Os Doze tinham o seu
tesoureiro. A igreja em Jerusalém certamente tinha o seu tesoureiro
— e bem pode ser que os sete escolhidos, segundo a narrativa do capí­
tulo 6 de Atos, constituíssem uma Junta financeira. As igrejas também
tinham secretários, que faziam o registro dos seus membros e do seu
trabalho. Provavelmente elegiam essas pessoas à medida que surgiam
as necessidades. E assim pode ser feito agora.
II. As Ordenanças
A s ordenanças da Igreja são duas, o batismo e a ceia do Senhor.
São chamadas ordenanças porque foram ordenadas por Cristo para se­
rem observadas pela Igreja. Algumas vezes são chamadas “ sacramen­
tos” . Nenhum destes termos é achado em o N ovo Testamento. São pa­
lavras adotadas por conveniências, para designar o batismo e a cera do
Senhor. O têrmo “ sacramento” indica haver algum benefício salvador,
oriundo da participação nele. Não há base, em o N ovo Testamento,
para tal interpretação, relativamente ao batismo ou à ceia do Senhor.
A palavra “ ordenança” indica que fo i dada por autoridade e que sua
observância é exigida como ato de obediência. Esta é a idéia e palavra
que os batistas aceitam e usam.
1. O batismo
__ O batismo é o ato por m eio do qual o crente publicamente simbo­
liza a sua confissão de Cristo e se identifica com sua igreja. É uma orde­
nança confiada à guarda da Igreja e a ser administrada por sua auto­
ridade. Depois que o convertido se apresenta a uma sessão da igreja,
fa z a sua confissão, dá evidências do seu arrependimento do pecado e
confiança em Cristo, pede admissão no seio da mesma e é batizado e
(1) Atos 6:1-7

86
recebido em sua plena comunhão. O batismo deve ser ministrado por
uma pessoa crente, batizada e autorizada pela igreja.
(1 ) Form a de batismo. Quanto à form a de batismo segundo o
N ovo Testamento, há atualmente geral acordo. É um ato de imersão,
segundo o qual todo o corpo é submerso na água, e logo depois levanta­
do. Nossa palavra “ batizo” é uma transliteração da palavra grega “ baptr-
zo” , que significa “ mergulhar” ou “ im ergir” . Todos os léxicos autori­
zados dão esta significação ao termo. A lingua grega tinha outras
palavras para significar “ aspergir” , “ derramar” , “ molhar” e assim por
diante. Há muitos que concordam em que a form a de batismo do N ovo
Testamento é a imersão, mas dizem que a form a não tem importância.
Os batistas, porém, sustentam que tanto a form a como a significação
necessitam ser preservadas, e que a form a não pode ser modificada
sem que seja destruida a sua significação.
(2) A significação do batismo. O batismo simboliza algumas das
verdades essenciais do cristianismo. Em primeiro lugar, simboliza a re­
missão de pecados, a morte e o sepultamento da vida velha e a ressurrei­
ção para uma vida nova com Cristo. Assim, aponta para trás e chama
nossa atenção para a grande mudança que se operou no indivíduo. O batis­
mo, porém, não limpa os nossos pecados nem opera esta grande mudança.
É Deus mesmo quem faz isso em nós, quando nos arrependemos e cre­
mos em Cristo, pedindo-lhe perdão em seu nome. O batismo simples­
mente simboliza a mudança que se operou no batizando. O poder invi­
sível de Deus é que faz imediatamente essa purificação no pecador,
logo que ele se arrepende e crê em Cristo. O batismo, portanto, não é
o começo da nova vida, porque esta começa logo que o pecador põe a sua
confiança em Cristo. O batismo é meramente o ato que simboliza todas
as grandes verdades mencionadas. Não há nele virtude salvadora, não é
essencial à salvação; o crente se submete a ele, como a um ato de obe­
diência e amor a Cristo, que o salvou.
Mais ainda, o batismo simboliza a união mística do crente com
Cristo na sua morte. Sem a sua morte e ressurreição a ordenança não
teria qualquer significado. (Leia-se Romanos 6:1-11 e I Pedro 3:21, 22,
para a base bíblica desta interpretação espiritual do batismo.)
Pode-se ver, assim, a razão por que insistimos que a form a do ba­
tismo é importante. Esta significação não poderia ser simbolizada por
alguma form a substitutiva.
(3) Obrigação de ser batizado. Todo crente deve ser batizado. Isto
fo i ordenado por Cristo. Ele mesmo se submeteu ao batismo, a fim de
institui-lo com o seu exemplo. Seus discípulos foram batizados e, por
sua vez, batizaram outros discípulos. Ele lhes deu a Grande Comissão,
incluindo nela a fórm ula do batismo — “ em nome do Pai, e do Filho
e do Espírito Santo” . N o dia de Pentecostes, quando o povo se achava
compungido em seus corações, por motivo da pregação do evangelho,
Pedro ordenou-lhes que fossem batizados. Assim sendo, porque Cristo
o instituiu e ordenou, deve ser perpetuamente observado; e, por causa
daquilo que ele simboliza, todo cristão verdadeiro deve ser batizado.

87
2. A Ceia do Senhor
Esta é a segunda ordenança da Igreja. Há somente duas e não há
autoridade para aumentar esse número. A Igreja Católica Romana tem
sete e ensina que provém benefício salvador da participação nelas. Isto
é uma dupla perversão do ensino bíblico.
(1 ) Interpretações quanto à significação da Ceia. Há dois pontos
de vista quanto à significação da Ceia do Senhor. Um considera-a como
sacramento, trazendo graça salvadora ao participante dela. De acordo
com esta interpretação, a Igreja Católica Romana ensina que o pão,
uma vez consagrado, transforma-se de fato no corpo de Cristo, e quando
o participante o come, come o corpo de Cristo. Quando a hóstia é trazi­
da ao sacrário, o povo se ajoelha e a adora, como sendo o próprio Cristo.
Outros afirm am que a presença real de Cristo se verifica junto do
pão e do vinho. Para eles, Cristo de algum modo se une com aquele
que come a Ceia. Todas essas idéias são contrárias ao Novo Testamento.
O outro ponto de vista, que é o biblicamente correto, é que o pão
e o vinho são apenas símbolos do corpo e do sangue de Jesus. A Ceia
do Senhor comemora a sua morte como sacrifício expiatório pelos nos­
sos pecados. Aqui, outra vez, deve fazer-se distinção entre o símbolo e
a verdade simbolizada. O símbolo é a ceia, e a verdade simbolizada é a
expiação de Cristo pelo pecado. Rigorosamente falando, a ordenança
não é um “ culto de comunhão” em qualquer sentido, mas uma festa me­
m orial para ser observada em obediência a Cristo e para conservar viva
a lembrança da promessa de sua volta para o seu povo, no fim da dis-
pensação evangélica. Esta é a interpretação geralmente aceita pelos ba­
tistas.
Temos o registro da instituição da Ceia do Senhor nas seguintes
passagens: Mat. 26:26-29; Marcos 14:22-25; Lucas 22:17-20; I Corintios
11:23-26. Todo cristão deve lê-las freqüentemente e meditar nelas. Se­
gundo a narrativa de Paulo, em I Corintios 11, Jesus deu a ordenança,
dizendo: “ Fazei isto em m emória de m i m . . . porque todas as vezes
que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a m orte do Se­
nhor, até que venha.”
(2 ) A obrigação de observar a Ceia. A Ceia do Senhor deve ser
observada por crentes batizados e em comunhão com a igreja. Cristo
instituiu-a entre os discípulos e ordenou que fosse observada com uma
solenidade comemorativa. Sempre que é referida em o Novo Testamento,
indica clara ou implicitamente que é para ser observada por seguidores
de Cristo que sejam crentes batizados. Há atualmente muito descuido
entre membros de igreja quanto a este assunto. Muitos parecem pensar
que isto é coisa de somenos importância, e passam meses e até anos sem
participar desta ordenança. Há igualmente igrejas que passam meses e
anos sem realizar a Ceia. Entretanto, uma vez que ela simboliza as ver­
dades acima mencionadas, e que é para ser observada em obediente co­
memoração de amor, toda igreja local e todo crente deve observá-la re­
gular, inteligente e respeitosamente.

88
CAPITULO VIII

A Morte e a Vida A lém -tú m ulo


Esboço

I. A Morte
1. Morte física
2. Morte espiritual
3. Morte eterna
4. A m orte física para o cristão
II. O Estado Intermediário
1. É existência incorpórea, mas consciente
2. Um estado duplo
III. A Segunda Vinda de Cristo
1. É salientada em o N ovo Testamento
2. O tempo não é revelado
3. Volta externa e visível
4. A atitude do cristão para com a volta de Cristo
IV . A Ressurreição
1. Baseada na ressurreição de Cristo
2. Será acompanhada pela presença e poder de Cristo
3. Ressurreição do corpo
V. O Julgamento
1. O fato
2. O juiz
3. Os que serão julgados
4. A base dojulgamento
5. O propósito
V I. O Inferno
1. U m estado
2. Um lugar
3. Punição eterna

V II. O Céu
1. Um estado
2. Um lugar
3. O céu é eterno

90
CAPITULO vn i

A MORTE E A VID A ALÉM - TÚMULO


Neste capitulo final, vamos ter uma visão do que cremos sobre a
vida futura. A doutrina da imortalidade fo i discutida no segundo capí­
tulo e não tocaremos nela aqui. Passaremos agora a discutir algum as
das doutrinas com ela relacionadas.

I. A Morte
A Bíblia considera a morte do ponto de vista do pecado. É a pena­
lidade do pecado. Deus disse a Adão que, se ele comesse do fruto proi­
bido, certamente m orreria (Gên. 2:17). Paulo escreveu que “ por um
homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte” (Rom . 5:12).
E, em outro lugar, disse que “ o salário do pecado é a morte” (Rom a­
nos 6:23). Este é o aspecto m oral e espiritual da morte. Mas, que é m or­
te? Para responder a isto, diversos esclarecimentos têm que ser feitos.
1. Morte física

A m orte física é a porta pela qual passamos para a eternidade. É a


separação do espirito, ou alma, do corpo. Quando o corpo cessa as suas
funções, dizemos que a alma partiu e a pessoa está morta.

2. Morte espiritual
Morte espiritual é a separação entre a alma e Deus. Assim é que o
N ovo Testamento fala das pessoas não regeneradas como mortas em
delitos e pecados (veja-se E f. 2:1, 6; Col. 2:13). Uma boa ilustração
disto, temo-la na Parábola do Filho Pródigo (Lucas 15). O filh o saiu
para longe de casa, fora do alcance do pai. Rebelou-se contra o amor do
pai e o governo do lar. E o pai disse que o seu filho, assim dele afas­
tado, estava morto.
Entremos num recinto onde se acha um homem morto. Aperta­
mos-lhe a mão e ele não responde. Falamos-lhe e ele não ouve. Se nos
colocarmos perante ele, não nos verá. Pomos-lhe um pouco de comida
na boca, mas ele não a prova nem sente. Pomos-lhe uma flo r perfu­
mada junto do nariz, mas ele nada sente. Nada diz a qualquer que dele

91
se aproxime. Está morto. Dizemos então que o espirito do homem dei­
xou o corpo. Isto é morte física. A morte espiritual é semelhante a
esta. Neste caso, a alma separa-se de Deus. Pregamos o evangelho a
um homem que está m orto em seus pecados, mas ele não ouve. Esten­
demos-lhe a mão de fraternidade cristã, mas ele não corresponde. Ofe­
recemos-lhe o pão da vida, mas ele nem sequer o prova. Apresentamos­
-lhe o Salvador, mas ele não o vê. Não corresponde ao apelo do
evangelho. Está morto — ■ espiritualmente morto. O Espirito de Deus
não está nele.

3. Morte eterna
A m orte espiritual torna-se morte eterna quando a alma não redi­
mida deixa o corpo. Enquanto estava no corpo, tinha a oportunidade
de abandonar a atitude pecaminosa de rebelião e de ser salva por Cristo.
Mas depois da morte aquela atitude toma-se permanente. A separação
entre alma e Deus, que começou aqui, continua lá. A rebelião contra
Deus, que é pertinaz aqui, lá é final.

4. A morte física para o cristão


A alma que confia em Cristo é vivificada e a morte espiritual é
para ela abolida. O terror da morte física para o não salvo c que ela é
a porta da morte eterna. A alma passa para as trevas eternas, para sem­
pre afastada da luz que emana de Deus. O homem redimido tem que
passar pela m orte (salvo se Cristo voltar durante a sua vida terrestre),
mas para ele a m orte fo i transformada. Ela era antes uma expectativa
terrível, até que Cristo veio à sua vida, mas agora ele a encara como jus­
tamente é: a porta de entrada para uma vida eterna, mais rica e mais
bela. A razão por que Jesus sofreu a agonia e o terror da morte reside
no fato de ele estar sofrendo a morte em lugar do pecador. Paulo olha­
va para a sua morte, suspirando por ela, porque Cristo tirara à morte
do crente o estigma do pecado. A morte para ele era a oportunidade
de entrar para a plena presença de Cristo.
A graça de Deus é dada ao Cristão de acordo com as suas necessi­
dades, sua oração por ela e sua confiança nela. Enquanto goza pleno v i­
gor físico, talvez pense pouco na morte, mas quando vier a enfermidade
e sentir que a m orte se aproxima, Deus lhe dará força e graça necessá­
rias para o solene momento. Todavia, a morte pode v ir em um momento
repentino, por um desastre ou uma doença fulminante, e o verdadeiro
crente deve estar sempre pronto para ela. Então a morte será para ele
uma entrada gloriosa à presença de Cristo.

II. O Estado Intermediário


A alma passa, através da morte, a um estado de existência compa­
rável em alguns respeitos ao estado da alma aqui. A atitude para com
Deus é formada aqui mesmo. Se ela é incrédula aqui, será incrédula no
além. O estado intermediário, num sentido, é provisório, mas também é
permanente. É provisório porque é preliminar à ressurreição e ao jul-

32
gamento final. E é final, porque a disposição da alma para com Deus
já está fixada.
1. É existência incorpórea, mas consciente
A alma deixa o corpo e vai para uma esfera espiritual, enquanto o
corpo baixa à terra. O espírito do homem continua a viver, enquanto o
corpo se decompõe. Uma vez que é uma existência sem corpo, falamos
dela como sendo um estado, e não como um lugar. Minha alma agora
habita no meu corpo — isto é um lugar. Minha alma está em paz com
Deus — isto é um estado. Mas não podemos conceber a idéia de um a
alma, uma entidade viva, sair do corpo sem ir para algum lugar. Isto
acontece porque somente podemos pensar em termos de espaço e tempo.
Não obstante, podemos concordar em que a alma vai para a esfera
do espírito, onde esperará a ressurreição, quando lhe será dado o seu
corpo ressurgido.
N o estado intermediário, a alma é consciente. Continua depois da
morte como uma pessoa consciente. Na parábola que Jesus contou,
“ havia um homem rico” , cuja atividade consciente é frisada. 0 homem
rico lembra-se dos seus irmãos ainda vivos em casa e intercede por eles.
2. Um estado duplo
Há no estado intermediário uma separação entre os remidos e os
perdidos. 0 termo bíblico para designar o estado geral dos espíritos
desencarnados é “ hades” . Dentro do hades, os espíritos dos remidos
vivem em um estado de bendita comunhão com Deus, enquanto que os
ímpios ou não convertidos continuam em miserável separação de Deus.
Entre eles há um grande e intransponível abismo. Uma vez que uma
pessoa chegue ali não poderá jamais mudar o seu estado. Nem poderá
alguém deste mundo mudá-lo em seu favor, apesar de haver muitos que
pretendem fazê-lo. Não é fato, que aqui mesmo o regenerado e o não
regenerado vivem em esferas diferentes? O cristão vive para Cristo e
a salvação do seu próximo. Focaliza a sua mente nas coisas do reino
de Deus. 0 perdido, que pode viver mesmo às portas do cristão, vive
numa esfera tão diferente, que milhares de milhas não chegam para
medir a distância. V ive para si mesmo e em pecado. Preocupa-se unica­
mente com as coisas do mundo e do reino do mal. Assim é o estado
intermediário. A diferença é que aqui o perdido pode se arrepender e ser
salvo para o reino de Deus; ali, a separação é permanente.
O cristão vai através da morte para o hades, e estar com Cristo.
Vai imediatamente à presença de Cristo. N ão há espera ou sono, para
a alma, entre a morte e a chegada à presença de Cristo. Devemos ter
em mente que hades não é inferno. Hades é a esfera dos espíritos desrn-
corporados, bons e maus, esperando a ressurreição. Inferno é a habita­
ção final dos maus. N o hades, o cristão está na presença de Cristo. Isto
não significa que Cristo está limitado ao hades. Ele é onipresente. A
alma é limitada e assim permanece neste estado ou esfera até à ressurrei­
ção. Cristo está com o cristão ali e em toda parte. Devemos sentir muito
mais completamente a sua presença ali do que aqui.

93
Apenas os aspectos mais importantes da doutrina da volta de Cristo
à terra podem ser considerados aqui. É tema para um livro, e muitos
já têm sido escritos sobre tal assunto. Tem os que nos satisfazer em
apresentar duas ou três declarações gerais sobre o assunto.

III. A Segunda Vinda de Cristo


1. É salientada em o N ovo Testamento

Jesus, falando de sua morte e retirada da terra, prometeu aos seus


discípulos que voltaria. Alusões à sua segunda vinda ocorrem freqüen-
temente nos seus ensinos concernentes ao futuro crescimento e consu­
mação do reino. (Yeja-se Mateus 16:27, 28; 26:64; Marcos 13; Lucas
19:12; João 14.) Quando os discípulos, no Monte das Oliveiras, olharam
para o alto, vendo o seu Senhor sumir-se nas alturas, dois anjos se apre­
sentaram perante eles, lembrando-lhes a sua promessa, assegurando-lhes
que voltaria novamente (Atos 1:10, 11). Os discípulos aceitaram a pro­
messa e ensinaram o povo a preparar-se e a esperar a sua volta. (V eja­
-se I Pedro 1:6, 7; Tiago 5:7; I Tess. 4:15; I João 2:28; Apoc. 1:7.)
Vem a propósito indicar aqui que algumas passagens bíblicas, em
geral interpretadas como referências à vinda pessoal de Cristo, com toda
a probabilidade referem-se a vindas subordinadas ou eventos históricos
no crescimento do reino. T al devia ter sido a vinda do Espírito Santo
no dia de Pentecostes e a destruição de Jerusalém. Esses eventos, em
um sentido muito particular, difundiram o reino, e em toda parte onde
o reino é propagado, a glória e o poder de Cristo devem aumentar sobre
a terra. Contudo, em adição a estas passagens, há muitas outras que
ensinam muito claramente a volta pessoal de Cristo.

2. O tempo não é revelado


Quando a volta de Cristo se efetuará, não sabemos. Jesus disse:
“ Daquele dia ou daquela hora ninguém sabe, nem os anjos no céu,
nem o Filho, senão só o Pai” (Marcos 13:32 — Trad. Bras.). Bem fare­
mos em ter isto em mente, quando form os tentados a elaborar uma ta­
bela cronológica referente à segunda vinda de Cristo. Que ela se dará
algum dia, é claramente ensinado. Quando será esse dia é desconhecido
e não se pode saber. Devemos estar sempre na expectativa e prontos
para quando ela se realizar, sem nos aventurarmos a fazer predições.
Há uma passagem no capítulo 20 de Apocalipse que tem dado muito
que pensar aos cristãos. É a profecia referente ao milênio, isto é, um
período de m il anos, durante o qual Satanás será aprisionado e o reino
da justiça se estenderá sobre a terra. O ponto de controvérsia é se Cristo
virá antes ou depois do milênio. A Bíblia não esclarece para nós essa
questão. Há passagens que parecem indicar um tempo e outras que
parecem indicar outro. A única conclusão a que podemos chegar e com
a qual todos podemos concordar é que Cristo virá e estabelecerá a sua
supreinada sobre Satanás. À questão de quando será sua vinda, relativa­
mente ao milênio, não podemos responder positivamente.

94
3. Volta externa e visível
A volta de Cristo será externa, visivel e pessoal. E m Atos 1:11 ve
mos salientados tanto o fato como a maneira da sua vinda. Ele “ há de
v ir assim como para o céu o vistes ir” . Como saiu visivelmente, assin
voltará. O apóstolo Paulo disse que o “ Senhor descerá do céu com ala
rido e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus” . E, em Apoca
lipse 1:7, lemos: “ Eis que vem com as nuvens e todo olho o verá.”
4. A atitude do cristão para com a volta de Cristo
Deve ser de expectativa. Como os discípulos esperavam a volta do
Senhor durante a sua geração, assim devemos esperá-la nós. Há duas
razões para isto. Uma é que ninguém sabe quando ele virá, e assim de­
vemos estar sempre prontos para tal tempo. Pode ocorrer na presente
geração e estaria de acordo com toda a Escritura. A outra razão é que
uma atitude de expectação guardar-nos-á mais intimamente ligados a
Cristo e mais atentos no seu serviço.
A atitude do cristão deve ser também de obediência ao Espirito
Santo. Não temos que esperar ociosamente pela volta de Cristo. Temos
que estar ocupados no trabalho do reino, em comunhão com o Espírito,
preparando-nos para a sua volta. Há um propósito na sua demora. Esse
é a propagação do reino, a qual terá de ser realizada pelos seguidores
de Cristo, sob a direção do Espirito.

IV . A Ressurreição
A Bíblia ensina, e os cristãos em geral crêem, que haverá uma res­
surreição geral dos mortos. Esta doutrina se encontra entre todos os
. povos. Muitos povos, fora do alcance da Bíblia, notadamente os antigos
egípcios, mantinham a crença na ressurreição do corpo como parte da
sua doutrina da ressurreição da alma. Contudo, só o cristianismo pode
apresentar uma clara definição da doutrina e pô-la em base sólida. Há
três fases da doutrina que devem ser expostas aqui.
1. Baseada na ressurreição de Cristo
A ressurreição de Cristo é a pedra de esquina sobre que assenta a
esperança da ressurreição geral, e, mais particularmente, dos crentes
em Cristo. Em toda a extensão do L iv ro de Atos, a ressurreição de Cristo
é feita a base do apelo do evangelho. Em quase todos os casos em que
a mensagem' do evangelho é pregada, a ressurreição de Cristo é mencio­
nada para dar-lhe ênfase. Porque ele ressuscitou, vive. E porque ele
vive, nós viveremos também. Cristo quebrou os grilhões da morte, esta­
belecendo o seu domínio, sobre ela e algum dia exercerá essa autoridade
em nosso favor, ressuscitando-nos. Leia-se novamente o capítulo 15 de
I Corintios, para se ver a ligação que o apóstolo Paulo faz entre a res­
surreição de Cristo e a ressurreição geraL “ Mas agora Cristo ressuscitou
dos mortos, e fo i feito as primícias dos que dormem. Porque, assim
como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos
veio por um homem” (I Cor. 15:20, 21).

95
2. Será acom panhada pela presença e poder de Cristo
Jesus ensinou a doutrina da ressurreição, baseando-a sobre sua co­
nexão vital com ela. Ele deu a Marta uma gloriosa lição concernente a
ela, dizendo: “ Eu sou a ressurreição e a vida” (João 11:25). N o capitu­
lo 5 de João, ele declara que os mortos ouvirão a sua voz e sairão dos
túmulos: “ Vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão
a sua voz; e os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida;
e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação.” Paulo liga
a ressurreição diretamente com a segunda vinda de Cristo, dizendo que
quando Cristo descer, “ os mortos em Cristo ressuscitarão prim eiro” .
3. Será a ressurreição do corpo
Aqui, novamente, a ressurreição de Cristo tem uma relação im por­
tante com nossa doutrina. 0 seu corpo fo i ressuscitado. Os nossos cor­
pos serão ressuscitados. Há muitas dificuldades contidas nesta fase
da doutrina: Como será o corpo ressuscitado? Depois de ele ter
voltado à terra, será ajuntado da terra? Que será de um homem cujo
corpo fo i queimado em um avião e que teve suas cinzas espalhadas ao
vento? Para responder a estas dificuldades, alguns têm imaginado que
não será, na verdade, uma ressurreição do corpo, mas uma espécie de
“ ressurreição espiritual” . Uma tal interpretação está em franca oposição
ao ensino do N ovo Testamento. A doutrina é muito positiva e refere-se
claramente à ressurreição do corpo. Como essa ressurreição se fará,
não sabemos. Paulo lança alguma luz sobre o problema do capitulo 15
de I Coríntios. A li ele diz que o corpo ressuscitado será um corpo espi­
ritual adaptado à habitação do espirito numa esfera espiritual. Será
muito diferente do presente corpo natural. Este corpo natural ressurgirá
num corpo espiritual. Este corpo de corrupção ressuscitará em incor-
rupção. Este corpo de desonra ressuscitará em glória. Não obstante,
haverá ainda uma conexão entre o velho e o novo corpo. 0 velho é
semeado e o novo é ressuscitado. Como a semente é semeada e dela
nasce a nova planta em tempo próprio, assim o corpo será semeado na
terra e no tempo devido surgirá um corpo ressuscitado.

V. O Julgamento
E m seguida à ressurreição dos mortos, virá o julgamento final e a
recompensa será dada aos ímpios e aos justos. Há um principio de jul­
gamento em operação agora, o qual em sentido algum tomará o lugar
do julgamento final. Antes conduz ao último dia, no qual todas as evi­
dências e todos os registos para juízo serão trazidos em revista perante
Deus e o seu povo.
1. O fato
O fato do julgamento é uma das doutrinas mais positivas da Bíblia.
Em muitas seções do Velho Testamento, esta doutrina do julgamento é
ensinada em termos inconfundíveis (Ob. 15:17; Is. 2; Mal. 3:2-6; e mui­
tas outras passagens). É comumente retratado em conexão com o Dia

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do Senhor. É no ensino de Jesus que aquele grande dia final de julga­
mento toma form a definida (Mat. 11:20-24; 12:36; 25:31-46; João
5:26-29). Pedro (Atos 10:42; I Pedro 4:5; I I Pedro 2:9) e Paulo (Atos
17:31; 24:24, 25; Romanos 2:3, 5, 16; I Cor. 4:5; II Cor. 5:10) também
dão enfase a essa doutrina.

2. O juiz

Deus, em Cristo, será o juiz no último dia. Em Mateus 25:31-46,


Jesus representa o julgamento quando ele virá em sua glória e todos
os santos com ele, tomará o seu lugar no trono e procederá ao julga­
mento de todas as nações. Ele está qualificado para exercer a autoridade
do julgamento final, em razão da sua relação única com Deus e os ho­
mens. Como o Filho de Deus, ele é a revelação de Deus e o Salvador dos
homens. Ele é Deus mesmo tratando com os homens. É justo e próprio
que o Cristo de Deus, que revela aos homens o que Deus espera deles
e o que quer conceder-lhes, se assente a julgar os homens no dia final.
Cristo é também qualificado para ser juiz porque é Filho do homem.
Ele conhece os homens. F oi tentado em tudo como eles são tentados,
mas não pecou. Certamente, a sua compaixão para com o homem tem­
perará a sua justiça, sem comprometê-la. Teremos na cadeira de juiz
no último dia nosso Irm ão mais velho e nosso melhor Am igo.

3. Os que serão julgados

Todos serão julgados — os mortos, “ pequenos e grandes” , todas as


nações, remidos e perdidos, e talvez mesmo os anjos maus (Judas 6).
Será universal. (Veja-se Mat. 25:31-46; I I Pedro 2:4-9; Judas 6;
Apoc. 20:12.)

4. A base

Sobre que base os homens serão julgados? As Escrituras têm algu­


ma coisa a dizer sobre isso. Há duas linhas gerais no curso do julga­
mento. A primeira será a relação dos homens com Deus. “ Todos pe­
caram e destituídos estão da glória de Deus” , e, conseqüentemente, estão
debaixo de condenação. Deus providenciou um meio de livramento, por
intermédio de Jesus Cristo. Recusar aceitar a sua oferta de salvação é
incorrer em maior condenação e revelar um caráter confirmado no pe­
cado. (Veja-se João 3:18, 19; Rom. 2:16.)
A segunda base de julgamento está nas obras dos homens. (Veja-se
Mat. 25:34-46; II Cor. 5:10.) A relação de confiança em Cristo dará
fruto de uma espécie, enquanto que a relação de rebelião contra Deus
dará fruto de outra espécie. O cristão se esforçará por ter uma abun­
dante colheita de boas obras, feitas pela graça de Deus habitando nele.
Ele é salvo por Cristo por meio da fé, porém será recompensado pelas
obras que tiver feito na carne. Os maus serão condenados pela sua re­
jeição de Cristo, bem como por suas más obras.

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5. O propósito
Qual o propósito do julgamento? Não será revelar o caráter no
sentido em que temos os nossos tribunais para determinar se os acusados
são ou não culpados. Isto é determinado aqui e é conhecido na mente
de Deus, mas o julgamento será para a manifestação do caráter. “ Pois
é necessário que todos sejamos descobertos perante o tribunal de Cristo,
para que cada um receba o que fez por meio do corpo, conforme o que
praticou, o bem ou o mal” (II Cor. 5:10 — Trad. Bras.).
O resultado do julgamento será a vindicação da justiça de Deus.
Algumas vezes surge a questão relativa à felicidade dos salvos no céu,
se eles saberão que alguns dos seus queridos estão em eterna punição.
Como poderá alguém ser feliz, sabendo que um seu irmão ou irm ã está
em trevas e sofrimento fora do céu? Quando tomamos o propósito do
julgamento em consideração, esta questão desaparece. Depois do jul­
gamento ver-se-á que Deus fez tudo bem. E, com o maior conhecimento
que tivermos, não desejaremos ver um só pormenor de seu soberano
controle universal mudado.

V I. O In fern o

Devemos reconhecer a restrição das Escrituras ao tratar das doutri­


nas concernentes às últimas coisas. E devemos lembrar que a linguagem
é grandemente figurada, especialmente ao retratar os estados finais:
inferno e. céu. Não obstante, essa linguagem figurada tem um grande
peso de verdade. É de magno interesse notar que a m or parte do ensino
do N ovo Testamento concernente ao inferno acha-se nas palavras de
Jesus. O compassivo Salvador ansiosamente advertiu os homens relati­
vamente ao futuro castigo eterno. E é tendo em vista seu espírito de
procurar salvar os homens que devemos encarar este penoso assunto.

1. Um estado

O inferno é um estado. Isto pode ser visto melhor sob dois ângulos.
Em prim eiro lugar, é um estado da mais completa depravação moral. O
inferno é a culminação do egoísmo e o clímax da rebelião e da anarquia,
a mais completa ceifa de pecado, com toda a sua poluição, corrupção e
morte. O pecado continuará no ambiente que o demônio, os anjos maus
e as almas pecadoras produzirem.
Em segundo lugar, o inferno é um estrdo de sofrimento e punição.
O que significam exatamente “ fogo e enxofre” na descrição bíblica é
difícil de entender e explicar. Mas o certo é que expressam a terrível
verdade de que as almas ímpias sofrerão terrivelmente por causa dos
seus pecados — sofrimento que vai além do que a língua humana possa
descrever.
Serão todos punidos na mesma medida? Não, pois que haverá graus
de punição para os ímpios. A punição será de acordo com o conheci­
mento dos culpados. “ E o servo que soube a vontade do seu Senhor,
e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com
muitos açoites; mas o que a não soube e fez coisas dignas de açoites,
com poucos açoites será castigado” (Lucas 12:47, 48).

2. U m lugar

A sudeste de Jerusalém havia um vale onde por longo tempo o


idolo Moloque era adorado. Crianças inocentes eram postas nos braços
abrasados do ídolo, até serem consumidas. P o r causa dos seus gritos, o
vale veio a ser conhecido como o Vale da Lamentação ou o Vale de Hi-
nom. Aqueles horríveis sacrifícios foram abolidos por Josias (II Reis
23:10), mas os judeus abominavam de tal modo o lugar que lançavam
nele toda sorte de refugos, corpos mortos de animais e de criminosos
que tinham sido executados. Era necessário fogo constante para consu­
m ir os corpos mortos e assim o lugar chegou a ser chamado “ Geena
de F ogo” . E é esta palavra “ Geena” que o N ovo Testamento usa para
descrever o lugar de punição destinado aos maus após a morte. Indica
um lugar que é tão real como aquele vale fora da cidade de Jerusalém.
O inferno como um lugar é uma parte necessária da explanação
do soberano controle de Deus sobre o universo. Deve existir harmonia
no reino de Deus. Isto significa submissão voluntária à vontade de Deus
em todas as coisas. Para aqueles que se negam a obedecer-lhe, um lugar
fora do reino devia ser reservado. Há duas razões para isso. Uma é
que Deus não força o homem a obedecer-lhe. E a outra é que toda
alma é imortal. Desde que Deus não pode, segundo o seu propósito, e
não quer aniquilar as almas ímpias nem quer forçá-las a lhe obedece­
rem, devia haver um lugar próprio para os que preferissem viver na
esfera do pecado. Esse lugar é o inferno.

3. Punição eterna

N o Vale de Geena, os corpos eram queimados e consumidos. A fim


de evitar que se pensasse que os ímpios no inferno logo seriam consu­
midos, Jesus empregou a frase “ tormento eterno” (Mat. 25:46). E disse
também que naquele lugar “ o seu bicho não m orre” (Marcos 9:48).
Alguns indagam: se eles se arrependerem, quando em tormentos,
Deus lhes perdoará e os salvará daquele lugar? A resposta é que eles
não se arrependerão. Isto sabemos, porque a sua vontade será confir­
mada nos seus pecados e não se inclinarão a pensar em como a sua
maldade afeta a Deus. O arrependimento vem como resultado da obra
do Espírito de Deus. Se eles se rebelam contra o seu Espírito aqui, não
se arrependerão sem o seu auxílio lá.

V II. O Céu
É justo que terminemos nosso estudo das doutrinas com uma breve
discussão acerca do céu. Não gostamos de nos deter com pensamentos
acerca da punição, salvo com o propósito de advertir os perdidos. Mas

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o nosso coração exulta de gloriosa esperança quando pensamos no que
Deus tem reservado para os justos. Há três aspectos de ensino refe­
rentes ao céu, que queremos notar brevemente.

1. Um estudo
0 céu é um estado de perfeita felicidade. Haverá ali completa fru i­
ção de fé em Cristo. Tudo que temos procurado fazer aqui para a glória
de Deus estaremos habilitados a fazer ali mais perfeita e completamente.
Despidos totalmente de egoísmo e revestidos de um desejo puro, justos
motivos e justas realizações, seremos inteiramente felizes. O pecado, com
todo o seu veneno e conseqüências danosas, será inteiramente afastado
para sempre — não haverá mais doença, dor, tristeza nem morte!
Seremos transformados, nossos caracteres serão purgados de toda ini-
qüidade e seremos sempre bons em tudo. Seremos semelhantes a Cristo.
Na bondade de um caráter refinado, teremos alegria sem medida no
serviço de Deus.
Em adição ao estado de paz e felicidade perfeitas, que será a ceifa
da fé em Cristo, haverá o elemento de recompensa. Não servimos aqui
a Cristo com o fim de receber recompensa pelo que fazemos, mas as
Escrituras nos ensinam que haverá recompensa para a genuína fideli­
dade. Ele poderá dizer ao seu fie l discípulo: “ Bem está, servo bom e
fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei; entra no gozo
do teu Senhor” (Mat. 25:21 e Luc. 19:12-27). Haverá graus de recom­
pensas, segundo a fidelidade e diligência de cada um.

2. Um lugar
Jesus disse: “ Vou preparar-vos lugar” (João 14:2). O céu é um lu­
gar onde todos os remidos terão comunhão perfeita com o Deus Trino,
com os santos anjos e uns com os outros. Em algumas passagens, é
apresentado como um país (Heb. 11:14-16); em outras, como uma ci­
dade (Heb. 11:10, 16; Apoc. 21); e, ainda em outras, é retratado como
um lar (João 14:2, 3). Mas o termo característico é “ reino” . O reino
do céu é tanto um lugar como um estado — uma esfera na qual Deus
reina supremamente como R ei; e um estado no qual os seus súditos o
servem em alegre e voluntária submissão.

3. O céu é eterno
Não haverá mais separação. Viveremos na presença de Deus eter­
namente. Cresceremos na sua semelhança e no seu serviço. Ele será
nosso Deus e nós seremos o seu povo para todo o sempre.

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PERGUNTAS PARA RECAPITULAÇÃO
E PROVA

CAPITULO I

1. Por que devemos estudar as nossas doutrinas à luz da experiência cristã?


2. Defina revelação, inspiração e iluminação.
3. Em que se baseia a autoridade da Biblia?
4. Que é que a Bíblia ensina concernente ao caráter de Deus?
5. Em que consiste a Trindade?

CAPITULO n
6. Que é que a Biblia ensina quanto à natureza do homem? Em que sentido
o homem foi feito à imagem de Deus?
7. For que cremos na imortalidade do homem?
8. Discuta a natureza do pecado.

CAPITULO m
t

9. Por que havia necessidade de um mediador?


10. Por que foi necessária a encarnação?
11. Por que era necessário que Ele morresse?
12. Qual é a significação da ressurreição de Jesus?

CAPÍTULO IV

13. De que modo a Biblia nos apresenta o Espirito Santo como uma pessoa?
14. Quais são as três fases da obra do Espirito Santo na Revelação?
15. Quais são as três fases da obra do Espirito Santo com os não regene­
rados?
16. Que é que o Espirito Santo ensina ao cristão?
17. Cite algumas razões por que devemos obedecer ao Espirito Santo.

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CAPITULO V

18. Que é arrependimento?


19. Quais são os três elementos envolvidos na fé?
20. Qual a relação da fé com a salvação?
21. Que é santificação? Que atitude é envolvida na santificação?

CAPITULO VI

22. Qual a relação da morte de Cristo com o perdão? Qual a relação da con­
fissão com o perdão?
23. Que é regeneração?
24. Que é justificação? Que relação tem a morte de Cristo com a justificação?
25. Que resultados produz em nós a consciência de nossa filiação?

*- CAPITULO v n

26. Que é uma igreja do Novo Testamento?


27. Discuta a autonomia e democracia da Igreja.
28. Qual é a verdadeira relação entre uma igreja e o governo civil?
29. Quais são as ordenanças da Igreja? Por que as chamamos ordenanças e
não “sacramentos”?
30. Que é o batismo do Novo Testamento? Que significação tem o batismo?
31. Qual é a significação da Ceia do Senhor? Quem deve observar a Ceia do
Senhor?

c a p it u l o vm

32. Que é morte eterna? Que significa a morte física para o cristão?
33. Que é o estado intermediário? Em que sentido é um estado duplo?
34. Qual é o ensino do Novo Testamento concernente à segunda vinda de
Cristo?
35. Ensina a Bíblia o fato de um julgamento final? Quem será o juiz? Quem
será julgado?
36. Em que sentido o inferno é um estado? Em que sentido é um lugar? Será
temporário ou eterno?
37. E o céu um estado? £ um lugar? £ temporário ou eterno?

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